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Dados Preliminares Sobre Sinantropia De Califorídeos (diptera: Calliphoridae) No Município De Paracambi-rj

DADOS PRELIMINARES SOBRE SINANTROPIA DE CALIFORÍDEOS (DIPTERA: CALLIPHORIDAE) NO MUNICÍPIO DE PARACAMBI-RJ

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  97 MELLO, R. P. de et al. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p. 97-101, 2004. DADOS PRELIMINARES SOBRE SINANTROPIA DECALIFORÍDEOS (DIPTERA: CALLIPHORIDAE ) NO MUNICÍPIO DEPARACAMBI-RJ RUBENS PINTO DE MELLO 1 RODRIGO GREDILHA 1,2 ÉRICO DA GAMA GUIMARÃES NETO 1 1. Laboratório de Díptera, Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro,RJ, Brasil.E-mail:[email protected];2. Aluno do curso de Lic. em Ciênc Agrícolas da UFRuralRJ. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro BR-465, Km 7CEP. 23.890-000 Seropédica/RJ,Brasil. RESUMO: MELLO, R. P. de; GREDILHA, R. e GUIMARÃES NETO, É. da G. Dados preliminares sobresinantropia de califorídeos (Diptera: Calliphoridae ) no município de Paracambi-RJ. RevistaUniversidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 97-101, jul.-Dez.,2004.   O trabalho teve por objetivo verificar a ocorrência das principais espécies da família Calliphoridae emtrês áreas ecológicas distintas (urbana, rural e florestal) do município de Paracambi-RJ, Para tanto , foramdistribuídas em cada área de coleta uma armadilha contendo carcaça de peixe substituídas quinzenalmente.Durante as capturas ocorridas entre fevereiro e julho de 2004, 1.046 espécimens foram coletados. Afrequência das moscas capturadas se correlacionou positivamente com os fatores abióticos. Chrysomyamegacephala apresentou maior abundância nas três áreas ecológicas; urbana (55,98%), rural (63,48%) eflorestal (52,12%). Palavras-chave: Díptera, caliptratos, sinantropia, Paracambi-RJ.  ABSTRACT: MELLO, R. P. de; GREDILHA, R. and GUIMARÃES NETO, É. da G. Preliminary data onsynanthropic mucoids (Diptera: Calliphoridae ) on the Municipal District of Paracambi-RJ, Brazil. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n.2, p. 97-101, jul.-Dez., 2004. The work had as objective to verify the occurrence of the main species of the familyCalliphoridae in three ecological different areas (urban, rural and forest) on the municipal district Paracambi-RJ. There were distributed in each collection area a trap containing fish carcass substituted biweekly. Duringthe captures from February and July, 2004, 1.046 flies were collected. The frequency of the captured flieswas positively with the climatic factors. Chrysomya megacephala presented greater abundance in the threeecological areas: urban (55,98%), rural (63,48%) and forest (52,12%). Key Words: Diptera, calyptratae, synanthropic flies, Paracambi-RJ. INTRODUÇÃO O crescimento desordenado dashabitações humanas, resulta namodificação do ecossistema local criandonovos nichos ecológicos ondedeterminados animais apresentamcapacidade de adaptação em condiçõesgeradas pelo homem. A associação entreinsetos e seres humanos ocorre com maiorfreqüência em regiões metropolitanas jáque, a produção de lixos urbanos, resíduosindustriais, excrementos de animaisdomésticos e humanos desempenhampapel fundamental como substrato para odesenvolvimento de determinadosespécies. Nuortueva (1963) considerasinantropia, a habilidade de algumasespécies em utilizar as condiçõesambientais criadas ou modificadas pelohomem. A sinantropia das moscas podeser definida segundo Povolny (1971) atravésdos fatores ecológicos e do significadohigiênico e epidemiológico restrito a cadaespécie. Linhares (1979) e D’ Almeida(1983) destacam a importância dos dípteroscaliptratos como um grupo importanteentre os animais sinantrópicos , não só peloponto de vista ecológico como também peloaspecto médico sanitário, devido aopotêncial de carrearem agentes etiológicosde diversas doenças significativas aos  98 Dados preliminares... Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p. 97-101, 2004. estudos epizoóticos e epidemiológicos.Uma lista de organismos veiculados pormoscas é apresentada por Cordeiro deAzevedo (1960) e Greenberg (1971); dentreas doenças, podemos salientar asseguintes: disenterias bacilares, cólera,botulismo febre tifóide, brucelose,poliomielite, varíola, geardíases,eimerioses, ancilostomoses e tuberculose.Oliveira et al. (2002) relatam a existênciade dípteros muscóides como potênciaisvetores de ovos de helmintos em jardinszoológicos no Brasil. ExperimentalmenteWallace (1971) verificou que duas espéciesde dípteros muscóides podem funcionarcomo vetores mecânicos de oocistos de Toxoplasma gondii quando em contato comfezes de gatos infectados. Guimarães ePapavero (1966) afirmam que os dípteroscaliptratos podem funcionar como vetoresforéticos de ovos da mosca Dermatobiahominis , inseto causador de miíases emhumanos e animais. Mello (2003) ressaltaa abrangência das espécies de dípteros dafamília Calliphoridae como produtoras delesões denominadas miíases conhecidavulgarmente por “bicheiras”. Quarterman etal. (1954) demonstraram o potêncial dedispersão das moscas através da eficiênciano vôo, podendo alcançar distâncias entre3,2km a 6,4km desde o ponto de srcem.Considerando os aspectos inerentes asaúde pública, realizou-se o levantamentoda família de dípteros califorídeos emdiferentes áreas ecológicas do municípiode Paracambi-RJ, tendo como principalobjetivo a correlação entre a freqüênciapopulacional dessas espécies no decorrerdas estações entre fevereiro/julho de 2004,relacionando cada ocorrência as variáveisclimáticas locais e o grau de sinatropismodestas moscas fornecendo assim,subsídios para os programas de controledesses vetores a partir dos resultadosobtidos. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa foi realizada em três áreasecológicas distintas do município deParacambi, Estado do Rio de Janeiro,delimitadas como zonas urbana, rural eflorestal. Um dos pontos está localizadoem um lixão, situado no bairro de Lages eos outros dois pontos em áreas do sítioMultirão, sendo um destes pontosconsiderado zona florestal já que é umaárea de fragmentação da mata atlântica.As capturas dos dípteros ocorreramquinzenalmente, com armadilha descritapor Ferreira (1978) que permaneceu duranteo dia, em cada ponto. No interior de cadaarmadilha foi utilizado aproximadamente100g de carcaça de peixe em estado deputrefação devido à elevada atratividade(MELLO, 1961; D’ ALMEIDA, 1986 D’ALMEIDA,1988 e MENDES e LINHARES,1993). Após as capturas, os dípterosforam colocados em tubos estéreispadronizados, tampados com algodãohidrófobo e levados ao Laboratório deDíptera do IOC/Fundação Oswaldo Cruzpara triagem e identificação, com auxíliode lupa estereoscópica. Todos os insetoscapturados foram sacrificados pelaexposição a vapores de clorofórmio,montados em alfinetes entomológicoscomo descritos por Mello (1967) e D’Almeida (1991) sendo então,acondicionados em gavetas da coleçãoentomológica do Laboratório de Diptera(Instituto Oswaldo Cruz). Chave deidentificação das formas adultas de dípteroscaliforídeos de ocorrência no territóriobrasileiro foi utilizada como ferramenta deprecisão ao diagnóstico específico do ma-terial em análise (MELLO, 2003). Visandodeterminar a correlação entre os fatoresabióticos e a freqüência populacional,verificou-se no período de fevereiro a julhode 2004 as variáveis climáticas locais,segundo os dados gentilmente fornecidospelo posto meteorológico da PESAGRO-RIO, localizado no município de Seropédica,Estado do Rio de Janeiro, (22° 46' S e 43°  99 MELLO, R. P. de et al. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p. 97-101, 2004. 