Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

Quebrando O Encanto - Daniel Dennett

   EMBED


Share

Transcript

Da ni e l C . De nne tt

Q UEBRANDO O ENCANTO
A religião como fenômeno natural

Ttradução:
Helena Londres

Copyright © 2006 by Daniel C. Dennet
Copyright da tradução © 2006 by Editora Globo
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada
ou reproduzida - em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação
etc. - nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da
editora.
Título original: Breaking the spell
Preparação: Beatriz de Freitas Moreira
Revisão: Maria Sylvia Corrêa e Otacílio Nunes
índice onomástico: Luciano Marchiori
Capa: Ricardo Assis, sobre Visão após o sermão: Jacó lutando com
o anjo (1888), de Paul Gauguin, óleo sobre tela, 73 x 92 cm,
National Gallery of Scotland, Edimburgo, Reino Unido.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
---------------------------------------------------------------------------------------------D46q
Dennett, Daniel C., 1942Quebrando o encanto: a religião como fenômeno natural / Daniel C. Dennett;
[tradução Helena Londres]. - São Paulo: Globo, 2006.
Tradução de: Breaking the spell
Inclui bibliografia
ISBN 85-250-4288-9
1. Religião - Literatura polêmica. I. Título.
06-4035.
03.11.06 07.11.06
----------------------------------------------------------------------------------------------Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil,
adquiridos por Editora Globo S. A.
Av. Jaguaré, 1485 - 05346-902 - São Paulo – SP
www.globolivros.com

ORELHA DE LIVRO
Fenômeno humano universal, a religião parece ser independente da filosofia, conforme uma
opinião bastante generalizada. Adotando tal perspectiva, o leitor não se verá imediatamente
conduzido a questionar o sentido desta obra? Religião, afirmamos comumente, cada um tem a sua,
cada uma delas sendo incomensurável em relação às outras. No mundo globalizado, o
ecumenismo relativista deveria, pois, ser a tônica. Caminhando em sentido contrário a esse
"respeito" irrefletido devotado a todas as religiões indistintamente, e apoiando- se não apenas na
filosofia, mas também em dados e teorias oriundos das mais diversas ciências - biologia,
psicologia, neurobiologia, genética etc. -, o autor pretende contribuir para que possamos efetuar
uma "escolha informada" sobre nossas vidas, se já não a efetuamos ainda, ou nos inteirarmos
sobre ela caso já tenhamos abraçado uma fé religiosa. Pois, afirma, se "a ignorância nada tem de
vergonhosa", é também verdade que a "imposição da ignorância é vergonhosa". Assim, este livro
pretende, em suas concisas páginas, conceder a mais estrita liberdade a quem deseja refletir
sobre a religião de forma rigorosa, seguindo a via dos dados e teorias científicas disponíveis e
atuais.
No interior da obra o leitor será confrontado com a discussão de temáticas ousadas que incidem,
inclusive, sobre o valor e o sentido da religião. Ela nos tornaria mais felizes? Ou, do ponto de
vista da teoria evolutiva, mais prolíficos do que - caso porventura existissem - homens não
religiosos? Será possível ser ético sem acreditar em Deus? Como e por que as "religiões
populares" se institucionalizaram introduzindo a necessidade da submissão a um código e uma
autoridade para serem praticadas? O leitor será conduzido, através dessas indagações
instigantes, a retirar os véus - do dogmatismo, do autoritarismo e do obscurantismo - que,
historicamente, foram pouco a pouco acobertando os mistérios religiosos. Véus destinados não a
torná-los mais ou menos misteriosos, mas previstos para coibir as possíveis tentativas de cada
um refazer por sua própria conta e risco o caminho que a eles conduz. Nas palavras do autor: "as
discussões sobre a existência de Deus tendem a se fazer numa bruma piedosa de limites
indeterminados". Este livro, se não dissolve essa "bruma", contribui ao menos para amenizá-la e
redescobrirmos, sob o marasmo dos cultos habituais, a efervescência desse fenômeno sobre o
qual, juntamente com a atitude ereta e a razão, se apóia nossa vocação eterna para a
verticalidade.
JOSÉ LUIZ FURTADO
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto

*** Mais uma vez. Com o mesmo espírito. e não apenas os acadêmicos. (Não vi sentido em pregar para o coro. Não neste caso. Talvez devesse ter dedicado vários anos a mais ao estudo antes de escrever este livro. se perceberam. estou usando notas de final de capítulo. não objetaram.ricanos achou isso não apenas evidente. Para mim. e meus leitores não norte-americanos deverão examinar o que eles conseguirem aprender a respeito da situação nos Estados Unidos a partir daquilo que eles encontram neste livro. e depois no islamismo e no judaísmo. mas inevitável: simplesmente não conheço outras religiões o suficiente para escrever sobre elas com segurança. Comumente observa-se . enquanto vira as páginas para a frente e para trás. em notas mais longas. aos leitores norte-americanos. Isso então me permite acomodar mais material que de costume. e aqueles que ficarem desorientados ou decepcionados agora sabem que tive meus motivos. E claro que posso ter errado o alvo.até mesmo censurável em alguns casos. Mostrei rascunhos deste livro a diversos leitores. e a maior parte dos não norte-ame. Mas resolvi que um fluxo amigável para uma platéia mais ampla era mais importante que a conveniência dos estudiosos. As referências a eles estão no local em que constituiriam capítulos ou partes de capítulos. mas perturbador . teria de expressar as ênfases encontradas aqui: os cidadãos curiosos e conscienciosos do meu país natal . meu foco. sobretudo aos leitores acadêmicos do texto principal e as coloquei no final. retirei quatro partes do material direcionado. e este livro é dirigido. Um dos desvios das minhas práticas estilísticas anteriores é que. graças à Tufts University. Esse é um padrão a ser considerado. Resolvi que. Veremos. não deveria tentar abranger um público-alvo mais universal? Não. mas como a urgência em me comunicar me pressionou em razão dos acontecimentos atuais. primeiro no cristianismo. Não poderia eu fazer um livro de uma perspectiva menos provinciana? Como filósofo. como apêndices. não é intencional. já que obriga o leitor estudioso a usar um segundo marcador de livros. Minha concentração na América do Norte é proposital.tanto nos Estados Unidos como fora . bons ou ruins.ou. tive de me contentar com as perspectivas que consegui alcançar até agora. tive a possibilidade de bancar o Tom Sawyer e caiar a .tantos quanto possível.PREFÁCIO Vou COM EÇAR com um fato óbvio: sou um escritor norte-americano. mais irresistível do que a reação dos meus leitores não norte-americanos foi o fato de tão poucos dos norte-americanos perceberem esse viés . e este livro. de modo que a inconveniência traz alguma recompensa para aqueles que estão em busca de novos argumentos. entre outras coisas. um desvio dos objetivos de livros anteriores. pela primeira vez. é um dispositivo sonoro que tem a intenção de medir a profundidade dessas diferenças.que há diferenças impressionantes entre as atitudes com respeito à religião nos Estados Unidos e nos demais países do Primeiro Mundo. Em geral não gosto dessa prática. quando se trata de religião contemporânea. por outro lado. se eu tivesse qualquer esperança de alcançar o meu público-alvo. e não notas de pé de página. em primeiro lugar.) Essa é uma experiência.

Tucker Lentz. Rob McCall. Don Ross. Erika Clampitt. o feedback dado por eles merece grande parte do crédito. Noah Dock. Nick Humphrey. Obrigado. Akeel Bilgrami. de 2002. Sara Brauner. Maurício Artinano. Susan. Se eu conseguir encontrar meu público-alvo. Kathleen Daniel. ao estudarem meu rascunho inicial em um seminário. Adam Degen Brown. Paul Slovak.man. Juliana McCanney. Robert Goldstein. Justin Junge. que faz de cada livro meu um dueto. Alexandra Barker. Richard Griffin e Teresa Salvato. qne trouxeram à luz suas convicções religiosas. Gena Gorlin. Avery Archer. Ariel Rudolph. conselhos e apoio moral muito apreciados. corrigindo diversos erros e guiando-me por seus mundos religiosos com bom humor e tolerância com relação às minhas gafes e outras ofensas. Felipe de Brigard. Eitan Hersh. identificando não só escorregadelas no estilo como também fraquezas concretas. e a John Kihlstrom. Aaron Goldberg. e não um solo. sem dizer os nomes. Sameer Puri. no outono de 2004. Bo Dahl. Terry Zaroff fez um extraordinário trabalho de edição de texto para mim. Bryan Salvatore. Chris Lintz. Por fim. Marc Raifman. Matthew Kibbee. e sua mulher. muitas vezes profundas. pesquisadores associados e assistentes de programa. deram-me conselhos.bom. Akiko Noro. Agradeço a eles e também a Ron Barnette. Joanna Bryson. Paul Oppenheim. Permitam-me também agradecer. Richard Dawkins e Peter Suber são duas pessoas que forneceram sugestões especialmente valiosas durante nossas conversas. Dan Sperber e Sue Stafford. Obrigado também a Chris Westbury. Tom Clark. melhorar. aos professores. (Ver o livro dela. Jacquelyn Ardam. de 2003. Matt Konig. Obrigado também à minha alegre equipe no Centro de Estudos Cognitivos.) Entre os leitores mencionados no primeiro parágrafo há alguns que preferiram permanecer anônimos. . Priscilla Alvarez. Edward Rossel. Breaking the S-pell of Dharma. Katinka Matson. Seymour Papert. Kyle Thompson-Westra e Graedon Zorzi. devo mais uma vez agradecer à minha mulher. Ian Lustick. Richard Denton. Eles fizeram comentários sobre os ensaios dos alunos. David Polk. ajudaram-se uns aos outros e ajudaram-me a me manter nos trilhos. copiar e traduzir questionários. Benjamin Brooks. Suzanne Massey. Lawrence Bluestone. Will Lowe. Gajanthan Balakaneshan. Mami Sakamaki. Karel de Pauw e Mareei Kinsbourne por me indicarem leituras valiosas. na maior parte estudantes de graduação. Sean Chisholm.cerca com um grupo de alunos notavelmente corajosos e conscienciosos. ajudaram-me a projetar. Amber Ross. Joseph Gulezian. John Roberts. Christopher Healey. cuja corajosa campanha para levar o conhecimento científico da religião à sua índia natal foi uma das inspirações para este livro e também para o título. que ainda está em andamento. Lucas Recchione. Hannah Ehrlich. de maneira que eu jamais conseguiria imaginar. assistentes de pesquisa. Joe Keating. Stephen Martin. do mesmo modo que meu agente. Agradecimentos especiais a Meera Nanda. além do mais recente Prophets Facing Backwards. aconselharam os estudantes que estavam perturbados com o projeto. procuraram centenas de livros e artigos em bibliotecas e sites na web. Diana Raffman. Mais uma vez. John Brockman. às muitas outras pessoas que se interessaram por este projeto no curso dos dois últimos anos e deram sugestões. Pascal Boyer. Sarah Dalglish. Jed For. registraram e analisaram dados. Paul Seabright. John Symons e Bill Ramsey pela participação de suas universidades em nosso projeto de questionários.

Daniel Dennett .

.

depois sobe outra vez. suas oportunidades de terem filhos e dedicam a vida inteira a promover uma idéia que se fixou em seus cérebros. Com grande freqüência encontramos seres humanos que deixam de lado seus interesses pessoais. Do mesmo modo. Seu cérebro foi dominado por um parasita minúsculo. então a Bíblia parece ser um bom candidato para o prêmio de texto mais apto. jejua durante o Ramadã e tenta fazer a . [Mateus 13. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? E ele lhes falou muitas coisas em parábolas. entre outras espécies. parasitas manipuladores infectam peixes e camundongos. Não há benefícios biológicos para a formiga. Esse pequeno verme cerebral dirige a formiga a uma situação que beneficie sua progênie. sempre tentando chegar ao topo. como Sísifo rolando sua pedra. O texto egoísta: a Bíblia e a memética] OBSERVE UMA FORMIGA em um prado. e mais outra. 3-4] Se a "sobrevivência do mais apto" tiver qualquer valor como slogan. Dicrocelium dendriticum. [Hugh Pyper. A palavra árabe islam significa "submissão". laboriosamente subindo por uma folha de capim. reza cinco vezes por dia. dá esmolas. até que cai. algumas sementes caíram à heira da estrada e as aves vieram e as devoraram.para benefício do parasita. por exemplo. cada vez mais alto. Esse não é um fenômeno isolado. Por que ela faz isso? Que benefício estará buscando para si própria nessa estranha e extenuante atividade? A pergunta é que está errada.' Será que com os seres humanos acontece alguma coisa parecida? Acontece sim. e quando ele semeou. e todo bom maometano dá testemunho disso. dizendo: olhai. Ela não tenta obter uma visão melhor do território. nem procura comida ou se exibe para um parceiro em potencial.até mesmo suicidas . QUEBRA DE QUAL ENCANTO? 1. Esses caronas fazem com que seus hospedeiros se comportem de modos bizarros . que precisa entrar no estômago de um carneiro ou de uma vaca para completar seu ciclo reprodutivo.PARTE I B E R T U R A D A C A I X A D E PA N D O R A 1. sua saúde. e não a da formiga. um semeador foi semear. não do hospedeiro.

ou até sua toca vazia. nem sequer tem um cérebro. se necessário. já morreu mais gente na brava tentativa de proteger locais e textos sagrados do que na tentativa de proteger reservas de alimentos para seus filhos e suas casas. Eles não passam de animais. Provavelmente. O "melhor amigo do homem" não consegue mostrar uma dedicação que rivaliza com a de seu amigo homem? O cachorro não chega a morrer. que algumas vezes enganam as aves predadoras. parece: o cachorro. mas é em si mesmo um fato biológico. na verdade. elas não conseguem enxergar aonde estão indo e não têm membros com os quais guiar um cérebro hospedeiro. para proteger seu dono? Sim. mas um Dicrocelium dendriticum também não é exatamente um cientista de foguetes espaciais. mas não são objeções tão reveladoras como a princípio parecem. e algo que exige uma explicação da ciência natural. Os pássaros se afastam e as borboletas se beneficiam. entre um verme parasita que invade o cérebro de uma formiga e uma idéia que invade um cérebro humano. E não nos esqueçamos dos muitos milhares de humanistas seculares que deram a vida pela Democracia.é um dos aspectos que nos diferenciam do resto do mundo animal. o Homo sapiens. tudo em nome da idéia de Alá e de Maomé. não é mais inteligente que uma cenoura. então. Esse fato nos torna diferentes. mas também temos crenças e a capacidade de transcender nossos imperativos genéticos. (Essas características são como as manchas semelhantes a olhos nas asas de borboletas. Como apenas uma espécie.ou nosso próprio imperativo biológico de ter filhos . Os cachorros de hoje são descendentes daqueles que nossos ancestrais mais amaram e admiraram no passado. Nossa possibilidade de dedicar nossa vida a algo que consideramos mais importante que nosso bem-estar pessoal . mas esse é o default summum bonum de todo animal silvestre. sofrendo bravamente. temos desejos inatos de nos reproduzir e de fazermos o que for necessário para atingir essa meta. devotando a vida a disseminar a Palavra.2 Será que. mesmo que conseguissem enxergar. fazendo-as pensar que algum animal grande as está olhando. Uma mãe ursa defenderá bravamente um espaço que tenha alimentos e defenderá com ferocidade sua cria. o mensageiro de Alá. modelamos essa dedicação a um dono segundo nossa própria devoção a Deus? Estaríamos modelando os cachorros à nossa própria imagem? Talvez. sem sequer tentar criá-los para a lealdade. E verdade. As duas coisas são verdadeiras. tirando o que há de melhor (de seu ponto de vista. Idéias não são seres vivos.peregrinação ou hajj a Meca. Como outros animais. pela Justiça ou pela simples Verdade. do nosso ponto de vista) nos animais que nos servem de companhia. as idéias não são seres vivos e não invadem cérebros. Tudo o que tem é a boa sorte de ser dotado com características que afetam os cérebros de formigas dessa maneira útil sempre que entram em contato com elas. conseguiram que isso acontecesse. evidente para a ciência natural. arriscando a vida por uma idéia. elas são criadas por cérebros. mas. fazendo sacrifícios enormes. mas sem mérito . Os sikhs. E tudo o que eles sabem. veio a ter essas perspectivas extraordinárias quanto à sua própria vida? Dificilmente alguém dirá que a coisa mais importante na vida é ter mais netos que seus rivais. os hindus e os budistas fazem o mesmo. e não se trata de mera coincidência o fato de que esse traço seja encontrado nas espécies domesticadas. Ao contrário dos vermes. Há muitas idéias pelas quais se pode morrer. contudo. Existe uma exceção interessante. de onde tiramos nossa devoção a Deus? E provável que a comparação com que comecei este livro. Cristãos e judeus fazem coisa parecida. inconscientemente. é claro. pareça um tanto forçada e também ultrajante.

Parece que essas sementes se enraízam em indivíduos e fazem com que esses seres a disseminem.) Uma idéia inerte. O texto (em latim) conta a moral da parábola do semeador (Mateus 13): Semen est ver. porém ainda um breve momento em termos de tempo biológico. Se quisermos compreender a natureza da religião. ela poderá prosperar. Como as idéias são criadas pelas mentes? Pode ser por inspiração milagrosa. mas acrescentam características novas e outros poderes à medida que avançam. devemos examinar não apenas o que ela é hoje. crentes. onde dão origem ainda a outras novas "criações". ícones. ou pelo menos seus administradores. Tenho uma partitura de música escrita em pergaminho de meados do século xvi que achei há meio século em um sebo de Paris. nós. 2. Não consigo pensar em um tópico mais importante para ser investigado. o que a religião é agora. se for projetada acertadamente. sobrevivendo a traduções entre linguagens diferentes. que trazem semelhanças de família com as idéias que as inspiraram. e o semeador da semente é Cristo. A Palavra de Deus é uma semente. por que ela significa tanto para tanta gente.algum por isso. em compensação. pode ser por meios mais naturais. nosso futuro neste planeta. nos próximos sete capítulos. não apenas as abrigando. mas a iniciativa de comparar uma idéia a uma coisa viva não é nova. seres humanos. irá nos dar uma nova perspectiva para examinar.bum Dei. podem até se orgulhar de terem atingido uma idéia mais elevada e mais pura de Deus. ao chamar de "Deus'' alguma abstração vaga que criaram para si mesmos. sator autem Christus. como um fenômeno natural. pegando carona em cantigas. os hospedeiros humanos alcançam a vida eterna . ao longo de um tempo maior que o da história registrada. enfeitiçados há milhares de anos. porque é feita por aquele projeto. e sobre o quê elas podem ter ou não razão em seu entendimento como pessoas religiosas. estátuas e rituais. nos últimos três capítulos. se tiver. como essa crença na crença transforma as idéias que estão sendo difundidas? As grandes idéias da religião têm nos mantido. mas o que era antes. mas nutrindo-as. Aí poderemos ver melhor aonde a religião poderá ir no futuro próximo. Quais são os antepassados das idéias domesticadas que hoje se disseminam? Onde e por que elas foram originadas? E uma vez que nossos antepassados assumiram o objetivo de disseminar essas idéias. UMA DEFINIÇÃO QUE FUNCIONA PARA A RELIGIÃO Os filósofos ampliam. unindo.eum qui audit manebit in eternum). seus pastores. embora o Deus deles não passe de uma sombra sem substância e não seja mais a personalidade poderosa da doutrina . Um relato das origens da religião.se em combinações estranhas na cabeça de pessoas em particular. hoje. eles se apresentam como deístas. o significado das palavras até que elas pouco conservem de seu significado original. já que as idéias se disseminam de mente para mente. E talvez algumas das idéias "selvagens" que inicialmente invadiram nossas mentes tenham tido descendentes que foram domesticados e amansados quando tentamos nos tornar seus donos. poderá ter um efeito benéfico sobre um cérebro sem precisar saber que isso está acontecendo! E. A comparação entre a Palavra de Deus e um Dicrocelium dendriticum é inquietante. por toda parte (e. ante o mundo.

Assim como a biologia da evolução progrediu durante o século passado. uma vez que as semelhanças importantes para a lei e a moralidade não se alinhavam perfeitamente com os profundos princípios da biologia. seja onde for que eu "trace o limite".recentemente foram promovidos a vertebrados honorários.religiosa. Por que dar de mamar a seus filhotes é mais fundamental que viver no mar? Por que ter uma coluna vertebral é mais fundamental que ter asas? Agora isso pode parecer óbvio. os mexilhões e ostras têm sistemas nervosos bastante sofisticados. na verdade. mas não era óbvio no raiar da biologia.alguma dificuldade na tarefa de chegar a uma definição à prova de contra-exemplos para algo tão diverso e complexo como a religião. Qual a essência da religião? Esta pergunta deve ser encarada com certa desconfiança. [Sigmund Freud. Podemos começar com o senso comum e a tradição. Por exemplo. embora mais perturbadoras. O futuro de uma ilusão] Como defino religião? Não importa apenas como a defino. um sapo ou um camun. e as aves têm relações mais estreitas com os dinossauros que os sapos -. você pode fazer o que quiser com um verme. Tubarões e golfinhos se parecem bastante e apresentam vários comportamentos semelhantes. mas não são de jeito algum o mesmo tipo de coisa. mas as leis podem ser modificadas . a lei que diz respeito à crueldade com os animais traça um importante limite moral que leva em conta se o animal é vertebrado: no que diz respeito à lei. Parece-me um ajuste político sábio... aquilo que em geral chamamos de religião é composto de uma variedade de fenômenos bastante diferentes. e novas surpresas ainda são descobertas a cada ano. Dennett uma lei (pelo menos nos Estados Unidos) que separa religiões segundo sta. está fadada a ter mais do que interesse acadêmico para aqueles . compromisso com organizações seculares. Talvez.tus especiais. Como se verá. certamente há variações que compartilham de alguns aspectos típicos.esponjas são animais. vejamos que o budismo e o islamismo. religiões.polvos. formando uma família frouxa de fenômenos. uma vez conhecido melhor o campo inteiro. os dois. declarando que algo que era encarado como religião na verdade é alguma outra coisa. porque.dongo vivo. de qualquer modo irei ultrapassá-lo. mas não com uma ave. superstição. apesar de todas as suas semelhanças. Daniel C. devoção fanática a grupos étnicos (ou times esportivos).e esta o foi.espiritualidade. considerando-os. Cefalópodes . não um "tipo natural". No Reino Unido. Este pode ser um lugar bastante bom para traçar o limite. já que tenho planos de examinar e discutir os fenômenos seus vizinhos que (provavelmente) não são religiões . como um elemento químico ou uma espécie. deveríamos prever. nós aos poucos avaliamos os motivos profundos para agrupar as coisas vivas do modo como o fazemos . uma mosca ou um camarão. Ainda que haja uma afinidade profunda e importante entre muitas ou mesmo a maioria das religiões do mundo. Então. ao mesmo tempo que carecem de uma ou outra feição "essencial". mas não devemos nos deixar cegar pela perspectiva de que nossa classificação inicial pode ter de se ajustar à medida que aprendemos mais. ao contrário de seus primos moluscos. Dessa forma. Podemos achar que o problema de traçar um limite entre religião e seus vizinhos mais próximos pertencentes aos fenômenos culturais está cercado de questões parecidas. merecem ser considerados como duas espécies de fenômeno cultural diferentes. lulas .e tolerar . que surgem de circunstâncias diferentes e têm diferentes implicações.

há quem declare que a biologia da evolução é na verdade "apenas mais uma religião". então. O Jeová do Velho Testamento é sem dúvida um tipo de homem divino (não uma mulher) que vê com olhos e ouve com ouvidos . mas apenas um ser humano especialmente grandioso. A Wicca (bruxaria) e outros fenômenos do movimento Nova Era têm sido defendidos como religiões por seus seguidores exatamente com o objetivo de elevá-las ao status legal e social tradicionalmente desfrutado pelas religiões. dependendo de maiores esclarecimentos) nos tornemos um pouco mais explícitos em relação ao espectro de opiniões perceptíveis por trás desse nevoeiro piedoso de recatada incompreensão. Precisamos buscar outras interpretações antes de decidir como classificar as doutrinas que as pessoas esposam. e "Deus tem misericórdia". seja lá qual for. expressadas de modo metafórico. É como iniciar um diário com "Querido Diário". E talvez um maravilhoso (ou . e. outros aparecerão com o tempo . aprovar e desaprovar. a expressar gratidão a Deus por ter criado o universo. De acordo com uma tradição já bem antiga. Se o que elas chamam de Deus realmente não é um agente. e a usar expressões como "o que Deus quer que nós façamos". honra. um devotado fã-clube de Elvis Presley não é uma religião. mas uma atividade "simbólica". judeus e maometanos contemporâneos insistem em que Deus. não algo esculpido em pedra para ser defendido até a morte. atos que parecem estar em contradição direta com sua insistência de que o seu Deus de modo algum é antropomórfico. essa tensão entre Deus como agente e Deus como um Ser eterno e imutável é um aspecto que está além da compreensão humana. (Deus esperou para ver o que Jó faria e então falou com ele. Para algumas pessoas. Por outro lado. então estarão realmente no caminho de iniciar uma nova religião. é onisciente. Como devo lidar com essa delicada questão? Como uma primeira tentativa. de acordo com a minha definição. a esperar que Deus responda a suas preces amanhã. uma vez que muitos deles continuam a rezar para Deus. que suas doutrinas não têm lugar no currículo das escolas públicas.tudo isso depende bastante de como definimos religião. Um agente sobrenatural não precisa ser muito antropomórfico. não é verdadeiramente uma religião.e a definição está sujeita a revisão. proponho definir as religiões como um sistema social cujos participantes confessam a crença em um agente ou agentes sobrenaturais cuja aprovação eles buscam. um ser que pode atender às preces. sendo eterno. esse credo. e seria bobagem e arrogância tentar entendê-lo. não age em tempo real. a seus olhos. é um ponto de partida. portanto. e. porém não podemos prosseguir com minha definição de religião (ou qualquer outra definição.e fala e age em tempo real. De acordo com essa definição. aceitar sacrifícios e impor castigos ou perdão. É claro que essa é uma maneira tortuosa de articular a idéia de que uma religião sem Deus ou deuses é como um vertebrado sem coluna vertebral. ou Alá. um jeito de falar consigo mesmo a respeito de suas mais profundas preocupações. Proteção da lei. a prece não é literalmente falar com Deus. adorar Elvis. não tem necessidade de coisas como órgãos dos sentidos. em um sentido bastante óbvio. prestígio e uma isenção tradicional de determinados tipos de análises e críticas . na verdade) até que (de modo experimental. Se alguns fã-clubes resolverem que Elvis é realmente imortal e divino. e esse tópico será tratado com cuidado mais adiante.3 Alguns dos motivos para essa linguagem em circunlóquios estão bastante claros.envolvidos. Até aqui é o que se pode ter. porque embora os membros possam. ele não é considerado por eles literalmente sobrenatural. Isso é intrigante. embora elas possam chamar este Ser de Deus e reverenciá-lo (e não a Ele).) Muitos cristãos.

Ele achava que crenças. aparentemente. minha definição está profundamente em conflito com a de William James. Seu credo é uma religião. se consideram os comungantes solitários daquilo que podemos chamar de religiões particulares. pelo menos nos Estados Unidos. muito mais comuns. Há muitas outras variantes a serem consideradas no devido tempo . por assim dizer. privada. como veremos adiante. individualmente. Essa concentração na experiência religiosa individual. era uma escolha tática para James. Lanço mão aqui da evasiva palavra "invocar" porque. embora suas atividades possam ser alocadas em uma clara linhagem de descendência das práticas religiosas. Sem negar importância a elas. Isso certamente aconteceu com práticas e tradições particulares que faziam parte de religiões genuínas. que se identificam com um credo ou uma igreja em particular que possui muitos outros membros. e não a congregação de apenas um.4 Com o objetivo de esclarecer o que são as religiões somos obrigados a admitir que algumas delas podem ter se transformado em algo que não é mais religião. ou uma religião primitiva. portanto. desde que seja parte de um sistema social ou de uma comunidade mais ampla. Mas James dificilmente poderia negar que esses fatores sociais e culturais afetavam sobremaneira o conteúdo e a estrutura da experiência individual. vertebrados honorários. Em geral essas pessoas tiveram uma considerável experiência com uma ou mais religiões existentes e preferiram não ser seus adeptos. em sua solidão. que qualificou a religião como "os sentimentos. Os rituais de Halloween não são mais rituais religiosos. armadilhas e hierarquias políticas da religião "organizada" serviam para desviar a atenção da raiz do fenômeno. mas não acreditam que essa eficácia seja canalizada por um Deus agente. Para outros. Ele não teria dificuldade em identificar um crente isolado como uma pessoa dotada de religião. Proponho que o núcleo do problema da religião invoca deuses que são agentes eficazes em tempo real e que representam um papel central na maneira como os participantes pensam sobre o que deveriam fazer. Hoje há motivos para trocar o microscópio psicológico de James por um telescópio grande-angular biológico e social. a palavra-padrão "crença" tende a distorcer e camuflar alguns dos aspectos mais interessantes da . Assim como James dificilmente poderia negar os fatores sociais e culturais. mas não religiosas. descendente de uma religião genuína que apresenta muitas familiaridades com a religião. p. que literalmente ouve as preces. A crença em são Nicolau (Papai Noel) também perdeu seu status de crença religiosa. desde que se vejam em relação com qualquer coisa que possam considerar divina" (1902. rituais. mas é uma espécie inteiramente diferente. era um deles. As pessoas que despendem grandes esforços e dinheiro para participar desses rituais não estão.terrível) substituto da religião. que (como pessoa. a prece significa realmente falar com Deus. eu as chamarei de pessoas espirituais.por exemplo. Elas seriam. e esse caminho tático deu frutos maravilhosos. mas tendo necessidade de diferenciá-las das pessoas religiosas. de acordo com minha definição. praticando uma religião. e não coisa) de fato ouve e perdoa. examinando os fatores ao longo de grandes extensões de espaço e de tempo que moldam as experiências e ações de pessoas individualmente religiosas. Sob esse aspecto. ele próprio. Quero adiar a discussão de todas essas questões até que tenhamos um sentido mais claro a respeito de onde surgiram essas doutrinas. pessoas que rezam e crêem na eficácia da prece. 31). com grande sinceridade e devoção. eu dificilmente poderia negar a existência de indivíduos que. atos e experiências de homens.

Como provocação. Aí o telefone celular de alguém começa a tocar. e tenho perfeita consciência de que. vive em um mundo de superstição de histórias em quadrinhos e não merece o mesmo respeito. levando. para muitas pessoas. quebrando o encantamento. e a música doce o enleva. na verdade. personagem fictício em Os Simpsons] Você está em um concerto. na Guiana. ouvindo seus músicos favoritos em sua tumê de despedida. Esses sistemas sociais (quase inexistentes) estão nos limites da religião. álcool.rinkyo a liberar gás sarin no metrô de Tóquio. tentam levar uma vida moralmente boa. mas acho apropriado deixá-los de fora.o para outro lugar. O que aparentemente enraíza o respeito amplamente disseminado e mantido por religiões de todos os tipos é o sentimento de que as pessoas religiosas são bem-intencionadas. roubou um momento precioso que jamais poderá ser recuperado.. ou pornografia infantil. Que maldade quebrar o encantamento de alguém! Eu não quero ser essa pessoa com o telefone celular. Pensem nas pessoas que são viciadas em drogas.5 3. matando uma dezena de pessoas e ferindo outras centenas! Se ao menos pudéssemos imaginar algum jeito. nas quais são preparados para uma vida de martírio assassino em vez de serem ensinados a respeito do mundo moderno. quando o lunático Jim Jones mandava suas centenas de seguidores enfeitiçados cometer suicídio! Se ao menos pudéssemos ter quebrado o feitiço que levou o sábio japonês Aum Shi. Há pessoas . vil. de quebrar o feitiço que atrai milhares de pobres meninos maometanos para as fanáticas madrassahs.muito poucas.religião. encantado e sem fôlego. diria que a crença religiosa nem sempre é crença. "Psiu! Não quebre o encantamento!". pareço cortejar exatamente esse destino ao embarcar neste livro. Alguém que seja ao mesmo tempo egoísta e crédulo a ponto de tentar fazer um pacto com agentes sobrenaturais malévolos a fim de conseguir o que quer. uma vez que nossas intuições se horrorizam com a idéia de que as pessoas que se envolvem com esse tipo de bobagem mereçam o status especial de devoto. Odioso. [Ned Flanders.que se acham capazes de aliciar demônios com quem formam algum tipo de aliança pecaminosa. indesculpável! Um idiota sem consideração estragou seu concerto. Se ao menos algum providencial telefone celular pudesse ter interrompido os procedimentos em Jonestown. em 1978. E por que é preciso buscar a aprovação do agente ou dos agentes sobrenaturais? Essa cláusula serve para distinguir religião de "magia negra" de diversos tipos. O problema é que há bons e maus encantamentos. da democracia. da história e da ciência! Se ao menos conseguíssemos quebrar o feitiço que convence alguns de nossos concidadãos de que são mandados por Deus para bombardear clínicas de abortos! Cultos religiosos e fanáticos políticos não são os únicos a lançar feitiços malévolos hoje em dia. jogo.. Elas necessitam de toda a ajuda possível. embora interessantes histórias populares a respeito de "cultos satânicos" possam nos fazer pensar o contrário . E pode ser que a melhor maneira de quebrar esses encantamentos do mal seja introduzir um encantamento do . contando o fim. hoje. e duvido que alguém esteja propenso a lançar um manto de proteção sobre esses enfeitiçados e admoestar. QUEBRAR OU NÃO QUEBRAR A ciência é como um tagarela que estraga um filme. são honestas em seu desejo de não fazer o mal e reparar suas transgressões.

Muitos trabalhadores compulsivos alegariam que seu vício é benigno. Alguns acham que não podem viver sem o jornal diário e uma imprensa livre. desde que não prejudiquem ninguém. parte do problema. desde que possamos ter a certeza de que não estão prejudicando outras pessoas. E por isso que apresento a questão. Exatamente por esse motivo. Mas está cada vez mais difícil ter certeza disso. e eu não sei a resposta. E mais do que tempo de submetermos a religião como fenômeno global à mais intensiva pesquisa multidisciplinar possível. do nosso ponto de vista. e nenhuma investigação factual conseguiria resolvê-las. mas há todos os motivos para estudá-los assiduamente.mas aí estou entrando em águas controversas. um bom feitiço. Ninguém sabe a resposta. é direito deles. de um jeito ou de outro. Como no caso do El Nino e do aquecimento global. para agora explorá-la cuidadosamente de modo que nós (i) não nos atiremos de cabeça em indagações que seria melhor não empreendermos. Por quê? Porque a religião é algo muito interessante para que nos mantenhamos ignorantes a seu respeito. útil para a sociedade e para seus entes queridos. ao longo do percurso. provavelmente a maior parte das pessoas na Terra. mas. Em resumo. gostem eles ou não.bem. políticos e econômicos. As pessoas ficam viciadas em várias coisas. não há nada mais importante que a religião. pode não ser. Em vez disso. temos de saber o que estamos escolhendo e precisamos ter um motivo claro a respeito das razões que podem ser apresentadas a favor e contra as diferentes opiniões dos participantes. Em vez de serem partícipes do nosso esforço democrático para buscar a concordância entre os seres humanos nossos companheiros. porque eles ameaçam o que nós prezamos. eles se colocam no inventário de obstáculos com que se deve lidar. e outros acham que uma vida sem religião não valeria ser vivida. para fazer isso. e no entanto (2) não escondamos de nós mesmos fatos que poderiam nos orientar no sentido de melhorar a vida de . Ela não afeta apenas nossos conflitos sociais. Eles podem mudar de idéia e se unir à nossa congregação política. Talvez. esse é o argumento deste livro. nos ajudar na procura das bases para seus posicionamentos e práticas. aliciando as melhores mentes do planeta. façam isso ou não. Mas. o melhor que podemos fazer é nos sentar e pensarmos juntos. é imperioso que aprendamos o máximo que pudermos a respeito dela. precisamos chegar a questões a respeito de valores supremos. uma doutrina de regeneração. Serão essas coisas vícios? Ou serão necessidades legítimas que devemos tentar preservar quase a qualquer custo? Por fim. insistiriam eles. devêssemos inquirir se o mundo seria um lugar melhor caso pudéssemos estalar os dedos e curar os workaholics também . Aqueles que se recusam a participar (porque já sabem a resposta em seu íntimo) são. um processo político de convicções e instrução que podemos tentar levar a cabo de boa-fé. *** Será que uma análise tão exaustiva e invasiva não danificaria o próprio fenômeno? Não poderia quebrar o encanto? Esta é uma boa pergunta. Para muitas pessoas. enquanto outros acham que não conseguem viver sem cigarros. e. temos a obrigação de aprender tudo o que pudermos a respeito deles. O princípio é inatacável: não temos o direito de nos intrometer em suas práticas particulares. mas os próprios significados que encontramos em nossas vidas. seguir seus anseios até onde eles os levem. Deveríamos tentar descobrir. Pode ser. não tem sentido tentar discutir com eles. além disso. em uma sociedade livre. Alguns acham que uma vida sem música não valeria a pena.

uma vez que muitas pessoas. doenças. Quem terá razão? Eu não sei. acreditam com sinceridade que a paz no mundo é menos importante.todos. a despeito das conseqüências? Hoje. e não temos desculpas para não fazer isso. Na verdade. As boas intenções pavimentam as duas estradas. práticas e raciocínios. um bote de salvação que não ousamos sacudir para que não vire e não pereçamos todos. Deveriam ter tido um discernimento melhor. Alguns vêem a religião como a melhor esperança para a paz. Podemos atingir um melhor entendimento se tentarmos compreender melhor. Um erro obscenamen. bilhões de pessoas rezam pedindo a paz. Isso pode ser verdade. não apenas para pudicos com fome de poder. E nisso que eu insisto. não são nada persuasivas. Nas primeiras décadas do século. outros vêem a identificação religiosa como a principal fonte de conflito e violência no mundo. que o triunfo global de sua religião particular sobre a dos concorrentes. em que a idéia de manter os negros e os brancos em comunidades separadas. Nem aqueles ateus que têm certeza de que o mundo seria um lugar muito melhor se todas as religiões fossem extintas. a muitas pessoas sinceras. judaísmo. Mas o que faremos? Boas intenções não são suficientes. Foi preciso o movimento pelos direitos humanos nos Estados Unidos. Existe uma assimetria: os ateus em geral acolhem bem o exame intensivo e objetivo de suas opiniões. sua derrubada na África do Sul. sua exigência incessante de autocrítica pode se tornar bastante aborrecida. parecia. há não muito tempo assim. aparentemente. mas as pessoas não sabem. e. por fim.pobreza. ao contrário. budismo ou qualquer das centenas de outros sistemas religiosos. fome. e a dolorosa e humilhante experiência do apartheid. tanto a curto como a longo prazo.te caro. sejam elas cristianismo. Ficou provado que eles estavam errados. muita gente acha que a melhor esperança para a humanidade é reunir todas as religiões do mundo para uma conversa mutuamente respeitosa e um acordo final de como se tratarem respectivamente. o sacrilégio . com instalações separadas. no século xxi. os comunistas pareciam ser para milhões de pessoas ponderadas e bem-intencionadas. muitas vezes se arrepiam com a impertinência. uma solução maravilhosa e até evidente diante da terrível injustiça que todos podemos enxergar. Ou temos? Estarão alguns tópicos fora de questão. (Na verdade. mas também para muitas pessoas decentes que conseguiam ver o terrível ônus do alcoolismo e calculavam que nada menos que uma proibição total bastaria.e. você poderá dizer. A Lei Seca também pareceu na época uma boa idéia. Se aprendemos alguma coisa no século xx. As pessoas neste planeta enfrentam uma série terrível de problemas . aprendemos isso. e as provas em favor dessa maravilhosa esperança dificilmente são esmagadoras. e acreditam com igual fervor que a convicção religiosa é um substituto terrível para a calma. temos poderes incomparáveis para tomar alguma providência.mismo. mas estavam enganadas. e ainda não nos recuperamos de todos os efeitos maléficos que aquela política bem. o raciocínio bem informado. Na verdade. Nem o sabem milhões de pessoas com suas convicções religiosas apaixonadas. uma solução razoável para os problemas persistentes do conflito.intencionada pôs em movimento. hinduísmo. tentando impor seu gosto aos concidadãos. isla. e eu não me surpreenderia se a maior parte delas pensasse de coração que o melhor caminho a seguir para conseguir a paz no mundo é um caminho que passa por suas instituições religiosas particulares. opressão. a violência da guerra e do crime e muitos mais . Que vergonha para elas. O fervor de suas crenças não substitui as boas provas concretas. para mostrar quanto essas pessoas bem-intencionadas estavam enganadas. Houve uma época. já que cometemos erros colossais com as melhores intenções. a falta de respeito.) Os religiosos.

especialmente se ficar evidente que estão certos. 4.veja bem. Se a interferência causada pela investigação científica de algum modo invalidar as pessoas.implícito representado por qualquer pessoa que queira investigar suas opiniões. esperar que aqueles de nós que são céticos contenham a expressão de suas dúvidas se eles próprios não estão dispostos a submeter suas convicções a exame. não é? E poderíamos aprender alguma coisa importante. Se o caminho deles não puder ser provado.o tabu . Os que são religiosos e crêem que a religião seja a melhor esperança para a humanidade não podem. Religião são respostas que podem nunca ser questionadas. ESPIANDO O ABISMO Filosofias são questões que podem nunca ser respondidas. não apenas aceitaremos isso. justiça. e já. Se eles estiverem certos . nesse caso. bem-estar e significado para todos. [Anônimo] O encanto que eu digo que deve ser quebrado é o tabu contra uma pesquisa direta. O . Vamos descobrir. então o segundo encanto tem à mão um escudo útil.estão ligados em um abraço curioso.se a religião for posta sob as luzes fortes e o microscópio. e alguns têm medo de que a imposição do conhecimento sobre alguns aspectos poderia roubar a inocência das pessoas. mas ela é errada e não se deveria permitir que continuasse assim. E simples assim. Para ver o problema. A presunção de que os infiéis curiosos precisem andar pé ante pé para não perturbar os fiéis é ridícula. Mas. não faria mal olhar. com o mínimo de sofrimento possível.a proteção que recebe do primeiro. O primeiro encanto .e o segundo encanto . quer precise dele ou não.a própria religião . dizem eles. de modo razoável. entre muitos outros. céticos. não poderíamos deixar em paz o que está funcionando? Que bobagem arrogante. Parte da força do segundo pode ser . nós. quem sabe? Se somos proibidos pelo primeiro de investigar esse possível elo causai. O Mundo de Deus é invulnerável às investidas insignificantes de cientistas intrometidos. Eles reivindicam um elevado fundamento moral. Mas. mas nos uniremos entusiasticamente à causa. varrendo centenas de línguas e culturas rumo à extinção em poucas gerações. Não poderia ocorrer algo parecido à sua religião? Na dúvida. aleijando seu coração sob a desculpa de expandir-lhes a mente. pode ser que mereçam e pode ser que não. isso poderia ser uma calamidade terrível. Eu respeitosamente contesto: existe realmente uma tradição antiga à qual eles apelam. depois de maiores ponderações -. isso é algo que eles -próprios gostariam de saber. pode ser . Esse encanto deve ser quebrado. tornando-as incapazes de desfrutar os estados mentais que servem de trampolim para a experiência religiosa ou a convicção religiosa. Só se pode perder a virgindade uma vez. Mas certamente um dos motivos mais insistentes e plausíveis para a resistência a essa reivindicação é o medo de que o encanto seja quebrado . basta refletir sobre a recente exterminação global promovida pela tecnologia e pela cultura secular ocidental. científica e sem obstáculos dos segredos da religião como fenômeno natural. escarneceriam outros. com liberdade. Há um sério risco de quebrar um encanto diferente e muito mais importante: o encantamento que enriquece a vida vindo da própria religião. Nós queremos aquilo que eles (a maior parte) diz querer: um mundo em paz.

introduzidos nas ciências. Se não for para estudarmos todos os aspectos da religião. tendo montado a minha defesa para iniciar o projeto. Que tarefa insignificante! E pagam a ele por isso? Mas qualquer pessoa que tenha abordado um problema realmente difícil sabe que uma das tarefas mais árduas é encontrar as perguntas certas e a ordem certa de fazer essas perguntas. o mais cuidadosamente que puder.damente ilustrado na encantadora fábula de Hans Christian Andersen "A roupa nova do imperador". eu quero saber por quê. a ponto de a Filosofia..o tabu . somos melhores em fazer perguntas do que em respondê-las. vou começar o projeto! Não respondendo as grandes questões que motivaram toda a empreitada. que nada . no início de seu Ensaio sobre o entendimento humano (1690): [. estou queimando a saída. Eu sempre gostei do modo como John Locke apresentou o problema na "Epístola ao leitor". Algumas vezes falsidades e mitos que são "sabedoria popular" podem sobreviver ao infinito simplesmente porque a perspectiva de expô-los vem a se tornar. já que se pode levantar uma atraente causa de que estamos pagando um preço terrível pela nossa ignorância.] já é ambição suficiente ser empregado como um subtrabalhador para limpar um pouco o terreno e retirar um pouco dos detritos que estão no caminho do conhecimento. Um indefensável pressuposto mútuo pode se manter hegemônico durante anos. de termos insólitos. Sou um filósofo. uma cômica admissão de futilidade . Até agora tem havido uma concordância mútua não amplamente examinada de que os cientistas e outros pesquisadores deixarão a religião em paz.e mostrando por que precisamos respondê-las. mas o que precisa saber. Depois. e lá tornados uma arte. já que as pessoas ficam tão perturbadas diante da simples idéia de uma investigação mais intensa. Você tem de calcular não apenas aquilo que não sabe. afetados ou incompreensíveis. vou fazer uma pausa para defender minha decisão de tentar quebrar esse encanto. mas é claro que às vezes também já atrapalharam. Antes de continuar. Se for para deixar onde está o tradicional manto de privacidade ou "santuário" deveríamos saber por que fazemos isso. e daí por diante. um antropólogo. outros filósofos tiveram de entrar e tentar arrumar a bagunça. ela própria. Nós. É claro. precisamos examinar a questão de se o primeiro encanto . e quero ver raciocínios bons. filósofos. O formato adotado por nossas perguntas abre alguns caminhos e fecha outros.que certamente teria sido muito mais avançado no mundo se as tentativas de pessoas engenhosas e laboriosas não tivessem sido muito estorvadas pelo uso culto. ao escrever e publicar este livro. e não queremos desperdiçar tempo e energia batendo nas portas erradas. apoiados em fatos. ou até séculos. mas é preciso começar de algum ponto. para algumas pessoas. um sociólogo ou um teólogo."Ele diz que sua especialidade é só perguntar e não responder. não um biólogo. Isso estabelece a ordem do processo: primeiro. . o que não precisa saber e o que precisa saber para calcular o que precisa saber. e não apenas um apelo à tradição que estou rejeitando. ameaçadora ou imprópria devido a um tabu. porque se acha que alguém tem algum motivo muito bom para mantê-lo e ninguém ousa desfiá-lo..relacionamento entre esses dois encantos está vivi. ou vão se restringir a uns poucos olhares de esguelha. Os filósofos às vezes podem ajudar nessa empreitada. e possivelmente piorando as coisas. mas fazendo as perguntas. mas frívolo. então.deve ser quebrado. chamando a atenção para o que já sabemos sobre como responder a essas perguntas . e isso pode parecer. Proponho romper esse pressuposto e examiná-lo. precipitando-me e tentando quebrar o primeiro encanto. Então.

Houve reações negativas também. Mas finalmente seus dedos tiveram de largar o suporte e. Mas há uma primeira vez para tudo. passar a ser considerada inadequada ou incapaz de ser trazida ao convívio bem-educado e à conversa polida. É uma bela palavra. que saiu no The New York Times de 12 de julho de 2003. e. ele publicou sua pesquisa clássica: As variedades da experiência religiosa. Mas o termo. espada. Tente. se a coisa ficar muito ofensiva. Aqueles que não são brilhantes não são necessariamente burros. Entrevistei muitas pessoas profundamente religiosas durante os últimos anos. e eu vou começar dando um novo uso a uma velha história que ele conta: Uma história freqüentemente contada por evangelizadores é a de um homem que se encontrou à noite escorregando por um precipício. [James. p. Os que não são gays não são necessariamente sorumbáticos. para significar homossexual. Só peço que você tente manter uma mente aberta e se restrinja de prejulgar o que digo porque sou um filósofo sem Deus. em grande parte em objeção ao termo que tinha sido escolhido (não por mim): bright [brilhante. A queda foi de apenas quinze centímetros. de modo que tenho de persistir em minha causa. Por fim ele conseguiu agarrar-se a um galho. vamos fazer uma espécie de viagem em uma montanha-russa. ele se deixou cair. Ela será citada com freqüência neste livro porque é uma preciosa coletânea de insights e argumentos. eles acreditam no sobrenatural. mais cedo serão acalmados seus mais profundos temores. ao mesmo tempo que faço o melhor que posso para entendê-lo. Eles podem querer escolher um nome para si. e a maior parte desses voluntários nunca tinha conversado com alguém como eu a respeito desses temas (e eu certamente nunca tinha tentado abordar temas tão delicados com pessoas tão diferentes de mim). Como você já pode perceber. teria sido poupado de sua agonia.mais é que o verdadeiro conhecimento das coisas. ao contrário de nós. e a grande reação positiva a esse ensaio ajudou a me convencer a escrever este livro. Algumas pessoas não se associariam de bom grado com alguém que fosse abertamente gay. inteligente]. Já que. que lhe interrompeu a queda. William James. são straight. deixados de lado com muita freqüência nos dias de hoje. talvez gostassem de se chamar super. Meu ensaio "The bright stuff". . não parecia ter essa implicação. Outro de meus heróis filosóficos. não um argumento. Mas isso é apenas uma súplica. brights. modelado na carona altamente bem-sucedida da palavra comum gay. que pareceria implicar que os outros fossem pálidos ou burros. ateus e outros adeptos do naturalismo para cunhar um novo termo para nós. 1902. apenas há cerca de cem anos. eu lhes digo: Ó gente religiosa que teme quebrar o tabu: Larguem! Larguem! Vocês mal vão notar a queda! Quanto mais cedo começarmos a estudar a religião do ponto de vista científico. (Sou um bright. e lá ficou sofrendo durante várias horas. Se ele tivesse desistido da luta mais cedo. reconheceu melhor do que qualquer filósofo antes a importância de enriquecer nossa dieta filosófica de abstrações e argumentos lógicos com grande ajuda de fatos conseguidos arduamente. espadas. atraiu a atenção para os esforços de alguns agnósticos. e outros não leriam de bom grado um livro de alguém que fosse abertamente bright. m] Do mesmo modo que o evangelizador. não-crentes. como gay e bright. Sempre é possível voltar atrás. com conotações positivas. com um desesperador adeus à vida.

apresentam maior probabilidade de se oferecer como voluntários para tais tarefas boas que os integrantes do grupo de controle. em silêncio. poderão nos ensinar algo. O psicólogo Philip Tetlock (1999.. Quando os experimentadores lhes dão a oportunidade de se envolverem na "limpeza moral" (oferecendo-se como voluntários para algum serviço relevante na comunidade. Isso lhes daria uma razão prática para descartar meu livro sem pensar exatamente em que aspecto eles não concordam e por quê. "básico". ou pagar ou não outra pessoa para ter um filho que você criaria. estou pensando". e se você ainda não sabe disso. Benny só ficava lá parado.) Assim. muitos dos sujeitos demonstram um forte "efeito meramente contemplativo": eles se sentem culpados e algumas vezes ficam zangados por terem pensado a respeito dessas escolhas terríveis.e um dos melhores momentos de seu programa era o esquete no qual um assaltante punha uma arma em suas costas e gritava "A bolsa ou a vida!". Vão aprender alguma coisa e. filhos ou à fidelidade ao seu país é se desqualificar dos papéis sociais que o acompanham" (Tetlock et al. *** Apesar das conotações religiosas do termo. Espero que se envolva. acrescentar valor de moeda aos amigos. Aprendi bastante.ou pelo menos é assim que ele se apresentava no rádio e na televisão . por exemplo). Eu tenho valores sagrados . sem dúvida ofenderei alguns leitores e demonstrarei minha ignorância a respeito de questões que eles consideram da maior importância. 5). Deveria ser impensável. O comediante Jack Benny era famoso por sua contundência . o que há de errado com você? "Transgredir esse limite. este livro poderá fazer algum bem se pelo menos aumentar o nível de caridade daqueles que se sentem culpados ao lê-lo! Se você se sentir contaminado por causa da leitura deste livro. 2004. respondia Benny. Como o modelo deles prevê. os sujeitos que tiveram de pensar a respeito de barganhas-tabu.no . E isso que faz da vida um valor sagrado. A vida é sagrada. mas. 2004) identifica os valores como sagrados quando são tão importantes para aqueles que os mantêm que o próprio ato de pensar sobre eles é ofensivo. "A bolsa ou a vida!". 2003. pensar se deveriam lê-lo seria tão vergonhoso como pensar se assistiriam a um filme pornográfico. mesmo quando fazem todas as escolhas acertadas.acha que ninguém deveria nem sequer pensar nesse tipo de barganha. (Pediu-se aos sujeitos-controle para pensarem em barganhas puramente seculares. Peço que eles resistam a se esconder por trás dessa desculpa e perseverem na leitura. e não precisa me agradecer pela inspiração. como comprar ou não partes de um corpo humano vivo para alguma finalidade rentável. p. significativamente. valores que simplesmente não estão livres de uma reavaliação. até os ateus e agnósticos podem ter valores sagrados. talvez você se ressinta. mas também vai ficar mais ansioso do que ficaria se trabalhasse esse ressentimento envolvendo-se em alguma limpeza moral. Isso é engraçado porque a maioria de nós . apesar de meus melhores esforços. ou pagar para alguém fazer o serviço militar em seu lugar. como contratar uma empregada ou comprar comida em vez de fazer alguma outra coisa. "Estou pensando. assim. Algumas pessoas acham que é profundamente imoral até pensar em ler um livro desse tipo! Para elas. Tetlock e seus colegas fizeram experiências engenhosas (e algumas vezes perturbadoras) nas quais os sujeitos da experimentação eram obrigados a pensar em "barganhas-tabu".de modo que houve mais que algumas poucas surpresas desajeitadas e desentendimentos constrangedores.religiosos ou não . repetia o assaltante com crescente impaciência.

Meus valores sagrados são evidentes e bastante ecumênicos: amor. (Esse. andar nu . o que deverá ceder quando eles entram em conflito. é fazer o papel de embaixador. às vezes deve permanecer oculta. Isso põe os meus valores sagrados para funcionar: quero que a solução para os problemas do mundo seja tão democrática e justa quanto possível.sentido de que me sinto vagamente culpado só de pensar se eles são defensáveis e de que jamais pensaria em abandoná-los (quero acreditar!) na resolução de um dilema moral. democracia. Ao mesmo tempo que reconheço que diversas pessoas religiosas nunca conseguiriam aceitar ler um livro como este . criticando e defendendo) as idéias principais dessa literatura. aqui. Mas é evidentemente falso que a religião seja natural nesse sentido. Espirrar e arrotar são naturais. dirigidos fundamentalmente a seus colegas de academia. portanto. não. Meu objetivo. mas não querem começar um diálogo com essas pessoas.au naturel . a saber: aquela que diz respeito aos seus fundamentos na razão.) Então eu quero dizer: "Religião é saudável. Outros autores escreveram há pouco tempo livros e artigos excelentes sobre a análise científica da religião. não adulterado. verdade e vida (na ordem alfabética). E essa tradicional abertura de mente dos filósofos para qualquer idéia que algumas pessoas acham imoral. e as que se referem à sua origem na natureza humana. 5. apresentando (distinguindo. Elas julgam que os filósofos deveriam ter a mente fechada quando se trata de determinados tópicos. Mas como sou um filósofo. História natural da religião] O que quero dizer quando falo de religião como fenômeno natural? Posso querer dizer que é como alimento natural . e se há alternativas melhores. há dois tipos de questão em particular que desafiam a nossa atenção. e tanto a democracia como a justiça dependem de serem postas à mesa para que todos vejam o máximo de verdade possível.é natural. não. de qualquer modo. Mas estou preparado para levar em consideração os valores alternativos e reconsiderar as prioridades que encontro entre os meus próprios valores. recitar sonetos. [David Hume. é o mito. e. por causa do amor àqueles que sofreriam se ela fosse revelada. afinal. não é um produto da atividade intelectual humana. justiça. lembrando que às vezes a verdade dói. "orgânico". RELIGIÃO COMO FENOMENO NATURAL Como toda investigação que se refere à religião é da maior importância. Sabem que partilham o planeta com outras pessoas que discordam delas. como muitas vezes tragicamente eles entram. Eles querem desacreditar. mas não foi o que eu quis dizer. usar roupas. As religiões são transmitidas .não apenas gostoso mas saudável. dá sustentação até a esses valores. aprendi como deixar de lado a vertigem e o embaraço de me perguntar o que. Mas é obviamente falso que a religião seja natural nesse sentido. Posso querer dizer que a religião não é um artefato. tenho a intenção de alcançar o mais amplamente possível o público de crentes. suprimir ou até matar esses outros. é boa para você!"? Isso pode ser verdade.essa é uma parte do problema que o livro tem a intenção de esclarecer -.

em verdade. por exemplo. é perfeitamente natural. tentativamente e a bem da ciência. talvez algumas curas de câncer sejam milagres. Você pode receber o nariz de seu pai e a aptidão para música de sua mãe por intermédio dos genes. adquire-a do mesmo modo como adquire a linguagem. escutar música tonai é natural. e no entanto. Note que pode ser verdade que Deus exista. e que portanto não envolve milagres. não. Há alguma verdade nisso: a religião não é um ato pouco natural. respectivamente. organismos. mas se você adquirir a religião de seus pais. como um conjunto complexo de fenômenos. a religião em si. nenhuma pessoa profundamente religiosa deveria fazer objeções ao estudo científico da religião com a pressuposição de que ela seja um fenômeno inteiramente natural. por intermédio da linguagem e do simbo. Então. para não falar do alarde semanal feito por pesquisadores e clínicas no mundo inteiro anunciando uma cura "milagrosa" para o câncer.aspecto há muito Reconhecido pela Igreja católica. não. e mostrar que a ciência foi inteiramente incapaz de explicar os fenômenos. por meio da educação. Posso querer dizer que a religião é natural como oposta ao sobrenatural. Tanto o esporte como o câncer são amplamente reconhecidos como fenômenos naturais. mas tomar um martíni seco. que pelo menos dá alguns passos para submeter as suposições de milagres feitos pelos candidatos à santidade à investigação científica objetiva. posso querer dizer que a religião está fazendo o que vem naturalmente. não estou prejulgan. olhar o pôr-dosol é natural. não. em dois famosos passes para touchdown. beber leite é natural. a única esperança de um dia chegar a demonstrar isso para um mundo em dúvida seria adotar o método científico. não é um gosto adquirido ou um gosto artificialmente cuidado ou educado. mas olhar os últimos quadros de Picasso. Dando uma ênfase ligeiramente diferente. Desse modo. e esse será um aspecto explorado neste livro. consciente e amoroso de todos nós. apesar dos bem conhecidos exageros de diversos divulgadores. a única maneira . Ninguém pensaria que escrever um livro subintitulado Esporte como um fenômeno natural ou Câncer como um fenômeno natural é ateísmo. que Deus seja mesmo o criador inteligente. mas ouvir música atonal. (Estou pensando. mas escrever. e não sobrenaturais. ou então estarão desperdiçando seu tempo . Ao supor que a religião é um fenômeno natural. é claro que isso não é o que quero dizer com o termo natural. conhecidos. no futebol americano. ainda assim. padrões e coisas parecidas que obedecem. Isso não condena o veredicto de que sejam. não. a melhor maneira . E é isso que quero dizer. se houver realmente milagres envolvidos nela. como Ave Maria e Imaculada Recepção.) Esporte e câncer são objetos de intenso escrutínio científico por parte de pesquisadores que trabalham em diversas disciplinas e cultivam credos religiosos diferentes. Caçadores de milagres devem ser cientistas escrupulosos. não por meio dos genes. Nesse sentido. Se assim for. Todos eles pressupõem. que os fenômenos que estudam são naturais. todos. com sua suposição de que não existem milagres. que é um fenômeno humano composto de eventos.do seu valor para a vida . A recusa de agir sob essas regras só cria a suspeita de que a pessoa não acredita realmente que a religião seja sobrenatural.culturalmente. objetos. estruturas. falar é natural. Se não for inteiramente natural.de mostrar isso aos que duvidam seria a demonstração científica. Talvez haja esportes que desafiam as leis da natureza.lismo. Mas isso não é o que quero dizer. às leis da física ou da biologia.

A idéia perigosa de Darwin .ela impõe a lealdade e molda tantas vidas com tamanha força? Essa é a questão principal de que tratarei aqui. mas esse não é de fato meu intento. Tudo bem. é natural. Desta vez estou procurando o outro caminho de Hume. tanto os pássaros como os aviões. para a questão filosófica tradicional que algumas pessoas insistem ser a única questão: se há ou não bons motivos para acreditar em Deus.para acreditar em Deus. dedicamos tempo e energia consideráveis. e precisamos entendê-los melhor se quisermos tomar decisões políticas bem informadas e justas. muitas pessoas profundamente religiosas insistem em que todos esses argumentos . e por que . podemos dizer . o bom. seus famosos Diálogos sobre a religião natural (1779). em algum momento de nossas vidas. para que a religião? O que é esse fenômeno ou conjunto de fenômenos que significam tanto para tantas pessoas. O outro era a respeito do "fundamento sobre a razão" da religião. A religião. e isso inclui tanto as selvas como as cidades. e sua frase inicial é a epígrafe desta seção.simplesmente estão longe da questão da religião. do mesmo modo que o amor e a música.qualquer motivo científico. Muitos de nós. Além disso. Há algum tempo decidi que rendimentos minguantes se puseram ao lado dos argumentos sobre a existência de Deus.ou como . o mau e o feio. devemos tomar fôlego e deixar de lado nossa relutância tradicional em investigar cientificamente os fenômenos religiosos. Um era sobre a religião como fenômeno natural. e argumentos contra a existência de Deus. como o Argumento do Projeto e o Argumento Ontológico. As religiões estão entre os fenômenos naturais mais poderosos no planeta. Mas eu não.6 *** Capítulo 1. seria uma crença que fosse tão bem sustentada por provas e argumentos quanto a teoria da gravitação de Newton ou a geometria plana. e sua demonstrada falta de interesse nos argumentos con. a examinar os argumentos a favor e contra a existência de Deus. de modo . como o Argumento do Mal. A religião natural.Hume é mais um dos meus heróis -. Aqueles que persistem na convicção de que sabem que Deus existe e podem prová-lo terão seu dia no tribunal.venceram-me de sua sinceridade.humana. e muitos brights continuam a perseguir essas questões. Embora haja riscos e desconfortos envolvidos nesse tema. Nesse sentido de natural. e a beleza de um arranha-céu não é menos natural que a beleza de um pôr-do-sol. brights.dos dois lados . As ciências naturais consideram qualquer coisa na natureza como sendo objeto seu. o insignificante e o essencial também. qualquer coisa artificial é natural! A represa de Assuã não é menos natural que a represa feita por um castor. e duvido que haja em vista qualquer nova descoberta dos dois lados. demolindo vigorosamente os argumentos dos crentes como se tentassem refutar uma teoria científica rival. Eu dei aos Diálogos de Hume um lugar de honra no meu livro de 1995. de modo breve. para Hume. a guerra e a morte. Há mais de duzentos anos David Hume escreveu dois livros sobre religião. Os filósofos têm levado dois milênios ou mais arquitetando e criticando argumentos para a existência de Deus. que depende das revelações da experiência mística ou de outros caminhos extracientíficos para a fé. e uma vez separadas e esclarecidas (não resolvidas) algumas respostas conflitantes à questão. de um jeito ou de outro. Ele a contrastava com a religião revelada. Mas também são naturais fumar. teremos uma nova perspectiva a partir da qual olhar. Então. Hume queria ponderar se haveria algum bom motivo -. de modo que você poderia pensar que tenho a intenção de aprofundar a questão neste livro.

e descobrir como deveríamos lidar com todas no século xxi.a compreender como e por que as religiões inspiram tal devoção. e há desconfianças a serem atendidas. Há obstáculos ao estudo científico da religião. . Uma exploração preliminar mostra que é tanto possível como recomendável dirigirmos nossas luzes investigativas mais fortes para a religião. *** Capítulo 2.

instituições. é o reino da moralidade e do significado da vida. "Louva o Senhor e passa a munição!" . ALGUMAS QUESTÕES A RESPEITO DA CIÊNCIA 1. seria passível de ser estudada tanto por neurocientistas como por psicólogos. pontes suspensas e catedrais tanto obedecem à lei da gravidade como estão sujeitas ao mesmo tipo de forças e tensões. No entanto. na cabeça dos religiosos. do ponto de vista zoológico. Uma cruzada ou uma jihad podem ser investigadas por pesquisadores no interior de diversas disciplinas. O magisterium da ciência é a verdade factual sobre todas as questões.2. ou escuta preces). desde que nenhuma delas invada a região especial da outra. práticas. Vista como exemplos de engenhosidade. é um animal exclusivo. decorar a tabela periódica dos elementos é o mesmo tipo de fenômeno que decorar o Pai-Nosso. uma vez que. ela propunha abandonar qualquer reivindicação religiosa com relação às verdades factuais e ao entendimento do mundo natural (inclusive as alegações de que Deus criou o universo.como dizia uma canção da Segunda Guerra Mundial. o já falecido Stephen Jay Gould defendeu a hipótese política de que ciência e religião são duas "magisteria que não se sobrepõem" . sua proposta não encontrou muita aprovação de qualquer dos dois lados.dois domínios de interesse e especulação que podem coexistir pacificamente. Estará a religião fora de limites para a ciência? Tudo depende do que você quer dizer. O crescimento do pensamento biológico] TEM HAVIDO alguma confusão a respeito de saber se as manifestações terrenas de religião deveriam contar como parte da natureza. Se você se refere a experiências religiosas. Encarada como o exercício de competência cognitiva. enquanto na cabeça dos seculares ela dava autoridade demais à religião em questões de ética e significado. conflitos e história do Homo sapiens. da antropologia e da história militar à nutrição e à metalurgia. então esse é um catálogo volumoso de fenômenos inquestionavelmente naturais. alucinação induzida por drogas e êxtase religioso. A logística das guerras santas não difere da logística de conflitos inteiramente seculares. artefatos. A CIÊNCIA PODE ESTUDAR A RELIGIÃO? Com certeza. argumentava ele. Considerada como estados psicológicos. [Ernst Mayr. Gould expôs . e o magisterium da religião. textos. ou que faz milagres. tanto romances de mistério quanto a Bíblia estão sob as regulamentações da economia. Considerada como um artigo manufaturado vendável. diferindo de todos os outros de tantos modos fundamentais que se justifica uma ciência separada para o homem. Em seu livro Rocks of Ages (1999). Embora o desejo de Gould pela vigência da paz entre essas duas perspectivas freqüentemente em guerra fosse risível. o homem é um animal.

a estudar o fenômeno natural da religião com os olhos da ciência contemporânea. Deixamos de reunir muitas informações a respeito de algo que tem grande importância para nós. Normalmente você não se dá conta de seus próprios pontos cegos. Há séculos de estudos ricos de insight a respeito da história e da variedade dos fenômenos religiosos.nianos. Essa obra. deferentes. um freio em seu entusiasmo. do mesmo modo que a pujança dos dedicados observadores de pássaros e outros amantes da natureza antes da época de Darwin. Podemos ser igualmente gratos ao fato de que quase toda a "história natural da religião" tenha sido acumulada. até agora. não uma pergunta religiosa. a pesquisa dificilmente tem sido neutra. presumivelmente. Até esta data. mas o argumento de que todos os conflitos entre as duas perspectivas se devem à reação excessiva de um lado ou do outro é implausível. minha proposta é diferente. e poucos leitores ficaram convencidos dele. é claro. É preciso uma provocação especial como essa para fazer com que a ausência de informação se revele para nós. Por esse motivo. Teria ele razão? Esta seria. porque muitas pessoas encaram a própria neutralidade como hostil. uma pergunta científica. Pode ser que haja algum domínio no qual só a religião tenha autoridade. os pesquisadores quase nunca tentaram ser neutros. Uma das descobertas surpreendentes da psicologia moderna é como é fácil ser ignorante a respeito da nossa própria ignorância. pelo menos inconsciente dos tipos de teorias que agora podem ser comprovadas ou minadas por ela. e as pessoas ficam em geral pasmas ao descobrirem que não vemos cores na nossa visão periférica. hesitantes . Mas. mas não vemos. mesmo que esta tenha sido informal. eles têm uma tendência a errar pelo lado da deferência. O próprio livro de Gould era supostamente um produto de tal investigação científica. . É isso ou hostilidade aberta. Os pesquisadores tendem a ser respeitosos. Nós não abordamos os fenômenos religiosos e os estudamos de forma direta. ao passo que a religião possa. como você pode verificar por si mesmo balançando cartões coloridos na margem de sua visão . E é para a ausência de informação quanto à religião que quero chamar a atenção de todos. no entanto. mas isso não significa que a ciência não possa ou não deva estudar exatamente esse fato. como é claro que a religião significa tanto para tanta gente. pela primeira vez. Desse modo. Não é verdade que temos examinado cuidadosamente a religião há muito tempo? Sim. tem construído uma fonte imensamente valiosa para aqueles pioneiros que agora começam. A inocência teórica deles foi. As descobertas de Darwin na biologia foram possíveis pelo seu profundo conhecimento da riqueza de detalhes empíricos armazenados com escrúpulo por centenas de historiadores naturais prédarwinianos e não-darwi.ou hostis. As pessoas querem estudar religião. possa-se ou não defender a proposta de Gould. não tinham coletado os fatos com o objetivo de provar que a teoria de Darwin estava correta. o que a religião faz. cientificamente. simplesmente como se fossem fósseis ou grãos de soja num campo. calçando luvas de pelica. mas não será capaz de identificar a cor do que está se movendo. Parece que vemos.você verá o movimento muito bem. invasivos e desdenhosos. algum reino da atividade humana que a ciência não consiga explicar adequadamente. Se você não estiver conosco. está contra nós. mas que deveria estudar. se não de modo teoricamente inocente. na verdade. factual. em geral. Isso pode ser surpreendente. Não estou sugerindo que a ciência devesse tentar fazer o que a religião faz. ela própria.exemplos claros de tolice desavergonhada dos dois lados. Ele olhou a religião com olhos de cientista e achou que podia ver um limite que revelava dois domínios de atividade humana. É impossível ser neutro na abordagem da religião. tem havido um padrão infeliz no trabalho realizado. diplomáticos.

não é uma ciência de foguetes". pelo menos. os melhores alunos olham tudo. durante todo esse período. Uma das questões é que as pessoas acham que já sabem tudo o que precisam sobre a religião. batalharam. mas uma calamidade moral. aparece uma expressão perplexa no olhar dela. durante algum tempo. verdadeira ou falsa. vai ser difícil fazer algo diferente da triste aura de baixo prestígio. adotam diversos passos de comprovação para evitar que seus pontos de vista contaminem a coleta de provas: experiências com duplo-cego. Ou. sabendo disso. a ciência cognitiva e os diversos ramos da biologia da evolução .] [Citado em Bambrough. Em geral. Mas estas têm de lutar contra algumas reputações pouco invejáveis. revisão pelos pares. e o tempo todo . que atraiu muitas das cabeças mais inteligentes. cientistas políticos -. atraindo aqueles cujos interesses se combinam bem com a área. ou querem demonstrar a irracionalidade e futilidade da religião. e essa sabedoria recebida é bastante insípida. e se não ficam bem impressionados com o trabalho ao qual são apresentados no primeiro curso de uma área. um respeitado filósofo da religião. Hoje. Ou querem defender sua religião favorita das críticas. e dos corajosos neurocientistas e outros biólogos que resolveram examinar o fenômeno religioso com os instrumentos de seu ofício. Se você está em uma conferência de filósofos e alguém pergunta em que você está trabalhando. genética. É também dos sociólogos da religião. Na verdade. veio a ciência da computação.bioinformática. a física ainda era o campo mais atraente. a psicologia social e o meu próprio campo. eles riscam aquela área de sua lista para sempre. a sociologia e a antropologia. psicólogos da religião e outros cientistas sociais . e isso tende a contaminar o método com um desvio. a corrida à Lua atraiu mais talentos do que deveria. no estudo da religião. a filosofia.por algum motivo pessoal. e você diz filosofia. Como o meu velho amigo e antigo colega Nelson Pike.back: os cientistas não querem lidar com colegas de segunda classe. Essa auto-seleção é um modelo frustrante que começa quando os alunos pensam a respeito de "escolher um tema principal no início da faculdade. não é provocante o suficiente para inspirar a refutação ou o aprofundamento. você tende a não usar todos os controles. entre eles algumas pessoas brilhantes. (Um vestígio fóssil é a expressão "Ei. como sabemos desde o início que muita gente acha que esse tipo . mas. é isso o que tem parecido muitas vezes aos observadores. calúnias e resultados duvidosos que atualmente envolve o tema da religião.) Em seguida.durante meio século ou mais . na época.economistas. Em todos os campos os cientistas têm teorias que eles esperam confirmar. E. Se você pensar que a falta de confirmação de uma hipótese a respeito de um ou outro fenômeno religioso não seria apenas uma rachadura indesejável na fundação de alguma teoria. Se você está na companhia de professores de diversos departamentos e alguém pergunta qual a sua área. parece que as apostas têm sido mais altas.a biologia. e você diz filosofia da religião [. aparece uma expressão perplexa no olhar dela.. e alguém pergunta o que você faz. Quando eu era aluno de graduação. disse..estão em crescimento. Mas. e você diz que é professor universitário. ou hipóteses-alvo que anseiam por destruir. testes estatísticos e muitas outras restrições-padrão de bom método científico. Essa impressão. em especial a biologia molecular. se você resolve construir uma barreira impermeável entre cientistas e um fenômeno inexplorado. e. criou um ciclo positivo de feed. com pesar: Se você está na presença de pessoas de ocupações diversas. Mas. biologia comportamental . 1980] Esse problema não é exclusivo dos filósofos de religião. de modo que tendem a se manter afastados de tópicos nos quais 'percebem o que consideram um trabalho medíocre. Essas distorções não são inevitáveis.

