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  ________________________________________________________________  Alex Pereira de Araújo em Estéticas Ocidentais nas Américas  Sob a coordenação do Prof. Dr Rafael S. Guimarães A Estética de Valdirene Borges do Nascimento “O que a imagem artística  sugere é a indissociabilidade entre o prazer da imagem e uma   estética”    Jacques Aumont Uma artista genuinamente grapiúna Nascida em Itabuna, a 18 de julho de 1950, numa época em que a cultura grapiúna florescia sob a sombra frondosa da grandiosa obra de Jorge Amado, Valdirene Borges do Nascimento fez parte de um seleto grupo de artistas plásticos talentosos como:   Waldir Santana, Vauluísio Bezerra, Richard Wagner e Renato Afonso Marques Sousa Renart. Mas ela também transita da pintura à poesia, tendo publicado vários poemas na impressa local, assinando, quase sempre, sob um pseudônimo, seus textos poéticos. Ela ainda participou da antologia, Poesia Moderna da Região do Cacau , publicada pela Civilização Brasileira, cuja organização e seleção foram realizadas pelo poeta grapiúna 1  Telmo Padilha. Já como artista plástica, ela tem participado de várias exposições coletivas em outros estados e até no exterior. Na primeira fase da sua criação plástica, Valdirene recorria com frequência à temática das paisagens marinhas. Após alguns anos de aprimoramento, com um estilo mais amadurecido, sua pintura reaparece com tons mais vivos e mais alegres num traço simetricamente simples que retrata o universo bucólico da região do cacau cujo lirismo toca o olhar do espectador que logo sente a vida e a alegria das coisas cotidianas que 1  Este termo deve ser entendido no sentido estrito como sinônimo de itabunense ou, ainda, no sentido lato , para se referir a algo que pertencente à cultura produzida na Região Cacaueira da Bahia.  ________________________________________________________________  Alex Pereira de Araújo em Estéticas Ocidentais nas Américas  Sob a coordenação do Prof. Dr Rafael S. Guimarães deixamos de perceber. Em outras palavras , “a s cores vibrantes harmonizam como mágica, nos quadros de nossa Valdirene Borges. Seus quadros retratam gente da gente, o cotidiano, a simplicidade, mesmo assim emocionando o olhar mais displicente.”  (WENCESLAU JR., 2017). Alguns anos atrás, Valdirene Borges começou a fazer mosaicos e alguns deles podem ser vistos nas paredes da fachada da Casa do Educador, prédio onde funcionou a antiga FAFI (Faculdade de Filosofia de Itabuna), na fachada do GACC (Grupo de Apoio a Criança com Câncer), na Escola Profissionalizante, nos prédios da Fundação Marimbeta (antigo Sítio do Menor Trabalhador). A saga Grapiúna em traços simples de vanguarda Os quadros pintados por esta poeta são, na verdade, o enquadramento da vida grapiúna, sob seu olhar cheio de nostalgia de uma época em que a noite tinha o cheio de chocolate nas ruas de Itabuna e as manhãs eram povoadas com as jangadas e com as lavadeiras no rio Cachoeira, a juventude transviada se encontrava à tarde no Teatrinho ABC da antiga praça Camacan, e Jean Paul Sartre vinha nos visitar com sua companheira Simone de Beauvoir. Em cada traço simples deflagrado sobre as telas, um gesto de poesia que busca retratar as imagens vividas no cotidiano da artistas ou na sua imaginação de poeta. Em cada tela pintada, encontramos não apenas os traços simples de Valdirene, mas o seu próprio rosto, ou seja, é como se em cada quadro ela tivesse pintado a si mesmo, numa espécie de autorretrato. Portanto, são quadros de memória de uma artista que não apenas viu o tempo passar, mas o registrou com o seu pincel, tornando-o visível ao dar-lhe cores que seu olhar lhe fornecia como tintas. Daí, podemos reconhecer a importância social desses quadros de uma memória individual interpenetrada pela memória coletiva , tendo em vista que “a produção de imagens jamais é gratuita, e, desde sempre, as imagens foram fabricadas para determinados usos, individuais ou coletivos.” (AUMONT, 1993, p.78).  Do ponto de vista estético, as pinturas de Valdirene Borges do Nascimento, apesar de toda singularidade de seus traços, parecem dialogar com as de Picasso na medida em que seus traços simples se articulam numa simetria de formas com cores vivas e alegres, como uma das fases da pintura do mestre espanhol. Suas telas também dialogam com as de Carybé (nome artístico de Hector Julio Páride Bernabó, pintor argentino naturalizado  ________________________________________________________________  Alex Pereira de Araújo em Estéticas Ocidentais nas Américas  Sob a coordenação do Prof. Dr Rafael S. Guimarães brasileiro, radicado na Bahia), no que diz respeito ao lirismo e alegria de ser baianos, retratando todo o ambiente dessa baianidade bucólica afro-latina americana que nos remete também às culturas pré-colombianas dos astecas, maias e incas. É uma estética que reflete todo o espírito grapiúna dessa artista em sua singularidade que coloca sob seu enquadramento o tempo e a poesia brincando juntos como eternas crianças. LENTAMENTE TÃO S Te vejo junto ao rio, te acordo criança do sonho desfeito, soluço do tempo das águas do rio. Te vejo criança de mãos pequenas, abraçando um sorriso, oferecendo-me um riso. Te vejo criança no homem que quero ter, no filho que sonho, mistério que amanhece. Te vejo criança na correnteza que segue, no desalento do leito lentamente, tão só.  ________________________________________________________________  Alex Pereira de Araújo em Estéticas Ocidentais nas Américas  Sob a coordenação do Prof. Dr Rafael S. Guimarães Este quadro faz parte da decoração do tradicional Café Pomar  , que fica em frente ao marco zero da cidade, na Avenida do Cinquentenário, em Itabuna.  A artista em seu atelier em Itabuna  ________________________________________________________________  Alex Pereira de Araújo em Estéticas Ocidentais nas Américas  Sob a coordenação do Prof. Dr Rafael S. Guimarães Meninas na Praça  –   Valdirene Borges