Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

Exercicio Shst

Descrição: exercícios SHST

   EMBED


Share

Transcript

Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 1 Os riscos decorrentes das operações efectuadas pelos trabalhadores podem estar na origem de: A. Aci Aciden dentes tes;; B. Doenç Doenças as profissionais; profissionais; C. Acide Acidentes ntes de trabalho; D. Todas. Numa loja, um trabalhador, tem o espaço à sua volta desarrumado e sujo com materiais e produtos que utilizou e que foi atirando para o chão. Um seu colega, ao passar escorregou e caiu, tendo sido levado ao hospital por ter dores muito fortes num braço. Felizmente, as suspeitas de fractura do braço não se confirmaram, tendo-lhe sido, apenas, receitados comprimidos, gelo e repouso. À luz da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, diga quem é o responsável pelo ocorrido: A. O trabalhador que caiu, porque devia ter olhado para o caminho que pisava; B. O trabalhador sentado à bancada bancada de trabalho, por ter sido negligente negligente quanto à arrumação e limpeza do seu espaço de trabalho; C. A entidade patronal, patronal, por permitir que que as condições de trabalho, no que diz respeito respeito à organização e limpeza, se tivessem degradado; D.Todos os intervenientes. Ainda segundo o mesmo diploma legal, considera-se acidente de trabalho aquele que ocorre no: A. Local de trabalho; trabalho; B. Tempo de trabalho; C.Local ou tempo de trabalho; D.Local e tempo de trabalho; E. Em qualquer das situações referidas em A, B, C e D. 2 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 1 Os riscos decorrentes das operações efectuadas pelos trabalhadores podem estar na origem de: A. Aci Aciden dentes tes;; B. Doenç Doenças as profissionais; profissionais; C. Acide Acidentes ntes de trabalho; D. Todas. Numa loja, um trabalhador, tem o espaço à sua volta desarrumado e sujo com materiais e produtos que utilizou e que foi atirando para o chão. Um seu colega, ao passar escorregou e caiu, tendo sido levado ao hospital por ter dores muito fortes num braço. Felizmente, as suspeitas de fractura do braço não se confirmaram, tendo-lhe sido, apenas, receitados comprimidos, gelo e repouso. À luz da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, diga quem é o responsável pelo ocorrido: A. O trabalhador que caiu, porque devia ter olhado para o caminho que pisava; B. O trabalhador sentado à bancada bancada de trabalho, por ter sido negligente negligente quanto à arrumação e limpeza do seu espaço de trabalho; C. A entidade patronal, patronal, por permitir que que as condições de trabalho, no que diz respeito respeito à organização e limpeza, se tivessem degradado; D.Todos os intervenientes. Ainda segundo o mesmo diploma legal, considera-se acidente de trabalho aquele que ocorre no: A. Local de trabalho; trabalho; B. Tempo de trabalho; C.Local ou tempo de trabalho; D.Local e tempo de trabalho; E. Em qualquer das situações referidas em A, B, C e D. 2 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 2 Escolha a/s condição/ões necessária/s para que uma doença possa ser considerada Doença Profissional: A. Ter sido provocada pelo trabalho e conste da Lista de Doenças Profissionais; B. Ter sido provocada pelo trabalho ou conste da Lista de Doenças Profissionais; C. O médico de família ter classificado essa doença como doença do trabalho; D. Qualquer das anteriores. A dose de uma substância tóxica depende de: Os contaminantes do ambiente de trabalho quando ultrapassam determinada dose podem prejudicar a saúde dos trabalhadores. Diga que nome se dá a essa dose: A. Dos Dosee limite; limite; B. Dose admiss admissível; ível; C. Dose suportável suportável;; D.Dose nula. A exposição dos trabalhadores a certos contaminantes, quando é ultrapassada ultrapassada essa dose, pode desencadear uma intoxicação grave e de manifestação imediata. No entanto, para outros contaminantes, a intoxicação, embora também muito grave, não se manifesta imediatamente, podendo o trabalhador estar exposto a esses contaminantes durante muito tempo (meses, anos) até começar a se sentir doente. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 3 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Complete a seguinte frase: "A Toxicologia dá a estes últimos contaminantes o nome de tóxicos ". Assinale em que tipo de substâncias estes tóxicos aparecem: A. Solventes (diluentes) de vernizes; B. Col Colas; as; C. Insecticidas de madeiras; D. Solda Soldass de estanho; estanho; E. Tin Tintas tas metálicas; metálicas; F. Pig Pigmen mentos tos;; G. Componentes (ligantes) do do cimento. 4 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 3 Descrever a importância do decreto-lei nº 441/91, como diploma enquadrador da SHST no normativo nacional. Explicitar as obrigações do empregador e do trabalhador. Realçar a importância dos Princípios Gerais de Prevenção, como os pilares de um sistema de SHST. A protecção colectiva é prioritária em relação à protecção individual. A. Verdadeiro B.Falso. Indicar as modalidades de organização dos serviços de SHST. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 5 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 4 ACTIVIDADE EM GRUPO Trabalho escrito, em que cada formando desempenha o papel de um trabalhador do Sector do Comércio, na área(s) de actividade do grupo e formandos. Dever-se-ão simular situações, com custos pessoais e materiais, decorrentes da não implementação da SHST. 6 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 5 Onde devem ser, sempre, colocados, pelo menos, os extintores? Em determinadas situações deverão ser colocados vários extintores. Dê exemplos de características do local de trabalho a ter em conta para a determinação do número de extintores a colocar. Refira quais as classes de fogo e quais os materiais que lhes dão origem. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 7 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 6 Qual é a sensibilidade, em ampères, que deve dispor um quadro eléctrico para evitar o risco de electrocussão? Qual o símbolo de protecção do risco eléctrico que afixado na placa de características de uma máquina eléctrica, a dispensa de possuir condutor “terra”? 