Suspeita mútua e ciúmes profissionais. efeitos de interferência do investigador e interpretação dos dados. de fato. que foi prevista durante dois séculos. levados por curiosidade insaciável. aprendeu-se muito a respeito de como estudar fenômenos humanos. hinduísmo e algumas outras grandes organizações religiosas multinacionais. Eu mesmo sentia isso até recentemente. e as populações passam a ser mais nitidamente divididas do que nunca entre cristianismo. e a religião fica mais importante que nunca. e começamos a deixar de lado os modelos ultra-simplificados de percepção humana. as explosões de fervor e fanatismo de hoje não passam de uma transição breve e desajeitada para uma sociedade realmente . mas muitos cabos foram jogados por cima do fosso. uma fé fundamental varre o planeta. Esses obstáculos podem ser suplantados. não é tão surpreendente que poucos bons pesquisadores de qualquer disciplina queiram encarar esse tema.de pesquisa viola um tabu. DEVERIA A CIÊNCIA ESTUDAR A RELIGIÃO? Olhe antes de pular. ou pode ser apressada por alguma catástrofe -. A religião está em seus estertores de morte. como desvios na coleta de dados. O Iluminismo já acabou faz tempo. melhorar nosso mundo? O que sabemos sobre o futuro da religião? Pense sobre cinco hipóteses inteiramente diferentes: 1. ou que pelo menos se intromete em questões que é melhor deixar no domínio privado. continuam a sacudir quase todos os esforços para levar os insights de um lado para outro nessas rotas de conexão. No século xx. "A raposa e a cabra"] Pesquisa é algo caro e que às vezes tem efeitos colaterais. está se evaporando diante dos nossos olhos. Por fim . islamismo. judaísmo. Nesse cenário. a arrepiante "secularização' das sociedades modernas. e a substituí-los por modelos mais fisiológica e psicologicamente realistas. além de genuína controvérsia teórica. motivação e controle de ações. 2. A questão não é se a boa ciência da religião como fenômeno natural é possível: a questão é se devemos fazê-la. Uma das lições do século xx é que os cientistas não estão livres da tentação de forjar justificativas para o trabalho que querem fazer. a religião logo retoma uma função parecida com o papel social e moral dominante que tinha antes do surgimento da ciência moderna no século xvn.pode levar ainda mais um milênio. A crescente fissura que separa as ciências da mente (Gesteswissenshaften) das ciências naturais (Naturwissenschaften) ainda não conta com uma ponte segura. para tentar desenvolver a ciência natural da religião? Será que precisamos dela para alguma coisa? Será que ela nos irá ajudar a escolher políticas. bons motivos. Técnicas estatísticas e analíticas ficaram muito mais sofisticadas. fenômenos sociais. A maré está virando. Levas de pesquisas e críticas aguçaram nossa avaliação a respeito de armadilhas especiais. resolver problemas. mas o tráfego cresce a cada dia. Haverá. a identidade espiritual passa a ser o atributo mais valorizado de uma pessoa. além de pura curiosidade. emoção. 2. [Esopo. A medida que as pessoas se recuperam de seu fascínio pela tecnologia e os confortos materiais.

e a rivalidade amigável leva a um grau de especialização. Nós estamos em campos opostos sobre religião. Nesse cenário. Uma religião se orgulha de sua administração ambiental. as principais religiões do mundo vão ser extintas como as centenas de religiões secundárias que desaparecem tão rapidamente que os antropólogos mal conseguem registrá-las. e o resto fica para trás para sofrer a agonia dos condenados.você gostaria que sua filha se casasse com um torcedor dos Corinthians? -. Arte e música religiosas florescem. O notável nesse conjunto é que qualquer pessoa irá considerar pelo menos uma delas absurda. e até algumas catástrofes violentas. Como as profecias da Bíblia previram. uma vez que há aqueles que dizem não poder viver sem ela.thians. O Dia do Julgamento chega. quando a Segunda Vinda de Cristo varre todas as outras hipóteses para o esquecimento. A religião diminui em prestígio e visibilidade. ao mesmo tempo que outra se torna devidamente famosa por sua organizada defesa da justiça social e da igualdade econômica. As pessoas agem de acordo com aquilo que anseiam. o renascimento da nação de Israel em 1948 e o permanente conflito a respeito da Palestina são sinais claros do Fim dos Tempos. Nesse cenário. de modo que podemos prever problemas que vão desde os esforços desperdiçados e as campanhas contraproducentes. mas essas cinco hipóteses sublinham os extremos que devem ser levados seriamente em conta. usando a cerimônia e a tradição para cimentar relacionamentos e construir "fidelidade de fãs de longo prazo". para dizer o mínimo. canções e gritos diferentes. símbolos diferentes e competição vigorosa .moderna. ou perturbadora.ou atribulações. na qual a religião represente no máximo um papel de cerimônia. é claro. é tolerada. ou até mesmo profundamente ofensiva. como os politicamente incorretos insistem em chamá-las. do mesmo modo como fazer comentários em público sobre sua sexualidade ou se a pessoa é divorciada. todo mundo aprecia a importância da coexistência pacífica numa Copa Global de Religiões. e o ensino de religião para crianças pequenas impressionáveis é desaprovado na maioria das sociedades. Outras possibilidades podem ser descritas. até a guerra generalizada e a catástrofe genocida. 3. e até mesmo proibido em outras. fora alguns poucos enraivecidos. 5. mas cada uma delas não apenas é prevista. embora possa haver alguns revivais locais e temporários. mas poucos proclamariam suas filiações religiosas . Religiões se transformam em instituições diferentes de qualquer outra coisa vista antes no planeta: basicamente associações sem credos que vendem auto-ajuda e capacitam grupos de trabalhos morais. 4. mas. E considerado falta de educação chamar a atenção para a religião de alguém. mas é desencorajada. Cores diferentes. . os políticos que ainda praticam religião podem ser eleitos se provarem que são dignos em outros aspectos. caso não tenhamos. fornecendo água limpa para os bilhões do mundo. ou do Corin. mas ansiada. assim como fumar. ser membro de uma religião se torna cada vez mais semelhante a ser um torcedor do Flamengo. Nesse cenário. a Cidade do Vaticano passa a ser o Museu Europeu do Catolicismo Romano. já que o Anticristo foi vencido. No período de vida dos nossos netos. e Meca é transformada em Reino Mágico de Alá da Disney. se tivermos sorte. Os abençoados sobem corporalmente ao céu.

A esse respeito. Não fazemos isso por meio de profecia milagrosa. o resto não apenas está errado. podemos prever os efeitos sobre as atmosferas dos métodos pelos quais geramos eletricidade. Aceitamos o proveito de estudar intensamente El Nino e outros ciclos nas correntes oceânicas para que possamos melhorar as previsões meteorológicas. não ia acontecer. na televisão. Evitamos colapsos econômicos em anos recentes porque nossos modelos econômicos mostraram-nos problemas iminentes. já que é bastante evidente que a complacência e a ignorância poderão nos levar a desperdiçar nossas oportunidades de orientar os fenômenos nas direções que consideramos benignas. mas ninguém sabe. Sabemos quando os eclipses vão ocorrer com séculos de antecedência. não importa quais sejam. Reunimos informações sobre o ambiente. Retiramos minério das minas. e nem sequer lhes passa pela cabeça que o curso dos eventos futuros pode ser determinado a partir do interior dos poderes humanos. essas são as conquistas da nossa espécie. e depois o público ficar pouco impressionado com a tempestade real.e por quê. mas muito errado. com bases nessas informações. já que tinha chegado antes da época habitual. ou outra tempestade. aprendemos como prever e quando evitar as catástrofes que costumavam ficar em um ponto cego. Os demais têm ainda mais motivos para investigar os fenômenos. depois o refinamos. o que irá acontecer quando as reservas de petróleo diminuírem nas próximas décadas. os efeitos de um furacão em curso. com muita incerteza. mas as recomendações de vacinação foram de tal modo seguidas que a epidemia acabou tão rapidamente quanto começou. Eles classificam e avaliam suas fontes. Eles acham que há um motivo para investigar o futuro da religião. mas muito melhor do que o método de jogar uma moeda para o alto. mas com percepção básica. multiplicar o suprimento de previsões do planeta em muitas ordens de magnitude.' Conseguimos recentemente impedir um desastre global causado pelo crescente buraco na camada de ozônio porque alguns químicos de longa visão conseguiram provar que alguns de nossos compostos manufaturados causavam esse problema. pense você que ela deva se transformar ou continuar do jeito que está. em termos gerais.Apenas uma dessas hipóteses (no máximo) se mostrará verdadeira. Uma catástrofe evitada é um anticlímax. vale a pena notar a assiduidade com que aqueles que acreditam firmemente na hipótese número 5 examinam as notícias do mundo à procura de provas de profecias realizadas. é claro. em poucos milênios de cultura humana. não importa o que aconteça. dificilmente poderá negar que. debatendo os prós e os contras de diversas interpretações dessas profecias. Amém. queixamo-nos. isso terá um tremendo significado para o planeta. "Vê?". Conseguimos. de modo que tendemos a não nos dar conta de como são valiosos os nossos poderes de previsão. que a destruição é minimizada. conseguimos prever. os meteorologistas exagerarem. conhecer mais a respeito daquilo que tem probabilidade de acontecer . prever o futuro. "Afinal de contas. Olhar para adiante. e ele nos permite que vejamos o futuro . Seria útil para suas esperanças. Em todas as áreas de interesse humano. usando nossos sentidos. Passou a ser mais ou menos um costume. Muitas pessoas acham que sabem qual hipótese é a verdadeira.fracamente. repetidas vezes. Mantemos registros completos de muitos eventos econômicos para que possamos fazer uma melhor previsão . e então lançamos mão da ciência para alicerçar nossas previsões." A temporada de gripes de 2003-2004 foi prevista como severa. Será que esse fato por si só não basta como motivo para estudar a religião cientificamente? Queira você que a religião floresça ou desapareça. Mas avaliações ponderadas mostram que muitas vidas são salvas. ultimamente.

temo que. Em geral. estou especialmente preocupado em abordar os que odeiam essa idéia. ela vai se sair muito bem. nossos esforços quase com certeza irão falhar. melhor. e poderemos nos concentrar nas poucas patologias periféricas das quais a religião. o que não é preciso declarar e que aqui não conta para nada. já que a incerteza não é o único fator que pode diminuir a probabilidade de uma pessoa alcançar suas metas. passaremos aos nossos descendentes um legado de formas cada vez mais tóxicas de religião.se torne um adequado objeto de estudo científico. Sempre há riscos. e minimizamos a violência e a degradação. como qualquer outro fenômeno natural. e aprendemos a não eximir o mundo dos bancos e seguros de um exame intenso e contínuo. Eu.fora a fidelidade às tradições. Suponha que haja um limite para o máximo de conhecimento sobre algum tópico que é bom para você. tão influentes.qualquer religião . Por isso. e os que têm certeza absoluta de que isso não irá acontecer são encorajados a afirmar aquilo que sustenta suas convicções . Não permitiríamos que os interesses mundiais na produção de alimentos nos desviassem do estudo da agricultura e da nutrição humanas. e os que acham a proposta malévola . Sim. o que estou pedindo é um esforço orquestrado para formar uma concordância mútua sob a qual a religião . mas ainda não vi qualquer argumento que me convença disso. e esse custo pode ser alto. mas é preciso perseverança. aqueles que estão ambivalentes e duvidam de que ela seja de grande valor. perigosa e burra. e trabalharmos juntos em quaisquer revisões e reformas necessárias. quanto mais cedo identificarmos os problemas. acho que as opiniões estão divididas entre aqueles que já estão convencidos de que essa seria uma boa idéia. pelos mesmos motivos. Não querendo pregar para os convertidos. na esperança de convencê-los de que a repugnância deles está mal colocada. Os únicos argumentos que vale a pena satisfazer terão de demonstrar que (i) a religião fornece benefícios indubitáveis à humanidade. uma vez que a ansiedade dela pode estar mal colocada. por exemplo. É uma tarefa atemorizante. Os efeitos deles são importantes demais para ficarmos confiantes. Quando lutamos para resolver as terríveis desigualdades econômicas e sociais que atualmente desfiguram nosso planeta. aos fenômenos religiosos. A pesquisa em si irá gerar algum desconforto ou constrangimento? É quase certo. como a religião. uma intervenção a tempo poderá fazer muita diferença. Não posso provar essa hipótese. motivo pelo qual "Improvise!" pode ser um bom conselho. como tentar convencer sua amiga com sintomas de câncer de que ela realmente deveria ir ao médico já. e logo iremos examinar o melhor deles. Se for fundamentalmente benigna. mas o preço é baixo. Amigos podem ficar bastante aborrecidos quando você interfere em suas negativas nessas ocasiões. e que se ela tiver câncer.econômica. mais cedo poderá prosseguir com sua vida. é presa. Deveríamos estender esse mesmo escrutínio aprofundado. Será que vale a pena correr esse risco? Talvez não. O preço de saber (como o preço de vir a saber) deve ser computado. se não submetermos a religião a tal escrutínio agora. Isso não é apenas uma verdade da lógica. saber mais melhora nossas probabilidades de conseguir aquilo a que damos valor. Se for assim. então. Caso contrário. sempre que esse limite for alcançado (se isso . Nesse aspecto. as suspeitas serão acalmadas. e isso poderá ainda piorar a situação. eu quero pôr a religião na mesa de exame. Poucas forças no mundo são tão potentes. como insistem muitos de seus devotos. devemos reconhecer que. se há um ponto cego a respeito da religião. ou até incapacitada? E claro que sim.ofensiva. Haverá risco de que tal exame invasivo torne doente uma religião sã. e quanto mais cedo ela souber disso. e (2) esses benefícios provavelmente não sobreviveriam ao exame.

]" Eu respondo: "Mas traz grande consolo e alegria .. há muito considerada um dos mais puros tesouros da cultura humana. Isso pode ser um princípio que nunca venha a entrar em ação. "Mas por quê? . Precisamos pensar sobre essas possibilidades com cuidado. contribuindo significativamente para as tendências agressivas. É assim que eu ficaria tentado a responder.poderia perguntar alguém. e pronto .. Exposição desde cedo e habitual à música. Ao tentar imaginar quais seriam suas reações emocionais à minha proposta. um grande fator de risco para o mal de Alzheimer e as doenças cardíacas. não ficam horrorizados com a idéia dessa experiência. [Joseph Addison] Não é estranho que as tripas de carneiros puxem as almas para fora do corpo dos homens? [William Shakespeare] Não que eu não simpatize com o desgosto daqueles que resistem à minha proposição. um distorcedor de humor que impede o juízo. de maneira sutil. Essa reflexão põe a convicção islamítica2 de que a ciência ocidental é ruim sob uma luz diferente: pode ser menos um engano ignorante do que uma visão profundamente diferente de onde está o limiar. sejam acerca de se alcançamos esse limite. Não alimenta os famintos nem cura o câncer ou [. Um painel de pesquisadores recomenda que as pessoas restrinjam suas doses de música a não mais de uma hora por dia (incluindo tudo. mas deletéria. é na verdade ruim para a sua saúde. como eu. 3. torna a pessoa 40% mais propensa a sofrer de depressão. e que a prática amplamente disseminada de aulas de música para as crianças seja imediatamente suspensa. então. o maior bem que os mortais conhecem. (Agora estou falando àqueles que. como se fosse uma atividade anti-social.) Imagine como você se sentiria se lesse na seção de ciência do The New York Times que pesquisas recentes realizadas na Universidade de Cambridge e no Caltech demonstraram que a música. Pode ser. que alguns de nossos maiores desentendimentos no mundo. tanto fazendo como escutando. E todo o céu que temos aqui embaixo. diminui uma média de dez pontos no Qi e quase dobra a probabilidade de que ela cometa um ato de violência em algum momento de sua vida. cheguei a uma perturbadora experiência do pensamento que me parece funcionar. Eu preferiria não viver num mundo sem música.vamos ter música. hoje.for possível . e certamente deveríamos aceitá-lo. Não me importa se me 'faz mal'. desde música de elevador e música ambiente na televisão a concertos sinfônicos). "A música não passa de bobagem de serrar e fazer barulho juntos. porque uma vida sem música não vale a pena ser vivida. a xenofobia e o enfraquecimento da vontade. Algumas vezes a ignorância é uma bênção. Fora a suprema descrença com que eu acolheria um relatório com tais "descobertas". posso detectar em minhas reações imaginadas uma onda defensiva visceral. mas não sabemos disso. PODERIA A MÚSICA SER RUIM PARA VOCÊ? A música. junto com as frases "Azar de Cambridge e do Caltech! O que eles sabem sobre música?" e "Não estou nem aí se for verdade! E quem quer que tente tirar minha música é melhor estar preparado para uma briga. e nem me incomodo se 'faz mal' a outras pessoas . deveríamos proibir ou pelo menos desencorajar fortemente qualquer outra busca de conhecimento sobre aquele tópico.o limite poderá ser inalcançável por um motivo ou outro).

Sob outros aspectos. e também a música. "Bem. A idéia não é claramente insana. contraponto. A música pode ser o que Marx disse da religião: o ópio do povo. e.que afirmavam que a música é um passatempo ruim. ódio étnico e guerra. nem mesmo os que tocam acordeom. Etnomusicólogos estudaram a evolução de estilos e práticas musicais em relação a fatores sociais. E não devemos deixar que as pesquisas existentes resolvam o assunto. Ou seja. nenhum pogrom foi instituído contra os amantes de valsas. há excessos e controvérsias. Vamos descobrir por que as pessoas amam suas religiões e para que elas servem. . o mesmo que eu sinto pela música.os talibãs. Se pessoas críveis me disserem que a música pode ser danosa ao mundo. a Guerra da Coréia e a Guerra do Vietnã. unindo as fileiras e dando coragem a todos. Só porque tenho tanta certeza de que a música não faz muito mal é que posso curti-la com uma consciência tão pura. mas mesmo assim ninguém pode duvidar que a música é. vem a resposta. é". há relativamente pouco tempo. em todos os sentidos. ragas ou tangos. ou a respeito da história de todo tipo de instrumento.harmonia. por exemplo. a música parece muito menos problemática que a religião. e músicos carismáticos podem ter abusado sexualmente de um número chocante de jovens fãs suscetíveis. e seduzido muitos outros a largarem a família (e o juízo). uma coisa boa". a religião salva vidas. econômicos e outros aspectos culturais. Não há falta de pesquisa profissional sobre teoria musical . Há seitas religiosas . do mesmo modo que não aceitamos como verdadeiras as campanhas dos fabricantes de cigarros a respeito da segurança do fumo. ritmo .a centenas de milhões de pessoas. Nenhum músico teve qualquer fatwa pronunciada contra ele por organizações musicais. Mas não é a hipótese de que os custos da religião ultrapassam os benefícios ainda mais absurda que a fantástica alegação a respeito da música? Eu não acho. então terei de pensar seriamente a respeito de como viver sem ouvir música. se realmente for verdade que a música causa câncer. e sem dúvida outras . Na verdade. a música iniciou algumas desordens. a respeito da religião. e neurocientistas e psicólogos têm. já que a música é outro fenômeno natural que tem sido competentemente estudado há centenas de anos.perguntem àqueles soldados norteamericanos para os quais o fumo era um consolo ainda maior que a religião durante a Segunda Guerra Mundial. Populações inteiras não foram levadas a tocar escalas obrigatórias ou mantidas na penúria para montar salas de concerto com a melhor das acústicas e os melhores instrumentos. Estou preparado para examinar atentamente os prós e os contras da música. Certo. Eles podem ter razão. O fumo também . Reconheço que muita gente sente. Claro. A comparação da religião com a música é especialmente útil aqui. mas que só agora começa a ser objeto do tipo de estudo científico que estou recomendando. mas também seitas puritanas de antanho no cristianismo. vamos permitir que o assunto religião seja submetido ao mesmo tipo de indagação científica que é feita sobre o fumo e o álcool. de modo que devemos aceitar o ônus intelectual de mostrar que isso é um erro. um tipo de droga a ser proibida. vou me sentir moralmente obrigado a examinar as provas tão desapaixonadamente quanto puder. mas nunca houve cruzadas ou jihads por causa das diferenças de tradições musicais. mantendo os operários em submissão tranqüilizada.ou sobre as técnicas de se fazer música. eu me sentiria culpado a respeito de minha devoção à música se não as examinasse. No decorrer de milênios. Mas pode também ser a inspiração de canções revolucionárias. considerando todos os aspectos. Vamos descobrir.

em João 8. Desde o Iluminismo. medo da pressão política. e. em alguns detalhes.começado a estudar a percepção e a criação de música. e é verdadeira. que se queixou de que. Não seria . em suas limitações: existe porque nós gostamos dela. por exemplo. e ela tem alguns aspectos curiosos. Mas por que gostamos dela? Porque achamos que é bonita.tanto dentro como fora do mundo profissional? [William Masters e Virgínia Johnson. 4. e portanto continuamos a trazer mais música para a nossa existência. se quisermos ajustar nossas políticas em relação a coisas doces no futuro. quando finalmente conseguiu treinar seu burro para não comer. e a verdade vos libertará. porque elas podem ter razão. ainda aceita a música sem questionamentos. [Jesus de Nazaré. muitas pessoas bem informadas e brilhantes confiavam em que a religião desapareceria em pouco tempo. Raramente pergunta: por que a música existe? Há uma resposta mais curta. A maior parte dessa pesquisa. e. acima de tudo. Seja o que for que a religião nos dê. Mas só há um meio de as levarmos a sério: precisamos estudar a religião cientificamente. Não devemos cometer o erro do homem na velha piada. e precisamos calcular esses papéis e necessidades. A resposta sexual humana] E conhecereis a verdade. a besta do animal morreu. e algumas coisas pelo menos aumentam tanto a qualidade ou a capacidade de vida que nos arriscamos ao lidar com elas. Dessa vez vamos levar essas pessoas a sério. com a pergunta: por que gostamos de doces? Aqui sabemos a resposta do ponto de vista da evolução. 32] É hora de enfrentar a preocupação de que uma investigação possa na verdade matar todos os espécimes. muitos acham que não podem prescindir dela. à memória musical e temas cor. Muitos ainda estão esperando por isso. medo do fanatismo e do preconceito . medo da intolerância religiosa. destruindo algo de precioso em nome de descobrir sua natureza interior. é melhor conhecermos as bases evolutivas da atração que sentimos por elas.relatos. sendo objeto de um gosto humano que poderia ser satisfeito por outros meios.medo da opinião pública. mas até agora ainda não há uma boa resposta para ela. Nosso intelecto intrometido Deforma os belos feitios das coisas: --Assassinamos para dissecar. usando todas as mais recentes tecnologias para revelar os padrões de atividade cerebral associados à experiência musical. [William Wordsworth. porém. Mas por que ela é bonita para nós? Essa é uma ótima pergunta biológica. SERIA MELHOR DEIXAR PARA LÁ? É doce o conhecimento trazido pela natureza. medo das conseqüências sociais. de modo um tanto menos confiante. "The tables turned"] Então por que a ciência e os cientistas têm de continuar a ser governados pelo medo . no século XVIII. Compare-a. Não é por acaso que achamos as coisas doces do nosso agrado. Algumas coisas são necessárias à vida.

no máximo. ou até seriamente danificado.em outras palavras. para muita gente. mas. passar por cima dessa tradição não levou ao temido colapso da moralidade e da decência. por motivos forçados. de fato. e o ponto 2? Quanto mal supomos que uma investigação possa causar. com respeito ao último caso. teorias. suas perguntas. prolongar o isolamento de pessoas pondo-as. envolvendo capturar animais vivos e depois soltá-los. A religião parece.mais prudente deixar as coisas em paz? Como já observei. instrumentos musicais . O problema tático que nos confronta é que não há. embora seja algumas vezes uma idéia defendida. proceder tentativamente e considerar como o ponto 2 seria provável se assumíssemos.algumas vezes possa destruí-las de maneira irremediável. não consegui chegar ao caso de algum fenômeno que tenha realmente sido destruído. Vivemos em uma era em que os cadáveres humanos ainda são tratados com o devido respeito . Os biólogos que trabalham no campo muitas vezes são confrontados por um terrível dilema ao estudarem espécies ameaçadas: será que suas bem-intencionadas tentativas de recenseamento.vicejam quando estão sob análise. neste livro. a bem da argumentação. sinfonias. não obstante o ultraje e a repulsa com que a idéia de dissecção foi recebida na época. São pessoas. no entanto. animais e instrumentos musicais derivado da dissecção de alguns espécimes. sistemas jurídicos . animais. que a religião é mesmo algo de grande valor. Podemos assumir isso inocentemente até que se prove sua culpa . Então. rapidamente mudam a cultura que eles tanto anseiam conhecer.na verdade.poemas. ser a fonte de diversas coisas maravilhosas. com maior respeito e decoro do que eram tratados na época .rantes a serem abordadas mais adiante. a causa para dominar nossa curiosidade. Apesar de todas as advertências ao longo dos séculos. Mas embora não seja responsável negar que desmontar instâncias particulares de coisas maravilhosas . muito necessárias. (Se elas têm o direito de se manter ignorantes é uma das questões exaspe. acabam mesmo apressando a extinção da espécie? Quando os antropólogos estudam povos até então isolados e primitivos. e é difícil negar o benefício para outras plantas. e nós não devemos apenas fazer concessões por causa de um respeito sem sentido pela tradição. no pior dos casos? Será que ela não poderá quebrar o feitiço e nos desencantar para sempre? Essa preocupação tem sido uma base favorita para resistir à curiosidade científica durante séculos. Podemos. e não temos o direito de mantê-las ignorantes do mundo mais amplo que elas partilham conosco. em um zoológico cultural. algum tipo de camuflagem que livra das críticas. outras coisas maravilhosas .plantas. E devemos observar que.) Vale lembrar que foram necessários muitos anos aos bravos pioneiros para sobrepujar o forte tabu contra a dissecção de cadáveres humanos durante os anos iniciais da medicina moderna. aqui. tem duas partes: deverá mostrar tanto (i) que a religião oferece benefícios claros para a humanidade e (2) que esses benefícios teriam pouca probabilidade de sobreviver a uma investigação. não resiste a um exame mais atento. uma maneira de demonstrar o primeiro ponto sem de fato se envolver na investigação. podemos dizer que o ponto 1 ainda não ficou provado. não estudarás é uma política que pode realmente ser invocada com propriedade em determinadas ocasiões. Talvez esse próprio respeito seja como a camada exterior protetora que muitas vezes esconde vírus mortais de nosso sistema imunológico. na verdade. Com respeito a casos anteriores. mesmo que muito trabalhosa. exatamente como funciona o nosso sistema legal. mas outros duvidam disso. não importa quão discretas e diplomáticas. Agora. pelo escrutínio científico.

Alfred C. pois ele ilustra muito claramente as difíceis questões com as quais este livro está preocupado. mas o peso das provas que ele reuniu levou a conclusões surpreendentes que não precisaram mais que pequenos ajustes nas investigações mais bem controladas que se seguiram. a tolerância à homossexualidade e o maior conhecimento de como alcançar o orgasmo feminino forem exemplos dos benefícios que a ciência nos pode trazer.maravilha das maravilhas . Deixe-me pôr palavras na boca dessas pessoas: Se a masturbação não acompanhada de vergonha. então pior para a ciência. Masters e Johnson. ela contribuiu para uma explosão de pornografia e degradação. Pela primeira vez. tornados possíveis pela ciência invasiva e intrometida que Wordsworth deplora? Mais recentemente. Ao tratar o sexo como uma coisa natural (no sentido de nada há de que se envergonhar). Muitos concordarão comigo quando digo que. Você pode violar o tabu contra o estudo desapaixonado de um fenômeno . A resposta sexual humana (1966). eles dissiparam uma multiplicidade de mitos. e que cerca de 10% são homossexuais. nos anos 1940 e 1950. usando os instrumentos da ciência.função sexual. e . registrando as reações fisiológicas de voluntários envolvidos no ato sexual. Pelo menos nesse caso conseguiu-se quebrar e não quebrar o encanto ao mesmo tempo.eis um encanto quebrado .que as lésbicas são melhores que os homens para induzir orgasmos em mulheres. meninas e mulheres puderam saber que os orgasmos são normais e podem ser alcançados por elas. contudo.melhoraram a vida sexual de milhões. Masters e Virgínia Johnson reuniram a coragem suficiente para submeter a excitação sexual humana à investigação científica no laboratório. mas logo William H. encontrou uma extremada mistura de hostilidade e ultraje. tanto no coito como na masturbação. começou a investigação sobre as práticas sexuais humanas nos Estados Unidos que levou ao notório Relatório Kinsey. Houve falhas consideráveis nos estudos de Kinsey. revisaram o conhecimento médico de alguns tipos de dis. o conhecimento que adquirimos não destruiu o sexo. liberaram incontável número de pessoas ansiosas cujos gostos e práticas haviam estado sob uma nuvem de desaprovação socialmente inculcada. e nada surpreendente. meninos e homens puderam saber que mais de 90% dos homens norte-americanos se masturbam. Os instrumentos de pesquisa de Kinsey foram entrevistas e questionários. com uma gritaria ainda maior. outro tabu foi quebrado. fizeram com o sexo .e cautelosos aplausos da comunidade médica e científica.nos ensinar mais do que seria bom para nós. graças ao trabalho pioneiro de Kinsey. inclusive cinematografia em cores (isso foi antes da disponibilidade imediata do videoteipe).eis um encanto sob o qual se pode alegremente cair. tornou o sexo melhor. aqueles que se enfurecem com a comparação e declaram que é exatamente por isso que eles se opõem a qualquer exploração científica da religião: há uma possibilidade de que ela possa fazer com a religião o que Kinsey et al. Ao iluminar com a forte luz da ciência o que até então era feito no escuro (com uma grande dose de segredo e vergonha). profanando o ato sagrado da união procriadora entre marido e . Mas a que custo? Eu deliberadamente chamo a atenção para o trabalho ainda controverso de Masters e Johnson. E quem de nós escolheria dispensar os benefícios da medicina. visto hoje .em que ainda se encarava a dissecção como algo indecoroso. Kinsey.e não destruí-lo no processo . Há também. divertimento e fascinação lasciva . O trabalho pioneiro dos dois. Comportamento sexual no homem (1948) e Comportamento sexual na mulher (1953).

Pode interferir com tendências que são ou não desejáveis. abrindo novos e férteis campos de exploração por parte daqueles que estão sempre procurando formas de oprimir seus concidadãos. Conhecimento é realmente poder. adiando a atenção vigorosa para a religião o máximo possível. heroísmo. O foro foi tomado por histéricos. Qualquer um que tenha de criar uma criança hoje deve se preocupar com o excesso de informações que nos sufoca atualmente. o comportamento sexual se torna mais responsável (Posner. 1970) Provavelmente jamais saberemos se Moynihan estava certo. de subverter a autoridade. Do mesmo modo como . paranóicos e picaretas . de mudar as mentes. paranóicos e picaretas de todos os lados apresentam. ao mesmo tempo que deveria tentar evitar situações que dêem aos extremistas de qualquer uma das raças oportunidades de martírio. 1992). hoje todos nadamos em um mar de informações e desinformações sobre qualquer assunto. encorajando uma visão rasa do sexo como mero entretenimento dos sentidos. desviando a inquirição e esperando o melhor. não é? A história recente sugere fortemente que a religião vai atrair cada vez mais atenção. e era preciso um considerável exercício de investigação para aprender sobre o resto do mundo. Desde o Iluminismo. já tivemos mais de duzentos anos de curiosidade deferente. Estaríamos melhor sem conhecer todos esses fatos. Talvez necessitemos de um período em que o progresso dos negros continue. e não menos. Não se pode negar que a sinceridade terra-a. A administração pode ajudar nisso prestando atenção cuidadosa a esse progresso . desde a masturbação até como construir armas nucleares para a Al Qaeda.do jeito que estamos fazendo -. Embora se acredite amplamente que a revolução sexual contribuiu para a negligência e a promiscuidade. A revolução sexual da década de 1960 não foi a liberação gloriosa e inteiramente benévola como muitas vezes a representam. que aumentaram o flagelo das doenças sexualmente transmissíveis. Mas é difícil ver como essa política poderia ser alcançada em qualquer dos casos. Têm-se falado muito no assunto. abafada. A maior parte das provas sugere que.mulher. quando as informações sobre sexo são amplamente disseminadas. melhor que seja atenção de boa qualidade. e deveríamos tomar todas as medidas possíveis para proteger nossas crianças dessas informações contaminadoras! Essa objeção é muito séria. farsas ou seja lá o que for. no futuro imediato. e a retórica racial diminua.terra a respeito do sexo promovida pela pesquisa de Kinsley provocou alguns efeitos colaterais terríveis. *** O problema é que hoje em dia é simplesmente difícil demais guardar segredos. Daniel Patrick Moynihan escreveu: Chegou a hora em que a questão da raça se beneficiaria de um período de "negligência benigna". Se é para receber atenção. e não do tipo que histéricos. Enquanto em épocas anteriores a ignorância era a condição que faltava à maior parte da raça humana. As explorações do "amor livre" e do "casamento aberto" magoaram muitos corações e roubaram de muitos jovens o sentido profundo da importância moral das relações sexuais. (Moynihan. a coisa pode não ter sido bem assim. mas talvez ele estivesse. e isso não parece ter levado à diminuição da retórica religiosa. Os que suspeitam que ele tinha razão podem esperar que sigamos seu conselho agora.dos dois lados. para o bem ou para o mal. Em um famoso memorando ao presidente Richard Nixon. O conhecimento pode ter o poder de romper padrões antigos de crença e ação.

mas a alternativa é pior. Fico pensando se algum crédulo do Fim dos . Como você pode ter a certeza de que não faz parte desse grupo? Eu. em seus íntimos. Se você for um desses. e os que acham que isso é politicamente impossível e imoral. entre aqueles que acham que nossa melhor esperança é tentar pregar a tampa da caixa de Pandora e nos mantemos eternamente ignorantes. É assustador. dilui . e isso distribui . incitando-se umas às outras rumo ao alegre caminho da perdição. ai. Mas certamente você terá notado um fato perturbador. Estou espantado pela sua arrogância. Aí há uma armadilha esperando aqueles que não têm antevisão. Como o Dia do Julgamento está próximo. conseguiria realizar esse feito? Será que é isso mesmo o que eles querem? Será que acham que têm métodos que nem os mulás conservadores sonharam para impedir o fluxo inexorável da informação libertadora para sua sociedade? Adiantem-se. que esse é exatamente o caminho certo. só para começar. sem o devido cuidado. eu destruirei a sabedoria do sábio. A história nos dá muitos exemplos de grandes multidões de pessoas iludidas.e. mas a reflexão deveria mostrar a qualquer um que isso não vai funcionar. dificilmente podemos aprovar embargos semelhantes ao conhecimento em nossa própria esfera. mas também a vida e o bem-estar futuro de todos nós. Será que não conseguem enxergar que nada aquém de um Estado policial. eri. uma convicção cuja solidez você não tem um bom método para examinar. com muito mais conhecimentos do que nós mesmos tínhamos na idade deles. Talvez nenhum pai ou mãe seja imune a um toque de remorso quando vê a primeira prova da perda de inocência do filho.a responsabilidade.deploramos as tentativas feitas por alguns líderes religiosos no mundo islâmico de manter suas meninas e mulheres sem instrução e sem informações a respeito do mundo.çado de leis que proíbem a investigação e o conhecimento disseminado. Os primeiros sempre pagam um preço alto pela pobreza factual imposta a si mesmos: eles não conseguem imaginar em detalhes as conseqüências da política que escolheram. você terá uma desculpa à mão: você foi varrido por uma multidão de entusiastas. não dou a mínima para a sua fé. Ou será que podemos? Talvez esse ponto de discórdia seja o divisor continental. não há motivos para planejar o futuro. 16). ou o aprisionamento da população em um mundo sem janelas. não importando os detalhes. e é exatamente por isso que você deveria se preocupar em não ser confiante demais. Sim. guiado por uma revelação ou outra. no Espaço da Opinião. Há algumas pessoas . e levarei a nada o conhecimento do prudente" (1 Coríntios 1. pela sua certeza pouco racional de que tem todas as respostas.que declaram com orgulho que não se devem prever as conseqüências: elas sabem. 19). Precisamos deixar nossos filhos crescerem para enfrentar o mundo armados de conhecimento. Qualquer pessoa pode citar a Bíblia para provar qualquer coisa. e o impulso de protegê-lo dos perigos do mundo é forte. por exemplo. "Todos os homens prudentes agiram com o conhecimento: mas a tolice de um tolo é visível" (Provérbios 13. aparentemente . Alguma vez você já se perguntou: E se eu estiver errado? É claro que há uma grande multidão de outras pessoas ao seu redor que compartilham de sua convicção. eis o que espero ser uma reflexão sem fantasias: já pensou que talvez você esteja sendo irresponsável? Você iria de boa vontade arriscar não apenas a vida e o bem-estar futuro dos que você ama. eu sei que a Bíblia também tem um texto que diz o contrário: "Porque está escrito.milhões. de modo que se alguma vez tiver a oportunidade de sussurrar uma palavra de arrependimento. sem hesitação.

com a absolvição da comunidade (não manchada pela culpa que acompanha as conspirações de adultério. contribuindo ansiosamente para as artimanhas do ano seguinte.3 a desilusão do Papai Noel não causa males. desfalque ou sonegação de impostos. Elas podem não ser tão más. O que imaginamos sem muita clareza.Tempos terá a honestidade intelectual e a coragem de ler este livro até o fim. paranóia e sofrimento. mas imaginem as cassandras que fossem contra: Que idéia terrível! Pensem nos efeitos traumáticos sobre as crianças pequenas quando eles ficarem sabendo. Não são questões retóricas. Os custos psicológicos e sociais de tal decepção maciça poderiam ser cinismo. é provável (mas não ainda pesquisado. Eles me verão apenas como mais um professor liberal tentando convencê-los a . As pessoas se submetem a grandes esforços e despesas para perpetuar a mitologia de Papai Noel. K. desespero. como acabarão por saber. se contentam com a animação vicária de curtir a excitação de seus filhos. que sua inocência e confiança foi explorada por uma gigantesca conspiração pública dos adultos. Vamos tornar o Dia de Harry Potter um dia mundial para as crianças! Os fabricantes de brinquedos estariam todos a favor. Se essa preocupação bastante admirável tivesse sido efetivamente levantada nos dias iniciais que envolveram a mitologia de Papai Noel talvez se tivesse evitado a Grande Catástrofe do Papai Noel de 1985! Mas sabemos que não é isso. e respondendo sobriamente às perguntas inocentes feitas a eles pelos irmãos mais novos. e nós mereceremos sua fúria. que o Natal era apenas outra festa cristã. Imagine. se puder. Tanto quanto sabemos. Mais especificamente. mas outros sentem um delicioso orgulho de seus triunfos de Sherlock Holmes. que entraria pela janela em sua vassoura mágica. são suficientes em si mesmos para compensar os custos substanciais? Essa maneira de pensar tão impertinente vai avultar ainda mais nos capítulos subseqüentes. que nunca tivemos o mito de Papai Noel. por exemplo). que já não podem mais ter a experiência das alegrias inocentes da espera pelo velhinho. as crianças receberiam presentes dados pelo menino. Por quê? Será que estão tentando recapturar a inocência perdida da infância? Será que são mais diretamente motivadas por sua própria gratificação do que pela generosidade? Ou será que os prazeres da conspiração. Antes de lamentarmos nossa incapacidade de parar a crescente onda de informações. tentassem iniciar uma nova tradição: todos os anos. que poderiam marcar algumas crianças pelo resto da vida. e curtem seu novo status entre Aqueles que Sabem. mas dificilmente esperado no mundo todo. Rowlings. em temida antecipação. deveríamos pensar com calma em suas conseqüências possíveis. celebrado. como o Domingo de Ramos ou Pentecostes. que eu saiba) que parte da duradoura atração do mito de Papai Noel se deva ao fato de que os adultos. Não houve nem nunca haverá tal catástrofe. de J. E imagine que os fãs das histórias de Harry Potter. Reconheço que muitos leitores ficarão profundamente desconfiados da direção que estou tomando. Elas podem ser respondidas. Algumas crianças realmente sofrem ataques relativamente curtos de vergonha e amargura ao saberem que Papai Noel não existe. Poderia haver alguma coisa mais malévola que maquinar um conjunto sedutor de mentiras para espalhar entre os nossos filhos? Eles nos odiarão amargamente. muitas vezes acaba sendo muito pior que a realidade. no aniversário da publicação do primeiro livro de Harry Potter. se tentarmos. acompanhado por sua coruja. quando nos voltarmos para as questões mais perturbadoras a respeito de por que a religião é tão popular. supostamente.

*** Capítulo 3.é exatamente isso o que sou. da qual todos possam compartilhar. revelando as forças e as restrições que geraram a série gloriosa de coisas que nos são preciosas. Se quisermos saber por que valorizamos as coisas que amamos. precisamos mergulhar na história da evolução do planeta. . Concordo com eles de todo coração. e que nada é mais importante que trabalhar em conjunto na busca de caminhos para sairmos de nossos dilemas atuais. Há risco e até dor envolvidos. *** Capítulo 2. mas seria irresponsabilidade usar isso como desculpa para a ignorância. que há uma crise moral. Mas acho que há um modo melhor. E este o propósito deste livro. Além do mais. deveriam eles prestar atenção? Estão pasmos diante da queda moral que vêem em todos os lados. apesar da propaganda em contrário. a pesquisa científica é necessária para fornecer informações às nossas decisões políticas mais graves. Por que. e estão inteiramente certos a esse respeito . independentemente de seus diferentes credos. e é exatamente isso que estou tentando fazer. respondo eu. dirão eles. e podemos traçar uma variedade de caminhos promissores para novas pesquisas. Deixem-me pensar.abandonar algumas de suas convicções. e estão sinceramente convencidos de que a proteção de suas religiões com relação a qualquer pesquisa e a toda crítica é o melhor modo de mudar a maré. A religião não se exime desse levantamento. vinda de uma variedade de fontes. e eu peço a eles que tentem lê-lo com uma mente aberta. então. Prove-o. ao mesmo tempo que chegamos a compreender como podemos alcançar uma perspectiva em nossas próprias pesquisas. A religião não está fora dos limites da ciência.

simplesmente pessoas muito melhores do que se poderia esperar que fossem.vo.' e embora eu fosse bastante inquisiti. são muitas vezes enobrecidas pela religião. notoriamente. e algumas tinham encontrado na religião a força para tomar e manter decisões que chegavam a ser heróicas. antes. deixando-as contar. POR QUE AS COISAS BOAS ACONTECEM 1. em suas próprias palavras. que eram. Essas ocasiões eram muitas vezes emocionantes. Pessoas que poderiam permanecer centradas em si mesmas. para dizer o mínimo. eram as pessoas de talentos e realizações modestos. em retrospecto. inspiradas por suas convicções de que sua vida não lhes pertencia para fazerem o que quisessem. Não se tratava de coleta científica de dados (embora eu também tenha feito um pouco disso). [Langdon. Ter um filho muitas vezes surte um maravilhoso efeito de amadurecimento sobre uma pessoa. do mesmo modo que os desastres naturais. Algumas pessoas suportaram dificuldades as quais eu não imaginaria sobreviver. como enchentes e furacões. dão às pessoas muitas ocasiões de se mostrarem à altura. que todos nós nos orgulharíamos de tomar. não apenas a vida tinha significado para elas . adotando uma perspectiva na vida que as ajuda a tomar decisões difíceis. porém até mais impressionantes. A religião realmente pode trazer à tona o que há de melhor em uma pessoa. mas não é o único fenômeno com essa propriedade. Os tempos de guerra. de Dan Brown] QUANDO COMECEI a trabalhar neste livro. E viver nessa realidade ajuda milhões de pessoas a lutarem e serem melhores.embora isso fosse certamente verdadeiro -. Essas entrevistas eram rigorosamente confidenciais. realizadas quase tête-à-tête. fornece apoio firme para muita gente que precisa desesperadamente de ajuda para se manter afastada da bebida. Menos dramáticas. Mas. ou superficiais. fiz entrevistas com muitas pessoas para tentar perceber um sentido nos diferentes papéis que a religião desempenha na vida delas. para o revigoramento no dia-a-dia ao longo da vida. ou simplesmente desistentes. e aprendi um bocado. . das drogas ou do crime. ou sem refinamento. de um jeito ou de outro. não interpelei meus informantes nem discuti com eles. mas. provavelmente não há nada tão eficaz como a religião: ela torna as pessoas poderosas e talentosas mais humildes e pacientes.3. por que a religião era tão importante para elas. TRAZENDO À TONA O QUE HÁ DE MELHOR A alegoria religiosa tornou-se uma parte do tecido da realidade. herói de O código Da Vinci. faz com que pessoas medianas se superem. uma tentativa de deixar de lado as teorias e os experimentos e ir direto às pessoas de verdade. mas também elas realmente faziam do mundo um lugar melhor com seus esforços.

porém poderíamos inventar alguma outra coisa para fazer o mesmo. Certamente ainda não se fez nenhum levantamento confiável que mostre o contrário. Nada transcende a natureza como a própria natureza. Pode ser que Deus se assegure de que as coisas boas aconteçam e se mantenham quando. desde logo. Mas qualquer dessas visões terá de esperar sua hora. A Segunda Guerra Mundial certamente trouxe à tona o que havia de melhor em muitas pessoas. fanatismo assassino. Selah. mais éticos que as pessoas religiosas. em qualquer dos casos. Há "golpes de sorte". Pode ser a Providência. 19] Quanto mais aprendemos a respeito dos detalhes dos processos naturais. existem muitos ateus e agnósticos sábios. sem dúvida. Pode ser que o melhor que se possa afirmar da religião é que ela ajuda algumas pessoas a alcançarem o nível de cidadania e moralidade em geral encontrado nos assim chamados brights. é a disposição de ver seu argumento ser abertamente posto em questão. são mais sensíveis às necessidades dos outros. ateus e agnósticos respeitam mais a lei. Você não anuncia todo o bem que sua religião faz sem antes. Talvez um levantamento pudesse mostrar que. será melhor. ou nenhuma religião. ou até melhor. engajados. precisa ajustar sua perspectiva. é claro. Se você achar essa conjectura ofensiva. O preço que você tem de pagar por qualquer argumento a respeito das virtudes de sua religião. criativos. como grupo. escrupulosamen. ou de qualquer outra religião.E claro que nenhum julgamento de valor total pode se basear em um levantamento tão limitado e informal. sem a intervenção de Deus. sem ela a vida não teria sentido.intolerância. crueldade e ignorância imposta. pelo mesmo motivo pelo qual os pesquisadores de câncer não estão dispostos a tratar remissões inesperadas apenas como . A religião faz isso tudo de bom e mais. objetivamente. Afinal. [Salmo 68. e os que passaram por ela inúmeras vezes dizem que foi a coisa mais importante em suas vidas. mais evidente se torna que esses processos são. opressão. aconteceria o contrário. Entre as questões que precisamos considerar. eles mesmos. para citar o óbvio -. é apenas reconhecer que já conhecemos o suficiente sobre religião para saber que. estão: o islamismo é mais ou menos eficaz que o cristianismo para manter as pessoas afastadas das drogas e do álcool (e os efeitos colaterais. que diariamente nos cumula de benefícios. subtrair todo o mal que ela provoca e sem levar seriamente em conta a questão de se alguma outra religião.te. 2. o Deus da nossa salvação. Minha proposta. Mas certamente não se deduz disso que devamos ter outra guerra mundial. não importa quão terríveis seus efeitos negativos sejam . [Loyal Rue] As boas coisas não acontecem por acaso. comprometidos moralmente. mas manter uma coisa boa não é apenas sorte. CUI BONO? Bendito seja o Senhor. não são piores que os benefícios)? O abuso sexual é mais ou menos um problema entre os sikhs que entre os mórmons? E daí por diante. as pessoas que encaram a religião como a coisa mais importante na vida têm muitas boas razões para pensar assim.

já que o cachorro corre exuberantemente para lá e para cá.2 Qualquer padrão de gasto conspícuo como este exige uma prestação de contas. Pense. poderia produzir e manter esse fenômeno que é tão valorizado? A única maneira de considerar seriamente a hipótese dos milagres seria excluir as alternativas não milagrosas. e mesmo que ainda não tenham respostas definitivas. não importa o que aconteça. Para explicar os milhares de aspectos desse enorme sistema. sendo que apenas uma pequena fração delas é biológica. Como se consegue distinguir. publicação de livros de receitas cheios de sobremesas. tais como o vento e os redemoinhos. entre plantas que cegamente "buscam" um jeito de dispersar suas sementes polinizadas e animais que igualmente buscam fontes eficientes de energia para alimentar seus próprios projetos de reprodução. Nenhum desses gastos de tempo e energia relacionados com o açúcar existiria se não fosse a barganha feita. os cães domésticos? Até de perto seria difícil distinguir a impressão deixada pela pata de um coiote da impressão deixada por um cachorro do mesmo tamanho . Há outras maneiras de dispersar as sementes. nos enormes gastos de esforços humanos dedicados. não milagroso. comercialização na Páscoa. da geopolítica. a trilha do coiote pode ser prontamente distinguida da de um cachorro . ao açúcar: não só o plantio e a colheita da cana-de. enquanto o coiote está em uma situação apertada e precisa conservar cada caloria para a tarefa mais premente: a autopreservação. satisfazendo qualquer desejo curioso (David Brown. na neve. A sovinice da natureza pode ser encontrada em qualquer lugar para o qual olhemos.as garras dos cães tendem a ser mais longas. pesquisas patrocinadas pelo governo sobre a epidemia de diabetes prematuro. mas o mundo mais amplo. Mais de uma centena de milhão de toneladas de açúcar é produzida e consumida todos os anos. O cachorro é bem alimentado e sabe que vai ganhar o jantar. por exemplo. publicidade de refrigerantes e chocolates. dos bancos. Que conjunto natural de processos. a física da cristalização e da caramelização. com as patas traseiras em alinhamento quase perfeito com as patas dianteiras. Por exemplo. há cerca de 50 milhões de anos. Seus métodos de locomoção foram impiedosamente otimizados para obter eficiência. de fabricação de balas. Mas. se soubermos o que procurar. no mundo inteiro. dentistas e a inclusão de flúor nas pastas de dentes e na água potável. que provê o trabalho vital de milhões de pessoas e pode ser discernido em todos os níveis da sociedade. Não serviria para espantar o jantar e chamar a atenção de seus próprios predadores para sua presença? Tais custos não seriam reembolsados. as suas pegadas das de seus primos. científicas e históricas. o que explica o uivo característico da matilha? Que benefício o coiote recebe desse evidente gasto de energia? Dificilmente é a discrição. Mas. a fisiologia humana e a história da agricultura."milagres" que não precisam ser mais explorados. 2004). mas esses predadores lindos e espertos têm medo dos seres humanos e raramente são vistos. Essas são boas perguntas. e cada método tem seus custos e benefícios . uivando macabramente nas noites de inverno. da publicidade e muito mais.açúcar e das beterrabas produtoras de açúcar. certamente têm razão em buscálas. os coiotes estão surgindo como um acréscimo bemvindo à vida silvestre da Nova Inglaterra. pensaríamos. enquanto a trilha de um cachorro é em geral desordenada. então. precisamos de muitas investigações diferentes. do transporte. além das contrapartidas do sistema: clínicas de obesidade. mas também a história da engenharia. já que eles passam pouco tempo cavando. da fabricação. Precisamos estudar a química do açúcar. Os biólogos as estão analisando.as pegadas do coiote seguem uma quase extraordinária linha reta e em fila única. mesmo de longe.

assim. Com relação ao funcionamento geral dos casos. mas na verdade é o contrário: seria mais exato dizer que algumas coisas são doces (para nós) porque gostamos delas! (E nós gostamos delas porque nossos antepassados. tão barato de fazer e enviar que uma taxa de retorno imperceptivelmente pequena é suficiente para garantir o projeto. em geral. para falar cruamente. Eles funcionam por diversos aspectos. os motivos fundamentais para esses bons negócios nunca podiam ser representados em qualquer mente. Este é um bom exemplo da sovinice da Mãe Natureza na prestação de contas final. Nem um esperma em um milhão cumpre sua missão na vida . combinada com o desperdício absurdo dos métodos. mas podem ter um bônus como resultado: o animal não apenas leva as sementes. Processos evolutivos cegos. são maravilhosamente projetadas para fazer sua tarefa. Tudo isso tem um perfeito sentido. de modo que. 1983. e é claro que nenhuma planta ou animal teve de saber nada disso para que o sistema progredisse. As lentes de um olho. cheias de açúcar. A racionalidade econômica das trocas mútuas das barganhas na co-evolução é inequívoca. e fixou essas moléculas receptoras à maquinaria de busca. tiveram mais energia para a reprodução do que seus pares menos afortunadamente energizados. com o advento do comércio humano. Os dois lados . A estratégia quase nunca funciona . mas elas são intrinsecamente valiosas para organismos necessitados de energia. que perceberam de antemão os motivos fundamentais do projeto. Nem todas as plantas "escolhem" a barganha de fazer frutas comestíveis. O pagamento por todo o projeto e pela fabricação (da planta inicial e do equipamento animal) foi feito pela reprodução diferenciada de animais frugívoros e onívoros e plantas que dão frutas comestíveis. As pessoas em geral dizem que gostamos de algumas coisas porque elas são doces. (Espermas são como s-parn em correio eletrônico. a evolução supriu os animais com moléculas receptoras específicas que reagem à concentração de açúcar altamente energético em qualquer coisa que eles provem. .) A co-evolução endossou a barganha entre planta e animal. a evolução deu um jeito para que os organismos tivessem uma preferência potente e intrínseca por qualquer coisa que excite seus detectores especiais para alta energia. há poucos milênios.associados.plantas e animais .nem uma vez em mil tentativas -. mas até muito recentemente. até que o olho fosse passado por uma engenharia reversa realizada pelos cientistas. sem direção. melhor.) Não existe nada "intrinsecamente doce" (seja lá o que isso signifique) nas moléculas de açúcar. mas as que o fizeram tiveram de criar suas frutas atraentes para competir. envolvidas em uma boa dose de fertilizante. aguçando a capacidade de nossos antepassados para discriminar o açúcar por sua "doçura". 1995b). por exemplo. do ponto de vista econômico. carnudas. foi uma transação racional. descobrem projetos que funcionam. mas cada um é projetado e equipado como se tudo dependesse de seu sucesso. e esses aspectos podem ser descritos e avaliados em retrospecto como se fossem realmente a criação de projetistas inteligentes. É por isso que nascemos com um gosto instintivo por doces . levada a efeito com um passo mais lento que o glacial ao longo de eras. mas nenhum projetista jamais a articulou. mas só precisa funcionar uma vez ou duas durante o período de vida da planta para que ela se reproduza no planeta e dê continuidade à sua linhagem. Ou seja.e. Este é um exemplo do que eu chamo de base racional descomprometida (Dennett. isso não representa controvérsias. que foram energizados para gostar delas. Frutas pesadas. quanto mais doce.se beneficiaram.ainda bem -. mas as deposita em um pedaço de solo adequado. e as razões fundamentais da engenharia dos detalhes são inequívocas. e os sistemas se aperfeiçoaram através dos tempos. são uma estratégia de alto investimento.

Assim. (Talvez seu tempo e energia como cético poderiam ser mais bem gastos tentando penetrar no núcleo da perspectiva desse evolucionista em busca de uma falha fatal. Essa posição é mais extrema do que algumas vezes se reconhece. em face de tantas confirmações impressionantes e de maciças provas científicas. Nenhum. Aqui jaz uma pergunta interessante: de quem é a culpa dessa informação errônea disseminada entre a população? Suponha que os sacerdotes da sua fé. Mas onde. pode ser inocente acreditar na palavra autoritária deles e passá-la adiante. (As notas deste capítulo fornecem todas as referências de que você vai precisar para prosseguir. Se você for um leigo. Desse modo. Instrua-se em teoria da evolução e suas críticas e veja por si mesmo se o que eu digo é verdade. que são pessoas ajuizadas e boas. poderiam tantos norte-americanos não acreditar na evolução? Simples: foi dito solenemente a eles que a teoria da evolução é falsa (ou.) 2. garantam a você que a evolução é uma teoria falsa e perigosa. já que outros países cientificamente avançados não demonstram o mesmo padrão. você pode acreditar que não precisa leVar em consideração as provas científicas. antes de prosseguir. Há muitos que são fraudes e charlatões. Instruir-se em teoria da evolução e nas suas críticas. não há tanto tempo assim. então.3 Se você discorda visceralmente desse repúdio categórico. já que não há cientista de renome que afirme isso. de modo que sabemos que as maiorias podem estar redondamente enganadas. não passa de um simples fato corriqueiro a questão de que a Bíblia não fala clara e inequivocamente para todos. Todos nós confiamos nos especialistas a respeito de muitas coisas. De acordo com um levantamento recente. Suspenda temporariamente a descrença para aprender o que um evolucionista pensa da religião como fenômeno natural. você deve reconhecer que há pessoas no mundo que não partilham de sua interpretação da Bíblia. mas não a lêem para excluir a evolução. foram enganados. E os proponentes do Criacionismo Científico e do Projeto Inteligente que são tão falantes e visíveis em campanhas bem orquestradas? Eles todos têm sido cuidadosa e pacientemente refutados por cientistas conscienciosos. apenas cerca de um quarto da população dos Estados Unidos sabe que a evolução está tão bem estabelecida como o fato de que a água é H2O. a seus filhos. que se deram o trabalho de penetrar suas cortinas de fumaça de propaganda e desnudar os argumentos de má qualidade e suas falsidades e evasivas aparentemente deliberadas. e pronto. a Bíblia não é um candidato plausível como fundamento comum a ser compartilhado sem maiores discussões . Será que tanta gente poderia estar errada? Bem. Como vê. em que apenas uma pequena minoria dos habitantes da Terra acreditava que o planeta era redondo e girava em torno do Sol. não exigiria mais de dois meses de trabalho árduo. tem duas boas escolhas a fazer ao levar em consideração este tema: 1. muitos consideram a Bíblia como a Palavra de Deus. Essa estatística constrangedora exige algumas explicações. Mesmo se você acreditar que a Bíblia tem a última e perfeita palavra sobre todos os temas. não vou poupar palavras. pelo menos.Digressão: Esse é um ponto de impasse para os que ainda não avaliaram como está bem estabelecida a teoria da evolução por seleção natural. houve uma época. e ver por si mesmo.) Como alternativa. autoritariamente. já que "a Bíblia diz" que a evolução é falsa. Por exemplo. não provada) por pessoas em quem confiam mais do que confiam nos cientistas. e os sacerdotes são os seus especialistas. no entanto. Mas como. eles adquiriram essa informação errônea? Se alegarem tê-la adquirido dos cientistas.

não existe almoço grátis. que se proponha a demonstrar. que a Bíblia é mesmo a Palavra de Deus.exatamente como o criacionismo e suas críticas. ele tem a propriedade útil de interferir no sistema nervoso deles e tornálos hiperativos e relativamente destemidos . Mas a evolução é notavelmente eficiente em varrer da cena acidentes sem sentido. Como o Dicrocelium dendriticum que adotou como residência a laboriosa formiga com a qual iniciei este livro. Ainda não fui orientado para nenhuma literatura desse tipo. que consegue viver em qualquer mamífero. porque orientei todo mundo para a literatura que defende a recusa ao criacionismo contra todas as objeções. como os economistas estão sempre nos lembrando. (Adeus. se encontramos um padrão persistente de equipamento ou atividade caros. você está fazendo "fiau" para toda a pesquisa. e. o Toxoplasma gondii. existe um parasita. de modo que. contra qualquer objeção. em uma palavra. podemos bem ter a certeza de que alguma coisa se beneficia deles no único inventário honrado pela evolução: a reprodução diferenciada.eu me recuso a defender meu anticriacionismo aqui e agora. queremos saber por quê. Suponhamos que você encontre ratos que arrisquem extravagantemente suas vidas na presença de gatos e pergunte cui bono?. O advogados têm uma expressão latina básica. Se você insiste que é. Os leitores que permanecerem não exigirão nenhuma consideração adicional de mim sobre o criacionismo e suas variantes. 2000). a não ser que por acaso seja uma . se existir. para o bem ou para o mal. 1995b). uma vez que eles são muitas vezes fugidios. quando infecta os ratos. e. pouco econômica. cui bono?. Que benefícios esses ratos obtêm desse comportamento maluco? Será que eles estão se mostrando para impressionar parceiros em potencial ou o comportamento extravagante de algum modo melhora o acesso deles a boas fontes de alimentos? Pode ser. é sempre possível que alguma característica de alguma coisa viva que parece ser um excesso sem sentido seja mesmo tão sem sentido quanto parece (em vez de um estratagema profundo e desconcertante em algum jogo que não compreendemos). que quer dizer "quem se beneficiará disso?".e. e que exclui a evolução. os infalíveis deveriam encorajar-me a consultar a literatura.o sucesso reprodutivo do Toxoplasma gondii. portanto. Fim da digressão. espero vê-lo outra vez algum dia. uma pergunta que é ainda mais central em biologia da evolução que no direito (Dennett. mas se ele regularmente interrompe seu desenterrar com sobressaltos. já que uma despesa gratuita é. não para os ratos que ele infecta (Zimmer. Para serem simétricos. já que eu lhes disse onde encontrar as respostas que endosso.em uma conversa razoável. Deveríamos lançar nossas redes de modo amplo ao caçar os beneficiários. Não ficamos admirando um animal que persistentemente fuça a terra com o nariz porque calculamos que está procurando comida. enquanto os infalíveis estão se recusando a adotar até mesmo essa obrigação. Toda barganha na natureza tem sua razão descomprometida. mas provavelmente você está procurando pelo beneficiário no lugar errado. se existir. Como os acidentes acontecem.) Mas será que não há uma assimetria injustificada. com muito maior probabilidade de serem comidos por qualquer gato na vizinhança! Cui bono? O benefício vai para o mais apto . mas. mas precisa entrar no estômago do gato para se reproduzir. Qualquer fenômeno no mundo vivo que aparentemente excede o funcional exige uma explicação. nem a encontrei em nenhum site da web. ao mesmo tempo que despeço os bíblicos infalíveis por não seguirem as regras da discussão racional? Não. aqui? . iria verdadeiramente garantir essa consideração como tema para outro dia e outro projeto . A suspeita é sempre de que devemos estar perdendo alguma coisa.

E o álcool? E o dinheiro? E o sexo? O sexo apresenta alguns dos problemas mais interessantes e desafiadores na teoria da evolução. Existe uma razão para gostarmos de açúcar. Se você pode fazer cópias perfeitas de você mesmo. alguns melhores momentos da teoria que está atualmente na ponta são muito instrutivos: sexo (nos vertebrados como nós. a reprodução sexuada é realmente um mau negócio. e muito mais importante. para distingui-las da divisão de clonagem.ou era uma razão muito boa. nossos antepassados caçadorescoletores viviam com orçamentos energéticos muito limitados e tinham de se valer de qualquer oportunidade prática de armazenar calorias para uso em uma emergência. os organismos resultantes compartilham 100% de seus genes. Nosso gosto por doces é um bom exemplo. se nós subestimamos seus muitos recursos. essa insa. Maynard Smith. e até muitos organismos unicelulares. Mas uma razão pode se tornar obsoleta. aparentemente. já que a evolução não tem previsões e não pode aprovar barganhas nas bases especulativas de um retorno eventual em alguma época distante. e. se comparados a seus hospedeiros.ciabilidade se torna uma séria falha no projeto. e em geral se reproduzem muitas vezes durante o período de vida do hospedeiro. Esqueça . há trilhões de parasitas de milhares de espécies . e é .barganha projetada por regateadores humanos. os únicos representantes de razões que evoluíram no planeta. em outras palavras. por exemplo.nosso tipo de sexo humano (sexo sensual).e iremos nos voltar para um exame mais detalhado de suas possíveis fontes evolutivas -. Os parasitas têm períodos vitais curtos. não em alguma data futura. Os pais se clonam a si próprios. Podemos encontrar outros amores aposentados que precisam de nossa atenção. e deve pagar na hora. nossos esforços em lidarmos com ele podem ser contraproducentes. que envolve não apenas encontrar um parceiro. e pense nas variedades mais básicas da reprodução sexuada no mundo vivo: a reprodução sexuada de quase todas as formas vivas multicelulares. A evolução demora a "reconhecer' isso. ele foi projetado para desempenhar a tarefa que desempenha. (Sim. Os mamíferos. Mencionei a música no capítulo anterior . uma cópia completa do genoma da célula é inscrita em seus descendentes. por que quereria incorrer no gasto de uma reprodução sexuada. A medida que as oportunidades e os perigos na natureza mudam. Ridley. Alguma coisa deve pagar esse custo. uma boa barganha pode diminuir. sua resistência à perturbação e supressão. já não importa quão saudável e limpo você seja. 1978. mas. passar apenas metade de seus genes para seus descendentes?4 Essa redução de 50% (do ponto de vista do gene) é conhecida como o custo da meiose (o tipo de divisão que ocorre nas células sexuais.por um momento . Cada vez que essa fissão ocorre. mas quero antes fazer um aquecimento em coisas mais fáceis das quais gostamos. A reprodução sexuada é portanto um investimento caro e que se deve pagar a curto prazo. Nosso gosto pelo doce não é apenas um acidente ou um erro sem sentido em um sistema de outro modo excelente. são hospedeiros de trilhões de parasitas. Um apetite quase insaciável por doces fazia sentido naquela época. François Jacob. a mitose). por exemplo. porque. Os detalhes da teoria e da experiência sobre esse tema são fascinantes (ver. dos insetos e mexilhões a macieiras. mas para nossos propósitos. Agora que desenvolvemos métodos para criar uma superabundância de açúcar. uma vez comentou jocosamente que o sonho de toda célula é se tornar duas células. O grande biólogo da evolução. 1993). Como os coiotes. pelo menos) se paga ao fazer com que nossos descendentes sejam relativamente inescrutáveis para os parasitas com os quais os dotamos desde que nascem. O reconhecimento da fonte evolutiva dessa falha nos ajuda a calcular como lidar com ela.

produtos para refrescar o hálito. Para explicar o motivo da existência de cada uma e de todas as facetas desse enorme complexo.) Antes que uma fêmea possa estar madura para a idade reprodutiva. e se a resposta positiva resistir ao maior escrutínio. tão provável quanto o contrário. e há provas de que os elefantes viajam grandes distâncias para chegar à árvore da marula exatamente quando suas frutas amadurecem. roupas e penteados. HIV e todo o resto. muitos desses genes . pele. em vez disso.diferentes habitando seus intestinos. Com o álcool surge uma perspectiva um tanto diferente. Eles vêm evoluindo rapidamente para sobreviver ao massacre de suas defesas desde o dia em que você nasceu. então. o que é explorável. suponhamos. O fato de que algumas moléculas grandes em algumas plantas por acaso são semelhantes a moléculas grandes que desempenham importantes funções de moduladores nos cérebros de animais é. e eles são mais complicados do que você poderia pensar. os vinhedos e as destiladas. se quisermos ter uma visão clara daquilo que é opcional ou mero acidente histórico e do que é altamente resistente à perturbação. no início.e os babuínos e outros animais africanos caem de bêbados depois de comerem frutas em fermentação das árvores de marula. cabelos. nem todos biológicos. Será que essa barganha se paga? Essa é a questão de fundo da atual pesquisa sobre biologia da evolução. Em vez de lar doce lar. Isso dá ao descendente uma grande vantagem inicial na corrida armamentista. um empate . teremos de lançar mão de muitos tipos e níveis diferentes de teoria. ela usasse a reprodução sexuada para dotar seus descendentes com um conjunto misturado de genes (metade dos de seu parceiro). Mas. Se. os parasitas iriam encontrar-se em terra ignota. Mas nada disso existiria se não fôssemos criaturas de reprodução sexuada. ao longo de milhões de anos de ingestão exploratória. consumindo o açúcar e liberando dióxido de carbono e álcool.ou. Há motivos pelos quais gostamos de sexo. não é de surpreender que. seus parasitas evoluem para se ajustarem a ela melhor que qualquer luva. então teremos encontrado a fonte antiga.seriam estranhos ou enigmáticos para os parasitas invasores. Pode ser que a barganha básica contratada entre árvores frutíferas e frugívoras .se ela for saudável . o sistema imunológico dela evolui para combatê-los. na evolução.o negócio . pornografia. sejam apenas coincidências. Vamos supor que esses efeitos. Sabe-se que os elefantes . do enorme sistema de atividades e produtos que normalmente levamos em conta quando pensamos em sexo: rituais de casamento e tabus contra o adultério. nas defesas internas do descendente . a cafeína e os ingredientes ativos no chocolate têm efeitos específicos sobre moléculas receptoras no nosso cérebro. O álcool por acaso tem no cérebro dos elefantes o mesmo tipo de efeito prazeroso que tem nos nossos. mas permanente. os parasitas dela iriam pular em cima dele e estariam à vontade desde o início.em uma permanente corrida armamentista). nossa espécie e outras venham a descobrir as plantas que contêm ingredientes psicoativos e que desenvolvem disposições de preferência ou aversão em relação a elas. e pelos maciços sistemas de entrega que trazem as bebidas alcoólicas até o alcance fácil de praticamente qualquer ser humano no planeta? Sabemos que o álcool. Se ela desse à luz um clone. A evolução deve sempre começar com um elemento de probabilidade bruta. sangue. e primeiro precisamos entender suas bases biológicas. (Enquanto isso. mais diretamente. camisinha. Eles já estariam otimizados com relação a seu novo ambiente. boca e todas as demais partes do seu corpo. Parece que a fruta fermenta no estômago dos elefantes quando células de levedo residentes na fruta sofrem uma explosão populacional. como a nicotina. seus produtos. O que paga pelas cervejarias.

ou pode ser apenas um acidente ao acaso. Isso significa que as culturas de levedura. viaja sem bagagem e não carrega consigo sua maquinaria reprodutiva. usando nossa dispendiosa maquinaria de reprodução (prensas de impressão.de espalhar sementes em troca de açúcar . a nós. como um vírus.diente . e. e. Isso criaria uma atração extra que é paga pelo aumento nas perspectivas reprodutivas tanto da levedura como das árvores. Ao contrário das outras coisas que levamos em consideração. e mais outra.ticamos tanto a levedura como a fruta e. podem se gastar com o tempo. Elas podem . quero chamar a atenção apenas para algumas impressionantes semelhanças entre o dinheiro e tesouros "mais biológicos" que acabamos de mencionar. O dinheiro não é a única invenção cultural a não ter um inventor ou autor específico.uma movimentação no espaço do projeto que será "descoberto" outra vez. mas realmente só o que secretam precisa entrar em nós para elas prosperarem! Agora pensem em um tipo de coisa boa espantosamente diferente: dinheiro. muito antes da razão de seu valor ficar explícita em nossas mentes. As células da levedura provêem um serviço pelo qual elas são pagas em proteção e nutrientes. Usamos e valorizamos o dinheiro. Ao contrário das bactérias endossimbiontes. mas essa base racional era descomprometida até há pouco tempo. pode-se esperar que outras espécies de dinheiro adotem o nicho que ficou vago pela espécie que partiu. como o Toxaplasma gondii. o endossam (Dennett.como o peixe "limpador" que cuida de peixes maiores -. em um futuro previsível. De qualquer modo. 1995b). coli que habitam nossos intestinos. Os economistas calcularam o raciocínio para o dinheiro em alguns detalhes. ao contrário. .5 e portanto é um forte candidato àquilo que chamo de Bom Estratagema . tampouco. portanto. o dinheiro evoluiu mais de uma vez. cuidadosamente criadas por cervejeiros. e é projetado e transmitido pela cultura. Terei mais a dizer a respeito da evolução cultural em capítulos posteriores. a não ser que outros sejam feitos e adotados. e. O dinheiro é claramente uma das "invenções" mais eficazes de nossa espécie inteligente.vos levam a ele. o sistema inteiro pode se extinguir. individualmente. como muitos já notaram. vinhateiros e padeiros. e ocasionalmente matamos e morremos por dinheiro. as células de leveduras são um tipo de ectossimbionte . temos selecionado artificialmente as variedades que produzem melhor os efeitos de que gostamos.) Mas já que o dinheiro é um Bom Estratagema.como um peixe limpador desobe.6 Coincidência divertida é o fato de que um termo antigo para dinheiro sob a forma de moeda e papel ser espécie (a mesma palavra usada para falar de espécie biológica).seja enfatizada por uma parceria a mais entre a levedura e a árvore frutífera. mas não precisa entrar no corpo delas. mas. matrizes e tintas). Nesta visão geral introdutória.ser engolidas por nós mais ou menos por acidente.7 Moedas e pedaços de papel-moeda. por processos cegos de evolução. fechou o círculo e iniciou exatamente essa barganha co-evolutiva: domes. O dinheiro em espécie. a base racional descomprometida da espécie poderia decair. que devem entrar nos corpos tanto do rato como do gato. confiamos nele. Ninguém inventou a linguagem ou a música. durante milhares de anos. são simbiontes humanos tanto quanto as bactérias E. simplesmente porque tantos caminhos adaptati. e não pelos genes. ele está restrito (até agora) a uma única espécie. outra espécie. que depende de outras espécies. depende da persistência de seu tipo para provocar um hospedeiro (nós) a fazer cópias dele. e ela poderia se extinguir na esteira dos cartões de crédito e de outras formas de transferência eletrônica de fundos. Como a vista e o vôo. (Você pode confirmar isso tentando comprar um barco com uma pilha de conchas de cauri. o Homo sapiens.

de valor "intrínseco".são todos problemáticos porque. as melhores coisas da vida são gratuitas. é que todos os nossos valores intrínsecos começaram como valores instrumentais. Seria bom apenas por ser bom. . [Rodney Stark e Roger Finke. e agora que seus objetivos originais desapareceram. e apenas o valorizemos como instrumento. podemos desenvolver uma obsessão e querer demais uma coisa boa. Presume-se. QUAL É A PAGA PELA RELIGIÃO Mas quais são os benefícios: por que as pessoas querem a religião? Elas a desejam porque a religião é a única fonte plausível de determinadas recompensas para as quais há uma demanda geral e inesgotável.8 Como diz a velha canção. a respeito da qual me alongarei posteriormente. (Isso não significaria que estamos errados em gostar delas! Significaria . Mas. A dor é "intrinsecamente ruim". Uma rosa. algo a ser curtido apenas por aquilo que pode proporcionar. O dinheiro é "lucro sujo". mas sua valência negativa é tão dependente de uma razão evolutiva como a "coisa boa intrínseca" da fome saciada.) 3. Qualquer resposta apoiada em fatos tem o efeito de mostrar que o valor em questão é . mas também é verdade que. mas entre aqueles que o apreciam como os católicos romanos -.realmente instrumental. sem dúvida. álcool. pelo menos aos nossos olhos. não porque é bom para alguma coisa. uma pessoa que gosta dele com moderação não é considerada vil ou tola. esse elefante morto seria para nós tão perfumado como uma rosa. ela é uma empreitada imensamente cara. eles permanecem como coisas de que gostamos apenas porque gostamos. e as outras coisas são "naturais"? Pouco provável. sem convencer inteiramente. mesmo que não o vejamos dessa maneira. O álcool é condenado por muitos pelos maometanos em particular -. ou uma trufa de chocolate menos artificial que moedas de ouro? O que devemos deduzir desse tema de cultura humana é uma questão interessante. devemos observar que a única âncora que temos até agora para o valor "intrínseco" é a capacidade que alguma coisa tem de provocar uma reação de preferência bem diretamente no cérebro. Uma hipótese a ser seriamente levada em conta. sexo.que gostamos delas sem precisar de outros motivos posteriores para gostar delas. se fuçar carcaças de elefante em apodrecimento fosse bom para nossas perspectivas reprodutivas do mesmo modo que o é para os urubus. ou um uísque single malt. mas o dinheiro talvez tenha a pior das reputações como coisa boa. seria igualmente perfumada. como objetos de valor mais meritórios.Tenho outro motivo para mencionar o caso do dinheiro.ou foi algum dia . Acts of Faith] Não importa o que mais a religião seja como fenômeno humano. Será isso por que o dinheiro é "artificial". e a biologia da evolução mostra que nada tão caro acontece apenas por acaso. Um valor verdadeiramente intrínseco não poderia ter tal explicação. música. com relação a cada um deles. Os bens que foram levantados açúcar. e não intrínseco. então. dinheiro .9 A biologia insiste em investigações profundas abaixo da superfície dos valores "intrínsecos" e em indagar por que eles existem. que todos nós desdenhemos o dinheiro como uma coisa em si. Será um quarteto de cordas.por definição . contudo. enquanto isso. sob qualquer outro nome.

portanto. filosóficos.Qualquer gasto regular desse tipo. A única maneira honesta de defender essa proposta. "E depois. ou pode-se desafiar totalmente a análise evolutiva. Será que realmente precisamos indagar a esse respeito? Será que não podemos simplesmente aceitar o fato evidente de que a religião é um fenômeno humano. que muitas vezes consideram "reducionista" (e de uma forma muito ruim) até fazer perguntas a respeito das bases biológicas desses encantadores e importantes fenômenos.ideológicos. estariam eles um tanto "acima" do nível biológico? Essa é uma pressuposição conhecida entre pesquisadores nas ciências sociais e humanas. deve ser equilibrado por algo de "valor" obtido. mas não saberemos responder até que a procuremos. e excluí-las. esportes. econômicos. Se for isso. mas não é boba. Será que a maior parte dos fenômenos religiosos que precisam ser investigados é cultural e social . O mesmo tipo de investigação que desvendou os mistérios do doce. (Isso não significa que deveremos valorizar a replicação acima de tudo! Significa apenas que nada consegue evoluir e permanecer durante muito tempo nesse mundo exigente a não ser que de algum modo provoque sua própria replicação melhor que a dos rivais. se metendo onde não é chamado!" -. e então deixar assim as bases biológicas da religião? As pessoas fazem religiões. políticos. qualquer religião . pelos padrões evolutivos. uma busca pelo gene católico?" Esta resposta negativa é em geral impensada. e agora há muitas delas. arriscando a ofensa ao desprezar esse risco como apenas mais um aspecto do tabu que deve ser quebrado. Qualquer alegação no sentido de que a religião . literatura. e a principal medida de "valor" evolutivo é a aptidão: a capacidade de se replicar com maior sucesso que a concorrência. Isso realmente explicaria a barganha feita. Além disso.fica acima da biosfera e não tem de satisfazer a essa demanda é simplesmente bazófia. em tempo e energia. é por meio de um exame correto de teorias alternativas sobre a persistência e a popularidade da religião. Houve um tempo. pergunto: qual a vantagem da religião? Odeie a linguagem. ou muitas.) Já que o dinheiro é uma inovação tão recente da perspectiva da história evolutiva. produtos da evolução. ou qualquer coisa parecida com ela. do álcool. mas isso não lhe dá nenhuma boa razão para desconsiderar a pergunta. Posso ver alguns antropólogos e sociólogos culturais virando os olhos com desdém . você poderá defender a hipótese de que Deus criou o universo para que evoluíssemos para amar a Deus. E sustentada em parte por lembranças desagradáveis de campanhas passadas que falharam: investidas ingênuas e mal . mostrando que não conseguem dar conta do fenômeno observado. portanto.a sua religião. Então. é estranhamente anacrônico perguntar qual a vantagem de uma feição biológica ou outra como se fossem transações reais e livros-razões na firma de contabilidade de Darwin. psicológicos. gostaríamos de saber como ocorreu essa evolução. e não sabemos de qualquer exceção à regra. do sexo e do dinheiro pode ser empregado para a religião. Por quê? Pode haver uma fonte evolutiva. observado em tudo na natureza. a troca de tempo humano e a energia para a religião. não tão distante assim. e que os seres humanos são mamíferos e. um poema e um torneio de tênis. n£o! Lá vem Darwin outra vez."Ah. se quiser. históricos --. mas também fazem automóveis. capta bem o equilíbrio subjacente. e certamente não têm necessidade de recuar profundamente na pré-história para compreender a diferença entre um sedã. e. em que não havia religião neste planeta. Essa metáfora. Pode ser que Deus implante em todos os seres humanos uma alma imortal que tem sede de oportunidades para adorar Deus. no entanto. enquanto outros historiadores e filósofos da religião e teólogos dão risadinhas com a vulgaridade de espírito de quem conseguir perguntar de cara limpa a respeito das bases evolutivas da religião.

