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Perlongher Nestor 1987 O Negocio Do Miche_prostituição Viril Em Sao Paulo

Perlongher Nestor

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  NÉSTOR PERLONGHER O NEGOCIO DO MICHÈ A PROSTITUIÇÃO VIRIL EM SÃO PAULO  EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO '-O Coordenação editorial Sandra Brazil Editor assistente Claudemir D. de Andrade Assistenteeditorial Raquel Maria da Costa Revisão Flamarion Maués Proeto gráfico ediagramação Caco Bisol Capa Caco Bisol (sobre foto de Kevin Rosseel, morgueFile) (I a  edição 1987) Copyright desta edição © 2008 Roberto Echavarren Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P451n Perlongher, Néstor. 0 negócio do michê : a prostituição viril em São Paulo / Néstor Perlongher. - São Paulo : Editora Fundação Perseu Abramo, 2008. 271 p.   ¡I. ISBN 978-85-7643-057-5 1 1. Prostituição masculina - São Paulo. 2. Antropologia social. 3. Homossexualidade. 4. Cultura sexual. 5. Sociologia. 1 Título. 2 CDU 392.65(815.6) CDD 301.4154 (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo - CRB 10/1507) Editora Fundação Perseu Abramo Rua Francisco Cruz, 234 04117-091 São Paulo/SP Tel.: (11) 5571-4299 Fax: (11) 5571-0910 [email protected] www.efpa.com.br A  Editora Fundação Perseu Abramo éassocada à  LIBRE SUMÁRIO PREFÁCIO A NOVA EDIÇÃO RICHARD MISKOLCI  E  LARISSA PEL ÚCIO  9 AGRADECIMENTOS 37 PREFÁCIO À I A  EDIÇÃO PETER FRY  39 INTRODUÇÃO 43 ETNOGRAFIA DAS MARGENS 63 TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO URBANO: O GUETO  GAY  PAULISTANO ENTRE 1959 E 1984 87 TERRITÓRIOS E POPULAÇÕES 123 DERIVAS E DEVIRES 165  AS  TRANSAS 213 O NEGÓCIO DÓ DESEJO 245 BIBLIOGRAFIA 259   néstor portenhopaulistanotietêpi--nheirosplatinoargentino--barroso deleitando-se amantíssimo neste deleitoso boosco bor--roso de delitos (detritos): livre libérrimo libertinário enfim -farejadopenetrado pelo olho azul do tigre eroto--fágico do delírio perlongado pelo passo de dança dionisíaco da panteravulvonegro--dentada  —  vagina voratrix cannibalis  —  trans--sexuada trans-(espermando goles de cerveja cor-urina)-vestida de mariposa gay  — néstor que nunca de nemnúncares conseguiu arredondar no palato um es--correito português normativo-purista--puritano mas que a amava (a são paulo) que a man-ducava (a são paulo) que a titilava (a são paulo) com seu mesclo portu--nhol milongueiro de língua e céu-da--boca que a lambia cariciosamente até as mais internas entranhas (a esta santipau--lista megalópolis bestafera) com esse seu (dele néstor) cunilingüíneopor--tunhol lubrificante até levá-la (a paulistérica) a um paro(sísmico)xismo de orgasmo transtelar  — néstor - um cómico (um outro néstor poderia - sánchez - tê-lo dito) - de la lengua - antes tragi--cômico (digo eu) da  —  néstor - légua que se queria negro nigrificado nigérrimo negríssimo - pretidão de amor (camões) -desde a sua (dele) exilada margem de sua trans(a)gressiva marginália extrema  à contrafé à contramá-fé (fezes ) do imundo mundo do poder branco (ocíduo) branco--cêntrico néstor em câmara escura em camerino oscuro posto neste seu (dele) lugar ab--soluto absolu lieu de onde —  crisóstomo da língua bocad'--ouro ânusáureo  — proferia as mais nefandas inefáveis inenarráveis —  horresco referens — palavras de desordem como se um caduceu amotinado estivesse regendo um bando ululante de ménades carnívoras -(Fragmento do poema Réquiem , de Haroldo de Campos publicado em  Cuadernos deRecenvenido,  n. 18, 2002. Publicação do Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana da Universidade de São Paulo.) PREFÁCIO À NOVA EDIÇÃO AQUELE NÃO MAIS OBSCURO NEGÓCIO DO DESEJO Richard Miskolc  e  Larissa Peúco 1 Em meados da década de 1980, Néstor Osvaldo Perlon-gher, poeta argentino militante de um dos primeiros ensaios sul-americanos de organização homossexual, imergiu no então obscuro negócio da prostituição viril paulistana. Dessa aventura transgressiva nasceu o trabalho de um antropólogo sofisticado, uma etnografia urdida na teoria e no campo que se tornou re-ferência não só pela srcinalidade do tema, mas também pelo brilhantismo de suas análises. Mariza Corrêa, a quem coube a orientação final da dis-sertação de mestrado que srcinou  O negóco do mchê  conta no prefácio ao livro  Género emmatizes  (Corrêa, 2002) 2  a reação escandalizada de um colega em relação ao título do trabalho. O que neste título indignava  o  intelectual? A irreverência de Perlon-gher ou a reverência com que trouxe para os estudos académicos as tropas marginais que perambulavam pelo centro da cidade? Diante do cenário de rápida urbanização brasileira da se-gunda metade do século xx, a atenção dos antropólogos e soció-logos se voltara para a periferia das metrópoles, vista como o local desses recém-chegados. Perlongher optou por escrever a respeito daqueles que se 'perdem' no caminho para cidade (2005, p. 270) e cujas histórias de migração ainda não haviam sido contadas 3 . Sabia que os que foram para a periferia para dar voz aos opri-