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A Análise De Conjuntura Como Instrumento

A Análise de Conjuntura como Instrumento* O presente texto é uma tradução livre de um capítulo do livro Fundamentos de Formacion Politica – Análisis de Coyuntura (2º edição) de Helio Gallardo.

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  A Análise de Conjuntura como Instrumento* O presente texto é uma tradução livre de um capítulo do livro Fundamentos de Formacion Politica  –  Análisis de Coyuntura (2º edição) de Helio Gallardo. 1. Premissas, objeto, finalidade e organização da análise de conjuntura Premissas da análise de conjuntura Segundo temos exposto e discutido, a análise de conjuntura repousa sobre as seguintes premissas: I a) a realidade histórico-social é complexa, mas pode ser conhecida; b) a complexidade da realidade histórico-social inclui seu caráter conflitivo; c) a conflitividade do histórico-social supõe mudança e desenvolvimento; d) o conhecimento do histórico-social é necessário para seu desenvolvimento e mudança e; e) a inserção política do conhecimento, o torna uma força material. II a) o caráter conflitual, contraditório, do histórico-social se concentra na luta de classes; b) para toda sociedade de classes, o espaço político, instancia de realização do conflito antagônico de classes, é um espaço de luta e conflito; c) a luta e conflito políticos devem ser entendidos sob a forma de pontos de contato (integração, aliança, combate) ou articulação de forças sociais na cena política em relação a estrutura política; d) a organização capitalista da vida, por não permitir a realização-apropriação do ser humano (enquanto torna impossível uma existência humana), exige sua transformação e a materialização de um projeto alternativo de existência, e e) a análise de conjuntura se insere como um instrumento teórico e prático deste projeto alternativo que é basicamente um projeto popular, nacional, socialista e democrático da vida. Objeto da análise de conjuntura O objeto específico da analise de conjuntura são as correlações de forças sociais, tais como elas se expressam na instância ou nível político de uma formação econômico-social. Por forças sociais se entende aqui a expressão das classes sociais no nível político. O estudo e conhecimento das expressões da luta de classes nos níveis econômico-social e cultural são condições da análise de conjuntura, mas não constituem seu objeto específico. Para entender e conhecer seu objeto, a análise de conjuntura se situa na perspectiva do materialismo histórico e particularmente utiliza suas categorias de modo de produção, formação econômico-social, estrutura do capitalismo dependente, situação social e conjuntura social, Estado como ditadura de classe, formas de dominação e forças sociais. Para se constituir efetivamente como um instrumento de inserção política e contribuir para o desenvolvimento do movimento popular em seu processo de libertação, a análise de conjuntura supõe o manejo pormenorizado da  história específica (econômico-social, política e cultural) da formação social cuja instância política é objeto da análise. Neste campo, o materialismo é um princípio de conhecimento (um princípio de ordem e sentido), mas não desloca nem substitui o quadro vivo que configura a história especifica de cada sociedade. Objetivos da análise de conjuntura Os objetivos gerais da análise de conjuntura são: a) determinar a situação atual das forças sociais no campo da política; b) determinar, a partir do estudo da situação atual, as tendências de desenvolvimento das forças que constituem o campo da política; c) mostrar as distintas alternativas que podem oferecer as tendências em seu desenvolvimento e d) definir tarefas políticas específicas no interior das determinações conjunturais. Os objetivos específicos da análise são: a) determinar o caráter da situação política que vive a formação social e datar seu início apoiando-se em acontecimentos significativos; b) caracterizar o conflito e o problema fundamental que define a cena política num momento determinado; c) colocar em relação esse problema fundamental com a estrutura política e com a confrontação atual das diversas forças políticas; d) caracterizar o ator ou atores principais do problema fundamental, o cenário ou cenários em que se expressam, suas formas de articulação atuais e suas possibilidades de desenvolvimento; e) caracterizar a relação entre os atores principais do problema fundamental em termos de domínio (força potencial e real, disposição ofensiva ou defensiva, controle, etc.) e suas alternativas de desenvolvimento (como o setor mais forte consolida ou acrescenta ou vê diminuído seu poder, como o setor mais fraco diminui sua precariedade relativa ou se enfraquece mais ainda, etc.) f) determinar e caracterizar as possibilidades de alianças políticas dos atores principais e seus efeitos possíveis sobre o quadro geral e o desenvolvimento de suas tendências; g) determinar exaustivamente a situação política dos diversos setores sociais que configuram o povo em referência ao projeto estratégico revolucionário e h) determinar níveis de ação política: nacional, regional, local, orgânicos, seus meios de realização, suas metas e sua articulação com o desenvolvimento político fundamental. Finalidade da análise de conjuntura A análise de conjuntura se propõe a contribuir, como instrumento de conhecimento e de direção, à configuração do povo como força social alternativa dentro do sistema capitalista dependente, isso quer dizer, a sua conformação como força política que busca desde seus próprios valores a transformação do estado atual de vida e a materialização histórica de uma sociedade digna para todos os seres humanos.  