à força. Agora que criamos as tecnologias para causar catástrofes globais. devemos vigorosamente defender a integridade do processo seguinte. Do que é composta a religião? Como as partes se ajustam? O que constituem a saúde e a patologia do fenômeno religioso? Essas questões podem ser abordadas pela antropologia.as religiões não dão certo. ou ciências da mente . Pense nas nossas controvérsias atuais com respeito à nutrição e à dieta. Agora parece que essa abordagem simplista da dieta é contraproducente: quando você mantém insatisfeito. as conseqüências também podem ser grandes. independentes das ciências naturais.as Geisteswissenchaften. o isolamento disciplinar que isso motiva tornou-se um grande obstáculo para a boa prática da ciência. Durante muitos anos os nutricionistas acharam que a chave para evitar a obesidade era simplesmente cortar a gordura da dieta. se você não tomar uma decisão. Precisamos compreender o que faz a religião funcionar para podermos nos defender.raramente . isso intensifica os esforços compensatórios do corpo.vão de encontro à ambigüidade perturbadora da ciência real" (p. apesar de tudo o que possa ser dito em favor dessa idéia (e eu vou gastar mais tempo examinando o melhor caso na hora adequada).'° Temos motivos especialmente fortes para investigar as bases biológicas da religião agora. mas é simplesmente indesculpável que pesquisadores. pela sociologia. uma péssima desculpa para a ignorância. pela história e por qualquer outra variedade de estudos culturais que se queira. nesses campos. desviando-se para algo como uma insanidade ou histeria grupai e causando grande dano. p. pela psicologia. de circunstâncias nas quais as religiões saem do controle. Isso não é nada fácil. Mesmo se fizermos justiça ã ciência da religião (pela primeira vez).informadas por biólogos nas brenhas da complexidade cultural. o seu sistema com fome de gorduras. O conhecimento da base racional da maquinaria no nosso corpo que nos leva a comer doces e gorduras demais é a chave para encontrar as medidas corretivas que irão realmente funcionar. 2537). se você se limita a permitir que os norte-americanos continuem a consumir 40% das calorias em gorduras" (Taubes. e faz também uma advertência oportuna para o empreendimento que estou propondo aqui: "E uma história daquilo que pode acontecer quando as exigências das políticas de saúde pública . Haverá também um resultado. de modo informado. 2541). Esse é o tipo de campanha mal orientada que queremos evitar quando tentamos corrigir o que achamos ser . resume: "Chega um ponto em que. Mas. As boas intenções não são suficientes. Taubes (2001) faz um relato que abre os olhos para os processos políticos que criaram e sustentaram esse "evangelho do baixo teor de gordura". que então se mantém auto-sustentável sob o cuidado solícito dos fabricantes e dos anunciantes de alimentos com baixo teor de gordura. 2001. Existe uma boa causa que pode ser defendida. O pensamento evolutivo singelo do passado recente ajudou a construir e pôr em ação o movimento do baixo teor de gordura. Algumas vezes . que possa vir a esconder importantes restrições e oportunidades subjacentes para eles.eas exigências do público em busca de conselhos simples [grifos meus] . a redução dos resultados complexos da pesquisa em decisões políticas.têm suas próprias metodologias "autônomas" e questões. de que as ciências sociais e humanas . Basil Rifkind. um dos nutricionistas que foram pressionados a dar um veredicto prematuro sobre a dieta com baixos teores de gordura. nosso risco é multiplicado ao máximo: uma mania religiosa tóxica poderia terminar a civilização da noite para o dia. levando ao excesso de ingestão de carboidratos. deixem o ciúme disciplinar e o medo do "imperialismo científico" criarem uma cortina de ferro ideológica. uma muleta ideológica que deveria ser jogada fora.

e isso significa que teremos de usar da melhor forma possível o nosso conhecimento para adaptar nossas políticas e práticas de modo que elas possam enfrentar nossos imperativos biológicos.a agricultura em particular e a tecnologia em geral . UMA LISTA MARCIANA DE TEORIAS Se você fosse Deus. de modo trivial. coçar a orelha ou arrotar) é a reação apropriada ao humor. apesar de sua obsolescência.alteraram imensa e rapidamente nossas circunstâncias ecológicas em comparação com as circunstâncias de nossos ancestrais bastante recentes. "Por que os animais machos não lactam?". mas isso ainda deixa a questão do porquê. de início. Eis algumas outras. Os cientistas não poderiam deixar de concordar com isso. Estamos fadados a ser espécies sabedoras. The Ladys Notfor Burning] Pode ser que estejamos perto demais da religião para podermos vê-la claramente.) Albert Einstein fez uma pergunta igualmente estranha: todo mundo sabe o que "agora" significa.os excessos tóxicos da religião. por exemplo. Comemos o que é bom para nós apenas baseados em nossos instintos moldados pela evolução. 4. As regu. Boas perguntas. Por que rimos quando acontece alguma coisa engraçada? Podemos achar que é simplesmente óbvio que o riso (ao contrário de. O momento mítico de sir Isaac Newton foi se fazer a estranha pergunta a respeito de por que a maçã caiu para baixo. A gente se encolhe de horror com os efeitos possíveis de tentar uma "dieta radical" mal orientada ou outra qualquer com aqueles que estão famintos de religião.laridades e as tendências nas nossas reações ao mundo realmente garantem. pergunta o não-gênio do dia-a-dia. pergunta outro grande biólogo evolucionista. Alguns deles ainda podem ter valor. Curiosamente. "Por que piscamos os dois olhos ao mesmo tempo?". Pode ser tentador argumentar que todos nós estaríamos em melhores condições se não fosse por nutricionistas sabe-tudo que se intrometem em nossas dietas. A civilização . mas por quê? Por que alguns formatos femininos são sensuais. por que não cairia?". óbvias. que elas fazem parte da "natureza humana". para começar. tanto no caso da dieta como no da religião. ainda não respondidas pela biologia. Mas isso é simplesmente errôneo.como se isso fosse uma explicação satisfatória. Uma das tarefas que se impuseram é "tornar o familiar estranho". com olhos novos. "É pesadal" . A biologia tem algumas perguntas estranhas também. você teria inventado o riso? [Christopher Fry. pergunta o finado grande biólogo evolucionista John Maynard Smith (1977). vividamente nos despertando de nossos sonos dogmáticos para confrontar uma perspectiva curiosa. exatamente essa feição do . George Williams (1992)." e alguns grandes golpes de gênio criativo nos levam a atravessar a crosta de familiaridade excessiva e a olhar para coisas comuns. ("Bem. mas Einstein perguntou se você e eu queremos dizer a mesma coisa com "agora quando estamos nos separando um do outro em uma velocidade próxima à da luz. e outros não? Não é claro? É só olhar para elas! Mas isso não encerra o assunto. e isso faz com que a maior parte dos nossos instintos seja obsoleta. mas é provável que outros sejam positivamente danosos. Não podemos confiar na volta à abençoada ignorância do nosso passado animal. do jeito que os outros animais fazem. Esse tem sido um tema familiar entre artistas e filósofos durante anos.

muitas vezes suas vidas profissionais . integrante de uma equipe de investigadores alienígenas. por exemplo? "Porque é naturall". De onde vem todo esse projeto e o que o sustenta? Além de todos os gastos contemporâneos de tempo e esforço. A notável escritora autista e especialista em ciência animal. e interpretação e comparação de todos os aspectos da religião. mas a ciência não tem nada natural como garantido. não o final.) e. compositores executando encomenda de novos hinos.. pesquisa e desenvolvimento . Se os marcianos apenas se concentrarem nisso. mas também sacrifícios custosos . Por quê? Cui bono? Por que a música existe? Por que a religião existe? Dizer que é natural é apenas o início da resposta.fazendo. O filósofo Ludwig Wittgenstein tem um dito famoso. mas essa verdade inegável nos orienta mal. no entanto. acabando prematuramente com a nossa curiosidade. sociais etc. televangelistas encontrando-se com agências de publicidade e outros consultores para planejarem suas novas estações de difusão. que a explicação deve parar em algum lugar. Temple Grandin. a música ou . No mundo desenvolvido. deliberada. complacente. Trabalho de projeto . existe um imenso empreendimento de crítica e defesa pública e privada. contribuindo para o sustento de praticantes especialistas dentro da comunidade e a manutenção de prédios sofisticados e seguindo uma multiplicidade de proibições e exigências arduamente observadas.mente destruindo propriedades valiosas em cerimônias pródigas. escutando e dançando com música. se nos desencoraja de fazer tais perguntas.também é caro. vem a resposta diária. Os marcianos não teriam dúvidas de que tudo isso fosse "natural" em um sentido: eles o observam quase em todo lugar na natureza..não trabalhar em alguns dias. decisões de comitês de construção para aceitar uma proposta vencedora de arquitetura para um novo templo. eles formarão a impressão de que a religião. poéticos. Como os outros fenômenos da natureza. e ajuda se temporariamente nos pusermos nos sapatos (três calçados verdes brilhantes) de um "marciano". mas afastar-se um pouco do mundo comum ajuda a focalizar nossa atenção naquilo que. além do tempo e da energia gastos na observação religiosa. e daí por diante. de outro modo. ao lidar com outras pessoas aqui na Terra. há todo o implícito trabalho de projeto que o precedeu. usando véus. disse a Sacks. não importando que crise iminente necessite da atenção imediata.P &D. como preces diárias (tanto públicas como privadas) ou comparecimento freqüente a cerimônias. Em geral essa alienação é um impedimento. Por que a música existe. este exibe tanto uma diversidade de tirar o fôlego como espantosas banalidades. Era assim que ela se sentia. Alguns projetos de P &D podem ser observados diretamente pelos marcianos: debates entre líderes religiosos a respeito de abandonar ou não elementos desajeitados de sua própria ortodoxia. ofendendo-se com comportamentos alheios aparentemente inócuos. como a ciência. teólogos escrevendo tratados. projetos lindamente engenhosos (rítmicos. deu ao neurologista Oliver Sacks um ótimo título para uma de suas coleções de estudos de caso de seres humanos pouco comuns: Um antropólogo em Marte (1995). uma pasmosa inescrutabilidade. artistas e filósofos. que podem ser imaginados como pouco familiarizados com os fenômenos que estamos observando aqui no planeta Terra. arquitetônicos. inclusive evitando determinados alimentos.questionamento evolutivo é muitas vezes encarada com profunda aversão por. Pessoas no mundo inteiro dedicam muitas horas . em uma espécie de bípedes falantes. O que eles vêem hoje é uma população de mais de 6 bilhões de pessoas. sendo que quase todas dedicam uma fração significante de seu tempo e energia a algum tipo de atividade religiosa: rituais. é óbvio demais para ser notado.

Quão profundas? Profundas como os genes? Haverá "genes para" as semelhanças entre as religiões existentes no mundo? Ou serão os modelos que importam mais geográficos ou ecológicos que a genética? Os marcianos não precisam invocar os genes para explicar por que as pessoas. elas exibem profundas características e padrões em comum. Se construtores de barcos. ou ainda sejam. irão notar logo que existe uma enorme variedade na sofisticação dos construtores de barcos pelo mundo todo. mas outros têm uma resposta simples: construímos barcos assim porque esse é o jeito como sempre os construímos. pouco populares com os fregueses -. muitas vezes firmados. não há dúvida de que as igualmente intricadas e projetadas religiões populares. Do mesmo modo que a música popular e a arte popular. não usam casacos de pele. Um caso extremo seria a cientologia. Eles copiam os projetos que aprenderam de seus pais e avós. otimizando-os para as condições locais. os genes. . notarão os marcianos. ou por que as embarcações no mundo inteiro são tanto alongadas como simétricas em torno do eixo longo (fora as gôndolas venezianas e algumas jDutras poucas embarcações especializadas). embora ele tenha evidentemente tomado de empréstimo elementos que deram certo em religiões já existentes. As pessoas cometem enganos.já que são consideradas defeituosas. seja lá quais tenham sido. sem que ninguém se dê conta ou tenha a intenção. Ron Hubbard. consiste em sistemas de atividade social que são projetados e reprojetados por agentes conscientes. eles podem preservar características do projeto durante centenas ou até milhares de anos. de qualquer modo. No outro extremo. Os marcianos. uma religião inteira que foi criação inquestionável. Essas instituições mostram evidências claras de projeto. olhe só. Alguns deles conseguem dar explicações articuladas e precisas sobre exatamente por que insistem em que seus vasos sejam simétricos. é um paralelo tentador com o outro meio de transmissão que eles identificaram. do mesmo modo que o Banco Mundial. e embora a maior parte dessas variações desapareça logo . essas influências. A cópia humana é mais ou menos variável. em algum sentido uma melhora ou inovação para a qual existe um "nicho de mercado". em climas equatoriais. difundidas pelo mundo todo. de modo que surgirão muitas vezes ligeiras variações nas cópias. deliberados. os problemas que precisam ser resolvidos. deliberadamente projetada por um único autor. ou o Vaticano n. Essa cópia mais ou menos desatenta. os custos e os benefícios. explicações que qualquer arquiteto naval com doutorado em engenharia aplaudiria.mistas ou cantores têm o hábito de copiar velhos projetos "religiosamente". erros são identificados e corrigidos ao longo do tempo. "de segunda" ou. nunca foram submetidas por seus praticantes a nada como os processos de "conselho de revisão do projeto" exemplificados pelo Concilio de Trento. E. mas não são "perfeitas". Um tipo de P &D que moldou e ainda está moldando a religião cai claramente dentro dessa categoria.o esporte profissional. e quando há discordâncias sérias entre os que têm o poder e a responsabilidade de manter tal sistema. A National Football League foi criada e projetada por indivíduos identificáveis para satisfazerem um conjunto de objetivos humanos. E. buscam-se acordos. ou religiões tribais. os riscos. essas religiões adquiriram suas propriedades estéticas e outras feições de projeto por meio de um sistema de influência menos acanhado. tendo dominado as linguagens do mundo. cera. esse processo relativamente desatento durante longos períodos pode moldar projetos a um grau maravilhoso. de vez em quando uma variação vai engendrar uma nova linhagem. L. que conhecem os pontos ou objetivos dos empreendimentos. que fizeram o mesmo na época deles.

Quando estiver em Roma. Assim também acontece com as peculiaridades da pronúncia. e os pontos "óbvios" tendem a ser simplistas e errados. a pronúncia peculiar de alguma palavra por parte de alguma celebridade local pode "pegar". em geral. deliberados ou não. mas pelo menos uma coisa fica clara: uma vez que um desvio começa a emergir em uma localidade. todas descendentes do latim. previstas. em geral leva as pessoas do local a adotá-lo. em algum sentido. O que é copiado não tem de ser um gene. preservando diversas das características básicas. dessa maneira. sem um autor ou inventor. exatamente como um projeto transmitido geneticamente. Por ora. ou mesmo um editor ou crítico conhecedor. e essas revisões não têm autores deliberados. como um geneticista diria. planejadas. então. isso levará inexoravelmente ao lento processo de melhora de projeto que Darwin chamou de evolução por seleção natural. "melhores" (apenas melhores o suficiente para que novas cópias delas sejam feitas na leva seguinte). podemos identificar plausivelmente o "Adão" e a "Eva" na raiz da árvore da família.itens que são copiados repetidas vezes . português e outras línguas descendentes não foram intencionais. serão elas. desejadas. Os fabricantes e os donos dos barcos não precisam entender mais os motivos por que suas embarcações são simétricas do que o urso que come frutas precisa conhecer seu papel na propagação de macieiras silvestres quando defeca na floresta. quero apontar para algo que não deveria ser controverso: a transmissão cultural pode às vezes imitar a transmissão genética. uma moda que acabou se transformando em um clichê e. ter uma base racional descomprometida.e. ou seja desconsiderado ou não compreendido. Serão essas revisões adaptações? Ou seja.Um projeto transmitido culturalmente pode.francês. As mudanças graduais que transformaram o latim em francês. e algumas variações são. Aqui temos o projeto de um artefato humano . termo que tem sido. não importa quão maravilhosos sejam esses frutos da evolução cultural.'3 Esse conceito de replicadores culturais . Em raras ocasiões. um comportamento de rotina. espanhol. mas. recentemente. se quiserem ser compreendidas. sob alguns aspectos. português e umas poucas outras variantes -. ordenadas por ninguém. mas. não geneticamente . ao mesmo tempo que revisam outras. faça como os romanos. previdentes. nesses' casos. indivíduos podem decidir inventar uma palavra ou uma pronúncia e realmente conseguir cunhar alguma coisa que acaba entrando para a linguagem. italiano.receberam um nome. melhoras de seus antepassados latinos em seus ambientes? Há muito a se dizer sobre esse tema. Os exemplos mais bem pesquisados são as línguas naturais . 12 E o motivo pelo qual o processo consegue funcionar é exatamente o mesmo na cultura humana e na genética: replicação diferenciada. idiomas de gíria e outras novidades "são fixados". que propôs chamá-los de memes. . resultando em revisões graduais das características desses itens culturais. Quando são feitas cópias com variações. em uma parte estabelecida da linguagem local . música popular. em uma linguagem local. Em ocasiões ainda mais raras. as mudanças que se acumulam não têm autores humanos manifestos. medicina popular e outros produtos desses processos populares muitas vezes são brilhantemente adaptados a objetivos bastante avançados e específicos. centro de controvérsias. permitindo que variantes concorrentes sejam copiadas em velocidades diferentes. Arte popular. por Richard Dawkins (1976).sem um projetista humano. O que é copiado é o jeito de dizer alguma coisa. E nada disso é genético. Pode ser qualquer coisa que satisfaça às exigências básicas do algoritmo de Darwin.transmitido culturalmente.

será que usar um boné com a aba para trás é um meme ou dois (usar o boné e pô-lo ao contrário)? -. ou fazer seus barcos simétricos. São duas palavras diferentes. mas elas são. mas problemas semelhantes aparecem para limites de palavras . As palavras existem. e os motivos pelos quais os . Esses comportamentos podem ser descritos e ensinados explicitamente. ou tirar os sapatos quando se entra em casa.e. até mais abstratas que vozes ou canções ou cortes de cabelo ou oportunidades (e do que são elas feitas?). e algumas são feitas por jatos de energia acústicas na atmosfera. contribui tanto para o controle de qualidade do processo popular (pela replicação desse clássico em produção. austero e sem imaginação". como AGC ou AGA). como dizemos nós. e o que elas têm em comum é apenas que contam como "o mesmo" (símbolos do mesmo tipo.será que devemos contar "dar para trás" como duas ou três palavras? . de triagem e duplicação. As palavras são itens tão familiares no nosso mundo mergulhado em linguagem que tendemos a pensar nelas como se elas fossem coisas tangíveis sem nenhum problema . receitas para usar o aparato vocal e os ouvidos da pessoa (ou mãos e olhos) . O que são as palavras? Palavras são basicamente pacotes de informações de algum tipo. mas não precisam sê-lo. mas. De que elas são feitas? Ar sob pressão? Tinta? Algumas instâncias da palavra "gato" são feitas de tinta. para genes. As condições de contorno são claras para moléculas simples de DNA. "o julgamento é rude. filósofos) em um sistema de representações conhecido como linguagem. Uma palavra é mais que um som ou um modo de escrever. bastante abstratas. lavar roupa. Outros memes são a mesma coisa pacotes de informação ou receitas para fazer outras coisas além de pronunciar -. mas elas podem surgir exatamente pelo mesmo tipo de processo cego. em particular. Há problemas irritantes para saber exatamente quais são os limites dos memes . as pessoas podem apenas imitar os comportamentos que vêem os outros fazerem. ou suas partes constituintes. que produziu o projeto maravilhoso de organismos por seleção natural. e. sem previsão. ou consciências místicas compartilhadas para explicá-los. porque as palavras existem. compartilhando apenas algumas de suas propriedades superficiais. As palavras existem. à custa de todas as canções concorrentes) quanto o mais bem-dotado compositor popular. mas os genes não se enquadram claramente nesses limites. comportamentos como apertar mãos ou fazer um gesto rude. na verdade. consegue se lembrar dessa única canção memorável.de modos bastante específicos. Esses projetos excelentes muitas vezes realmente devem algumas de suas feições a melhorias deliberadas impostas por indivíduos ao longo do processo. Eles às vezes desmontam em diferentes pedaços separados. a palavra fast tem o mesmo som e o mesmo modo de escrever em inglês e em alemão. de fato. e algumas ocorrem silenciosamente em pensamentos.tão reais como xícaras de chá ou gotas de chuva -. nos dois casos. mas tem significados e papéis inteiramente diferentes nos dois idiomas. Por exemplo. De fato. As variações de pronúncia se espalham. plantar roças. e do mesmo modo podem se espalhar variações em métodos culinários.e cérebros . o cantor desafinado que mal consegue cantar uma melodia e esquece quase todas as canções que ouve. A Mãe Natureza é uma contadora ignorante que só quer saber a respeito do lucro imediato em termos de replicação diferenciada. e algumas são feitas de padrões de pontos brilhantes nas telas de computador. ou dobrar à direita. mecânico. como os nucleotídeos ou códones (tripletos de nucleotídeos. e as palavras são memes que podem ser pronunciados.devemos resistir à forte tentação de postular algum tipo de gênio popular mítico. não dando margem a candidatos promissores que não conseguem ficar à altura da competição contemporânea. Será que os memes existem? Sim.

contudo. a dele] fantasia" ou "leia [-me. projetados para reagir a alguma coisa fornecida sob forma intensificada pela religião.biólogos chamam as seqüências de partes de códones de um único gene. ou de inserir de qualquer outro jeito em nossos corpos: açúcar. sem prejudicar a questão de se estamos falando de genética ou de evolução cultural. "se os neurocientistas encontrarem um centro de Deus' no cérebro. e quando os marcianos começarem a teorizar a respeito da religião terrena. mas também nada óbvios. E o que é copiado e transferido tanto no caso dos memes como no dos genes é informação. ou. existe no corpo um sistema receptor desenvolvido. e. chocolate.não insuperáveis. agora. que eu esquematizarei rapidamente. Teorias do gosto por açúcar: primeiro. Essas partes atreladas levantam problemas para quem quiser contar genes . no outro. álcool. são praticamente os mesmos pelos quais os lingüistas identificariam "aguce [minha. depois de milênios de tentativas e erros.como Apêndice A no final do livro. e permitindo que levemos em consideração relatos muito mais interessantes (e mais prováveis) de como e por que as religiões evoluem. nossa espécie inteligente andou fazendo prospecções. experimentando quase tudo no ambiente. explicitamente. junto com nosso gosto pelo doce? Ele serviria para quê? Qual seria o lucro? Como diz Richard Dawkins. a ele. Ao longo do tempo. e não apenas verbos compostos em expressões com diversas palavras. só para dar uma idéia do terreno a ser explorado com maior cuidado nos capítulos seguintes. maconha e ópio. e já que os ultra-ansiosos entusiastas dos memes e igualmente os ultra-ansiosos delatores de memes transformaram o assunto em questão delicada para muita gente. em vez de dois genes. Nem todo mundo. Muitos já acharam que sim. em dois volumes. a principal razão para levar a sério a perspectiva dos memes é que ela nos permite examinar a pergunta cui bono? para todas as características projetadas da religião. de modo que copiei minha introdução básica aos memes . publicada pela Oxford University Press em 2002 . Karl Marx pode ter tido mais razão do que se pensa quando chamou a religião de ópio do povo. abrindo caminho para que consideremos processos de níveis múltiplos. pense na variedade de coisas que gostamos de ingerir. em um extremo. precisa participar desse exercício de higiene conceituai. Por que aqueles dos nossos antepassados que tinham uma tendência genética para o crescimento de um centro de Deus sobreviveram melhor que os rivais. conseguiu descobrir meios de juntar e concentrar as substâncias especiais de modo a podermos usá-las para estimular (demais) nossos sistemas inatos. como as endorfinas ou análogos endógenos da morfina) que esses favoritos possuem em alta concentração. Em cada um desses casos. que só sabe um truque. gordura. terão muitas opções para explorar. A teoria da evolução não é o pônei do filme. e "uma conspiração de padres". eu preciso proteger uma versão (relativamente!) sóbria do conceito de alguns de seus amigos e inimigos. os cientistas darwinianos como eu vão querer saber por que o centro de Deus evoluiu. que nos levarão para longe das idéias simplistas dos "genes da religião"."The new replicators' . não constitui o motivo fundamental de alguém. Os marcianos poderão ficar pensando se há também sistemas evoluídos geneticamente nos nossos corpos.da recente Encyclopedia of Evolution. sua. e se a base racional para uma característica projetada é descomprometida. Terei mais a dizer a respeito dos memes em capítulos posteriores. para começar. Isso expande o espaço de teorias evolucionárias possíveis. a ela] o ato do motim" como expressões idiomáticas manifestas. cafeína. misturados. que não o tinham?" . nicotina. Será que podemos ter um centro de Deus no nosso cérebro. em versões extremas. projetado para detectar substâncias (ou ingeridas ou construídas pelo próprio corpo.' 4 Para os nossos objetivos.

nessa família. De todo modo. debilitante ou intoxicante que o alvo original e potencialmente mais perigoso? Será a religião propriamente dita uma subespécie da medicina popular. xxiv). por exemplo. o coentro "tem gosto" mais de sabão. nem um centro de nicotina.serão os próprios religiosos um tipo de sacarina para o cérebro. exatamente como ele disse. nem bons para nós nem maus. se a necessidade.tinha uma necessidade bruta de religião: "Chame isso. ou pelo menos o gosto. com relação a esse tesouro ainda não identificado se tornou uma parte geneticamente transmitida da natureza humana. de meu germe místico. na verdade: o que deu a vantagem da aptidão foi o buscar e não o conseguir. já que evoluíram tão bem para enfrentar nossas defesas e melhorar sua própria propagação. Se algum desses motivos evolutivos estiver correto. 1902. Tanto o açúcar como a sacarina disparam o nosso sistema de gosto por açúcar. Para nós. se quiser. Ele cria a turma dos crentes. por infecção. explorem quaisquer sistemas preexistentes que estejam à mão. Será que há substitutos para a religião que possam ser encontrados ou preparados por psicoengenheiros inteligentes? Ou . William James há cem anos especulou que ele não todo mundo . citada na introdução de James. É um germe muito comum. na maior parte das vezes. mas companheiros de jornada.neutros. um germe místico.(2004b.melhorando a aptidão humana e até mesmo tornando a vida humana possível. O reflexo de espirrar. levantam algumas possibilidades interessantes. alguma coisa que uma pessoa pega de outra. p.pelo menos no que diz respeito a nossos interesses genéticos -. menos pesado. Ou podem ser parasitas: replicadores deletérios sem os quais ficaríamos melhor . então aqueles dotados de um centro de Deus não apenas sobreviveram melhor que os que não têm. Eles podem ser mutualistas . 14). eles apresentam tendência a ter mais filhos. Mas devemos cuidadosamente pôr à parte o anacronismo envolvido em pensar a respeito desse sistema inato hipotético como um "centro de Deus". mas que são difíceis de ser eliminados. como a enorme variação genética recentemente descoberta entre os seres humanos no gosto e no olfato? Aqueles que detestam coentro têm um gene para um receptor olfativo que os que gostam de coentro não têm. já que seu alvo original pode ter sido bem diferente da reação intensa que ele dispara hoje . mas "horizontalmente". O germe místico de James pode realmente ser um gene místico. Podemos esperar que parasitas culturais. o risco de mexer com ele é nosso. Teoria do simbionte: pode ser que as religiões acabem sendo espécies de simbiontes culturais que conseguem vicejar pulando de um hospedeiro humano para outro. Do mesmo modo que resiste no meu caso. afinal de contas. não "verticalmente" (por descendência dos pais). Qual o benefício adquirido por aqueles que satisfizeram os desejos de seus centros do quê? Pode ser até que não haja nem nunca tenha havido realmente nenhum alvo a ser obtido no mundo. Ou comensais . mas apenas um alvo virtual imaginário. como parasitas microbianos. resiste. é em primeiro lugar uma adaptação para livrar as passagens nasais de . a toda crítica puramente atéia" (carta para Leuba. Deus pode ser apenas o confeito mais recente e mais intenso que faz disparar os centros do quê em tantas pessoas.ainda mais interessante . do mesmo modo que as bactérias no nosso intestino. p. usando terapias esmerilhadas por milhares de anos de desenvolvimento por tentativa e erro? Haverá variação genética na sensibilidade religiosa. As teorias. na qual nós nos automedicamos para termos alívio.não temos um centro inato de sorvete de chocolate no cérebro. Ou pode ser.

na verdade.do gênero simbionte Cultus religiosus). só vale a pena se importar com uma minoria. E o aspecto principal a ser esclarecido desde o início é que não podemos dizer qual desses é mais provavelmente o ser verdadeiro sem fazer uma pesquisa cuidadosa. Se (algumas) religiões são parasitas evoluídos culturalmente.lista porque beneficia o hospedeiro bem diretamente. É possível que sua religião pareça evidentemente benigna para você. a intensidade e a freqüência dos encontros com outros. obtendo um lançamento de alta energia para uma vizinhança em que hospedeiros em potencial possam inalá-lo. 1998)! A maior parte desses trilhões de hóspedes microscópicos é inócua ou útil. para seus dias iniciais.. mas quando um micróbio provoca o espirro. (Uma mãe substituta . Como já vimos com o exemplo do fermento excretor de álcool. O espalhamento de micróbios e o espalhamento de memes podem explorar mecanismos semelhantes. em geral é o germe. e talvez a sua religião o esteja envenenando de modos que você nunca suspeitou. para você. muito evidentemente tóxicas aos infectados por elas. sem perturbar os hospedeiros mais que o absolutamente necessário. mas as aparências enganam.per et al. despercebidos. ou poderá florescer como um parasita. e outras religiões podem muito bem parecer. e não quem espirra. Pode ser que um gosto inicial seja explorado por simbiontes culturais que incluam tanto formas mutualistas como parasitas. mas a aptidão dela (como um membro reprodutor . Quando olhamos para a religião a partir dessa perspectiva. fortificados por tradições que aumentam o comprimento. fracos demais para combater a disseminação. podemos esperar que tenham sido insidiosamente bem projetadas para esconder sua verdadeira natureza de seus hospedeiros. Mas as perspectivas evolutivas nos permitem ver que há tanto cenários positivos como negativos depois que começamos a encarar a religião como possível simbionte cultural. o cui bono? muda dramaticamente. Muitos deles. Essas heranças não são genéticas. não são exclusivas. Ele poderá vicejar como mutua. Seu corpo talvez seja composto de ioo trilhões de células (Hoo. mas outros são apanhados por contato corporal ou proximidade. objetiva. É assim que os parasitas trabalham: silenciosamente. a do gosto pelo açúcar e a do simbionte. já que essa é uma adaptação que faria sua disseminação avançar. Há simbiontes amigáveis por toda parte.auto-replicante . há possibilidades simbióticas que combinam diversos desses fenômenos ao mesmo tempo. e apóstatas muitas vezes olham para trás.lenta que os deixa pior. embora oprima seus hospedeiros com uma doença viru. *** Essas duas famílias de teorias. como um período de aflição ao qual eles de algum modo sobreviveram. são auxiliares valiosos que herdamos de nossas mães e seríamos bastante indefesos sem eles. como impulsos irresistíveis de transmitir histórias ou outros itens de informação para os outros. o principal beneficiário. Você realmente não coYisegue ver de dentro. que poderão ser prováveis hospedeiros. Pode ser que a religião deles lhes esteja dando benefícios que você simplesmente ainda não entende. Agora não é a nossa aptidão (como membros reprodutores da espécie Homo sapiens) que é supostamente melhorada pela religião. Um simbionte relativamente benigno ou inócuo pode sofrer uma mutação sob determinadas condições para algo mais virulento e até mortal. Durante milênios as pessoas imaginaram que outras religiões podiam ser uma forma de doença ou mal-estar.agentes irritantes estranhos. Alguns podem ser passados adiante via fluxo sangüíneo compartilhado entre mãe e feto.

que escolhe um parceiro apenas depois de avaliar cuidadosamente os ninhos concorrentes. apesar de tudo. melhor.memes . Falar a "língua materna". Esse é um exemplo de seleção sexual fugitiva. a alguns programas grosseiros e cruéis de "higiene". e os recém-nascidos humanos privados dessas fontes de herança muitas vezes são profundamente prejudicados. ou vice-versa. Uma possibilidade evolutiva de tipo inteiramente diferente é representada pelas teorias da seleção sexual. Os filhos crescem falando a língua dos pais e. Os machos dedicam tempo e esforço extraordinários para construir e decorar estruturas elaboradas. ao longo de muitas gerações. homens de família mais fiéis. Nesses casos.que não faz contribuições genéticas ao feto implantado em seu útero. nada há que faça com que o amarelo seja melhor que o azul. poderia ser apenas um capricho. projetadas para impressionar a fêmea da espécie. (Ver Cronin. embora arbitrária. Tais conversões desempenham um papel desprezível na maior parte das circunstâncias.e especularmente caras e desajeitadas. na maioria das vezes. Uma avaliação frágil desse aspecto levou. um viés inicial no capricho inato das fêmeas. Ou o mesmo capricho poderia ter uma vantagem seletiva apenas . pressão seletiva. na antiga União Soviética. que obrigam os pavões a criar caudas espetaculares . pode ser disseminada "horizontalmente" para os não-descendentes. uma característica maligna da cultura humana. Talvez a religião seja como o ninho de determinados pássaros. com conseqüências calamitosas. como os caprichos das pavoas. um gosto pessoal cego que as impelia na escolha. A religião. por vias não genéticas. cujas preferências podem. identificando-se com a religião deles. adquire um feedback positivo em machos intensamente azuis. poderia ter sido uma seleção sexual direta por parte das mulheres pelos traços psicológicos que reforçam a religião.) Simbiontes culturais . no entanto dá uma grande contribuição à microflora que o bebê levará pelo resto da vida. Se você acha que a religião é. a não ser o gosto reinante da fêmea da espécie. Como poderia alguma coisa do tipo da seleção sexual fugitiva moldar as extravagâncias da religião? De muitas maneiras. como a preferência por azul com relação ao amarelo. Talvez elas preferissem homens que demonstrassem sensibilidade à música e às cerimônias. em grande escala. um tipo de doença da infância com efeitos posteriores duradouros. subvariedade da seleção natural em que o papel central da função seletiva é desempenhado pela exigente fêmea. para um belo apanhado. essas mães e pais tenderiam a criar mais filhos e netos do que outros. cantar. no passado. Na natureza.são passados adiante para os filhos do mesmo modo. mas bem simples: vacina e isolamento. A reação da religião na Rússia pós.) A coloração viva dos pássaros machos é o exemplo mais bem estudado de seleção sexual. Primeiro. o que poderia então ter se intensificado para uma propensão ao entusiasmo elaborado. a política de saúde pública a ser adotada para isso seria politicamente drástica. As mulheres que tinham essa preferência não precisariam saber por que a tinham. e tanto a sensibilidade à cerimônia como o gosto por aqueles propensos à cerimônia se espalhariam. se acumular em exigências altamente específicas e onerosas. 1991. Sabe-se bem que o elo entre pais e filhos é a maior via de transmissão da religião. mas se os homens que elas escolheram por acaso eram melhores provedores. quanto mais azul. não sendo genética.URSS sugere que a religião tem papéis a desempenhar e recursos nem sonhados por essa visão simples. Não deixe os pais darem a seus próprios filhos uma educação religiosa! Essa política já foi tentada. que exerce uma potente. ser educado e muitas outras aptidões de "socialização" são transmitidos culturalmente de pais para filhos.

Outros fenômenos sociais também exibem espirais inflacionárias de competição cara e essencialmente arbitrária: rabos-de-peixe nos carros dos anos 1950. nossos antepassados esbanjaram tempo e trabalho em artefatos aparentemente não usados sempre que puderam. Esses costumes trazem a marca de terem sido criados por uma escalada de feedback positivo como o que estabeleceu as caudas dos pavões ou os gigantescos chifres dos cervos irlandeses. mas deveríamos também considerar os análogos culturais da seleção sexual. mas há outros também. nas quais os indivíduos competem entre si para ver quem consegue dar mais de seus bens. O arqueólogo Thomas Wynne (1995) opinou que "seria difícil superenfatizar como esses machados são estranhos quando comparados aos produtos da cultura moderna". mas elas definitivamente escolheriam aqueles de nós que pulassem . algumas vezes ao ponto da ruína. plano que foi transmitido culturalmente. templos e sacrifícios. poderíamos agora ser incapazes de ficar quietos quando chovesse. Fica claro que os nossos antepassados gastaram muito tempo e energia fazendo esses machadinhos. amorosamente lixados e raramente exibindo qualquer sinal de uso. precedente que vale a pena lembrar quando nos maravilhamos com tumbas.americanos do Noroeste eram impressionantes: demonstrações cerimoniais de generosidade conspícua. publicidades evidentemente caras da superioridade masculina. Os hominóides que trabalharam tanto para participar dessa competição não precisavam entender mais das bases racionais do empreendimento que as aranhas macho que apanham um inseto e embrulham-no cuidadosamente em seda para dar como "presente nupcial" à aranha fêmea durante a corte. de modo que os filhos aos quais faltasse a sensibilidade à cerimônia em moda eram desprezados pelas mulheres exigentes. não geneticamente. As cerimônias do potlatch encontrada entre nativos norte. Isso poderia ser uma propensão geneticamente transmitida. e o desenho mal se alterou ao longo das eras. com variação significante na população. Esse argumento é altamente especulativo e controverso. disse uma vez um arqueólogo. ela provavelmente vende milhões de violões por ano. de outro modo. Geofatos são aquilo a que os geólogos chamam de pedras. tivesse um gosto por homens que pulassem para cima e para baixo na chuva. Sejam quais forem as razões para isso. nós. mas não são .) Certamente é conhecida a idéia de que o talento musical é o caminho real para os braços de uma mulher. Durante mais de um milhão de anos. As garotas poderiam ou não compartilhar nossas tendências de pular sob essas condições.porque mais mulheres partilhavam dele. (E se uma amostra influente de nossas antepassadas. modas de adolescentes e exibições de iluminação do lado de fora da casa durante o Natal estão entre os mais freqüentemente discutidos. implementos de pedra com o feitio de pêra. os nossos ancestrais fizeram lindíssimos "machadinhos acheulianos". mas ainda não há prova em contrário. E pode muito bem haver algum fundamento nela. . mas biofatos. talvez nos escapem. sem nenhuma outra razão. Kohn propõe que esses machados podem não ser artefatos. "Eles são biofatos". mais semelhantes a ninhos elaborados dos pássaros que ao arco-e-flecha de um caçador.são apenas o produto não intencional de algum processo geológico.é essa a implicação da clássica hipótese da seleção sexual. 1996). cunhando um termo novo e inspirando o divulgador de ciência Marek Kohn (1999) a apresentar uma hipótese espantosa. de tamanhos variados. e ele é útil para nos alertar sobre as possibilidades que. caras. Encontraram-se grandes esconderijos com centenas e até milhares desses machados (Mithen. que parecem artefatos. em uma tradição que dominou a batalha entre os sexos durante um milhão de anos.

que depende de determinados fenômenos ambientais (como formação de grupos). não conseguem mais digerir o leite depois da infância. não tinham dificuldade em consumir leite quando eram bebês. são mais bem tratados como exemplos de seleção em nível individual.A interação entre a transmissão cultural e genética também deveria ser explorada. b. seleção grupai. culturalmente. genéticos ou culturais. mas o pastoralismo. Alguns fenômenos biológicos se disfarçam de seleção grupai. pelo que sabemos.' 6 Os cardumes de peixes e bandos de pássaros. como os chineses e os japoneses. Como já observamos. mas inúmeros outros. ao contrário dos filhos de cães pastores bascos. porque a religião faz com que a vida na sociedade seja mais segura. Todos na sociedade se beneficiam. uma vez que os corpos deles desligou o gene da fabricação da láctase. Leve em consideração o bem estudado caso da tolerância à lac. se conseguimos induzir as pessoas a formarem grupos (do jeito como o Toxoplasma gondii leva os ratos para as mandíbulas de gatos) . Quem não é tolerante à lactose? Para os geneticistas. por exemplo. é claro.) Além dessas. Alguns se beneficiam mais que outros. mas os grupos não são os beneficiários primários. já que as condições sob as quais a seleção de grupos genuína pode existir são difíceis de especificar. depois de desma. por exemplo. harmoniosa.mados. Esta última hipótese. Cui bono? Quem se beneficia? Aqui podemos considerar várias respostas: a. é transmitido culturalmente. a enzima necessária.tose nos adultos. e. mas. Não importa se os indivíduos se beneficiam. ele poderia ser transmitido geneticamente. (Nos cachorros da raça "border collie". ela prospera oprimindo os mal informados e impotentes. Supostamente. Para ver como indivíduos (ou seus genes individuais) são beneficiados pela disposição a formar cardumes ou bandos é preciso conhecer a ecologia dos grupos. ou até como exemplos de fenômenos de seleção simbiôntica. contudo. A religião é mais semelhante a um esquema de pirâmide do que a um sistema monetário. a disposição de cuidar de rebanhos de animais da qual depende o traço genético. As sociedades como um todo se beneficiam. existe um padrão claramente definido: a tolerância à lactose está concentrada em populações humanas descendentes de culturas que desenvolviam pecuária leiteira. um caso de evolução social convergente. a perpetuação de seus grupos sociais ou políticos é reforçada à custa de grupos rivais. enquanto a intolerância à lactose é comum naqueles cujos ancestrais nunca foram pastores de animais leiteiros. enquanto seus beneficiários a transmitem de bom grado a seus herdeiros. é problemática. não foi. Sua presença em todas as culturas é facilmente explicada e até justificada: é um Bom Estratagema que espera ser redescoberto vezes sem conta. o instinto de pastoreio foi introduzido [Dennett. 2003c. Muitos de nós adultos conseguimos beber e digerir leite cru sem dificuldade. o que é o padrão normal nos mamíferos. de acordo com as quais as religiões são artefatos culturais tanto como os sistemas monetários: sistemas desenvolvidos na comunidade que evoluíram. eficiente. A elite que controla o sistema se beneficia à custa dos outros. d]. um meme simbionte precisa ser espalhado para novos hospedeiros. mas ninguém pensaria em querer acabar com a coisa toda. c. há as teorias do dinheiro. muitas vezes. certamente são fenômenos que envolvem grupos.'5 A tolerância à lactose é transmitida geneticamente. os indivíduos que os compõem é que o são. que.

e. se isso for verdade. ninhos elaborados. simbionte. mais provavelmente. agentes humanos. e depois incessantemente reage aos resultados de sua primeira reação. Se você acha que já sabe qual a teoria certa. Mas isso não poderia ser o fim do papo. Talvez lhe pareça que estou. ou uma família de mecanismos. a religião não é para nada. mas a verdade a respeito da religião pode muito bem ser um amálgama de diversas delas (e mais outras). da evolução) de reagir a irritações ou intrusões de um tipo ou de outro. Esses mecanismos são desenhados pela evolução para determinados objetivos. nunca foi prevista pela evolução. que podemos chamar de teoria da pérola: a religião é simplesmente um lindo subproduto. Se for assim. aparece alguma coisa nova. nós ainda temos de responder à pergunta cui bono?. ou porque nos é agradável agradar a Deus. e assim por diante. De acordo com as teorias das pérolas. a explicação não é nenhuma seleção grupai. Uma pérola começa com um cisco insignificante de material estranho (ou. desprezando a explicação óbvia de por que a sua religião existe e tem as características que apresenta: ela existe porque é a reação inevitável de seres humanos esclarecidos ao fato evidente de que Deus existe! Alguns acrescentariam: nos envolvemos nessas práticas religiosas porque Deus manda. Se os marcianos não conseguirem fazer com que nenhuma dessas teorias se ajuste aos fatos. de modo que alguma replicação diferencial deve pagar pelo P &D responsável pelo projeto. por motivos bons ou maus. ou então você está confundindo desejos fantasiosos com conhecimento. Fim de papo.nos quais elas conseguem facilmente encontrar hospedeiros alternativos. Há poucos sinais de aleatorie. os seres humanos podem ser incapazes de reagir a suas próprias reações. do ponto de vista da biologia. já que existe. Seja lá qual for a sua religião. ou simbionte cultural. não obteremos uma visão clara de por que a religião existe até que tenhamos distinguido claramente essas possibilidades e submetido cada uma delas a teste. Essas hipóteses não se desenvolvem todas na mesma direção. ou grupo. um parasita). Há outros padrões de valores que podem surgir. então. ou você é um grande cientista que vem escondendo do resto do mundo uma enorme montanha de pesquisa não publicada. pérola ou nenhuma das opções anteriores? A religião pode incluir fenômenos da cultura humana que não têm análogos remotos na evolução genética. porque é inegável que os fenômenos da religião são projetados em um grau muito significativo. alguma coisa que por acaso cativa a nós. ela pode ser um objet trouvé. seja ou não essa cobiça avaliada do ponto de vista da aptidão biológica. dinheiro. controlado geneticamente. incorporando camadas cada vez mais elaboradas a uma produção que assume. mas então. formas e características inimagináveis em seu modesto início. é claro.dade ou arbitrariedade. mas. Mas. ela passa a ser algo de valor coincidente com integrantes de uma espécie que por acaso aprecia essas coisas. que por acaso dispara as atividades que geram esse espantoso artefato. O que explica a religião? Gosto por doces. com o objetivo (da Mãe Natureza. ela não beneficia nenhum gene ou indivíduo. e depois aos resultados dessa reação. alguma coisa que nunca foi encontrada antes. há mais pessoas no . ou uma nova convergência de fatores diferentes. sem justificativa aparente ou altamente articulada. e. É criada por um mecanismo. que temos uma capacidade indefinidamente crescente para nos deliciar com novidades e curiosidades. eles deveriam considerar algum tipo de teoria default. um dia. depois que a ostra acrescentou cada maravilhosa camada. um tanto de propósito. Do mesmo modo que a ostra reage ao elemento irritante inicial.

você pode muito bem imaginar. uma vez que põem em dúvida a própria possibilidade de levar adiante a pesquisa que estou empreendendo. especialmente os estudiosos que investiram pesadamente nas respostas. você deveria ir diretamente ao Apêndice B. *** Capítulo 4. e diferentes das nossas razões. e nem um pouco preocupados. não seriam as perspectivas religiosas tão válidas quanto as científicas? Como podemos encontrar alguma base comum. Se você chegou até este ponto. evoluíram para resolvê-los. especificando com mais detalhes e defendendo o caminho pelo qual podemos trabalhar juntos para encontrar concordância mútua a respeito de como proceder e sobre o que é importante. mas também cria problemas. Porém. O ambiente social e lingüístico que co-evoluiu com o cérebro do homem dá aos seres humanos poderes que nenhuma outra espécie desfruta. ao contrário. valorizamos por algum motivo. não é óbvio para todo mundo. então. ou até mesmo para a maioria. aparentemente. há razões evolutivas.açúcar. Do mesmo modo que o cérebro de todos os animais. Outros. mas elas podem ser adiadas até depois que o esboço da teoria esteja completo. Se você discorda. música. e as religiões populares. Mesmo que seja óbvio para você. é porque está disposto a indagar sobre as fontes e causas das outras religiões. neste livro. Capítulo 3.a nós todos.mundo que não compartilham dela do que as que compartilham. na verdade. bases racionais descomprometidas que foram endossadas pela seleção natural. dinheiro. não passa de apenas outra religião? Ou. "Mais algumas questões a respeito de ciência". cruciais para meu projeto -. Por trás disso. na verdade . contudo. será que a ciência pode ser verdadeiramente imparcial? Será que a ciência. e cabe a você .explicar por que tantas pessoas entenderam errado e como aqueles que sabem (se houver algum) conseguiram entendê-la direito. Não seria hipocrisia alegar que sua própria religião está um tanto fora dos limites? Só para satisfazer à sua curiosidade intelectual. antes de começar a ler o capítulo 4.de fato. As questões são importantes . objetiva. ficam impacientes com elas. a partir da qual erguer nossas investigações? Essas questões preocupam muitos leitores. você poderia desejar ver como sua religião resiste ao tipo de escrutínio a que submeteremos as outras. . sexo. o cérebro humano evoluiu para lidar com problemas específicos dos ambientes nos quais deve operar. amor e religião -. que trata desses problemas. A aparente extravagância das práticas religiosas pode ser explicada nos termos austeros da biologia da evolução. Tudo o que valorizamos .

.

banho em uma cachoeira e tomando um sumo alucinógeno (torna você invencível.não importa o que os devotos delas possam dizer. Algumas crenças religiosas são verdadeiramente acidentais (segundo padrões históricos). "tanto quanto sabemos. "Os Lingapurãna prometem o céu de Shiva a quem mate ou arranque a língua de quem insulte Shiva" (Klostermaier. mas essa é a visão restrita de um historiador. por sua vez. mas tem o hábito infeliz de ir embora quando você está em dificuldade). e esta simplesmente não é a verdade. virando uma mariposa gigante. a arutam. a alma verdadeira. e a musiak. algumas vezes a "serpente-espírito de uma mulher velha" faz uma aparição zangada (de acordo com os xamãs). do Equador. E por isso que você tem de ficar fora do alcance da cabeça da sua vítima (Harris. AS RAÍZES DA RELIGIÃO 1. Os jivaro. e pode-se ler a respeito do advento de outras em arquivos de jornais. antes de haver quaisquer crentes no planeta. 1994). 116). existido em todas as épocas e em todos os lugares" (1997. a alma vingadora que foge da cabeça de uma vítima e mata seu assassino. . Quando os europeus. antes de haver quaisquer crenças a respeito de qualquer coisa. a religião tem. em especial quando temos registros históricos confiáveis do passado recente.PARTE 2 E VO LUÇ Ã O D A R E LI G I Ã O 4. indicando que um cabrito ou algum outro animal deve ser sacrificado para os ancestrais da tribo de modo que a criança nasça com saúde (Lawson e McCauley. Entre os zulus. Houve uma época. sem exceção. [D'Arcy Thompson] ENTRE OS HINDUS há uma divergência sobre se é Shiva ou Vishnu o Senhor maior. acreditam que você tem três almas. Como surgiram todas elas? Algumas vezes a resposta parece bastante evidente. afinal. Mareei Gauchet começa seu livro sobre a história política da religião observando que. O NASCIMENTO DE RELIGIÕES Tudo é o que é porque ficou desse jeito. em seus magníficos navios a vela. que você tem desde o nascimento (esta volta ao seu lugar de nascimento depois da morte. que quando morre vira nevoeiro). Essas crenças e práticas curiosas não existiram "desde sempre" . e muita gente foi morta por causa de sua crença nessa questão. 22). e aí se transforma num demônio. uma alma que você obtém por meio do jejum. p. 1993). p. que morre. 1990. quando uma mulher grávida está prestes a dar à luz. Houve uma época antes de crenças e práticas religiosas terem ocorrido a qualquer pessoa.

e outros carregamentos além de seus conhecimentos. no fim da guerra. um tipo de treinamento militar misturado com danças tradicionais. recusando presentes e tentando nos fazer cantar hinos? Cultos à carga surgiram vezes sem conta no Pacífico. [MotDoc. funcionaria para eles em Tana. pararam de ir à igreja e começaram a construir pistas de pouso. eles encontraram uma desconfiança obstinada: por que esses sovinas ancestrais estão disfarçados. Nesse dia. para tentar converter os melanésios ao cristianismo. capacetes e rifles norteamericanos eram feitos de bambu e usados como ícones religiosos. esculpidas ou tatuadas no peito e nas costas. todos os anos. Durante as festividades. no século xvm. Durante a Segunda Guerra Mundial. Os ilhéus começaram a marchar em paradas com as letras USA pintadas. embora não haja registro de qualquer soldado norte-americano com esse nome. Eles reagiram do jeito que provavelmente reagiríamos hoje se visitantes do espaço aparecessem.visitaram pela primeira vez as ilhas do Pacífico Sul. os anciãos marcham em uma imitação de exército. camisetas e casacos. John Frum surgiu como o nome do Messias deles. Quando os missionários luteranos chegaram a Papua Nova-Guiné. Modelos esculpidos de aviões. com histórias de homens brancos e pretos que tinham posses além dos sonhos do povo de Tana. uma bandeira norte-americana foi erguida na baía Enxofre para declarar a religião de John Frum. tanto quanto nos divertimos com a conclusão dos melanésios de que os europeus deviam ser seus ancestrais disfarçados. se tinha funcionado para os norte-americanos. a sociedade inteira foi lançada em confusão. E nossos insignificantes esforços no sentido de usar o que sabíamos para tomar o controle da situação e restaurar nossa segurança e sentimento de poder provavelmente divertiriam esses alienígenas tecnologicamente superiores. os melanésios que moravam nessas ilhas ficaram abismados pelos navios e pelos presentes notáveis que receberam do homem branco que morava neles: tigelas de aço e fardos de tecido e vidros através dos quais se podia ver. como bonés. semideuses a serem adorados. em 15 de fevereiro de 1957. é comemorado o Dia de John Frum. que voltavam do reino dos mortos com incontáveis riquezas. Os ilhéus. Quando o último G I norte-americano foi embora. vizinha. 2004] Ainda mais recentemente. Eles acreditam que seus rituais anuais atrairão o deus John Frum do vulcão e entregarão sua carga de prosperidade a todos os ilhéus. na ilha Nova Britânia. capazes de nos sobrepujar quanto quisessem e trazendo tecnologias com as quais nem sequer sonhamos: "Precisamos conseguir um pouco dessa carga e aprender como dominar os poderes mágicos desses visitantes". por volta de 1960. na Efate. O movimento continuou a florescer e. Quando os trabalhadores voltaram. A doutrina Pomio Kivung afirma que a adesão às Dez Leis (uma versão modificada do . Eles acreditam que John Frum está esperando escondido no vulcão Yasur com seus guerreiros para entregar seus presentes ao povo de Tana. na crença de que. em Papua Nova-Guiné. os ilhéus previram o retorno de John Frum. no final do século xix. armazéns e mastros de rádio de bambu. Alguns levam imitações de rifles feitas de bambu e usam memorabilia do exército norteamericano. o culto Pomio Kivung foi encontrado. Ainda viceja. as forças norte-americanas chegaram à ilha de Tana para recrutar milhares de homens que ajudassem a construir uma pista de pouso e uma base do exército na ilha Efate. muitos dos quais tinham sido anteriormente convertidos ao cristianismo por missionários britânicos.

por que o credo deles não desmorona tão prontamente como as falsas idéias a respeito da agropecuária ou as práticas de construção obsoletas? Elas irão desmoronar no tempo próprio. a sua religião. o islã tem menos de 1 500 anos. O protestantismo tem menos de quinhentos anos. que fazem o assim chamado "Governo da Aldeia". Os líderes espirituais do Pomio Kivung têm sido o fundador.mas só se formos generosos com nossos limites. e. divindades. Bernard. seu principal assistente. e em geral não duram mais que uma década. Nem sequer são longos quando comparados às idades de outras características da cultura humana. p. A condição decisiva para induzir o retorno dos ancestrais e inaugurar o "Período das Companhias" é alcançar suficiente purificação coletiva. Os três residiram fisicamente na terra (especificamente na região Pomio da província). Duas ou três aparecem todos os dias. Kolman.Decálogo [Dez Mandamentos]) e a execução fiel de um conjunto extenso de rituais.aquelas cujos adeptos somam centenas ou milhares de milhões -. Ela viceja hoje porque você e outros de sua fé sabem que ela é a verdade. O mais importante desses rituais tem como objetivo aplacar os ancestrais. resultante da transferência de conhecimento e de uma infra-estrutura industrial para a produção de maravilhas tecnológicas e riqueza material igual à do mundo ocidental. Algumas religiões confirmaram histórias com datas de vários milênios atrás . Este é um tema de . E simples assim. inclusive o pagamento de multas com o objetivo de ganhar absolvição.' Não há meios de saber quantas religiões diferentes vicejaram durante algum tempo durante os últimos io ou 50 ou 100 mil anos. pode achar você. mas as almas deles habitariam o tempo todo com os ancestrais. e a linguagem tem . O Período das Companhias será uma era de prosperidade sem precedentes. 2002. e o sucessor de Koriam. A escrita tem mais de 5 mil anos de idade. você pode acreditar. Do ponto de vista biológico. portanto.quem sabe? talvez "apenas 40 mil anos. Sua religião. que então a transmitiu para outros. E por que existem todas as demais religiões? Se aquela gente toda está errada. para você. a agricultura tem mais de 10 mil anos. e Deas o abençoou e o encorajou a manter a fé. o Governo da Aldeia inclui aqueles ancestrais a quem Deus perdoou e aperfeiçoou. esses são períodos curtos de tempo. O judaísmo não chega a ter duas vezes essa idade. 90] Esses casos podem ser excepcionais. Certamente existe algum motivo para acreditar nisso. começou a existir quando a sua verdade fundamental foi revelada por Deus para alguém. Koriam. é essencial para o melhoramento moral e espiritual necessário para apressar o retorno dos ancestrais. Além das poucas dúzias de religiões principais no mundo atual . embora as variedades de judaísmo nada são se comparadas com os tumultuosos florescimentos das variações que o cristianismo gerou durante os dois últimos milênios. mas podem ser até milhões. [Lawson e McCauley. das quais todos os traços estão agora perdidos para sempre. e o judaísmo de hoje evoluiu significativamente a partir do judaísmo mais primitivo identificado. deixando de pé a única religião verdadeira. Encabeçado por Deus. e pode ser dez ou vinte vezes mais velha que isso. Os seguidores consideraram todos os três já membros do Governo da Aldeia. o cristianismo tem menos de 2 mil anos. como nos lembra seu nome oficial: a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A Igreja mórmon tem menos de duzentos anos de idade. há milhares de religiões menos populosas reconhecidas.

para a religião são: • confortar-nos nos nossos sofrimentos e acalmar nosso medo da morte. não existe um consenso a respeito do que chegaria mesmo a ser uma data de nascimento da linguagem. a linguagem é muito. Como eram os nossos ancestrais. mas alguma coisa semelhante a religião pode muito bem ter existido desde os tempos iniciais da linguagem. ou raisons detre.2 E difícil dizer. ou até mesmo as três ao mesmo tempo. e evidentes o suficiente para ocorrerem às pessoas no tempo devido? É claro que essas são enormes simplificações ingênuas. • explicar coisas que não conseguimos explicar de outro modo. ou serão essas idéias redescobertas. Os três objetivos preferidos. transmitida ao longo das gerações à medida que as pessoas se espalharam pelo globo. e tais idéias atraentes e familiares provavelmente estão em parte certas. exatamente. então. tanto mais a ser compreendido. extrapolando. O que. mais . no ambiente existente em que ocorreram pela primeira vez. fora comida. mas se você adotar uma delas.siasticamente converteu seus vizinhos?) Como essas idéias de fato conseguem aumentar a cooperação em face da suspeita e da deserção? (E. sucumbirá a uma confusão muitas vezes encontrada nas ciências humanas e sociais: satisfação prematura da curiosidade. muito mais velha que qualquer religião existente. mas pelo menos são tentativas de propor e responder a questões explícitas que muitas vezes não são examinadas por pessoas que perderam o interesse ao encontrarem um objetivo ou uma função para a religião que a elas parecem plausíveis: atendendo a uma "necessidade humana" suficientemente grandiosa para explicar o manifesto gasto de tempo e energia exigido pela religião. se é que falavam de alguma coisa. poderia explicar tanto a diversidade como as semelhanças nas idéias religiosas que observamos em todo o mundo? Será que as semelhanças se devem ao fato de que todas as idéias religiosas surgem de uma idéia ancestral comum. e • encorajar a cooperação em grupo diante de problemas e inimigos. de modo independente por quase todas as culturas porque elas são simplesmente a verdade. Há tanta coisa ainda para se perguntar. seriam elas consoladoras? Será que poderia haver idéias mais confortantes a ser encontradas?) Por que essas idéias seriam atraentes para pessoas como explicações de eventos desnorteantes? (E como poderiam elas ter surgido? Será que algum aspirante a protocientista encontrou alguma teoria sobrenatural e entu. antes de haver alguma coisa semelhante à religião? Eram eles bandos de chimpanzés? A respeito de que falavam. Será que a linguagem é mais antiga que a religião? Não importa como datemos seu início. ou até antes disso. A prova arqueológica impressionante mais antiga da religião são os elaborados sítios de sepultamento Cro-Magnon na República Tcheca. sob a orientação das nossas limitações biológicas fundamentais: cada passo inovador devia "se pagar" de algum jeito.pesquisa litigioso. ou até mesmo qualquer religião da qual tenhamos qualquer conhecimento histórico ou arqueológico. no entanto. e eles têm cerca de 25 mil anos de idade. Por que essas idéias confortariam as pessoas? (E por que. e como há um acordo amplo de que as linguagens naturais inteiramente articuladas devem ter se desenvolvido a partir de algum tipo de protolinguagem (que pode ter evoluído ao longo de centenas de milhares de anos). predadores e do jogo do acasalamento? Do tempo? Fofocas? Qual seria o solo psicológico e sociológico no qual a religião criou raízes pela primeira vez? Podemos tentar trabalhar para trás. Milhares de livros e artigos foram escritos defendendo esses argumentos. independentemente de qual pudesse vir a ser seu papel em ambientes posteriores.

que conhece bastante das crenças e práticas dos povos do mundo inteiro. de fato. consiga formular bem as questões. de modo algum. E também pouco provável que um historiador social. quase com certeza partirá de idiossincrasias e generalizará excessivamente ao formular perguntas. Por sorte. O ponto principal deste livro é insistir que ainda não sabemos. Hoje. mas de uma preocupação com respeito aos eventos da vida.las. como poderiam elas ter surgido? Será que algum sábio líder tribal inventou a religião para dar à sua tribo uma vantagem de trabalho em equipe sobre as tribos rivais?) Algumas pessoas supõem que não vamos conseguir ir além dessas simples especulações a respeito desses processos e resultados do passado remoto. Um biólogo da evolução ou um psicólogo que não conhece bem mais de uma religião e tem uma (des)informação superficial a respeito de outras (como a maioria de nós). Vale a pena ler seus livros e artigos até o fim. Estão. ou um antropólogo. [David Hume. que em todas as nações que adotaram o politeísmo. mas é ingênuo com respeito à evolução. e das incessantes esperanças e medos que acionam a mente humana. podemos aprimorar as questões e começar a respondê. Não estou alegando. Talvez muitas delas sejam erradas. E isso em si mesmo pode solapar a proclamação derrotista de que esses mistérios estão além da compreensão humana. Alguns insistem nisso. Muita gente pode insistir em que são questões impossíveis de ser respondidas. graças ao progresso em diversas ciências. e a veemência deles trai o fato de que têm medo de estar errados. Armas. Tentar tapar os buracos no nosso conhecimento nos obriga a formular perguntas que não tínhamos formulado antes. História natural da religião] Meus orientadores são os cientistas pioneiros que começaram a atacar essas questões com imaginação e disciplina. em seu próprio tempo. germes e aço. Vamos ver o que acontece quando desafiamos seu pessimismo defensivo e fazemos uma tentativa. as primeiras idéias de religião surgiram não de uma contemplação das obras da natureza. O propósito de tentar esquematizar a história inteira agora é pôr em cima da mesa alguma coisa que seja ao mesmo tempo estável e que valha a pena testar. portanto. 2. como espero convencê-los ao apresentar alguns aspectos. e isso põe as questões em uma perspectiva que nos capacita a formular ainda outras perguntas a serem propostas e respondidas. se provar erradas. Provavelmente algumas das feições da história que eu contar irão. mas podemos descobrir as respostas a essas perguntas importantes se fizermos um esforço conjunto. vou tentar narrara melhor versão atual da história que a ciência tem a contar a respeito de como as religiões apareceram e o que elas são. OS MATERIAIS BRUTOS DA RELIGIÃO Podemos concluir. de Jared Diamond (1997). que isso seja o que a ciência já estabeleceu a respeito da religião.uma vez. alguns poucos pesquisadores bem informados recentemente começaram a juntar essas perspectivas distantes com resultados muito atraentes. é uma esclarecedora pesquisa de efeitos . Neste e nos próximos quatro capítulos. Em geral é mais fácil consertar alguma coisa que tenha falhas do que reconstruir desde o início.

Quando os primeiros povos agrícolas domesticaram animais. deixando apenas aqueles que tiveram a sorte de possuir alguma imunidade natural a ser propagada. e isso enfatizou a probabilidade de os parasitas dos animais passarem para outra espécie. mas também são formados em teoria da evolução e psicologia cognitiva. derivam todas de animais domesticados. um vinco controverso na teoria da evolução que é desconsiderada por muitos teóricos da evolução como. a analisar essas explorações sistemáticas do Arquivo da Área das Relações Humanas. em especial na nossa espécie. Os antropólogos Pascal Boyer e Scott Atran fizeram extensivos trabalhos de campo na África e na Ásia. como merece. O papel da agricultura na disseminação de doenças infecciosas. Darwiris Cathedral: Evolution. De acordo com Wilson. 2002). é bem conhecido. ou tivessem uma alta tolerância.é profundamente atraente para muita gente. desenvolveram a tecnologia para cruzar oceanos. Religion. and the Nature of Society (2002). mais que as armas e o aço. aos descendentes dessas virulentas cepas de parasitas. 2001) e In God We Trust (Atran. já que conseguimos extrapolar retrospectivamente. nas quais milhões de pessoas sucumbiram às versões iniciais dessas doenças. e nossos ancestrais fazendeiros passaram por epidemias horríveis.lucionário garantiram que seus descendentes posteriores fossem relativamente imunes. em épocas diferentes. um banco de dados de todas as culturas do mundo. eles naturalmente começaram a viver em estreita proximidade com eles. Seu livro recente. mas até uma teoria científica refutada de modo radical pode trazer grande contribuição ao constante acúmulo do . nos últimos anos. As doenças infecciosas mais sérias conhecidas pela humanidade. compilada por antropólogos. animais e germes. morando principalmente na Europa.muito específicos da geografia e da biologia sobre o desenvolvimento inicial da agricultura em diferentes partes do mundo. e a relativa imunidade a elas. e não colonizados. na melhor das hipóteses.religião como reforçador de cooperação . eles trouxeram consigo seus germes. Religion Explained: The Evolutionary Origins of Religious Thought (Boyer. Quando tais descendentes. ganhador do Prêmio Pulitzer. que varreram grandes frações das populações indígenas que encontraram. Seus livros recentes. a religião surgiu por um processo de seleção grwpal. cujas condições para o sucesso têm pouca probabilidade de surgir e permanecer durante muito tempo. a partir do genoma de espécies existentes de plantas. podem ser estudados agora com alguma precisão. Há uma nova geração de pesquisadores interdisciplinares trabalhando para juntar a biologia com as provas coletadas por séculos de trabalho de historiadores. mas não está sozinho. precisamos nos segurar para evitar o pensamento fantasioso. apresenta o melhor argumento até agora para a hipótese de que a religião é um fenômeno humano planejado (pela evolução) para melhorar a cooperação dentro (não entre) de grupos humanos. um processo à margem. evoluída entre esses povos que viveram durante as devastações dos dias iniciais da atividade agrícola. Há um acordo bastante geral entre seus críticos de que ele (ainda) não conseguiu montar uma causa para sua tese radical de seleção de grupos. E aí temos David Sloan Wilson. Acidentes geográficos deram aos países europeus uma vantagem inicial que vai longe para explicar por que eles foram colonizadores. desenvolvem explicações amplamente harmoniosas dos principais passos pelo pântano que eles e outros têm adotado. antropólogos e arqueólogos. nos séculos posteriores. Muitas gerações desse gargalo evo. O livro de Diamond. como a varíola e a influenza. Existem profundas razões para ceticismo a respeito da seleção de grupos. e foram os germes. e exatamente porque a tese de Wilson . um biólogo da evolução que vem se dedicando.