8 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 7 Entre a iluminação natural e a iluminação artificial qual a que melhor se adapta à visão do ser humano? O que é necessário para que uma iluminação possa ser classificada de adequada? Quais são os equipamentos que medem a iluminância? EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 9 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 8 Existe regulamentação para os níveis de ruído elevado nos locais de trabalho? Qual a metodologia que deve seguir a protecção dos efeitos nocivos do ruído elevado, a que podem estar sujeitos os trabalhadores? Para 8 horas de trabalho diário, qual é o valor máximo de ruído a que pode estar sujeito um trabalhador sem ser obrigado a utilizar protecção auricular? Refira a partir de que nível sonoro contínuo há risco de surdez profissional: A. 80 dB B. 82 dB C. 85 dB D. 90 dB 10 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 9 Diga se as figuras seguintes apresentam posturas correctas ou incorrectas, na movimentação normal de cargas. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 11 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO 12 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO As figuras seguintes ilustram posturas e situações incorrectas para a movimentação manual de cargas. A. Verdadeiro; B.Falso. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 13 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO As fotografias mostram movimentações sem efeito de cargas com risco. Refira quais as principais lesões a que estas trabalhadoras estão sujeitas. 14 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 15 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 10 Qual é a altura a que deve estar colocado um ecrã de visualização? Qual a altura a que deve estar colocado um teclado? Quais devem ser as dimensões da cadeira de um trabalhador? 16 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 11 Treinar os formandos na adopção de posturas correctas. EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 17 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 12 Todos os tipos de empoeiramento são prejudiciais à saúde, embora nem todos apresentem a mesma gravidade. A partir de que dimensões, as poeiras apresentam risco de chegarem aos alvéolos pulmonares: A. Superiores a 0,5 µ; B. Inferiores a 0,5 µ; C. Inferiores a 1,5µ; D.Todas. Nota: µ ou mícron , que é a milionésima parte do milímetro. 18 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO EXERCÍCIO DE APLICAÇÃO Nº 13 • Motivar os formandos para a gestão correcta do Armazém, realçando a simplificação do trabalho que uma boa armazenagem determina. • Dar exemplos de situações de risco no armazenamento de produtos. A figura seguinte ilustra um equipamento de trabalho desadequado e uma postura arriscada: EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 19 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO FICHA TÉCNICA Título: Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho  Aut or ia: Margarida Espiga Edição: CECOA Coordenação: Cristina Dimas Design e Composição: Altura Data Publishing Produção apoiada pelo Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), cofinanciado pelo Estado Português e pela União Europeia, através do Fundo Social Europeu. Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social 20 União Europeia Fundo Social Europeu EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO TEXTO DE APOIO Nº 1 As condições inseguras relativas ao processo produtivo são designadas por riscos de operação. Estão nestes casos, os riscos associados à movimentação de cargas, ao trabalho em altura, etc. As condições inseguras relativas ao ambiente de trabalho são designadas, normalmente, por riscos ambientais. Estão nestes casos, as atmosferas ruidosas, com gases tóxicos, com poeiras nocivas, etc. O conjunto de métodos e técnicas utilizados para a prevenção e controlo dos riscos de operação é normalmente integrado na disciplina "Segurança do Trabalho". Resumidamente, e de um modo genérico, a Segurança do Trabalho dedica-se à prevenção de acidentes do trabalho. O conjunto de metodologias não médicas destinadas ao controlo dos agentes físicos, químicos e biológicos presentes nos componentes materiais do trabalho e susceptíveis de causar danos aos trabalhadores é, normalmente, integrado na disciplina "Higiene do Trabalho". Poder-se-á então dizer que: A HIGIENE DO TRABALHO integra um conjunto de metodologias não médicas necessárias à prevenção das doenças profissionais, tendo como principal campo de acção o controlo dos agentes físicos, químicos e biológicos presentes nos componentes materiais do trabalho. Esta abordagem assenta, fundamentalmente, em técnicas e medidas que incidem sobre o ambiente de trabalho. in Acordo de Concertação Estratégica (1996-1999) Segundo a  American Industrial Hygiene Association a Higiene do Trabalho é a "ciência e a arte dedicadas ao reconhecimento, avaliação e controlo dos factores ambientais gerados no (ou pelo) trabalho e que podem causar doença, alteração da saúde e bemestar ou desconforto significativo e ineficiência nos trabalhadores ou nos cidadãos da comunidade envolvente". Se tivermos presente a complexidade dos factores que podem influenciar o equilíbrio dinâmico, já referenciado, no que diz respeito ao ambiente de trabalho, fácil será concluir  2 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO que a Higiene do Trabalho faz apelo a um conjunto de ciências, como sejam a Epidemiologia, a Toxicologia, a Bioquímica, a Engenharia, etc. A Higiene do Trabalho requer daquelas ciências cooperação estreita, no sentido de identificar, avaliar e controlar  os riscos de ambiente de trabalho, tendo como objectivo principal aumentar o bem-estar  físico, psíquico e social e, simultaneamente, contribuir para a Produtividade e Qualidade do Trabalho. A Medicina tem no âmbito daquela multidisciplinaridade, uma acção biunívoca, no sentido em que, introduz no sistema, dados sobre o reflexo na saúde humana, dos ambientes de trabalho nocivos e recebe as consequências da possível inoperacionalidade da Higiene do Trabalho, na medida em que tenta tratar ou controlar as Doenças Profissionais. Segundo o Decreto-Regulamentar nº 12/80, entende-se por: DOENÇA PROFISSIONAL a doença provocada pelo trabalho ou estado patológico derivado da acção continuada de uma causa que tenha a sua origem no trabalho ou no meio laboral em que o trabalhador presta os seus serviços e que conste da Lista de Doenças Profissionais elaborada pela Comissão Nacional de Revisão da Lista de Doenças Profissionais. Este conceito