41' W), distante aproximadamente 26kmdos pontos de captura. Para calcular ograu de sinantropia foi utilizado o índicecriado por Nortueva (1973). Foramcalculados apenas para as espécies dasquais obtivemos, no mínimo 30 exemplarescoletados. O índice sinantrópico deNortueva varia de +100 a -100; os valoresnegativos indicam aversão ao ambientehumano enquanto que os mais altos valorespositivos encontrados representam ummaior grau de sinantropia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o experimento foram coletados1.046 dípteros califorídeos. As espéciesencontradas respectivamente na área ur-bana (lixão) foram; Chrysomyamegacephala (55,98%), Chrysomyaalbiceps (23,11%), Phaenicia eximia (11,95%) ,   Phaenicia cuprina (4,58%) , Cochliomyia macellaria (2,79%) e Chrysomya putoria (1,59%); na área rural; C. megacephala (63,49%), C. albiceps (26,97%), P. eximia (3,93%) , C. putoria (1,96%) , C. macellaria (1,96%) e P. cuprina (1,69%); na área florestal: C. megacephala (52,13%), C. albiceps (25%), H.semidiaphana (10,11%) P. eximia (6,91%) P. cuprina (3,19%) , C. macellaria (1,60%), C. putoria (1,06%). As espécies queapresentaram maior índice sinantrópicorespectivamente foram; P. cuprina (+63,18) P. eximia (+62,07%) C. megacephala (+49,01%) e C. albiceps (+45,17%). Os19 exemplares de Hemilucilliasemidiaphana capturadas em armadilhaiscada ocorreram apenas na área florestal,corroborando com os estudos de Mello(1972) e Vianna et al . (1998) que caracteri-zam esta mosca como independente dasáreas urbanas. Os resultados sugerem que Phaenicia cuprina apresenta extremacapacidade de dispersão e adaptação aoambiente domiciliar. A espécie C.megacephala não sofreu influência diretade baixas temperaturas mantendo suaatividade tanto no inverno quanto no verão.Carraro e Milward-de-Azevedo (1999)verificaram que C. megacephala foi a es-pécie mais abundante da famíliaCalliphoridae representando 49,72% dototal de espécies capturadas emSeropédica, Rio de Janeiro no campus daUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Chrysomya albiceps foi a segundaespécie mais abundante com 24,76% dototal de califorídeos capturados nomunicípio de Paracambi. C. albiceps édescrita por D’Almeida e Lopes (1983) noRio de Janeiro apresentando alto índicesinantrópico e sendo a segunda espéciede maior ocorrência. Mello et al. (1997)explicam que tal fato se deve as larvasdesta espécie serem predadoras das fasesimaturas de outras moscas e de possuíremcurto período de desenvolvimento. Figura 1. índice de sinantropia das espécies de califorídeos coletados no período entre fevereiro e julho/2004, no município de Paracambi-RJ. 45,17%49,01%62,07%63,18% -100 -50 0 50 100 C.albicepsC. megacephalaP. eximiaP. cuprina  100 Dados preliminares... Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n.2, Jul.-Dez., p. 97-101, 2004. CONCLUSÕES Os dados preliminares obtidos noresultado deste trabalho permitiramcompreender a correlação populacional dosdípteros califorídeos com a influência dosfatores climáticos em diferentes áreasecológicas do município de Paracambi e ograu de associação dessas espécies como ambiente humano. Embora nos mesesde junho e julho tenham ocorrido uma di-minuição moderada dos exemplarescoletados, não houve diferença do númerototal de moscas quando comparadas aosfatores abióticos indicando então, uma dis-tribuição homogênea. C. megacephala, espécie introduzida no Brasil, (D´ALMEIDAe MELLO, 1996) foi   a mais frequênte se-guida da C. albiceps , também introduzidaem nosso país. A maior abundância dosdípteros Calliphoridae foi registrada na áreaurbana com um número total de 502espécimens capturados. Figura 2. Distribuição percentual do número de espécies de califorídeos coletados nas três áreas ecológicasde Paracambi-RJ, no período entre fevereiro e julho/2004.  AGRADECIMENTOS A Secretaria Municipal do MeioAmbiente de Paracambi, pelos dadostopográficos da região e pelas informaçõesgeopolíticas das áreas de coleta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARRARO, V. M. e MILWARD-DE-AZEVEDO, E.M.V. ,1999. Quantitative de-scription of Calliphorid dipterans capturedon the Campus of the Federal Rural Univer-sity of Rio de Janeiro using sardine bait. Rev. Bras. Zoociências (1): 77-89.CORDEIRO DE AZEVEDO, N., 1960.Moscas como vetores de agentespatogênicos. Revista do Serviço Especialde Saúde Pública . 14; 207-15.D’ ALMEIDA, J. 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