Durante muitos séculos. em termos relativamente acessíveis. incorpóreo. ou proto. De todos os efeitos peculiares gerados pelo saco de mágicas inteiro . um gosto por histórias e contar histórias. reunidas ao longo das eras pelos processos sem previsões da evolução por seleção natural. a mente humana é uma espécie de saco de mágicas. Atran e outros oferecem explicações amplamente . um sistema ou organização dentro do cérebro que evoluiu bastante do mesmo jeito que nosso sistema imunológico ou sistema respiratório ou sistema digestivo. diversos sistemas de alarme e o que eu chamo de postura intencional.conhecimento científico se as provas arrecadadas a favor e contra ela tiverem sido escrupulosamente reunidas. ela é o cérebro. alega ele. Levados pelas demandas de um mundo perigoso. ver o Apêndice B. outras vezes estão maduras para exploração por outros replicado. um gerador de intuição moral. e outros são específicos de nossa linhagem. Os produtos secundários dos diversos artifícios são o que Boyer chama de conceitos: Alguns conceitos por acaso se conectam com sistemas de inferência no cérebro. a maioria dos filósofos e teólogos discutiu que a mente humana (ou alma) era algo imaterial. Em algum sentido. [p. criando padrões observáveis em todas as culturas.nosso conjunto de "artifícios". que René Descartes chamou de res cogitans (coisa que pensa). Qualquer mente dotada desse conjunto particular de instrumentos e vieses de pensamento tende a abrigar mais cedo ou mais tarde alguma coisa semelhante a uma religião. Alguns conceitos por acaso conectam nossa mente social. nos quais aqueles que gostem disso possam (começar a) buscar as próprias considerações mais profundas sobre eles.) Aqui vou introduzir os principais pontos de concordância. um detector de mentiras. ela era infinita. Tanto Boyer como Atran apresentam o trabalho de uma comunidade de pesquisadores. Como tantas outras maravilhas naturais. ou. pequena. como Descartes confusamente pensou. Essas características algumas vezes exageram.um agente detector. algumas vezes têm subprodutos curiosos.res. alguns poucos por acaso interagem com outros em reforços mútuos. e portanto desenvolvidos muito mais recentemente. além de reconhecer os pontos de contenda persistentes. (Para mais a esse respeito. mais especificamente. em comunicação com o cérebro de algum modo milagroso. Os que fazem tudo isso são os religiosos que de fato observamos nas sociedades humanas.religiões. Alguns deles são representados de um jeito tal que logo se tornam plausíveis e dirigem o comportamento.3 A tese central deles é que. com variações interessantes. 50] Boyer enumera mais de meia dúzia de sistemas cognitivos distintos que alimentam efeitos nessa receita de religião . ela tem um profundo viés favorável a observar as coisas mais importantes para o sucesso reprodutivo de nossos ancestrais. precisamos compreender a evolução da mente humana. Alguns conceitos por acaso fazem disparar nosso programa emocional de modo especial. para explicar o domínio que várias idéias e práticas religiosas têm sobre as pessoas. Alguns desses padrões assemelham-se muito a religiões. mas crescente. um gerente de memória. ou pseudo-religiões. como Boyer os chama -. Agora compreendemos que a mente não está. de tal forma que facilitam a lembrança e a comunicação. imortal e inteiramente inexplicável do ponto de vista material.4 Algumas das características da nossa mente são dons que compartilhamos com criaturas muito mais simples. deixando a maior parte dos detalhes controversos para as notas deste capítulo e para os Apêndices.

de que perguntas deveríamos tentar responder. Se você se assusta com cada movimento que detecta. Esse é outro Bom Estratagema. pelo menos eu sabia Que ele achou que eu achava que ele achou que eu dormia " [Coventry Patmore. que pode ser um predador. e não (ainda) avaliar para ver se é verdadeira. ou a fuga . em particular. e daí. Esse exagero não é exclusivo dos seres humanos. ele está . [David Hume. logo vai ser o jantar de outrem. e vale a pena explorar os detalhes. mas seguro morreu de velho é o lema do marisco (a base racional descomprometida do sistema de alarme do marisco). História natural da religião] "Eu a vi aceitar o beijo dele!" "É verdade" "Oh. Recato!" "Foi estritamente mantido: Ele achou que eu dormia.uma retirada para evitar perigos em seu "pé" de alimentação. um parceiro. que tende a permanecer em um lugar. COMO A NATUREZA LIDA COM O PROBLEMA DE OUTRAS MENTES Encontramos faces humanas na Lua. tem uma das características básicas de uma mente . jamais irá encontrar seu jantar. e por uma propensão natural. e se você não se assusta com movimentos perigosos. as que nos machucam ou as que nos agradam. outro animal dotado de uma mente. tendem a ter a capacidade de dividir o movimento detectado nas coisas banais (o farfalhar de folhas. Quando seu cachorro pula e rosna quando um pouco de neve cai dos beirais do telhado com um ruído que o desperta de seu cochilo. e provavelmente a maior parte delas é inócua. 3. Serão necessárias décadas de pesquisa para garantir qualquer parte dessa teoria. exércitos nas nuvens. "The kiss"] A primeira coisa que temos de compreender a respeito das mentes humanas como moradias adequadas para a religião é o modo pelo qual nossa mente compreende outras mentes! Tudo o que se move precisa de alguma coisa parecida com uma mente. Animais mais móveis desenvolveram métodos mais discriminatórios. Qualquer vibração ou batida tem a capacidade de pô-la em ação. uma inovação evolutiva . se não corrigida pela experiência e reflexão. ou HADD (hyperactive agent detection device). mas neste momento podemos ter uma noção de quais sejam as possibilidades. mesmo um humilde marisco.que é tão útil a tantos modos de vida diferentes que se desenvolve vezes sem conta em muitas espécies diferentes. que se recolhe dentro da concha quando alguma coisa alarmante é detectada. Algumas vezes esse Bom Estratagema pode ser uma coisa boa demais: então temos aquilo que Justin Barrett (2002) chama de dispositivo de detecção de agente hiperativo. é claro. um rival da mesma espécie. para mantê-lo fora de perigo e ajudá-lo a encontrar as coisas boas. Isso faz sentido do ponto de vista econômico. o balanço das algas) e nas potencialmente vitais: o "movimento animado" (ou "movimento biológico") de outro agente. atribuímos malícia e boa vontade a todas as coisas.concordantes.como a própria visão. mas vou apenas esquematizar algo do quadro geral para que possamos ver o feitio todo da teoria. uma presa.

quer me comer ou preferiria ir atrás do meu vizinho? As mentes mais inteligentes desses animais descobriram o outro Bom Estratagema de adotar a postura intencional (Dennett. mas não precisa entender esse ardil. Quando um pássaro que faz um ninho baixo leva o predador para longe do ninho fazendo uma exibição para distração. 1997. ver também Dennett. 1988.lo. 2003). Ele precisa entender as condições de sucesso. quando empurra os ovos rivais para fora do ninho no intuito de maximizar o alimento que receberá de seus pais adotivos. levam essas discriminações de agentes para territórios mais sofisticados. 1996) mostraram que alguns mamíferos e aves. irá para a esquerda ou direita. • Agentes Uma vez que os animais começam a adotar a postura intencional. 1987. eu digo que ele está adotando a postura intencional ou tratando aquela coisa como um sistema intencional. mas há problemas com essa formulação. Pesquisadores têm diversos outros termos para a postura intencional. Les. tem uma avaliação da esperteza que se desenvolveu. A postura intencional é uma perspectiva útil a ser adotada por um animal em um mundo hostil (Sterelny. já que há coisas ali que podem querê. 1971.) A utilidade da postura intencional em descrever e predizer o comportamento animal é inegável. já me vê.manifestando uma resposta orientada "falso positivo". disparada por seu HADD. criando a ilusão tentadora de um jantar fácil para o predador que está observando. ele faz uma imitação convincente de uma asa quebrada. Há provas de que eles não apenas distinguem entre os que provocam movimentos animados e o resto. Ao deparar com um rival ameaçador.5 Sempre que algum animal trata alguma coisa como um agente. Hauser. Entre as espécies que desenvolveram a postura intencional há considerável variação na sofisticação.nobras. com crenças e desejos (com conhecimentos e metas). mas não precisa estar consciente dos motivos fundamentais para suas ações mais que o bebê cuco. embora eles possuam simples HADD disparados por pêlos. Pesquisas recentes sobre inteligência animal (Whiten e Byrne. segue-se uma espécie de corrida armamentista. 1978. muitos animais podem tomar uma decisão sensível do ponto de vista da . Alguns a chamam de "teoria da mente" (Premack e Woodruff. mas isso não significa que os animais propriamente ditos são instruídos a respeito do que estão fazendo. 1983. de modo que vou ficar com uma terminologia mais neutra. em contraste. dadas essas crenças e desejos. 2000. 2003. Sterelny. e talvez também algumas outras criaturas. levando as mentes animais a maiores sutilezas e poder. Gopnik e Meltzoff. movimentos enganadores e detecção inteligente de um movimento enganador. para melhor ajustar o comportamento no sentido de se adequar às variações encontradas. recuará se eu o ameaçar. com manobras e contrama. 1997). é brincadeira de criança. Se você já tentou apanhar ou prender um animal silvestre. e • Bom senso suficiente para fazer o que for racional.lie. • Desejos específicos. mas fazem também distinções entre os tipos prováveis de movimentos a serem previstos por parte dos animados: ele irá me atacar ou fugir. Os mariscos não desenvolveram a postura intencional. 1987): eles tratam algumas outras coisas no mundo como com • Crenças limitadas a respeito do mundo. e podem existir crenças acerca de onde ele está e para onde está indo. (Desenterrar mariscos.

e quebradores de promessas e ameaçadores. pensadores e esperançosos. Mas há um problema: um cadáver é uma fonte poderosa de doença. Uma porção considerável da dor e da confusão que sofremos quando nos confrontamos com a morte é causada pelas lembranças freqüentes. e não da direita (intencionalidade de terceira ordem). mas não há provas (ainda) de que qualquer animal não humano possa querer que você acredite que ele acha que você está se escondendo atrás da árvore da esquerda.". sobre as quais nossos hábitos de postura intencional nos jogam como anúncios pop up chatos. Não é de espantar que essa crise desempenhe um papel tão central no . Em nossa experiência do mundo. Mas até mesmo crianças na pré-escola gostam de jogos nos quais uma criança quer que outra finja não saber o que a primeira criança quer que a outra acredite (intencionalidade de quinta ordem): "Você vai ser o xerife e me perguntar para que lado foram os ladrões!'. mas de lembradores e esquecedores... contamos histórias sobre elas para prolongar esses hábitos da mente. aqueles seres humanos que acham difícil perceber o mundo dessa perspectiva . De fato. isso é uma coisa que ela sempre quis.e esse é um tema de pesquisa debatido vigorosa e calorosamente6 -. e desenvolvemos um forte mecanismo compensatório inato de repugnância para nos manter à distância.digamos. mas muito. vilões e bobos. envolvendo crenças a respeito de crenças (ou crenças a respeito de desejos. ou desejos a respeito de crenças etc.7 E desse modo os prolongamos. mas há pouca evidência de que eles tenham qualquer percepção do que estão fazendo e por quê. 1981). ou para recuar e para desafiar o outro. Preservamos relíquias e outras lembranças das pessoas mortas. muito piores. ele está cheio não apenas de corpos humanos em movimento. Esse uso virtuoso da postura intencional aparece naturalmente e tem o efeito de saturar o ambiente humano com psicologia popular (Dennett. e. . "Ah.. além de crenças e desejos a respeito das crenças e desejos de outros. ficamos em um torvelinho quando nos confrontamos com o cadáver de um ente amado. O que mantém em vigência muitos hábitos é o prazer que temos em nos gratificar com eles. Seja lá qual for a situação com animais não humanos . e crenças e desejos a respeito das crenças e desejos que outros têm a respeito deles. um chimpanzé ou um ser humano . Nosso impulso inato para adotar a postura intencional é tão forte que temos uma real dificuldade em desligá-lo quando ele deixa de ser apropriado. Existem provas (controversas) de que um chimpanzé pode acreditar que outro agente .informação. têm crenças e desejos.os que sofrem de autismo são a categoria mais bem estudada . 1983)..têm uma incapacidade mais significativa que os que nasceram cegos ou surdos (Baron-Cohen. não há dúvida alguma de que os seres humanos normais não têm de ser ensinados a respeito de conceber o mundo como contendo muitos agentes que. fazemos imagens delas. 2004). em vez de estar na cesta. até obsessivas. Não podemos simplesmente apagar o arquivo no nosso banco de memória. além disso. "Fico pensando se ela gostaria. "Será que ela sabe que estou. olha. mesmo quando eles começam a desaparecer..". 1995. e daí por diante. Dunbar. aliados e inimigos. somos repentinamente confrontados com uma importante tarefa de atualização cognitiva: revisar todos os nossos hábitos de pensamento para se ajustarem a um mundo com um sistema intencional menos familiar. Atraídos pela saudade e distanciados pela repulsa.sabe que a comida está na caixa. Isso é uma intencionalidade de segunda ordem (Dennett. não gostaríamos de fazê-lo. atraídos por eles como a mariposa para uma lâmpada. como eles próprios.). Quando alguém que amamos ou apenas conhecemos bastante morre..

como as palavras "fingir". e nos gabamos. e deve ser algo que satisfaça ou aquiete concorrentes impulsos inatos de poder ditatorial. já que falta a eles a língua que jamais terão para comparar notas ou discutir casos com outros psicólogos naturais. Uma raposa pode ser esperta. e mandamos. mas ver também Sperber e Wilson. alguma coisa tem de ser feita com um cadáver. Ao mesmo tempo que alguns chimpanzés e alguns mamíferos podem também ser "psicólogos naturais". mas uma pessoa que consegue lisonjeá-lo declarando que você é esperto como uma raposa tem. 1957. A linguagem nos dá o poder de nos lembrarmos dê coisas que não estão presentes para os nossos sentidos. As linguagens do mundo são bem providas de verbos para as variedades básicas da manipulação crença-desejo: fingimos e mentimos. por sepultamento ou incineração. e tentamos. como freqüentemente ocorre. uma criança consegue avançar sem muitas pistas. Dennett. por exemplo. que havia um processo de co-evolução. sem sequer reconhecer. dando a você uma grande prática barata em psicologia popular. alguns desses objetos de percepção. uma espécie de pessoa virtual. A articulação da postura intencional na comunicação verbal não apenas fortalece a sensibilidade. Mas. desempenha a linguagem nisso? Somos a única espécie de mamíferos que enterra os mortos porque somos a única espécie que pode falar a respeito do que compartilhamos. Uma vez que começou a falar (com outras pessoas). suspeitamos. sendo bem-sucedida em comunicação sem fazer nenhuma reflexão a respeito da estrutura subjacente a qualquer comunicação intencional. a discriminação e a versatilidade dos psicólogos populares individuais. e lisonjeamos. quando nos confrontamos com um defunto fresco? Será que as práticas fúnebres dos nean.nascimento de religiões por toda parte. mas também blefamos. muito mais truques na manga que a raposa. é uma cerimônia elaborada que retira o corpo perigoso do ambiente diário. o próprio ato da comunicação verbal exige algum grau de avaliação de intencionalidade de terceira ordem: eu tenho de querer que você reconheça que estou tentando informá-lo. e desobedecemos. 1978. combinado com a interpretação da ativação persistente dos hábitos de postura intencional partilhados por todos os que conheceram o morto como a presença invisível do agente como um espírito. você será banhado em palavras novas. 1986). e provavelmente a verdade é. de fato. Plausivelmente. Foi o nosso virtuosismo como psicólogos naturais um pré-requisito para nossa capacidade lingüística. p. criada pelos perturbados estados dalma dos sobreviventes. fazer com que você acredite naquilo que estou dizendo (Grice. "bravatear" e "tentar". como Nicholas Humphrey (1978) os chamou. e proibimos. e isso trouxe para o foco . algumas das quais mais ou menos entende. ajudarão a chamar e focalizar a atenção para casos de fingimento. mas também amplia e complica os fenômenos de psicologia popular de que eles estão se encarregando. de longe. Como Boyer (2001. e dissuadimos.dertalenses mostra que eles devem ter tido linguagem plenamente articulada? Essas estão entre as perguntas que devemos tentar responder. e quase tão vivido e robusto quanto uma pessoa viva. no qual cada talento alimentava o outro. um Bom Estratagema para lidar com uma situação desesperadora. 1969. Que papel. ou foi o contrário: será que o nosso uso da linguagem tornou possível nossos talentos psicológicos? Essa é uma outra área controversa da pesquisa corrente. 203) acentua. que está se comunicando. repisar assuntos que de outro modo seriam elusivos. do mesmo jeito que o cuco implume. se é que há algum. bravatas e tentativas. O que parece ter se desenvolvido por toda parte.

A ausência faz com que o coração goste mais. atendendo . tanto os vivos como os ausentes e os mortos. com a ajuda do pensamento biológico. . que se foram. ou . mas não estão esquecidos. esses agentes virtuais ficaram livres para se desenvolver em nossas mentes.e a elaborações de alguns de seus hábitos de pensamento. do mesmo modo como emergiram as línguas. podemos conjecturar como surgiram as religiões populares sem qualquer plano consciente ou deliberado. ampliando nossos anseios ou temores. *** Capítulo 4. e. se propagam. Liberados da pressão corretiva de outros encontros concretos no mundo real. Na raiz da crença humana em deuses está um instinto pronto a disparar: a disposição de atribuir agência .a qualquer coisa complicada que se mova. Ao extrapolar retrospectivamente para a pré-história humana.crenças e desejos e outros estados mentais . *** Capítulo 5.a profundas necessidades psicológicas e físicas. mas os leva a ensaios persistentes . povoado pelos agentes que tinham mais importância para nós. Isso ainda não leva nossos ancestrais à religião.um mundo virtual de imaginação. essas variantes são ainda mais aprimoradas pela poda incessante dos processos de seleção.até obsessivos . mais amigáveis à mente.ou parecendo atender .se sinta mais atemorizado. por processos interdependentes de evolução biológica e cultural. depois. Só as variantes melhores.se o ausente era na realidade um tanto assustador . Os alarmes falsos gerados pela nossa exagerada disposição de procurar agentes onde quer que a ação esteja são os elementos irritantes em torno dos quais crescem as pérolas da religião.

sugere quão profundamente está enraizado na biologia humana o impulso para tratar coisas especialmente coisas frustrantes . O fato de que isso realmente tende a fazer com que se sintam melhor. e que aparentemente pessoas de diversas culturas se gratifiquem com isso. à medida que nossos antepassados se tornaram cada vez mais sociais. literalmente. não tem de exagerar e matutar sobre o que suas petúnias estão pensando. houve uma época em que o desejo do rio de correr para o mar e a intenção benigna ou malévola das nuvens de chuva eram tomados tão ao pé da letra e tão seriamente que podiam se tornar uma questão de vida ou morte . sem computadores. vivas ou manufaturadas. Provavelmente elas não levam esses atos verbais inteiramente a sério. RELIGIÃO.o para dentro de casa. mas estão apenas se comprazendo com algo que as faz se sentir melhor. A experiência freqüente da presença de mortos conhecidos como espíritos não é apenas o exagero da postura intencional nas vidas dos nossos ancestrais. Hoje. fazendo-o pensar que é primavera para que ele abra os botões. OS PRIMEIROS DIAS 1. para aquelas pobres almas que eram sacrificadas para apaziguar os desejos insaciáveis do deus da chuva.tas: o rio . uma lista de citações maravilhosas. dar uma alma (em latim. sem cartões de crédito. AGENTES DEMAIS: COMPETIÇÃO POR ESPAÇO PARA ENSAIO Posso repetir para mim mesma. Formas simples daquilo a que podemos chamar de animismo prático discutivelmente não são completos enganos.como agentes dotados de crenças e desejos. A prática de atribuir intenções demais a coisas que se movem no ambiente é chamado de animismo. cada vez mais lingüísticos.se eu conseguir me lembrar do raio de alguma delas. ou maldizem seus computadores estão exibindo vestígios fósseis de animismo. de maneira lenta e tranqüila. mas jeitos extremamente úteis de se manter informado a respeito das tendências de coisas planejadas. As pessoas que amorosamente ficam adulando seus velhos automóveis. Até mesmo sistemas físicos não planejados podem às vezes ser utilmente descritos em termos intencionais ou animis. como já foi notado para casos mais simples do HADD. ou engana um galho de corniso trazendo. sem carteira de motorista.por exemplo. [Dorothy Parker] COISAS QUE parecem luxos úteis que dão a você uma vantagem em um mundo de ritmo acelerado acabam se tornando necessidades. nos perguntamos como podíamos viver sem telefone. anima) ao que se move. onde está quente. O jardineiro que tenta descobrir o que suas flores e legumes preferem. Mas se nossos acessos de animismo hoje tendem a ser irônicos e amenos. E. há a possibilidade de se ter algo de bom em demasia.5 . O que começou como um Bom Estratagema se tornou rapidamente uma necessidade prática da vida humana. geradas por mentes profundas .

fazendo-os caminhar para uma armadilha de reforço aleatório. deuses da nuvem e coisas parecidas . Não é de surpreender que a tentativa de explicar padrões observados no mundo tenha muitas vezes batido no animismo como uma boa . cujo amor intrínseco pela postura intencional tenderia a encorajá-los a acrescentar agentes invisíveis ou outros homúnculos para serem os titereiros por trás do fenômeno intrigante. a coisa simplesmente não funcionou. nada de recompensa. e ainda outras. o psicólogo behaviorista B. talvez use um capacete especial) . Não. F.de fato antecipativa . sem dúvida. Nuvens certamente não se parecem com agentes dotados de crenças e desejos. eu tinha acabado de dar uma virada e dobrei o pescoço. De vez em quando. ou um líquido que não é molhado.. Algumas vezes.. o qual não exige reflexão consciente. Se tal efeito comportamental espantosamente extravagante pode ser produzido em pombos.. essas idéias não são interessantes o suficiente para serem enigmáticas durante muito tempo. e o raio procura o melhor caminho para o solo. de modo que sem dúvida é natural supor que são na verdade coisas inertes e passivas manipuladas por agentes ocultos que parecem agentes: deuses da chuva. como por exemplo a seqüência aleatória de palavras "voluntários treinador sem importar exercício no campo" (tiradas "aleatoriamente" por mim da primeira história de jornal em que pus as mãos agora mesmo). aparecia uma recompensa sob a forma de um clique e uma bolinha de ração. não fica difícil acreditar que efeitos semelhantes possam ser inculcados por algum acidente feliz nos nossos ancestrais. Achamos algumas coisas mais memoráveis que outras.. Essa idéia curiosamente paradoxal . vejamos: na última vez em que recebi a recompensa. É difícil não imaginar um monólogo no cérebro dessas aves: “Agora.. como dizem.. agora. O solilóquio dramatiza a dinâmica que produz o efeito. braços e pernas. Imagine a idéia de uma caixa que não tem espaço interior para pôr coisas dentro. as danças da chuva eram recompensadas com chuva. o que foi que acabei de fazer?.”. o efeito pode ser multiplicado. olhos.não quer literalmente voltar para o oceano.aproximação de algum fenômeno subjacentè inimaginavelmente complexo. Logo os pombos postos nesse esquema aleatório estavam fazendo “danças elaboradas.. Por quê? Apenas porque nossas lembranças não são indiferentes ao conteúdo daquilo que elas guardam. e algumas coisas são tão interessantes que podem muito bem ser inesquecíveis. Algumas coisas sem sentido prendem mais a atenção do que outras coisas sem sentido. Para dizer cruamente. muitas vezes pareceu funcionar. não importando o que o pombo estivesse fazendo.alguma coisa invisível que parece com uma pessoa (tem cabeça. No entanto.é diferente de outras combinações incoerentes. É claro que você não precisa ter a linguagem para ser vulnerável a essas atraentes ilusões. Qual seria o efeito? Muitos anos atrás. Vamos tentar outra vez. torcendo e dobrando o pescoço”. sacudindo. poderia ser lembrada por mais do que poucos segundos apenas se você as repetisse deliberadamente para si próprio dezenas de vezes ou inventasse alguma história interessante que de algum modo desse sentido a essas . Skinner (1948) mostrou um impressionante efeito de "superstição em pombos que tinham sido postos em um esquema aleatório de reforço. Mas algumas vezes a tática de buscar a perspectiva de uma postura intencional não dá em nada. SIMMM! Está bem.apenas se pudéssemos vê-los. Mas em uma espécie que realmente representa tanto ela própria como outros agentes a ela mesma. Talvez eu não tenha girado o suficiente. Talvez eu deva sacudir uma vez antes de girar e dobrar.. Nada. Por mais que nossos ancestrais pudessem ter adorado prever o tempo descobrindo o que ele queria e que crenças o tempo teria a seu respeito. mas a água busca seu próprio nível. apenas reforço.

mas a evolução depende dela. muitas vezes ensaiada . agora temos algo que prende a atenção! Junte essas duas idéias . muitas vezes recorrente.milhões ou milhões de pequenos arroubos de fantasia que quase instantaneamente se evaporam para além da lembrança. E outra vez. mas muitas vezes. talvez seja um lobo. um machado feito de queijo é um tanto palpitante (há artistas conceituais que ganham bem a vida apresentando essas brincadeiras). e elaborações que são leves demais simplesmente não são suficientemente interessantes. em um sentido técnico.. uma reação "Quem está aí?".coisas que quase nunca .ah. Esse excesso de informações. mas o significado que ele dá é. mais uma multidão de outras distrações.nasce. Cada vez que a mente do iniciador é levada a rever a curiosa idéia. dispara um tipo de susto curioso. um dia. talvez seja uma árvore que anda!". e você obtém um tipo de geringonça geradora de ficção. Nós . para ser ensaiado não uma vez e não duas.um viés hiperativo em busca de um agente e uma fraqueza por determinadas espécies de combinados memoráveis -. Hoje em dia temos penosa consciência de que nossa atenção é um artigo limitado com muitos competidores concorrendo para uma porção maior do que aquela a que têm direito. um item que foge à mente individual e se espalha pela cultura humana. mas apenas à toa. mas é um bom protomeme: uma idéia ligeiramente obsessiva .. até que.ou seja.e de fato todas as espécies animadas . não chega a uma vez em um milhão de nascimentos. Toda vez que acontece alguma coisa intrigante. Tem um tanto de poder auto-replicativo. mas esse processo de formação de espécie quase nunca acontece. Tomemos o conjunto de acidentes infre. Cada nascimento em cada linhagem é um evento potencial de formação de uma espécie. com publicidade nos bombardeando de todos os lados. a idéia fica um pouco mais forte . talvez seja. uma ocorra exatamente no momento certo.menos de uma vez em um trilhão de cópias -. Elaborações que não estejam prontamente passíveis de ser classificadas porque são sem sentido demais não se sustentam na competição pela atenção. acabamos de nos conscientizar disso.sempre tivemos de possuir filtros e vieses embutidos em nosso sistema nervoso para filtrar do espetáculo em curso as coisas que valem a pena. que começa a remoer "hipóteses' de alguma espécie: "Talvez seja Sam.qüentes . plantas ou instrumentos.ei. não é novo. um tanto restrito: as anomalias contra-intuitivas são especialmente dignas de atenção e memoráveis se elas violarem apenas uma ou duas das suposições do default básico a respeito de uma categoria fundamental como pessoas. Podemos supor que esse processo quase nunca gera qualquer coisa dotada de poder de permanência .como um pequeno cavalo-de-pau.a linhagem das árvores que andam -. Uma linhagem de idéias . (A evolução trata de processos que quase nunca acontecem. e esses filtros favorecem determinados tipos de exceção ou anomalia. Pascal Boyer (2001) chama essas exceções de contra-intuitivas. talvez seja um galho caindo. por acaso. com exatamente o tipo certo de energia. A mutação no DNA quase nunca acontece . mas um machado que fala .palavras exatamente nessa ordem. Ainda não é um meme. uma árvore que anda . não deliberadamente. agora que há milhares de pessoas especializadas em projetar novos atratores e mantenedores de atenção. um poder um pouco mais auto-replicativo do que as outras fantasias com que ela compete pelo tempo no cérebro.no sentido de que tem um pouco mais de probabilidade de ocorrer na mente do iniciador outra vez. Um machado invisível sem cabo e com uma cabeça esférica não passa de uma bobagem irritante.

idéias que até cativariam a mente de um macaco. que é um armazém com oportunidades iguais que consegue registrar prontamente seja lá o que for jogado dentro dele. por um motivo simples: por falta de linguagem. por hora. porém formas mais restritas dela estão disponíveis e têm a grande vantagem de gerar conseqüências passíveis de ser testadas. mas não por outras. a memória do cérebro humano é competitiva e contém preferências. e a P &D exigida para a tarefa teve de ser gerada por alguma coisa que pudesse se pagar. mas qualquer outra idéia a respeito da qual alguém possa pensar . os cérebros animais não tiveram um meio de se inundar com uma explosão de combinações não encontradas no ambiente natural. antes.do-se no que é vital e tendendo a descartar o que for trivial depois de uma única passagem. e também assim.acontecem . fixan. acidentes neutros e acidentes fatais. E não temos de nos restringir à espécie humana. A memória animal provavelmente tem sido relativamente impermeável à fantasia. se apenas deixarmos a "natureza seguir seu curso". durante e depois do casamento. Funciona bastante bem. essa hipótese poderia explicar a imaginação notavelmente fértil que deve. nossa capacidade de lembrarmos de eventos na nossa vida. amplifiquemos os efeitos dos acidentes felizes . por acaso. mas uma investigação maior é uma possibilidade séria. Podemos começar varrendo a mitologia mundial em busca de modelos que seriam previstos por algumas versões da hipótese. Uma vez que os monstros propriamente ditos nunca existiram. as preferências inatas do nosso cérebro irão automaticamente remoer ensaios das coisas que lhes são agradáveis. Essa é. ajustando-se em características que.que acontecem automaticamente quando se tem replicação e competição -.não só outros memes. se pudessem ser apresentadas a ele? E sabemos nós que alguma coisa do tipo desse processo de geração de fantasia vem acontecendo na nossa espécie (e só na nossa espécie) há milhares de anos? Não. Deixei a hipótese bastante não especificada. presumivelmente. Faz isso em parte por ensaio diferenciado.e os classifiquemos em acidentes felizes. Podemos tentar tornar alguma coisa um meme . eles tiveram de ser "inventados". Foi planejada por eras de evolução para lembrar alguns tipos de coisa mais prontamente que outras. no entanto. de algum modo. ou. Ao contrário da memória do computador. ser responsável pela coleção de criaturas e demônios míticos no mundo.ou só uma lembrança .cações). funciona a memória do cérebro de todos os outros animais. tente parecer importantel A memória humana favorece combinações vitais. porque você já repassou isso muitas vezes. O que usou no seu casamento? Provavelmente vai lembrar. O ensaio.dentro do cérebro hospedeiro. Usando apenas materiais que teriam sido organizados pela evolução para outros objetivos. deliberado ou involuntário.ensaiando-a deliberadamente (um número de telefone. Experiências ao longo das linhas de . ou deliberada ou inadvertidamente (do jeito que as linguagens foram inventadas).) Supostos memeticistas muitas vezes não se dão conta de que parte do ciclo da "vida" de um meme é a competição pari passu com outras idéias . Como um macaco ansioso vai elaborar a combinação contra-intuitiva de uma árvore que anda ou uma banana invisível . de fato. O que você tomou de café-da-manhã no dia do seu último aniversário? Provavelmente não vai se lembrar. é uma replicação. Bom conselho a um meme potencial: se você quiser muitos ensaios (repli. a fonte da memória episódica. Eles são criações dispendiosas. se alinharam com aquilo que tendeu a ser vital no passado. e se tem a evolução. uma regra a ser seguida).

para estimular a fêmea a regurgitar e alimentá-los. [pp. mas a geração da diversidade da qual depende a verdadeira exploração do projeto provavelmente não seria possível para eles. os seres humanos descobriram e exploraram seus próprios estímulos supernormais: Não existe sociedade humana sem algum tipo de tradição musical. Tinbergen arquitetou..1 Através do uso de observação perspicaz e tentativas de acerto e erro. faltando a linguagem.]. nos chamados estímulos swpernormais. mas também com presa e predadores. que definem as vogais comuns) e consoantes puras (produzidas pelos instrumentos rítmicos e o ataque da maior parte dos instrumentos). ao longo das eras. 1959) mostraram admiravelmente as preferências da percepção desses pássaros. Para resumir a história até agora: as memoráveis ninfas.] Esse fenômeno não é exclusivo da música. Isso gera. do mesmo modo como as experiências de Niko Tinbergen com gaivotas (1948. sem pensar. Pascal Boyer (2001) observa que. a qual os pintinhos bicam instintivamente. isso significa que eles estão de frente para você. mas o que fariam eles depois? Repetir. de modo inteligente. duendes e demônios que povoam as mitologias de todos os povos são filhos da imaginação de um hábito hiperativo de gerar atuação sempre que alguma coisa nos intrigue ou amedronte. por exemplo. daquilo que normalmente o torna ativo [. uma faceta importante de interação com pessoas. Por exemplo. e portanto intensas. Em toda parte os seres humanos enchem seus ambientes de artefatos que superestimulam seu córtex visual. é muito importante. fadas. a resposta que se insinua .. sons musicais são sempre mais próximos dos s o n s puros que do barulho [. Não há dúvida de que às vezes os animais se deixam prender inadvertidamente ao descobrirem um estímulo supernatural na natureza e deixando que esse estímulo os afete. nosso sistema visual é sensível a simetrias nos objetos. a maior parte das quais é boba demais para manter . Embora as tradições sejam muito diferentes. alguns princípios podem ser encontrados em qualquer lugar. Mais uma vez. 132133] Por que outras espécies não têm arte? Mais uma vez.provocação de superstição nos pombos de Skinner podem começar a desvendar as preferências e linhas de falhas nos mecanismos de memória dos símios. da técnica mais simples de maquiagem ou penteados a padrões têxteis e decoração de interiores. mas apenas que pode muito bem ser passível de ser provada . A simetria bilateral.. quando dois lados de um animal ou de uma pessoa parecem iguais. A gaivota fêmea adulta tem uma mancha laranja no bico. e. o que se tem com o s s o n s musicais são supervogais (as freqüências puras.é que. ao contrário das misturadas. em particular. se tiver sido bom. portanto. Do mesmo modo. falta a eles a perspectiva que permite a exploração da análise combinatória de seus próprios sentidos. você não consegue encontrar um grupo humano em que as pessoas não produzam instrumentos visuais com tais arranjos simétricos. uma vasta superpopulação de idéias atuantes. os estímulos supernormais que atraíram seus pássãros (e outros animais) para uma multidão de comportamentos bizarros.]. da qual o córtex recebe doses purificadas. fornecendo cor pura saturada em vez dos monótonos marrons e verdes de seus ambientes familiares [. faltam a elas os instrumentos para criar combinações de estímulos substitutos.. Para exagerar um pouco... Essas propriedades tornam a música uma forma intensificada de experiência sonora.o que não significa que está provada. Tinbergen mostrou que os filhotes bicavam ainda mais prontamente os modelos exagerados da mancha laranja em papelão.

O que está faltando? Para começar. Quase todo mundo tem uma boa cópia forte da idéia de unicórnio. Nada ainda foi dito a respeito de ter de acreditar na idéia cavalo-de-pau que continua rodando pela mente. p.. Há muito mais na religião do que um fascínio dotado de entidades contra-intuitivas do gênero de ações. Caçar elfos no jardim ou o bicho-papão embaixo de sua cama não é (ainda) ter uma religião. Diversas histórias de fadas compensam o fato de não serem histórias verdadeiras tendo uma moral.e devem persistir no torneio de transmissão por motivos menos evidentes. da dúvida atemorizante (será que realmente há bruxas más nas florestas?) e fascinação neutra (um tapete voador . mas dificilmente alguém tem a idéia de um pudu. Outras claramente não apresentam uma moral .. DEUS COMO PARTE INTERESSADA Por que os deuses acima de mim Que devem estar sabendo Têm-me em tão pouca conta Eles permitem que você parta.imagine!) à aborrecida incerteza (unicórnios?.ou apenas uma porção cativante de uma história. [1886... não religião.o que será que "Cachinhos Dourados" ensina a nossos filhos: não invadir a casa de estranhos? . . Como é comum nas circunstâncias evolutivas. mas suas histórias de fadas têm sido transmitidas bastante fielmente (com mutações) por muitas gerações. 65] Até aqui tudo bem. bem. 2. e especulou vagamente sobre sua própria existência.. o que dá a elas um valor aparente .nossa atenção por um instante. mas o que explicamos foi superstição. junto com algum poder de raciocínio. que compensa o fato de elas não serem informação sobre o vasto mundo. ficaram parcialmente desenvolvidas. eu nunca vi nenhum) e à robusta convicção (Satã é tão real quanto aquele cavalo ali).] a crença nas ações invisíveis ou espirituais [. Como o próprio Darwin conjecturou: [. As que conseguem ser partilhadas e lembradas são os vencedores "envenenados" de bilhões de competições por tempo de ensaio no cérebro de nossos ancestrais. modificando-se e melhorando à medida que avançam. ainda não fornecemos uma explicação que afirme nada assim tão forte.peuzinho Vermelho. uma rampa gradual de estados de espírito intermediários está ali para ser atravessada.aos que contam e aos que escutam -.. O fascínio é suficiente para dar força a ensaio e replicação. espanto e curiosidade. Assim que as faculdades importantes da imaginação.] não é difícil compreender como surgiu. uma idéia ou até uma pequena parte obsessivamente desacreditada de paranóia . que tem a vantagem distinta de ser real (pode verificar).. embora Darwin mencione crença em entidades espirituais.] parece ser quase universal [. embora poucas pessoas acreditem neles. o homem teria naturalmente ansiado por entender o que estava acontecendo ao seu redor.. E claro que essa não é uma idéia nova. apenas um esclarecimento e uma extensão de uma idéia que tem estado por aí há gerações.. Ninguém jamais acreditou na Gata Borralheira ou no Cha. crença! Porque.. pode ser um palpite. apenas algumas poucas bem planejadas conseguem atravessar o torneio de ensaios.

seria uma elaboração para prender a atenção. Não podemos obrigar as pessoas a divulgarem todos os seus segredos durante uma seção de prática de vida. Você não tem de se manter informado a respeito delas na sua cabeça. quando estão aprendendo um novo jogo de cartas. p. revisando nossos afetos e fidelidades. mas. seres humanos. Corno a mente funciona] Enquanto outras espécies fazem uso limitado de suas posturas intencionais . que devem se preocupar o tempo todo com predadores sorrateiros e fontes de alimentos em declínio. nós. [Steven Pinker. supomos que o acesso de outras pessoas a informações estratégicas não é nem perfeito nem automático" (2001. nós. E se realmente houver agentes que tenham acesso a todas as informações estratégicas! Que idéia! É bem fácil ver que esse ser . Ao contrário de outras espécies. seres humanos. mais um pouco de intimidação e blefe -. O preço que nossa espécie pagou pela segurança de viver em grandes grupos de comunicadores em interação com planos diferentes é ter de se manter a par desses planos complexos e mudar os relacionamentos. para usar o termo de Pascal Boyer. . um "agente com acesso pleno" . Dá uma muleta temporária para a imaginação . fora isso. nossas promessas e obrigações não cumpridas. O que funciona na mesa de cartas não pode ser feito na vida real.para prever os movimentos de predadores e presa. Em quem posso confiar? Quem confia em mim? Quem são meus rivais e quem são meus amigos? Com quem tenho dívidas e que dívidas devo esquecer ou cobrar? O mundo humano está repleto de informações estratégicas como essas. mas também todas as comédias e livros de histórias em quadrinhos giram em torno de tensões e complicações que surgem porque os agentes no mundo não partilham todos da mesma informação estratégica. "Every time we say goodbye"] A veneração dos ancestrais deve ser uma idéia atraente para aqueles que estão prestes a se tornar ancestrais. somos obcecados a respeito de nossos relacionamentos pessoais com os outros: nos preocupamos com nossa reputação. Como as pessoas lidam com toda essa complexidade?2 Algumas vezes.[Cole Porter. que se foram mas não estão esquecidos. temos trocado em larga escala essas preocupações insistentes por outras. pode ajudar as pessoas a simplificarem o processo de pensar para descobrir o que fazer em seguida. Um levantamento das religiões do mundo mostra que quase sempre os agentes de acesso pleno acabam sendo os ancestrais.nos termos de Boyer. mas podemos conseguir práticas "fora da linha" contando e escutando histórias narradas por agentes que vêem todas as cartas dos personagens fictícios ou históricos. Do mesmo modo que a lembrança do pai é polida e elaborada em muitas histórias. já que você pode apenas olhar para a mesa sempre que precisar de um lembrete. 155). Isso ajuda a desenvolver a aptidão de visualizar onde as cartas deverão estar quando se encontrarem escondidas. de modo que você consegue basear seu raciocínio nos fatos. para que serviria? Por que seria mais importante para as pessoas que qualquer outra fantasia? Bem. Esse é um excelente modo de ensinar as táticas do jogo. elas são aconselhadas por seus professores a abrir todas as cartas na mesa para que todos possam ver o que os outros têm.você consegue na realidade ver o que cada pessoa normalmente estaria escondendo. e o mais importante a esse respeito (como em um jogo de cartas) é isso: "Na interação social. Será que ela sabe que eu sei que ela quer largar o marido? Será que alguém sabe que roubei um porco? Todos os enredos de todas as grandes sagas e tragédias e romances. contadas repetidas vezes para filhos e os netos dos netos.

Duas supervias de informações foram melhoradas e aumentadas ao longo das eras. e pode haver muito ouro a ser refinado nesse veio de especulações.ria você tentava esconder? Os ancestrais são assim. Os caminhos genéticos da informação têm. E alguns biólogos realmente exageram em seu fascínio pelos genes. focalizamos de modo tão persistente nossas fantasias nos nossos ancestrais? Nietzsche. nem mesmo seus pensamentos secretos. por exemplo. Essas são um caso especial de regularidades ambientais confiáveis. mas existe uma ampla variação nisso: espécies nidífugas são aquelas nas quais os filhotes já caem no chão correndo. a invenção e a melhoria das enzimas leitoras e das provas. exatamente que malfeito. composição da atmosfera. já que ele é consideravelmente mais antigo que nossa espécie. só que mais: você não pode se esconder deles. a respeito das quais se pode dizer que "espera-se" que perseverem (salinidade no oceano. como se diz. podemos identificar com maior confiança a disposição mental básica que estabelece esse viés. direta e indiretamente. seja lá o que for. Esse período de treinamento propicia uma multidão de oportunidades para a transmissão de informações dos pais para os filhos. com a otimização do desenho do cromossomo. Os mamíferos e as aves. e daí por diante. Deveria ser lembrado a eles que a Mãe Natureza não é "genocêntrica"! Ou seja. a solidez e a faixa de temperatura na sua superfície.) e as fornecidas pelas estabilidades de longo prazo no ambiente. mas. Pense nas várias continuidades nas quais a seleção natural confia: as fornecidas pelas leis fundamentais da física (gravidade etc. vividamente imaginados. nós. Mas. Freud e muitos outros teóricos da cultura articularam conjecturas elaboradas sobre os motivos e as lembranças subliminares que surgiram das profundas lutas míticas no nosso passado humano. Dizer que a seleção natural confia nessas regularidades significa exatamente isto: elas geram mecanismos que são afinados para funcionar bem em ambientes que exibem essas regularidades. seres humanos. ao contrário da maior parte dos outros animais. se o fardo puder ser assumido de modo confiável por continuidades no mundo exterior. O desenho desses mecanismos pressupõe regularidades do mesmo modo que o projeto de uma sonda para pesquisar Marte pressupõe a gravidade do planeta. o próprio processo da seleção natural não exige que todas as informações valiosas transcorram "pela linha germinal" (via genes). Agora você pode reenquadrar sua perplexidade em relação ao que fazer em seguida: o que os meus ancestrais gostariam que eu fizesse na situação corrente? Você pode não conseguir dizer o que esses agentes. eles próprios.achando que tudo na biologia é explicado pela ação dos genes. elas assumem ainda mais importância por serem. querem que você faça. (Ela não é projetada para operar nos Everglades. Por que. uma vez que o reexaminemos de olho em hipóteses testáveis da psicologia evolutiva.retira uma carga do genoma. Lembra como sua mãe e seu pai muitas vezes pareciam saber exatamente o que você estava pensando. que contornam inteiramente os genes. então. muitas vezes dedicam considerável atenção paterna a seus filhotes. cores de coisas que podem ser usadas como disparadores etc. enquanto as espécies nidícolas têm filhotes que exigem cuidado e treinamento prolongado dos pais.) E aí há as regularidades que podem ser transmitidas de geração a geração por aprendizado social.). elas mesmas.seu espírito pode adquirir muitas propriedades exóticas. Os biólogos são muitas vezes acusados de genecentrismo . e mais ninguém tampouco pode. submetidas a seleção natural. Ao contrário. sido submetidos a aprimoramentos incessantes ao longo de bilhões de anos. e daí por diante. mas no centro da imagem dele está seu virtuosismo no departamento de informação estratégica. tudo bem para a Mãe Natureza . com o efeito de se ter . é o que você deveria fazer. enquanto isso.

em alta banda larga. mas que a evolução acertou nas proporções faciais como sinal para disparar reações nos pais.rinhos porque eles são uma gracinha. 2003. de manter o filhote onde eles possam observar a mãe enquanto não estão se alimentando. ela está pronta para ser usada . o impulso para encontrar e se agarrar ao mamilo está embutido nos genes e tem o efeito colateral. a correlação entre a aparência facial de um recém-nascido e a reação de cuidados de um adulto não é acidental. Entre as adaptações para melhorar a banda larga e a fidelidade da transmissão pai-filho está a impressão. de modo que é eficiente (e relativamente seguro) confiar nos próprios pais.alcançado a transmissão de informações genéticas em alta fidelidade. A clássica análise de Stephen Jay Gould (1980) da gradual "juvenilização". "a evolução da transmissão de mecanismos de transmissão é de importância central para a evolução do aprendizado e do comportamento" (p.ou abusada .tal à prole com cara de bebê é o viés nessa prole para reagir com obediência à injunção parental .lny.3 Os próprios pais . os pais foram geneticamente projetados para cuidar dos bebês. Os bebês humanos não são exceção às regras mamíferas. Não que as carinhas de bebês sejam de algum modo intrinsicamente encantadoras (que diabo significaria isso?).ou alguém que seja difícil distinguir dos próprios pais . O caminho instrucional de pai para filho também foi otimizado pelo processo recursivo ou iterativo de reforço. Ela provoca a reação "Oh. acertando naquilo que os seres humanos instintivamente preferem. (Stere. poderosa e já acionada de se aproximar e ficar próximo e dedicar-se à primeira coisa grande que se mova que ele veja. Como Konrad Lorenz (1950) e outros argumentaram. os seres humanos são irresistivelmente cativados pelas proporções especiais de uma "carinha de bebê". na qual o recém-nascido tem uma necessidade instintiva. e isso foi aprimorado e intensificado ao longo das eras em muitas linhagens. Ainda mais potente que o viés nos adultos para reagir de modo paren. não tão potente quanto a sugestão .) Uma vez estabelecida a supervia de informações entre pai e filho pela evolução genética. E o contrário: nós os achamos uma gracinha porque a evolução nos projetou para amar coisas que se parecem com eles. ele não é uma gracinhal" no rabugento mais empedernido. oportunamente explorado por maiores adaptações.não informar erroneamente . indo na direção contrária. Horner. ou por quaisquer memes que por acaso tenham feições que se beneficiem das preferências introduzidas na via. Enquanto os filhotes das gaivo. Nos mamíferos.traço observável em filhotes de ursos. tem observações especialmente perspicazes sobre as trocas entre confiança e suspeita na competição evolutiva da cognição. 1984). Como Avital e Jablonka (2000) observam. das feições do Mickey Mouse propiciam uma elegante demonstração do modo como a evolução cultural pode ser comparada à evolução genética. A base racional descomprometida não está longe: está no interesse genético dos pais (mas não necessariamente em outros da mesma espécie!) de informar .têm alguma coisa que se aproxima de um canal direto exclusivo para a aceitação. ao longo dos anos.tas são irresistivelmente atraídos para uma mancha laranja. Não amamos os bebês e os cachor. A correlação é tão forte que medidas de fósseis de dinossauros recém-nascidos têm sido usadas para apoiar a hipótese radical de que algumas espécies de dinossauros eram nidícolas (Hopson. além de bebês humanos.por quaisquer agentes dotados de seus próprios planos. Enquanto isso. 1977. 132).sua prole.

como se diz.mas isso é adiantar nossa história. não supõe automaticamente que eles saberão onde ela está. quando estava refletindo sobre o fato. que Deus sabe tudo. alega Boyer. e pelo mesmo motivo que é de seu interesse o que seus filhos fazem e como eles são percebidos na comunidade. O que você e seus parentes fazem é de interesse deles pelo mesmo motivo que é de interesse de seus pais. 2000). (Tente com seu filho. e as preocupações e os sentimentos de culpa. Vamos. O efeito só durou poucos minutos. a que as pessoas realmente usam quando não estão preocupadas com "correção teológica" (Barrett. O alívio (e o fascínio) foram instantâneos. A idéia que está na raiz. a não ser que alguém a tenha roubado de você. minha filha de cinco anos.) "A seleção natural constrói o cérebro das crianças com uma tendência a acreditar seja lá no que quer que seus pais e mais velhos da tribo digam a elas" (Dawkins. então. se você perder sua faca. Há muitos anos. é que os ancestrais ou os deuses sabem as coisas mais importantes: os anseios e planos secretos. (Isso levanta uma interessante questão empírica: será que minha tentativa de hipnose instantânea teria funcionado com tanta eficácia em outra criança de cinco anos que não tivesse imprimido em mim uma figura de autoridade? E se há impressão envolvida. se surgir a ocasião. Não é de surpreender. Você poderá ter a mesma sorte. a não ser que seja uma informação estratégica. mas elas não confiam nisso ao raciocinar sem constrangimento a respeito de Deus.) Eu estava explorando os instintos dela embora a base racional só me tivesse ocorrido anos depois. o maior número primo menor que um quadrilhão. Ela tentou . levei-a à sala de emergência onde ela pôde receber os outros tratamentos de que precisava. Existe alguma prova experimental em apoio a essa hipótese. . Andréa! Vou ensinar-lhe um segredo! Você pode empurrar a dor para a minha mão com a sua mente. Deus sabe onde todos os corpos estão enterrados. Uma característica importante da hipótese de Boyer é que esses imaginados agentes com acesso pleno em geral não são considerados oniscientes. mas às vezes próxima a ela. tropeçou na banqueta do piano e dolorosamente esmagou a ponta de dois dedos. Ainda estamos no ponto em que. A sugestão de Boyer é que a idéia de onisciência . que idade uma criança deverá ter para imprimir um pai com tanta eficácia? Nossa filha tinha três meses de idade quando a adotamos. Como eu acalmaria essa criança aterrorizada de modo a poder conduzi-la em segurança até a sala de emergência? A inspiração bateu: aproximei minha própria mão da mãozinha latejante dela e severamente ordenei: "Olhe.consiste em um vinco posterior.hipnótica. um pouco de sofisticação ou arrumação intelectual adotada muito mais recentemente pelos teólogos. incluindo onde estão as chaves do seu carro. p. e portanto vão admitir. tentando imitar o desempenho da ginasta Nadia Comaneci nas barras horizontais. nossos ancestrais inconscientemente convocavam fantasias a respeito dos ancestrais deles para aliviar algumas de suas perplexidades a respeito do que fazer em seguida.e funcionou! Ela tinha "empurrado a dor" para a mão do papai. 2004a. E os ancestrais conhecem todas as informações estratégicas porque estão interessados nelas. que se encontrem líderes religiosos em qualquer parte do mundo martelando na autoridade extra dada a eles pela adoção do título "Pai" .um deus que sabe absolutamente tudo a respeito de tudo.ou seja. 12). mas com algumas outras administrações de analgesia hipnótica improvisada pelo caminho. e o número de grãos de areia naquela praia . ou que você a tenha deixado cair em um lugar incriminador durante algum encontro . As pessoas aprendem desde crianças. empurrei Empurre!".

à medida que os grupos humanos ficaram maiores e mais complicados (capítulo 4. como a adivinhação. uma coisa externa que tomará a decisão em nosso lugar. Alguma coisa mais cerimoniosa. como ir ou não para a guerra.*Nós todos sabemos como é difícil tomar as principais decisões na vida: devo permanecer firme ou admitir minha transgressão. p.toscopia) ou outras entranhas (haruspicia). "o efeito mais importante da adivinhação é que ela reduz a responsabilidade na tomada de decisão. FAZENDO COM QUE OS DEUSES FALEM CONOSCO Não há nada mais difícil. Em vez de jogar uma moeda para o alto. é o de que essa tumultuosa explosão de diferentes maneiras de jogar a responsabilidade para um dispositivo de decisão externo foi uma manifestação das dificuldades crescentes do ser humano com o autocontrole. que não apenas nos diz o que fazer. Pense em jogar uma moeda para o alto.3 . portanto mais precioso. do que ser capaz de decidir. 223-254). Gostamos de ter razões para o que fazemos. . Os estudiosos revelaram uma profusão comicamente variegada de modos antigos de delegar decisões importantes a exterioridades incontroláveis. reconhecemos a necessidade de algum tipo de tratamento mais forte que jogar uma moeda.ciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind (1976). e. os velhos favoritos. ou deve reconsiderar? Diante dessas dificuldades. [Napoleão Bonaparte] Mas de que nos servem os conhecimentos dos deuses se não os conseguimos obter deles? Como podemos nos comunicar com os deuses? Nossos ancestrais (enquanto estavam vivos!) tropeçaram em uma solução extremamente engenhosa: adivinhação. "A change of mind in Mesopotâmia". mais impressionante. se a decisão for realmente importante. é claro. ou cera derretida despejada em água (ceroscopia). Além disso. Qualquer coisa que possa aliviar o fardo de calcular como resolver essas questões difíceis tende a ser uma idéia atraente. bastões (rabdo. Os fqndamentos generalizados são bastante evidentes: . mas evasivo e pouco confiável. então elaboramos um pequeno artifício. pp. você pode examinar o fígado de animais sacrificados (hepa. Ainda há a moleosofia (adivinhação por manchas). Por que fazemos isso? Para evitar a obrigação de encontrar uma razão para escolher A em vez de B. depois de a moeda ter caído você terá de enfrentar a escolha seguinte: vai honrar seu compromisso recém-adotado. Mas se a decisão envolver algo grave. 145). numerologia e astrologia. E como Palmer e Steadman observaram mais recentemente. em vez de olhar para folhas de chá (tasseografia). devo ir para a guerra ou não. a escolha sem um bom motivo seria obviamente um sinal de incompetência. muito irreverente. como direi.mancia). The Origins of Cons. devo mudar ou continuar na minha posição atual. entre dezenas de outros.4 Um dos argumentos mais plausíveis elaborado por Julian Jaynes em seu livro brilhante. Nesse caso. nefomancia (adivinhação pelas nuvens) e. se casar. e portanto reduz a acri. mas dá um motivo (se você espiar do modo certo e usar sua imaginação). devo seguir meu coração ou minha cabeça? Ainda não descobrimos nenhum jeito sistemático satisfatório de decidir sobre essas perguntas. mas algumas vezes não conseguimos pensar em nada suficientemente persuasivo. por exemplo. cara ou coroa seria. miomancia (adivinhação pelo comportamento de roedores). você pode jogar flechas (belomancia). confessar. ossos ou cartas (sortilégios). vai cumprir o resultado do cara ou coroa. e sabemos que temos de decidir logo.mônia que possa resultar de más decisões" (2004.

240) que a própria idéia de aleatoriedade e sorte tem uma origem bastante recente: nos tempos iniciais. Tudo o que precisam para sair fortalecidos da confusão e partir para a ação resoluta é. e que possa ser considerado responsável se as coisas não derem certo. não havia meios nem mesmo para suspeitar que alguns eventos fossem inteiramente aleatórios. E como sempre acontece com as adaptações. e isso pode propiciar a motivação para se aterem à prática. Como a pluma mágica do Dumbo. E observe que nada disso é transmissão genética. Isso não é pouco. por sua vez. Na ausência dessa sofisticação.assim como o tabaco. ou memes parasitas. mas. seus ancestrais imaginados que pairam invisíveis por perto e dizem o que fazer. que realmente fortalecem a aptidão de seus hospedeiros. uma pequena ajuda por parte de seus amigos. (Esse trunfo psicológico seria prejudicado pelos céticos que desdenham a integridade da adivinhação. 245) . Não temos de estabelecer agora a questão empírica de saber se os memes da adivinhação são memes mutualistas. algumas muletas para a alma funcionam apenas se você acreditar que elas funcionam. Não quebre o encanto. Jaynes notou (p. Psiu. por hora.porque existe um Deus que sabe o que está dentro do coração de todos . está lhe dizendo. a serem descobertas e confirmadas) seja um meme mutualista. que é melhor evitar. ou simplesmente não confiam em seu julgamento como deveriam. essas pessoas precisam dessa muleta para que funcionem com eficiência. em algum lugar. Suponha que pessoas enfrentando problemas difíceis em geral tenham todas as informações de que precisam para tomar decisões bem fundamentadas. outra vez. que sabe o que é certo.poderia ter crescido em popularidade simplesmente porque aqueles que por acaso a faziam gostaram dos resultados o suficiente para repeti-la. só se precisava saber qual. A opção deliberada por uma opção sem sentido apenas para se fazer uma escolha qualquer para poder seguir com a vida provavelmente é uma sofisticação muito posterior. pode parecer a elas que a adivinhação as ajuda a pensar a respeito das situações difíceis. os outros começaram a copiá-la.se você vai transferir a responsabilidade. era importante acreditar que alguém.. Seria bom obter uma resposta baseada em provas para essa questão. pode ser um tremendo empurrão sob diversas circunstâncias. você não tem de compreender os motivos fundamentais para se beneficiar deles. A adivinhação . a suposição era de que tudo tinha um significado.mesmo quando subliminar e inarticulado .mesmo que as decisões em si não tenham qualquer informação melhor vinda do processo..5 Mas o que significa dizer que tal método funciona? Apenas que ele realmente ajuda as pessoas a pensarem a respeito de seus planejamentos estratégicos e então adotar decisões a tempo . Por motivos que não conseguem avaliar. e talvez esse reconhecimento . porque é ela verdadeira . transfira-a para algo que não possa fugir à responsabilidade.) Mesmo que as pessoas em geral não sejam capazes de tomar boas decisões baseadas nas informações de que dispõem. De fato. e. a adivinhação fornece alívio e faz com que se sintam melhor . Note também que isso deixa inteiramente aberta a possibilidade de que a adivinhação (sob circunstâncias específicas.o que Jaynes chama de "métodos exopsíquicos de pensamento ou tomada de decisão" (p. e ela se tornou a coisa a ser feita mesmo que ninguém soubesse realmente por quê. estou interessado na pergunta. é claro. e não de um instinto. embora seja o motivo fundamental para explicar por que ela é mesmo útil às pessoas. Estamos falando da prática da adivinhação transmitida culturalmente.tenha sempre motivado hostilidade em relação aos céticos. mas não se dão conta de que dispõem delas.

provavelmente. domesticaram as espécies passíveis de domesticação. investido em pesquisa antropológica. é o efeito placebo . portanto. XAMÃS COMO HIPNOTIZADORES Qualquer pessoa que vá a um psiquiatra deveria ter a cabeça examinada. em todas as culturas humanas. sendo ou não fonte real de informação confiável. entre os que buscam os astrólogos e numerólogos que ainda habitam nossa cultura ocidental high-tech). em alguns casos . que deveríamos também ter feito um excelente trabalho em descobrir a maior parte. então. Esses procedimentos de pesquisa se mostraram tão poderosos e confiáveis que as companhias farmacêuticas têm.algo que agora pode ser provado por métodos de alta tecnologia de análise genética de espécies domesticadas e seus parentes silvestres mais próximos. as ervas medicinais localmente disponíveis. a inteligência e a curiosidade para realizar uma pesquisa praticamente exaustiva das possibilidades . mesmo aquelas que exigem refinamento e preparação elaborados.) Não intriga nem surpreende que as pessoas tomem ervas para aliviar seus sintomas ou até curar suas doenças. o motivo pelo qual a água é considerada essencial à vida. Afinal. repetidamente. incluindo muitas que exigem preparação elaborada para torná-las não venenosas. Como apareceu? Em Armas. vale a pena ser plagiado! (Cui bono? Pode se ter pago ajudando uma longa série de charlatões a enganarem seus clientes. mas para quê todos os rituais que acompanham (e às vezes horrorizam) esse ato? O antropólogo James McClenon (2002) examinou os modelos nos rituais dos curandeiros pelo mundo todo e acha que eles apoiam fortemente a hipótese de que o que as pessoas descobriram. insisto apenas que a adivinhação. adquirindo energicamente .mais especificamente. em uma primeira aproximação. replicando-se ao longo das eras. E razoável supor. poderia ser entendida como fenômeno natural. que aparece em todos os lugares. um excelente exemplo do raciocínio cui bono? da biologia evolutiva. 4 . Tal apropriação ávida dos "direitos de propriedade intelectual e "segredos comerciais' de povos economicamente ingênuos é. germes e aço (1997). nos últimos anos. de modo que não devemos presumir que o pagamento fosse um benefício para todas as partes. em todas as culturas humanas (inclusive. é claro. [Samuel Goldwyn] A adivinhação é um gênero de ritual encontrado no mundo todo. Além disso. qualquer informação que tenha resistido à prova do tempo. se não todas. Jared Diamond mostrou que. em todas as culturas de todos os continentes. os rituais de cura conduzidos por xamãs locais (ou "curandeiros") são outro. Tivemos o tempo. a pesquisa humana ao longo dos séculos descobriu todas as plantas e os animais locais comestíveis. no entanto. o poder do hipnotismo. muitas vezes ajudado pela ingestão ou inalação de alucinógenos ou outras substâncias que .e que em ocasiões especiais diz às pessoas o que elas devem fazer.os frutos dessa P &D "primitiva feita pelas populações indígenas em todas as florestas tropicais e ilhas remotas. P &D é cara e demorada.por roubo. é que ela é essencial à vida. deve ter se pagado de algum modo. estratégica ou não. não importa quão deplorável. Por agora. que paga a si próprio na moeda biológica da replicação.

e respostas imunológicas. elas propiciam fontes para algumas das características (rituais e crenças) a serem encontradas em quase toda parte nas religiões. mas isso poderia.ao xamã para aliviar são aquelas particularmente hospitaleiras ao tratamento com efeito placebo: estresse psicológico e os sintomas dele decorrente. Do mesmo modo que a tolerância à lactose se desenvolveu em povos que tinham a cultura de pastoreio. e é claro que o dia em que ele irá ocorrer. é claro.alteram o estado mental (ver também Shumaker. ou há efeitos relacionados discerníveis em outras espécies? Esse é um tema de pesquisa e controvérsia atuais. É interessante. O parto. sendo que cerca de 15% das populações humanas mostram forte propensão à hipnose.não com perfeição. 1990). no Homo sapiens. para começar? Essa é uma adaptação exclusivamente humana (que depende da linguagem e da cultura). para mencionar os mais potentes. febres para combater infecção. Os rituais de cura. argumenta McClenon. mas muito melhor que o sistema médico ocidental em geral está disposto a admitir. é claro. houve bastante espaço para uma forte pressão seletiva em favor da coevolução de qualquer tratamento (transmitido culturalmente) e suscetibilidade ao tratamento (transmitido geneticamente) que pudesse melhorar as chances. A minha hipótese é de que os rituais xamanísticos constituem induções hipnóticas. e. são onipresentes porque eles realmente funcionam . é um evento particularmente estressan. que as representações xamanísticas propiciam a sugestão. embora custosos. pode de fato acabar danificando o corpo.tecnológicos quanto o são agora em culturas não-tecnológicas. Os xamãs tendem a aparecer em famílias. [McClenon.pode ser previsto com bastante exatidão. a possibilidade de ser hipnotizado pode ter evoluído em povos que tinham a cultura de rituais de cura. que as reações dos clientes são equivalentes às reações produzidas por hipnose. fazendo do parto uma ocasião ideal para cerimônias elaboradas que exigem um tempo de preparação considerável.ao contrário dos traumas de acidentes e de hostilidade . 2002. 79] Essas hipóteses são evidentemente testáveis. Como as taxas de mortalidade infantil e materna no parto eram presumivelmente tão altas nos dias pré. (Reações imunológicas em grande escala são especialmente custosas. e que as reações ao tratamento xamanístico são correlacionadas com a propensão do cliente à hipnose. argumenta McClenon. mas existe uma ampla variação na propensão à hipnose. ou quando a . mais que ajudando.e pagam . De fato. para mencionar talvez o caso mais interessante. o uso exagerado. ser atribuído inteiramente à transmissão vertical cultural (dos memes xamanísticos de pai para filho). vômitos para livrar o sistema digestivo de toxinas. Uma das hipóteses mais engenhosas em discussão é a hipótese de "gerenciamento de recursos econômicos" de Nicholas Humphrey (2002). Todos esses são eficazes. O corpo tem muitos recursos para curar suas próprias doenças: dor para desencorajar atividade que possa piorar um ferimento.) Quando um corpo deveria não poupar despesas na esperança de uma cura rápida? Só quando isso for seguro. de acordo com uma boa quantidade de provas antropológicas. e aparentemente existe um componente genético que não foi ainda bem estudado (que eu saiba). há uma convergência: as doenças que as pessoas vão . Mas por que os seres humanos seriam suscetíveis ao efeito placebo. p.te. e apenas os animais mais saudáveis conseguem manter um exército de anticorpos inteiramente equipado. além da provação do parto. ou prematuro.

gistas. considerá-lo um centro do quê. a variável esperança pode ser manipulada por figuras de autoridade. Por que aqueles dentre os nossos ancestrais que apresentaram uma tendência genética a criar um centro de Deus sobreviveram melhor que os rivais. a variável esperança é supostamente ajustada para qualquer informação que o animal consiga vislumbrar em seus arredores (está em segurança na toca. Atran ou os demais antropólogos. que não . algo parecido com sua hipótese (mas provavelmente muito mais complicado) é um bom palpite para confirmação no futuro próximo. funcionam enfatizando ou suprimindo a atividade de uma monoamina ou outra. No entanto. Mesmo assim. Agora temos um candidato plausível para preencher a lacuna: aquele que capacita a propensão à hipnose. restaurando os suprimentos de neuromoduladores e neurotransmissores. e nenhum é tratado por Boyer. de um lado. é uma tendência recente e irregular. Essas são questões que vale a pena investigar. um ponto fraco que poderá repelir pesquisadores que.as monoaminas . No capítulo 3. e há bastante comida por perto?). O que é parcialmente tentador nesse caminho de pesquisa é como ela não é reducionista! McClenoon e Hamer trabalharam independentemente um do outro. e o desenvolvimento da hipótese de Hamer é marcado por mais entusiasmo que sutileza. E provável que haja mais fracassos iniciais e decepções do que triunfos nos primeiros dias desse trabalho interdiscipli. O efeito placebo. De outro modo. eles apresentam um exemplo vivido e acessível das possibilidades existentes. enquanto outras são prontamente postas em transe. pelo que sei.robiólogo e geneticista Dean Hamer (2004) alega ter encontrado um gene que poderia ser atrelado a esse papel. então. ou seja. O gene VMAT2 é um dos muitos que dão receitas de proteínas . introduzi brevemente a hipótese de que nosso cérebro pode ter evoluído um "centro de Deus". mas observei que seria melhor. Nenhum dos dois menciona o outro. dizendo ao corpo para retirar todos os impedimentos porque há esperança. em seu livro recente. ou no meio do rebanho. os cientistas darwinianos como eu queremos saber por que o centro de Deus evoluiu. e os transportadores dentro dos neurônios que fazem todo o serviço doméstico. de outra maneira. Lembre-se do trecho de Dawkins citado no capítulo 3: "Se os neurocientistas encontram um 'centro de Deus' no cérebro. The God Gene. Nada disso está perto de ser provado.que fazem o trabalho principal no cérebro. e poderiam justificar por que algumas pessoas são relativamente imunes à indução hipnótica. em todo caso. As variantes do gene VMAT2 são idealmente colocadas. há diferentes mutações dele em pessoas diferentes. desenvolvidas nos últimos anos. Em outras espécies. em nós. por hora. e antropólogos. e não prometo nada com relação às perspectivas das hipóteses específicas. nem de McClenon nem de Hamer.ajuda está próxima. tendo como pioneiro Luigi Luca CavalliSforza e seus colegas. O Prozac e as muitas outras drogas psicoativas ou que modificam a disposição. O gene VMAT2 é polimórfico nos seres humanos. arqueólogos e historiadores.nar. à medida que o papel das proteínas e suas receitas de genes forem mais analisados. do outro. Isso não é de surpreender. pode ser mais prudente para o corpo ser avaro com suas automedicações caras. de acordo com essa hipótese. é um gatilho disparado. o levariam a sério. o neu. A colaboração entre geneticistas e neurobiolo. São proteínas que levam os sinais que controlam todos os nossos pensamentos e nosso comportamento: os neuromoduladores e os neurotransmissores que são mandados de um lado para outro entre os neurônios. que mais tarde foi adaptado ou explorado por elaborações religiosas de um tipo ou de outro. para explicar as diferenças nas reações emocionais ou cognitivas das pessoas aos mesmos estímulos. Além disso.

tinham seguro de saúde! Nos dias anteriores à medicina moderna. vem mais tarde.tinham?" (2004b.9 alguns dos aspectos da religião organizada podem ser traçados como vestígios de religiões populares das quais eles descenderam. 14). Isso tudo é possível? Claro. apenas pelo processo de replicação diferenciada durante a transmissão cultural. histórias a respeito de deuses ou ancestrais sobrenaturais. 5. Do mesmo modo que as histórias populares. ao contrário dos que não têm o gene. não haveria vantagem de seleção em possuir esse gene variante. As religiões do povo têm rituais. sem intenção. Do mesmo modo como algumas características de linguagem escrita apresentam vestígios claros de seus ancestrais puramente orais. Se os xamãs não existissem. mas ao que vou chamar de religião do povo. teólogos. Se você fosse constitucionalmente impermeável aos tratamentos que os xamãs com paciência refinaram ao longo de séculos (evolução cultural). e o crédito por isso tudo não é dado a nenhum planejador humano individual. Isso ainda não nos leva à religião organizada. e seus tabus e outras injunções morais não têm legisladores. [Fredrik Barth.6 Por que aqueles que apresentam a tendência genética sobrevivem? Porque eles. 8 os rituais e cantigas da religião popular não têm compositores. deliberada. você ficaria sem um serviço de tratamento de saúde ao qual recorrer. A autoria consciente. e ela invoca não apenas os fatos bioquímicos. com a ajuda apenas de uma montagem modesta de símbolos crípticos concretos (sendo que seus significados dependem das associações construídas em torno deles na consciência de alguns anciãos) e por comunicação limitada.7 Antes de existir qualquer das grandes religiões organizadas. práticas proibidas e obrigatórias. Ritual and Knowledge Among the Baktaman ofNew Guinea] . p. os ditos da religião popular são de autoria tão dispersa que é melhor dizer que não têm autor algum. mas os memes acumulados deles. havia as religiões do povo. com os membros de algumas comunidades vizinhas. Por vestígios entendo o seguinte: a preservação de uma religião popular ao longo de muitas gerações . o tipo de religião que não tem credos escritos. a cultura de cura xamanística. depois que os projetos dos itens culturais básicos foram aguçados e polidos ao longo de muitas gerações.sua auto-replicação em face da concorrência inexorável -. adaptações de exigências que são peculiares a uma tradição oral e que não são mais estritamente necessárias (do ponto de vista da engenharia reversa). e estas propiciaram o ambiente cultural do qual as religiões organizadas puderam emergir. mas todo o mundo da antropologia cultural. mas que persistem simplesmente porque ainda não são suficientemente custosas para ser seletivamente eliminadas. poderia ter criado uma forte crista de pressão seletiva na paisagem adaptativa. e não que os autores sejam desconhecidos. sem previsão. A linguagem é um artefato cultural sensacionalmente intrincado e bem planejado. Como a música popular. DISPOSITIVOS DE ORGANIZAÇÃO DE MEMÓRIA NAS CULTURAS ORAIS O corpo total de conhecimentos dos baktaman está guardado em 183 mentes baktaman. Agora temos uma resposta finalmente testável para a questão de Dawkins. a cura xamanística era o único recurso da pessoa que ficava doente. nem hierarquia ou funcionários. desconfiada. que de outro modo não estaria lá.

que pela primeira vez tornou possível a produção em massa de cópias idênticas. In God We Trust] Todas as religiões populares têm rituais. para aumentar as possibilidades de cooperação (por exemplo. salas cheias de escribas.exaptação. que não dão importância ao background evolutivo. rítmica. Como a maior parte dos originais dos quais essas cópias eram feitas. e em geral exigem tempo e esforço impressionantes para a preparação. Em geral.a outros usos. Desse modo. ou os processos de indução hipnótica nas curas xamanís. ou apenas se estrague um pouco. não só de proteger os documentos sagrados de danos e deterioração. à medida que os adeptos iniciais perdem a fé ou o interesse e se afastam. são os únicos animais que se envolvem espontaneamente em coordenação corporal criativa. como diria Stephan Jay Gould . acumulados ao longo de muitas gerações.ticas. Mas há outras possibilidades a serem exploradas.uma copiadora feita de gente.Os seres humanos. mas de copiá-los repetidamente. Sem a cópia de alta-fidelidade. são espantosamente caros: muitas vezes envolvem a destruição deliberada de alimentos e outros patrimônios valiosos . a escrita (para não falar do videoteipe e outras mídias de registro de alta tecnologia) propicia a via óbvia de informações a ser usada. Podemos observar hoje o nascimento e a morte rápida de cultos. tomavam ditado de um leitor e assim transformavam uma cópia frágil e muito manuseada em dezenas de novas cópias . ao assegurar que múltiplas cópias tenham sido distribuídas. parece. eles estariam disponíveis para adaptação . a não ser que eles se valham das tecnologias de replicação.para não falar dos sacrifícios humanos -. Hoje em dia. mal deixando traços depois de poucos anos. nesse meio- . Antropólogos e historiadores da religião teceram teorias a respeito do significado e da função do ritual religioso por gerações. os rituais se destacam como pavões em uma clareira iluminada pelo sol. como as características psicologicamente necessárias das técnicas de adivinhação. deveríamos pensar na suposição dos rituais como processos de fortalecimento de memória. Para um evolucionista. Até quando os membros de um grupo desses querem ardentemente mantê-lo em funcionamento. quaisquer melhoras de projeto que por acaso ocorram em uma linhagem tenderão a ser dissipadas quase imediatamente. evaporando os preciosos frutos de P &D da noite para o dia. E desde os dias iniciais da escrita. [Scott Atran. seus desejos são dificultados. Cui bono? Quem ou o que se beneficia desses gastos extravagantes? Já vimos dois modos pelos quais os rituais podem se pagar. Antes de examinarmos as especulações a respeito dos rituais como expressões simbólicas de uma profunda necessidade ou crença. tem havido uma valorização intensa da necessidade. geralmente a partir de perspectivas limitadas. cantando e balançando quando trabalham juntos). projetados por evolução cultural (e não por qualquer projetista consciente!) para melhorar a fidelidade da cópia do próprio processo de transmissão de memes que eles resguardam. podemos ter certeza de que as tradições religiosas hipotéticas que não têm bons meios de preservar a confiabilidade de seus projetos ao longo dos séculos estão fadadas ao esquecimento. podem ser perdidos em poucas replicações defeituosas. Durante muitos séculos antes da invenção do tipo móvel.10 Uma vez instalados na cena para esses objetivos. Uma das lições mais claras da biologia da evolução é que a extinção prematura está no futuro de qualquer linhagem cuja maquinaria de cópia se quebre. ombro a ombro em suas escrivaninhas. Ganhos duramente obtidos. minimizando o risco de perda. muitas vezes são fisicamente extenuantes ou até mesmo danosos para os participantes.

Ser decorado diversas vezes. cada prece. por que deveríamos acreditar nisso? Há alguma prova que sustente a convicção tradicional deles? Há. um pouco. embora existam textos delineando os rituais védicos. o ministro. em geral exigem muito mais fisicamente e demoram muito mais tempo que os rituais das religiões organizadas. foi criada séculos depois da morte do pensador. da tradição ritual Nambudiri deve-se ao fato de que. [Lawson e McCauley. supostamente desconhecidos deles e jamais . Exclusivamente por meios não letrados.ser ouvido e notado acima da concorrência . se não lá. Se não fosse pelos textos védicos. talvez. os xamãs não freqüentam seminários xamanísticos oficiais. ou. restritos a culturas letradas.é menos da metade da luta. 1979) são cópias de textos compostos centenas de anos antes. eles mantiveram essa elaborada tradição ritual com espantosa fidelidade (tal como se pode depreender pela Strauta Sutras com séculos de idade). por exemplo. A cópia mais antiga conhecida dos diálogos de Platão ainda existente. Um texto pintado sobre papiro ou pergaminho é como os esporos duros de uma planta. cada detalhe das vestes. nada de Homero. que podem ficar intactos na areia durante séculos antes de se encontrarem em condições adequadas para deixar a armadura e brotar. Platão e Aristóteles. 153] Desse modo. à primeira vista. e não existe um conselho de bispos ou aiatolás para manter o controle de qualidade. seja na privacidade de um único cérebro ou em repetição pública uníssona. Ninguém tem de decorar todas as linhas de cada invocação. pelo menos em textos que estão prontamente disponíveis para o padre. música. o veículo . Nas tradições orais. com alguma prova que sustente suas convicções de terem preservado os rituais intactos.e se imprimir firmemente no máximo de cérebros possível para fugir do esquecimento. nenhum Velho Testamento. já que está tudo escrito em um registro oficial ou outro.tantos quanto possível . quase com certeza haverá algum documento a ser consultado. Ficar registrado em um cérebro . ou no Book of Common Prayer. ou checar se deve levantar ou sentar durante as bênçãos finais. essa é uma questão de vida ou morte para um meme transmitido oralmente. parece que os Nambudiri talvez sejam uma cultura oral dotada de uma sorte excepcional. Como os membros dessas religiões guardam todos os detalhes na memória ao longo das gerações? Uma resposta simples é: eles não guardam! Não conseguem! E é surpreendentemente difícil provar o contrário. 2002. sem os esforços desses escribas não disporíamos de textos confiáveis de nenhuma literatura da Antigüidade. já tinha se transformado em pó. e até os Manuscritos do Mar Vermelho e os evangelhos Nag Hammadi (Pagels. Mas os rituais não estão.um verso falado ou um refrão cantado . manipulação dos objetos sagrados e daí por diante. Os detalhes estão impressos no verso de qualquer hinário. Tem de entrar em alguns ouvidos . os rituais religiosos de sociedades não letradas são muitas vezes mais detalhados. Embora membros de uma cultura não letrada possam muito bem ser unânimes em sua convicção de que seus rituais e credos têm sido perfeitamente preservados por eles ao longo de "centenas" ou "milhares" de gerações (mil anos são apenas cinqüenta gerações). p. os Nambudiri não os usaram. ao contrário. Além do mais.dura só alguns segundos. sagrada ou secular. nenhum Gilgamesh. de jeito algum. pelos estudiosos. Na verdade. o rabino ou o imã.tempo. Se você quiser refrescar sua memória quanto à ordem das devoções no serviço dominical de sua igreja. Grande parte do entusiasmo que acompanhou a descoberta.