foi completado no Decreto-Lei nº 248/99, em que são, ainda, consideradas: DOENÇAS PROFISSIONAIS as lesões, perturbações funcionais ou doenças não incluídas na referida lista desde que sejam consequência necessária e directa da actividade exercida pelos trabalhadores e não representem normal desgaste do organismo. TEXTOS DE APOIO 3 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO TEXTO DE APOIO Nº 2 RISCOS LIGADOS AOS PROTECTORES DE OUVIDO Desconforto e incómodo durante o trabalho Limitação da capacidade de comunicação acústica Acidentes e perigos para a saúde Alteração da função de protecção devida ao envelhecimento Insuficiente eficácia da protecção 4 Falta de conforto para o utente: - massa demasiado elevada; - pressão demasiada; - aumento da transpiração; - estabilidade insuficiente. Concepção ergonómica: - massa; - esforço e pressão de aplicação. - Deterioração da inteligibilidade da palavra, do reconhecimento, dos sinais, dos ruídos informativos ligados ao trabalho e da localização direccional. - Variação da atenuação com a frequência, baixa das qualidades acústicas; - Possibilidade de substituição de protectores auriculares por tampões; - Escolha após experiência auditiva. - Compatibilidade deficiente; Falta de higiene; Materiais inadequados; Arestas vivas; Preensão dos cabelos, do couro cabeludo; Contacto com corpos incandescentes; - Contacto com chamas. - Qualidade dos materiais; - Facilidade de manutenção; - Possibilidade de substituição dos protectores de ouvidos, aplicação de tampões não reutilizáveis; - Arestas e ângulos arredondados; - Eliminação dos elementos de pressão; - Resistência à combustão e à fusão. - Intempéries, condições ambientais, limpeza, utilização. - Ininflamabilidade, resistência às chamas; - Resistência do protector às agressões industriais; - Permanência da função de protecção durante todo o período de utilização. - Escolha incorrecta dos protectores de ouvidos. - Utilização incorrecta dos protectores de ouvido. - Esmagamento, desgaste ou deterioração dos protectores de ouvido. - Escolha dos protectores de ouvido, em função da natureza e da importância dos riscos e das imposições industriais: - Respeito das indicações do fabricante (manual de utilização); - Respeito da marcação dos protectores (por exemplo: classes de protecção, marca correspondente a uma utilização específica); - Escolha dos protectores em função de factores individuais ligados ao utente. - Utilização correcta dos protectores de ouvido, com pleno conhecimento dos riscos; - Respeito das indicações do fabricante. - Conservação em bom estado; - Controlos regulares; - Respeito das indicações do fabricante. TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO TEXTO DE APOIO Nº 3 1. P R IN CÍ PI OS E D O MÍ NI OS DA H I GI EN E DO T RABALHO 1.1. INTRODUÇÃO Ao longo da História, o Homem tem modificado o meio ambiente em que vive ao mesmo tempo que desenvolve mecanismos de adaptação, nem sempre ao ritmo das modificações introduzidas. Estas modificações são mais evidentes no desenvolvimento de actividades a que, normalmente, chamamos trabalho. O organismo humano representa um sistema aberto que troca matéria e energia com o meio ambiente através de numerosas reacções, em equilíbrio dinâmico. O desequilíbrio momentâneo ou prolongado, durante as actividades laborais, deste sistema provoca riscos profissionais que são inerentes ao ambiente e ao processo produtivo das diferentes actividades. 2. N O ÇÕ ES DE T OXICOLOGIA 2.1. INTRODUÇÃO Muito embora se conheçam os venenos e os seus efeitos desde a Antiguidade, só no início do século XX a Toxicologia se constituiu como ciência. O seu desenvolvimento processou-se a par e passo com a Química moderna e a Anatomopatologia (ramo da Medicina). O cruzamento dos saberes “Químico” e “Médico” faz todo o sentido se atentarmos nas definições de Toxicologia e tóxico. Toxicologia é a ciência que se ocupa dos tóxicos, das suas propriedades, do seu modo de acção, da sua pesquisa e dos processos que permitem combater a sua acção nociva. TEXTOS DE APOIO 5 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Diz-se que uma substância é um tóxico quando, após penetração no organismo em dose relativamente elevada, de uma só vez ou em várias vezes próximas umas das outras ou em pequenas doses repetidas durante muito tempo, provoca de um modo passageiro ou durável, perturbações de uma ou mais funções, que podem chegar à aniquilação completa e mesmo conduzir à morte. A noção de tóxico está normalmente associada a uma substância de origem sintética ou natural, orgânica ou inorgânica, simples ou mistura, que actuando sobre o Homem provocam danos graves na sua saúde. Hoje em dia a Toxicologia faz apelo a outros ramos da ciência, que vão desde a Microbiologia, à Higiene Industrial, à Biologia, à Bioquímica, etc. Este alargamento fica sobretudo, a dever-se, ao facto de, cada vez mais, se entender que a relação causa-efeito não é linear mas, pelo contrário, é influenciada por uma série de fenómenos que extravasam o conceito inicial simplista. 2.2. VIAS DE PENETRAÇÃO DOS TÓXICOS NO ORGANISMO A penetração dos tóxicos no organismo efectua-se, regra geral, por uma das seguintes vias:  • Via respiratória  • Via percutânea  • Via digestiva A absorção de tóxicos pelo organismo verifica-se, muitas vezes, não apenas através de uma destas vias, mas pode ocorrer, também, penetração por mais de uma via simultaneamente. VIA RESPIRATÓRIA: É a via mais comum da penetração dos tóxicos presentes nos locais de trabalho. Os efeitos nocivos fazem-se, muitas vezes, sentir ao nível das vias respiratórias. De outras vezes, os tóxicos, ao penetrarem por esta via, fazem repercutir os seus efeitos noutras regiões do organismo. 