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Novas Tecnologias No Cotidiano Da Escola

Neste breve curso abordaremos três temas relacionados com as Novas Tecnologias da Informação na escola, particularmente a Informática na Educação. Na primeira parte faremos uma introdução à teoria que embasa nossa posição, tomando como ponto de

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  NOVAS TECNOLOGIAS NO COTIDIANO DA ESCOLA Paulo G. Cysneiros 1  Neste breve curso abordaremos três temas relacionados comas Novas Tecnologias da Informação na escola, articularmente aInform!tica na "ducação. Na rimeira arte faremos umaintrodução # teoria $ue embasa nossa osição, tomando como onto de artida alguns elementos da %ilosofia e da Psicologia. Nasegunda, focaremos o outro lado da teoria, a integração dastecnologias no ambiente escolar. Na &ltima arte retomaremos osdois temas anteriores, tendo como fio condutor a caacitação de rofessores. 1. Novas Tecnologias da Informação na ers!ec"iva do Ed#cador 1.1 'ma Conceção %ilos(fica das Tecnologias da Inform!ticaInform!tica na "ducação ) *o+e uma das !reas mais fortes da Tecnologia"ducacional e uma refleão sobre os significados do termo -tecnologia ) um bom começo ara uma ersectiva amla sobre as ossibilidades e limites das novas tecnologias dainformação /TI0 no cotidiano da escola.as a visão de ersectiva eige um distanciamento ade$uado2 ara nosso ob+etivo,não ) a$uele da e$uena +anela de um avião em lena altitude, $uando não se conseguevislumbrar detal*es da aisagem abaio. Tamb)m ) inade$uado um onto de observaçãomuito r(imo do ob+eto, ois não nos ser! oss3vel erceber o todo.'m enfo$ue e$uilibrado não ) f!cil, or$ue nosso ob+eto est! em desenvolvimento,semre surgindo novas m!$uinas, novos soft4are, novas ol3ticas &blicas. Isto eige umaatitude de certo modo navegacional, como a do comandante de uma embarcação em altomar2 ) necess!rio locali5ar a si r(rio e encontrar um camin*o en$uanto navega.6dotaremos um enfo$ue fenomenol(gico, tentando abordar nosso ob+eto, aTecnologia "ducacional, sob a (tica de uma das correntes contemor7neas da %ilosofia daTecnologia /I*de,1889:188;0. 1   Professor do Centro de "ducação da 'niversidade %ederal de Pernambuco. Teto de aoio ara o curso oferecido na <; a  =eunião 6nual da 6NP"> /6ssociação  Nacional de P(s?Graduação em "ducação0, Caambu, G, @rasil, <A a <B de etembro de <999. >ison3vel em *tt2DD444.aned.org.br. "?mail gcysneirosEgmail.com  1.1.< 'ma Caracteri5ação de Tecnologia.egundo I*de /188;, ca.<0, três asectos são essenciais ara a caracteri5ação do $ue )tecnologia2 Primeiro, uma tecnologia deve ter um comonente tang3vel, al!vel, um elementomaterial  . egundo, o elemento material, condição de base, deve fa5er arte de algum conjunto de ações humanas culturalmente determinadas. Terceiro, deve *aver uma relação entre o ob+etos material e as essoas $ue os usam, ideali5am ou concebem /design0,constr(em, modificam.6 rimeira condição ) insuficiente ara caracteri5ar de modo definido umatecnologia, ois o usu!rio, diferentemente do ideali5ador ou criador do ob+eto, ode ercebê?lo e us!?lo de modo totalmente diferente do ro(sito srcinal. F artefato em si,fora de um conteto, ode ser amb3guo, -tornando?se algo diferente da finalidade ara a$ual ten*a sido desen*ado e constru3do, deendendo assim de $uem o areende e de comose+a usado. Como eemlo, comutadores foram concebidos ara reali5ar c!lculosmatem!ticos, tornando?se, noutros contetos, ob+etos bem diferentes do ro(sito inicial.6ssim, ara uma criança um comutador ode ser aenas mais um brin$uedo.%ala?se muito das fant!sticas ossibilidades das novas tecnologias, es$uecendo?sedas enormes dificuldades de atuali5ação ou materiali5ação de tal otencial em nossasescolas, odendo dar ao leitor a imressão $ue tal reocuação ) algo secund!rio. 