E já sabemos que. Ao encontrar modelos comuns nesses desvios. dos originais.. concorrentes iniciais à inclusão no cânon dos textos cristãos. 83) observam secamente. O pouco que sabemos a respeito de religiões primitivas depende quase inteiramente de textos que sobreviveram. muito antes de haver linguagens escritas que preservassem os indícios como insetos fósseis em âmbar. a serem posteriormente estudadas. por exemplo.". teríamos primeiro de estabelecer modelos para estabilidade e alterações. é feito uso de cadernos preparados pelo AcArya sênior. fossilizando algumas delas. Mas. como as palavras indo-européias eram pronunciadas. preparação e ensaios que levam ao evento propriamente dito. assim. encontrou muitas evidências de inovações entre os baktamans. em algumas religiões dessas.'3 Se tentássemos o mesmo estratagema de extrapolação com as crenças religiosas. por exemplo.. com algum grau de confiança. digamos. "Fidelidade perfeita à prática antiga não é um ideal determinado para os baktamans". pulam e jogam pedras do mesmo jeito em todo lugar. os lingüistas conseguem deduzir características de linguagens orais extintas. Por meio de análises probabilísticas complexas e sofisticadas.. mas eles não são pessoas analfabetas (alguns de seus sacerdotes ensinam engenharia. Compare o problema aqui com a pesquisa em andamento sobre a evolução das linguagens. Não podemos. e justapor essas regularidades em modelos de estabilidade para chegar a conjecturas altamente fundamentadas e confirmadas por cruzamentos a respeito de. As pessoas correm. Desse modo. por exemplo). "Sabe-se que. não devemos descartar a possibilidade de que a religião que hoje presenciamos (e registramos) pode consistir de elementos que foram inventados. traçando desvios lingüísticos do grego ático ao grego helênico. p. não haveria um padrão fixo pelo qual medir a confiança na antigüidade de suas tradições. Fredrik Barth. cujos últimos usuários já estão mortos há milênios! Como isso pode ser feito sem consultas a gravações em fita e sem textos na linguagem sobre o qual levantam hipóteses? Os lingüistas fazem uso intenso do enorme corpo de dados textuais em outras linguagens mais recentes. e até agora não foi possível fazer isso. e essa regularidade é explicada pelas propriedades físicas dos membros e da musculatura humana. ou reinventados bastante recentemente. Pagels (1979) oferece uma perspectiva fascinante sobre os Evangelhos Gnósticos. não há uma tradição de preservação obsessiva do credo antigo. que já participou de rituais anteriores.. embora possamos estar bastante certos de que os povos da tradição oral tiveram algum tipo de religião durante milhares de anos. e não por uma tradição de algum modo passada de . para saber como as linguagens devem ter sido antes de a escrita aparecer. eles conseguiram extrapolar retrospectivamente. pela uniformidade da resistência ao vento em torno do globo. e como Lawson e McCauley (2002. a história é boa demais para ser inteiramente verdadeira. e daí por diante. de seis meses. Eles conseguiram extrair regularidades de desvios de pronúncia e gramaticais. simplesmente acreditar que as tradições religiosas não letradas ainda existentes no mundo são tão antigas como se diz. e do latim para as línguas românicas. graças à sobrevivência fortuita de textos escritos transmitidos como traduções de cópias de cópias.12 Então ôs nambudiri não são realmente um parâmetro independente de quanto a transmissão oral pode ser exata. para treinamento. enfim. A tradição nambudiri pode ser oral. e é difícil acreditar que tenham se mantido isolados dos textos védicos. durante o período de iniciação.consultados ao longo dos anos.

Braçadas diferentes para pessoas diferentes. Se você levar dois e eles começarem a discordar. os dois que ainda estão concordantes teriam de funcionar mal exatamente do mesmo modo. independentemente de se as pessoas se importam. já que qualquer um desses mecanismos tenderá a persistir mais tempo no meio cultural do que mecanismos alternativos (e mais baratos) que são copiados com indiferença. hoje em dia. e construir uma teia que é muito mais forte que seus elos mais fracos. ninguém precisa ser melhor que a média. Os xamãs em todo o mundo realizam a maior parte de sua prática de cura em cerimônias públicas. Ele pode ser visto em funcionamento em qualquer tradição oral. graças ao "multiplexação de Von Neuman". O todo não depende do virtuosismo dos que decoravam a seqüência. você nunca vai saber se está errado. que é a base do estranhamente confiável comportamento dos computadores. religiosa ou secular. já que. mas três cronômetros a bordo de seus navios nas viagens longas. e são hábeis em conseguir que o público local não apenas observe enquanto . você não vai saber se um está atrasando ou o outro está adiantando. Por outro lado. na qual as pessoas agem em uníssono . nos permitindo fabricar computadores altamente confiáveis a partir de partes inevitavelmente não confiáveis. para começar? Já que estamos supondo que elas não têm a intenção de preservar a fidelidade da cópia de seus memes constituindo um tipo de memória de computador social. mas a maior parte'vai. Se você levar três. em lugares em que nenhuma dessas restrições garante a reinvenção.geração a geração.1' Um ritual público é um excelente modo de preservar conteúdo com alta fidelidade. Uma das melhores maneiras de assegurar a fidelidade da cópia em muitas replicações é a estratégia da "regra da maioridade". Qualquer religião sem essas ocasiões já estaria extinta. coincidência pouco provável na maioria das circunstâncias. mas esse estratagema foi inventado e reinventado ao longo de séculos em muitas variações. por exemplo. pode ter bastante certeza de que o que está estranho é aquele no qual os erros se acumulam. do contrário. amplo e irreconhecível. de modo que a máquina de computação imaginária de Alan Turing pudesse se tornar realidade. Nos dias anteriores aos da comunicação por rádio e satélites GPS. os itens de cultura poderão perambular de modo rápido. Se você tiver apenas um cronômetro e ele começar a atrasar ou adiantar. o que as motivaria a se juntarem a eles? Aqui há um monte de hipóteses conflitantes que levará algum tempo e pesquisa para resolver.'4 E onde seja que ocorra essa transmissão ambulante. Foi o grande matemático John von Neumann que viu um modo de aplicar esse estratagema ao mundo real da engenharia. na ausência de mecanismos fiéis de cópias. preservando as tradições de modo muito mais confiável do que qualquer um deles poderia fazer isoladamente.rezando. e os que estão fora do passo irão rapidamente se corrigir para se unirem à massa. OS navegadores costumavam levar não um. esse Bom Estratagema já estava incorporado como uma adaptação de memes. Nem todo mundo vai se lembrar das palavras ou da melodia ou do passo seguinte. automaticamente haverá seleção por mecanismos que enfatizem a fidelidade na cópia sempre que ela surja. mas por que as pessoas são tão ansiosas por participar em rituais. Pode-se provar matematicamente que tais esquemas "mutiplexado. uma dificuldade de escolha.res" conseguem superar o fenômeno do "elo mais fraco". Não é por acidente que as religiões todas têm ocasiões em que os adeptos se reúnem em rituais para agir em uníssono público. cantando ou dançando. Muito antes de ser conscientemente inventado ou descoberto. A quase perfeita transmissão de trilhões de bits é executada de forma rotineira até pelo computador mais barato.'6 Pense naquilo que podemos chamar de a hipótese de publicidade xamanística.

G. Uma inovação fundamental foi dividir o material a ser transmitido em algo parecido com um alfabeto. Esta é uma forma de digitação que permite que flutuações ou variações minúsculas na execução sejam absorvidas ou apagadas na rodada seguinte. Oracles and Magic Among the Azande (1937). ter sido projetadas para poder interagir cada vez mais com a memória. de nos juntar com outros.que algum líder comunitário ou outro agente venha a projetar um ritual para servir a um objetivo em particular. mas é possível ver aplicações anteriores nos modos pelos quais os rituais religiosos . alguns agentes que quisessem iniciar uma tradição ritual? Como sempre. observando como o xamã astutamente arregimenta a multidão de espectadores habituais. uma espécie de alfabeto. Em seu clássico Witchcraft. de fato. [Evans-Pritchard. e o fenômeno pode se tornar autosustentável (Boyd e Richerson. Até mesmo rituais elaborados e caros de ensaio público poderiam surgir de práticas e hábitos anteriores. poderia provavelmente explicar a motivação inicial para entrar no coro . mas que participe. com tambores. a dança rítmica e outras formas de "pompa sensorial" (Lawson e McCauley. elas próprias. e "histeria da massa". Será que não deve haver alguém para promover a operação? Como isso começaria a funcionar a não ser que houvesse algumas pessoas. cantando. A idéia do projeto de digitação ficou famosa na era da computação.e em alguns casos certamente provável e até mesmo provado . Essa é a primeira ocasião na qual demonstram sua crença. e os membros da comunidade ficam com a idéia de encorajar os outros membros. outras motivações podem predominar. sem qualquer plano consciente. Uma vez que as pessoas se encontrem no coro. porque as crianças fazem questão de freqüentá-las e participar delas como espectadores e coro. não apenas a participar. Temos também de examinar as características daquilo que é ensaiado.) E então há o fenômeno de "hipnose coletiva". especialmente os mais velhos. T. esse palpite trai uma falha de imaginação evolutiva.especialmente se tivermos desenvolvido um desejo inato de pertencer. 1992). para impressionar os não iniciados. salmodiando e dançando. 2002). como A. c. No Apêndice A descrevo como a confiabilidade da replicação do DNA depende da existência de um código ou conjunto finito de elementos. porque podem. mas não o suficiente. pp. (Isso será tema do próximo capítulo.eles induzem um transe neles mesmos ou em seus clientes. na verdade. Qualquer coisa que faça o custo da não-participação aumentar funciona. mas vimos que esse agente não é estritamente necessário. Pode-se supor. o antropólogo Edward Evans-Pritchard descreve vividamente esses procedimentos.'7 O ensaio público é um processo-chave de fortalecimento da memória. mas para infligir o custo àqueles que fogem à responsabilidade de participar. para os quais essa demonstração cerimonial é um espetáculo novo. ainda pouco conhecido mas com inegáveis efeitos potentes observáveis quando as pessoas são reunidas em multidão e alguma coisa excitante acontece para que elas reajam. 1937. um repertório um tanto limitado de normas de produção. e fica mais dramática e mais publicamente afirmada nessa sessão que em qualquer outra situação. como muitos têm recentemente argumentado. que a freqüência a elas tem uma influência informativa importante no crescimento das crenças em feitiçarias nas mentes das crianças.como danças. É claro que é possível . 70-71] A curiosidade inata. edição resumida. transformando-os em chamarizes. poemas e as . estimulada pela música. 1976.

já que esses termos "técnicos" foram certamente inventados muito depois de a eficácia das propriedades ter sido "reconhecida" pelo relojoeiro cego da seleção cultural. que será de magnitude menor. ou o movimento-B mais ondulado. O diabo vai pegá-lo se você disser errado. Ritmo. mas cada gesto será claramente reconhecível como uma mesura. A idéia subjacente é bem familiar para todos no (em geral desprezado. Esse tipo de compressão pode ser medida com exatidão no seu computador de casa. a essa altura: ninguém tem de compreender esses motivos fundamentais. também pode estar lá. Quando as crianças observam os mais velhos fazendo os movimentos. ou alguns aspectos delas. no entanto. nem mesmo querer melhorar a fidelidade da cópia dos rituais de que participou. Irão todos concordar a respeito do que são os movimentos. rimas e tons musicais. mas eficaz) método pedagógico: aprender decorando. ou a grafia dos movimentos. adequados para o que Dan Sperber (2000) chama de "produção acionada" (ver Apêndices A e c).) Para repetir o refrão que deveria ser familiar. batam continência ou kowtow exatamente da mesma maneira. transformando seqüências de palavras não memoráveis em sound bites (vamos abusar dos anacronismos. "Não tente entender essas fórmulas! É só decorá-lasl" Se você simplesmente não consegue entender as fórmulas. a porta não vai abrir.uma perigosa fonte de mutação. até agora. você não precisa do conselho. Falar que um "alfabeto" é composto de um conjunto "canônico" de coisas a serem lembradas é duplamente anacrônico.próprias palavras .para praticar ainda outro anacronismo. Esses são ainda mais enfatizados pelo uso de ritmo e rima . e aí jaz uma compressão enorme das informações que devem ser transmitidas. que desse modo absorve o ruído do momento e transmite para o futuro apenas o esqueleto essencial. seja em uma dança popular tradicional ou numa cerimônia de religião popular (e essa distinção será bastante arbitrária ou inexistente em algumas culturas). Observe que. 1995). quaisquer rituais que por acaso sejam favorecidos por essas características teriam uma vantagem replicativa poderosa sobre rituais concorrentes que não as tivessem. já que estamos aqui). e isso reforça a confiança na repetição estrita e no gênio corretor de erros dos alfabetos. usando tecnologia recente (a linguagem escrita e a elevação consciente e deliberada de um cânon restrito de crenças e textos prescritos) para analisar as potências dos projetos das inovações mais antigas em métodos de transmissão que não tiveram autores.podem ser quebrados em elementos facilmente reconhecíveis. não há outro recurso além da memorização. as adaptações que revelamos como prováveis colaboradoras na . comparando um bitmap de uma página de texto (que não faz distinção entre caracteres alfabéticos e borrões e manchas de tinta. e podem se comparar uns aos outros para ver quem consegue fazer o movimento-A mais espetacular. em circunstâncias nas quais eles estariam. de outro modo. Não há duas pessoas que façam suas mesuras. ou a cantilena-C mais alta. laboriosamente representando cada ponto) a um arquivo de texto da mesma página. uma continência ou kowtow pelo resto do grupo. elas aprendem o alfabeto dos comportamentos. tentados a usar a "citação indireta" e a transmitir apenas a parte essencial da ocasião "em suas próprias palavras" . O conselho. assim como outro aspecto de fortalecimento de memória: Repita a fórmula exatamente! Sua vida depende disso! (Se você não disser as palavras mágicas exatamente certas. todos propiciaram respaldo adicional (Rubin. Uma característica de projeto menos evidente foi a inclusão de elementos incompreensíveis! Por que isso ajudaria a transmissão? Obrigando os transmissores a voltar à "citação direta".

mas podem ser testadas. ao mesmo tempo que são quase inteiramente neutras para dizer se o que é transmitido é bom (um mutualista). ou mutualista. não da mensagem. projetadas para assegurar a fidelidade da transmissão . ruim (um parasita) ou neutro (um comensal). levantamos a hipótese de que a evolução dos rituais de cura xamanísticos foi um desenvolvimento provavelmente benigno. em adivinhação. por razões cuidadosamente elaboradas. um desafio à biologia.uma exigência da evolução -. não apenas um mau hábito para os quais os nossos antepassados eram atraídos. ou como cúmplices do xamã. Devemos exaurir nossas opções minimalistas para ASSENTAR as fundações de um exame adequado da questão. . na manutenção da saúde. Mas essas hipóteses ainda são questões empíricas em aberto.sobrevivência das religiões têm sido neutras quanto a saber se nós somos beneficiários ou não. neste ponto. pode ser explicado por hipóteses que ainda não estão confirmadas. e poderíamos revisar nossa opinião sem o colapso da teoria. à medida que as religiões se domesticaram. *** Capítulo 5. e algumas vezes substituídas. se elas estiverem garantidas pelas provas. Provavelmente a população excessiva de agentes imaginários gerados pelo HADD rendeu candidatos para fazer o papel de ajudantes em decisões. as bases generalizadas dos motivos para os projetos mais antigos foram suplementadas. Ninguém poderia objetar. cooptados ou exaptados. por exemplo. O alto preço evidente da religião popular. Essas são características do meio. Ainda não tivemos de tratar dessa questão. E há uma boa chance de que a adivinhação realmente ajudasse (e não apenas parecesse ajudar) os nossos antepassados a tomar suas decisões quando precisassem. Para ter certeza. a religião popular transformou-se em uma religião organizada. *** Capítulo 6. que não começamos a falar a respeito de todo o bem que a religião faz. À medida que a cultura humana cresceu e as pessoas se tornaram mais reflexivas. Esses constructos mentais. foram então submetidos a uma extensa revisão de projeto sob a pressão seletiva para proezas reprodutivas.

Não necessariamente melhores. Um sacerdote gago e prosaico.uma execução falha como esta pode afastar até o membro da congregação mais bem-intencionado. tanto a respeito de suas práticas como de suas reações. mais elaboradas. A MÚSICA DA RELIGIÃO Não significa coisa alguma. Pode ser.6. como sabem todos os que já sofreram durante uma cerimônia religiosa conduzida com incompetência. na arquitetura e em outras artes. Um bom professor de teoria musical consegue desmontar uma sinfonia de Mozart ou uma cantata de Bach e mostrar como as diferentes características do desenho colaboram para sua magia. em qualquer sentido absoluto. a explicação diminui o "deslumbramento". que não conheça as regras ou os pontos altos do jogo. poderão eles exclamar sinceramente. pessoas que se esquecem de levantar e do que devem dizer e fazer . mas em grande parte porque. Existe artifício no planejamento e na execução das práticas religiosas. na música. em um jogo de futebol. elas puderam se tornar cada vez mais inventivas em suas explorações das possibilidades. mas algumas pessoas preferem não mergulhar nessas questões. Ocasiões celebradas com mais arte conseguem elevar a congregação a êxtases sublimes. biologicamente. críticos. agentes e todo o resto. uma liturgia chata. a mudança aconteceu por diversas razões. "Grande ação!". salas de concerto. pela mesma razão por que não querem que se revelem os truques de mágica no palco: para elas. à medida que as pessoas passaram a ser cada vez mais reflexivas. representações e regras escritas.merecem coisa melhor. Mozart e Bach . mas estão perdendo a maior parte da excelência oferecida. Os projetos e as técnicas da religião também podem ser estudados com a mesma curiosidade . na dança. Nos dois casos. Tanto a música como a religião aos poucos se tornaram "artísticas" ou sofisticadas. e só vê muito chute na bola para lá e para cá e corridas vigorosas por todo lado. Podemos analisar o artifício nos textos sagrados e nas cerimônias religiosas do mesmo modo como podemos analisar o artifício na literatura. se não tiver aquele balanço. mas compare a incompreensão reverente dos musicalmente ignorantes diante de uma sinfonia com a avaliação igualmente superficial de uma pessoa. contudo mais capazes de responder a demandas cada vez mais complicadas de populações que eram. bem semelhantes a seus ancestrais distantes. [Duke Ellington] O ARGUMENTO CENTRAL deste capítulo é que a religião popular se transformou em religião organizada do mesmo modo pelo qual a música popular gerou aquilo que podemos chamar de música organizada: músicos e compositores profissionais. mas culturalmente ampliadas. exigindo mais produção. A EVOLUÇÃO DA INTENDÊNCIA 1. tanto do ponto de vista da qualificação como da sobrecarga de tarefas.e um grande time de futebol . um canto trêmulo do coro.

aqueles que você tiver ouvido repetidas vezes desde a infância. A capacidade humana para a reflexão fornece uma habilidade para observar e avaliar os padrões no nosso comportamento ("Por que continuo caindo nessa”). Além dos efeitos imediatos de hoje . A não ser que você seja um estudioso notável e raro. Escutem os sermões gravados do reverendo C. que adquiriu cultura. ou do pregador batista branco irmão John Sherfey. Ao escolher que passagens da Escritura serão replicadas esta semana. "Na época pareceu uma boa idéia. Entender como ela funciona é tanto um preâmbulo para melhor avaliá-la ou fazer com que ela funcione melhor quanto uma tentativa de desmontá. elas são como uma espécie de música. As principais religiões de hoje são tão diferentes de suas versões ancestrais quanto a música de hoje é diferente da música da antiga Grécia ou de Roma. você só consegue guardar em sua memória pessoal uma fração dos textos sagrados de sua fé . Mas nem todas as instituições têm. . As tradições podem desmoronar mais rapidamente que muros de pedra e telhados de ardósia. mas também incessantemente avaliando e decidindo. por sua vez. ameaça a estabilidade de qualquer prática social mal fundamentada que não consiga sobreviver a essa atenção céti. Todos os sacerdotes de todos os credos são como músicos de jazz. as mentes cristãs hoje são bem diferentes das mentes dos cristãos primitivos. deposição de outro dólar no prato da coleta -. As mudanças feitas estão longe de ser aleatórias. Pense em adotar a mesma atitude inquisitiva em relação à religião. ou exigem. tal manutenção. diminuindo ou apressando o passo.' Esses compositores-executantes não são apenas vocalistas. algumas vezes entoando-os em uníssono com a congregação. especialmente à sua própria religião. L.e dos efeitos de curto prazo . e com resultados valiosos. há efeitos de longo prazo.um sorriso ou "amém!" ou "aleluia! . mas por quê?" etc. E a análise que estou incentivando é.la. e a manutenção preventiva dos credos e das práticas de uma instituição pode se tornar uma ocupação em tempo integral para os profissionais. ao manter as tradições vivas tocando os padrões amados como devem ser tocados.distanciada.) Isso fortalece nossa habilidade em representar perspectivas e oportunidades futuras. capazes de manter as pessoas fascinadas e fiéis durante a vida inteira. Ela é um amálgama muito bem afinado de procedimentos e estratagemas brilhantes. Do mesmo modo como as mentes latinas da Roma antiga deram lugar a mentes francesas. Franklin (pai da Aretha Franklin e famoso entre os pregadores gospel antes de ela gravar qualquer sucesso). Elas percorreram a incansável curiosidade e as mudanças nas necessidades da nossa espécie. o sacerdote molda não apenas a ordem do culto. italianas e espanholas. misturando o conhecido e a novidade exatamente nas proporções certas para atrair a mente e o coração dos ouvintes presentes. As melhores execuções não são apenas como boa música. por exemplo. Assim que as pessoas começam "a sacar". afinal de contas. tenha você confiado ou não qualquer deles deliberadamente à memória.volta à igreja no domingo seguinte. o que. um sistema que "funcionou" durante gerações pode implodir da noite para o dia. apagando ou acrescentando outra expressão a uma prece. o instrumento deles é a congregação. elevando-as de seus egoísmos e modos mundanos assim como a música. e eles o tocam com o talento artístico apaixonado mas instruído de um violinista a quem foi confiado um Stradivarius. apenas a continuação do processo de reflexão que trouxe a religião ao estado em que ela se encontra atualmente.ca. porém com maior eficiência. mas a mente dos devotos.

Até mesmo a linguagem deveria ser olhada com o máximo de neutralidade. as linguagens se espalham horizontal ou culturalmente. [E.se os memes que as compõem são memes mutualistas. é particularmente auspicioso sacrificar um touro. Thomas Lawson e Robert N. de modo que temos de considerá-las como co-atrizes no drama. mas uma vez que o custoso handicap da linguagem pegou entre as mulheres. que você tem de fabricar usando os equipamentos com os quais seus pais porventura o tenham dotado. Então.as linguagens aprisionaram nossos pobres cérebros e nos fizeram cúmplices ansiosos em sua própria propagação! Essa é uma hipótese forçada. a despeito de quanto isso complicasse a vida deles.) Ao contrário das penas da cauda. mas precisamos nos lembrar de que um benefício para a aptidão genética humana não é a mesma coisa que um benefício para a felicidade humana ou o hem-estar humano. por exemplo. mas como os touros são especialmente valiosos. Os memes conseguem adquirir novos estratagemas adaptações . se dar ao luxo de não fazer o investimento. que é tudo o que importa para os genes. Um dos principais argumentos do capítulo anterior é que as religiões populares são como as linguagens quanto a esse aspecto: podem muito bem tomar conta delas mesmas. Os rituais que persistem são aqueles que se perpetuam por si mesmos. pode ser verdade que.pode ser deixada sem resposta por hora. já que as contribuições da linguagem para a aptidão genética são muito evidentes. os que não se atualizaram rapidamente foram deixados fora do jogo do acasalamento. os órgãos e os instintos da biologia. sem poder.que podem ajudá-los a garantir essa longevidade para suas linhagens. se nenhum de nós jamais tivesse tido a linguagem. Os benefícios da religião popular parecem óbvios . os homens sem linguagem tenderam a morrer sem descendentes. com suas próprias chances de reprodução. Nessa teoria. não exigem os serviços de polícia de usos e gramáticos . a questão de saber se as religiões populares propiciaram algum benefício claro às pessoas . como os organismos. As linguagens. ou não tenha filhos. As instituições e os hábitos da cultura humana estão tão presos a esse princípio. portanto. a despeito de alguém dedicar ou não esforços sérios para mantê-los. estaríamos melhor no departamento de descendentes. a segunda lei da termodinâmica. na maior parte das vezes um pepino serve muito bem. Talvez ela não passe de um mau hábito que por acaso se espalhou! Como pode ser isso? Assim: logo que a linguagem começou a ser moda entre nossos antepassados. o motivo pelo qual adoramos falar é como o motivo pelo qual os camundongos infectados com Toxoplasma gondii adoram apoquentar os gatos . nada que foi projetado persiste por muito tempo sem renovação e replicação. independentemente de alguém os valorizar. Somos atualmente mais de 6 bilhões atravancando o planeta e . e não comensais ou parasitas . Mas nem todas as práticas culturalmente transmitidas precisam de intendência. Converse. Aquilo que nos faz mais felizes não nos torna mais prolíficos. RELIGIÃO POPULAR COMO KNOW-HOW PRÁTICO Entre os nuer.tão óbvios quanto os benefícios da linguagem -. McCauley. De acordo com essa teoria.2.embora nas linguagens européias tenha há muito tempo havido um excesso desses assim chamados protetores da integridade. Bringing Rituais to Mind] Em face do gasto inevitável. (Essa seria a teoria da seleção sexual da linguagem: superficialidade como a cauda do pavão para o Homo sapiens.

naturalmente curiosas. A sensibilidade a rituais (e música) pode fazer parte desse pacote. e dotadas da linguagem na qual enquadrar e reenquadrar suas perplexidades.monopolizando seus recursos. Sabemos que linguagens específicas são transmitidas pela cultura. Os machos aparecem e se mostram. orangotangos e gorilas. os sem-linguagem bonobos. o fato de enquadrar a hipótese nos faz lembrar que a evolução genética não promove diretamente a felicidade ou o bem-estar. não pelos genes. A religião popular pode bem ter tido um papel importante na propagação do Homo sapiens.3 Nossos cérebros se desenvolveram para se tornar processadores de palavras mais eficazes. É menos óbvio . e não parasitas. reflexivas. não elimina de jeito algum essa perspectiva. que ficam se mostrando. A razão básica para os leks. O fato de que.mas mesmo assim verdadeiro . de modo que. e eles podem também ter evoluído para implementar com maior eficácia os hábitos culturalmente transmitidos das religiões populares. mas ainda não sabemos isso. Mesmo assim. nos quais as fêmeas de uma população local de uma espécie se reúnem para observar a exibição competitiva dos machos. e os seres humanos não são exceção. mesmo que ninguém deva compreender ou possuir a intenção de inovar qualquer dos projetos que criaram as religiões populares. mas houve também evolução genética. deveríamos reconhecer que as pessoas. enquanto nosso parente mais próximo. peixes e até insetos. podemos acreditar firmemente que os memes da linguagem realçaram os mais aptos como mutualistas. Durante quanto tempo a religião popular poderia ser adotada por nossos ancestrais antes de a reflexão começar a transformá-la? Podemos ter alguma idéia disso olhando outras espécies. sem que elas saibam. Já vimos como o hipnotismo poderia ser o talento para o qual o centro do quê imaginado no capítulo 3 foi moldado. Todas as populações humanas conhecidas também tiveram resfriados que . Pondo à parte a hipótese de que a nossa capacidade de correr ou a falta de pêlos é o segredo do nosso sucesso. que são também encontrados em alguns mamíferos. os propósitos mais profundos dos nossos "instintos raramente nos são transparentes. que aprimorou nosso cérebro para a aquisição e o uso cada vez mais eficiente da linguagem.que as aves podem ser partícipes ignorantes em rituais tão elaborados como os leks . Não há.2 Será que a nossa propensão para participar de rituais religiosos tem explicação semelhante? O fato de que os nossos rituais sejam passados adiante por meio da cultura. Mas os animais que participam dos leks não precisam saber por que fazem o que fazem. ela só se preocupa com o número de descendentes. A diferença entre nós e outras espécies é que somos a única espécie que se preocupa com sua ignorância! Ao contrário de outras espécies. todas as populações humanas têm algum tipo de versão não determina isso. chimpanzés. é clara: eles se pagam como métodos eficientes de seleção para acasalamento sob condições passíveis de ser especificadas. .os locais de encontro para acasalamento algumas vezes chamados de "boate da natureza" -.pelo que sabemos . que. sentimos uma necessidade geral de compreender. de fato. estão todos ameaçados de extinção. É óbvio que os pássaros não precisam entender os princípios da aerodinâmica que determinam o formato de suas asas. e não dos genes. razão alguma para supor que os animais tenham qualquer idéia a respeito dos motivos que os levam a fazer o que instintivamente fazem.não são mutualistas. que sobrevivem para fazer outra geração de descendentes e daí por diante. pelo que sabemos. as fêmeas prestam atenção e deixam sua escolha ser guiada pelos "ditames de seus corações". foram moldados por seleção natural ao longo de muitas gerações.

ao contrário das aves . para quase todos os nossos ancestrais. [1999.de se perguntar qual seria o significado desses rituais. com poucos breves bolsões de tempo livre no qual pudessem ficar. fizeram mais ou menos o que todos ainda fazem hoje: fiam-se naquilo "que todos sabem '. o conhecimento empírico desses processos não pode substituir o respeito pela integridade mais ou menos misteriosas que têm.] em um mundo no qual os processos que governam seus elementos físicos são. Com isso não quero dizer a fé em crença religiosa. teóricos.envolver esses processos em véus sobrenaturais do que expô-los ao mal-entendido que pode ser encorajado pelo conhecimento naturalístico empiricamente exato.. de simplesmente confiar na primeira coisa que lhe vem à mente. como disse Hobbes.mente má. 1972). podemos esperar que nossos antepassados. p. seria justo apostar que apenas uma pequena minoria de nossos ancestrais chegou a ter o tempo ou a inclinação para questionar as atividades em que se engajaram com seus parentes e vizinhos. até certo ponto. p. se comparados ao trabalho duro necessário à sobrevivência depois que a agricultura foi inventada.. A julgar pela variação observável ao nosso redor hoje. 171): "A lei dos rendimentos decrescentes significa que haverá sempre um ponto além do qual simplesmente não vale a pena investir mais tempo e esforço para descobrir a realidade subjacente. há mais de 10 mil anos.celânea intrigante da vida em vôo não são as mesmas que as exigências práticas da ciência. E estamos certos em fazer isso. Nas sociedades tradicionais. como observa Dunbar (2004. e. muito recentemente na escala de tempo biológica . Um corolário não freqüentemente notado é que algumas vezes pode ser mais seguro substituir o conhecimento incompleto por um mito potente. admiravel. você simplesmente crê. A coceira da curiosidade não é forte em algumas pessoas. e não há tempo para classificar todos eles. qualquer coisa que funcione serve". imprevisíveis..ou seja. era. mas incompleto. mas algo muito mais simples: a política prática. ou que você deva lavar as mãos depois de ir ao banheiro? (Lembra daqueles "belos bronzeados saudáveis" que costumávamos cobiçar?) A não ser que alguém publique um estudo que nos surpreenda a todos. Portanto. e as populações cresceram de modo explosivo.as últimas duzentas gerações -. bruta e curta. no neolítico. com alimento abundante e tempo de lazer (Sahlins. desconhecidos. sem ficar obcecado para saber por que é assim. Como o antropólogo Roy Rappaport explicou em seu último livro: [. Entre as jóias da sabedoria popular encontrada pelo mundo todo está a idéia de que um pouco de conhecimento pode ser uma coisa perigosa. provavelmente é seguro imaginar que o pragmatismo comprimia os horizontes de nossos ancestrais. a vida. até.teriam apresentado a probabilidade . sempre passível de ser revista. na verdade. Desde o início desse período. ainda em maior grau. Desse modo. precisamos de quantidades imensas de conhecimento comum para nos orientarmos pela vida. aparentemente.. 452] As exigências práticas de apresentar um modo de unir toda a mis. mais adaptativamente verdadeiro . adotamos como verdade que o conhecimento comum que recebemos dos mais velhos e de outros está correto. e pode ser mais adaptativo . Nossos antepassados caçadores-coletores dos tempos paleolíticos podem muito bem ter tido uma vida relativamente fácil. não importa quão curiosos fossem por temperamento. Quais são as chances de que "todo mundo" esteja simplesmente enganado em pensar que bocejar é inócuo. testando a veracidade de cada . A maior parte do que você (acha que) sabe.

não mais do que você e eu saímos por aí garantindo um ao outro que acreditamos em micróbios e átomos. Se pressionada. lado a lado com a caça. e não surpreende que essa perspectiva seja assustadora para eles. depois de esquematizarmos uma explicação que sirva de apoio para testes. os informantes acham todas as perguntas intrigantes. que é exatamente o que os povos tribais fazem. Ouso dizer que se os marcianos chegassem com uma tecnologia maravilhosa que nos afigurasse como "impossível e nos dissessem que tínhamos de abandonar germes e átomos e ganharíamos com os programas deles. você não deixa de sacrificar um cabrito. Obrigados a elaborar. o que explicaria por que as convicções deles são vagas e impossíveis de determinar. não deveríamos descartar a corrosiva hipótese de que muitas das doutrinas verdadeiramente exóticas e discutivelmente incoerentes desenterradas pelos antropólogos ao longo dos anos são artefatos de inquirição. A maioria de nós só conhece os átomos e os micróbios de ouvir falar.item. eles têm de fazer revisões por atacado em seus modos de ver a natureza. história específica e métodos de ação no mundo -. Onde não há dúvidas ambientes que se possa notar. Os informantes acreditam profundamente em seus deuses "Todo mundo sabe que eles existem! -.o paradeiro dos deuses. Acontece que os especialistas deles entenderam errado. Por hora. com suas complexidades particulares. numa sociedade tribal. Agora que o mundo moderno. E uma forma de saber que eles realmente acreditam nas divindades para as quais fazem esses sacrifícios é observar que não estão o tempo todo falando a respeito de como eles acreditam em suas divindades . e seria embaraçoso ser incapaz de dar uma boa resposta se um antropólogo marciano nos perguntasse como sabemos que essas coisas existem . está caindo em cima dos povos tribais. Seguro morreu de velho.uma vez que você não as consegue ver. gerados quando o questionador e o informante conversam até terem como resultado uma história mutuamente coerente. naquela cultura!). dogmas recém-cunhados e cristalizados. quando perguntam a seus informantes nativos a respeito de detalhes "teológicos" . contando prosaicamente a nossos filhos como a água é feita de átomos de hidrogênio e de .só concordamos com "o que todos sabem". O resto de nós se agarraria aos nossos queridos e velhos átomos e micróbios o máximo que pudesse. sentir o gosto ou ter o tato para elas. não há necessidade de falar em fé. ouvir.4 Desse modo. Suas práticas religiosas fazem parte integral de suas vidas práticas. eles elaboram. a maioria de nós provavelmente elaboraria alguma doutrina seriamente equivocada a respeito dessas coisas invisíveis (mas importantes!). Por que se esperaria que eles soubessem ou se preocupassem com isso7 Dada essa reação amplamente registrada. pegando as deixas nas perguntas formuladas. poderia ajudar se você tentasse se pôr no lugar de um informante de antropólogo. em que "todo mundo sabe" que você precisa sacrificar um cabrito para ter um bebê saudável. Não somos os especialistas . mas pode ser que nunca tenham pensado antes nesses detalhes (talvez ninguém tenha. 5 Muitos antropólogos observaram que.6 No próximo capítulo vamos examinar algumas implicações espantosas dessas questões metodológicas. e não credos preexistentes. É possível que essas perguntas persistentes feitas pelos antropólogos tenham composto um tipo de ficção inocentemente colaborativa. ou arar e colher. Essa característica marca uma profunda diferença entre a religião popular e a religião organizada: os que praticam uma religião popular não acham de modo algum que estão praticando uma religião. só os dotados de mente mais brilhante entre os nossos cientistas fariam a transição rapidamente e de bom grado. a coleta.

ou os itens duvidosos se garantem com uma emenda ad hoc de um tipo ou de outro. de modo que nos dá alguma coisa a fazer que nós sabemos como fazer. [Andy Rooney. sugeriram eles. e se essas ondas ameaçam a nossa serenidade. . Nessa hora todos nos refugiamos naquilo que nos é conhecido. Exatamente aqui. E geralmente funciona bastante bem. Rappaport. a religião popular também funciona. [Abraham Lincoln] Aqueles para os quais a palavra dele foi revelada estavam sempre sozinhos em algum lugar remoto. é onde a (proto) ciência e a (proto-) religião se afastam.oxigênio . e a dúvida desabrocha em descoberta. alguma coisa deve ceder: "o que todo mundo sabe" tem um contraexemplo. é em geral mesclada a mitos e rituais que envolvem essas espécies . Temos de confiar neles como repórteres -.7 Essa separação tem o efeito de isolar da refutação um subconjunto especial de itens culturais por trás do véu da invulnerabilidade sistemática . com os hábitos e as propriedades de todas as diferentes espécies intensamente observadas. Palmer e Steadman. Também não havia ninguém por perto quando Maomé recebeu a palavra.um padrão encontrado praticamente em toda parte na sociedade humana. e algumas pessoas o tempo todo. Do mesmo modo. que leva ao abandono ou à extinção de uma parte duvidosa do saber local.pelo menos foi isso que nos contaram sempre i. Como muitos já advertiram (ver por exemplo.tante. e há menos desconfortos estressantes que o dilema de não saber o que fazer ou o que pensar quando aparece alguma novidade desconcer. Eles fazem qualquer coisa por lima matéria. O tentado e verdadeiro pode não ser verdadeiro. Não que os dois tipos de doutrinas muitas vezes não se encontrem inteiramente misturadas em diversas culturas.e adver. Quando a curiosidade tropeça em um evento inesperado. mas você não consegue enganar todo mundo o tempo todo. tão bem quanto sempre funcionou. pode-se esperar que nos apossemos de qualquer resposta que possa escorar o consenso ou diminuir o desafio. A REFLEXÃO SORRATEIRA E O NASCIMENTO DO SEGREDO NA RELIGIÃO Você consegue enganar todo mundo durante algum tempo. O mórmon Joseph Smith e a cientista cristã Mary Baker Eddy tinham audiências exclusivas com Deus.nas quais as divindades informam que pássaros. Andy Rooney] A física popular do dia-a-dia. mas pelo menos é tentado. como Moisés. As reflexões exploratórias dos seres humanos se acumulam em ondas de dúvidas.tindo-os a respeito dos micróbios. 3 . mas aparecem dúvidas ocasionais. só para ficar do lado da segurança. A história natural detalhada da região local. O que paira amplamente na vida de cada pessoa é o problema sobre o que fazemos agora. e a biologia popular e a psicologia popular funcionam muito bem como regra. ou se aliam com outros itens que ficaram fora do alcance do ceticismo torturante. 2004). 1979.e você sabe como são os repórteres. essa divisão em proposições que são planejadas para ser imunes à falta de confirmação parecem uma articulação hipotética na qual poderíamos muito bem trinchar a natureza. Sincerely.

Nenhuma religião deixa de tê-los. e assim por diante. não possa ser questionada sob aquelas condições? Os cientistas devem ser cautelosos com essas migrações para longe da refutação. não temos de comprometer os xamãs individualmente. Em algumas culturas. não detectáveis. de forma imperceptível. enquanto outro pai conta para o filho que não sabe como o urso aprende com o estorninho . sacrifícios elaborados aos deuses podem ser encontrados em toda parte. Os xamãs têm uma programação diferente: eles tentam curar e aconselham as pessoas em tempo real. Não seria a transparência desses arranjos convenientes arriscada em demasia? Sim. convenientemente. e a participação na comida é efetuada queimando-a até se tornar cinza. ou mesmo como um grupo difuso de conspiradores. que a comem como parte de seus deveres oficiais como representantes dos deuses. o que será que ele está fazendo que eu não estou? Será que há um jeito melhor de executar os rituais de cura?". no planejamento desse raciocínio. é dado um terceiro véu: é proibido fazer muitas perguntas a respeito desses mistérios! E os próprios xamãs? Será que a curiosidade deles também fica embotada por esses tabus? Nem sempre. sejam lá quais forem. por que não deixar sua hipótese se metamorfosear um pouco em outra que. além disso. os típicos mecanismos de defesa. foi também. e você tem de se segurar para executá-lo. Ao contrário. ainda. mas é uma lição dura de aprender. comida pelos deuses. Por exemplo. e o filho pode muito bem contar a seu filho a respeito de um deus que protege os estorninhos e os ursos. dizendo para a viúva desolada: "Há tanta coisa que a gente ainda não sabe!". evidentemente. (Um quadrinho mostra um curandeiro de pé. Os deuses podem ter o bolo e comer o bolo. espera-se que os xamãs notem ou suspeitem de qualquer deficiência em seus próprios desempenhos e então experimentem métodos alternativos: "Estou perdendo fregueses para aquele outro xamã. Do mesmo modo que a "clériga" de Dana Carvey exclamaria: "Muito conveniente!". Como qualquer trabalhador consciencioso. apareceu uma conveniência mais igualitária: todo mundo come a comida que. ser pouco clara. ou se não apreciassem a necessidade de desviar a atenção dela. de algum modo. Pseudocientistas conhecem a tentação: sempre que sua teoria preferida fizer uma previsão que se mostrar errada. Aterse à sua hipótese e deixar os fatos decidirem é um ato pouco natural. onde os deuses podem curti-lo em privacidade não observável. o vinho é despejado no chão ou no fogo. e qualquer coisa que não os tenha não é verdadeiramente uma religião. ao lado do corpo de um paciente falecido. A linha divisória pode. e é claro que em lugar algum deuses surgem da invisibilidade e sentam-se para comer o maravilhoso porco assado ou beber o vinho. já que ele só poderia aparecer pela replicação diferenciada dos ritos. Como sempre. que (ao contrário dos átomos e dos micróbios) são sistematicamente imunes à confirmação ou à refutação. Uma idéia popular conhecida a respeito da hipnose é que o hipnotizador de algum modo incapacita as salvaguardas do sujeito.que sacrifícios precisam ser oferecidos antes de se caçar determinada presa. abatido.) A postulação de efeitos invisíveis. é tão comum em religiões que esses efeitos são algumas vezes tomados como definitivos. mas não os antílopes. Mas os xamãs teriam de ser bem burros se não apreciassem essa adaptação. na prática: um pai conta ao filho como o estorninho dá um grito de aviso para seus parentes que pode ser ouvido pelos ursos selvagens.talvez um deus leve a mensagem. ou delegando-a aos xamãs. com muita freqüência. não importa quanto pareça uma religião em outros aspectos. que inspecionam . então eles quase sempre são protegidos por um segundo véu: São mistérios além da compreensão! Nem tente entendê-los! E. e podem gratamente se esconder atrás do mistério quando o inesperado acontecer.

O filme seguia Marjoe Gortner. e no entanto eles sabem que os efeitos que obtêm são segredos do ofício. como é vividamente revelado no filme Marjoe. o ritual de caminhar sobre brasas incandescentes sem se queimar tem sido observado no mundo todo . já que foram sedescober. isso cria uma leve ilusão de autoridade inesperada ("Como é que ele sabe isso?"). guru sabe a mesma coisa. e algumas vezes eles defendem essa prática como o tipo de "desonestidade sagrada" (pela causa) da qual fala o teólogo Paul Tillich (ver Apêndice A). imã. Em todo lugar eles assiduamente reúnem com discrição fatos pouco conhecidos a respeito dos indivíduos que poderão vir a ser seus clientes. mas.. mais interessantes. Um dos fatos mais interessantes sobre esses inequívocos atos de ilusão é que os executores. "As equivalências entre as culturas parecem ser mais que coincidentes: os xamãs podem usar formas semelhantes de magia sem treinamento formal algum e sem ter tido contato com outros que usem as mesmas estratégias". mas eles não param por aí. China. qualquer '"explicação de difusão'parece implausível" (p. rabino.índia. Essa tática foi descoberta e explorada repetidamente pelos xamãs. Grécia e Bulgária. Como observa McClenon (2002).8 E não é de fato desonesto. Japão. conseguir com que a tenda chacoalhe ruidosamente. Uma forma de fazer isso é jogar alguns pequenos fatos para eles ("Você está ficando com sono. esses três parecem ser os modos mais acessíveis de criar efeitos espantosamente "sobrenaturais" para impressionar os clientes.tos vezes sem conta. Sri Lanka. um certo nevoeiro sagrado de incompreensão desce rapidamente sobre quem responde para defendê-lo. o documentário que ganhou o Oscar em 1972. (Talvez ele ponha os guardas para dormir!) Uma idéia melhor é que o hipnotizador não incapacita as salvaguardas. que não devem ser revelados aos não iniciados por medo de diminuir seus efeitos. armado da bênção das salvaguardas."). de outras perguntas corrosivas. suas pálpebras estão pesando. fazendo com que dêem o aval ao hipnotizador.zador sabe esses fatos. 1970. as coopta. pelo menos -. transformando-as em aliados. ao serem pressionados por antropólogos inquisitivos.. pastor. pode ir à luta. em vez disso. e o truque de ter mãos e pés amarrados e. Há outras maneiras de demonstrar domínio inesperado. Qualquer bom médico sabe que alguns simples truques na apresentação compõem bons "modos de beira do leito" e podem fazer uma diferença enorme. cuja exatidão possa determinar e confirmar de imediato. Polinésia. então. afirma McClenon. como esconder entranhas de animais que podem então ser milagrosamente "retiradas" do torso da pessoa doente em uma "cirurgia mediúnica".a credibilidade de todo o material que entra. um jovem pregador evangélico carismático que perdeu a fé. e então o hipnotizador. 1972). de algum modo. Esses xamãs não são muito trapaceiros . Algumas vezes obtemos uma admissão sincera de que eles estão sabidamente usando os truques de mágica de palco para enganar os clientes. não? Cada padre.. E algumas vezes. 149). 1969. Duas outras práticas disseminadas pelos xamãs são movimentos de prestidigitação.. Coe et al. ou a ela.não todos eles. por exemplo. Balaschak et al. e a mesma gradação de conhecimento e inocência pode ser encontrada hoje na prática dos pregadores do revival. No imenso Espaço de Planejamento das possibilidades. mas que fez uma reaparição como pregador para revelar os truques . Cingapura. Se não ficar evidente para o sujeito que o hipnoti. apresentam uma série de respostas. Essa parte de sabedoria popular mais ou menos secreta ganha algum apoio de experiências: o sucesso que um hipnotizador tem sobre um sujeito é afetado significativamente caso se diga antecipadamente ao sujeito que o hipnotizador é um novato ou se é experiente (Small e Kramer.

A criação de estocagem não portável de alimentos. perturbador e inesquecível. por sua vez. vender mais barato que os outros. Os evangelhos gnósticos] As religiões populares surgem das vidas diárias de pessoas que moram em pequenos grupos e compartilham de características comuns pelo mundo todo. é especialmente claro a esse respeito). para um membro especialmente habilidoso ou eficiente. permitiu o surgimento de uma divisão de trabalho sem precedentes (Seabright. eles certificavam-se de que todos os direitos fossem para si. os criadores de sementes não escolhem as melhores plantas. ele mostra como faz as pessoas desmaiarem quando pratica a imposição das mãos. sobre o que enfatizar nessa grande transição. Mantendo preços e padrões comuns. A origem das espécies] Agora começamos a ver que o que chamamos de cristandade . mas apenas dão uma olhada nas sementeiras e retiram as "tratantes".do ofício. Nesse filme. escolhidas entre dúzias de outras. e a resultante mudança para residência fixa. [Charles Darwin. e isso. deu lugar a mercados e oportunidades para ocupações cada vez mais especializadas. Esses novos modos de interação entre as pessoas criaram novas oportunidades e necessidades. 2004. a perspectiva de algumas poucas pessoas que pensam de modo parecido formarem uma coalizão bem diferente de uma família extensa deve quase sempre se apresentar.de fato representa apenas uma pequena seleção de fontes específicas. Quando você acha que tem de lidar em bases diárias com pessoas que não são seus parentes próximos. 275] . Ao longo da história. no entanto. Os pesquisadores discordam. DOMESTICAÇÃO DAS RELIGIÕES Quando uma raça de plantas está bastante bem estabelecida. Boyer (2001) não é o único a argumentar que a transição da religião popular para a religião organizada foi originalmente um desses fenômenos de mercado. que é como eles chamam as plantas que se desviam do padrão adequado. Desse modo. 9 4 . de qualidade inferior.e o que identificamos como tradição cristã . a maior parte das pessoas paga um preço pequeno para ser membro de um grupo que garanta uma porção mínima do mercado para cada um de seus integrantes. eles tornavam difícil. Como e quando essas religiões populares se metamorfoseiam em religiões organizadas? Há um consenso geral entre os pesquisadores de que o grande desvio responsável foi o surgimento da agricultura e os maiores assentamentos que ela tornou tanto possíveis como necessários. [p. Quem fez a seleção. como consegue com que elas esvaziem as carteiras nas bolsas de coleta. como ele as incita a dar declarações apaixonadas de seu amor por Jesus. e muitas vezes deve ser uma opção atraente. e por que motivos? Por que foram aqueles outros escritos excluídos e banidos como "heresia"? O que os tornava tão perigosos? [Elaine Pagels. Ao estabelecer quase um monopólio. as guildas e outros grupos de artesãos e especialistas tentaram estabelecer preços comuns e padrões comuns para evitar que os não integrantes das guildas executassem trabalhos comparáveis.

um homem que tem a intenção de criar pointers naturalmente tenta conseguir os melhores cães que puder. Mas que golpe de sorte para aquelas linhagens que se tornaram domesticadas! Tudo o que resta dos ancestrais dos grãos de hoje são pequenas extensões de primos que não passam de grama silvestre espalhada por aí. mudam radicalmente o foco da questão.O primeiro passo para uma organização dessas é o maior de todos. e que resulta do fato de todos tentarem possuir e criar a partir dos melhores animais individuais. Darwin avaliou isso. Desse modo. Do mesmo modo como ateus muitas vezes lêem "a Bíblia como literatura" e saem profundamente emocionados pela poesia e os insights sem serem convertidos. continuado durante séculos. superior a qualquer outra existente no país.prima. trazendo à existência novas pressões seletivas. Cui bono? Quando indivíduos começam a se perguntar como fortalecer e preservar melhor as organizações que eles criaram. que ratificou a base racional descomprometida desse arranjo. e usou a transição do que chamou de seleção "inconsciente" para a seleção "metódica" como uma ponte pedagógica para explicar sua grande idéia da seleção natural no capítulo inicial de sua obra. Mas é claro que não é a esperteza deles que explica o bom negócio. fazer uma nova linhagem. O cérebro deles é menor (em relação ao tamanho e ao peso do corpo) e isso não se deve somente ao fato de terem sido criados para aumentar a massa .sem se importar se essa leitura vai mudar ou não suas cabeças a respeito da evolução).porque podem. para nossos objetivos. por seleção metódica. de fato. Como os carneiros selvagens foram espertos ao terem adquirido essa adaptação tão versátil. Há motivos para acreditar que o s-paniel do rei Charles tem sido inconscientemente modificado em grande extensão desde a época do monarca. (A origem das espécies é uma ótima leitura. ou super-raça. como bônus. são conseqüências quase inevitáveis da crescente consciência de si mesmos e do conhecimento de mercado daqueles indivíduos que se juntaram para formar as guildas. 34-35] A domesticação tanto de plantas como de animais ocorreu sem qualquer intenção de sagacidade ou invenção por parte dos administradores das sementes e dos garanhões. com um objetivo distinto em vista.é uma ninharia se comparado ao ganho na troca. Na época atual. não duvido que esse processo. em termos de sobrevivência dos descendentes. abrigo e assistência médica de urgência. sem previsões. da Mãe Natureza. criadores eminentes tentam. Mas. que pode ser chamada de Inconsciente. ser abatido. O preço que eles pagam . significantemente mais burros que seus parentes selvagens . e depois cria a partir de seus próprios cães melhores. a evolução. No entanto. Conseguiram até. o pastor! Ao formar uma aliança simbólica com o Homo sapiens. melhoraria e modificaria qualquer raça. em vez de morto por predadores (se é que isso é um custo) . firmas (e franquias e marcas). de uma guilda de padres ou de xamãs para o que são. aliás. mas não tem desejo ou expectativa de melhorar a raça permanentemente. e os parentes mais próximos de todos os animais domesticados poderiam ser guardados em algumas poucas arcas.. Os carneiros e outros animais domesticados são. E a astúcia cega.. [pp. mas os passos seguintes. um tipo de Seleção. na verdade. os carneiros conseguiram terceirizar suas principais tarefas de sobrevivência: encontrar alimento e evitar predadores. criacionistas e outros que não conseguem chegar a acreditar na evolução podem ainda assim ficar emocionados ao ler o documento fundador da moderna teoria da evolução . é mais importante.perda da liberdade de escolher um parceiro para acasalamento.

fortalecimento de aptidão para os dois lados. dependem da ajuda dos guardiões humanos para continuar a existir. (4) construir uma ideologia ou religião que justifique a cleptocra. em contraste. ingênuos. O que pretendo sugerir agora é que.cia (p. ou apelar para nossos instintos sensuais. Os memes domesticados. declara-se ser o líder divino.concepções individuais ou compartilhadas do que era valioso e por quê. puros e santos. é claro. levantada por teóricos políticos de Platão a Marx. Os memes "tabelas de multiplicação". amplamente informados. gostemos deles ou não. suas agendas . impossíveis de ser contratados em bases individuais. todos. como uma marcha inexorável "do igualitarismo à cleptocracia". alguns. por exemplo. para domínios de milhares. [1997. no Espaço de Planejamento de religiões possíveis. Os memes selvagens da linguagem e da religião popular. (3) usar o monopólio da força para promover felicidade. Os memes que têm a sorte de ter intendentes. p. e alguns. eles fazem o bem fornecendo serviços caros. e no entanto são devidamente propagados pelos professores . (2) tornar as massas felizes redistribuindo grande parte dos tributos recebidos.. Praticantes curiosos também teriam descoberto quaisquer Bons Estratagemas que estivessem nas vizinhanças próximas. transferindo riqueza líquida dos comuns para as classes superiores [. tolos.pastores memes -. pombos e vírus de gripe magnificamente adaptados para viver conosco e nos explorar. Eles adquiriram intendentes.ver Apêndice B)..muscular (carne). 277). 276] Os cleptocratas tentaram quatro maneiras para manter seu poder: (1) desarmar o populacho e armar a elite. na mesma época da domesticação de animais e plantas.] Por que os comuns toleram a transferências dos frutos de seu trabalho árduo para os cleptocratas? Essa questão. para estados de mais de 50 mil pessoas. alguns. não pode haver dúvida de que essa simbiose foi mutualística . pessoas que irão trabalhar arduamente e usar a inteligência para promover a propagação deles e protegê-los de seus inimigos. em outras palavras. A hipótese de Jared Diamond a respeito da quase exaustiva pesquisa de nossos ancestrais em busca de espécies domesticáveis em suas vizinhanças (discutida no capítulo 5) pode ser ampliada. Diamond vê a transição de bandos de menos de cem pessoas para tribos de centenas. são como ratos e esquilos. ele observa: Na melhor das hipóteses. As pessoas têm meditado sobre suas práticas e instituições religiosas por quase tanto tempo quanto aquele em que vêm aprimorando suas práticas e instituições agrícolas. Como pode uma religião sustentar uma cleptocracia? Com uma aliança entre os líderes políticos e os padres. houve um processo gradual no qual os memes selvagens (auto-sustentáveis) da religião popular se tornaram inteiramente domesticados. ou . e esses examinadores reflexivos tiveram. o governo dos ladrões. Alguns foram ajuizados. e outros. em primeiro lugar. cuja responsabilidade é manter essas linhagens fortes. mantendo a ordem pública e reprimindo a violência. são dificilmente do agrado das multidões. é evocada de novo pelos votantes em cada eleição moderna. venais e maus. Como tanto os animais domesticados quanto seus domesticadores sofreram enormes explosões de população (de menos de 1% da biomassa vertebrada terrestre ro mil anos atrás a mais de 98% hoje . são aliviados de grande parte da carga de manter a existência de sua própria linhagem. Em casos extremos. eles não precisam mais ser particularmente atraentes. e outros. eles funcionam desavergonhadamente como cleptocracias. na qual. para não Falar dos memes de cálculo. Falando dos domínios de um chefe. Na pior.

dá às pessoas um motivo. Nada disso é novo . E freqüente haver. ou.dando a eles uma ligação que não é baseada em parentesco. de outro modo. tende a se tornar música. a sociedade como um todo se torna muito mais eficaz em conquistar outras sociedades ou resistir a ataques. já que o mais baixo estabelece seu lugar dentro de um sistema que ele aceita de modo enfático. [1996. e observa algumas de suas complexidades úteis: Pela força de sua competência verbal [o padre] não só é elevado a um nível superior na imaginação. e juntos eles precisam dos deuses no céu. Primeiro. mas consegue reverter a estrutura da atenção: é o superior que deve prestar atenção à cantiga ou ao discurso de louvor do inferior. Segundo. Como sabe todo subordinado. para sacrificar suas vidas em favor dos outros. entre outros . aceitar um status inferior ao de um deus invisível é um estratagema astuto.) Isso ajuda a explicar o que. mas houve um tempo em que isso era novidade. que morrem em batalha como soldados. a religião institucionalizada traz dois outros importantes benefícios para as sociedades centralizadas. Desse modo. poderia garantir que sua equipe considerasse a lealdade a você acima de quaisquer idéias que ela pudesse muito bem ter de substituí-lo? Introduzir o medo de um poder mais alto na cabeça deles é uma jogada muito boa. a despeito de sua astúcia ser conscientemente reconhecida por aqueles que tropeçam nela. O louvor sobe às alturas como o incenso.um precisa do outro por causa de seu poder. À custa de alguns membros da sociedade. além do interesse genético. Já indicamos o papel . (Variações desse estratagema são bem conhecidas dos subalternos da Máfia e vendedores de carros usados. pelo menos possuir uma "linha direta com os deuses". quando nossos ancestrais estavam pela primeira vez explorando revisões de projeto para as nossas instituições mais potentes. as ordens são ainda mais eficazes se puderem ser acompanhadas de uma ameaça de contar para o chefe superior se houver desobediência. na condição de ditador. encontramos os mesmos dispositivos inventados outra vez.como lorde Acton disse há mais de um século.me um minuto". "Todo poder tende a corromper. Por exemplo. O louvor é a forma reconhecida de fazer barulho na presença de superiores. a ideologia compartilhada. conscientemente ou não. Desculpe. a tensão entre alto e baixo se concentra e distende. 91] Os deuses vão lhe pegar se você tentar se opor a qualquer um de nós. Aqueles que se apoiam nela prosperam. de forma bem estruturada. Qualquer ditador depende da fidelidade de sua equipe imediata . p. e em muitas organizações não religiosas também.descendente de deuses. ou religião. [p. uma não declarada détente entre o sacerdote primaz e o rei . Além de justificar a transferência de riqueza para os cleptocratas. em praticamente todas as religiões. Walter Burkert é especialmente maquiavélico em sua apresentação de como esse estratagema traz em sua esteira a instituição do louvor ritual. como Diamond apresenta. ajuda a resolver o problema de como os indivíduos que não são parentes devem viver juntos sem se matar .simplesmente porque dois ou três deles poderiam sobrepujá-lo com facilidade (ele não pode andar por aí com as adagas desembainhadas). 278] Desse modo. de modo que tenho de confirmar com o meu chefe. Como você."não estou autorizado a fazer uma oferta dessas. sem dúvida. o poder absoluto corrompe absolutamente" -. é uma espécie de enigma.

como sugere Joseph Bulbulia. e eles foram planejados por processos sensíveis. uma impressionante demonstração aos desertores em potencial daquilo com que se confrontam" (2004. impostura e invulnerabilidade sistemática à refutação são alguns dos fatos que surgiram. novas respostas ao cui bono?. muitas vezes deliberadas e precavidas. à medida que as pessoas que ingressavam nelas se tornavam intendentes das idéias. tanto os ensaios individuais como as sessões em uníssono de absorção de erros. 40). domesticando-as. . Por que as pessoas entram para grupos? Será isso simplesmente uma decisão racional da parte delas. apenas uma forma de os cleptocratas inventarem modos de preservar seus carneiros? Ou será que há uma história mais benigna a ser revelada? *** Capítulo 6. principalmente. já que os motivos dos intendentes entraram no processo. A transmissão de religião tem sido tratada por inúmeras revisões. ao fortalecer a fidelidade da transmissão memética. "Pode ser que os rituais religiosos ponham em exposição o poder natural de uma comunidade religiosa.dos rituais. p. ou será que há forças relativamente irracionais de seleção de grupos em funcionamento? Embora haja muito a dizer em favor dessas duas propostas. e observamos que essa transmissão é reforçada tornando cara a não-participação. Segredo. *** Capítulo 7. Além do mais. Mas o que conduz o espírito da comunidade? Será que o projeto de manter os grupos unidos é. elas não esgotam os modelos plausíveis que tentam explicar nossa presteza em formar lealdades duradouras.

seja ela o que for.A INVENÇÃO DO ESPÍRITO DE EQUIPE 1. como o sistema de orientação de um avião. ou a respeito de lidar com os problemas de lealdade entre sua família. contrastado a um nós. E essa coisa deve incluir ela mesma! (Se "morrer" prematuramente. ou um artefato planejado. mais você precisa e menos você consegue. e apenas à nossa espécie. e especialmente entre economistas. podemos perguntar da perspectiva de quem essa otimização está sendo julgada. só uma pessoa boa consegue se arrepender perfeitamente. o sistema de crescimento e auto-restauração de uma planta.um sistema intencional.se e iniciar uma nova.e ela não precisaria do arrependimento. quando um sistema de controle começa a ser reflexivo.toma uma decisão a respeito de como melhor proceder. ao mesmo tempo que incluo sob o Número Um não apenas eu mesmo. O que eu ganho com isso? Egoísmo racional. seja o sistema nervoso de um animal. Eu me preocupo com os outros. A única pessoa que conseguiria se arrepender perfeitamente seria uma pessoa perfeita . por exemplo. mesmo sendo ele tão comum. Uma suposição default mais ou menos padrão. a missão falhou. não apenas a minha família. ou a Oxfam. A reflexibilidade humana abre um rico campo de oportunidades para que revisemos nossas metas. mas também o islã. é projetado para proteger alguma coisa. considerando todas as situações. de instalar essas novas perspectivas no nosso cérebro é o que dá à nossa espécie. S. em contraposição a separar.alguma coisa que responda ao cui bono? para o tomador de decisão que está sendo examinado -. a capacidade de pensamento moral . Mas embora tenha de haver alguma coisa no papel da própria pessoa . Quando você consegue começar a pensar a respeito dos prós e dos contras de se unir a uma coalizão existente.7.' Eu ainda posso adotar a minha tarefa de procurar o Número Um. não há necessidade disso nesse tratamento-padrão. aberta pela nossa evolução cultural. [C. ou a necessidade de mudar a estrutura de poder do seu ambiente social. Nada há que me restrinja a um mim. incluindo nossos objetivos mais amplos. Sempre que um agente . Mere Christianity] TODO SISTEMA de controle. você cria vias pelas quais escapar das suposições-padrão de seu planejamento inicial. ou os Chicago Bulls! A possibilidade. pelo menos no mundo ocidental.) O "interesse próprio" que define desse modo a avaliação da maquinaria de todos os sistemas de controle pode se estilhaçar. O próprio-comoprincipal-beneficiário pode em princípio ser indefinidamente distribuído no tempo e no espaço. no entanto. Só uma pessoa má precisa se arrepender. Quanto pior você for. ou com uma estrutura social mais ampla. é tratar cada agente humano como um tipo de lócus de bem-estar isolado e individualista. na minha terminologia . Lewis. UM CAMINHO CALÇADO DE BOAS INTENÇÕES E aí vem o embuste.

Essa questão tem preocupado antropólogos e outros pesquisadores há séculos. vamos. O que é bom pode não coincidir com o que é bom para a o líder da instituição. depois que tivermos limpado o caminho. as religiões populares e as religiões organizadas nas quais elas se transformaram trouxeram benefícios de aptidão àqueles que as praticam. essa intendência condicional . e não faltam hipóteses familiares a serem exploradas. e pode ser que tenhamos até nos apanhado no ato de esquecer exatamente por que quisemos ser líderes. mas usados . Aptidão biológica e valor moral são duas questões inteiramente diferentes.sujeitos a argumentos. e querem sinceramente ser boas. Se os tempos forem especialmente duros. considerar .e imoral. e isso cria novos rivais como respostas à pergunta cwi bono?. por fim.pode ser deslocada pela preocupação mais estreita com a integridade da própria guilda. concordâncias. de que sua guilda. Essas transições fazem com que decisões conscientes afetem questões que anteriormente tinham sido trilhadas pelo processo sem previsão da replicação diferencial por seleção natural (ou memes. de um compromisso com alguma coisa que seja "boa em si". embora seja uma boa pergunta. não? Elas acreditam que esse é o modo de levar uma vida moral.não responder . e por um bom motivo: se você acredita que a instituição em questão é o melhor caminho para a bondade. pode ser a meta racional mais alta que você pode definir. ou igreja é a coalizão que mais bem serve para melhorar o bem-estar de outros. mas esses padrões diferentes têm um modo de ser substituídos uns pelos outros sob a pressão do controle reflexivo em tempo real. seja ela bem ou mal fundamentada. Adiei a questão da aptidão até podermos ver que. proteger. na prática. Uma aliança de fidelidade condicional ou instrumental pode então se tornar indistinguível. afinal. uma vida boa. Quando isso acontece.estou fazendo o que é bom para a guilda porque isso será bom para todos . para daí perder o rumo ou até mesmo apagar o objetivo maior e dedicar-se ao propósito único de promover os interesses da instituição. muitas vezes porque eles a confundiram com a questão do valor (moral) supremo da religião. ainda não imaginados. não importa a que custo.2 Por que as pessoas querem ser intendentes de sua religião? E óbvio. raciocínios. Duas das hipóteses mais plausíveis receberão maior atenção em . ou genes). Todos nós já vimos isso acontecer muitas vezes. as bases racionais descomprometidas que são cegamente esculpidas por competições anteriores podem passar a ser ampliadas ou até substituídas por motivos fundamentais representados. em diagramas e planos. uma questão que deveríamos tentar responder. Será que têm razão? Observe que essa não é a questão de por que as religiões aumentaram a aptidão biológica humana. motivos básicos que não estão apenas ancorados em mentes individuais. o fato de respondê-la deixaria inteiramente aberta a questão a respeito de se deveríamos ser intendentes de religião. empírica. Eis aqui uma trajetória bem conhecida: você começa com um desejo sincero de ajudar outras pessoas e a convicção.a questão de se. enfatizar e espalhar a Palavra. sem considerar sua sobrevivência garantida do mesmo modo como temos a linguagem como garantida.. e em conversas. Mais um outro passo curto perverte esse summum bonum paroquial em direção à meta mais egoísta de fazer o que seja preciso para que você se mantenha no leme da instituição ("Quem melhor do que eu para triunfar sobre nossos inimigos?"). mas adotando a meta de promover. As pessoas então se tornam intendentes conscientes de seus memes. ou clube. Com esse ponto firmemente estabelecido. Esse passo é curto. a meta de preservá-la para projetos futuros.

são os "escolhidos de Deus". nem que fosse pelo esclarecimento que isso lançaria (nada além disso) sobre a questão do valor moral da religião. e deveríamos tentar confirmar ou refutar as duas. Mas a utilidade manifesta desses arranjos de grupos não explica por si só como é que elas se realizam. [David Sloan Wilson. e pode . Nossa incapacidade de alcançar uma cooperação verdadeiramente global.ou não ser verdadeira. não seria um impul. apesar dos argumentos . a crença de que alguém vela por você pode muito bem ser um impulsor moral decisivamente eficaz. Acts of Faith] Por que as pessoas se unem a grupos? Porque elas querem . de modo que por hora vou só reconhecê-las.e somente eles . A COLÔNIA DE FORMIGAS E A CORPORAÇÃO A religião existe principalmente para que as pessoas consigam. Versões dessa hipótese da aptidão de grupos já foram apresentadas por Boyer. Dunbar (2004) resume uma delas muito bem: Por certo não é por acidente que todas as religiões prometem a seus adeptos que eles . [p. seriam impossíveis. Essa é uma hipótese a respeito da eficácia individual em tempos conflituosos. por que motivo as pessoas querem uma religião? Elas a querem porque a religião é a única fonte plausível de certeza de determinadas recompensas para as quais existe uma demanda geral e inesgotável. Burkert. estariam incapacitadas pelo medo. e a perspectiva sempre presente de deserção ou traição oportunista. 2. Pode ou não ser verdadeira na verdade. estão seguros de que o Todo-Poderoso (ou seja lá a forma que os deuses adotem) irá assisti-los em suas dificuldades atuais se as preces e os rituais corretos forem praticados. sob a forma de medo e hostilidade mútuos. tanto na tomada de decisão como na ação. já que há barreiras a ultrapassar. incluindo o óbvio: para proteção mútua e segurança econômica. as duas hipóteses poderiam ser verdadeiras. 191] Observe que o conforto em si. Uma hipótese inteiramente diferente é que a participação na religião (em penosos ritos de iniciação. para obter projetos em grande escala que.capítulos posteriores.sor da aptidão a não ser que também fossem dadas (como quase certamente o são) as vantagens práticas de resolução e confiança. com salvação garantida. por exemplo) cria ou fortalece as ligações de confiança que permitem a grupos de indivíduos agir juntos com muito maior eficiência. Que a força esteja contigo! Quando você tem de enfrentar a quase sempre aterradora incerteza de um mundo perigoso. de outro modo. para promover eficiência nas colheitas e outras atividades necessárias. Isso sem dúvida introduz um profundo sentimento de conforto em tempos de adversidade. o que não conseguem alcançar sozinhas. juntas. capaz de transformar pessoas que. de outro modo. Daruins Cathedral] Mas quais são os benefícios. [Rodney Stark e Roger Finke. Wilson e muitos outros. em bravos agentes.mas por que querem? Por diversos motivos. ou por si próprio. sem importar o resto.

chegados só são admitidos depois de uma luta e de um teste. por exemplo. que olham para seus próprios interesses e. Não havia necessidade. como Seabright (2004) diz. os funcionalistas trataram as sociedades como se elas . Agentes racionais individuais. teríamos desenvolvido uma ânsia pela companhia dos co-específicos. fabricando os tipos individuais de formigas como especialistas que coordenam de modo automático seus esforços para que o resultado seja uma colônia normalmente harmoniosa e vigorosa. ou até superorganismos muito eficazes. bandos ou cardumes. é como a robustez de uma colônia de formigas ou de uma corporação? Será que a religião é o produto de um instinto evolucionário cego. Será que a robustez de uma religião. De acordo com seus críticos. e transforma populações de desafortunadas pessoas sem relação e mutuamente desconfiadas. e não há nem nunca houve nenhuma formiga individual . e entre os símios forrageiros (e predadores) que são os nossos parentes mais próximos. Mas não somos animais herbívoros.para desempenhar o papel de governador. e à primeira vista parece haver apenas dois caminhos a serem escolhidos: a rota da colônia de formigas e a rota da corporação. individualmente.essa pergunta é a acusação que há muito tempo tem sido usada para desacreditar a escola funcionalista da sociologia. são precisamente as escolhas racionais de seres humanos. qualquer macho que tente se unir a outro grupo seria sumariamente morto. concordam com a incorporação e depois governam suas atividades. como outros símios. em desafio à segunda lei da termodinâmica. A seleção natural moldou o projeto das formigas ao longo de várias eras. os maiores grupos estáveis são geralmente restritos aos parentes próximos. sua capacidade de perseverar e progredir. mas esse instinto gregário tem seus limites. mas exatamente como isso poderia funcionar? Os teóricos de todas as denominações religiosas concordam que a P &D exigida para estabelecer e manter um sistema desses deve ser realizada de algum modo. e apesar de muitas campanhas fracassadas. os recém-chegados são sempre fêmeas que emigram de seus grupos originais para encontrar parceiros. A solidariedade impressionante alcançada por muitas organizações religiosas não está em dúvida.) Não há mistério sobre por que nós. quando ocorrem.quanto mais em responder . (Entre os chimpanzés. De algum modo conseguimos nos civilizar até determinado ponto e de uma forma que outras espécies nem sequer tentaram. pelo que sabemos. em famílias com laços estreitos. já que a seleção natural fez todas as tentativas de acerto e erro para elas. ou uma escolha racional? Ou haverá alguma outra possibilidade? (Poderia ser um dom de Deus. e fica claro que esses agrupamentos. como colônias de formigas ou colméias de abelhas. iniciada por Emile Durkheim. por exemplo?) O fracasso em fazer . tomam as decisões que moldam.ou conselho de formigas .fício. Não houve formigas individualmente heróicas que calcularam e implementaram tudo. fazendo análises individuais de custo-bene. direta ou indiretamente. famílias extensas às quais os recém. mas será que isso poderia explicar o surgimento e a existência continuada das religiões? Muitos acharam que sim. mostra que a cooperação e a lealdade limitadas que experimentamos são uma realização rara. É notável que tenhamos aprendido a ficar à vontade na companhia de estranhos.persuasivos que demonstrem os benefícios a serem alcançados. Em contraste. e uma idéia sempre persuasiva em relação à religião é que ela serve para incentivar exatamente essa coesão grupai. Outras espécies muitas vezes formam populações que se juntam em rebanhos. as características da corporação. que dão existência a uma corporação: eles projetam a estrutura. são adaptativos. destinadas a criar instituições de capacitação.

lucionistas. Mas as pessoas não são formigas.1999. Em resumo. tem sido analisada em profundidade e detalhe por biólogos evo. e outras. no entanto. em muitos níveis. As mentes humanas são dispositivos de exploração altamente complexos. mantendo sua saúde e vigor por meio de uma multidão de ajustes em seus órgãos.ganismo. Além disso. de modo que é melhor a evolução . De acordo com a hipótese da Gaia. e só as ordens religiosas mais rigidamente disciplinadas chegam próximo da inflexibilidade fascista dos insetos sociais.ção diferenciada do mais apto. fixando o processo do projeto ao mesmo algoritmo da P &D que explica o resto da biosfera. nós teríamos de postular algum tipo de reprodução. Biosferas que não desenvolvessem reguladores homeostáticos eficientes para suas atmosferas planetárias tenderiam a se extinguir [. como disse Richard Dawkins. por meio da qual os planetas bem-sucedidos disseminassem cópias de suas formas vivas em outros planetas. se quiserem ser levados a sério. e não há dúvida de que os processos evolutivos podem moldar adaptações de grupos sob condições especiais. a questão de como os supostos sistemas homeostáticos foram projetados e instalados. Essa crítica é essencialmente a mesma apontada por biólogos evolucionistas à hipótese da Gaia. mas Wilson tem razão em insistir que não é preciso haver nada de místico ou até de misterioso para que as funções amigáveis dos grupos de Durkheim sejam instaladas por processos evolutivos . Os funcionalistas nas ciências sociais devem assumir o mesmo fardo. A sabedoria distribuída de uma colônia de formigas. mantendo seus diversos equilíbrios com o fim de preservar a vida no planeta. nem se parecem muito com formigas. eles devem ser concorrentes. a biosfera da Terra é ela mesma um tipo de superorganismo. que é de fato um tipo de superor. graças às competições nos diversos níveis. A seleção pode continuar em diversos níveis. sem mostrar como a P &D exigida para o projeto e o ajuste desses superorganismos foi levada a efeito.. que foram os beneficiários das bases racionais descomprometidas (para apresentar a coisa do meu jeito) que nenhum de seus membros precisava entender. p. as inovações de planejamento que funcionam sistematicamente para ligar grupos humanos são o resultado da descendência do darwinismo com modificação orientada pela replica. devem levantar. mas. deveria haver um conjunto de Gaias rivais. Cui bono? A aptidão do grupo deve estar acima da aptidão individual de seus membros.]. Os críticos há muito têm zombado das invocações dos funcionalistas de alguma coisa como a sabedoria mística da sociedade (como a imaginada sabedoria de Gaia). supostamente em diferentes planetas.fossem coisas vivas. Uma bela idéia. para tentar fazer com que um tipo de funcionalismo não perca o dia.. como as que prevalecem entre os insetos sociais. e se os grupos devem ser os principais beneficiários. 236] Os entusiastas da Gaia. [1982. questionadoras de cada detalhe do mundo que elas encontram. e responder. de Lovelock (1979). ele aceita o desafio de mostrar que a competição entre grupos rivais levou à extinção de grupos mal projetados. ao fracassarem na competição com grupos mais bem desenhados. inclusive o nível do grupo. Entra aí David Slan Wilson (2002) e sua "teoria da seleção multinível". de modo sucinto: Para que a analogia se aplicasse rigorosamente.se ele conseguir demonstrar os processos de seleção de grupos. De acordo com Wilson. ao mesmo tempo.