6 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Com as profundas modificações verificadas após a Revolução Industrial, foram inúmeras as partículas tóxicas presentes nos locais de trabalho. Pela primeira vez, os trabalhadores viram-se confrontados com tóxicos, não possuindo (pelo menos por enquanto) defesas que lhes permitam conviver com eles, sem preocupação para com os seus efeitos. Por  essa razão, se reveste da maior importância o estudo da toxicologia no âmbito da Higiene do Trabalho. O aparelho respiratório é uma porta de entrada no organismo para as partículas sólidas ou líquidas, em suspensão no ar. O mesmo se passa com os gases e vapores existentes no ambiente de trabalho. Os perigos de inalação são tanto maiores quanto mais elevada for  a temperatura. SÓLIDO LÍQUIDO GASOSO  • POEIRAS (ex.: sílica pura cristalina)  • AEROSSÓIS  • GASES  • FIBRAS (ex.: insecticidas) (ex.: cloro) (ex.: amianto)  • NEBLINAS  • VAPORES  • FUMOS (ex.: açúcares) (ex.: mercúrio) (ex.: chumbo) Poeiras: partículas esferoidais de pequeno tamanho, formadas pela desintegração mecânica de certos materiais. Fibras: partículas aciculares provenientes da desagregação mecânica e cujo comprimento excede em mais de 3 vezes o seu diâmetro. Fumos: partículas esféricas em suspensão no ar, procedentes de uma combustão incompleta ( smoke) ou resultante da sublimação de vapores, geralmente depois da volatização a altas temperaturas de metais fundidos ( fumes). Aerossóis: suspensão no ar de gotículas cujo tamanho não é visível à vista desarmada e provenientes da dispersão mecânica de líquidos. Neblinas: suspensão no ar de gotículas visíveis e produzidas por condensação de vapor. Gases: estado físico normal de certas substâncias, a 25º C e 760 mm Hg de pressão. Vapores: fase gasosa de substâncias que nas condições padrão (25 C e 760 mm Hg) se encontram no estado sólido ou líquido. TEXTOS DE APOIO 7 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO No que diz respeito às partículas, nem todas elas penetram no interior do aparelho respiratório ou, se o fazem, nem todas conseguem atingir os mesmos níveis. O aparelho respiratório tem defesas, fruto da adaptação ao longo da evolução humana, que o protegem de uma parte das partículas nocivas para a sua saúde. A eficácia das defesas naturais está directamente relacionada com a dimensão das partículas. Assim, as partículas de diâmetro entre os 10 µ e os 15 µ ficam retidas, mecanicamente, nas vias respiratórias superiores (fossas nasais), através dos cílios vibráteis e do muco nasal; regra geral, exercem um efeito local, que podendo ser nocivo, dificilmente será tóxico. As partículas de menores dimensões, abaixo dos 10 µ, também chamadas partículas respiráveis, penetram pelas ramificações mais finas da árvore brônquica e atingem os alvéolos pulmonares, ocasionando lesões locais muito graves e pondo mesmo em risco a vida. DIMENSÃO ( µm) LOCAL > 10 Nariz 4 - 10 Brônquios 2-4 Alvéolos pulmonares VIA PERCUTÂNEA (PELE E MUCOSAS): A pele tem, essencialmente, um papel de protecção contra os diferentes agentes agressivos (físicos, químicos e biológicos). No entanto, os poros, as glândulas sebáceas e as glândulas sudoríparas funcionam como portas de entrada naturais. Por sua vez, a sudação facilita a penetração dos tóxicos na pele. Também as alterações da pele (descamações, ferimentos, etc.) facilitam a entrada de tóxicos. Estas alterações, nomeadamente na pele das mãos de trabalhadores, são consequência não só da utilização de ferramentas ou equipamentos agressivos, mas também de substâncias tóxicas com as quais contactam. A absorção por feridas ou queimaduras profundas é particularmente rápida, por ausência da barreira dermeepiderme e por haver um aumento das trocas sanguíneas. 8 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Por outro lado, a afinidade de alguns destes agentes (lipossolúveis) para com os lípidos cutâneos (dissolvendo-se na gordura que normalmente lubrifica a pele) permite-lhes ultrapassar a barreira da pele e alcançar, ao nível da derme, a circulação geral. Estão neste caso os seguintes agentes tóxicos:  • nicotina, • derivados nitrados e aminados aromáticos, • solventes clorados, • tetraetilchumbo,  • ou mesmo de derivados puramente minerais, como por exemplo, os sais de tálio. O contacto de tóxicos com as mucosas, em virtude da sua grande vascularização, é ainda mais perigoso do que com a pele. As mucosas dos olhos reagem energicamente com certos tóxicos, assim como a mucosa faríngea, sobretudo se está inflamada. VIA DIGESTIVA: Não é uma via habitual nas intoxicações relacionadas com o trabalho. No entanto, pode acontecer nas seguintes situações:  • manipulação incorrecta de produtos tóxicos (contaminação das mãos, boca, olhos);  • ingestão de alimentos erradamente guardados em locais de trabalho contaminados;  • deficiente higiene corporal, nomeadamente das mãos, após trabalhos relacionados com produtos tóxicos;  • fumar ou guardar tabaco nos locais contaminados. A ingestão de substâncias tóxicas permite a passagem das mesmas para a corrente sanguínea (ao nível da boca, do estômago e do intestino); por outro lado a absorção dessas substâncias, com a passagem para a circulação sanguínea, pode provocar lesões graves em órgãos afastados (rins, fígado, etc.). O processo de absorção por via digestiva pode ser mais ou menos rápido e, em certos casos, diferentes acções podem intervir para diminuir a toxicidade duma substância; é o que acontece com a absorção de certos tóxicos juntamente com os alimentos, com a formação de compostos insolúveis, com o aparecimento de vómitos e/ou de diarreias ocasionados por irritação da mucosa digestiva. A intervenção do fígado, transformando uma parte das substâncias antes da passagem destas para a corrente sanguínea, pode fazer diminuir a toxicidade das mesmas. TEXTOS DE APOIO 9 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO OUTRAS VIAS: As vias hipodérmicas e intravenosas são raras nas intoxicações laborais, não sendo por  isso consideradas no âmbito deste Manual. 2.3. CONCENTRAÇÃO E DOSES LETAIS 2.3.1. C O NC EN TR AÇ ÃO DE UM T ÓXICO Reportando ao que os Gregos diziam na Antiga Grécia, "nada é veneno, tudo é venenoso", afirma-se, hoje em dia, que a toxicidade de uma substância ou produto no local de trabalho, depende de vários factores, nomeadamente:  • características da substância ou produto;  • trabalho executado;  • características do trabalhador exposto. Relativamente à substância ou produto tóxico podem-se enunciar as seguintes características: • composição química; • concentração. Dos factores atrás referidos, aquele que pode ser controlado, de forma segura e objectiva, é a concentração do tóxico. Existem valores - limite de concentração para os tóxicos nos locais de trabalho, denominados TLV's ( Threshold Limit Value ) - concentração média ponderada para um dia de 8 horas e para uma semana de 40 horas - aos quais a maioria dos trabalhadores pode ser repetidamente exposta, dia após dia, sem ficar sujeita a efeitos prejudiciais para a sua saúde. Autores portugueses denominam estes valores-limite de VLE-MP (valor-limite de exposição