'matecnologia em otencial /um comutador sem soft4are, ou um soft4are $ue o usu!rio nãoten*a a *abilidade ou condiçes reais ara us!?lo0, a rigor ) um ob+eto diferente ara essoas com *abilidades, condiçes ou con*ecimentos diferentes."aminemos, mais detidamente, o terceiro asecto da caracteri5ação acima, arelação Ser Humano Tecnologia Ambiente . Como o con*ecimento ) modificado atrav)sdas tecnologiasH 6 artir do asecto ercetual, o $ue ocorre com o con*ecimento de$ual$uer coisa, ad$uirido através  de um determinado artefato, se+a no cotidiano, na escola,noutros lugaresH Considero essa $uestão fundamental ara o educador, $uando ele tem aoção de escol*er mais de uma tecnologia ara sua atividade educativa. Num n3vel b!sico de an!lise, $uando usamos um instrumento /uma tecnologia0,ocorre uma  seleção  de artes do ob+eto con*ecido atrav)s dele, resultando em ampliação de alguns asectos e redução  de outros. 6 amlificação ) o asecto saliente e odeimressionar o indiv3duo, ao eerimentar algo $ue não fa5ia arte da sua eeriênciaanterior. uem vê o ob+eto -c)u ela rimeira ve5 atrav)s de um otente telesc(io,normalmente fica maravil*ado, selecionando, amliando um min&sculo onto do c)u edeiando de lado, redu5indo a eeriência ercetual do restante da ab(bada celeste e deoutros ob+etos do mundo. 6ssim, em mais de um sentido, $uem assa a maior arte da vidaol*ando ara o c)u, vive -no mundo da lua, ois outros asectos deste mundo tenderão aser ignorados, descon*ecidos.emre $ue se amlia algum asecto de alguma coisa, como uma arte de umafoto, forçosamente outros asectos são redu5idos, $ue assim ficam fora do camo ercetual ou da consciência de $uem este+a com a atenção voltada ara o asectoamliado. Fs elementos minimi5ados, ou ignorados, são a face escondida das amliaçes etendem a assar desercebidos.F usu!rio de uma tecnologia ode considerar as caracter3sticas amliadas do ob+etocomo mais reais do $ue a$uelas con*ecidas sem a mediação de instrumentos. Pode assimconfundir as dimenses de continuidade  /em essência o mesmo ob+eto0 e diferença /con*ecido arcialmente de outro modo0 entre a erceção ordin!ria e a$uela mediada. Neste sentido, centrar a arendi5agem nos asectos aenas ossibilitados elas novastecnologias da informação ode ser alienante, como nos relatos dos viciados emcomutadores. >e modo oosto, aenas con*ecer certos ob+etos do mundo sem a mediação <  das tecnologias disseminadas na sociedade, tamb)m ode resultar em outro tio dealienação.6 relação essoal rolongada com tecnologias imlica na corporalização  deob+etos materiais, ocorrendo assimilaçes, acomodaçes adataçes f3sicas e sicol(gicas,$ue deendem do modo /fre$Jência, temo, etc0 como -eu?como?coro intera+o com oambiente atrav)s deles. 'm eemlo simles ) a cororali5ação de ob+etos do cotidianocomo (culos, rouas, an)is, saatos, autom(veis. 6 relação *umana com ob+etos materiais tem tamb)m comonentes emocionais deaceitação e ra5er, re+eição ou indiferença. uando a tecnologia ) cororali5ada sem roblemas, sua utili5ação ode tornar?se ra5erosa, tanto ela atividade f3sica amliada,como elo sentimento de cometência, de dom3nio, de con*ecimento das suas ossibilidades e limites. Tais sentimentos odem ter uma longa *ist(ria, srcinando?se nainf7ncia, $uando a criança domina um novo brin$uedo: ou $uando se atinge determinadasdestre5as e desemen*os musculares, com ou sem tecnologias /sentimento de força essoal, de dom3nio do r(rio coro0.1.< Tecnologia na "ducaçãoTratamos, at) agora, de tecnologia em geral. as tecnologia ) algo muito amlo.6d+etivando a caracteri5ação feita antes, uma tecnologia educacional   deve envolver algumtio de ob+eto material, $ue faça arte de alguma  praxis  educativa, ortanto relativa a rocessos de ensino e de arendi5agem, *avendo algum tio de relação entre o educador /em sentido amlo ou restrito0 e a tecnologia, ou entre o arendi5 e a tecnologia.'ma técnica  refere?se rimariamente a um modo de ação, envolvendo, ou não,alguma tecnologia. Posso usar uma t)cnica de eosição oral, sem usar $ual$uer elementomaterial, nem mesmo um $uadro de gi5 ou incel. as osso usar uma tecnologia araaerfeiçoar a t)cnica de eosição oral em sala de aula, gravando min*a vo5 ou filmandomeu desemen*o na aula, ara an!lises osteriores. >e modo deliberado ou não,desenvolvemos t)cnicas associadas #s tecnologias $ue utili5amos, or)m não ) &tilconfundir uma coisa com a outra. =etomando o eemlo acima, o $uadro de gi5 fa5 arte das açes *umanas deensinar ou arender, no conteto do mesmo rocesso K a aula K $ue difere de acordo comos ob+etivos, m)todo de ensino, a cultura, a situação vivida /eosição inicial, revisão,avaliação, etc0. 