]. considerarem o que é basicamente uma decisão de mercado a respeito de em qual religião investir (suposição que examinaremos em breve). 103). à primeira vista . 42). manter e fornecer religião a alguns conjuntos de indivíduos e apoiar e supervisar seus intercâmbios com um Deus ou deuses" (p. mas. Mas como Wilson observa em uma comparação útil entre a teoria dele e a dos outros. Será que costumes bizarros foram conscientemente inventados por atores racionais tentando maximizar suas utilidades? Se for assim. 36] As religiões são mesmo como corporações. onde não há uma religião do Estado. "Durante mais de três séculos a sabedoria-padrão da ciência social foi que o comportamento religioso deve ser irracional exatamente porque as pessoas fazem sacrifícios em nome de sua fé .uma vez..a única alternativa. alegam eles: "Organizações religiosas são empresas sociais cujo objetivo é criar. milhares de religiões nascem e morrem sem serem notadas porque nunca atraíram mais de alguns poucos membros (Stark e Bainbridge. como eles insistem: Não é preciso ser uma pessoa religiosa para apreender a racionalidade subjacente do comportamento religioso.benefício? Não será possível um processo de variação cega e de retenção seletiva? Afinal. mesmo se tivéssemos de admitir que agora é racional.é ocupado pelos teóricos da escolha racional. 1985). O pólo teórico oposto . pode gerar (e "pagar pelas") as excelentes características de projeto que observamos nas religiões. por que eles têm a utilidade de maximizar o bem comum de sua igreja? Será que devemos realmente atribuir todas as feições adaptativas de uma religião a um processo psicológico de raciocínio custo. em um mercado livre de escolha de religiões (como nos Estados Unidos. com sobrevivência e replicação diferenciadas de alguns desses grupos. [p. uma vez que a estrutura esteja no lugar. isso não atende à questão da P &D: Mas como foi que a religião adquiriu sua estrutura que adaptativamente restringe a escolhas de maximizadores de utilidade exatamente do jeito certo? Devemos explicar a estrutura da religião além do comportamento de indivíduos. Talvez as feições adaptativas das poucas que sobrevivem sejam como mutações aleatórias. A demanda pelos artigos que a religião tem a oferecer não é elástica. ou pelo menos assim parece. que nenhuma pessoa racional faria uma coisa dessas" (p. Como Rodney Stark e Roger Finke (2000) observam com desdém. para os membros da igreja. é óbvio. e é portanto um comportamento racional exatamente no mesmo sentido em que outro comportamento humano é racional. Wilson acha que a competição entre grupos religiosos.é geralmente baseado em cálculos de custo-benefício. e não o produto de uma .acrescentar alguns sinos e assovios notáveis às suas adaptações à tendência de formar grupos dos seres humanos.uma aplicação direta da economia do "lado de oferta". se for para haver alguma chance de sucesso pela rota da seleção de grupos. e há muitas seitas concorrentes) existe uma competição vigorosa entre as seitas pela dominação do mercado . que surgiram recentemente para desafiar a suposição amplamente disseminada pelos cientistas sociais de que a religião é algum tipo de maluquice. não mais do que se precisa ser criminoso para imputar racionalidade a muitos atos de desvio comportamental (como fazem as principais teorias de crime e desvios) [.. O que estamos dizendo é que o comportamento religioso .no grau em que ele ocorre .

está minha alternativa memética suave à hipótese do nível de grupos de Wilson: Os memes que promovem a solidariedade nos grupos humanos são especialmente aptos (como memes).3 Wilson menciona isso brevemente como uma alternativa. enfatizando a capacidade que têm de se proliferar. ele perde uma oportunidade melhor: o processo de planejamento evolutivo que nos deu as religiões envolve a replicação diferenciada de memes.escolha racional. ao se agarrar à sua versão radical de seleção de grupo. como a grande maioria dos simbiontes bacterianos e virais que habitam nosso corpo. ele mesmo. podemos unir os dois pólos "extremos" da teoria colônia de formigas versus corporação . não de grupos. De acordo com essa teoria. ou mutualistas que enfatizam a aptidão. mas. mas afasta-a sem sequer um olhar. fortalecendo a curiosidade (e inveja) fora do grupo. exatamente como Stark e Finke dizem. um potente dispositivo de irradiação. não é amigo de religião e muitas vezes comparou os memes . que cunhou o termo meme. sem postular planejadores racionais (a rota da reli. em particular . E consegue explicar o fato de que a aptidão individual está aparentemente subordinada à aptidão do grupo para a religião. incluindo os processos intermediários de seleção de todos os sabores de conhecimento. mas apenas um ambiente cultural no qual haja competição de idéias. Assim. que as idéias que têm um desempenho menos eficiente em unir seus hospedeiros em exércitos. se é que alguma vez.4 Aqui Wilson é induzido a erro por um mal-entendido comum: Richard Dawkins. a não ser que percebam (ou pensem perceber) benefícios dignos do investimento. Já que as pessoas não são formigas. então. Assim como na teoria mais radical da seleção de grupos de Wilson.memes religiosos. sobretudo em circunstâncias nas quais a sobrevivência do hospedeiro (e portanto a aptidão do hospedeiro) depende mais diretamente do fato de o hospedeiro juntar suas forças em grupos. essa hipótese em princípio consegue explicar a excelência de planejamento encontrada na religião.a vírus. e raramente. Embora essa alegação dissonante deva ser considerada uma possibilidade importante. étnicos e geográficos sejam mais prontamente ultrapassados. as idéias que maximizam a formação de grupos serão aquelas que atraem. e portanto permitindo que os limites lingüísticos.gião-como-corporação). muito porque ele encara a doutrina que as define como aquela em que as características religiosas devem ser disfuncionais. 82] Wilson tem razão em enfatizar a alternativa de um processo de variação cega e retenção seletiva. "recompensas para as quais há uma geral e . mas de fato bastante racionais. As idéias que encorajem as pessoas a agir juntas em grupos (da forma que o Toxoplasma gondii encoraja os ratos a se aproximarem destemidamente dos gatos) vão se espalhar com maior eficácia. não poderíamos nos esquecer de que a grande maioria dos memes. O sucesso desses grupos infestados de memes é. é pouco provável que elas sejam encorajadas a investir pesadamente em atividades de grupo. é neutra ou até útil (da perspectiva da aptidão do hospedeiro). comensais neutros em aptidão. Ele acha que a teoria dos memes exige que todos os memes religiosos sejam parasitas (redutores da aptidão).e explicar a P &D da tendência dos homens a formar grupos como uma mistura de processos cegos e previdentes.ção de grupos. não precisamos postular torneios de replica.5 Com a visão dos olhos dos memes. [p. Aqui. a despeito dos efeitos deletérios sobre seus hospedeiros humanos. como resultado dessa tendência a formar grupos.

Uma vez conquistada a lealdade. muito menos seus genes egoístas. como se tivessem entregado seu controle racional a um poder mais alto. Eles não fogem da idéia de que um meme lhes deu ordens e matou-lhes o instinto reprodutivo. Quando procuram o Número Um. no entanto.. eles serão tão racionais quanto puderem. sem nenhum interesse religioso.] . "Pare de tentar que acontece!" (1902. William James. 206). Elas querem se ver como se tivessem deixado de lado essas considerações egoístas. essa análise racional e a sangue-frio do mercado para os artigos religiosos ofende profundamente muitas pessoas religiosas. não deve ser . E declaram que é exatamente isso que os distingue de meros animais. ao encorajar uma certa passividade ou receptividade no hospedeiro. 210-211 e 230] Vale lembrar que a palavra árabe islã quer dizer "submissão". p. aquela pequena receita de hábitos. [pp.uma escolha racional do hospedeiro. um memeticista à frente de seu tempo. Ela não tem linguagem nem cultura . este é o mandamento que eles inflexivel.. e se forem chamados a abrir mão de filhos e netos a bem de difundir a Palavra. e o islã não está sozinho. mas a proliferação deles (em concorrência com os memes rivais) depende da habilidade em atrair hospedeiros de um jeito ou de outro. eles são espertos!". isso dá a eles um valor a perseguir que transcende o imperativo genético que limita o horizonte de decisões de todas as demais espécies. A teoria do meme explica isso. A idéia de que os muçulmanos devam pôr a proliferação do islã acima de seus próprios interesses já está embutida na etimologia de seu nome. sobrepujando a resistência "racional". e chama proveitosamente a nossa atenção para uma contraparte secular: o professor de música que adverte seus alunos. ainda assim teríamos de escrever a respeito da propensão do homem a uma conversão repentina e completa como sendo uma de suas peculiaridades mais curiosas. agir por si mesmo! Pode-se dizer que o desenvolvimento todo do cristianismo em espiritualidade consistiu em pouco mais do que uma ênfase cada vez maior ligada a essa crise de auto-entrega [. e deixe aquele pacotinho de informações. observa a importância desse aspecto para algumas religiões. eles a abraçam. de fato: "Eles não são malucos. Os memes às vezes precisam ser inseridos delicadamente em suas novas moradias. O que é mais importante para os cristãos devotos que seu próprio bem-estar. Stark e Finkel. um hospedeiro transforma-se em um servo racional. Formiga alguma pode se pôr a serviço de uma Palavra. e outros teóricos da escolha racional na religião. Difundir a Palavra de Deus é o summum bonum. Se estivéssemos escrevendo a história da mente puramente do ponto de vista da história natural.na verdade. Na busca desse valor. os principais beneficiários das adaptações religiosas são os próprios memes. que suas vidas? Eles lhe dirão: a Palavra. gostam de se mostrar como defensores daqueles que têm fé religiosa dizendo. Entretanto. e não sua própria pele. Deixe rolar e limpe sua mente. o Número Um é a Palavra.6 Elas não querem ser vistas como se estivessem prudentemente fazendo um investimento sólido no provedor mais eficaz de benefícios sobrenaturais. mas a conquista inicial não precisa ser . Um bônus inesperado dessa perspectiva unificada é que ela dá espaço para uma posição intermediária no status da religião que modifica uma das características mais perturbadoras do modelo da escolha racional.inesgotável demanda". De acordo com essa teoria.mente tentarão obedecer.

O ardente antidarwinismo nas ciências sociais e humanas tem. mas nada milagrosa.junto com seus heróicos autores. grupos revolucionários. "Você não pode chegar aqui por aí!". organizações étnicas. psicologia cognitiva. usando métodos e pressuposições que são completamente incomparáveis com os ou intradu. Todo o trabalho de projeto é principalmente uma questão de tentativa de acerto e erro. a Máfia. acabamos de completar uma caminhada esquemática. e. até a defesa apaixonada e a elaboração das mais exaltadas idéias conhecidas da humanidade. por último. artistas. Entre as coalizões baseadas no parentesco genético que vicejou na história humana recente estão partidos políticos. ciência política. filosofia. mecânica. Pensar cuidadosamente é mais rápido e mais barato que fazer as experiências no mundo e deixar a natureza fazer a domesticação. mas não menos importante. apesar de nossos melhores esforços. Porque. uma vez que as pessoas se tornam intendentes de seus memes preferidos. mas muitas. como já vimos. Temos sempre de nos lembrar da Segunda Regra de Orgel: a evolução é mais inteligente que você. usuários da linguagem. times esportivos e. "O abismo é intransponível!" E. no entanto.) Uma vez que haja. poderão proliferar. se não formos cuidadosos.7 Os resultados emitiram luz sobre a cooperação e o altruísmo em contextos seculares assim como religiosos. fidelidade e reforço a ela por punição ou outra coisa qualquer) foi intensivamente estudada nos últimos anos por pensadores evolutivos em diversas disciplinas: economia.ztveis nos métodos e pressuposições das ciências naturais. com convicção desesperada. É aí que o mérito da teoria das escolhas racionais é reconhecido. que a cultura e a sociedade humanas só podem ser interpretadas. é claro. em representações de decisões nas mentes das pessoas que as consideram com cuidado antes de decidir de verdade sobre o que acham que vai funcionar melhor. inicia-se uma corrida arma. ofertas de alternativas. inclusive não apenas das religiões em mutação. dadas as informações limitadas a respeito do mundo cruel no qual os projetos serão testados. elas podem formar coalizões que rivalizam pela nossa fidelidade. de modo que muitas vezes cometemos enganos. eles tenderam a declarar. os rivais maiores e melhores competem pela lealdade.de instituições seculares também. Nós. mas sem provas ou argumentos. e se eles escaparem do laboratório. (Peço licença aqui para uma pausa. do mesmo modo como a engenharia genética.de que se possa falar. e terra-a-terra. e nunca explicadas por meios causais. tradicionalmente. robótica. mas a previsão humana que propicia a velocidade extra é falível e sujeita a desvios. biologia e. no "mercado de idéias". sindicatos trabalhistas. O abismo era uma ficção da imaginação temerosa. A dinâmica dos participantes dos grupos (condições de entrada e saída. seria o lema deles. não temos apenas uma Palavra. Desse modo. Poderemos nos perceber melhor como campeões de idéias e defensores de valores se primeiro examinarmos como chegamos a ocupar esse papel especial. e isso ajuda a enfatizar as características que distinguem as organizações religiosas de outras instituições. O MERCADO DO CRESCIMENTO NA RELIGIÃO . mas grande parte dele acontece off line. e muitas palavras competem pela nossa atenção. inventores e outros defensores e amantes de idéias. desde a natureza cega. temido que uma abordagem evolutiva fosse afogar seus queridos modos de pensar . pode criar monstros. em combinação. chamando a atenção para o que acabamos de fazer. mas . A engenharia memética.mentista para as supostas melhorias. 3.no final .

pobreza. uma pessoa pode escolher a fidelidade a uma religião quando já é. The Transformation of American Religion] Temos um produto melhor que sabão ou automóveis. talvez.e a cultura norte-americana triunfou. Ao longo das duas últimas décadas. p. na falta de competição. Cada um desses corpos depende inteiramente de contribuições voluntárias. neurose. 18)”. depois de mais de dois séculos para se desenvolver sob condições de mercado livre. (Ao contrário. em algumas pessoas essa ansiedade extrapola sua utilidade. 2000. e seu modelo básico é uma aplicação direta da teoria econômica: Realmente. será proveitoso ver as forças e as restrições que moldam as alternativas. por exemplo. e a pessoa média minimiza e atrasa o pagamento dos custos religiosos. membro contribuinte de um sindicato trabalhista. Rodney Stark e seus colegas fizeram um trabalho notável em articular a resposta da escolha racional. 1994). um partido político e um clube social? Essas questões de "por que" começam por ser neutras entre dois tipos bastante diferentes de respostas: elas poderiam perguntar por que é racional escolher a fidelidade a uma religião. e eles alegam que. e o resultado será um baixo nível geral de participação religiosa. e as doações religiosas norte-americanas atualmente totalizam mais de 60 bilhões de dólares por ano. cada uma. ou mais de 330 dólares por pessoa com idade acima de dezoito anos. ignorância ou consciência falsa. [Reverendo Jim Bakker8] Por que fazemos grandes sacrifícios para aumentar as perspectivas das organizações religiosas? Por que.) Se dermos uma boa examinada na primeira resposta com respeito à religião. graças a seus esforços. Temos a vida eterna. Acts of Faith] Em todos os aspectos da vida religiosa. muitas das quais de muito bom tamanho .ton. “agora é impossível fazer um trabalho confiável no estudo científico social da religião com base na suposição de que a religiosidade é um sinal de burrice. Esses totais incluem muitas .podemos explicar a existência dele sem mistérios residuais -. [Alan Wolfe. mas irracional. o medo delas é natural .24 têm mais de um milhão de membros. ou poderiam perguntar por que é natural (de algum modo) que pessoas se vejam atraídas para uma religião que impõe fidelidade a elas? (Pense na questão por que tantas pessoas têm medo de altura? Uma das respostas é: porque é racional ter medo de altura. a economia da religião norte-americana ultrapassa os sonhos mais loucos de Adam Smith a respeito das forças criativas de um livre mercado (Moore. Existem mais de 1 500 seitas religiosas distintas (Mel. a fé norte-americana se encontrou com a cultura norte-americana . você pode cair e se machucar! Outra é: nós desenvolvemos um cuidado instintivo. 1998). Eles se concentram na religião nos Estados Unidos.) [Rodney Stark e Roger Finke. tal como proposta pela teoria da escolha racional. as firmas dominantes serão ineficientes demais para sustentar esforços vigorosos de mercado.Proposição 75: No ponto em que as economias religiosas não são reguladas e competitivas. os níveis gerais de participação religiosa serão altos. ou representa uma fuga da modernidade (Stark e Finke. acionado pela percepção de que estamos expostos a uma grande altura.

nesse aspecto. racismo..ou assim dizem . especialmente na academia. Em 1996. (Será que as igrejas realmente manipulam o sobrenatural? Será que Stark e Finke estão comprometidos com a alegação de que os intercâmbios com um Deus ou deuses realmente acontecem? Não.. diz ele. 10). os deuses são parceiros de intercâmbio em .] Porque são seres conscientes. 103). Stark e Finke esmiuçaram isso cuidadosamente. 223] H. os seres humanos procurarão utilizar e manipular o sobrenatural" (p. 90). Mencken uma vez opinou: "Os únicos protestantes realmente respeitáveis são os fundamentalistas. Aqui. 2). se ele existir. One true God: historical consequences of monotheism (2001). L. Algumas pessoas vão sozinhas. por exemplo). bilhões de pessoas têm certeza de que os deuses existem. em troca. eles são estudiosamente agnósticos . além da maior parte das doações feitas a escolas religiosas. analisando os prós e os contras da doutrina como se ele fosse um consultor de publicidade. Muitas vezes chamam a atenção para o fato de que seria perfeitamente racional investir em ações que acabam não valendo a pena. As pessoas se importam com Deus porque. Stark adota o papel de engenheiro memético. e é isso o que a igreja oferece. Os seres sobrenaturais conscientes são vendedores muito melhores porque "o sobrenatural é a única fonte plausível de inúmeros benefícios que desejamos muito" (p. e uma quantia significativa foi gasta em missionários na Europa. menos racional ela é: Entre as sugestões mais comuns sobre por que as igrejas evangélicas crescem estão sexualidade reprimida. divórcio. [p. elas são parceiras em potencial de intercâmbio. "Que tipos de deuses têm maior atratividade?" (p. Nunca os proponentes do velho paradigma ao menos exploram as possíveis explicações religiosas: por exemplo. mas a maioria acha que precisa de ajuda. que as pessoas são atraídas para as igrejas evangélicas por um produto superior. porque "só os seres divinos fazem alguma coisa" (p. eles são também bastante idiotas". Além do mais.contribuições para fundos de construção de igrejas (a construção de novas igrejas chegou a 3 bilhões de dólares em 1993). e a igreja. e a premissa que os estimula é a Proposição 6: "Em busca de recompensas. [p. mais de 2 bilhões de dólares foram doados para sustentar missionários. de posse de fontes imensas. mas não Stark e Finke. afinal. exatamente porque acreditam ter tido a experiência de longas e satisfatórias relações de intercâmbio com eles [. Infelizmente. urbanização. Eles estão especialmente propensos a dissipar a bem conhecida idéia de que quanto mais fundamentalista ou evangélica for a seita. inteiramente não antropomórfico. ele distingue duas estratégias: Deus com essência (o Deus como a Base de Todos os Seres de Tillich. hospitais e missões no estrangeiro. ansiedades quanto ao status social e rápida mudança social. fora do tempo e no espaço. 30] As pessoas suportam os pesados gastos de ser membros da igreja. abstrato) e Deus como um ser sobrenatural consciente (um Deus que escuta e atende a preces em tempo real. e julga a última como irremediável.) Em um livro mais recente. Muitos compartilham dessa opinião. sexismo. é contratada "para apoiar e supervisionar seus intercâmbios com um Deus ou deuses" (p. 12). "Não existe uma diferença religiosa tão profunda quanto aquela entre fés que envolvem seres divinos e aquelas limitadas a essências divinas".

tradicionalmente. desviando imprevisivelmente e sem motivo as intenções" (p. certamente ele tem razão a respeito do principal resultado dos conceitos altamente abstratos de Deus: "Como as essências divinas são incapazes de intercâmbios. 21). isso é o que se quer! A história não apenas fica melhor.potencial. pois se presume que todos os seres querem alguma coisa em troca daquilo pelo qual elas podem ser induzidas a dar alguma coisa de valor. rodeálo(la) com alguns seres subordinados e postular um ser malévolo inferior. essa visão tende a evoluir ao longo do tempo porque é a conclusão mais razoável e satisfatória da cultura religiosa disponível. 16). Ao contrário. Por quê? Porque "um Deus de abrangência infinita deve ser responsável por tudo. 24). "Quando eu . Sincerely. e portanto deve ser perigosamente caprichoso. mas o fato de que as considerações dramáticas ditem tão convenientemente os detalhes da história. rivalizando com a suposição tradicional de que são simplesmente "a sincera verdade de Deus". Ah. elas podem apresentar mistérios. fica mais próxima da verdade. Uma jogada de sorte? Talvez não. [pp. Essa é a mesma raison detre avaliada por Jerry Siegel e Joe Shuster. 25-26] Não se pode perder a nota de pé de página de Stark sobre essa passagem: "Tampouco estou preparado para negar que essa evolução reflete a descoberta progressiva da verdade pelo homem". Andy Rooney] Seja lá o que possamos achar do agnosticismo confesso de Stark sobre esse ponto. Quem consegue ser fiel a um Deus a quem não se pode pedir nada? Não precisa ser o maná dos céus. ao contrário do conceito da criptonita. O que será que se passa na cabeça do papa sobre ser rejeitado o tempo todo? Será que Deus tem raiva dele? [Andy Rooney. e não são invenções de nenhum autor em particular: Eu não tenho a intenção de sugerir que esse retrato dos deuses seja o produto de uma "criação" humana consciente. com quem se pode contar para maximizar os benefícios humanos" (p. Chega a propor que um Deus sem um Satanás para contrabalançar é um conceito instável . UM DEUS COM QUEM VOCÊ PODE FALAR O papa. Ninguém se sentou e resolveu: vamos acreditar em um Deus supremo.lo. 13 e 15]9 Ele acrescenta que um Deus compreensivo. Um Deus realmente bom não arranjaria as coisas dessa maneira? Talvez. e o fato de nunca ter havido qualquer efeito em evitar ou terminar uma guerra jamais o impediu de fazê. paternal. Como disse uma vez o comediante Emo Phillips. "funciona como um parceiro de intercâmbio extremamente atraente. 4. mas não propõem questões táticas. ninguém pendurado em penhascos . reza pela paz toda Páscoa. e portanto não nos incentivam a fazer esforços para descobrir os termos de permuta (p. quando inventaram a criptonita como algo que contrabalançasse o Homem de Aço: não há drama possível . sobre o qual se pode jogar a culpa do mal. esses conceitos de Deus e Satanás têm bases racionais descomprometidas. [pp. os criadores do Super-Homem."irracional e perverso". tanto o mal como o bem.nenhuma derrota a superar.se seu herói for poderoso demais! Mas. isso realmente propicia uma explicação de por que os detalhes são como são.

mas. Um problema-chave de mercado para as religiões. Mas então me dei conta de que Deus não funciona desse jeito .de modo que roubei uma bicicleta e rezei pedindo perdão!". 145] “A tensão se refere ao grau de distinção. "traços culturais governando ações que afetam o bem-estar de outros. 143). Desse modo. [p. os seres humanos irão aceitar um relacionamento estendido de intercâmbio com os deuses. igrejas grandes estabelecidas são de baixa tensão. mas. [pp. Uma religião cara é alta "nos custos materiais. num espectro de baixo a alto. propiciando provas de benefícios recebidos neste mundo por si próprio ou por outros.pelo menos não estão disponíveis aqui e agora por meios convencionais" (p. Mas você tem aquilo pelo que você paga: ao contrário dos gentios. os seres humanos farão pagamentos periódicos durante um período de tempo considerável. eles conseguem fazer isso porque são caros. mas não . pedindo a Deus uma bicicleta. E. Como conseqüência. 146-47] Quanto mais você tiver investido em sua religião. [p. há características do projeto que se pagam convenientemente. A recuperação de um câncer é quase nada se comparada à vida eterna. sociais e psicológicos para a ela pertencer". qualidade é outro. Aí reside o segredo da força de grupos religiosos de maior tensão: apesar de serem caros. pertencer pode incorrer em perda de status social e acabar realmente exacerbando . eles rendem uma estimativa de valor. geram os níveis de compromisso necessários para maximizar os níveis individuais de confiança na religião . Não custa apenas tempo gasto nas obrigações religiosas e dinheiro na bandeja de coleta. A mais interessante é o efeito de inversão de preço descrito por Stark e Finke (2000): A resposta pode ser encontrada em economia elementar. como Stark observa. e. ao fazer isso. você é salvo para a eternidade. "As recompensas são sempre escassas. é como convencer o cliente a esperar. Até o ponto em que uma pessoa é motivada por valor religioso. os economistas evolutivos Samuel Bowles e Herbert Gintis (1998.em vez de aliviar . eles oferecem um alto valor. Stark e Finke não estão sozinhos em ver que os custos podem algumas vezes fazer bom sentido em economia. Não apenas os grupos religiosos mais caros oferecem produtos de maior valor. 2001) desenvolveram modelos formais de comunidades que promovem normas pró-sociais. muitas vezes até à morte. O preço é apenas um fator em qualquer permuta.era criança costumava rezar. então. na verdade. Ou seja. em busca de recompensas no outro mundo. Por exemplo. combinados. Mas talvez o aspecto mais significativo das recompensas no outro mundo seja que a realização dessas recompensas é adiada (muitas vezes até após a morte). na eficácia de suas práticas e na certeza das promessas no outro mundo.na verdade das doutrinas fundamentais. deve-se preferir um fornecedor de preço mais alto. é claro. 19] O que pode ser feito para que as pessoas cumpram esses pagamentos? Curas milagrosas e viradas da sorte pedidas em preces rendem muito. mesmo na ausência deles. 17). de separação e antagonismo entre um grupo religioso e o mundo lá fora” (p. e seitas e cultos são de alta tensão. mais você ficará motivado a proteger esse investimento.a ansiedade e o sofrimento. e algumas não são inteiramente disponíveis .

achamos que as comunidades podem se tornar mais. é um preço que. é. já que este é um modo de gerar negócios.10 Os altos custos de entradas e saídas são tão cruciais para a sobrevivência desses arranjos como a membrana que recobre uma célula: a automa. argumentam eles. se for verdade. na medida em que as firmas servem como veículos organizacionais primários para o conflito social.podem ser regulados por contratos impossíveis de ser implementados sem custos" (2001. 202] Em outras palavras. 345). podemos estar dispostos a pagar: "Longe de serem vestígios de anacronismos. A xenofobia. além da tendência a favorecer interações com membros do grupo e restringir a migração para dentro e para fora. aspectos que Stark e Finke também abordam. e. p. mexendo nos projetos que foram legados a eles por tradição para que ajustem os efeitos observáveis. 2001. Mesmo onde a competição é limitada. correspondentemente. eles estão se estabelecendo . (Ao contrário. mas elas certamente valem maiores pesquisas. e encorajaram detratores. e não menos. mais que tudo. menos aptas a gerar compromisso). Será que estão certos quanto ao principal motivo do súbito declínio nas vocações católicas depois do Concilio Vaticano? . As aplicações da teoria da escolha racional de Stark e Finke a muitas das tendências e disparidades observadas nas denominações religiosas norte-americanas ainda não foram provadas. espere que as "firmas" religiosas explorem e exacerbem os conflitos sociais sempre que possível. ou entre nós e eles (no caso de uma comunidade). exatamente o tipo de fato que vamos querer compreender profundamente quando lidarmos com os conflitos sociais no futuro. [p. Isso pode ser bom (resistência dos poloneses católicos ao comunismo) ou mau (o interminável conflito na Irlanda). E as implicações de algumas das proposições são mesmo provocadoras. p. se as firmas religiosas se tornam significativamente menos importantes como veículos para o conflito social. conseqüência de outras características e que ainda interage com outras de modos previsíveis. Os detratores irão dizer que nós já sabíamos isso a respeito da religião. 364).nutenção é cara e se torna mais eficiente por uma distinção rigorosa entre eu e o resto do mundo (no caso de uma célula). as firmas religiosas podem gerar altos níveis de participação. ele mostra que a deplorável xenofobia encontrada em comunidades religiosas de "alta tensão" não é uma característica especificamente religiosa. O trabalho de Bowles e Gintis não fornece apenas o apoio formal para algumas das proposições defendidas por Stark e Finke. elas serão. já que as comunidades podem reivindicar algum sucesso em abordar problemas de governo não tratáveis por soluções de mercado ou do Estado" (Bowles e Gintis. Os modelos mostram que esses efeitos pró-sociais dependem de "acesso de baixo custo a informações sobre outros membros da comunidade .como engenheiros meméticos. importantes no nexo de estruturas de governo nos anos por vir. tanto dentro como fora de suas religiões. mas o argumento de que essa é uma característica sistemática. Por exemplo: Proposição 76.gostem ou não . Algumas das observações mais reveladoras no livro de Stark e Finke são as críticas acerbas quanto às reformas bem-intencionadas que saíram pela culatra. pensam em reformas e melhorias possíveis. no final. Quando os líderes religiosos e seus críticos. é o preço que qualquer comunidade ou grupo deve pagar por um nível elevado de confiança interna e harmonia.

eles são exatamente como todo mundo [.] A laicidade ganhou alguns dos privilégios dos padres e não tem de suportar a carga do celibato ou prestar contas diretas à hierarquia da Igreja. algumas das quais surgirão quando nos voltarmos para algumas das complicações que ele tão resolutamente deixa de lado.ou melhor. Se não houver entes sobrenaturais. No caso do ponto de vista sincero de Stark. Para muitos. refutado firmemente e com justiça. Ou. que endossa um tipo de religião da qual foram retirados todos os traços do sobrenatural: Mas por que uma religião sem Deus teria futuro? As prescrições de Cupitt nos dão a impressão de que espera que as pessoas continuem a comprar entradas para o futebol e a encontrar-se nas arquibancadas para ver os jogadores que. Wilson e outros. então não haverá milagres. O que pode ser dito em favor do caminho Deus-como-Essência .ou então desconsideradas. ou . e a morte é o fim. mas apenas apresentando o que considero exemplos do trabalho que precisa ser levado a sério daqui para a frente. ao ser perguntado) tem pairado em torno dos 65% durante muitas . por falta de uma bola. e que as pessoas muitas vezes podem aumentar seu fluxo de benefícios imediatos por meio da inatividade religiosa. não estou declarando um veredicto a respeito da solidez ou conclusividade de nenhum desses trabalhos.Antes. Stark e Finke expressam o seu posicionamento fundamental quando desacreditam o After God: The Future of Religion de Don Cupitt (1997). mais exatamente.. os Mandamentos não passam de sabedoria antiga. o sacerdócio já não era um bom negócio. caminhos. as preces não têm sentido. [p.. depois do esforço de renovação do Concilio Vaticano n.não importa quão relutantemente reconhecido por suas contribuições genuínas para o nosso entendimento. Agora. apesar de seus votos. refutadas . 146] Linguagem forte. parece pouco provável que qualquer quantidade de pluralismo e comércio vigoroso possa jamais alcançar qualquer coisa próxima à penetração total do mercado. e as homílias piedosas que muitas vezes orientaram os reformadores iniciais precisam ser confirmadas. [pp. uma pessoa racional não teria nada a ver com uma Igreja como essa. Como fiz anteriormente. eu mesmo tenho profundas dúvidas. só ficam por ali. As apostas são altas demais para as mancadas de amadores bem-intencionados. uma vez que tem havido muitos modos diferentes de tentar conceber Deus em termos menos antropomórficos? Acho que a chave pode ser encontrada em algumas das observações dos próprios Stark e Finke: Dado o fato de que a religião é mercadoria de risco. nas minhas discussões do trabalho de Boyer. A proporção de norte-americanos que de fato pertence a uma congregação de igreja específica (em oposição a dar o nome de uma preferência religiosa. O que faria com que a pessoa racional não tivesse nada a ver com a Igreja. 177 e 185] Ou será que eles estão errados? A única maneira de descobrir é pesquisar. a Igreja católica ensinou que os padres e os religiosos (freiras e monges) estavam em um estágio superior de santidade. mas eles têm de reconhecer que Cupitt e os demais que desviaram seu olhar do Deus Negociante estavam plenamente conscientes de suas atrações e devem ter tido suas razões (articuladas ou não) para resistir a ela com tanta arte durante tanto tempo. A falta de palatabilidade não é um sinal confiável de falsidade. não há salvação.

taoísmo e confucionismo" (p. mas seus seguidores estão restritos a elites pequenas . 257] Será interessante tentar saber mais a respeito dos 35% não talhados para a Igreja. se não impossível. Podemos fazer progressos reconhecendo que não é preciso lançar mão da submissão a uma religião como uma decisão econômica deliberada. do tipo que Stark favorece. As atrações de unitarismo.como no caso das formas de elite do budismo. o que transforma radicalmente o conteúdo das crenças subjacentes. *** Capítulo 8. . competindo em um mercado dinâmico. 20). sua investigação racional. "Existem religiões 'sem Deus'. [p. e a perspectiva dos memes nos permite compreender como os fenômenos da lealdade humana são influenciados por uma mistura de raciocínios generalizados e bem amarrados. por parte de adeptos com diferentes necessidades e gostos. e se as "elites" acham que simplesmente não conseguem "acreditar que experimentaram relações longas e satisfatórias com" Deus.décadas . caras. episcopalismo e judaísmo reformado não estão restritas às tradições vindas de Abraão.não mostrando qualquer tendência para reagir até aos ciclos econômicos principais. de acordo com Stark e Finke. A tendência humana a formar grupos é menos calculada e prudente do que parece em alguns modelos econômicos. além da proporção daqueles que vão à igreja mas não são talhados para religiões de alta tensão. mas também mais complicada que o instinto de rebanho desenvolvido em alguns animais. A intendência de idéias religiosas cria um fenômeno poderoso: crença na crença. tornando difícil. O que complica o quadro é a linguagem e a cultura humanas. por que persistem com (alguma coisa que eles chamam de) a religião? *** Capítulo 7. Eles existem pelo mundo todo. ao mesmo tempo que reconhecemos o poder analítico e profético da perspectiva que encara as religiões como sistemas planejados.

o fenômeno de acreditar na crença se tornou uma força social em si. Uma vez que nossos ancestrais se tornaram reflexivos (e hiper-refle. mas também desvendaram alguns problemas que a rodeiam e que precisam ser tratados antes de haver qualquer confrontação efetiva entre teísmo e ateísmo. da manutenção da crença na democracia. temos a compulsão de citar (e citar e citar) a famosa frase de Winston Churchill: "A democracia é a pior forma de governo. desse modo. Neste capítulo vou manter a minha promessa. Considere alguns casos que têm força hoje. citado por Alan Wolfe em The Transformation of American Religion] A prova de que o Demônio existe.ansiosos por apontar falhas que devem ser corrigidas e igualmente ansiosos para assegurar às pessoas que as falhas não são tão ruins. que a democracia consegue se policiar. de modo errado. isso porá em risco a crença . Os capítulos anteriores lançaram novas bases para essa investigação. criticamente. tenha eu certeza OU não. algumas vezes eclipsando os fenômenos de ordem inferior que eram seus objetos. Como gerentes da democracia. É MELHOR VOCÊ ACREDITAR Acho que Deus honra o fato de que eu quero acreditar Nele. mesmo quando os cientistas sabem que atribuíram. para que a fé delas não se perca. Será que eles deveriam rejeitar em silêncio o trabalho ofensivo e discretamente demitir o perpetrador.8. há sempre uma tensão entre os denunciadores e as autoridades. O mesmo aspecto pode ser adotado em relação à ciência. Uma vez que a crença na integridade dos procedimentos científicos é quase tão importante como a integridade propriamente dita. age e tem sucesso é exatamente não acreditarmos mais nele.xivos a respeito de suas próprias crenças) e se autonomearam intendentes das crenças que julgaram mais importantes. [Denis de Rougement. CRENÇA NA CRENÇA 1. Como muitos de nós acreditamos na democracia e reconhecemos que a segurança da democracia no futuro depende. ou fazer um grande estardalhaço?' Parte do intenso fascínio público pelo julgamento de celebridades deve ser explicado pelo fato de que a crença no código de leis é considerada um ingrediente vital na nossa sociedade. muitas vezes entramos em conflito . The Devins Share] No final do capítulo 1 prometi voltar à pergunta de Hume em seus Diálogos sobre a religião natural: de se temos boas razões para acreditar em Deus. respeitabilidade científica a resultados obtidos fraudulentamente. [Informante anônimo. com exceção de todas as outras que foram tentadas até agora". se as pessoas famosas forem vistas como acima da lei.

infinitamente -. 2003c). observa o psiquiatra George Ainslie em seu notável livro. para poupar aos outros essa crença destruidora da vida.a crença em nada . estamos interessados não apenas no julgamento. Nós. É interessante que ele não pareça achar que sua própria descoberta da horrível verdade (o que ele considera uma verdade horrível) o incapacite moralmente. Uma vez que você começa a viver por um conjunto explícito de regras. o que os líderes crêem a respeito das crenças que prevalecem em seus países influencia aquilo que eles adotam como suas opções realistas. mas nas reações públicas a ele. Quando Friedrich Nietzsche inventou sua idéia de Eterno Retorno . as apostas são formuladas: diante de um deslize. e se sentem que ele vacila. o que deve fazer? Punir-se? Perdoar-se? Fingir que não notou? Depois de um deslize. Assim. deliberadamente.nária de cobertura da mídia.2 A crença na crença de que alguma coisa é importante tornou-se compreensivelmente forte e amplamente disseminada. Em seu esperançoso livro Desenvolvimento como liberdade (1999).arbítrio é tão importante que pode ser "uma ficção digna de ser mantida". Aqueles cujas investigações parecem pôr essas crenças em risco muitas vezes são deturpados.geral no código. 88). Breakdcrwn ofWill (2001. criando uma espiral inflacio. o interesse de longo prazo é como a posição incômoda de um país que ameaçou entrar em guerra em uma determinada circunstância. de modo que a manutenção da crença é um objetivo político importante em si. ou da tortura de prisioneiros por nossos agentes. é o que podemos chamar de crenças metafísicas. aos olhos de muitos. esse fato irá provocar novos tropeços". eles continuamente verificam seu pulso. Ainslie descreve a dinâmica desses processos em termos de compromissos estratégicos concorrentes que podem se bater pelo controle em uma organização .ele achou que tinha provado que vivemos nossa vida muitas vezes. por exemplo. Mesmo em democracias claudicantes. para desacreditar aquilo que parece ser uma tendência perigosa (Dennett. Ainda mais importante que as crenças políticas. 2003). Se o público não puder ser mobilizado em períodos longos de vergonha por relatos de corrupção. Uma vez que as pessoas começam a se comprometer (em público ou apenas em seus "corações") com idéias particulares. sua primeira inclinação (de acordo com certas histórias) foi matar-se sem revelar a prova.ou um indivíduo. precisam ser protegidos dela. mas frágeis que ele.tem sido visto por muitos como um vírus perigoso.reações defensivas. os limites impostos à nossa democracia estarão em risco. o ganhador do Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen apresenta o importante argumento de que não é preciso ganhar uma eleição para atingir seus objetivos políticos. p. ser o autonomeado paladino de um meme é outra coisa inteiramente diferente. O físico Paul Davies (2004) recentemente defendeu o ponto de vista de que a crença no livre. no qual o comprometimento original é enterrado em camadas superpostas de reações e metar. "As regras pessoais são um mecanismo recursivo-. e com boas razões: em uma democracia. e em outros lugares (ver especialmente Sen. Ser o mensageiro involuntário ou indiferente de boas notícias ou de notícias ruins é uma coisa. O nihilismo . realmente tem importância o que as pessoas acham. O país quer . nas reações a essas reações. por motivos óbvios. A crença no livrearbítrio é outra visão protegida com vigor pelos mesmos motivos. que vivemos em democracias nos tornamos um tanto obcecados em avaliar a opinião pública sobre qualquer tipo de tema. tem início um estranho processo dinâmico. mas acredita que os outros.

mitos que devem ser mantidos a qualquer custo. e o judaísmo ortodoxo proíbe até que se pronuncie seu nome. Ainslie supõe que isso explica alguns dos desconcertantes tabus epistêmicos encontrados nas religiões: Do sacerdócio à cartomancia. se for para preservar o seu valor. dinheiro ou aplausos estraga o esforço. Isso é ainda mais verdadeiro para as abordagens que cultivam um sentido de empatia com Deus. produzindo imagens dela. não . há dados clínicos claros a respeito de como as pessoas de etnias diferentes são suscetíveis a diferentes doenças. é considerado grosseiro. Por exemplo. [Ainslie.aqueles que você mantém simplesmente porque eles o fazem sentir-se melhor sem você se dar conta do porquê. Isso levou a alguns excessos bastante infelizes. Alguns acreditam que a crença em diferenças raciais é tão perfiiciosa que até mesmo quando é verdadeira deve ser esmagada. Esse arranjo também deve continuar sem ser detectado. porque elas promovem a necessária dissimulação. mas talvez não. devem ser empreendidas dissimuladamente. algumas vezes com resultados lamentáveis. ou a execução de arte. As crenças a respeito do valor intrínseco dessas atividades são valorizadas além de qualquer exatidão que essas crenças possam ter. ou reagem de modo diferente a diversas drogas. e não apenas porque desengana as outras pessoas envolvidas. deve ser vigorosamente promovida. o que quer dizer que um processo bem-sucedido de desconsideração deverá estar entre os muitos expedientes mentais que surgem por tentativa e erro . e poderá. em nenhum outro lugar a crença na crença tem uma máquina de elaboração mais fecunda. se produzida pelo efeito. está sempre em conflito com o nosso ideal de busca da verdade e de dizer a verdade. 150] Essa idéia de que existem mitos dos quais vivemos. afeto. ou com as quais se conta.3 Ainslie revela a manutenção estratégica de crenças em uma ampla variedade de acalentadas práticas humanas: Atividades que são estragadas ao serem relatadas. Se você se achar desconsiderando um deslize. portanto. o romance empreendido por sexo. A experiência da presença de Deus deve vir por meio de algum tipo de convite que ele pode ou não aceitar.lo sem ser apanhado nesse ato. de modo que muitas pessoas reflexivas vieram a endossar a crença de que a crença na igualdade das pessoas. Quão vigorosamente? Aqui as pessoas de boa vontade diferem vivamente. Uma percepção exacerbada das condições motivadoras de sexo. o contato com o intuitivo parece precisar de algum tipo de adivinhação. [p.evitar a guerra sem perder a credibilidade de sua ameaça. Diversas religiões proíbem a tentativa de tornar sua divindade mais tangível. ou até "para ser amado". Isso tem o efeito perverso de evitar linhas de pesquisas bem pertinentes. mas esses dados são considerados fora de cogitação para alguns pesquisadores e para alguns financiadores de pesquisas. se você conseguir um modo de desconsiderá. do mesmo modo que algumas das profissões mais lucrativas. independentemente da raça. procurar meios para fazer ver que não detectou a circunstância. com enorme prejuízo para a saúde do grupo étnico em questão. Por exemplo. prelo] Embora não se restrinja à religião. seu interesse de longo prazo sofrerá. se adotadas por dinheiro. Por exemplo. o racismo tem sido amplamente reconhecido como um grande mal social.

cristianismo e islamismo). que precisa ser combatida com vigor. também são diferentes das deles.' Será que algumas dessas revisões conceituais são mesmo revolucionárias a ponto de tornar a comunicação através das eras impossível. Como a fabricação de lingüiça e a elaboração da legislação em uma democracia. tão drásticos que os conceitos de antes e depois. Alguns historiadores e filósofos têm argumentado que esses desvios não são tão graduais como podem parecer de início. Desse modo. a esse respeito. [2001. p. todas. o Grande. Conceitos fundamentais certamente podem mudar ao longo do tempo. já que aparentemente conseguimos mapear as mudanças com exatidão e em detalhes. autor do After God: The Future ofReligion. Nossas concepções científicas de tempo e espaço. mas não todos os crentes) você não pode literalmente escutar Deus ou literalmente sentar-se ao lado Dele. sentem necessidade de procurar um credo religioso que possam endossar de coração aberto.morfismo concreto. Não teríamos muita dificuldade em conversar com qualquer um deles a respeito de hoje. à medida que avançamos. E a busca. Mas. ou a Aristófanes. telescópios. uma ameaça intuída. para longe do antropo. nas religiões abraâmicas (judaísmo. e (hoje. como alguns argumentaram? O caso é difícil. ao contrário.personalizados. Você não pode literalmente beber saúde ou literalmente apagar a energia. O notável. É como se o conceito deles de leite tivesse se transformando no nosso conceito de saúde. tornaram-se "incomensuráveis". Simplesmente prosseguem com suas vidas. Nosso conceito de matéria mudou bem radicalmente desde os dias dos antigos atomistas gregos. para os . mais uma vez. Procuram um substituto. como Don Cupitt. o deprimente sentimento de uma perda de convicção. 192] O que fazem as pessoas ao descobrirem que não acreditam mais em Deus? Algumas não fazem nada. compreendendoas. Outros. mas. ou dos milhares de jardas ou passos entre Atenas e Bagdá. graças a relógios. Einstein e outros. Não consigo me lembrar de outro conceito que tenha sido submetido a uma deformação tão dramática. do mesmo modo moral (ou imoral) como viviam antes. ao longo dos séculos. de acordo com muitos. Isso as coloca em um estado de espírito que as torna particularmente receptivas a novas ênfases que de algum modo pareçam certas ou justas. Em particular. pudessem ser um tanto estranhas a Alexandre. a revisão dos credos é um processo perturbador. a respeito dos processos históricos pelos quais o politeísmo foi transformado em monoteísmo . digamos. ou como se o conceito deles de fogo tivesse se transformado no nosso conceito de energia. Mas se tentássemos conversar com os antigos a respeito de Deus. Menos acentuado é o aspecto de como essa crença em Deus uniu suas forças com a crença na crença em Deus para motivar a migração do conceito de Deus. hoje. Muito se tem escrito. não precisa ser totalmente consciente ou deliberada. não parece haver motivos para acreditar que nossas concepções de espaço e tempo. são saltos abruptos. no dia-a-dia. eles não desistem. ao ser examinado de perto. e em direção a conceitos cada vez mais abstratos e des.a crença nos deuses substituída pela crença em Deus. de forma que não é de admirar que a bruma do mistério desça misericordiosamente sobre ela. Sem nunca perceber francamente que um ideal acalentado está de algum modo sob ameaça. amanhã e ano passado. as pessoas podem ser comovidas fortemente por um medo sem nome. Eles têm uma crença firme em que a crença em Deus é algo a ser preservado. mas não articulada. quando acham os conceitos tradicionais de Deus francamente incríveis. de algum modo. pode ser iluminado em contraste com outros desvios conceituais ocorridos durante o mesmo período. encontraríamos um abismo muito maior nos separando.por meio de invocação. não param de ir à igreja e nem sequer contam aos seus entes queridos.

mesmo quando você tem o cuidado de não falar consigo mesmo. medidas mais fortes podem ser invocadas. grupos de discussão feministas radicais podem esmagar qualquer crítica irrespondível declarando que é propaganda . E quase literalmente um truque com espelhos. ele lance os anticorpos do ceticismo! Mas nem sempre funciona.monoteístas originais. Pessoas de todos os credos aprenderam que esse tipo de questionamento é de algum modo insultuoso ou degradante para a fé e deve ser uma tentativa de ridicularizar suas opiniões. de algum modo incompreensível. e. e não ruins. e encontrase ativo no mundo. De fato. cujas características estão além da compreensão . por intermédio de seu Filho fazedor de milagres. tão desprovido de conteúdo que qualquer seita.simplesmente não parece possível que o público vá cair. essas reivindicações seriam mesmo muito estranhas. Estes são mistérios que nós. mas Ele não tem pálpebras e nunca pisca. mas ainda assim Ele prefere que você faça suas preces em palavras. essa pessoa é.o termo vem de Rougemont (1944) que fala da "suposta propensão do 'Pai das Mentiras' de aparecer como seu próprio oposto". nem é preciso dizer. e não me pergunte por quê ou como. É claro que Ele pode ler a sua mente. O Jeová.5 Será que o Poder mais Alto tem uma inteligência (criativa)? Como? Será que Isso (não Ele ou Ela) se importa conosco? A respeito de qualquer coisa? A bruma do mistério desceu convenientemente sobre todas as feições antropomórficas que não foram abandonadas por completo. sem esforço. Satanás. como muitos bons truques de mágica. Aí uma adaptação foi enxertada: é falta de educação perguntar a respeito dessas questões. é provável que receba uma resposta do tipo: "Deus pode ver quando você está fazendo alguma coisa má no escuro. quanto mais ansiosa estiver por envolvê-lo em discussões de mente aberta e agradável. jamais entenderemos".fora o fato de serem. não uma Ela) que conseguia tomar partido em batalhas. boas.) Se eu estivesse planejando uma falsa religião. A Pessoa sem gênero. quase com toda certeza. disfarçados. mas ainda é um Pai. ainda está antropomórfica demais para alguns. tão simples que se torna difícil acreditar que possa funcionar. Que bela tela de proteção é propiciada por esse vírus . não uma Mãe ou uma Força sem gênero.lhe as costas! Não ouça! E uma armadilha! O que é particularmente engenhoso nesse truque é que ele é um perfeito "coringa". com certeza incluiria uma versão dessa pequena jóia . ou Yahweh. Se você persistir. quanto mais razoável for a pessoa. Uma das mais eficazes é também uma das mais transparentes: a velha mentira diabólica . ser ciumento e raivoso. credo ou conspiração pode usá-lo com eficácia.permitindo que. seu bobo. maior certeza você pode ter de que está falando com Satanás disfarçado! Dê. O Senhor original do Novo Testamento é mais complacente e amoroso. mortais finitos. do Velho Testamento era bem claramente um super -homem (um Ele. Células comunistas podem ser avisadas de que quaisquer críticas que tenham de enfrentar são quase certamente obra de membros do fbi infiltrados. mas cai. que preferem falar de um Poder mais Alto (a essência de Stark). (Mágicos noviços muitas vezes devem se insensibilizar para executar os truques pela primeira vez em público .mas teria dificuldade em dizer isso com a cara séria: Se qualquer pessoa alguma vez levantar questões ou objeções que você não consiga responder a respeito da nossa religião. e quando o ceticismo fica mais ameaçador. que não obstante atende às preces em tempo real (o ser consciente sobrenatural de Stark). sem um corpo. seu ignorante.

não é DNA (os vitalistas simplesmente não tinham a concepção certa dele. Esse impositor de lealdade de múltiplo uso é paranóia em pílula. Esse honesto exercício intelectual arranha a coceira cética daquelas poucas pessoas que não se sentem confortáveis com os credos que lhes foram ensinados quando crianças. agregando-se a qualquer meme que estivesse competindo por hospedeiros na vizinhança? Ninguém sabe. "o Todo-Poderoso". não tente substituir a palavra "Deus" ("Jeová".embora. Desse modo. elas realmente não concordam a respeito de coisa alguma.falocêntrica. ou será um meme selvagem que se domesticou. não é? O problema não é novo. existe alguma coisa "a respeito da qual podemos concordar" . até certo ponto. e Desi acredita que pode morrer pelo rock (música). sua virulência possa diminuir à medida que as pessoas começarem a reconhecê-lo pelo seu valor real. e daí por diante. Será que alguém inventou essa adaptação brilhante. "Teos". seja lá que outras reformas você possa querer instituir. "God". um remédio certo para manter os críticos abafados.todos acreditamos em Deus. mas não há nada de misterioso no processo de transformação. Se Lucy acredita que pode morrer por Rock (Hudson). "Nosso Senhor". (Uma reação mais suave e construtiva ao incansável ceticismo é a vigorosa indústria acadêmica da discussão e pesquisa teológica.) Declara-se que as diversas concepções de Deus estão rodeadas de mistério. se este livro tiver algum sucesso. nem insistimos em encontrar alguma coisa na física ou na química contemporânea que possamos identificar como flogístico. que muito respeitosamente pergunta sobre as interpretações possíveis de diversos credos. Durante milhares de anos. e é desconsiderado por todos os demais. "Alá") quando remendar sua religião. que está claro para todos nós e tem sido descrito (e muitas vezes desacreditado) por gerações de supostos intendentes dessa importante idéia. intelectualizados. mas agora está disponível para o uso de qualquer um . todos mais ou menos em pacífica coexistência na cabeça dos "crentes".6 No início era o Verbo. mas sabiam que devia haver alguma coisa). a Palavra. eram antropomórficos demais: Para qualquer pessoa que pense na questão com justiça. Por que os intendentes simplesmente não cunham termos novos para as concepções revisadas e largam os termos tradicionais junto com as concepções descartadas? Afinal de contas. Como todo mundo chama sua versão de "Deus". se não silentes. não persistimos na terminologia médica fora de moda de humores e apoplexia. inconscientemente espalhada por um trouxa que sofreu lavagem cerebral do patriarcado malvado. Hume tinha decidido que "nossa idéia da divindade" mudou tanto que os deuses da Antigüidade simplesmente não contavam. Por que as pessoas insistem em chamar de "Deus" o Poder mais alto no qual acreditam? A resposta está clara: os que acreditam na crença de Deus avaliaram que a continuidade em professar exige continuidade na nomenclatura. que fidelidade à marca é um aspecto tão valioso que seria bobagem mexer com ela. pode parecer que os deuses de todos os politeístas não são melhores que os elfos e fadas dos nossos . Ninguém propôs que tenhamos descoberto a identidade do élan vital (o ingrediente secreto que distingue as coisas vivas da mera matéria). Já no século XVIII. A maioria das pessoas não sente necessidade de examinar os detalhes das proposições religiosas que professam. aproximadamente. mantivemos uma multiplicidade de conceitos de Deus de diversos modos desantropomorfizados. Devo dizer que isso funcionou bastante bem. não somos ateus! Mas é claro que não funciona assim tão bem.

. saberíamos exatamente que tópicos ainda . que literalmente arranca uma costela de Adão e fecha a carne (com os dedos. Why christianity must change orâie. tudo bem rir disso. não há Deus. Afinal. Pense em todas as histórias em quadrinhos que representam Deus como um sujeito severo. Esses pretensos estudiosos da religião são na verdade uma espécie de ateus supersticiosos. 1 (também 53. Esse tesouro de humor provoca risadas sinceras de todo mundo. Possêidon e Apoio.1)] A crença na crença em Deus faz com que as pessoas relutem em reconhecer o óbvio: que muito da sabedoria popular tradicional a respeito de Deus não merece mais crença que a sabedoria popular a respeito de Papai Noel ou da Mulher Maravilha. Thor e Wotan.ancestrais. [p. porque as pessoas já vêem a frase final da piada: [. para não falar das piadas. e tomando a direção oposta. Richard Dawkins (2003a) oferece alguns conselhos bem fundamentados . cujo Deus não era suficientemente antropomórfico. Alguns de nós só estamos a um deus adiante. 2. declara que a crucificação é uma "barbaridade" e opina que o Deus dos cristãos mais tradicionais é um ogro. 21. nós. Mithras e Ammon Ra. Spong desconsidera a divindade de Jesus. ele achou melhor que os mórmons não acreditassem em Deus! Por que ele não dizia isso de seu púlpito? Porque não quer ficar mal. o bispo episcopal de Newark. DEUS COMO OBJETO INTENCIONAL Disse o insensato no seu coração. mas poucos se sentem confortáveis em reconhecer como nos afastamos do Deus do Gênesis 2. e não ia dar certo perturbar a frágil ficção de que "não somos ateus" (Deus nos livre!).] teístas modernos podem reconhecer que. quando descobriu no que alguns mórmons tinham fé quando diziam que acreditavam em Deus. sujas e limpas. e merecem igualmente pouca adoração ou veneração piedosa. quando se trata de Baal e do Bezerro de Ouro. há muitas pessoas más e "sem Deus" por aí. Se os teístas fizessem o favor de fazer uma lista resumida de todos os conceitos de Deus a que eles renunciam como tolice antes de continuar. 150] O problema é que. Todos somos ateus em relação à maior parte dos deuses em que a humanidade já acreditou. a respeito das diversas pessoas que chegam ao céu e têm uma desventura ou outra. (1777. as discussões sobre a existência de Deus tendem a acontecer numa bruma piedosa de limites indeterminados. Outro eminente clérigo episcopal confiou uma vez para mim que. Em O ca-pelão do diaho. Stark e Finke (2000) expressaram consternação quanto às opiniões "ateísticas de John Shelby Spong. como esse conselho não será considerado. p.mas já sabe de antemão que não serão considerados. [Salmos 14. Em seu livro de 1998. Nenhum primeiro princípio de mente ou pensamento: nenhum governo ou administrador supremo: Nenhum plano ou intenção divino no tecido do mundo. sentado em uma nuvem com uma pilha de raios a seu lado. e não reconhecem qualquer ser que corresponda à nossa idéia de uma divindade. Curiosamente. com exceção dos puritanos mais conservadores. eles são mesmo ateus. ateus. barbado. 33) Mais recentemente. imagina-se) antes de esculpir Eva ali mesmo..

a resposta é óbvia: não. eu assisti a um programa de notícias na BBC no qual crianças do jardim-de-infância foram entrevistadas a respeito da rainha Elizabeth n. e a rainha Elizabeth n em quem o pessoal do Castelo de Windsor acredita. eu acho. Se você quer dizer pessoas. Acredito que essas bruxas possam lançar feitiços? Sim e não. o objeto intencional trazido à existência (como uma abstração) pelas convicções consensuais dessas crianças. Esse padrão duplo é possibilitado. tanto homens como mulheres. E como depende! Há cerca de quarenta anos. acredito em bruxas. é falso que o presidente Truman tivesse alguma vez sido dono de Pégaso e nele cavalgado desde o Missouri até a Casa Branca. por uma confusão lógica que continua a desafiar a resolução dos filósofos que trabalharam nele: o problema dos objetos intencionais. do mesmo modo como não acredito no Coelhinho da Páscoa ou na Fada Madrinha. então. Se você quer dizer mulheres más que lançam feitiços e voam sobrenaturalmente em vassouras. na Inglaterra. Algumas pessoas podem ter a falsa impressão de que Sherlock Holmes realmente existiu. Em um sentido ou outro. (Se eu lançar um mau-olhado em você. os teístas em geral se recusam a fazer isso.seus catálogos das coisas que existem . e de que as histórias de Conan Doyle não são ficção. não porque eu tenho poderes mágicos). e. a resposta é igualmente óbvia: sim. Essa rainha Elizabeth 11. se não permitido.estão valendo. tudo depende do que você quer dizer. duas entidades distintas. que praticam a Wicca. esperando alterar o mundo de diversos modos sobrenaturais. embora possam por esse meio modificar suas próprias atitudes e seus comportamentos.sem chegar a um consenso. é porque você é crédulo. a mulher real e a rainha imaginária. e em geral se comportava como um cruzamento entre a mamãe e a Rainha de Copas. Outro bretão eminente é Sherlock Holmes. E verdade que Pégaso tinha asas. E uma força política muito mais forte! Existem. e daí por diante? Os filósofos discutiram vigorosamente por quase um século a respeito de como acomodar esses objetos intencionais em suas ontologias . lealdade e relutância em ofender alguém "do lado deles".a rainha Elizabeth 11 em quem os adolescentes na Escócia acreditam. era muito mais interessante e divertida que a mulher real. Mas. os objetos intencionais são as coisas a respeito das quais alguém pode pensar. elas não são mais sobrenaturais do que as "bandeirantes" ou os rotarianos. por uma mistura de cuidado. sentava-se no trono enquanto assistia televisão.8 Em uma expressão (que se mostrará insatisfatória. Eu acredito em bruxas? Depende do que você quer dizer. e que usam chapéus pretos pontudos. embora nunca tenha existido. Mas é claro que nem Sherlock Holmes nem Pégaso são ou foram reais. você pode ficar seriamente amedrontado a ponto de cair seriamente doente. 9 Então. como logo veremos). se for assim. mas estão erradas em achar que conseguem. mas se isso acontecer. O que sabiam elas da rainha? As respostas foram encantadoras: a rainha usava coroa enquanto "pairava" por cima do Palácio de Buckingham. Elas proferem sinceramente imprecações de vários tipos. será que não existem bilhões de entidades diferentes . em quem se pensa freqüentemente. um culto popular da Nova Era de hoje. há tanto verdade como falsidade a respeito desses objetos (meramente) intencionais: é verdade que Sherlock Holmes (o objeto intencional criado por sir Arthur Conan Doyle) morava em Baker Street e fumava. Essas pessoas acreditam em Sherlock Holmes . e a minha rainha Elizabeth n.7 Não ponha todos os ovos na mesma cesta. eu não acredito em bruxas. é falso que ele tivesse um nariz verde-vivo. além de quatro patas de cavalo normais.

nas" no mundo) se deliciam em saber qual o trem que Holmes tomou em Paddington no dia 12 de maio. Outras. o estripa. mas essa é uma possibilidade pouco provável. o estripador era um assassino real poderia naturalmente supor que os Baker Street Irregulars investigam uma personalidade histórica. sem jamais cometer o engano de confundir fato com ficção. esta. dando às pessoas um objeto intencional representado pelo pensamento delas e pelas decisões que podem tomar. no final. Nem sempre. conhecidas como "sherloquianas". de modo que em geral podemos desconsiderar a distinção lógica entre um objeto intencional (o objeto da crença) e a coisa no mundo que inspirou / causou / baseou / ancorou a crença. o planeta Vênus. Suponha que você venha há meses me fazendo subrepticiamente boas ações. Eu não posso odiar o meu rival ou amar o meu próximo sem ter um conjunto bastante claro e amplamente acurado de crenças que sirvam para escolher essa pessoa em meio à multidão. mas sabem muito bem que não há como ter certeza se ele se sentou virado para a frente ou para o final do trem.dor. Eles se comportam muito como os estudiosos amadores que dedicam seu tempo livre a tentar descobrir quem era Jack. "elas" são uma e a mesma coisa . Um planeta. ou. e são ávidos por explicar por que seu amor por Holmes se justifica mais que o amor de outros fãs por Perry Mason ou Batman. como a rainha Elizabeth 11. ao passo que Jack. surgem problemas para descrever a situação. A mais famosa sociedade desses estudiosos é a Baker Street Irregulars. Eles sabem que Holmes é um personagem fictício. mas também ocorrem outros cenários. como as pessoas que gastam fortunas caçando o Monstro do Lago Ness ou o Abominável Homem das Neves. as coisas que têm importância na vida de uma pessoa aparecem nela como objetos intencionais. Eu posso perambular à toa. trazendo "boa sorte". e um observador que não saiba que as histórias de Sherlock Holmes são ficção. Sempre que uma pessoa real.no sentido forte (digamos). mas no entanto dedicam grande parte da vida a estudá-lo.belecendo-se uma variedade de crenças. "Elas" não são estrelas. não é de surpreender que tal coisa (se for correto. seguir e interagir efetivamente com ele ou ela. de modo que eu possa reconhecer. mesmo quando elas sabem muito bem que ele não é real. domina a vida das pessoas. chamar mesmo isso de um tipo de coisa) possa dominar a vida das pessoas que acreditam nelas no sentido forte. dedicam seu tempo a estudar Sherlock Holmes e conseguem se divertir com seus conhecimentos enciclopédicos do cânon de Conan Doyle. e acreditamos nas coisas que são reais. esse domínio é em geral efetuado indiretamente. É bem possível que um objeto meramente intencional como Sherlock Holmes consiga obcecar as pessoas. quando é realmente a você que eu deveria agradecer. coisa ou até uma força na sua vida. batizada em homenagem a uma gangue de garotos de rua que Holmes usou para diversos objetivos ao longo dos anos. já que Conan Doyle não especificou isso nem qualquer coisa de que se pudesse deduzir. sem importar se são identificadas ou interpretadas de modo errado. as coisas em que acreditamos são perfeitamente reais. alternativamente. sem que você sequer suspeite que eu exista como uma pessoa. Por acaso a estrela da manhã não é outra senão a estrela da tarde. Em geral. atrapalhando seus projetos. Portanto. Os integrantes dessas sociedades (porque há muitas sociedades "sherloquia. a situação estaria mal interpretada se eu disser que acredito em você e a .ou seja. Quando ocorre uma interpretação errada. Se eu "agradecer à minha boa estrela". dois objetos intencionais? Em geral as coisas que têm importância para nós se tornam certamente por nós conhecidas de uma variedade de modos que nos permita segui-las em suas trajetórias. Na maior parte das circunstâncias. Acreditam em um Sherlock Holmes no sentido fraco (digamos). dominando sua vida de um jeito ou de outro.

Nesse caso. em vez disso. mas que não era você . grandes e pequenas. p. o "nome" de seja lá quem for (ou seja lá o quê) responsável por. aos poucos. Quando as pessoas escrevem livros sobre a "história de Deus" (Armstrong. comece a suspeitar que fui um ignorante e estava enganado. quando eu falo de "minhas boas estrelas" estou pensando exatamente na mesma coisa que quando agradeço a "Cameron Diaz . e me maravilhasse com a generosidade dela. 2001.e você realmente passa a ser a minha Cameron Diaz. algumas sílabas já não mais teriam seu uso ou significado original.lowe seja Shakespeare etc.) Essa ambigüidade tem sido explorada desde que o salmista cantou o insensato. supostamente um nome próprio de um indivíduo real. A estrela da manhã passa a ser a estrela da tarde. Esse levantamento histórico pode ser neutro sob dois aspectos: pode ser neutro sobre qual conceito de Deus é correto (foi Shakespeare ou Marlowe que escreveu Hamlet'.). já passou a significar quem quer que seja o responsável pela minha alegria. elas estão na verdade escrevendo a respeito da história do conceito de Deus. seja lá pelo que sou grato. a ser identificado com você. então Deus pode passar a ser o processo da evolução por seleção natural. que não há a quem agradecer -. O que poderia ser mais óbvio? [2001.3).dizendo. 2004. mas é nisso que acredito.gradual e imperceptivelmente . Mas. se o termo fosse verdadeiramente aberto desse jeito. e pode ser neutro sobre se o empreendimento todo trata de fato ou de ficção (somos os Baker Street Irregulars ou estamos tentando identificar um assassino real?). mesmo que você fosse de fato a pessoa que me dirigiu as ações pelas quais eu sou tão grato.foi construída em nome de Um Deus Verdadeiro. Talvez eu seja um bobo ao dizer no meu íntimo que é apenas à minha boa estrela que eu deveria agradecer . (Alguém escreveu. de modo que ele é tão ignorante quanto alguém que acha que Shakespeare não escreveu realmente Hamlet.tanto triunfos como desastres . não há objeto intencional. teriam se transformado . Stark. certamente seria enganoso dizer que você era o objeto da minha gratidão. e pensasse amorosamente nela. neste caso.a não ser que acontecesse alguma outra coisa nesse ínterim. pelo menos do ponto de vista sociológico. As sílabas "Cameron Diaz".em um tipo de expressão de referência coringa..se "Deus" fosse só o nome de seja lá o que for que produziu todas as criaturas. Não seria estranho dizer assim: "Agora eu entendo: você é a Cameron Diaz!". seria falso . Seria realmente muito estranho. que eu esteja convencido de que tinha um ajudante secreto.você sou grato. E suponhamos que eu. então. são exemplos recentes).era a Cameron Diaz. Shakespeare é o autor de Hamlet. e eu planejo mostrar que. Rodney Stark começa One True God: Historical Conse..quences of Monotheism com uma passagem que marca sua ambigüidade: "Todos os grandes monoteísmos propõem que o Deus deles funciona ao longo da história. 1993. traçando as modas e controvérsias a respeito de Deus como um objeto intencional através dos séculos. Suponhamos. e por fim chegue a me dar conta corretamente de que você era realmente o destinatário adequado da minha gratidão. então talvez Mar. é claro. em outras palavras. para eles e para mim. O insensato não sabe do que está falando quando diz que em seu coração não há Deus. 1] . eles têm muita razão: que uma grande parte da história . Enquanto eu escrevesse meus bilhetes de agradecimentos a ela. (Como transformar um ateu em um teísta apenas brincando com as palavras . Debray. por definição. Suponhamos que os meus conhecidos já estejam tão acostumados a me ouvir cantar louvores a Cameron Diaz e a seus atos generosos que o termo. se.

pode-se acrescentar. Pessoas morreram por suas teorias. (O ateísmo. afinal.O título do livro sugere que ele não é neutro . e é insincero da parte de Stark esconder-se por trás da ambigüidade. não há uma maneira direta de atravessar o nevoeiro do mal-entendido para chegar a um consenso a respeito do tema em questão. Note que eles não acreditam na crença em Deus! Eles são sofisticados demais para isso. como os Baker Street Irregulars contra o Fã-Clube do Perry Mason. Eu mesmo acredito que o conceito exista . é a negação do teísmo. Por definição. A história da discordância nem sempre foi um bom divertimento limpo. refira-se o conceito ou não a alguma coisa real? Afinal de contas. Se Deus não é algum tipo de entidade sobrenatural. As brumas da incompreensão e da falha de comunicação não são apenas impedimentos aborrecidos para a refutação rigorosa. talvez.esses casos são fáceis e podem ser bem prontamente classificados com alguma atenção aos detalhes. Pégaso. que não acreditam na crença em Sherlock Holmes. poderíamos pensar. além disso. E há motivos interessantes para que as pessoas resistam a que lhes impinjam uma definição específica de Deus (mesmo se for para o bem da discussão). até mesmo obrigatório. mas o livro inteiro está escrito "sociologicamente" -. Mas eles não acreditam em Deus no sentido forte. lutar por um conceito. mas isso não diz nada a respeito de se Deus existe. Stark pode ser neutro. afinal. Eles pensam que o conceito deles de Deus é tão melhor que outros conceitos de Deus que deveriam se dedicar a difundir a Palavra. 2004). por outro lado. do jeito como ele vê. que o conceito é digno de se brigar por ele.) Mas há pouca esperança de se conduzir uma investigação efetiva sobre a questão de se Deus existe quando há teístas autodenominados que "acham que propiciar uma ética teística satisfatória exige abrir mão da idéia de que Deus é algum tipo de entidade sobrenatural" (Ellis. Fica de fato óbvio que Deus. o Deus dos judeus. é a respeito de objetos intencionais que fazem toda a condução política e psicológica. bruxas voando em cabos de vassouras . 3. o Deus dos católicos. o que quer dizer que não é a respeito de Deus. na corrida pela glorificação competitiva? Acho que algumas pessoas que se consideram crentes na verdade acreditam apenas no conceito de Deus. então quem saberá se você ou eu acreditamos nele (nisso)? Crenças em Sherlock Holmes. o objeto intencional.um Deus verdadeiro -. elas mesmas são características de projeto de religiões que vale a pena examinar.como Stark diz. eles são como os Baker Street Irregulars. o que poderia ser mais óbvio? Essas pessoas acreditam. a guerra religiosa é patética: "Vocês estão basicamente se matando uns aos outros para ver quem tem o melhor amigo imaginário". Quando se trata de Deus. Qual é a opinião de Stark a esse respeito? E qual é a sua? Pode ser certo. não. o Deus dos adolescentes que moram na Escócia. representou um papel poderoso. A DIVISÃO DE TRABALHO DOXASTO . a luta não nos trouxe uma riqueza de grande arte e literatura. os teístas acreditam em Deus. mas o comediante Rich Jeni. mas apenas em estudar e exaltar as histórias.

contratamos a doxologia . v e õ l ür. transmitir..para mostrar como tenho certeza de sua veracidade. Os problemas que surgem dessas "idéias-meio-entendidas" são exacerbados. [William James. leigos. agradecidos. de sua teoria da relatividade.mas não o suficiente! .10 A diferença para mim entre (i) e (2) é que sei um bocado . Mas apenas uma fração minúscula desses que sabem que "e = mc2" é uma verdade fundamental da física realmente a entendem de algum modo substantivo. a responsabilidade de entender a fórmula. está a suprema divisão de trabalho.Finja até conseguir. nesses casos. O que estamos fazendo. ou difícil. no caso de doutrinas religiosas. de uma mente que acredita com toda a sua força na presença real de um conjunto de coisas sobre nenhuma das quais ela consegue formar qualquer idéia. não é realmente acreditar na proposição. Eu simplesmente não sei que proposição essa sentença expressa. Mas como digo. porque pedi a um colega turco em quem eu confio que me desse uma frase verdadeira exatamente com esse objetivo. tornado possível por uma linguagem: nós. como especialistas nas doutrinas que lhes pedem para elucidar. eles mesmos.. O que fazemos é acreditar que. não sei se (i) é a respeito de árvores. Por sorte. Para isso. e poderíamos até montar as relações algébricas básicas e detectar erros evidentes de interpretação. Eu apostaria muito dinheiro na verdade dessa sentença . você teria de entender a proposição. Aqui vai uma frase que eu acredito firmemente ser verdadeira: (1) H e r i ns a n d o ga r. ou história. e o núcleo. Muitos de nós sabemos o que e em e c querem dizer. Todos nós sabemos que essa é a grande equação de Einstein. seja lá qual for a proposição expressada pela fórmula "e = mc1". ela é verdadeira. de algum modo. ou pessoas. a divisão do trabalho doxasto. mas são tão freqüentemente encontrados na ciência como na religião. Aqui. temos físicos especialistas em torno de nós aos quais delegamos. porque eu não sou "especialista" em turco. pode-se dizer. ya s a r. o resto de nós não tem de entender.e delegamos a compreensão desses dogmas aos especialistas! Pense na suprema fórmula talismânica da ciência: (2) e = m c2 Você acredita que e = mc2? Eu acredito. As variedades de experiência religiosa] A linguagem nos dá muitos presentes. ou improvável ou embaraçador a respeito do meu estado de espírito. ou química. No capítulo 7 observei os problemas metodológicos que os arqueólogos decididos a entender outras culturas enfrentam e sugeri que parte do problema é que os informantes individuais podem não se ver. [Alcoólicos Anônimos] Então temos um fenômeno estranho. Não tenho a mais remota idéia do que (i) signifique. acreditamos . mas sei que é verdadeiro. No espaço infinito de todas as proposições possíveis. posso afunilar seu . Não há nada metafisicamente peculiar. ou Deus. inclusive a capacidade de decorar. como Kant nos garante. acalentar e em geral proteger fórmulas que não compreendemos.a respeito do que (2) trata.

a questão é se a teoria fornece predições que concordam com a experiência. 7). Até mesmo os cientistas.. descrevendo os métodos para calcular amplitudes de probabilidade em termos que deliberadamente desencorajam o entendimento ."Vocês vão ter de se segurar para isso . mas essa redução gradual não nos leva muito longe. meus alunos de física também não entendem. que vou incomodá-los com tudo isso? Por que vocês vão ficar sentados aqui esse tempo todo. [. ou fácil de entender. não se desliguem só porque vocês não conseguem acreditar que a natureza seja tão estranha. quando não conseguirão entender o que vou dizer? É meu dever convencê-los a não se afastarem porque não entendem. De (1). infinitamente.] É um problema com o qual os físicos aprenderam a lidar: eles aprenderam a se dar conta de que não interessa se eles gostam ou não de uma teoria. Eis com que delicadeza a eletrodi.) Retirei um exemplo da ciência para mostrar que esse não é um defeito constrangedor só da crença religiosa.. se baseiam todos os dias em fórmulas que eles sabem que estão corretas.tanto teórica como experimentalmente" (p. e espero que vocês fiquem tão encantados quanto eu quando acabarmos. vocês não vão conseguir entender. fazendo com que eu endossasse uma paráfrase quase certa que revelaria a minha ignorância (é isso que os exames de múltipla escolha realmente difíceis podem fazer. esta não é a questão essencial. Um exemplo vivo pode ser encontrado nas clássicas aulas introdutórias de Richard Feynman sobre eletrodinâmica quântica. Ouçam-me.. E algumas vezes até promovem a separação entre o entendimento e a memorização. mas ainda deixando. no entanto. Isso é porque eu não entendo. apenas.não porque seja difícil de entender. na qual ele divertidamente incentiva a platéia a se soltar e não tentar entender seu método de ensino: Então agora vocês já sabem do que eu vou falar. Ninguém entende. QED: The strange theory of light and matter (1985).. muitas proposições indistinguíveis por mim como sua melhor interpretação. 9-10] Ele continua. ela seria exata até a espessura de um fio de cabelo humano.] Por favor.e pronto!" (p.soficamente encantadora.cortando pela metade o espaço infinito de proposições. 24) -. separando os alunos que de fato entendem a matéria daqueles que a que entendem pela metade). é alguma coisa do tipo: se você tivesse de medir a distância de Los Angeles até Nova York a esse ponto de exatidão. sido examinada .. então. mas que eles próprios não são especialistas em interpretar. ou perfeitamente razoável do ponto de vista do bom senso. Não é uma questão de se a teoria é filo.. (Posso adivinhar que provavelmente não é a respeito de como os Red Sox ganharam dos Yankees quatro vezes seguidas para ganhar a American League Championship em outubro de 2004. mas defende isso porque os resultados rendidos pelos métodos são tão impressionantemente exatos: "Para dar a vocês um sentimento da exatidão desses números. Vocês sabem. tudo o que sei é que expressa uma proposição verdadeira . E essa é a diferença mais importante entre a divisão de trabalho na religião e na ciência: . mas porque é absolutamente ridículo: tudo o que temos de fazer é desenhar setinhas em um pedaço de papel . Não. [. [pp. Por que será.significado a um grupamento bastante estrito de variantes quase idênticas.nâmica quântica tem. Ao contrário. Um físico provavelmente poderia me provocar um tropeço. nos últimos cinqüenta anos. A pergunta seguinte é: será que vocês vão entender o que eu vou dizer a vocês?.

