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02.rogers,a Cultura Das Cidades

A CULTURA DAS CIDADES In: ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona, G. Gilli, 2005. págs. 1-23. Em 1957, o primeiro satélite era lançado na órbita da Terra. Isso nos oferecia uma posição privilegiada, a partir da qual podíamos olhar para nós mesmos e assinalar o começo de uma nova consciência global, uma mudança dramática no nosso relacionamento com o planeta. Vista do espaço, a beleza da nossa biosfera é fantástica - mas é fantástica também sua fragilidade. As manchas da polu

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  A CULTURA DAS CIDADES In: ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta . Barcelona, G. Gilli,2005. págs. 1-23.Em   1957, o primeiro satélite era lançado na órbita da Terra. Isso nos ofereciauma posição privilegiada, a partir da qual podíamos olhar para nós mesmos eassinalar o começo de uma nova consciência global, uma mudança dramática nonosso relacionamento com o planeta. Vista do espaço, a beleza da nossa biosferaé fantástica - mas é fantástica também sua fragilidade. As manchas da poluição,as feridas do desmatamento, as cicatrizes da industrialização e a expansãocaótica de nossas cidades são evidências de que, na nossa busca por riqueza,estamos sistematicamente espoliando todos os aspectos do sistema de apoio àvida do planeta.A sobrevivência da sociedade sempre dependeu da manutenção do equilíbrioentre as variáveis de população, recursos naturais e meio ambiente. O desleixopara com este princípio foi desastroso e as conseqüências, fatais para antigascivilizações. Da mesma forma, estamos sujeitos às leis de controle dasobrevivência, entretanto, somos os primeiros a constituir uma civilização globale, portanto, os primeiro que enfrentam, simultaneamente, a expansão dapopulação a nível mundial, a destruição dos recursos naturais e do meioambiente.Enquanto escrevo, cerca de 400 satélites equipados com instrumentos deverificação do tempo, estudo das zonas litorâneas, processos polares e marítimosmonitoram constantemente a vegetação e a atmosfera, apontando os efeitos dapoluição e da erosão. Os dados coletados têm um papel crucial, proporcionandocorretas verificações e constatações de padrões geológicos em modificação,aquecimento global e destruição da camada de ozônio. Eles estão testemunhandoa conformação de uma catástrofe ambiental de uma magnitude jamaisenfrentada pela humanidade. A longo prazo, os resultados dos níveis atuais deconsumo ainda não estão claros, mas devido à falta de precisão científica emrelação a seus efeitos, meu argumento é que devemos usar o 'princípio daprecaução' e tomar alguma atitude para garantir a sobrevivência de nossaespécie neste planeta. 1  Sem dúvida, esta é uma revelação chocante, e, sobretudo para um arquiteto, já quesão as nossas cidades que ocasionam esta crise ambiental. Em 1900 apenas umdécimo da população mundial vivia em cidades. Hoje, pela primeira vez na história,metade de toda a população mundial vive em cidades e num prazo de 30 anos, estaproporção poderá atingir até três quartos dos habitantes do planeta. A populaçãourbana vem aumentando a uma taxa de 250 mil pessoas por dia - grosseiramente oequivalente a uma nova Londres a cada mês. O crescimento da população urbana,por todo o mundo, e os padrões, grosso modo, ineficientes de moradia estãoacelerando a taxa de aumento da poluição e erosão. É uma ironia que as cidades, o habitat  da humanidade, caracterizem-se como o maioragente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência dahumanidade no planeta. Nos Estados Unidos, a poluição das cidades já reduziu aprodução das plantações em quase 10%. No Japão, o lixo da cidade de Tóquio chegaa um valor estimado de 20 milhões de toneladas por ano, lixo que já saturou toda abaía de Tóquio. A cidade do México, literalmente, está bebendo a água de seus doisrios secos, enquanto o grande congestionamento de trânsito de Londres causa hojemaior poluição do ar do que a queima de carvão, no período anterior a 1956, antesda lei pela qualidade do ar, por um ar limpo, o Clean Air Act. As cidades geram amaioria dos gases causadores do efeito estufa e figuras respeitadas do establishment  como sir  John Houghton, presidente do comitê sobre Mudanças Climáticas dasNações Unidas, adverte sobre os efeitos igualmente desastrosos dos atuais níveis daprodução desses gases.Enquanto não houver diminuição no ritmo de crescimento das aglomerações urbanas,o simples fato de morar em uma cidade não deveria conduzir à autodestruição dacivilização. Acredito piamente que a arquitetura, o urbanismo e o planejamentourbano possam, evoluir ainda mais para nos proporcionar ferramentas cruciais paragarantir nosso futuro, através da criação de cidades com ambientes sustentáveis ecivilizados. Este livro tentará demonstrar que as