6 tecnologia do $uadro e gi5 ode ser usada ara mostrar um es$uema deaula, coiar um trec*o de um livro, demonstrar uma e$uação, atribuir tarefas, resumir  ontos de uma eosição oral, etc. Por fim, embora o $uadro de gi5 se+a mais utili5ado elo rofessor, eventualmente tal tecnologia ode ser usada or um ou mais alunos, noconteto de uma aula ou de uma atividade de estudo em gruo. F $uadro de gi5 tamb)m ode não ser uma tecnologia educacional, $uando usada, or eemlo, em um +ogo desinuca.F comutador ode ser v!rias tecnologias educacionais, mas tamb)m umatecnologia não educacional. L uma tecnologia educacional $uando for arte de um conjunto de ações  /r!is0 na escola, no lar ou noutro local com o ob+etivo de ensinar ouarender /digitar um teto de aula, usar um soft4are educacional ou acessar um  site  naInternet0, envolvendo uma relação  com algu)m $ue ensina ou com um arendi5. No entanto, o comutador não ) uma tecnologia educacional $uando emregado ara atividades sem $ual$uer relação com ensino ou arendi5agem, como o controle deesto$ue em uma emresa. >o mesmo modo, uma m!$uina coiadora ode ser ou não umatecnologia educacional. =eafirmando, aenas o ob+eto material em si não ) suficiente aracaracteri5ar a esecificidade da tecnologia. ;  "sta conceção tem v!rias imlicaçes ara educadores. Poderemos alic!?la aoensino de $ual$uer ferramenta de soft4are ara usos educacionais. 'ma coisa ) ensinar omane+o comutadores a $ual$uer essoa: outra, ) ensinar a usar a ferramenta em contetoseducacionais, or um rofessor ou um arendi5, com ob+etivos el3citos de ensinar ou dearender algo em ambientes escolares. 'm mesmo soft4are, or mais simles $ue se+a, ode ser usado de in&meros modos, com as t)cnicas de ensino as mais diversas.Futra decorrência da adoção da caracteri5ação acima, ) $ue o uso de umatecnologia imlica na a$uisição de *abilidades f3sicas de mane+o de ob+etos materiais, or menores $ue se+am: no caso de tecnologias educacionais, sue o desenvolvimento de*abilidades de escrita no $uadro de gi5, de mane+o de um mouse ou de um teclado decomutador. %inalmente, muitos autores tem abordado aenas o asecto -amlificador dasnovas tecnologias. Por eemlo, Pierre M)vy comenta $ue-... o ciberesaço suorta tecnologias intelectuais $ue amplificam  /grifo meu0,eteriori5am e modificam numerosas funçes cognitivas *umanas2 mem(ria, erceção /sensores digitais, teleresença, realidades virtuais0... /1888, .1O0. 6utores como M)vy transmitem atitudes de encantamento com as mesmas,deiando de lado ou minimi5ando $uestes relativas a reduçes do con*ecimento, no caso,ciberesacial. "sta osição tem um lado bom, motivando a eloração do novo. as sem acontraface da cr3tica, tamb)m condu5 a elevadas eectativas nas novas tecnologias, algo$ue a ist(ria tem mostrado ser irreal, odendo ter at) efeitos oostos ao eserado.1.; =eresentaçes &ltilas de um Fb+eto de Con*ecimento. 'm conceito $ue tem sido usado or es$uisadores das !reas de ensino earendi5agem e suas relaçes com inteligência artificial, &til ara nossa conceção deTecnologia "ducacional, ) o de  epresentações !"ltiplas  /van omeren et al., 188B0. 