E perfeitamente possível ser ateu e acreditar na crença em Deus. jornais e daí por diante. e ficam satisfeitas porque acham que Deus é a coisa mais maravilhosa que há. É um fracasso. e a crença em Deus tem sido um dos ideais mais dignos de mérito para muita gente. elas mesmas. é muito ruim quando as pessoas estão enganadas ou são mal informadas ou ignorantes. Temos todos ideais pelos quais medimos as crenças que descobrimos em nós mesmos. Em geral. Essas questões são misteriosas para todo mundo. ou perderam seu amor pela democracia. É por isso que temos campanhas de instrução. Há exceções . e as proposições em questão são. ceder a responsabilidade de lidar com as proposições (e portanto. e sempre que acham que sua própria crença em Deus está falhando. se você acredita em alguma proposição. É apenas porque estou confiante de que os especialistas realmente entendem as fórmulas que posso. no entanto. Em geral. Qual é a diferença? As pessoas que acreditam em Deus têm certeza de que Deus existe. consideradas sistematicamente obscuras. informação pública.) Há pessoas que de repente acordam para o fato de que são racistas. Essa pessoa não acredita em Deus. honesta e calmamente. se pudesse ser providenciado.man. As pessoas que acreditam na crença em Deus tentam fazer com que outros acreditem em Deus. deve-se até sentir-se culpado. peritos e leigos. Há uma insistência sobre a incompreensibilidade fundamental de Deus. o mundo seria um lugar melhor se as pessoas compartilhassem mais das verdades e acreditassem menos nas falsidades. entendê-las) a eles. As pessoas que ainda mais acreditam na crença em Deus têm certeza de que a crença em Deus existe (e quem duvidaria disso?). algo a ser fortemente encorajado e promovido sempre que possível: se pelo menos a crença em Deus fosse mais disseminada! Deve-se acreditar em Deus. ou sexistas. você acredita também que qualquer um que não acredite nela está enganado. mas acontece. Eu pensaria nisso como algum daqueles pequenos segredos ruins a meu respeito que gostaria que não existissem e dos quais ficaria contente se ninguém viesse a saber! Poderia adotar medidas para me curar desse inchaço canhestro em minha ontologia no mais impecavelmente astuta e racional. Na religião. durante muito tempo. Muitas pessoas acreditam na crença em Deus. E raro. Embora possamos acompanhar os especialistas quando eles nos aconselham sobre em que sentenças dizer que acreditamos. cheio de desculpas. eles também insistem que eles mesmos não podem usar sua perícia para provar .apesar da peculiar negação hipermodesta de Feyn.segredos . incompleto. os especialistas não estão exagerando quando dizem que não entendem aquilo de que falam. Por que alguém aceita isso? A resposta é evidente: crença na crença. Eles não acreditam em sua própria crença! (Se eu achasse que acredito em poltergeists ou no Monstro do Lago Ness eu ficaria. Muitas pessoas acreditam em Deus. mas mesmo assim acha que acreditar em Deus seria um estado de espírito maravilhoso. Nenhum de nós quer revelar essas coisas sobre si mesmo.não tudo.que sabem do que estão falando. quando se acha que simplesmente não se acredita em Deus. fazem o que podem para restaurá-la. mas o suficiente para explicar uns aos outros e a eles mesmos por que os resultados espantosamente acurados saem deles. No todo. constrangido. como um dogma central da fé. os especialistas entendem sim os métodos que usam . e acham que isso é bom.mesmo uns para os outros . mas é possível que as pessoas acreditem em alguma coisa ao mesmo tempo que lamentam sua crença nessa coisa. bem. Deve-se ficar inquieto. Deve-se tentar acreditar em Deus.

de Peter De Vries] A Igreja Militante e a Igreja Triunfante se tornaram a Igreja Social e a IgrejaBizarra. há na realidade mais gente no mundo que acredita na crença em Deus do que aqueles que acreditam em Deus. então eles iriam marcar a .estratégicos. O MÍNIMO DENOMINADOR COMUM? Deus é tão grande que a grandeza exclui a existência. parece que poderíamos simplesmente dar às pessoas um questionário com uma questão de múltipla escolha: E u c r e i o e m D e u s :S i m _ _ _ N ã o _ _ _ N ã o s e i _ _ _ Ou a questão seria: D e us e xi s t e : S i m_ _ _ N ã o _ _ _ N ã o s e i _ _ _ Será que o modo como formulamos as questões faria alguma diferença? (Comecei a fazer pesquisas exatamente com essas questões. de suas crenças religiosas. por exemplo. The Silence of God] A prova final da onipotência de Deus é que ele não precisa existir para nos salvar. [Raimundo Panikkar. [Sermão do hiperliberal reverendo Mackerel. Muito mais gente acredita na crença em Deus! (Podemos ter bastante certeza de que. e os resultados são tentadores. os próprios comportamentos que seriam evidências claras da crença em Deus são também comportamentos que seriam evidências claras de (apenas) crença na crença em Deus. 1960] Muita gente acredita em Deus. especialmente seus próprios filhos.aí incluídos incontáveis sermões e homílias . a darem-se as mãos e recitarem o credo. repetidamente. [Robert Benson. mas há uma questão desconcertante: entre todas as pessoas que acreditam na crença em Deus. Se aqueles que têm dúvidas tiverem sido arregimentados pela sua Igreja para declarar sua crença nas dúvidas. mas o padrão geral é que as pessoas não só acreditem. Acabamos de ver que nosso conceito de crença admite que haja uma diferença empírica entre esses dois estados de espírito. 4. os casos em que acredito em alguma coisa e fico grato por ninguém mais compartilhar da minha crença. a dizerem as palavras com o máximo de convicção possível. mas tentem persuadir os outros. Por quê? A primeira vista. na esperança de acender a convicção.) O principal problema com uma abordagem tão simples é óbvio.) A literatura mundial . a fazerem todas as coisas que um crente faz.está cheia de histórias de pessoas devastadas pela dúvida à espera de recuperar sua crença em Deus. já que quase todo mundo que acredita em Deus também acredita na crença em Deus. mas ainda não suficientemente confirmados para que eu os publique. Algumas crenças religiosas podem consistir em segredos privados. comunicação pessoal. herói de The Mackerel Plaza. a rezarem várias vezes por dia em público. Dado o modo pelo qual conceitos e práticas religiosas foram projetados. que percentagem (aproximadamente) também realmente acredita em Deus? A investigação dessa questão empírica é extremamente difícil.

você mesmo. Você não está tão perdido como eu com relação a (1): você terá estudado e provavelmente até decorado as fórmulas oficiais.na: "Essas são pessoas que acreditam. a crença certa. em Deus. que. os memes irão sobreviver e florescer. E basta também . seu estado de espírito deve estar em algum lugar entre o meu estado de espírito em relação a (i) (a frase em turco) e o meu estado de espírito em relação a (2) (a fórmula de Einstein). Muitos norte. muitas vezes apaixonadamente. quando você olha para o seu íntimo. vivida.) Uma alternativa é estabelecer-se.resposta "sim" com avidez. e se contentam com a ortopraxia. e você acredita que essas fórmulas são verdadeiras (seja lá o que signifiquem). ao contrário da maneira como Wolf apresenta. De que Deus estamos falando? A menos que você seja um especialista e tenha certeza de estar entendendo as fórmulas que expressam oficialmente as proposições de seu credo. eles tornam a dúvida sincera uma virtude. você deve admitir.hoje em dia . Graças à divisão de trabalho.americanos se encontram nessa posição.tores sutis que estão quase certos.se é que há alguém! . Se você cai nessa categoria. o comportamento certo. que embora você possa muito bem ser um daqueles que acreditam na crença em Deus. simplesmente não sabe se você mesmo acredita em Deus. como sua própria autoridade: "Eu sei o que eu quero dizer quando pronuncio o credo. Mas você deve admitir que não é uma autoridade naquilo que elas significam. Em vez de criarem bolsões secretos de infectado ceticismo culpado. como Alan Wolfe observa em The Transformation of American Religion: How We Actually Live our Faith. A conclusão dele tem a intenção de ser tranqüilizadora: . 72).realmente acredita em Deus além de acreditar na crença em Deus. um convite à falta de sinceridade ou ilusão. expressada respeitosamente. que "tende a se preocupar mais com questões de substância teológica". Há muito tempo essa tem sido uma característica de algumas variedades do judaísmo: finja e não se importe em fazê-lo (como meu aluno Uriel Meshoulam me contou uma vez. Wolfe distingue nitidamente entre evangelismo e fundamentalismo. p. Desde que as fórmulas sejam transmitidas ao longo das eras. você não está realmente em uma boa posição para julgar se realmente acredita (apaixonadamente ou não) no Deus do seu credo particular. seu levantamento recente sobre o desenvolvimento da religião norte-america. Você pode achar que. mesmo quando não conseguem dizer muito para as outras pessoas sobre o Deus no qual elas crêem" (2003. se esforçam por dar a seus membros bastante espaço para interpretações pessoais das palavras que alegam serem santas.mente). mesmo que eles realmente não acreditem em Deus. Ao reconhecer que a própria idéia de mandar alguém acreditar em alguma coisa é aparentemente incoerente. em especial o florescente novo fenômeno da "megaigreja". o conceito de Deus do especialista daquele dos impos. de modo confiável. e isso me basta!". eles crêem ardorosamente na crença em Deus. Esse fato faz com que seja difícil dizer quem . a coisa é na realidade mais difícil do que isso. (E com quase toda a certeza você nunca fez um teste difícil de múltipla escolha para verificar se você pode distinguir. como Wolfe descreve com algum detalhe. Os líderes se deram conta de que a robustez da instituição da religião não depende nem um pouco da uniformidade da crença. Uma postura bem parecida foi recentemente adotada por muitas seitas cristãs evangélicas.para um número surpreendente de religiões organizadas. como você já pode ter calculado. ela depende da uniformidade em professá-la. muitas congregações judaicas rejeitam a exigência da ortodoxia. ou em algum outro Deus.

Embora não possa haver dúvidas de que o fenômeno que ele descreve existe.sua determinação em encontrar exatamente o que os crentes querem e oferecer a eles . 73] Não se pode negar os resultados desse conhecimento do mercado. Cada uma faz isso de maneira diferente" (p. Dá-se mais atenção a fornecer um espaço grande de estacionamento gratuito e cuidado com crianças do que a interpretação propriamente dita das passagens da Escritura. e eles revelaram que muitas vezes é difícil distinguir a revisão da tradição da rejeição direta. A Calvary Chapei do pastor Chuck Smith tem mais de seiscentas igrejas. ou "igrejidade" (p. Ele pode ter razão. uma volta de crenças religiosas fortes não devem ser enganados pelo crescimento rápido do evangelismo. portanto. "mas apenas 30% deles contribuem com o dízimo regularmente" (Sanneh. 35).interferir em seu exercício. concessões que ultrapassam de longe os sites da web e os programas de televisão de muitos milhões de dólares. De acordo com Wolfe. mas seu argumento para essa conclusão generalizada é esquemático e anedótico. 75).quanto às certezas da fé. ou a introdução de guitarras elétricas. 48). Incapaz de subir pela corda ou de se balançar até encontrar um local em que possa se apoiar . Seja lá qual for seu poder de permanência e os motivos para ela. tambores e PowerPoint em seus serviços. a popularidade do evangelismo se deve tanto aos seus anseios popularescos e democráticos . Creflo Dollar tem 25 mil associados. para os Estados Unidos.Mas aqueles que temem. trezentos metros acima de um desfiladeiro. o termo "santuário" foi afastado de uma Igreja "por causa de sua forte conotação religiosa" (p. como muitos evangélicos pelo país todo. 2003. Ele observa sem ironia algumas das concessões que estão dispostos a fazer à cultura secular contemporânea. vê-se dependurado na ponta de sua corda de segurança. dizem que a fé é tão importante para eles que não se deve deixar a "religião" . e não apenas um conjunto de observações. 50). [2003. De fato. p. 5. não importa quão sensíveis. o exemplo de uma religião com tal laissezfaire "não creditícia" contrasta vividamente com a eterna ênfase da Igreja Católica Apostólica Romana na doutrina. a questão de saber se serão aspectos permanentes da religião daqui por diante ou uma moda passageira demanda uma teoria que possa ser testada. CRENÇAS PLANEJADAS PARA SEREM PROFESSADAS Um alpinista que imprudentemente escala sozinho escorrega e cai em um precipício. muitas vezes de maneira inesperada. muitas delas com 10 mil devotos por semana (Wolfe. 36] Wolfe mostra que a abordagem franca de mercado de Stark e Finke não é de todo estranha aos próprios líderes religiosos. 28). "todas as Igrejas norte-americanas enfrentam o mesmo dilema: personalizar ou morrer. com doutrina . Por exemplo. 2004. Lars e Ann. Wolfe realizou muitas entrevistas de sondagem com seus informantes. [p. Foi cunhado um termo trocista por esses engenheiros meméticos para descrever a imagem que eles estão tentam arduamente apresentar: "churchianity". p. A World Changers Church do dr. Ao contrário.que eles associam com discórdia e divergência e. p.

transformando-o de novo em vinho comum.com segurança. Esse aspecto é mencionado sob a forma de narrativa em "Dominus Iesus: sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja". Muitas vezes esse documento especifica que os católicos fiéis devem "acreditar firmemente (grifos do original). "Sim. facilmente apagado pelo comportamento não-verbal que expressa . e ele não quer que você se masturbe. desesperado: "Alô. retirar o vinho do contexto sagrado certamente faria reverter a transubstanciação. pára e pensa. e pensa. se você acredita que a porta não está trancada. As expressões pouco sinceras são fáceis de dizer. eu posso ajudá-lo. Pegue sua faca e corte a corda!". De acordo com a velha máxima. alô! Será que alguém pode me ajudar?". que é mais ou menos o máximo de "força" a que uma ação consegue chegar. além disso. Existe de fato uma única ação que você pode adotar para demonstrar essa crença: pode dizer que acredita. se você acredita que ninguém o está observando -.na verdade. quando se medita sobre ela. você prontamente investe para dentro de um enxame de flechas mortais para chegar ao inimigo. é que as ações diferentes dos atos da fala são em geral melhor prova daquilo em que o ator realmente acredita do que quaisquer palavras que o autor possa proferir.proferir as expressões pouco sinceras é praticamente a única maneira que você tem de agir sobre essas crenças. ele grita. concretas. ainda por cima!) .) Mas o que poderia você fazer para mostrar que realmente o vinho no cálice foi transformando no sangue de Cristo? Você poderia apostar um monte de dinheiro nisso e enviar o vinho para o laboratório de biologia para ver se há hemoglobina nele (e recuperar o genoma de Jesus do DNA. e uma voz poderosa responde. você sacrifica o boi se quiser chuva. Se você acredita que o deus da tribo o fez invulnerável a flechas. Seria um sacrilégio retirar o vinho da cerimônia. Aí. daquelas que apresentam conseqüências muito claras. repetidamente. Se você realmente acredita que seu Deus o está observando. e.se você acredita que a arma está carregada. (Você não se masturbaria com sua mãe observando! Como poderia se masturbar com Deus observando-o? Você realmente acredita que Deus o está vendo? Talvez não. Se você realmente acredita que o deus da chuva não vai mandar a chuva a não ser que você lhe sacrifique um boi. Discursos também são ações. por exemplo. as nuvens se abrem. uma linda luz escoa de entre elas. meu filho. com tanto fervor quanto a ocasião exija. que os infiéis merecem a morte está adotando uma ação com efeitos potencialmente mortais. e uma pessoa que diga. não se masturbe. O alpinista pega a faca. mas em diversos pontos a declaração desvia a expressão idiomática e fala daquilo que "o fiel católico tem a obrigação de professar" . mas quando as conseqüências concretas de suas ações dependem de se você acredita em alguma coisa :. Se você realmente acredita que seu Deus vai salvá-lo. para aquelas com conseqüências sistematicamente fugidias . ratificada pelo papa João Paulo n em uma seção plenária em 16 de junho de 2000. corte a corda. mas isso na verdade não diz nada. uma declaração escrita pelo cardeal Ratzinger (que mais tarde foi eleito papa Bento xvi).só que o credo foi defendido de maneira inteligente contra esses testes concretos. trai .suas verdadeiras crenças. Eis um fato interessante: a transição da religião popular para a religião organizada é marcada por um desvio nas crenças. grita: "Será que há alguém mais que possa me ajudar?". O significado da máxima. a ação fala mais alto que as palavras. as expressões pouco sinceras são um dado ínfimo. Para seu espanto.

porque isso é o melhor que podem fazer.quando diferenciada de acreditar que alguma sentença expressa a verdade . A crença .. mas todos os fiéis) podem não entender ou acreditar naquilo que estão professando. sim. elas não bastam: você tem de acreditar firmemente naquilo que diz. É fácil e nada misterioso acreditar que. As proposições em que acreditar precisam ser desconcertantes! Como Rappaport apresentou de modo incisivo.(grifos do original). não. Então você deveria acreditar nisso. o mistério (mesmo que pareça que você não compreende). os professores religiosos (não apenas padres. muito simplesmente. 212). em algum sentido simbólico ou metafórico. o que você faz? A declaração do cardeal Ratzinger oferece alguma ajuda nesse ponto: "Fé é aceitação na graça da verdade revelada. mesmo que você não tenha caído nela. Embora sejam necessárias expressões pouco sinceras. gabar-me do que minha crença é tão forte que consigo açambarcar mentalmente um paradoxo maior do que você. mas ininteligíveis mesmo. As afirmações de um padre em quem se confia podem ser muito mais impositoras.. "Se for para os postulados serem inquestionáveis.] muitas crianças. se não pregar o Evangelho!" (i Coríntios 9.intuitivos. p. é muito fácil verificar sua exatidão. Se o fogo do inferno é o bastão. por acaso não compartilhar da crença na crença da doutrina em questão? E aqui que o ponto de vista do olho do meme pode propiciar alguma explicação. Eles estão apenas professando. e são obrigados a professar. Você não pode simplesmente se obrigar a acreditar em alguma coisa por tentativa. e até muitos adultos. A doutrina . é uma necessidade que recai sobre mim: ai de mim. Fides et Ratio. Afirmativas objetivas não têm graça. além do mais. por causa de seu próprio impacto psicológico profundo' (Dawkins. Mas você acredita nisso? É preciso fé. Dawkins notou esse problema e sua solução tradicional: "[.. Aquilo que é comumente referido como "crença religiosa" ou "convicção religiosa" pode ser menos enganoso se chamado de professar religião. p.. Como é possível obedecer a essa injunção? A declaração é voluntária. o mistério é a cenoura. p. de contradizer apenas uma ou duas das suposições-padrão de uma categoria básica. você pode avaliar a estratégia. acho o uso desse verbo irresistível. mas a crença. 165). acreditam que sofrerão tormentos horríveis depois da morte se não obedecerem às regras clericais [. Se você algum dia já recebeu uma carta-corrente que o avisava das coisas terríveis que aconteceriam se você não a passasse adiante. autoperpetuadora. Dawkins chamou a atenção para o que podemos chamar de inflação de atletismo de credos-. acreditar nisso deveria ajudá-lo a acreditar que você compreende. e daí a acreditar firmemente em seja lá o que você professe acreditar. Sendo eu mesmo professor. 1976. nada bate um paradoxo avidamente admitido. O cardeal Ratzinger cita a epístola de Paulo aos Coríntios: "pregar o Evangelho não é motivo para eu me vangloriar. Em sua discussão original dos memes. é importante que sejam incompreensíveis" (1979. Então. difícil de adquirir mesmo pelos especialistas nessas questões. 16). Por que ao menos tentar? E se você. o vinho eucarístico se transforma no sangue de Cristo. 13]". no sentido técnico de Boyer.] A idéia do fogo do inferno é. Não apenas contra. pessoalmente. Para uma proposição verdadeiramente impressionante e intrigante. E se você puder. Ao contrário dos professores acadêmicos. que faz com que seja possível penetrar no mistério de um jeito que nos permite compreendê-lo de forma coerente' [citando a encíclica de João Paulo 11.exige compreensão. Em um ensaio posterior.

21]" Há diversos motivos pelos quais essa inflação de incompreensibilidade pode ser uma adaptação que reforçaria a aptidão de um meme. O desconforto das pessoas com a pura incoerência é forte. é importante lembrar que nem todas as religiões têm uma sede para o conceito de qualquer coisa que sequer chegue perto disso. É uma verdadeira cauda de pavão de exibição extravagante. p. esta é sobretudo uma característica cristã. Essa é uma coisa difícil. como notamos recentemente. pp. Primeiro. citado em Dawkins. como acabamos de observar. Em uma época em que "iniciativas baseadas na fé" e outros usos semelhantes do termo tornaram "fé" quase sinônimo de "religião". a aparência de vinho que permanece é "meramente acidental". a incompreensibilidade desencoraja a paráfrase . pontuados de trechos de incompreensibilidade que causam perplexidade séria. 22] . como foi observado no capítulo 5. isso é um teste. A "substância inteira" do vinho é convertida no sangue de Cristo. deixando o hospedeiro sem outra escolha viável além da transmissão verbatim. Mas um atletismo semelhante é honrado na prática judaica. no entanto. "inerente a substância nenhuma". e a respeito da qual se desconcertarem deliciosamente. alguma coisa a ser ensaiada. Muito fácil. como é explicado por um rabino: O fato de que a maior parte das leis Kashrut (kosher) seja feita de ordens divinas sem motivos explicitados faz com que se atinja 100% o alvo. A única razão pela qual estou fazendo isso é porque me mandaram. como uma cadência musical não resolvida. e até da verdade^ de muitos de seus textos sagrados. [Dawkins. e ensaiada outra vez. 1995b. ("Eu não sei de verdade o que o papa João Paulo 11 quis dizer. 29 de julho de 1991. [The Guardian. mas posso falar a você que o que ele disse foi: 'Jesus é o Verbo Encarnado .") Dawkins observou uma extensão ou um refinamento dessa adaptação: "O meme para fé cega garante sua própria perpetuação pelo simples expediente inconsciente de desencorajar a indagação racional" (1976. Mas se Ele me diz para não tomar uma xícara de café com leite com carne moída e ervilhas no almoço. portanto há sempre elementos tentadores de narrativas que fazem sentido. ela tende a evocar espanto e a chamar atenção sobre si mesma. ou que eu esteja satisfazendo o Seu desejo. o meme para a fé não atrai muita atenção. Em uma vizinhança com poucos céticos. portanto tende a continuar latente nas mentes.que pode ser a morte da identidade do meme -. De fato. o judaísmo chegou mesmo a encorajar o debate intelectual vigoroso a respeito do significado.'2 Segundo. É um pouco mais difícil não roubar porque há ocasionalmente a tentação. Caudas de pavão são finalmente limitadas pela pura incapacidade física dos pavões de carregar caudas ainda maiores.Católica Romana da transubstanciação. e portanto. e a paradoxologia também acaba tendo de bater na parede. 1993. E muito fácil não assassinar pessoas. na cabeça de muitos (como na expressão "pessoas de todos os credos"). p. As anomalias dão ao cérebro hospedeiro algo a roer. 349). e os meméticos prediriam que alguma coisa como uma corrida de paradoxologia seria iniciada quando as religiões enfrentassem uma diminuição de devotos. De modo que não é grande prova da minha crença em Deus. e. p. A transubstanciação é coloquialmente ensinada como significando que o vinho se transforma "literalmente" no sangue de Cristo. 212-213). 1993.uma pessoa una e indivisível'. portanto é raramente reintroduzido na memosfera (Dennett. O meme para fé exibe aptidão dependente da freqüência: ela floresce particularmente na companhia dos memes racionalistas. exige mais.

por sua vez.uma proposição que não entendo. in se.como escolher a morte. ao contrário de muita gente que acharia profundamente difícil proferir palavras blasfemas ou negar seu credo. por exemplo. Deus não é qualquer tipo de coisa cuja existência possa ser rejeitada do mesmo modo como se pode rejeitar a existência de Papai Noel. O apofaticismo budista.é inefável não apenas a nosso respeito.e. minha fé não é muito diferente da fé religiosa. de qualquer modo? Deixe-me inventar uma pessoa profundamente religiosa. que admito não compreender. taí! Não me sinto culpado em fazer essa piadinha. mas não estou nem um pouco motivado a morrer. se chegar a esse ponto. O professor Fé quer me ensinar uma palavra nova. e isso é mais ou menos tudo o que podemos dizer a Seu respeito. Ele é um recipiente apropriado para preces.que a inteligência humana é incapaz de apreendê-la. Um apofaticismo gnosiológico. Faith Seeking (2003). o apofaticismo budista é um . tem a dizer: [. ao escrever a respeito do livro recente de Denys Turner. de abraçá-la -. alguma coisa além de todo entendimento humano. não importa quão inconveniente ou até perigoso esse ato de devoção possa ser. não é! Eu estava mentindo.] o Deus rejeitado pelo ateísmo moderno não é o Deus da cristandade ortodoxa. me permite endossar . busca transportar essa inefabilidade para o coração da própria realidade suprema. você poderá perguntar.. mas não negar as fórmulas da física. escuridão impossível de conhecer. (p.nos permite traçar uma forte diferença entre a fé religiosa e o tipo de fé que eu. mas não negar um item de doutrina que não compreendemos . O meu conceito de Deus é apofáticol O que. embora essa realidade suprema possa ser ela mesma representada como inteligível. então. Essa idéia de que provamos nossa fé por um ou outro ato extravagante . escrevendo sobre o budismo: O termo "apofático" é usado em geral em referência a um apofaticismo epistemológico. por outro lado. por exemplo.O islamismo. até mesmo supremamente inteligível. no final. declarando que essa realidade .'3 que faça um pequeno discurso a articular essa acusação. Ouça o que Simon Oliver. Olhe só: e não é igual a mc2. mas exatamente à manifestação dessa ordem . inteiramente outro e. quoad se. obriga seus devotos a pararem o que estiverem fazendo cinco vezes por dia. pré-moderna. mas como tal.. não é. impossível de conhecer. Mas não é a minha fé na verdade das proposições da mecânica quântica. tenho na ciência. A minha fé no conhecimento de físicos como Richard Feynman. Até aqui.que deve muito à mística medieval .desde que seu logos (sua expressão e comunicação) não pertença mais à ordem da realidade suprema.é profundamente apofático. Desse modo. afirmando apenas que a realidade suprema é inefável . comporta uma inefabilidade da parte da realidade suprema apenas quoad nos. apofático: Deus é uma Coisa Maravilhosa. um tipo de fé religiosa. o professor Fé. O Deus de Turner . significa isso? Significa que eu defino Deus como inefável. 32) E aqui está Raimundo Panikkar. apostar pesadamente na verdade de . Começamos nossa jornada para a alteridade ao nos dar conta de que nosso ser é uma dádiva graciosa.

era adido cultural (e espião para o oss [Office of Strategic Services. onde meu pai. O meu interesse nesse aspecto veio de duas experiências. LIÇÕES DO LÍBANO: O ESTRANHO CASO DOS DRUSOS E DE KIM PHILBY Há mais fatos sistematicamente curiosos a respeito do fenômeno que as pessoas chamam de religião. pelo que eu saiba). você pode construir alguma coisa que dependa da verdade daquelas frases para a segurança da operação. Eles ainda os estão chamando de átomos. historiador do islamismo. e não a regra. eles confessam que é mais ou menos um mistério. chamando os fiéis para a reza. Não me convenceu nem um pouco. Esse é um aspecto que há muito me cativa. e não o que ela é. (1989.apofaticismo ôntico. 14) Alego que esses argumentos não são realmente tão diferentes daquilo que vocês cientistas dizem.os tipos de predições confirmadas para as quais Feynman apontou ao defender sua área. o conceito de matéria. bem. ao mesmo tempo que me convence de que o projeto de Hume de religião natural (avaliação de argumentos a favor e contra a existência de Deus) é em grande escala um esforço desperdiçado. Como as crenças das religiões populares em ter de sacrificar um cabrito ou em ser invulnerável a flechas. E isso faz uma diferença imensa porque dá às crenças a respeito das verdades da física um lugar de real importância. mas não pensam mais neles como. e bastante radicalmente. essas são crenças sobre as quais você pode agir de modos que falam mais alto que as palavras. Mudaram o conceito de átomos. no qual se pode fazer mais do que apenas professá-las. também! Se os físicos podem mudar do concreto para o mistério. agência anterior à CIA]). A matéria é muito mais estranha que isso. os teólogos também podem. atômicos. mas que ficaria melhor se chamados de profissão religiosa. e até hoje eu não deixo de sentir arrepios quando ouço o lindo canto persistente. mas são exceções. eles reconhecem. Se você perguntar a eles o que acham que seja a matéria. As pessoas que doam todas as suas posses e sobem para o cume de alguma montanha em antecipação do iminente Fim do Mundo não acreditam apenas na crença em Deus. O conceito deles é apofático. sendo que as duas envolvem eventos que aconteceram no Líbano há mais de quarenta anos (embora isso seja pura coincidência. quando se trata de convicções religiosas. era minha experiência diária. Por exemplo. O ritmo dos muezins no minarete mais próximo. mas ainda assim a chamam de matéria. Os físicos chegaram a se dar conta de que a matéria não é composta de agrupamentos de pequenas esferas duras (átomos). e arriscar sua vida tentando voar para a Lua. junto com o ursinho de pelúcia e os caminhões de brinquedo. que eu muitas vezes enfrentei em discussão. Espero que o professor Fé tenha feito justiça a esse tema. Existe uma grande diferença entre a fé religiosa e a fé científica: o que dirigiu as mudanças nos conceitos na física não foi apenas o ceticismo exacerbado de uma clientela cada vez mais mundana e sofisticada. Mas . mas uma onda tsunami de resultados positivos maravilhosamente detalhados . 6. p. Passei alguns dos meus primeiros dias em Beirute. mesmo que saibam principalmente o que a matéria não é.

Se assim for. Já se escreveu muito a respeito da caixa do besouro de Wittgenstein. isso é porque elas não conseguiam guardar esse segredo! Eu ouvi essa história de diversas pessoas que alegavam saber.Não.Mas suponhamos que a palavra "besouro" tenha um emprego na linguagem dessas pessoas. e também para os ecos inequívocos de outro exemplo famoso na filosofia: o besouro na caixa. de Ludwig Wittgenstein. Será que estou apenas inflando uma calúnia malvada dos drusos feita por seus vizinhos para chegar a um duvidoso aspecto filosófico? Talvez. Pedi a alguns habitantes não-drusos da cidade que me falassem da religião dos drusos. a princípio. Mas. ela se anula. . . Eu queria aprender a respeito das crenças religiosas . O primeiro princípio da religião deles é mentir para os estrangeiros a respeito de suas crenças . já que teria sido escrito por um devoto druso (e todo mundo sabe que os drusos mentem). . mas eu não sei se alguém já propôs alguma aplicação à crença religiosa.Aqui seria bem possível que cada um tenha uma coisa diferente na sua caixa. do lado de fora. que os drusos tinham um livro sagrado. e ficam com tanta vergonha disso que inventaram todo tipo de bobagens solenes para evitar que isso venha à luz. para visitar minha mãe e minha irmã. Wittgenstein diz: Suponhamos que nós todos tenhamos uma caixa com algo dentro.saí de Beirute quando tinha apenas cinco anos e só voltei em 1964. Como jovem filósofo. em uma aldeia principalmente de drusos. a que chamamos de "besouro". e se ele fizesse o sacrifício supremo e se convertesse a druso para obter a entrada no interior do santuário. será que ele está dizendo a verdade?). Nas Investigações filosóficas (1953). na verdade. fiquei fascinado por essa versão na vida real do paradoxo do mentiroso (Epimênides de Creta diz que todos os cretenses são mentirosos. A coisa no interior da caixa não tem lugar algum no jogo da linguagem. nem mesmo como alguma coisa: já que a caixa até poderia estar vazia. mas considere o que Scott Atran tem a dizer a respeito de suas tentativas. que os drusos possam ser de fato um exemplo do fenômeno. os drusos são um povo muito triste. e todos dizem que só sabem o que é besouro olhando o seu besouro. não seria usada como o nome de uma coisa. ele teria de admitir que nós. . passei alguns anos com os drusos no Oriente Médio. com alguns poucos cristãos e maometanos. como antropólogo. Pode-se até imaginar tal coisa mudando constantemente. e foi isso o que eles me disseram: Ah. No que os drusos realmente acreditam. é claro. não acreditaríamos em seu tratado erudito. Alguns de nós acham. sua própria Escritura. como aluno de pós-graduação. seja lá o que for. se for verdade. Passamos algum tempo na montanha fora de Beirute. de escrever a respeito das crenças dos drusos: Há quase três décadas. parece fantástico. isso criaria um dilema para qualquer antropólogo: o método normal de questionamento dos informantes seria irremediavelmente uma caça inútil. De qualquer modo. e também a ouvi sendo negada por alguns drusos. Você vai notar que as mulheres não participam das cerimônias dos drusos.nunca diga a verdade para um infiel! De modo que vocês não devem considerar nada que os drusos lhes digam como autoridade. mas o perderam. A ninguém é dado olhar dentro da caixa dos demais. que então estavam morando lá. podemos nos "dividir quanto" à coisa no interior da caixa.

inclusive outros drusos. temos a intenção de dar a você um motivo para "fugir" para Moscou. envolvendo a interpretação de parábolas no formato de pergunta e resposta. um traidor altamente posicionado. porque você pode derramar um monte de informações secretas relativamente inócuas que você já conhece. idéias de todos os grandes credos monoteístas. Na hora adequada. Uma vez dada a Philby sua nova missão.um agente triplo. de uma maneira intrigante. como não-druso. A aprendizagem a respeito da religião dos drusos é um processo gradual na tradição socrática. que pareciam tecer.que os russos ficarão contentes em aceitar. determinou-se que Philby não era culpado. Uma vez que você lhes tenha angariado as boas graças. eu jamais pudesse ser formalmente iniciado na religião. se quiser. Em 1963. e Philby renunciou e se mudou para o Líbano. ele fugiu para Moscou. Será que era mesmo? Durante anos correu uma história nos círculos de inteligência a esse respeito. e daí por diante. um desertor soviético em Londres confirmou o papel de agente duplo de Philby. trabalhando para a KGB soviética. mas. Simplesmente . e nós forneceremos mais outros presentes cuidadosamen te controlados de inteligência . Embora. A idéia era que quando a sis exonerou' Philby em 1951. Em 1951. os anciãos drusos me lembravam que qualquer coisa dita ou aprendida além daquele ponto não seria discutida com pessoas não iniciadas. velho chapa! Sempre achamos que você era leal à nossa causa. Mas cada vez que eu alcançava algum nível de conhecimento de algum problema. quando a sis foi a Beirute para interrogá-lo. E podemos também começar a pensar se isso tem importância. p. se recusaram a reconduzi-lo à sua posição. Nunca escrevi a respeito da religião dos drusos e acabei envolvido em uma tese sobre as bases cognitivas da ciência. Kim. eles encontraram um jeito brilhante de lidar com seu delicado problema de confiança: Parabéns. o que me leva à minha segunda lição do Líbano. com as provas apresentadas. gostaríamos que você fingisse renunciar à sis amargurado por nós não o termos inteiramente reintegrado. E como sua próxima missão. começaram a suspeitar que Kim Philby. muito razoavelmente. você vê . pela KGB.e se mudasse para Beirute. gostaríamos que você começasse a nos dizer tudo o que puder a respeito do que eles estão tramando. um oficial graduado do serviço de inteligência britânico (sis). Ou será que não? Quando Philby apareceu pela primeira vez em Moscou. eles. e.deles. os anciãos pareceram se deliciar com a minha tentativa de entender o mundo como eles o concebem.e desinformação . para instalar-se como jornalista no exílio. Um tribunal secreto foi montado pela sis. que perguntas lhe fazem. Embora a SIS não conseguisse prendê-lo. onde passou o resto da vida trabalhando para a KGB. de ser um agente plantado pelos britânicos . onde você será por fim admirado por seus camaradas. Podemos começar a imaginar que eles mesmos não sabem. era agente duplo. mesmo que já tenham suas dúvidas. ele era (aparentemente) suspeito. para trabalhar como jornalista. [2002. as preocupações da SIS terminaram. ix] Parece que ainda não sabemos no que os drusos realmente acreditam.

Em 1980. Como sugeri anteriormente. Os antropólogos Craig Palmer e Lyle Steadman (2004. perguntei a ele se essa história que eu tinha ouvido era verdade. ou um agente triplo.. quando a posição de Philby estava (aparentemente) melhorando perante seus supervisores em Moscou. que se frustrou em seu trabalho no Penan. como tive de concluir com tristeza. por acaso. Ele se comportaria exatamente da mesma maneira em qualquer dos casos. em Oxford. e na outra. Se. por exemplo) quando eles expressavam ou nutriam essas idéias. Respondi que agradecia à resposta dele. confiando que ele fosse um transmissor de alta-fidelidade de seja lá que informações dessem a ele.] De fato. era sir Maurice Oldfield. a agência responsável pela contra-espionagem fora da Grã-Bretanha. ou um agente soviético verdadeiramente leal fingindo ser agente britânico leal (fingindo ser um agente descontente. Em uma delas.. suas atividades poderiam ser interpretadas e previstas a partir de qualquer um dos dois perfis de imagem especular da atitude intencional. outra inteiramente diferente era dizer qual o estado interior deles (crença. Ele gostaria que as pessoas apenas deixassem o pobre Philby em paz para viver calmamente sua vida em Moscou. histórica). 141) citam o lamento de seu distinto predeces. foi habilmente transformado em uma espécie de telefone humano.). ele acredita profundamente que a causa britânica merece que se arrisque a vida por ela. o antropólogo Rodney Needham. outro professor visitante na época. Philby. Eles têm de ser adotados "como verdadeiros" e não são submetidos a confirmação (científica.. de Ian Fleming. eu simplesmente não sabia qual a postura psicológica deles em relação ao personagem em quem eu supus que acreditassem [. p.não tinha importância se ele era realmente um patriota britânico fingindo ser agente descontente. no interior de Bornéu: Dei-me conta de que não podia descrever com confiança a postura deles em relação a Deus. sem se preocupar a respeito de onde se encontravam suas fidelidades definitivas. depois do jantar. Tem sido notado por muitos comentadores que as crenças religiosas típicas. eu era um Visiting Fellow no Ali Souls College. no entanto. uma coisa era relatar as idéias recebidas. Enquanto isso. (Sir Maurice foi o modelo para o " M" dos romances de James Bond. os soviéticos fariam a mesma inferência. ou um agente quádruplo. e um dos chefes da rede de espionagem responsável pela trajetória de Philby. um mero duto de informações que os dois lados poderiam explorar para quaisquer objetivos que quisessem. mais que isso. um .'4 Essas duas histórias ilustram de forma extrema o problema fundamental enfrentado por qualquer pessoa que tenha a intenção de estudar crenças religiosas. sem dúvida. fingindo que acredita profundamente que a causa britânica merece que se arrisque a vida por ela. canônicas.. mas nós dois tínhamos de reconhecer que era o que ele me diria se a história tivesse sido verdade! Sir Maurice franziu o cenho e não disse nada. as expressões de crença religiosa não podem ser de fato tomadas pelo seu valor ostensivo.] Claramente. e ele respondeu bastante irritado que não passava de um monte de bobagens. e daí por diante. Porém.sor. de acordo com essa história. endossadas pelas pessoas. fosse isso crença ou qualquer outra coisa [. não se dariam o trabalho de calcular se Philby era realmente um agente duplo. por esse e outros motivos..) Uma noite.. o chefe aposentado do MI6. isso é o mesmo que definir credos religiosos característicos. não podem ser testadas para se saber se são verdadeiras. ele acredita profundamente que tem uma oportunidade de ouro para ser herói da União Soviética.

deve ser muito falho em aspectos bastante fundamentais.) . 141). o comportamento religioso é. Eles continuam dizendo que Needham está praticamente sozinho em se dar conta das profundas implicações desse fato a respeito da inescrutabilidade da confissão religiosa. Só estou perguntando para generalizar a questão. mas eles próprios não percebem a implicação ainda mais profunda disso: os nativos estão no mesmo barco que Needham! Eles são tão incapazes de penetrar no íntimo da cabeça de seus parentes e vizinhos quanto o antropólogo. 1-2] Palmer e Steadman tomam essa confissão de Needham como um sinal para a necessidade de remodelar as teorias antropológicas como relatos de comportamento religioso. e de falarem em sua linguagem natal. ocorreu-me. [Needham. Uma criança que cresça em uma cultura é como um antropólogo. rodeado por informantes cujas profissões precisam ser interpretadas. O fato de seus informantes serem seu pai e sua mãe. e não crença religiosa: "Ao mesmo tempo que as crenças religiosas não são identificáveis. pp. restrito ao que pode ser observado" (p. Quanto a interpretar as confissões religiosas de outros. e. de modo que a única coisa em que qualquer um pode se basear é o comportamento religioso. não dá mais que uma ligeira vantagem circunstancial sobre o antropólogo adulto que tem de se basear em uma série de intérpretes bilíngües para inquirir os informantes. afinal de contas.etnógrafo dissesse que as pessoas acreditavam em alguma coisa quando na verdade ele não sabia o que estava acontecendo dentro delas. todo mundo é estranho. Por quê? Porque as confissões religiosas dizem respeito a questões que estão além da observação. para reconhecer que os outros não estão em situação melhor. então por certo seu relatório sobre elas. Necessária é uma explicação desse comportamento religioso observável.'5 (E pense no seu próprio caso: você nunca ficou perplexo ou confuso em relação a exatamente em que você deveria acreditar? Você sabe perfeitamente bem que você não tem acesso privilegiado aos dogmas da fé na qual foi criado. 1972. e esse aspecto da experiência humana pode ser compreendido. além de testes que tenham algum significado. o comportamento da profissão. mais especificamente.

DEUS EXISTE? Se Deus não existisse. pergunte se o Livro do Mórmon [1829]. Entre as perfeições que tal maior Ser concebível teria de ter está a existência. [Voltaire] Por fim. expressando meus próprios veredictos. ou o documento fundador da Cientologia. sempre existiu e criou o universo em sete dias há uns poucos milhares de anos. então Deus tem de existir.a serem enfrentados por quem quiser fazer isso de modo construtivo. alega Anselmo. alguns empíricos .e outros puramente a priori ou lógicos . que é verdade literal. Você acha que isso é um tanto forçado? Ou será que suspeita ser algum tipo de "truque com espelhos" .poral. e fornecendo referências a algumas peças que podem não ser conhecidas de muitos. E existe um espectro de argumentos vindos de suposta documentação histórica. o livro Dianética de L.) Isso nos deixa com os argumentos tradicionais extensamente discutidos pelos filósofos e teólogos ao longo dos séculos. já que tão manifestamente admitem tudo como verdadeiro. mas não os raciocínios que entraram neles. seria possível conceber um Ser ainda maior . (Se isso não for evidente para você. estendendo-se ao longo da escala antropomórfica de um Cara no Céu a uma Força Benévola Atem. mas essa é a definição de Deus. Deus existe. eu me volto para a consideração prometida sobre os argumentos a favor da existência de Deus. Os argumentos lógicos são encarados por muitos pensadores. Não se pode dar a texto algum o status de "verdade evangélica" sem antes eliminar qualquer investigação racional.ou seja. a respeito do que o insensato disse em seu coração. ele deveria entender que Deus é (por definição) a maior coisa concebível . já que se faltasse a Deus a existência.como o Argumento Ontológico e o Argumento Cosmológico pela necessidade de uma Causa Primeira. como esta: de acordo com a Bíblia. formulado pela primeira vez por santo Anselmo no século xi como uma resposta direta ao Salmo 14. sem provas.ou.diplomáticos. seria necessário inventá-lo. Se o insensato entende o conceito de Deus.7. i. E. e não proposições científicas sérias. ou outra. Ron Hubbard [1950]. Deus-comtodas-as-Suas-perfeições. Os argumentos históricos são aparentemente satisfatórios para aqueles que os aceitam. vou dar apenas uma breve visão superficial do domínio da investigação. devem ser adotados como prova irrefutável das proposições que eles contêm. Veremos em consideração o Argumento Ontológico. tendo revisto os obstáculos . como truques de mágica ou enigmas intelectuais.mais-existêncial Um Deus sem existência não seria o Ser tal que nada se pode conceber maior que ele. Existe um espectro de objetos intencionais a serem considerados. mas eles simplesmente não podem ser introduzidos em investigações sérias.como o Argumento a partir do Projeto . o Ser tal que não se pode conceber nada maior que ele. em uma famosa expressão complicada. lógicos psicológicos e táticos . inclusive muitos filósofos que os examinaram cuidadosamente durante anos.

o Argumento do Projeto. introduzindo antropomorfismo por um desvio que não vai convencer os céticos. e existe uma "sentença de Gõdel" para qualquer máquina de Turing que seja consistente e possa representar as verdades da aritmética. pelo outro.já que se ele não existir haverá um mais perfeito concebível: ou seja. imagina-se) pelo acesso deles a provas puramente lógicas é um objeto intencional notavelmente vazio e sem feições. depois de ver o que pode ser feito com o argumento empírico. como o argumento deles determina. tem havido uma convicção amplamente disseminada . o "ajuste fino" das leis da física para que toda essa evolução seja possível não exige um Afinador? (O Argumento do Princípio Antrópico. não. pelo menos em parte. Outros preferem aceitar a premissa e depois perguntar: o que causou Deus? A resposta de que Deus é sua própria causa (de algum modo) provoca a refutação: se alguma coisa pode ser causada por si mesma. a não ser que você se assegure de defini-lo desse jeito desde o início.de que você não pode provar a existência de qualquer coisa (diferente de uma abstração) pela lógica pura. há uma longa distância a ser percorrida dessa especificação até um Ser misericordioso. a não ser por métodos que sejam. Você pode provar que existe um número primo maior que um trilhão. ou para os requintes da lógica escolástica. estará em boa companhia. A não ser que você tenha um pendor para a matemática e a física teórica. desde que tudo tem de ter uma causa. uma vez que a física quântica nos ensina (não ensina?) que nem tudo que acontece tem de ter uma causa.mas de jeito algum unânime . empíricos. em várias direções obscuras. O Argumento Cosmológico. Mesmo assim. não é evidente. e um hábil esmiuçamento a respeito do significado de "causa". o universo tem de ter uma causa .na minha experiência tranqüiliza os crentes. poderia? E mesmo que a evolução por seleção natural explique o projeto das coisas vivas.ou seja. um que existe sim?) Se você estiver desconfiado.17 de modo que . não permanece simples por muito tempo. você não conseguirá achar nada disso irresistível ou até mesmo passível de ser avaliado. Nem . ou apenas amoroso -. incluindo suas variações recentes que invocam o Princípio Antrópico. e. por um lado. que em sua forma mais simples declara que. Desde Immanuel Kant. O Argumento do Projeto é com certeza o mais intuitivo e popular. sim. tem gente que quer voltar aos argumentos a priori como algum tipo de rede de segurança. no século XVIII. o ajuste fino das leis da física podem ser explicadas sem se postular um Afinador Inteligente. no outro.) Não. mas você não pode provar que alguma coisa que tenha efeitos no mundo físico exista. tudo pode não passar do resultado de "acidentes" explorados pelas incansáveis regularidades da natureza. e. Mesmo que um Ser tal que nada maior do que ele pode ser concebido tivesse de existir. Eu já discuti esses argumentos bem extensamente em A idéia perigosa de Darwin (especialmente nos capítulos i e 7). Alguns negam a premissa. mas o preço que pagam (de boa vontade. Deus -. E simplesmente evidente (não é?) que todas as maravilhas do mundo vivo devem ter sido arranjadas por algum Projetista Inteligente? Não poderia ter sido um mero acidente. e tem sido assim há séculos. em um extremo.da lógica? (Será que você poderia usar o mesmo esquema de argumentos para provar a existência do sundae de sorvete de creme mais perfeito concebível . porque o universo.'6 Há os que discordam e continuam a defender versões ultrapassadas do Argumento Ontológico de santo Anselmo. e que existe um ponto no qual três linhas que bisseccionem os três ângulos de qualquer triângulo se encontram. como um todo não pode ser a coisa que é causada por si mesma? Isso leva. para os circuitos estranhos das teorias das séries e das flutuações probabilísticas e coisas parecidas. nem é preciso dizer.

já vimos. e como Philo de Hume indagou há muito tempo: Por que não parar no mundo material? Este. no século xvn. encontra irracionalmente (quando encontra alguma coisa): uma possibilidade platônica atemporal da ordem. que também evaporou. alguma coisa ininteligível. uma seqüência crescente do que Crick (1968) chamou de "acidentes congelados". no entanto. Quando olhamos pelos olhos de Darwin para os reais processos de projeto pelos quais nós. de fato. mas não é em si mesma uma coisa inteligente. e. Baruch de Spinoza. como vimos recentemente. algorítmico. considerada literalmente. Mas encontramos uma explicação não milagrosa para isso: um processo maciçamente paralelo. Essa visão do processo criativo ainda deixou para Deus um papel de Legislador. argumentando que a pesquisa científica era o caminho verdadeiro para a teologia.ocupando uma posição diferente de todas as demais no hiperespaço das possibilidades. precisando de uma explicação. Ele foi perseguido por essa heresia. essa autogeração é uma proeza não milagrosa que deixou muitos traços. é uma criação de suprema singularidade abrangendo e diminuindo todos os romances e pinturas e sinfonias de todos os artistas . E sendo não apenas concreta. mas. Sendo abstrata e atemporal. ou de qualquer modo. ele estava personificando a Natureza ou despersonalizando Deus? A visão mais produtiva . realmente executa uma versão do supremo truque da autogeração. não a um gênio inventivo shakespeariano.não vou repetir os meus contra-argumentos. Artesão. Ao contrário da intrigantemente misteriosa autogeração atemporal de Deus. Isso é. maravilha das maravilhas. A maravilhosa particularidade ou individualidade da criação se deve. ele se cria ex nihilo. como os matemáticos estão incessantemente exclamando. mas apenas o meu resumo do recuo causado pela idéia perigosa de Darwin durante o último século e meio: Começamos com uma visão um tanto infantil de um Deus antropomórfico. Foi deixado aquilo que o processo. uma beleza. estava em via de extinção. portanto prodigiosamente perdulário. de alguma coisa bastante indistinguível de qualquer outra coisa. mas este deu. de tentativa de projeto irracional. identificou Deus com a Natureza. por sua vez. e reconhecemos que essa idéia.'8 O que precisa ter sua origem explicada é o universo concreto propriamente dito. embaralhado ao longo da eternidade. atraente) característica de faces de Jano na visão herética de Deus sive Natura (Deus ou Natureza) de Spinoza: ao propor sua simplificação científica. não é algo com um início ou origem. mas às incessantes contribuições do acaso. copiados e reusados ao longo de bilhões de anos. somos os produtos até agora. lugar ao papel newtoniano de Encontrador da Lei. e todas as maravilhas da natureza. vemos que Paley tinha razão em considerar esses efeitos o resultado de um bocado de trabalho de planejamento. no qual. não deixando para trás Ação Inteligente alguma no processo. Há uma perturbadora (ou. os mínimos incrementos do projeto foram economicamente cuidados. para alguns. mas o produto de um processo histórico maravilhosamente particular.

Os cinco últimos capítulos expuseram uma variedade de truques conhecidos. mas é real. Sem religião. não é verdade que. Basta de crença em Deus. de modo que o futuro parece brilhante. no sentido óbvio. [Dennett. É alguma coisa sagrada? Sim. A crença na crença em Deus é tão importante que não deve ser submetida aos riscos da refutação ou de críticas sérias. a crença religiosa é pelo menos tão importante quanto a crença na democracia. em um mundo em que "qualquer coisa vale".rá-la. pp. 520] Será que isso faz de mim um ateu? Certamente. ou considerar um recipiente adequado de gratidão (ou raiva. [1995b. p.tetora (muito importante hoje em dia. será possível eleger um ateu para um posto mais alto do que senador. e que tendem a ter o efeito de proteger as práticas religiosas contra a extinção ou a erosão que ultrapasse o reconhecimento. e se não for o "Ser tal que não se pode conceber nada maior que ele". no livre-arbítrio? A opinião muito disseminada (mas longe de universal) é que a religião é o bastião da moralidade e do valor. qualquer religião . por motivos de lealdade à tradição. O mundo é sagrado. Se aquilo que é sagrado para você não for algum tipo de Pessoa para quem você possa rezar. diplomacia ou camuflagem autopro. e membros do Congresso homossexuais. no meu livro. se um maior número de nós. der um passo à frente e calmamente anunciar que é claro que não acreditamos mais em qualquer desses deuses. você vai querer negar ser ateu. O resultado é que até os adeptos não sabem realmente o . quando um ser querido morre sem sentido). estamos em condições de abordar essa questão. redescobertos inúmeras vezes. Não será ela verdadeira? Ou seja. o lado bom é o projeto de instituições humanas e úteis que não apenas merecem a lealdade das pessoas mas podem efetivamente assegu. 184-185] Deve Spinoza ser considerado ateu ou panteísta? Ele viu a glória da natureza e depois viu um jeito de eliminar o intermediário! Como eu disse no final do meu livro anterior: A Árvore da Vida não é nem perfeita nem infinita no espaço ou no tempo. certamente é um ser maior do que qualquer coisa que qualquer um de nós jamais chegará a conceber em um detalhe digno de seus detalhes. mas não se iluda. no domínio da lei.e por isso ainda mais maravilhosa . Eu não poderia rezar para ela. exista Deus ou não. Se o lado sombrio disso é o projeto das cleptocracias e de outras organizações manifestamente más que podem oprimir pessoas inocentes. especialmente para políticos). E a crença na crença em Deus? Ainda não investigamos todas as bases dessa crença na crença. Agora que conseguimos ver através de parte dessa gaze protetora. mas posso afirmar sua magnificência com segurança. que levem o devoto a "salvar" suas crenças tornando-as incompreensíveis até para eles mesmos. digo eu com Nietzsche. brights.dessa coisa autogeradora. uma religião. você é um ateu. Atualmente temos senadores judeus e mulheres. Ainda não abordamos seriamente a questão de se as religiões algumas religiões. cairíamos na anarquia e no caos. 1995b. o problema é seu. *** Capítulo 8. Se.são fenômenos sociais que fazem mais bem do que mal. Talvez no futuro.de Darwin propicia a estrutura na qual podemos ver a inteligência da Mãe Natureza (ou será apenas inteligência aparente?) como sendo uma característica não milagrosa e não misteriosa .

Será que a religião deles merece essa adoração? . Isso torna a meta de provar ou refutar a existência de Deus uma busca quixotesca . exatamente por esse motivo.que estão professando. não muito importante. Muitas pessoas amam suas religiões mais do que qualquer outra coisa na vida. A questão importante é se as religiões merecem a proteção contínua de seus adeptos.mas também. *** Capítulo 9.

.

e a hora do relaxamento feliz. e elas podem estar certas. Acabou-se a hora de tensão na nossa alma. sem futuro discordante com que se preocupar. Por que acreditam nisso? Uma resposta evidente é que querem ser boas. da calma.e você pode ser uma delas .PARTE 3 A RELIGIÃO HOJE 9. o que mais temíamos se tornou a habitação da nossa segurança. Não é que a crença na crença em Deus seja nossa convicção estabelecida. As variedades da experiência religiosa] A MAIORIA das pessoas acredita na crença em Deus. Vou deixar o professor Fé apresentar uma expressão justa do seu ponto de vista: Você insiste em tratar a questão da religião como se ela fosse semelhante a mudar ou não de emprego. e um presente eterno. da respiração profunda. Ou seja. ou comprar um gato. querem levar vidas boas e com significado.uma questão que deve ser resolvida por consideração calma e objetiva dos prós e dos contras. e depois se deve tirar uma conclusão a respeito da melhor decisão. PELO AMOR DE DEUS Existe um estado de espírito. e a hora da nossa morte moral se transformou no nosso nascimento espiritual. mas nunca chegou a descrever o gosto maravilhoso daqueles que "conseguem" sim. após "considerados todos os pontos". e não conseguem ver uma maneira melhor de fazer isso do que se porem ao serviço de Deus. cujas . precisamos cuidar de um desafio. [William James. mesmo aquelas que não conseguem acreditar em Deus (o tempo todo). ou fazer alguma cirurgia . Algumas pessoas .acham todo o cenário dessa questão objetável. chegou. e querem o mesmo para outros também. Não é assim que a vemos. POR UM GUIA DO CONSUMIDOR DE RELIGIÕES 1. no qual a vontade de nos afirmarmos e de mantermos nossa posição foi substituída por uma vontade de calar a boca e sermos como nada nas enchentes e trombas d'água de Deus. Vai muito além disso! No capítulo anterior você falou de "finja até conseguir". Essa resposta pode estar certa. de jeito algum. mas não dos demais. conhecido dos homens religiosos. Nesse estado de espírito. mas antes de pensar nessa resposta com o cuidado que ela merece. uma questão da melhor política de vida geral que tenhamos conseguido descobrir.

nas com suas emoções quanto com suas carteiras e suas palavras. Estou sugerindo. Jeb?" "Comparada com o quê?" Poderia parecer que Jeb não está mais apaixonado pela mulher dele.tentativas honestas para imbuírem-se do espírito de Deus têm sucesso em uma explosão de glória. uma alegria mais viva que a alegria da maternidade. Não é por acidente que a linguagem do amor romântico e a linguagem da devoção religiosa são quase indistinguíveis. E se você estiver até mesmo disposto a pensar em comparar sua religião com as outras. individualmente ou juntos. ou até mesmo o ultraje que você sente ao se confrontar com o meu convite calmo para considerar os prós e os contras de sua religião é a mesma reação que se sente quando lhe pedem uma avaliação sincera de seu amor verdadeiro: "E não gosto da minha namorada porque. você não deve estar apaixonado por sua religião. O inventário das grandes obras de . as pessoas algumas vezes se apaixonam . e nesse caso vai ser difícil para eles distinguir isso do amor à religião.amor romântico . nem o rabino. não é por acidente que quase todas as religiões (com algumas austeras exceções.ou mesmo qualquer grupo de pessoas . estou ouvindo.pelo padre ou algum companheiro da paróquia. do mesmo modo. Nós sabemos. ou entendido uma piada. depois da devida consideração. é um tipo de amor. que sua devoção inquestionável. mas nenhuma pessoa individualmente nem o padre. mas ao sistema de idéias que os une. mas não estou sugerindo que essa seja a natureza do amor sentido pela maior parte das pessoas que amam a Deus. no entanto. ou em não ter religião alguma. Não é de jeito algum chegar a uma crença. Reconheço o estado que você está descrevendo e ofereceria uma retificação amigável: não é apenas como se apaixonar" é um tipo de apaixonar-se. músicas. decorações aplicadas em todas as superfícies. para energizar essa preocupação e focalizar os holofotes sobre essa objeção. e. e mais parecido ao amor romântico do que ao amor fraterno ou o amor intelectual. A devoção imorredoura de um indivíduo não é devoção para ele. não é apenas uma experiência do tipo "Ahá!".é o bem. Eis uma piada do Maine: "Como vai a vida. acredito que suas qualidades maravilhosas têm um peso muito maior que seus defeitos. O desconforto. ou nos convencido por um argumento. é como se apaixonar. Quando vemos a luz. E claro. como os puritanos. Não é como aceitar uma conclusão. como se tivéssemos resolvido um enigma ou subitamente visto uma figura escondida num desenho. velas e incenso.a congregação dos fiéis. Eu deliberadamente dei a este capítulo um título provocante. então. Sim. que Deus é a coisa maior que poderá jamais entrar em nossas vidas. mais extática do que as alegrias de tocar ou cantar uma grande música. Eu sei que ela é a mulher da minha vida e a amarei sempre com todo meu coração e minha alma". beisebol ou paisagens de montanha). digamos . mais profunda que a alegria da vitória nos esportes. Aqueles de nós que a conhecem sabem que é diferente de qualquer outra experiência. Esse é um amor muito pessoal (diferente do meu amor por jazz.amado. nem o imã . sua disposição de até mesmo considerar as virtudes em contraposição aos vícios. os shakers e os talibãs) deram a seus amados uma cornucópia de beleza para maravilhar os sentidos: arquitetura sublime. Os fazendeiros da Nova Inglaterra têm a reputação de ser tão sovi.

"A religião pode tirar as pessoas de seus ciclos de pobreza e dependência da mesma forma como conduziu Moisés para longe do Egito" (2003. ele falou com Deus: "Sou incapaz de acender o fogo e não sei a reza e não consigo sequer encontrar o lugar na floresta. a desgraça era evitada. de interceder com os céus. composições de extraordinária força emocional. O diário de Anne Frank e todas as outras grandes narrativas da literatura mundial. Eu estou inclinado a achar que nada poderia ter mais . e isso deve bastar". Ainda mais tarde. a Ilíada. E bastou. em suas tradições. heróis e vilões (sem alívio cômico). tragédia. e isso deve ser o suficiente". como dizem muitas páginas da web) Foram-nos dadas muitas coisas para amar. p. páthos. Há muito do que os amantes da religião podem se orgulhar. era seu costume ir a um determinado ponto da floresta para meditar. Elas não apenas propiciaram os primeiros socorros. dizer uma prece especial.arte no mundo é coroado por obras-pri. A Paixão segundo são Mateus de Bach e o Messias de Handel. elas próprias. forneceram meios para mudar o mundo de modo a remover essas dificuldades. hindus e xintoístas. O diretor de cinema George Stevens pode não ter exagerado quando chamou seu filme de 1965. e o milagre se dava. A maior história de todos os tempos. é realmente um fato a ser ponderado. A ilha do tesouro. o rabino Mosheleib de Sasov. Mais tarde. o celebrado Maggid de Mezeritch. e muito pelo qual nós todos podemos ficar gratos. triunfo. ia para a floresta e dizia: "Eu não sei acender o fogo. e mais uma vez o milagre acontecia. temos o Alhambra e as maravilhosas mesquitas de Isfahan e Istambul. histórias e cerimônias. Era suficiente. Tudo o que posso fazer é contar a história. não sei a reza. Os atos diários das pessoas religiosas resultaram em incontáveis boas ações ao longo da história. mas ainda consigo dizer as preces". e as histórias postas em música são. ele ia para o mesmo lugar na floresta e dizia: "Mestre do Universo. já que Deus fez o homem porque ele adora histórias. Oliver Twist. com a Odisséia. Huckleherry Finn. perigo. Nós adoramos histórias. para mais uma vez salvar seu povo.mas religiosas. o grande rabino Israel Shem Tov. Romeu e Julieta. dificilmente ela é vencida. 1972. e Elie Wiesel usa uma história para explicar isso: Quando o fundador do judaísmo hassídico. com a cabeça nas mãos. Não precisamos ser crentes para nos sentirmos hipnotizados pelos templos budistas. Graças ao cristianismo. via a desgraça ameaçando os judeus. Robin Hood. quando seu discípulo. prefácio. 139). não Wiesel. para pessoas em dificuldades. escutai! Eu não sei como acender o fogo. pelo mesmo motivo. Lá ele podia acender fogo. sem glória ou aventura. As religiões trouxeram o consolo do pertencimento e a companhia para muitas pessoas que de outro modo teriam passado a vida sozinhas. cuidando dos doentes. Sentado em sua cadeira de braços. Graças ao islamismo. O fato de tanta gente amar suas religiões. sobre a vida de Jesus. de complexidade surrealista e proporções sublimes. tinha a ocasião. A competição é feroz. E é claro que a história tem uma moral. e o milagre acontecia. mas conheço o lugar. Mas em termos de alegria. aliviando sofrimentos. temos a Hagia Sofia e as catedrais da Europa. alimentando os famintos. e aquelas pequenas maravilhas dos carols de Natal estão entre as mais arrebatadoras canções de amor jamais compostas. Como Alan Wolfe diz. de fato. tanto quanto ou mais do que qualquer outra coisa na vida. Aí coube ao rabino Israel de Rizhin vencer a fortuna. e não apenas arte espetacularmente linda. (1966.