Para alcançar este propósito, a análise de conjuntura deve atingir em sua forma e conteúdo, a categoria de um ativador, organizador e mobilizador material dos diversos setores do povo. Por isso a análise de conjuntura toma forma de um diagnóstico responsável, elaborado e discutido por equipes de trabalho, fundado em um projeto nacional de libertação popular e, consequentemente, a de um indicador de vias de ação e de tarefas possíveis e necessárias para este projeto. Para constituir-se como um efetivo instrumento de ação política, a análise de conjuntura evita sistematicamente, em sua produção e em sua forma e conteúdo, o subjetivismo, a unilateralidade e a superficialidade. Em sua apresentação, e como instrumento de educação popular, o informe de análise de conjuntura evita o dogmatismo, a manipulação, a solenidade oca e a criptografia. Por dogmatismo se entende a apresentação da realidade histórica mediante fórmulas não explicadas ou insuficientemente explicadas. A manipulação consiste na orquestração de informação com o propósito de criar efeitos comunicativos que não procedem rigorosamente do material objetivo. A solenidade oca substitui um estilo rigoroso e direto por palavrório inflado e rebuscado, alusivo e metafórico, que busca disfarçar a ignorância ou imperícia com a pompa. A criptografia consiste em velar a comunicação por trás de uma linguagem que se pretende técnica e científica, mas que resulta própria dos iniciados. Ao contrário, em sua elaboração e apresentação, a análise de conjuntura cultiva a discussão responsável, informada, objetiva, multilateral, rigorosa e criativa. Sua apresentação final deve contribuir sempre para a educação e integração política dos setores do povo. Bases humanas da análise de conjuntura A análise de conjuntura é o resultado da investigação, estudo e discussão coletiva de equipes de trabalho especializadas, integradas e coordenadas por um projeto político de libertação nacional e social. Base material da análise de conjuntura As necessidade materiais básicas da análise de conjuntura respondem aos requerimentos que permitem alcançar suas objetivos mínimos: a) Uma biblioteca básica, organizada em seções de teoria e história: 1. Teoria: textos fundamentais do materialismo histórico; análise da organização capitalista da produção; análise do capitalismo dependente; estudos específicos sobre a economia, a política e a cultura sob o domínio da organização capitalista da vida; 2. História: estudos sobre a história do país (se possível a partir da perspectiva da luta de classes); estudos sobre a economia, política e cultura do país; estudos sobre o movimento operário do país; sobre o movimento camponês, sobre o movimento comunitário, organizações de mulheres e de jovens; sobre a organização e luta dos trabalhadores da América Latina; sobre experiências revolucionárias latino-americanas; sobre a participação de cristãos em processos revolucionários; sobre as ações do imperialismo na América Latina. b) Uma seção de arquivos e pastas:  1. Um arquivo de informações da imprensa diária, com material identificado, classificado e organizado em seções e períodos: economia (janeiro 1  –  janeiro 15); sociedade (janeiro 1  –  janeiro 15); política (igual); cultura (igual). Segundo a capacidade de trabalho, se fazem possíveis subseções: classes dominantes/ setores dominados; nacional/internacional; aparato administrativo do Estado/ aparato repressivo do Estado, etc. 2. Um arquivo de imprensa periódica não diária (semanários, revistas) e panfletos, com material identificado, classificado e organizado (se necessário, resumido). 3. Um arquivo de tabelas e estatísticas básicas (economia, política, movimentos sociais, etc.). 4. Um arquivo de documentos políticos atuais, lançados por partidos, governos, organismos internacionais, classificados tematicamente, e se necessário, resumidos. O material de arquivo, organizado sem pausa, deve ser periodicamente analisado. Dando srcem assim a informes parciais, de síntese, que mostram já traços analíticos (periodicidade: a cada 15 dias, cada mês). Ele possibilita: 5) Uma pasta de informes parciais, cuja discussão regular, fundamenta a análise de conjuntura; podem estar organizados por cenários ou atores políticos; também por projetos estratégicos. 6) Um arquivo de análise de conjuntura, que recolhe os informes emanados de análises e que cobre funções de consulta, educação e auto-avaliação. Reiterada observação óbvia: o trabalho de uma oficina de conjuntura  –  recolhimento, organização discussão, elaboração de materiais  –  é permanente. * Gallardo, Helio. Fundamentos de Formacion Politica  –  Análisis de Coyuntura (2º edição). Colección Universitaria. Costa Rica: Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1990. Pags 95-99.