média ponderada). Além dos TLV's existem, também, os STEL's ( Short Term Exposure Limit ) que são limites de exposição para um curto intervalo de tempo, isto é, a concentração máxima a que os trabalhadores podem estar sujeitos continuadamente por um período até 15 minutos, 10 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO desde que não sejam permitidas mais de 4 exposições diárias, com pelo menos 60 minutos de intervalo entre os períodos de exposição, e desde que o TLV's respectivos não sejam excedidos. Algumas substâncias tóxicas têm uma acção de tal forma rápida sobre o organismo, que os limites de concentração não deverão nunca ser excedidos, mesmo instantaneamente. Nestes casos, esses limites denominam-se TLV's-Ceiling ou também designado VLE-CM (valor-limite expresso para uma concentração máxima). São, também, adoptados valores-limite de concentração, sendo a designação adoptada o NAC (Nível Admissível de Concentração). Para algumas das substâncias tóxicas que se podem encontrar nos locais de trabalho existe legislação portuguesa específica. Enunciam-se, seguidamente, esses diplomas legais: Diplomas legais Substâncias tóxicas DL nº 273/89, 21 de Agosto Cloreto de vinilo DL nº 274/89, de 21 de Agosto Chumbo e seus compostos DL nº 284/89, de 24 de Agosto Amianto (abesto) DL nº 162/90, de 22 de Maio Poeiras (pedreiras) Em relação às outras substâncias tóxicas a norma portuguesa NP1796, revista em 1988, fixa os valores-limite de exposição definidos como "a concentração de substâncias nocivas que representam condições às quais se julga que a quase totalidade dos trabalhadores possa estar exposta, dia após dia, sem efeitos prejudiciais para a saúde". O documento prevê, ainda, as seguintes situações:  • Efeitos aditivos de substâncias tóxicas com características semelhantes;  • Flutuações das concentrações ao longo do dia de trabalho; • Toxicidade percutânea. TEXTOS DE APOIO 11 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Esta norma adopta os conceitos e os limites publicados pela ACGIH no documento Threshold Limit Values for Chemical Substances and Physical Agents and Biological Exposure Indices . Quanto ao trabalho executado é importante salientar:  • tipo de trabalho: leve moderado pesado  • duração da exposição Os trabalhos pesados provocam um aumento do ritmo respiratório, consequentemente a quantidade de substância tóxica inalada aumenta, no mesmo período de tempo, podendo tornar-se perigosa, mesmo se a concentração no ar estiver longe das concentrações limites. Normalmente, os trabalhos pesados provocam também um aumento de sudação o que, caso o tóxico tenha afinidade com a pele, pode aumentar perigosamente a concentração dele no organismo, já que penetra por duas vias (respiratória e cutânea). Nas listas de limites de exposição é considerado o facto de certas substâncias poderem ser absorvidas por mais do que uma via de entrada no organismo. A duração (tempo) de exposição é um factor de grande importância para a generalidade dos tóxicos industriais como se pode deduzir dos critérios TLV. Este factor pode ser  controlado pela organização do trabalho, fazendo rodar pelo mesmo posto de trabalho vários trabalhadores ao longo da jornada. No que diz respeito às características do trabalhador exposto ao tóxico, salientamos aquelas que podem determinar, embora não de um modo absoluto, a toxicidade da substância: • Idade: à partida os indivíduos jovens, em virtude do seu peso ser menor e o seu metabolismo mais activo, tendem a ser menos sensíveis que os adultos.  • Sexo: influi muitas vezes sobre a receptividade dos tóxicos.  • Peso: a toxicidade de uma substância varia com o peso do indivíduo. 12 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO • Susceptibilidade individual: alguns organismos demonstram uma maior  susceptibilidade (intolerância congénita) a certas substâncias, reagindo anormalmente a diversos produtos. Apresentam, de certo modo, uma hipersensibilidade qualitativa.  • Estado fisiológico: • Digestão - o estado de digestão ou de jejum tem influência sobre a intensidade da acção dum tóxico administrado numa dose determinada. • Fadiga - faz aumentar, seguramente, a toxicidade de uma substância. Por  acção do trabalho, muscular ou intelectual, produzem-se alterações no metabolismo, no sistema nervoso, na frequência cardíaca e no ritmo respiratório. Assim se explica que um tóxico possa actuar diferentemente no estado de repouso ou no estado de fadiga. • Gravidez - a sensibilidade aos tóxicos aumenta, em geral, durante a gravidez. Por essa razão, em Higiene do Trabalho, se aconselha evitar que as mulheres grávidas sejam submetidas a exposições susceptíveis de exercer efeitos nocivos.  • Estado Patológico: • As doenças podem provocar lesões nos órgãos principais do organismo e essas alterações podem favorecer a acção de tóxicos, por estarem comprometidos os processos normais de desintoxicação. 2.3.2. D OSES L ETAIS A determinação de uma dose letal de um tóxico, para o ser humano, não pode ser objecto de experimentação. Os resultados obtidos na experimentação animal dificilmente podem ser extrapolados para o Homem, já que a sensibilidade das diversas espécies aos tóxicos, pode variar entre limites relativamente afastados. Na imensa maioria dos casos, os valores indicados para o homem como doses tóxicas ou mortais não são mais do que números aproximados. Os valores existentes de doses mortais para o Homem foram obtidos pela observação das intoxicações humanas, mas só TEXTOS DE APOIO 13 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO serão exactos se não tiver havido vómitos, o que raramente acontece. Muito empiricamente, admite-se que o homem pode, em geral, suportar a mesma quantidade de veneno que um cão de 20kg. Pelo que foi dito no ponto 2.3.1. compreende-se que quando se fala em doses mortais para o homem, não se podem referir valores absolutos, já que as respostas à exposição da mesma dose de um tóxico não são a mesma para todos os casos, variando essas respostas dentro de limites, muitas vezes, consideráveis. Dá-se o nome de dose letal de um tóxico (ou dose seguramente mortal) à dose que produz 100% de casos mortais nos indivíduos a ele expostos, representada por DL 100 . No caso de haverem percentagens inferiores, nomeadamente 50% de casos mortais num conjunto de indivíduos expostos a um mesmo tóxico, dá-se o nome de dose letal 50 e representa-se por DL 50 . 