6an!lise fenomenol(gica acima nos a+uda a comreender mel*or as imlicaçes de talconceito ara educação, envolvendo ou não tecnologias. "le tamb)m est! na base daarendi5agem colaborativa, da edagogia de ro+etos, odendo enri$uecer a conceçãos(cio?construtivista em educação.uondo $ue nen*um con*ecimento ) eaustivo, $ue nen*um c)rebro *umanocon*ece totalmente $ual$uer ob+eto, coloca?se ara o educador a $uestão seguinte2 ueasectos de um conte&do curricular devem ser ensinados, con*ecidos elo arendi5H "m$ue se$JênciaH =elacionando com o $ueH uais os con*ecimentos $ue o arendi5 ossuido ob+etoH Q!rias resostas são oss3veis.em cair num fenomenismo, o educador ode escol*er o eame cr3tico de asectosmais comuns do conte&do, sem a a+uda de tecnologias. Não ) or acaso $ue o estudo da erceção ) uma das bases da Psicologia. as tal camin*o não ) isento de roblemas. F rofessor deve enfati5ar o con*ecimento $uantitativo ou $ualitativo do ob+etoH e centrar a an!lise na aarência, deve verificar a tetura, forma, c*eiro, dure5a ou elasticidade,cores, comosição material, temeraturaH Com $ue margem de detal*amentoH >ever!ol*ar de erto ou # dist7nciaH Fu ambosH uão erto ou $uão distanteH "m $uais ersectivasH A  aindo do ercetual, do material, o educador oder! eleger reresentaçes l(gico?matem!ticas, elorando reresentaçes f3sico?$u3micas, biol(gicas, sociais, econRmicas,etc. Noutro n3vel, oder! classific!?lo, relacion!?lo com outros ob+etos ou id)ias, fa5er inferências, elorar as reaçes do arendi5 e de outras essoas a ele, se ) imortante ? eem $ue medida ? ara o arendi5. " assim ad infinitum . 6lguns dinamismos e relaçesentre ob+etos concretos e l(gico?matem!ticos s( odem ser reresentados ob+etivamentecom tecnologias, esecialmente com comutadores, como ) o caso do sistema solar, damec7nica de fenRmenos como as estaçes e atração lunar.Qoltando # erceção simles, raticamente todas as ossibilidades de eeriênciasensorial direta odem ser modificadas, amlificadas, redu5idas, com a mediação deinstrumentos. 6lgumas tecnologias estão associadas # conceção de conte&dos b!sicos,resultando forçosamente em seleçes, amliaçes, reduçes. Fb+etos como mol)cula,c)lula ou micr(bio não odem ser ercebidos a ol*o nu. F mesmo acontece com nossoob+eto maior, o universo do $ual somos 3nfima arte.Com a mediação de lentes, aarel*os de som e outros amlificadores de nossossentidos, o macro e o micro odem ser esacialmente ercebidos no mesmo camo visual,se+a uma !gina imressa, uma tela de TQ, um comutador. Isto tem v!rias imlicaçes ara o educador, ois ode ocasionar reresentaçes incorretas de dimenses f3sicas dosob+etos muito grandes e muito e$uenos.PerSins e outros /1880 usam a eressão -alvos de dificuldade referindo?se aassuntos $ue aresentam dificuldades de ensino e de arendi5agem, rincialmente emmatem!tica e em ciências, $ue odem reresentar formid!veis obst!culos ara arendi5es edeiam intrigados muitos rofessores. Citam como eemlos a geometria euclidiana, adistinção entre calor e temeratura, a sem7ntica de fraçes /.v0. @aseadas na boa edagogia, no con*ecimento de como os arendi5es comreendem tais roblemas e na es$uisa com soft4are esec3ficos /e não no -efeito do comutador0 novas tecnologias odem contribuir ara mudar tal situação. No entanto, mesmo com sugestes como as anteriores, a atividade de ensinar eigecontinuamente açes e decises $ue nen*uma m!$uina oder! fa5er. F educador devesaber navegar dentre m&ltilas reresentaçes de um mesmo ob+eto de con*ecimento edecidir $ue asectos ensinar, relacionar, $uestionar, retomar, estimular o arendi5 aelorar, descobrir, maniular de modo material ou virtual, discutir, memori5ar. "m certassituaçes, tamb)m recon*ecer suas limitaçes, transmitindo esontaneamente a $ual$uer arendi5, da r)?escola # universidade, atitudes de *onestidade intelectual, $ue nãodiminuem sua sabedoria ou sua osição de mestre. Tais $uestes são centrais em $ual$uer refleão sobre Tecnologia "ducacional.1.A Neutralidade e 6lienação.Podemos agora concluir $ue tecnologias educacionais não são neutras,esecialmente no sentido eistemol(gico2 deendendo da tecnologia e do modo de usocomo artefato mediador, o con*ecimento ode ser diferente, como vimos antes no eemlodo telesc(io. 