cidades futuras podem ser otrampolim para restaurar a harmonia da humanidade com seu meio ambiente.A causa do meu otimismo vem de três fatores: o aumento da conscientizaçãoecológica, da tecnologia das comunicações e da produção automatizada. Todas são 2  condições que contribuem para o desenvolvimento de uma cultura urbana pós-industrial socialmente responsável e ambientalmente consciente. Por todo o mundo,cientistas, filósofos, economistas, políticos, urbanistas, artistas e cidadãos clamampela integração da perspectiva global nas estratégias para o futuro. O relatório dasNações Unidas, intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future) propôs oconceito de 'desenvolvimento sustentável' como espinha dorsal de uma políticaeconômica global: atender às nossas necessidades atuais sem comprometer asfuturas gerações e dirigir ativamente nosso desenvolvimento em favor da maioria domundo - os mais pobres.O âmago desse conceito de desenvolvimento sustentável está na redefinição dariqueza para incluir o capital natural: ar limpo, água potável, camada de ozônioefetiva, mar sem poluição, terra fértil e abundante diversidade de espécies. Os meiospropostos para garantir a proteção deste capital natural são normas reguladoras que,mais importante ainda, devem fixar um preço adequado para uso do capital natural,patrimônio que anteriormente havia sido considerado ilimitado e, portanto, semqualquer custo. O objetivo final do desenvolvimento econômico sustentável é deixarpara as futuras gerações uma reserva de capital natural igualou maior que nossaprópria herança.Em nenhum outro lugar a implementação da 'sustentabilidade' pode ser maispoderosa e benéfica do que na cidade. De fato, os benefícios oriundos dessa posiçãopossuem um potencial tão grande que a sustentabilidade do meio ambiente devetransformar-se no princípio orientador do moderno desenho urbano.Se as cidades estão destruindo o equilíbrio ecológico do planeta, nossos padrões decomportamento econômico e social são as causas principais do seu desenvolvimento,acarretando desequilíbrio ambiental. Tanto nos países industrializados quanto nospaíses em desenvolvimento, a capacidade das cidades está sendo solicitada até olimite, sua expansão se dá em tal índice que os padrões tradicionais de acomodaçãodo crescimento urbano tornaram-se obsoletos. Nos países desenvolvidos, a migraçãodas pessoas e atividades dos centros urbanos tradicionais para o sonhado mundo dosbairros residenciais distantes levou a um enorme desenvolvimento dos subúrbios,construção de estradas, aumento do uso de automóveis, congestionamento e 3  poluição do ar. Os melhores exemplos são as cidades do oeste dos Estados Unidos,como Phoenix e Las Vegas. Enquanto isso, nas economias de crescimento rápido domundo desenvolvido, novas cidades estão sendo construídas num ritmo e densidadesfenomenais, com preocupação ínfima em relação ao impacto social e ambientalfuturo. Por todo o mundo, há uma migração rural da população mais pobre paraessas novas cidades. E em todos os lugares, a situação da população pobre éamplamente negligenciada. No mundo desenvolvido, os mais pobres são excluídos dasociedade de consumo, sendo abandonados e isolados em guetos nos centrosurbanos, enquanto nas cidades em desenvolvimento eles são relegados à miséria dasfavelas sempre crescentes. Em geral, o número de moradores 'ilegais' ou 'nãooficiais' extrapola os números oficiais.As cidades estão produzindo uma instabilidade social desastrosa e levando a umdeclínio ambiental adicional. Apesar do aumento global da riqueza, que ultrapassaem muito o aumento da população, cresce o grau de pobreza e o número de pobresno mundo. Muitos deles estão vivendo nos ambientes mais desfavoráveis, expostosa níveis extremos de pobreza ambiental, perpetuando, portanto, o ciclo dedestruição e poluição. E as cidades estão destinadas a abrigar parcelas cada vezmaiores dessas populações. Portanto, uma vez que as questões sociais e ambientaisestão entranhadas, não deveria ser surpresa o fato de sociedades e cidades,caracterizadas por desigualdades, sofrerem intensa privação social e causaremdanos ainda maiores ao meio ambiente.Pobreza, desemprego, saúde comprometida, ensino de má qualidade, conflitos - emresumo, injustiça social em todas as suas formas minam a capacidade de umacidade de ser sustentável do ponto de vista ambiental. Cidades que conviveram comguerra civil, como Beirute; com graus extremos de pobreza, como Bombaim; quealienaram da corrente principal da vida grandes parcelas de sua população, comoLos Angeles; que buscam o lucro como motivação maior, como São Paulo; cidadesassim prejudicam o meio ambiente em detrimento de todos. Não pode existirharmonia urbana ou melhoria ambiental real sem paz e garantia da aplicação dosdireitos humanos básicos.No mundo desenvolvido, há cidades que abrigam comunidades com intensas 4