2.4. TOXICIDADE AGUDA E CRÓNICA 2.4.1. T OXICIDADE A GUDA Para além das características intrínsecas do indivíduo, a toxicidade de uma substância pode variar, dentro de amplos limites, consoante: • Via de penetração: para determinar a toxicidade é sempre importante conhecer a via de absorção do tóxico, já que a toxicidade aumenta se forem vencidas as barreiras naturais de protecção e o tóxico entrar directamente na circulação sanguínea. • Natureza do veículo: a associação dos tóxicos com excipientes que favoreçam, nomeadamente, a absorção faz aumentar a toxicidade. • Concentração: a influência da concentração sobre a toxicidade é determinante pois a absorção é mais rápida quanto maior for a concentração. • Velocidade de administração: aumentando a velocidade de administração, provocase uma sobrecarga do tóxico no organismo, que pode até ser fatal.  • Condições exteriores: refira-se, como exemplo, o caso do aumento da temperatura ambiente que desencadeia uma maior actividade de certos tóxicos (aumento da toxicidade). 14 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO  • Substâncias associadas: sobre este tema falaremos no ponto 3. • Administração anterior: sobre este tema falaremos no ponto 2.4.2. A exposição a agentes tóxicos no ambiente de trabalho pode ser pontual ou contínua. Normalmente, numa exposição pontual a baixas quantidades de um tóxico de fraca toxicidade, não se verificarão efeitos prejudiciais no organismo do trabalhador. São, portanto, negligenciáveis as suas consequências. No caso de a dose ser relativamente alta, os efeitos nocivos manifestar-se-ão rapidamente. Entre esses efeitos, o mais grave é, naturalmente, a morte, e é por essa razão que se exprime, como vimos, a toxicidade de uma substância pela dose susceptível de provocar a morte. Diz-se que há: Intoxicação aguda quando se verificam efeitos tóxicos no organismo resultantes da absorção de doses relativamente grandes, em curto espaço de tempo. 2.4.2. T OXICIDADE C RÓNICA Se a exposição, ao mesmo agente tóxico, for contínua ao longo de dias de trabalho, torna-se necessário o seu estudo para se evitarem efeitos nocivos na saúde dos trabalhadores expostos. Os efeitos tóxicos provêm, muitas vezes, de doses bastante pequenas, demasiado fracas para provocar efeitos de toxicidade aguda, mas cuja repetição pode acabar por originar  intoxicações muito mais insidiosas, pois aparecem, em geral, sem dar qualquer sinal de alarme. Intoxicação crónica é resultado de uma exposição repetida ao longo de bastante tempo, a baixos níveis de tóxicos, e que embora sem sintomatologia clínica imediata, pode conduzir a alterações irreversíveis do estado de saúde. TEXTOS DE APOIO 15 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Existem tóxicos que preenchem as condições acima descritas, a que se dá o nome de tóxicos cumulativos, por ficarem retidos no organismo em virtude de afinidades de natureza física (solubilidade nos lípidos muito maior do que nos líquidos aquosos, adsorção, etc.) ou química (fixação sobre um ou outro constituinte celular) ou, ainda, em consequência da sua acção nociva sobre o filtro renal, o que dificulta a sua eliminação (metais pesados). A absorção destas pequenas doses que, a serem eliminadas normalmente, não teriam consequências de maior, provoca, ao fim de algum tempo, perturbações de sintomatologia muito variada sobre:  • crescimento;  • comportamento geral;  • composição química dos líquidos orgânicos (sangue, linfa, etc);  • estrutura das células e tecidos do organismo; • funções dos órgãos (rim, fígado, centros nervosos, medula óssea, glândulas endócrinas, etc);  • aptidão para a reprodução;  • a duração da vida. De um modo geral, dá-se a este tipo de efeitos nocivos sobre o organismo, o nome de intoxicações crónicas. Mais correctamente deveriam ser chamadas de intoxicações a longo prazo, já que poderão existir intoxicações irreversíveis, e portanto, crónicas como consequência dos efeitos de uma toxicidade aguda. Das substâncias de toxicidade a longo prazo (ou crónica), salientamos as cancerígenas pois ocupam um lugar à parte entre os agentes deste tipo de toxicidade. No seu caso, não se podem fixar doses limites, dado que, pelo facto do efeito persistir após a eliminação do produto, qualquer dose, mínima que seja, será perigosa se for repetida. Devemos, ainda, ter em conta os tóxicos que provocam efeitos cumulativos através de várias gerações. 16 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Estas noções são de enorme importância, em virtude do grande número de agentes tóxicos aos quais o homem está exposto no ambiente de trabalho. 2.5. EFEITO DOSE-RESPOSTA Para se actuar no campo da prevenção das intoxicações no ambiente de trabalho é fundamental trabalhar as seguintes variáveis:  • tempo de exposição  • concentração do tóxico Sabe-se, e a Higiene do Trabalho fundamenta, que há uma relação marcada entre o tempo de exposição e a concentração do tóxico. Ao resultado desta relação dá-se o nome de DOSE A dose absorvida pelo organismo provoca da parte deste uma resposta biológica. DOSE RESPOSTA Para que se possa considerar admissível, no local de trabalho, uma determinada Dose é necessário que ela provoque no organismo uma resposta nula, isto é, que a dose de tóxico absorvida não tenha excedido a capacidade do organismo metabolizar (bio-transformar a substância num dos metabolicos do organismo) e eliminar o referido tóxico. DOSE ADMISSÍVEL RESPOSTA NULA Embora exista sempre uma reacção biológica ou química do organismo quando em contacto com substâncias estranhas, desde que estas reacções sejam apenas desvios ligeiros, sem prejuízos fisiológicos do estado normal do organismo, pode-se falar em resposta nula. 2.6. EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS TÓXICOS Existem tóxicos que provocam em todos os seres humanos os mesmos efeitos, as mesmas respostas. No entanto, existem outros que não desencadeiam uma sintomatologia característica, sendo a sua acção mais complexa e aparentemente não específica. TEXTOS DE APOIO 17 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Esta inconstância dos tóxicos não está em contradição com a noção de especificidade do modo de actuação dos tóxicos. A par de uma acção principal, as acções secundárias podem variar segundo os indivíduos. Os sintomas que, por acção dos tóxicos, frequentemente se manifestam (diarreia, vómitos, etc) não traduzem os principais efeitos nocivos, mas sim epifenómenos relacionados com o próprio indivíduo. Apenas acções que causam os traumatismos apresentam alguma especificidade e devem merecer a tenção. Convém sublinhar que, a partir da sua entrada no sangue, qualquer que seja a via por  onde tenha entrado, o tóxico é transportado em cerca de 23 segundos através de todo o organismo. Em função da natureza físico-química do tóxico e dos órgãos, e das condições de acessibilidade, o tóxico elegerá um ou mais órgãos e aí se fixará. A partir daí, estenderá a sua acção sobre as células e tecidos, interferindo nocivamente no metabolismo dos mesmos. 2.6.1. E F EI TOS S OB RE O S ANGUE O sangue é constituído por vários elementos, nomeadamente:  • plasma  • eritrócitos ou glóbulos vermelhos  • leucócitos ou glóbulos brancos • trombócitos ou plaquetas Os principais efeitos nocivos, no sangue, desencadeados pelos tóxicos são referidos seguidamente: Plasma: • alterações na coagulação, que tanto podem ser de retardamento ou inibição (caso do benzeno, fluoretos, ácido oxálico, etc) como de aceleração; Eritrócitos ou glóbulos vermelhos: • aumento do seu número, por acção de gases agressivos (nomeadamente cloro, fosgénio, cloropicrina, etc); 18 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO • destruição dos eritrócitos que se observa no saturnismo, na doença dos Raios X, no benzenismo, no fosforismo ou nas intoxicações pelos derivados aminados aromáticos; • anomalias morfológicas, observadas no saturnismo, no arsenicismo e intoxicação pelo quinino. Leucócitos ou glóbulos brancos: •Diminuição do número de leucócitos no benzenismo, Raios X, sulfamidas, etc;  •Aumento de leucócitos, na primeira fase da intoxicação do benzeno. Trombócitos ou plaquetas:  • Diminuição (na ordem das dezenas de milhar) do número de plaquetas, nos casos de benzenismo. 2.6.2. E FE ITO S S OB RE A M EDULA Ó SSEA As acções dos tóxicos na medula óssea provocam uma destruição do tecido medular. Como agentes principais dessas acções referimos os radioelementos, os Raios X e o benzeno. 2.6.3. E F EI TOS S OB RE O A PARELHO D IGESTIVO Os vómitos e as diarreias que se observam em diversas intoxicações são, muitas vezes, reacções de defesa do organismo. Todavia, um tóxico pode actuar directamente sobre a mucosa intestinal, provocando uma irritação da mesma, com episódios de diarreia. Os tóxicos corrosivos, ácidos e bases produzem lesões do tubo digestivo, com sintomatologia mais ou menos dramática, segundo a sua concentração. As intoxicações profissionais por acção do chumbo e pelo mercúrio provocam alterações (dolorosas) na digestão dos alimentos e modificações da mucosa bocal. 2.6.4. E F EI TO S S OB RE O F ÍGADO Existe um grande número de tóxicos hepáticos, o que não surpreende, já que o fígado é TEXTOS DE APOIO 19 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO uma massa visceral de 1,5 a 2 kg e se encontra na encruzilhada das vias digestivas aferentes. Recebe as substâncias tóxicas que acompanham os produtos resultantes do metabolismo alimentar. Recebe, ainda, o sangue da circulação geral, e, também, os tóxicos que eventualmente nele circulem. Por isso, se pode dizer que não há intoxicação que não provoque lesão hepática, nomeadamente:  • intoxicação pelo fósforo;  • anestésicos gasosos;  • solventes clorados;  • corantes azóicos. 2.6.5. E F EI TO S S OB RE O C ORAÇÃO Os tóxicos cardíacos que provocam paragem cardíaca, de altíssima gravidade, não aparecem com frequência no ambiente de trabalho; os que constituem objecto de estudo da Higiene de Trabalho, pelo risco que representam para o homem, actuam, essencialmente, sobre o ritmo cardíaco. Está neste caso o chumbo que, em doses de intoxicação crónica, provoca uma diminuição prolongada do ritmo cardíaco. 2.6.6. E F EI TO S S OB RE O R IM O rim é o outro filtro do organismo humano, passando por ele a grande maioria de tóxicos e estando, por isso, sujeito a vários tipos de lesões. As lesões renais provocadas por intoxicações profissionais têm como agentes principais:  • metais pesados (chumbo, urânio, cádmio, etc);  • solventes clorados, nomeadamente o tetracloreto de carbono, presente com tanta frequência nos locais de trabalho;  • derivados nitratos e aminados aromáticos;  • cloratos;  • etc. 20 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO 2.6.7. E F EI TOS S OB RE A P ELE A pele está muito exposta aos agentes tóxicos presentes nos locais de trabalho. Por essa razão é de toda a conveniência usar vestuário adequado, que proteja das agressões desses agentes. Passamos a enumerar os principais agentes tóxicos:  • ácidos e bases fortes: provocam queimaduras;  • produtos da destilação da hulha: verificam-se alterações dos tegumentos;  • óleos médios: manifestam-se toxidermias, acne, foliculite;  • óleos pesados: têm uma acção mais lenta, traduzindo-se por proliferações epiteliais benignas, podendo evoluir para malignas; • solventes clorados e derivados aminados aromáticos: a sua acção irritante pode transformar-se em dermatites;  • iodetos e brometos: aparecimento de dermatoses;  • vapores de chumbo: lesões das unhas. 2.6.8. E F EI TO S S OB RE O S ISTEMA N ERVOSO Muitas das substâncias tóxicas presentes nos locais de trabalho provocam perturbações ou lesões, mais ou menos, importantes do sistema nervoso. Consoante os tóxicos em presença, as suas acções atingem diferentes funções do sistema nervoso e, por tal razão, os seus efeitos manifestam-se diversamente. Apresentamos, como exemplo, os seguintes: • Álcool: descoordenação dos movimentos e perturbação do equilíbrio;  • Dióxido de carbono: tetanização dos músculos respiratórios;  • Anestésicos: paragem respiratória. TEXTOS DE APOIO 21 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO 2.6.9. E F EI TO S S OB RE O A PARELHO R ESPIRATÓRIO É a principal via de acesso dos tóxicos gasosos ou voláteis. Podem-se verificar lesões locais ou actuar ao nível do mecanismo da respiração. ACÇÃO LOCAL: • espirros, tosse, corrimento nasal, exagerada produção de saliva;  • irritação do epitélio pulmonar: edema; queimaduras. ACÇÃO AO NÍVEL DO MECANISMO DA RESPIRAÇÃO: Mesmo que um tóxico esteja altamente diluído no ar inspirado penetrará nos alvéolos pulmonares e poderá fixar-se ou ser absorvido pelo sangue. Os fenómenos verificados pela acção tóxica ao nível da respiração são:  • Sufocação, devida a um processo irritativo actuando diferentemente sobre as vias aéreas superficiais e profundas; sob a influência do tóxico, as primeiras sofrem uma acção inibidora que se traduz por uma diminuição ou mesmo paragem da respiração. Em contrapartida, a irritação das vias profundas determina uma aceleração considerável dos movimentos respiratórios. O organismo fica submetido a duas acções inversas: a necessidade de respirar e a de não respirar. A reacção torna-se desordenada e angustiante.  • Asfixia, é o resultado da privação do oxigénio, e conduz à morte em pouco tempo (3 minutos são o limite máximo sem respirar, de forma a não se produzirem lesões graves). O ritmo respiratório é mantido pela excitação coordenada e rítmica dos músculos respiratórios, permitida pela enervação proveniente do centro respiratório bulbar. Se este centro sofrer uma intoxicação e a sua acção normal for inibida ocorrerá uma paragem respiratória. 22 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO 3. EFEITOS RESULTANTES DE E XPOSIÇÕES COMBINADAS A VÁRIOS FACTORES DE RISCO 3.1. INTRODUÇÃO A acção de um tóxico pode ser modificada por combinação de uma ou mais substâncias tóxicas. As diferentes acções tóxicas podem potenciar-se, ou mesmo adicionar-se por: • Aumento da velocidade de reabsorção;  • Melhoramento da permeabilidade dos tecidos receptores;  • Modificação da receptividade das células sensíveis;  • Etc. Mas certas acções tóxicas podem alterar-se por antagonismo: • Quando há uma diminuição dos efeitos da toxicidade. Duas substâncias dizem-se antagónicas quando uma diminui ou mesmo suprime os efeitos da outra. Os antagonismos dos tóxicos estão na base do tratamento das intoxicações. Controlo dos efeitos nocivos da exposição combinada: Os valores relativos aos níveis admissíveis de concentração (NAC) para as substâncias combinadas devem ser usados como indicadores para o controlo de riscos para a saúde, mas não devem ser utilizados como linhas que dividem as concentrações seguras e as perigosas. 3.2. E XPOSIÇÃO SIMULTÂNEA Quando duas ou mais substâncias tóxicas actuam ao mesmo tempo e ao mesmo nível do organismo, deve ser considerado o seu efeito combinado e não o efeito isolado de cada uma delas. No entanto, como a exposição é simultânea, terá de ser avaliado o efeito simultâneo desses compostos: TEXTOS DE APOIO 23 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO 3.3. EXPOSIÇÃO SEQUENCIAL Na exposição sequencial a diferentes tóxicos é frequente observar fenómenos de super  intoxicação. É o que acontece aquando da inalação (ou da ingestão, embora esta situação não seja consequência da actividade laboral) de álcool em seguida à acção tóxica de certas substâncias. Podem, também, existir flutuações das concentrações de tóxico, ao longo do dia de trabalho. Mesmo que as concentrações ultrapassem os valores-limite de tóxico, não haverá risco para o trabalhador, desde que essas exposições sejam devidamente compensadas por  períodos de menor exposição. No entanto, os valores totais atingidos não deverão ultrapassar determinado valor, sob pena de surgirem efeitos nocivos para a saúde do trabalhador. 24 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO TEXTO DE APOIO Nº 4 As máquinas modernas obedecem a legislação e normas que eliminam a maioria dos riscos que lhes são inerentes. No entanto, subsistem os riscos intrínsecos a certas operações e, ainda, os que advêm de uma incorrecta montagem, utilização e conservação. Assim:  •Antes de utilizar uma máquina, ler atentamente o respectivo Manual de Instru ções;  •Instalar a máquina de acordo com as especificações do fabricante;  •Reservar, à volta da máquina, uma área sufi ciente para as actividades pr evistas ;  •Colocar a máquina, tendo em conta a posição mais cómoda para a sua utilização e de modo a que o acesso aos comandos e, sobretudo, ao botão d e paragem de emergência, se existirem, se faça facilmente e sem obstáculos;   •Ter em conta o ciclo de produção evitando deste modo gestos e actividades desnecessários  junto à máquina;   •Avaliar se a instalação de um novo posto de trabalho pode interferir  com os postos de trabalho vizinhos e vice-versa; •Verificar se a fonte de energia prevista para a máquina (electricidade, ar  comprimido, gás, etc) cumpre os requisitos impostos pelo equipamento e se a ligação a ele é fiável; •No caso de máquinas portáteis, ou das que necessitam de apoio (bancada de trabalho, etc) assegurar que este é suficientemente estável e resist ente;  •Ter em conta o impacto que a máquina pode gerar no ambiente de trabalho ( ruído, libertação de gases, empoeiramento, etc ) e adoptar as medidas necessárias para o seu controlo ( isolar, encapsular, montar amortecedores, sistemas de aspiração, etc );  •Utilizar apenas as máquinas para os fins a que se destinam e dentro dos limites de produção estabelecidos; TEXTOS DE APOIO 25 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO  •Não anular , ou de algum modo pôr fora de serviço, os si stemas de encravamento ou pr otecção;  •Nas máquinas dotadas de sist emas de prot ecção ajust áveis (por exemplo, serras de fita, guilhotinas, etc), procurar mantê-los, tanto quanto possível, no seu máximo grau de eficácia;   •Interditar a utilização de máquinas a operadores que manifestem alterações do estado de consciência;  •Antes de efectuar qualquer operação de reparação ou limpeza, desligar a fonte de energia, assegurando que ninguém possa inadvertidamente repô-la;   •Nas operações de limpeza e manutenção, utilizar produtos e peças previstos pelo fabricante. Só utilizar solventes inflamáveis ou água quando expressamente previstos no respectivo livro de instruções;  •Antes de recolocar a máquina em funcionamento, repor todas as protecções que eventualmente tenham sido retiradas;  •Cumprir os programas de manutenção preventiva do equipamento;  •Rever periodic amente o estado de cons ervação da máquina , nomeadamente no que diz respeito a folgas, perdas de isolamento, vibrações anormais, etc e assegurar a reparação dos eventuais defeitos; •Manter perceptíveis toda a sinalização e avisos próprios do equipamento e assegurar que eles são compreendidos por todos os utilizadores. 26 TEXTOS DE APOIO SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO PROTECÇÃO COLECTIVA DAS MÃOS Correcta utilização da protecção: Protecção da serra de corte Incorrecta utilização da protecção: Protecção da serra não ajustada TEXTOS DE APOIO 27 SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO Protecção individual (luvas de malha de aço): 28 TEXTOS DE APOIO