Se o meu amor pela música é tão grande que eu simplesmente não consigo pensar de forma objetiva em suas implicações. assegurar o direito que têm de agir como meus substitutos.e não deveria ser . ou de ameaçar a vida daqueles que não têm amor à música. quando se chega ao amor verdadeiro. ou o direito de impor a educação musical a todo mundo no país do qual sou o ditador. eu deveria preferir viver a minha vida em busca da exaltação da música. contudo. com todo o meu coração e toda a minha alma.do amor. em cumpridores da lei sem amor. Quando dizem que o amor é cego. você estará arriscando perder uma amiga e ainda levar um tapa como paga de seu esforço. já que o meu amor me enlouqueceu e eu não posso participar racionalmente da avaliação do meu próprio comportamento e de suas conseqüências. e duvido que possamos confiar em nossas primeiras intuições a respeito delas. afinal de contas. eu suponho que quase todos nós queremos um mundo no qual o amor. por algum modo. Outras coisas ficando iguais. como se diz.damente por alguém que simplesmente não é digno do amor dela? Se você sugerir isso a ela. O amor é cego. Suponhamos que eu ame a música mais que a própria vida. Um mundo no qual o amor dos fãs de beisebol por seus times os levasse a odiar os outros times e os fãs destes. Não se pode deduzir daí que não temos motivos para questionar as coisas que nós e outros amamos. insisto em dizer que eles não têm o direito de se comprazer em declarar seu amor e depois se esconder por detrás do véu da indignação justa ou dos sentimentos feridos. muitas vezes leva à tragédia: há conflitos nos quais um amor é jogado contra outro amor. Será que um mundo em paz. pelo que se apresenta. de hábito. porque para as pessoas apaixonadas muitas vezes torna-se uma questão de honra reagir irracional e violentamente a qualquer desconsideração percebida em relação ao seu amado. os economistas teimosos há muito tempo descartaram a idéia como bobagem romântica. a coisa de que eu mais gosto. tanto quanto possível. a idéia de avaliação deveria estar fora de cogitação. seria um mundo no qual um amor particular. Sabe-se. Mas. não consigo pensar em nenhum outro valor que eu pudesse pôr acima disso. Então. a liberdade e a paz estejam presentes. então. puro e irrepreensível em si próprio. É difícil considerar essas hipóteses. Pode muito bem não haver nada mais maravilhoso que o amor. mas sem amor. dizem isso sem pesar. não seria . é triste dizer. Faz parte de todo o processo de estar apaixonado. com sofrimento garantido em qualquer resolução. mas sem amor. de tal modo que as partidas fossem acompanhadas de uma guerra assassina.importância do que aquilo que as pessoas amam. teria levado a conseqüências imorais e intoleráveis. se isso nos transformasse. mas o economista evolutivo Robert Frank . Mas isso ainda assim não me dá o direito de obrigar meus filhos a praticarem seus instrumentos dia e noite. a justiça. significaria um mundo melhor? Não. mesmo que seja verdade. embora eu compreenda e simpatize com aqueles que se ofendem com o meu convite para considerar os prós e os contras da religião. e alguém tem de ceder. De qualquer modo. esta é uma incapacidade infeliz. Mas por quê? A sabedoria comum não responde. que o amor deve ser cego. com bons motivos. Eu não gostaria de viver em um mundo sem amor. Mas. sem nenhum dos anseios ou das invejas e ódios que são a mola propulsora da injustiça e da submissão. seria um mundo melhor? Não. conscienciosamente decidindo o que é melhor para todos. e como o amor é cego. mas o amor não basta. Será que um mundo com justiça e liberdade. Se tivermos de abrir mão de um deles. se a paz fosse alcançada retirando-se o amor (e o ódio) de nós pelas drogas ou por repressão. Os outros podem. Só amor não basta. Você já teve de enfrentar o problema de cortar o coração de uma amiga querida que se apaixonou perdi. que nada pode importar mais que o amor.

pp.] Características pessoais objetivas podem continuar a desempenhar um papel na determinação de que tipo de pessoa sente-se inicialmente mais atraída pelas outras. na verdade. a desonra para sua fé. como tantas vezes no mundo dos sinais animais.chamou a atenção para o fato de haver. 1987). na realidade. o seu sinal de compromisso não será eficaz.. é racional estabelecer-se em um parceiro antes de ter examinado todos os potenciais candidatos. os ninhos elaborados dos pássaros fazedores desses ninhos são investimentos caros.] A incerteza resultante torna imprudente adotar investimentos conjuntos que de outro modo seriam fortemente do interesse de cada parceiro. Não são só os jovens atingidos pelo amor que cumulam suas amadas de presentes que mal têm como comprar..mo. O caminho para o coração de uma pessoa é declarar o oposto . p.menos ainda pela segurança das pessoas que estão atacando. Mas os poetas certamente têm razão quando dizem que o elo a que chamamos de amor não consiste em deliberações racionais a respeito dessas características. O ser amado não merece menos que isso.. espero que façam uma pausa para pensar que uma ação dessas traria. Há muitos cristãos enganados. E exatamente aí está seu valor como solução para o problema do compromisso. e o resultado. ao contrário. Antes de agirem em suas fantasias autoindulgentes. grilos e muitas outras criaturas.. 195-196] Como diz Steven Pinker. atacar com selvageria. mas esse meme não está de modo algum restrito ao islamis. as circunstâncias relevantes muitas vezes mudam [. por exemplo. se ele puder ser facilmente falsificado. 418). Será que a nossa capacidade evoluída para o amor romântico foi explorada pelos memes religiosos? Com certeza seria um Bom Estratagema. Como todos os sinais de comunicação. E. "Murmurar que a aparência. Alguns dos espetáculos mais tristes do século passado foram a forma como fanáticos de . é a espiral inflacionária da sinalização custosa (Zahavi. um elo intrínseco. Para facilitar esses investimentos. [1988. mesmo que a declaração seja estatisticamente verdadeira. atacar todos os céticos com fúria. cada parceiro quer fazer um compromisso de união para permanecer na relação [.que você se apaixonou porque não pôde evitar" (1997. Faria com que as pessoas pensassem que era de fato uma coisa nobre ofender-se. besouros. que contemplariam com deleite a perspectiva de demonstrar a profundidade de seu compromisso me enchendo de injúrias por ousar questionar o amor que eles têm pelo Jesus deles. como sugerem muitas evidências. um motivo racional excelente (base racional descomprometida) para o fenômeno do amor romântico no desordenado mercado da procura humana por um parceiro: Como a busca é cara. Assim são feitas as fatwas. sem preocupação com a própria segurança . no entanto. no entanto. Uma vez escolhido um parceiro. o potencial de ganho e o QI do seu amor satisfazem seus padrões mínimos provavelmente mataria o romantismo. no qual a pessoa é valorizada por ela mesma. eles acham: um compromisso total de erradicar o blasfemo. e também os "presentes nupciais" de alimentos e outras coisas dadas pelos machos de mariposas. Esse desamparo demonstrado (ou pelo menos apaixonadamente professado) é o mais próximo que se tem de chegar para obter uma garantia de que você ainda não está olhando em volta.

infiéis. Temo mais. ou pior. não a Senhora Liberdade. Ao pedir uma avaliação dos prós e dos contras da religião arrisco receber um soco no nariz. e trouxeram vergonha e desonra para suas causas. mancha a reputação das duas religiões. Mas exatamente por esse motivo não significou tanto como um símbolo. E esse o grande perigo dos símbolos . sim. e no entanto persisto. em vez disso. a Estátua da Liberdade. A matança de centenas de maometa.todos os credos e etnias profanaram seus próprios santuários e locais sagrados. Por quê? Porque acredito que é muito importante quebrar esse encanto e fazer com que todos nós examinemos cuidadosamente a questão com a qual inicio esta seção: as pessoas têm razão quando dizem que a melhor maneira de viver uma vida boa é através da religião? William James confrontou o mesmo problema diretamente quando deu as Conferências Gifford. os talibãs se desonraram e à tradição deles de tal modo que serão necessários séculos de boas obras para expiar essa culpa. o World Trade Center era um símbolo muito mais apropriado à ira da Al Qaeda do que teria sido a Estátua da Liberdade. mas é difícil ver como os sérvios podem continuar a acalentar sua memória depois da história recente. temo que nós. nós. de que o lado contestado deveria daí para a frente ser considerado o Muro da Vergonha. um lembrete para todos dos males do fanatismo. Eu realmente suspeito que a fúria com que muitos norte-americanos teriam reagido à profanação de nosso querido símbolo nacional. os Pluto. E.nos em represália à morte de dúzias de hindus no templo de Akshardham. e seus devotos fanáticos deveriam se lembrar de que o resto do mundo não está apenas pouco emocionado. o significado da Estátua da Liberdade teria sido conspurcado além de qualquer esperança de redenção posterior . . seria um anúncio. A morte de milhares de inocentes no World Trade Center foi um crime horrendo.cratas e a Globalização. eu muitas vezes pensei que talvez tivesse sido uma grande sorte para o mundo o fato de aqueles que atacaram o World Trade Center não tivessem atacado. O que realmente nos impressionaria. Kosovo pode ter sido um lugar santo para os sérvios desde a batalha de 1389. norte-americanos. Aprendi com os meus alunos que esse meu pensamento perturbador está sujeito a infelizes interpretações equivocadas. em vez disso. mas farto e cansado das demonstrações que fazem de sua devoção. um texto sagrado. Se isso tivesse acontecido.se ainda tivessem sobrado pessoas que se importassem. e nos entregaríamos a paroxismos de vingança de um tipo que o mundo nunca viu antes. Foram as Riquezas Iníquas. em Gujarat. para nós. por seus atos de lealdade fanática. dificultaria extraordinariamente uma reação sadia e comedida. de modo que me deixem aprofundá-lo para mantê-las afastadas. Uma tarefa importante para as pessoas religiosas de todos os credos no século xxi será espalhar a convicção de que não existem atos menos honrados do que fazer mal a "infiéis de uma cor ou de outra por "desrespeitar" uma bandeira. Desde n de setembro de 2001. teríamos sido incapazes de nos conter. Porque se eles tivessem destruído o nosso símbolo sagrado da democracia. a imagem mais pura das nossas aspirações como democracia. não mais santo. ao contrário. unilateral ou em conjunto.eles podem passar a ser "sagrados" demais. porém. muito pior que uma possível destruição da Estátua da Liberdade. que se tornaram seu grande livro As variedades da experiência religiosa t e farei eco ao seu pleito por paciência: Não sou amante da desordem e das dúvidas como tais. Ao destruir os monumentos budistas idolatras no Afeganistão. uma cruz.

quando discuti o lendário abismo que muitos querem ver entre as ciências naturais e as ciências interpretativas. mas eles não são os únicos que lançam mão do protecionismo. Quando o fenômeno cultural é a religião.americanos. Poria você raciocínio profano contra mistério sagrado? Nenhuma punição égrande demais pela sua impiedade. Eis aqui uma versão do início do século xx de Emile Durkheim: "Aquele que não traz ao estudo da religião um tipo de . deve esperar objeções que podem ir de gritos de ultraje a desprezo altaneiro por parte dos especialistas em literatura. menos direta. história e cultura nas ciências sociais e humanas. muitos dos quais são especialistas ateus ou agnósticos. não endureçam suas mentes irrevogavelmente contra o empiricismo que professo. eu creio tanto quanto qualquer um. que. 334] 2. e espero trazer vocês todos para o meu modo de pensar antes de terminar estas palestras. Uma barreira mais sutil. filisteu. que dois mais três somam cinco. que o mundo é maior que uma parte. que tem sido bem conhecida desde o século xviii. Benjamin Franklin e Thomas Paine). é claro.ten e Geisteswissenschaften. é fingir parar o oceano com um junco. mas só do jeito deles. E os mesmos fogos que foram acesos para os here. não do jeito que estou propondo. [David Hume. Se.ges servirão também para a destruição dos filósofos. que é impossível para a mesma coisa ser e não ser. A CORTINA DE FUMAÇA ACADÊMICA A palavra Deus se refere a uma "profundidade" e "inteireza" diferentes de qualquer coisa que nós seres humanos sabemos ou podemos saber. The humanizing brain] Um mistério é um mistério. não apenas a religião.tas (como David Hume. considerarmos que é importante estudar como as pessoas se comunicam a respeito da idéia de que alguma coisa é um mistério. [1902. a jogada mais popular é a desqualificação mais preferencial. mas igualmente frustrante para a investigação direta da natureza da religião foi erigida e mantida pelos amigos estudiosos da religião. do ponto de vista deles. Certamente está além da nossa capacidade de discriminar e rotular. Eu aludi a essa oposição no capítulo 2. Ashbrook e Carol Rausch Albright. Que possamos ganhar cada vez mais ao nos movermos sempre na direção certa. e não paladinos de qualquer credo. Naturwissenschaf. por outro lado. Até então. História natural da religião] James estava tentando impedir a deserção por parte dos devotos. [Ilkka Pyysièainen. [James B. eu peço a vocês. barão d'Holbach e alguns grandes heróis norte.perder a verdade por essa pretensão de a possuir já inteiramente. How religion works] Opor-se à torrente de religião escolástica com máximas tão fracas como essas. "reducionista" e. Quem tentar fazer com que uma perspectiva evolutiva seja relacionada a qualquer item da cultura humana. Eles querem estudar religião. não há razão a priori para que isso deva estar além do alcance do método científico. é "cientístico". p. quando era usada para desacreditar os primitivos ateus e deís.

e os médicos tiveram de abrir seus métodos e suas práticas ao escrutínio de conhecedores que não são. iii] Você pode encontrar argumentos de desqualificação preferencial semelhantes protegendo outros temas. a doutrina misteria. eles próprios. que não estavam disponíveis para aqueles que deslizam sem esforço para o domínio da música. economia. 1991). está uma versão muitas vezes citada do grande estudioso da religião.o elemento do sagrado. sociologia. E preciso conhecer as pessoas. na casta dos mágicos. insights que escaparam ao resto das pessoas normais. tanto a respeito dos fatos como dos princípios. as pessoas que têm dificuldade em estudar para ser músicos algumas vezes reproduzem mecanicamente insights a respeito da natureza da música. apresentou observações impressionantes a respeito de como as pessoas se apresentam e interagem. e de como executá-la. Temple Grandin (1996). doutores em medicina. [1963. já que jamais conseguiremos nos entender? E há o tipo de derrotismo na minha própria disciplina original. p. só aos que têm um profundo apreço pelo sagrado. De fato. o que podemos dizer para aqueles que insistem em que só aos que crêem. Desse modo. lingüística. que é autista. arte ou qualquer outro estudo é falso. Estão enganados em relação aos poderes de imaginação e .na. que insiste em que o cérebro humano simplesmente não está à altura da tarefa de compreender o cérebro humano. Do mesmo modo. porque só elas podem sobrepujar o falocentrismo que deixa os homens obtusos e demonstrando tantos desvios que elas jamais poderão reconhecer e a eles se contrapor. É impossível. Mircea Eliade: Um fenômeno religioso só será reconhecido como tal se for apreendido em seu próprio nível. porque temos medo de que você tenha sucesso! "Você jamais entenderá a mágica de rua indiana se você não tiver nascido indiano. nós mesmos. psicologia. não podemos esperar compreender o mundo das altas finanças e portanto estamos desqualificados para investigar seus negócios. mas um mistério insolúvel (portanto. Os generais não podem fugir da supervisão civil alegando que apenas aqueles que usam fardas podem avaliar o que eles estão fazendo." Mas é claro que é possível (Siegel. que a consciência não é um enigma." Bobagem. então devemos apenas nos sentar em nossos enclaves isolacionistas e esperar que a morte nos alcance. pare de tentar explicá-lo). Apenas mulheres são qualificadas para fazer pesquisas sobre mulheres (de acordo com algumas feministas radicais).o ouvido absoluto. xvii). a filosofia da mente. Jamais deixaríamos os magnatas dos negócios se saírem bem ao dizer que já que não somos plutocratas. O que fica transparente em todas essas alegações é que elas são mais protecionistas do que derrotistas: nem tente. pode ser confiada a investigação de fenômenos religiosos. "Você jamais compreenderá música a não ser que tenha nascido com um ótimo ouvido musical . é que eles estão simplesmente errados. e portanto não tem ouvido para a postura intencional e a psicologia popular. Seria uma negligência nossa deixarmos os pedófilos insistirem que só aqueles que prezam a prática da pedofilia podem realmente compreendê-las. meio século mais tarde. falta o elemento exclusivo e irredutível nele .sentimento religioso não pode falar dela! Ele é como um cego tentando falar de cores" (1915. de acordo com esse tema e todas as suas variações. p. Tentar apreender a essência de um fenômeno desses por meio de fisiologia. E aqui. Bem. ou seja. se for estudado como uma coisa religiosa. Alguns multiculturalistas insistem em que os europeus (incluídos os norte-americanos) nunca conseguem realmente anular seu eurocentrismo incapacitante e compreender a subjetividade do povo do Terceiro Mundo.

que vai permanecer anônimo.las. nas ciências naturais. que não exige experiências. 5]. "Portanto"? Lá por volta de 1973 ele poderia ter sido adequado. é interpretativo. dado o mesmo conjunto de dados.descobrindo a verdade (não a Verdade com "v" maiúsculo a respeito de tudo. A interpretação. com Max Weber. estou digitando no meu teclado. e a ciência não é toda subsunção sob a cobertura de alguma lei. e com freqüência. de tal forma que está em paralelo muito próximo às estratégias interpretativas das humanidades e da antropologia (Dennett. resolveram ridicularizar: Por exemplo. de modo que não causa surpresa o fato de alguns pesquisadores terem parado de respondê. é claro. não como uma ciência experimental em busca de leis. 1995b). Um expoente favorito dessa postura é o antropólogo Clif. mas essas teias podem ser analisadas por métodos que decisivamente envolvem experiências e pelos métodos disciplinados das ciências naturais. Se dissermos isso educada. por exemplo. mas apenas a verdade rotineira a respeito dessa pequena discordância factual em particular). E difícil transmitir como essa incansável barragem de chacotas defensivas é chata.investigação daqueles que eles excluiriam. com a . em vez disso. Tudo nas ciências cognitivas e tudo na biologia evolutiva. mas "semiótica" e "hermenêutica". e estão errados em supor que poderia ser justificável. p. tecemos teias de significados. disso não há dúvida. que o homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo teceu. Uma cortina de fumaça relacionada a isso é a declaração mais geral de que os métodos das ciências naturais não apresentam possibilidade de progresso na cultura humana. Que nós. neste exato momento. mas esse argumento está inteiramente desatualizado. Um antropólogo cultural. limitar a investigação da religião àqueles que são religiosos. uma das poucas diferenças sérias entre as ciências naturais e as humanas é que muitos pensadores nas ciências humanas decidiram que os pós-modernos têm razão: tudo são só histórias. recentemente anunciou a seus alunos que uma das grandes coisas a respeito de sua área é que. seres humanos. Então se contentam em dar risadinhas com a presunção e a ingenuidade de qualquer um que ainda acredite na verdade. portanto [grifo nosso]. não está em oposição à experiência. Os cientistas muitas vezes têm exatamente essas discordâncias a respeito de como interpretar um conjunto compartilhado de dados indiscutíveis. mas uma ciência interpretativa em busca de significados. Fim da história. firmemente. Na verdade. mas para eles é o início de uma tarefa de resolução: qual deles está errado? Constroem-se experiências. considero a cultura como sendo uma dessas teias. Teremos somente que trabalhar mais. e eles têm pelo menos esse tanto de respeito pela lógica. que a apresentou assim: Acreditando. [1973. análises estatísticas e coisas parecidas para resolver a questão . e a análise dela. em qualquer base. Eles não poderiam alegar provas de que não haja uma coisa chamada verdade objetiva. e toda verdade é relativa. Esse processo subseqüente (que pode levar anos) foi declarado impossível ou desnecessário por aqueles ideólogos que zombam da própria idéia de que há verdades objetivas a respeito dessas questões a serem descobertas.ford Geertz. não há dois antropólogos que cheguem à mesma interpretação. porque isso seria se contradizer ruidosamente. 1983. embora possivelmente prejudicados pela nossa falta de fé. eles poderão por fim parar de jogar esta carta e nos deixar seguir com nossas pesquisas. e.

cujo trabalho científico sobre religião venho apresentando . (Quanto mais confuso. o gatilho sensível das suscetibilidades de seus companheiros de ciências humanas quando introduz essas terríveis idéias biológicas no mundo deles (Dennett. mais inteligente vou parecer!) Por que faço isso? Porque sou um homem branco. protestante. 39-40] Os pioneiros. que mascara aquilo que estou realmente fazendo . eles poderão argumentar. mas de manipulação e exploração). Uma das delícias de ler seu livro. Se alguém quiser me estudar. que usa o conhecimento como poder (uma estratégia não de compreensão. Os cientistas têm muito que aprender com os historiadores e antropólogos culturais. Lawson. caminhando na direção contrária. Wilson e os demais -.intenção de criar uma história coerente a respeito da lógica do pós-moder. Quando os defensores humanistas tiverem estudado biologia evolutiva e neurociência cognitiva (e estatística. Dunbar. estou construindo um discurso que me põe à parte de outras pessoas. e todo o resto) com a mesma energia e imaginação que os cientistas dedicaram ao estudo das histórias.enganando todo mundo para adquirir e manter poder. é ver como seu tesouro de insights históricos se torna valioso no contexto das questões biológicas. Method & Theory in the Study of Religion. Pode ser divertido. Boyer. necessária à fundamentação de seus próprios esforços em elaborar teorias. seguindo os passos de William James. no final. poderá olhar além do nível de intenção superficial que acabo de oferecer.nismo. E um dos motivos para espanto é ver quão cuidadosamente ele acha que devemos rodear. e começou a se instruir na biologia evolutiva. Diamond. têm todos de lidar com isso. 2004. e assim aumento meu valor como escritor. A criação do sagrado: traçados da biologia nas primeiras religiões.Atran. apenas uma opinião sobre a realidade. A infraestrutura para a colaboração construtiva já existe sob a forma de periódicos interdisciplinares. amplamente lido em antropologia. Uma das . ele se tornou realmente o primeiro de sua área a tentar cruzar o abismo. pp. 1998b). Sperber. eles se tornarão críticos dignos do trabalho que temem. e Journal of Cognition and Culture. heterossexual. ritos e credos das diversas religiões. inferir que o que eu estou realmente fazendo é inventando uma história a partir da minha experiência pessoal. aquilo que é apresentado como verdade (por exemplo. privilegiado. ver como eles se seguram contra esse massacre e. Para os pós-modernistas. McCauley. e. com o objetivo de progredir na minha carreira acadêmica. preocupado com meus próprios interesses. [Slone. imploram uma platéia de mente aberta. Burkert é um eminente historiador de religiões antigas. além de sociedades profissionais e páginas na web. Quando o classicista de Zurique Walter Burkert ousou expor seus colegas das ciências humanas ao pensamento biológico das origens da religião em suas Conferências Gifford de 1989. pé ante pé. lingüística e sociologia. 1997. em vez disso. este livro) é uma invenção. McClenon. Para conseguir isso. Chega de pleitos! A ironia é que esses intrépidos intrusos têm sido muito mais conscienciosos a respeito de suas tentativas para conseguir uma visão favorável e informada da religião do que os autonomeados defensores da religião em tentar entender os pontos de vista e métodos daqueles contra os quais resistem. como Journal for the Scientific Study of Religion.

Mas realmente não me incomoda o fato de eles não compartilharem da minha crença. Parte daquilo que faz Jeová ser um participante fascinante em histórias do Velho Testamento é Seu majestoso ciúme e orgulho. água . temos de perguntar se os frutos em questão podem nos ajudar a julgar o valor absoluto daquilo que a religião acrescenta à vida humana. atribuímos à seleção natural não é o tipo de Ser que poderia sentir ciúme. montanhas. o mangue e os cachalotes se incomodaria se qualquer de Suas criaturas reconhece ou não Sua autoria. e azar o deles -já que é um fato bastante encantador. isso é um fato bastante grande e animador. está entre mim e a Austrália! Muita gente não sabe disso. cadeiras. evolucionistas. ou de meu deleite. é mais ou menos do tamanho da Lua e está muito mais próxima de nós que ela. POR QUE AQUILO EM QUE VOCÊ CRÊ TEM IMPORTÂNCIA? Hoje temos de mudar nossa atitude da descrição para a apreciação. mesas. mas é difícil ver por que a Inteligência Criativa que inventou o DNA. sem terem de abrir picadas através de uma selva de defensores hostis.e Deus. e Seu grande apetite por louvores e sacrifícios. Imagine só: há uma bola de ferro e níquel derretidos por aí. [William James. de fato. muitas vezes surpreendentemente rudes e condescendentes. lugares. Recomendo que se comportem com modéstia. Em particular. Mas já deixamos esse Deus para trás (não deixamos?).1 3. A Inteligência Criativa que muitos supõem ter projetado tudo o que nós. que inspiram naqueles que temem a abordagem deles. por que as pessoas se importam tanto com o que outras pessoas acreditam a respeito de Deus? Eu acredito que o centro da Terra seja constituído principalmente de ferro e níquel fundidos. Por que acreditamos na crença em Deus? Muita gente responderia: simplesmente porque Deus existe! Eles acreditam em árvores. O ciclo metabólico. pessoas. Por que seria tão importante os outros compartilharem de sua crença em Deus? Será que Deus se incomoda? Posso ver que Jeová talvez ficaria realmente chateado se Ele encontrasse um monte de gente sem saber de Seu poder e grandeza. Isso explicaria mesmo a crença deles em Deus. Eles descobrirão que os antropólogos e historiadores já pensaram sobre a maioria das "novas" idéias deles e têm muito o que falar a respeito de quais são os problemas delas. formulem muitas perguntas e simplesmente não façam caso das esnobadas. The last word] Temos um último defletor a pôr de lado antes de abordar com segurança a questão principal. Com relação a outras coisas em que acredito. espere que não haja um Deus! Eu não quero que haja um Deus. mas não o fato de que acham que acreditar em Deus é tão importante. não é? Conheço professores que podem ficar muito chateados se você fingir que não ouviu falar de seus trabalhos publicados. vento. eu não quero que o universo seja desse modo. [Thomas Nagel. A segunda lei da termodinâmica não está nem aí para se alguém .minhas metas neste livro é fazer com que fique mais fácil para os pesquisadores futuros entrar nessas zonas proibidas e encontrar nativos amigáveis com quem possam colaborar. naturalmente. As variedades da experiência religiosa] Não é só que eu não acredite em Deus e que.

Um antropólogo uma vez me contou de uma tribo africana (não consigo me lembrar o nome) cujas trocas com os vizinhos progrediam a passos lentos. que ele não gostaria que um Deus desses existisse. na maior candura. tanto quanto em qualquer época anterior. que o curioso adjetivo "temente a Deus" teria desaparecido por desuso ao longo dos anos. mas longe disso. opinou: "Hoje. p. como um traço fóssil ou um período juvenil um tanto embaraçoso do passado religioso. visões e impressões esmagadoras do significado de textos das escrituras apresentados repentinamente. p. ou poderia atender às suas preces. uma divindade que exigisse sacrifícios sangrentos para aplacá-la seria considerada sanguinária demais para ser levada a sério" (1902. William James. mas o objeto adequado de adoração realmente tem de ser algum tipo de pessoa. é claro. eu suponho. Podemos ver um atraso semelhante na migração que muitos crentes fizeram de um Deus altamente antropomórfico para um Deus mais abstrato e mais difícil de imaginar. Mas como James chamou a atenção. é um capítulo monumental na história do egoísmo humano. já que ele tinha de esperar que sua alma chegasse. seja ele lá qual for.concordam uns com os outros ao reconhecer apelos individuais”. em resumo. Deus é . e ele pode muito bem ser tão indiferente quanto eu em relação ao Fundamento de Todos os Seres. o indivíduo religioso diz a você que o divino se encontra nas bases de seus interesses pessoais" (1902. Eles ainda usam linguagem antropomórfica quando falam de um Deus que (sic) não é de todo um ser sobrenatural. as emoções comoventes e afetos tumultuosos relacionados a crises de mudança. embora filosoficamente ilegítima. falantes bípedes implu. pelo menos uma vez na vida. e eu pensaria que o Fundamento de Todos os Seres deve ser um indutor igualmente pouco emocionado.de Spinoza. pelo jeito.mes. “Os deuses nos quais se acredita . (Eu duvido que Nagel ache repugnante o Deus sive Natura . 491).uma pessoa que lhes fala diretamente -. em uma revelação."Boa e velha gravidade. Religião. porém. se não diariamente. quando diz.acredita nela. As almas nessa cultura andam devagar.sejam toscos selvagens ou homens intelectualmente disciplinados . . 328). Para muitos devotos. Um século mais tarde. não importa quão inconcebivelmente diferente de nós. p. Fica bastante claro por que eles fazem isso: permite-lhes transportar todas as conotações exigidas para entender um amor pessoal de Deus. observou James. poucos concordariam publicamente com Thomas Nagel.Deus ou Natureza . mas apenas uma essência (para usar a terminologia útil. isso tudo é óbvio. Um emissário enviado a pé para o assentamento de uma tribo vizinha descansava durante um dia inteiro depois de chegar. ou perdoá-lo. ser simulados por Satanás. Pode-se supor. muita gente insiste em que a linguagem antropomórfica usada para descrever Deus é metafórica. de Stark).) Se pressionada. ela nunca o deixa na mão!" -. Pode-se sentir. ou ainda pior. de modo que a "incorreção teológica" que persiste ao se imaginar Deus como aquele Velho Sabichão no Céu é não apenas tolerada pelos conhecedores. como vozes. na virada do século xx. "Hoje. As pessoas querem um Deus que possa ser amado e temido como você ama ou teme outra pessoa. [1902. então. mas sutilmente encorajada. Só uma pessoa poderia ficar literalmente decepcionada com você se você não se comportasse bem.evidente . um determinado afeto ou gratidão por uma lei da natureza . não literal. podem vir todos por meio da natureza. antes de conduzir qualquer negociação oficial. os próprios devotos não deveriam apostar muito nessas experiências: Os incidentes sobrenaturais.

não honramos aqueles cujo amor à evolução impede que pensem clara e racionalmente a respeito dela! Pelo contrário. Do nosso ponto de vista. esclarecendo e aguçando nosso pensamento em diversos aspectos. ou se Deus gosta delas porque elas são boas. a partir de suas poderosas experiências pessoais. Embora essas investigações possam ter algum sentido em uma tradição teológica. testar a santidade pelo bom senso. essas revelações não se saem bem. puro deleite com a glória do panorama evolutivo. em qualquer estabelecimento ecumênico no qual aspiremos ao consenso "universal". que gostamos da evolução. até certo ponto: elas querem que o mundo seja um lugar melhor. espanto. mas a evolução não é a minha religião.238] Desse modo. a evidência da história torna claro que. Mesmo assim. Além do mais. e. usar padrões humanos para nos ajudar a decidir até que ponto a vida . não existe porto seguro para o mistério ou a incompreensão. Então a minha crença de que a crença na evolução é um caminho para a salvação não é uma religião? Não. Filósofos e teólogos muitas vezes debateram a questão de saber se ações são boas porque Deus gosta delas. e vou usar suas palavras para enquadrar as questões para nós. junto com isso. degradação do ambiente e perda da biodiversidade. teremos de escolher a última suposição. à medida que o tempo passou. com pedidos de desculpas àqueles cuja equanimidade é perturbada por eu fazer uma pergunta tão fundamental: quais são os prós e os contras da religião? Será ela digna da intensa devoção que inspirou na maioria das pessoas do mundo? William James também liderou o percurso desta investigação. Eu também quero que o mundo seja um lugar melhor. e ele percebeu que essa evolução sempre reagiu a julgamentos de valores humanos: O que eu então proponho fazer é. Elas não podem ser usadas como contribuições para a discussão comunal que estamos conduzindo agora. Acham que fazer com que outros compartilhem de suas crenças a respeito de Deus é o melhor meio de alcançar aquela meta. James observou que as religiões realmente tinham evoluído. porque elas são maravilhosas por si mesmas. o sentido de moral que as pessoas tinham a respeito do que é permissível e do que é odioso mudou. Por esse motivo quero que as pessoas compreendam e aceitem a teoria da evolução: eu acredito que a salvação pode depender disso! Como assim? Abrindo-lhes os olhos para os perigos de pandemias. suas convicções sobre o que Deus gosta ou detesta. Sim. o motivo pelo qual as pessoas se incomodam tanto com o que as outras acreditam a respeito de Deus é uma boa razão. agora. Muito antes de qualquer pessoa falar de memes ou de memética. apesar de todas as alegações de princípios "eternos" e "imutáveis". há humildade. mas também porque revelam um pouco do progresso que fizemos no século passado. independentemente de quão convencidas algumas pessoas estejam. Aqueles que vêem blasfêmia ou adultério como crime merecedor da pena de morte hoje são uma minoria em extinção. graças a Deus. e isso está longe de ser evidente.preensões e declarações românticas errôneas sobre essas grandes idéias desorientaram a eles mesmos e aos outros. somos particularmente críticos com relação àqueles cujas incom. Eu não tenho religião. Então. Por isso. sinto como um imperativo moral disseminar a palavra da evolução. Nós. existe uma grande diferença. e informando a elas sobre algumas das fraquezas da natureza humana. para falar brevemente. mas esses sentimentos não estão acompanhados por (ou ao serviço de) um abandono voluntário (quanto mais arrebatador) da razão.

O que. mais capazes de suportar suas infelicidades sem se abandonarem. As formas pelas quais a religião se propõe a realizar isso ele chama de "santidade". Será que a evolução promove o bom? Depende. perguntando o que deveria ser. postura moral e felicidade. [1902.. em graus variados. e evita determinadas formas de doenças tão bem quanto a ciência. de como fazemos e respondemos a pergunta cui bono?. sua expressão desvia o julgamento na direção do otimismo: os que resistiram à extinção ao longo dos séculos são apenas aqueles memes que de fato fortalecem de algum modo a humanidade. deixando a importantíssima questão sobre o papel da religião na moralidade para outro capítulo. como vimos. com maior força de vontade contra a tentação. tanto física como mentalmente. no formato de cura da mente. Ou poderia realizar dos dois lados. As variedades da experiência religiosa] . 4. p. (1902.religiosa se recomenda como um tipo ideal de atividade humana [.] E quase a eliminação do humanamente não apto e a sobrevivência do humanamente mais apto aplicadas às crenças religiosas.. O QUE SUA RELIGIÃO PODE FAZER POR VOCÊ? A religião. e essa escolha das palavras obscurece a visão dele. Apesar de seu desejo de olhar a história sem preconceitos. [William James. exatamente. ou até melhor. sob circunstâncias diferentes. Pode fazer com que as pessoas sejam mais eficazes em suas vidas diárias. mais saudáveis. se não. Há muito a ser dito em relação aos dois modos. Mas agora. e o restante deste capítulo será dedicado à primeira alegação. pela primeira vez neste livro. mais constantes e compostas. em determinada classe de pessoas. deveríamos rapidamente dar cabo deles. estamos nos desviando da explicação e da descrição e nos voltando para a apreciação. e não apenas o que é (e como chegou a ser): Se os frutos para a vida do estado de conversão forem bons. porque a evolução é sempre uma questão de progresso na direção do melhor. Ou pode tornar as pessoas moralmente melhores. como James disse. dá a alguns de nós serenidade. menos atormentadas pelo desespero. de qualquer outro modo. mesmo que sejam uma porção de psicologia natural. temos de admitir que nenhuma religião jamais se estabeleceu ou se provou a longo prazo. 237) Será que a religião nos torna melhores? James distinguiu dois modos principais pelos quais isso pode ser verdade. p. não interessa que ser sobrenatural o tenha infundido. em vez de não apto "biológica" ou "geneticamente". Ele chama isso de "movimento de cura da mente". deveríamos idealizá-los e venerá-los. 331] Quando James fala do que é "humanamente não apto" ele quer dizer algo do tipo "não apto para uso humano". e se olharmos francamente e sem preconceitos para a história. eles fortalecem: a aptidão genética humana? A felicidade humana? O bem-estar humano? James nos dá uma versão muito vitoriana do darwinismo: aquilo que sobrevive tem de ser bom.

se possível -. 120). [Ambrose Bierce. como seu lema para o dia. 114). ao se vestirem de manhã. Selling God] Prece: pedir que as leis do universo sejam anuladas em benefício de um único suplicante. e mesmo que este não seja o objetivo para os integrantes de uma Igreja. tanto espiritual como física. 95] James perguntou se as religiões forneciam apoio tão bom ou melhor que suas contrapartes seculares. eu pesaria os sacrifícios com muito cuidado e eliminaria qualquer deficiência gratuita . por mais que possam protestar a respeito de seu distanciamento da ciência. de modo que cada religião tem de fazer lá seus acordos. [Lei da Eficácia da Prece de Nicholas Humphrey. e observou que. na própria época de maior vigor da autoridade científica. Se eu tentasse projetar uma organização secular para promover a paz no mundo. 119). não há nada de errado em prestar atenção cuidadosa a qualquer fator que possa melhorar a saúde. Os "infomer. Você não consegue agradar todo mundo o tempo todo. Os levantamentos e as investigações informais de James foram os precursores das intensivas e algumas vezes bastante sofisticadas pesquisas de mercado empreendidas por líderes religiosos nos últimos anos. e ele observou que as Igrejas enfrentam uma "eterna luta interna da religião aguda de uns poucos contra a religião crônica dos demais" (p. Mesmo que eu esperasse e encorajasse sacrifícios desses que se afiliassem. "Aqui. por exemplo.Ninguém ousa sugerir que letreiros de neon piscando a mensagem de que "Cristo Salva" pode ser propaganda enganosa. elas precisam de coisas diferentes da religião. e cada dia praticamente irá provar que você tem razão" (p. Laurence Moore. ela continua com uma guerra agressiva contra a filosofia científica. uma vez que reconheço que a organização estaria sempre competindo com todos os outros modos pelos quais as pessoas podem gastar seu tempo e sua energia. daqueles que são membros devotos e ativos. de fato a religião se fia na "experiência e verificação" a todo momento: "Viva como se eu fosse verdade. e tem sucesso usando os métodos e as armas peculiares da própria ciência" (p. Ouve-se falar do "Evangelho do Relaxamento". The Devils Dictionary] Em um mundo perigoso haverá sempre mais pessoas cujas preces por sua própria segurança foram atendidas do que aqueles cujas preces não o foram. além das pesquisas mais acadêmicas realizadas por psicólogos e outros cientistas sociais tentando avaliar as alegações feitas em prol da religião. Em outras palavras: você verá os resultados por si mesmo. vigor!". tente. mas igualmente floresceram os promotores de todo tipo de produtos e regimes fantásticos. se quiser. [R.e os substituiria com benefícios. certamente estaria com os olhos abertos para quaisquer feições que tivessem o benefício incidental de favorecer a saúde e prosperidade dos associados. Movimentos de revival religioso floresceram na época de James.3 . [p. diz [a religião]. Os melhores vendedores são os fregueses satisfeitos. confessadamente indigno. 2004P James especulou que pode haver dois tipos inteiramente diferentes de pessoas: os que pensam na saúde e os que pensam na doença. do "Movimento Não se Preocupe". de modo a dar um impulso maior aos sacrifícios essenciais. saúde.ciais" de auto-ajuda na televisão hoje são descendentes de uma longa linhagem de mascates primitivos que ofereciam seus produtos em espetáculos em tendas e teatros alugados. de pessoas que repetem para si próprias "Juventude.

se os resultados tenderem a se evaporar à medida que os estudarmos intensivamente. Na maior parte dos levantamentos. que estejam relativamente mal informados a respeito dos mecanismos e condições dos fenômenos. é preciso cuidado. 1988). ver Koenig et al. Vamos ter de ver. Por outro lado. Deveríamos ficar alertas para a possibilidade de que os bons efeitos. que planejam levar todo mundo para o planeta deles e ensinar todos a voar (e envol. Pode muito bem ser que acreditar em Deus (e envolver-se em todas as práticas que acompanham essa crença) melhore seu estado de espírito. eles terão melhor desempenho.demiologia e da saúde pública para responder a questões do tipo: aqueles que vão regularmente à igreja vivem mais. ou são completamente obliterados. Já sabemos.Então a religião faz bem à saúde? Há provas crescentes de que muitas religiões tiveram um sucesso notavelmente bom nesse aspecto. Uma onda de interesse. Muitos efeitos estudados por psicólogos dependem de sujeitos ingênuos. 10%. são muito menos comuns entre as mulheres dos países islâmicos. Os efeitos diminuem.ver-se em todos os comportamentos apropriados a essa crença).. os resultados são positivos. digamos. Por exemplo. Mas já que a literatura mundial transborda de histórias de pessoas que se beneficiaram enormemente por terem sido enganadas por conhecidos bem-intencionados. 2000. se sustentarem maior escrutínio. E. (Para uma visão geral. os efeitos podem ser robustos sob uma barragem de atenção cética. Os resultados até agora são fortes. até fazermos a experiência.4 Já que os efeitos benignos que as religiões parecem ter provavelmente diminuiriam se o ceticismo se instalasse. quando os sujeitos recebem mais informação. podemos prever que aqueles que têm certeza de que os efeitos são reais protestarão que o "clima de . nos quais a atração física das mulheres desempenha um papel de figurante em comparação ao que ocorre nos países ocidentalizados (Abed. lembrando que também pode ser verdade que acreditar que a Terra está sendo invadida por alienígenas do espaço. que ilusões positivas melhoram a saúde mental. 1994). melhora seu estado de espírito e sua saúde em 20%! Não saberemos. em. e. como anorexia nervosa e bulimia. têm menor propensão a sofrer ataques cardíacos etc. Deveríamos fazer a pesquisa para termos a certeza. independentemente de justificação. concentra todos os instrumentos estatísticos da epi. mas existem críticos que afirmam não haver certeza quanto a isso (Colvin e Block. atualmente. distúrbios da alimentação. é claro. portanto sua saúde. teríamos de nos confrontar com a questão ética de se qualquer quantidade de benefícios à saúde poderia justificar esse embuste deliberado. Há alunos que demonstram. que iestá ficando rapidamente desatualizada. melhorando tanto a saúde como a moral de seus fiéis. que se você disser aleatoriamente à metade de um grupo de sujeitos que eles estão "acima da média" na tarefa em questão. de modo que o poder da crença falsa para melhorar as capacidades humanas já está estabelecido. 1998). ás vezes muito positivos. estejam ameaçados por qualquer coisa que lance uma luz muito forte do exame público sobre eles. de forma bastante independente das boas obras que tenham realizado para beneficiar os outros. de acordo com alguns pesquisadores (por exemplo. Se essas elaborações fossem mais eficazes que qualquer credo religioso conhecido. mas é preciso investigação mais profunda. Taylor e Brown.) Os resultados iniciais são impressionantes o bastante para ter provocado menosprezos céti. por estudos envolvendo muitos tipos diferentes de desempenhos. não poderíamos ficar surpresos ao encontrar efeitos positivos para falsidades bem escolhidas.cos automáticos de alguns ateus que não pararam para pensar como essas questões independem do fato de qualquer crença religiosa ser ou não verdadeira.

E eles poderão ter razão. . não é necessário invocar nenhuma força sobrenatural para justificar esses benefícios ambientais à saúde. esperando para ver qual será o veredicto? E se acontecer. Os benefícios potenciais de se juntar à comunidade científica nessas questões são enormes: obter a autoridade da ciência em apoio àquilo em que você acreditou com todo o coração e toda a alma. Esses estudos são bem diferentes. se os estudos forem feitos adequadamente e não mostrarem efeitos positivos. Até a Igreja Católica Apostólica Romana. Se você for provar e falhar. com o infeliz legado de perseguição aos seus próprios cientistas. "rezar com esperança real e intenção real de que Deus vá interferir e agir pelo bem de alguma outra pessoa específica ou outra entidade" (Lonogman. Isso. rigorosamente controlado. Como acabamos de observar. isso seria quase impossível de explicar para a ciência. para resolver muitas questões factuais controversas.de suas tradicionais afirmativas a respeito do Sudário de Turim. os que têm dúvida da autoridade da ciência ou a temem deverão pesquisar sua alma. com antecedência. a despeito do resultado. a consentir na publicação de qualquer pesquisa que financiem. dos estudos mencionados acima. Não é à toa que as novas religiões dos dois últimos séculos receberam nomes como Ciência Cristã e Cientologia. Realizam-se estudos sobre a eficácia da prece intercessora. 2000).exatamente como as companhias farmacêuticas. Por outro lado. conduzida adequadamente. pelos princípios da verdade na publicidade. parece agora claro. Mas se um teste conduzido adequadamente. Reconhecem eles o poder da ciência. As apostas são altas. E poderão estar enganados. que acreditam na eficácia da prece intercessora têm uma tarefa difícil. em suas implicações. as religiões que praticam a prece intercessora seriam obrigadas. em uma população suficientemente grande de sujeitos. de a religião não ser melhor que as fontes alternativas de bem-estar. a renunciar a qualquer defesa de sua eficácia . recentemente se mostra ansiosa para buscar a confirmação científica . No futuro. ou revertem o julgamento. Esse é o éthos da ciência: o preço que você paga pela confirmação qualificada de sua hipótese favorita é arriscar uma refutação qualificada dela. por exemplo. duplocego. praticam e pagam o dízimo. mais do que em qualquer outra área de conflito entre ciência e religião. essas companhias serão obrigadas. Muitos ateus e outros céticos confiam tanto em que não é possível a existência desses efeitos que se vêem ávidos para que os testes sejam executados. apesar de todas as provas relatadas e de montanhas de testemunhos. fazendo com que fenômenos perfeitamente reais desapareçam sob a luz rude da ciência. Aqueles. em termos inegáveis. já que. será que vão estar dispostos a aceitar o resultado e parar com a publicidade? Algumas das principais companhias farmacêuticas atualmente são bombardeadas por tentar suprimir a publicação de estudos que financiaram e que não mostraram a eficácia de seus produtos. também. Aqui.5 Uma linha da onda atual de pesquisa sobre a religião levanta uma questão muito mais fundamental. mas por quem ninguém reza. tem a obrigação de nos contar.ceticismo" é prejudicial aos efeitos. ao contrário. demonstrasse que as pessoas por quem se reza têm uma probabilidade significativamente maior de melhorar que as pessoas que recebem os mesmos tratamentos médicos.e aceitar o risco da refutação . sem uma grande revolução. os cientistas já têm bastantes recursos à mão para explicar os benefícios gerais à saúde para aqueles que rezam. Aqueles que quiserem defender os benefícios da religião para a saúde terão de obedecer às mesmas regras: prove-os ou abandoneos. pode ser testado de modo indireto.

os defensores da religião podem.mas eles precisam ser identificados. mas ainda há outros em andamento.Centro Médico da Universidade Columbia. o The Neu' York Times fez uma matéria sobre um estudo notável da Universidade Columbia. diretor da pastoral no Hospital Presbiteriano de Nova York . dois deixaram seus cargos na Universidade Columbia. 2004. Mas. a religião poderia demonstrar. apontar para benefícios menos tangíveis. financiado pela Fundação Templeton. Jr. e é exatamente isso o que você está fazendo quando projeta um estudo para ver se Deus atende às suas preces. Dos três autores do estudo. Todo esse exercício barateia a religião e promove uma teologia infantil. Do mesmo modo. Mesmo que os estudos acabem mostrando que não funciona. bastião do estabelecimento médico. o Journal of Reproductive Medicine. concluiu um estudo recente (Lung et al. Além do mais. já que a Universidade Columbia não é uma faculdade do Cinturão da Bíblia. publicados em um grande periódico científico. Seria um erro supor que essas bênçãos "espirituais" não possuem lugar no inventário de motivos que os céticos tentam demonstrar. Os resultados. Em outubro de 2001.um resultado positivo faria a ciência parar. revelando. . incluindo um grande estudo realizado pelo dr. 2002). a saúde dos participantes. apoiou o resultado em um press-release que descrevia as salvaguardas adotadas para garantir que essa fosse uma investigação adequadamente controlada. que não tinha ligação alguma com a universidade. Lawren. para seus adeptos. 2004). seria um erro supor que a inexistência de um efeito de prece intercessora mostraria que a prece é uma prática inútil. portanto.e também não tem credencial médica alguma (Flamm. que suas reivindicações à verdade não eram de todo vazias. pronto para desafiar milagrosamente as leis da natureza em resposta a uma prece. de modo que ainda não há veredictos a respeito da hipótese de que a prece intercessora realmente funciona (ver. foram dignos das manchetes. embora mais substanciais. de conspiração para cometer fraudes em correspondências e em bancos . haverá muitas evidências de benefícios menos milagrosos para os integrantes ativos de uma Igreja. e o terceiro. p. supostamente. mesmo que o moral delas não melhore de modo mensurável. O reverendo Raymond J. que estaria imediatamente sob suspeita em muitos setores. que é tudo o que muitas Igrejas têm sempre afirmado. com toda a razão. Depois de quinhentos anos de retirada constante em face do avanço da ciência. expressa a visão liberal: Não há meios de se pôr Deus em teste. [Carey. para resumir uma longa e sórdida história. Há benefícios mais sutis a serem analisados . outros têm sido severamente criticados. A Escola de Medicina de Columbia. podem muito bem receber algum consolo de nada mais do que o fato de saberem que estão sendo reconhecidas. 32] Exposição prolongada à fumaça do incenso e de velas acesas pode ter algum efeito deletério para a saúde. mas há muitas outras evidências de que a participação ativa em organizações religiosas pode melhorar o moral. notadas. e. que as mulheres inférteis por quem se rezava ficavam grávidas com freqüência duas vezes maior que aquelas pelas quais ninguém rezava. Dusek et al. de que Deus está lá. Um estudo foi desacreditado. Herbert Benson e seus colegas na Escola de Medicina de Harvard. que se pensa nelas.. em termos que os cientistas teriam de respeitar. por exemplo.. 2003). como ter um significado para sua vida! As pessoas que sofrem. [não estou brincando]. Daniel Wirth. mais tarde foi revelado que se tratava de um caso de fraude científica.ce. recentemente se declarou culpado em um caso sem relação com o primeiro.

e positivas. como a barreira do amor. é se a religião é a base da moralidade. a evidência sobre essa questão é mista. Parece realmente haver alguns benefícios para a saúde. mas é cedo demais para dizer se há outros meios melhores de fornecer esses benefícios. Recebemos o conteúdo da moralidade por intermédio da religião. A questão mais importante.*** Capítulo 9. a barreira da territorialidade acadêmica e a barreira da fidelidade a Deus. ou é ela uma infra-estrutura insubstituível para organizar a ação moral. Antes de responder às questões de se a religião é. *** Capítulo 10. uma coisa boa. mas essas são questões que precisam ser reexaminadas à luz daquilo que aprendemos. . devemos primeiro examinar diversas barreiras de proteção. sob todas as considerações. voltando-se primeiro para a questão: a religião é boa para as pessoas? Até agora. ou propicia ela força moral ou espiritual? Muitos acham que as respostas são evidentes. finalmente. por exemplo. Então será possível considerar calmamente os prós e os contras da devoção religiosa. e também para dizer se os efeitos colaterais contrabalançam os benefícios.

é preciso religião. pega a cruz e segue. ou se entregariam a seus desejos mais baixos. 1999] O PAPEL MAIS importante da religião é sustentar a moralidade. enganar os esposos. vende tudo o que tens. a vida que você vive seria apenas uma gota no oceano. você vai morrer.1 0 . o que é uma boa notícia. então vem. Terror in the name of God] Pessoas boas farão coisas boas. e pessoas más farão coisas más. negligenciar suas obrigações e daí por diante. dando às pessoas um motivo invencível para serem boas: a promessa de uma recompensa eterna no céu. 5-6] Acreditando. quebrar suas promessas. citado por Jessica Stern. segue o raciocínio. Eles não compreendem que haverá vida depois da morte. Se a vida depois da morte fosse um oceano. não sabem lutar e são covardes. se não o forem. a destruição do nosso mundo não parecerá tão horrível. MORALIDADE E RELIGIÃO 1. a sua alma o abomina. religiosas ou . e (dependendo do gosto) a ameaça de punição eterna no inferno. Para aqueles que admitem inteiramente a imortalidade da alma humana. Portanto é muito importante que você viva a sua vida para Alá. Mas para que pessoas boas façam coisas más . Sem o incentivo divino. o pensamento de que ele e outros seres conscientes estão fadados a uma aniquilação completa depois de tal lento progresso contínuo é intolerável. [Marcos 10. [Salmos 11. fitando-o. Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre.sador será a parte do seu cálice. [Um jovem mujaheed (combatente) do Paquistão. que o homem no futuro será de longe uma criatura muito mais perfeita do que é hoje. já que (2) é uma visão muito degradante da natureza humana.me. A RELIGIÃO NOS TORNA MORAIS? Mas Jesus. 21] O Senhor põe à prova o justo e o ímpio: mas o que ama a violência. Não descobri nenhuma evidência que sustente a alegação de que as pessoas. pensam muitos. Você não pode viver para sempre. as pessoas ficariam por aí sem metas. para que seja recompensado depois da morte. [Charles Darwin. A vida depois da morte é eterna. Há dois problemas bem conhecidos com esse raciocínio: (1) não parece ser verdadeiro. e o vento abra. como acredito. amou-o e disse: Só uma coisa te falta: Vai. [Steven Weinberg. dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Life and letters] Os não-muçulmanos gostam demais da vida.

a mais alta (Barna.. Pela lógica. Até este momento. uma reductio ad absurdum (redução ao absurdo) na qual só os moralistas mais descuidados cairiam.) Cada mês que passa sem uma demonstração dessas enfatiza a suspeita de que a coisa não é bem assim.inclusive os sem afiliação religiosa -. No entanto. A letra continua: "então seja bom. Todo mundo já conhece as provas para a hipótese contrária. a canção deveria ter continuado "então seja bom por amor aos equipamentos eletrônicos. desde os dias de Hume e Kant. Brights e outros sem afiliação religiosa exigem a mesma amplitude de excelência moral e de torpeza que os cristãos renascidos. faça uma diferença significativa. Filósofos da moral que concordam com pouco mais que isso. o Deus que recompensa a bondade no céu tem uma semelhança espantosa com o herói da canção popular "Santa Claus is coming to town" [Papai Noel vem aí]. já que tantas organizações religiosas estão ávidas por confirmar cientificamente seus credos tradicionais a esse respeito. até o presente. se você foi mau ou bom". já que eles encaram isso como uma concepção infantil de Deus. ou o castigo no inferno. e não se alcançou nada que se aproxime do consenso estabelecido entre os pesquisadores. ela seria logo descoberta. sabe se você está acordado. protestantes. prática ou crença religiosa. Não é preciso dizer que esses resultados batem muito forte contra as alegações de um maior padrão de virtude moral entre os religiosos suscitaram uma onda considerável de novas pesquisas. Já está bastante claro o motivo pelo qual os crentes possam querer apresentar provas de que a crença no céu e no inferno tem efeitos benéficos. não surgiu nada muito surpreendente. encararam essa visão da moralidade igual à perfeita felicidade como uma espécie de armadilha. de que a crença na recompensa no céu pode algumas vezes motivar atos de monstruosa maldade. e os cristãos renascidos. encabeçadas por organizações religiosas que tentam refutá-los. estuprar.. mas lógico. muçulmanos e outros . para começar. representados mais ou menos na mesma proporção que na população em geral. que não acreditam na recompensa no céu e/ ou na punição no inferno têm mais propensão a matar. pelo amor de Deus". passando por Nietzsche. [no prelo]. Muitos pensadores religiosos concordam: uma doutrina que troca as boas intenções de uma pessoa pelos desejos prudentes de um maximizador . Se você for bom pelo amor de Deus. Deus "sabe se você está dormindo. (Elas ficam bastante impressionadas com o poder que a ciência tem de encontrar a verdade quando ela confirma aquilo em que já acreditam. é de que. Assim como Papai Noel. se houvesse uma relação positiva significativa entre o comportamento moral e a afiliação. Mas de uma coisa podemos ter certeza. roubar ou quebrar suas promessas do que as pessoas que acreditam.não. 1999). há muitos na comunidade religiosa que não acolheriam de bom grado a demonstração de que uma crença na recompensa de Deus no céu. ou negam ativamente qualquer relação entre o comportamento moral "na terra" com uma eventual recompensa e castigo pós-morte.' A população carcerária nos Estados Unidos é formado por católicos. incentivando a imaturidade. bonecas. artigos esportivos e outros presentes que você espera ganhar. Como observa Mitchell Silver. em lugar de encorajar o genuíno compromisso moral. E quando se trata de "valores de família". Exatamente. mas que só ganhará se o onisciente e justo Papai Noel julgar que você merece". o Papai Noel que vê tudo seria irrelevante como motivador da sua virtude. assim como integrantes de religiões que não enfatizam. a evidência disponível até agora sustenta a hipótese de que os brights têm a menor taxa de divórcio nos Estados Unidos. judeus. Um solecismo ardiloso.

se a força fosse grande o bastante. simplesmente porque sua reputação também está em jogo. a credibilidade dos pacificadores diminuiu. se o mundo tiver sorte. como uma escada que. No passado remoto. mas algumas vezes podem ser garantidas. no Iraque pósSaddam. 16). Você pode ter uma boa razão para cumprir o seu lado do contrato.e este é o aspecto importante para Schelling . pode ser descartada. Com forças insuficientes. A democracia falha e frágil que foi instalada ainda pode sobrepujar seu início corrupto e violento. Esse meme seria vulnerável ao colapso se sua credibilidade se visse ameaçada. não importa quão sombrio pareça hoje o panorama. você pode queimar as pontes atrás de você para que não possa fugir. adotaram. de subjetivas em seguras.racional em busca da felicidade eterna poderá ganhar certas vitórias baratas. e não há autoridade ou outra parte que possa fazê-lo valer.uma promessa feita "aos olhos de Deus" pode muito bem convencer aqueles que acreditam Nele de que se criou um tipo de escritura virtual.). destruindo a confiança na segurança. com leis e ordem suficientes para que essa promessa crível pudesse se firmar. o comércio. o direito de ir e vir e todas as outras coisas que temos como garantidas. Só em um clima de confiança desses pode florescer o investimento. pelo menos na cabeça do crente" (citado em Nesse (org. e perpetuar tanto o sofrimento de seus habitantes quanto a insegurança de seus vizinhos. Os motivos para a incorporação de qualquer dispositivo de supressão de dúvidas que se possa encontrar teriam ficado evidentes (para as forças cegas da seleção cultural e provavelmente para . e. Pense na situação atual do Iraque. protegendo as duas partes e dando a cada uma a confiança de ir em frente.dores dos terroristas da Al Qaeda. Promessas podem ser feitas e quebradas. Podemos ver um eco desse reconhecimento familiar no escárnio com que muitos dos comenta. Pense em uma situação em que duas partes se confrontam com uma perspectiva de cooperação sobre alguma coisa que as duas partes desejam. no entanto. Um compromisso pode ser garantido pelo fato de ser auto-imposto. bem treinada o bastante e disposta a tranqüilizar as pessoas sem ter de dar um tiro. por suposta meta de se deleitarem no céu com 72 virgens (cada) como recompensa pelo seu martírio. e este é um bem social muito valioso. em n de setembro. mesmo que mude de idéia. no qual se supõe que uma força de segurança vá propiciar uma plataforma temporária. de preservar sua reputação. com tanta certeza como a de que as forças de ocupação no Iraque dependem da credibilidade (problemática) para sua própria eficácia. a própria idéia de um Deus que tudo vê pode muitas vezes ter permitido que uma população de outro modo caótica e ingovernável se transformasse em um Estado em funcionamento. mesmo que suas razões para assiná-lo. Estados fracassados têm um modo de se perpetuar. e um ciclo defeedback positivo de violência foi posto em andamento. Ou pode se garantir por seu desejo maior. atraindo algumas almas egoístas e sem imaginação a se comportar durante algum tempo. na qual seria erguida uma sociedade que funcione. p. Ou . Como isso poderia funcionar? O economista Thomas Schelling disse que uma "crença em uma divindade que recompensa a bondade e castiga a maldade transforma muitas situações. tenham desaparecido. Como se pode sair de uma espiral descendente desse tipo? E difícil dizer. 2001. Pode até ser que tivesse funcionado desde o início. mas cada uma está com medo de que a outra dê para trás em qualquer negócio fechado. no entanto honrá-lo por ter desempenhado um papel fundamental no passado. por exemplo. uma vez subida. mas sob o custo de degradar sua campanha mais ampla pela bondade. em primeiro lugar. sem medo de ser passada para trás pela outra parte.2 Podemos manter afastado esse tema como um fundamento da nossa moralidade hoje.

clemente. é outra vítima das cortinas de gaze da veneração fora de foco através da qual tradicionalmente inspecionamos a religião. já que se trata de reconhecer que "bons. mas tem a desvantagem'de se soca. então qualquer pessoa que o ame gostaria de ser justo. Mesmo assim. Hoje. Além do mais. e não temido. em uma só dessas duas visões muito diferentes do papel motivador de Deus. p. missionários e reformadores religiosos está aí para provar a tranqüilidade da mente.as próprias autoridades). A superposição. mas sua crença na razão absoluta da causa pode bem ser um ingrediente crucial para criar a calma com a qual os soldados verdadeiramente eficazes vão para a batalha. nos distrairmos com conflitos menores de dogma. como dizemos hoje.var. quando os modelos de confiança mútua estão estabelecidos com bastante segurança nos estados democráticos modernos. O Deus que o vê não precisa ser visto como o Papai Noel que faz uma lista. se eles pedirem. misericordioso. Já não precisamos mais de Deus. e embora . Talvez o valor delas como organizadoras e amplificadoras de boas intenções ultrapasse de longe os déficits criados pela suposta incoerência gerada pela contradição entre (algumas de) suas doutrinas. em público. ou o Grande Irmão de Orwell. estão protegidos [com armadura] contra todas as fraquezas. nós somos. Mas ele continua a viver em juras ilegais . e toda a série histórica de mártires. mas sentem. mas. o Policial para criar um clima no qual podemos fazer promessas e. como se fossem traços fósseis de uma era anterior. realizar os negócios humanos. quando há tanto trabalho a ser feito para tornar o mundo um lugar melhor. Por que criar uma divergência onde não existe nenhuma? Não balance o barco.e certamente não o melhor .e na imaginação de muitos que ficam aterrorizados com a perspectiva de abandonar a religião. Os guerreiros da religião de hoje podem ser sofisticados demais para esperar que o seu Deus pare as balas no ar. com base nelas. que o ato de se render traz. como um herói ou um "modelo de personagem".admissão modesta que está em conflito com as reivindicações tradicionais de pureza que as religiões acham irresistíveis. amoroso e o Ser mais maravilhoso imaginável. e um ato de inépcia moral. em vez disso. Essa é uma alegação persuasiva. Mas a recompensa no céu não é o único . sob circunstâncias naturalmente agitadas ou perturbadoras. mas temos coisas mais importantes a fazer do que consertar nossas bases" . misericordioso. "Será feita a vontade de Deus". de certa maneira. 285] Esse estado de espírito heróico não se harmoniza bem com a modéstia secular. esses lapsos do absolutismo ameaçam solapar a principal fonte psicológica do poder organizacional que se está reconhecendo. as nervosas defesas das religiões contra a dúvida corrosiva começam a mostar vestígios.tema de inspiração na doutrina religiosa. independentemente de qualquer crença religiosa compartilhada. Com escreve William James: Aqueles que não apenas dizem. Já se concordou amplamente que todas as religiões fornecem infra-estruturas sociais para criar e manter uma equipe moral. clemente. amoroso por amor à bondade. Talvez seja um perfeccionismo bobo. não somos perfeitos. alguém a ser imitado. Se Deus for justo. pode ser que haja a melhor das razões (bases racionais descomprometidas) para não se espiar muito de perto essas pequenas diferenças entre doutrinas. [1902.

) . em oposição à violência. e é provavelmente . o desejo inspirado por Hollywood de levar uma vida aventurosa. bárbaro demais do que possuir sentimentalismo e razoabilidade humanos demais" (p.estar subseqüente não parece motivar os ativistas suficientemente). Costumávamos achar que os bêbados tinham a responsabilidade por suas ações um tanto reduzida . cruel demais. vingar.uma motivação mais robusta que a perspectiva de recompensa celestial: a licença para matar (para adaptar a fantasia mais que atraente sobre o status oficial do James Bond de Ian Fleming). ou se tornar um "colono" (armado até os dentes) no território da Margem Ocidental. hoje. e os bartenders que os servem. Mas a alternativa é ainda mais sombria: a perpetuação da fatal espiral descendente de guerras "justas". lutadas por jovens enganados que são mandados para batalhas duvidosas por líderes que não acreditam realmente nos mitos que sustentam aqueles que estão arriscando suas vidas.quem sabe? . A religião pode muito bem não ser a causa fundamental desses anseios perigosos. E preciso uma combinação de coragem e planejamento ajuizado . os atrairemos com a recompensa do céu e da eternidade . no romance Os irmãos Karamazov de Dostoievski: "Além do túmulo eles não vão encontrar nada além da morte. bastante digna de investigação empírica cuidadosa: será que uma força armada secular.e talvez uma boa dose de sorte até para fazer a pesquisa necessária para descobrir isso. motivada sobretudo pelo amor à liberdade ou à democracia. como inteiramente responsáveis. se receber suficiente atenção do público. E embora as pessoas que conseguem enxergar tons de cinza tenham menor capacidade de encontrar desculpas para elas mesmas cometerem atos criminosos. afinal -. matar uma pessoa inocente sob a cobertura da fatwa. E o Grande Inquisidor diz. Aqui está uma questão moralmente relevante. portanto "significativa". têm grande probabilidade de encarar a convicção religiosa devota como um fator significativamente atenuador para medir a punição. Precisamos espalhar a notícia de que a intoxicação por religião também não é desculpa. elas também. essas pessoas são altamente motivadas a encontrar uma causa que possa dar a elas uma justificação "moral" para suas fanfarronadas. com um mínimo de derramamento de sangue. sua eficácia.muitos pensem ser verdade que os fanáticos religiosos são os soldados mais confiáveis.eles estavam bêbados demais para saber o que estavam fazendo. e não pelo amor a Deus (ou Alá). enviar antraz para funcionários federais "maus".quem sabe? . (Podemos esperar que isso vá mudar rapidamente. Parece que algumas pessoas . e portanto. 366).são simplesmente sedentas de sangue. nos arriscamos a ser chantageados pelo puro medo de doutrinar as tropas com barbarismo. podemos muito bem imaginar se James tem razão quando segue com a nota (citando "um oficial austríaco de mente clara"): "É muito melhor para qualquer exército ser selvagem demais. mas agora os vemos. Mas temos de guardar o segredo. pode desempenhar um papel maior na multiplicação do número de jovens que decidem enquadrar suas vidas nesses termos. seja "liberando" animais de laboratório (cujo bem. pode manter sua credibilidade. alcançar o martírio numa jihad-. Há ainda mais uma atração para o fanático. e para a felicidade deles. contra um exército de fanáticos? Até sabermos a resposta.se de Ruby Ridge bombardeando Oklahoma City. assassinar médicos que fazem abortos. Mas as religiões são certamente a fonte mais prolífica das "certezas morais" e dos "absolutos" dos quais esses fanatismos dependem. ou buscam emoções. e como nossos costumes se tornaram cada vez mais civilizados.

A questão que tem me perturbado desde que eu vi o filme. por exemplo. ou para a maioria dos outros na dito. Os sonâmbulos] Ohhh! McTavish morreu e seu irmão não sabe. e encaram a vida. mesmo que sua "religião" particular seja uma fraude? Em Marjoe. Não há nenhuma oportunidade aventurosa acenando no futuro para Sam ou Lucille. http://people-press. Eles viraram uma página nova. [Arthur Koestler. elas assistem às novelas juntas. são membros amados em boa posição na comunidade dos renascidos. a essa boa gente. e até mais. A vida deles agora conta uma história. a maior parte das pessoas no mundo diz que a religião é muito importante em suas vidas.2. voluntariamente deixaremos de lado algumas questões sérias. estão emocionadas por ganhar a "salvação" desse impostor carismático. outrora desenxabida. o significado que achavam ter encontrado para suas vidas? Será que elas não estavam recebendo aquilo pelo que tinham pago. repõe as mercadorias no supermercado local e mora na casinha modesta onde sempre morou. roubando. e é um capítulo da Maior História de Todos os Tempos. um fantoche suspenso em seus cromossomos é apenas grotesco. Lucille. espera um dia comprar uma motocicleta. Os dois estão mortos e estão na mesma cama. E tentador acreditar piamente nelas. é: quem está cometendo o ato mais repre. ou os cineastas que expõem essas mentiras (com a cumplicidade entusiástica de Gortner). cuidando da velha mãe. Será que qualquer religião dá significado às vidas de um modo que devemos honrar e respeitar? E as pessoas que caem nas garras de líderes de cultos. E nenhum dos dois sabe que o outro está morto! [Letra da giga "Irish Washerwoman"] De acordo com levantamentos. declarar que. a página da web do Pew Research Center. mencionado no capítulo 6. é frentista no posto de gasolina da esquina. É A RELIGIÃO QUE DÁ SIGNIFICADO À SUA VIDA? Um fantoche dos deuses é uma figura trágica.org/. desse modo.ensível -. em uma cerimônia altamente dramática. (Ver. que nunca se casou. é encarregada do turno da noite. que não estão no documentário): Sam largou os estudos no ensino médio. ele é fã do Dallas Cowboys e gosta de tomar algumas cervejas enquanto assiste aos jogos na TV.) Muitas dessas pessoas dirão que sem sua religião a vida não teria significado. antes de os cineastas chegarem? Pense na vida delas (estou imaginando esses detalhes. seus olhos brilham com lágrimas de alegria. Quem gostaria de interferir em seja lá o que der significado à vida dos outros? Mas.e sair na ponta dos pés. mas eles foram postos em contacto com Jesus. nesse caso.Marjoe Gortner. o documentário de 1972 a respeito do falso evangelista Marjoe Gortner. ou que são enganadas para dar a poupança de sua vida inteira a vigaristas religiosos? Será que a vida delas ainda tem significado. se fizermos isso. e agora estão salvos eternamente.sa congregação. realmente nada mais há a dizer . logo que ele estreou. que mente a essas pessoas para tirar o dinheiro delas. de modo renovado e elevado. Seu irmão morreu e McTavish não sabe. vemos pessoas pobres esvaziando suas carteiras e bolsas na bandeja de coleta. Você consegue imaginar alguma outra coisa que eles pudessem comprar com aquelas notas de vinte dólares que depositaram na bandeja .

mesmo que sejam em geral discretos demais para dizê-lo. Ela reza. e os protestantes acham que os católicos estão perdendo tempo e energia em uma religião amplamente falsa. é claro." Ele explicou: "Vamos exemplificar. ou maiores reflexões sobre os detalhes conhecidos. respondeu Gibson. Eles poderiam doar o dinheiro para uma religião honesta.de coleta. ela conhece Jesus. Talvez o principal motivo pelo qual as religiões fazem a maior parte do trabalho pesado em grandes áreas dos Estados Unidos seja que as pessoas realmente querem ajudar os outros . que não foi cortado do time de beisebol. ela acredita em Deus. Minha mulher é uma santa.a não ser que essas ilusões sejam elas próprias a causa de males ainda piores. Todos os muçulmanos? Todos os católicos? Todos os protestantes? Todos os judeus? Claro que não. mas é a parte fácil da resposta. mas basta alguém revelar um segredo." . e daí por diante. que realmente usasse o sacrifício deles para ajudar outras pessoas mais necessitadas. Dilemas desse tipo são conhecidos demais em contextos um tanto diferentes. que houve uma grita de todos os pais para convencer o treinador a mantê-lo na equipe? Apesar das ferozes diferenças de opinião a respeito de outras questões morais. de disfarce. Isso é importante. não são todos os pregadores evangélicos tão falsos quanto Marjoe Gortner? Os muçulmanos certamente acham que sim. Ela é. melhorando alguns dos males do mundo. embora infrutíferas. tipo episcopal. Boyer perguntou-lhe se não havia salvação eterna para os protestantes. e que pudesse ser sequer remotamente tão valiosa para eles? Decerto. Há minorias estrídulas em todas os credos que põem isso para fora. como o ator de cinema católico Mel Gibson. Church of England. ela é melhor do que eu. ela acredita nisso tudo. Mas este é um pronunciamento da cátedra. o resultado é um miasma detestável de hipocrisia. Ela é uma pessoa muito melhor que eu. Mas outros detalhes. Ou poderiam se unir a alguma organização secular que usasse o tempo livre. E se Marjoe Gortner iludisse um conjunto de pregadores evangélicos sinceros para fazerem o trabalho sujo em lugar dele? Sua inocência pessoal mudaria a equação e daria significado legítimo às vidas daqueles cujos sacrifícios eles encorajaram e arrebanharam? Aliás. Eu o sigo. vem a resposta. podem me levar a mudar de idéia. ao ser entrevistado por Peter Boyer (2003) em um perfil no The New York Times. Honestamente. As discor. E os católicos acham que os judeus estão igualmente iludidos.e as organizações seculares fracassaram na competição com as religiões na devoção das pessoas comuns. desajeitado. E simplesmente não é justo se ela não for para o céu. deixando intocada a parte difícil: o que deveríamos fazer a respeito daqueles que nós honestamente achamos que estão sendo enganados? Devemos deixá-los em suas ilusões consoladoras ou devemos soar o alarme? Eu acabei adotando a tentativa de conclusão de que Marjoe Gortner e seus cineastas colaboradores fizeram um grande serviço público.e isso levou ao colapso do raciocínio inteiro. "Não há salvação fora da Igreja". Será que se deve dizer à doce velhinha no lar de anciãos que seu filho acabou de ser mandado para a prisão? Será que se deve dizer ao menino de doze anos. "Eu acredito nisso. para o próprio bem delas. parece haver algo próximo a um consenso de que é cruel e maldoso interferir com as ilusões que tornam melhor a vida dos outros . e como há discordâncias a respeito de que casos a discrição deve ser garantia. energia e dinheiro deles de modo mais eficaz. mentiras e tentativas frenéticas.dâncias são a respeito do que esses males maiores podem ser . apesar da dor e da humilhação que o filme sem dúvida causou para muitas pessoas basicamente inocentes. Muitas vezes pode-se aconselhar a manter em segredo das pessoas.

23) e o cristianismo (ver Atos 3.a colisão entre credos contraditórios que.não importa o que "a cátedra" possa pronunciar. torturadas e até executadas por heresia e apostasia nos recantos mais "civilizados" da Europa cristã. A maior parte dos muçulmanos. Como Jansen apresenta: "Não pode haver Hare Krishna ou Baghwan.Esse comentário constrangeu profundamente dois grupos de católicos: aqueles que acreditam nisso mas acham melhor calar a boca. que o medo de ser considerado apóstata seja aparentemente uma grande motivação no mundo islâmico. e os que não acreditam de todo . com base racional descomprometida ou não. desde que você tenha alguma religião. 23) também encaram a apostasia como uma ofensa capital. uma parte do detestável miasma. Johanes Jan. para a existência desses credos sistematicamente mascarados é evitar . que é o que o Corão (5. Mas é desconcertante. para dizer o mínimo.eles principalmente não estão preparados para apostarem sua vida nisso. 44) indubitavelmente diz. o que é o sinal mais seguro de crença. Até os muçulmanos "do lado de dentro" realmente sabem o que os muçulmanos pensam a respeito da apostasia . a renovação religiosa tem de ficar longe de qualquer coisa que implique ou sugira apostasia" (pp. Agora vemos que um motivo. mas. (Sempre vale a pena lembrar que não há tanto tempo assim. já que as crenças em questão estão convenientemente retiradas do mundo da ação. . ficamos imaginando. p. eu imagino. . O Corão não manda explicitamente matar os apóstatas. Como uma questão de estratégia política. de modo que devemos contemporizar e deixar as coisas como estão na esperança de que aqueles de outros credos possam ser delicadamente atraídos ao longo dos séculos. Aqui. Lá descobrimos que é quase impossível distinguir os que genuinamente acreditam dos que (apenas) acreditam na crença.ou pelo menos adiar . o islã fica sozinho em sua incapacidade de renunciar a essa doutrina bárbara de modo convincente. 88-89). então. como vimos no capítulo 8.sen (1997. é sincera em sua insistência de que a ordem do hadith que manda matar os apóstatas deve ser desobedecida.ao verdadeiramente tolerante eisenhoweriano "nosso governo não tem sentido a não ser que seja fundamentado em uma crença religiosa profunda e eu não me importo com qual seja" 2.) Então. Também se desconhece quantos muçulmanos realmente acreditam que todos os inféis. a hora não está ainda madura para declarações sinceras de superioridade religiosa. os de fora. Dentro do mundo do islã. Desse modo. percebemos uma face diferente do problema epistemo. de acreditar na crença. qual é a atitude prevalecente hoje entre aqueles que se dizem religiosos mas defendem vigorosamente a tolerância? Existem três opções. mormonismo ou meditação transcendental em Meca ou no Cairo. dentre os adeptos da fé abraâmica. obrigaria o devoto a se comportar de modo muito mais intolerante que a maior parte das pessoas hoje querem se comportar. mas a literatura hadith (narração da vida do Profeta) certamente o faz. E que grupo de católicos é maior ou mais influente? Isso é completamente desconhecido e atualmente impossível de conhecer. e especialmente os cafres (apóstatas do islã) merecem a morte. indo do nada sincero maquiavélico 1. não só nós.lógico que encontramos no capítulo 8. as pessoas eram banidas. nada de cientologia. de outro modo. Realmente não tem importância a que religião você jure fidelidade.

Jimmy Piersall. acreditem eles ou não.ao ainda mais benigno descaso moynihaniano 3. Não adianta perguntar às pessoas qual elas escolhem. Carl Yastrzemski. mas pessoalmente envergonhado como se eu tivesse alguma coisa a ver com isso. em uma conspiração de silêncio..) Estamos presos em uma armadilha de hipocrisia. porque os dois extremos são tão pouco diplomáticos que podemos predizer com antecedência que a maior parte das pessoas escolherá alguma versão de tolerância ecumênica. O Red Sox não é o meu time porque seja. e ficar com a melhor que pudermos encontrar. (É exatamente como a denúncia previsível de sir Maurice Oldfield sobre a minha hipótese subversiva com relação a Kim Philby.mesmo que não se leve muito a sério. é claro. Eu me aqueço na glória da vitória deles em 2004 (que foi. Isso é como a fidelidade a um time esportivo. simplesmente porque é a tradição deles. Se esse é o significado precioso concedido às nossas vidas graças à nossa devoção a uma religião ou outra.para dizerem isso) porque eles acreditam secretamente que sua própria tradição é exatamente essa ilusão (mas temem por sua própria segurança se admitirem isso)? Que alternativas existem? Há os moderados que reverenciam a tradição na qual foram criados. e pode. também. Será que somos como as famílias nas quais os adultos dão todos os indícios de acreditarem em Papai Noel pelo amor das crianças. e muitos têm medo de reconhecer o que eles realmente acreditam por medo de quebrar o coração da vovó. A religião é simplesmente querida demais para muitos para que se pense em descartá-la. Jackie Jensen. na minha opinião. minha minúscula contribuição pessoal para o oceano de entusiasmo e orgulho locais realmente anima o espírito dos jogadores (como eles sempre insistem). ou ofender seus vizinhos a ponto de fugirem da cidade. . eu não ficaria apenas profundamente mortificado. Minha fidelidade ao Red Sox é entusiástica. sim. e as crianças fingem acreditar em Papai Noel para não estragar o divertimento dos adultos? Se ao menos nossa difícil situação no momento fosse tão inócua e até cômica como essa! No mundo adulto da religião as pessoas estão morrendo e matando. Wade Boggs. Será o melhor que podemos fazer? Não é trágico que tantas pessoas pelo mundo todo se encontrem alistadas. no mercado das idéias. é "o Melhor" (aos meus olhos) porque é o meu time. alguém deveria defender cada tradição até podermos separar a boa da ótima. levando em conta todas as situações. e que estão preparados para fazer campanha pelos detalhes de sua tradição simplesmente porque.ou desonestos . com os moderados acuados no silêncio pela intransigência dos radicais em seus próprios credos. alguma coisa a ver com isso. e não há uma saída clara. esse não é um negócio tão bom. mas alegremente arbitrária e sem ilusões. contra a vontade. Sou fã do Red Sox simplesmente porque nasci na região de Boston e tenho boas lembranças de Ted Williams. ou pior. e se o time vier algum dia a se degradar. a Saga Mais Espantosa e Inspiradora das Viradas de Todos os Tempos). É claro que eu tenho. o Melhor. ou porque acreditam secretamente que a maior parte da população mundial está desperdiçando sua vida em ilusão (mas eles são muito compassivos . mesmo que realmente não faça muito bem e seja apenas um legado histórico vazio que podemos nos dar ao luxo de manter até que se extinga silenciosamente alguma hora em um futuro distante e imprevisível. Luis Tiant e Pudge Fisk. de fato. dar significado a uma vida . entre outros.

Elas só não são fáceis.mesmo que soubessem delas -. você pode satisfazer seus impulsos sexuais na privacidade do seu quarto baixando pornografia na internet. no entanto. porque éramos como crianças.estavam muito além das capacidades que as pessoas comuns tinham de melhorar. você pode guardar seu dinheiro em contas bancárias secretas em paraísos fiscais e . em vez de comprá-la. com consciência limpa. torturar e matar. teremos perdido a própria base da cooperação humana. Agora. [W. Você pode ter um bebê de proveta ou tomar uma pílula do dia seguinte para não ter um bebê. janeiro de 1977] Se nosso tribalismo vier algum dia a dar lugar a uma identidade moral ampliada.a tradição "eterna" apresentada a eles na juventude . Graças à tecnologia. fome. deveriam refletir sobre o fato de que a própria tradição a que são tão leais . o que quase qualquer um pode fazer foi multiplicado milhares de vezes. [Sam Harris. as pessoas podiam não se impactar com as catástrofes no outro lado do globo . não mais.doença. 1988). H. O QUE PODEMOS DIZER A RESPEITO DE VALORES SAGRADOS? Estamos na Terra para fazer o bem para os outros. e como "'deveria' implica 'pode'". Ê hora de nos darmos conta de que fingir conhecimento onde se tem apenas esperança piedosa é uma espécie de mal. podia garantir mais ou menos que se levasse uma vida tão boa quando possível na época. Viver de acordo com algumas poucas máximas simples. Aqueles que se sentem culpados só de pensar em "trair" a tradição que amam. eu não sei. Auden] Durante muitos anos nos mandaram calar. aparentemente. firme mas delicadamente elaborados por amantes anteriores da mesma tradição. você deve perder seu controle sobre os absolutos que são. mas não o amor raivoso que leva as pessoas a mentir. a você e a mim. Nada havia que elas pudessem fazer. discurso de posse como governador da Califórnia. nossas crenças religiosas não poderão mais ser abrigadas das ondas de investigação legítima ou de críticas legítimas. e nosso entendimento moral a respeito do que deveríamos fazer não se manteve no mesmo passo (Dennett. a verdade é que existem respostas simples. uma das principais atrações de muitos credos religiosos. Bem. [Ronald Reagan. 3.é de fato o produto evoluído de muitos ajustes. já que eram impotentes para evitá-las. Não é fácil ser moral. O fim da fé] Para adotar uma posição moderada como essa.Esse é um tipo de amor. Para que os outros estão aqui. e você pode copiar sua música favorita de graça. guerra . 1986. e parece que está ficando cada vez mais difícil nos dias de hoje. Antes era porque a maior parte dos males do mundo . e nos disseram que não existem respostas simples para os problemas complexos que estão além da nossa compreensão. aplicáveis localmente. Sempre que a convicção crescer em proporção inversa à sua justificação. ao reconhecer que desaprovam alguns elementos dela.

na verdade. uma vez que você descubra como aplicálos. L. o advogado que representa a si próprio tem um insensato por cliente. E agora. ou oferecer cuidado médico para doentes de Aids na África.] e está errada". O que fazemos quando mais de uma vida humana está em jogo? Se cada vida é infinitamente valiosa. Ninguém negaria.. e se você resolver. Aplaudimos a sabedoria desse caminho em todas as demais áreas importantes de tomadas de decisão (não tente ser seu próprio médico. por exemplo? A tecnologia moderna apenas exacerba as questões. fazer gás que afeta o sistema nervoso e jogar "bombas inteligentes" com a exatidão de uma cabeça de alfinete. é razoável procurar um conjunto curto de respostas simples. o mandamento "Não matarás" é citado por oponentes religiosos da pena de morte. o que deveríamos fazer? Em face dessas questões verdadeiramente imponderáveis. que está longe de ser evidente como qualquer uma das regras ou princípios favorecidos pode ser interpretado para se ajustar a todos os nossos dilemas. e também por proponentes religiosos (2005.. depois de consideração conscienciosa. no xadrez -. Quase todo mundo certamente já enfrentou um dilema moral e desejou secretamente: "Se ao menos alguém . como o rei. 253). Como Scott Atran chama a atenção. mas as virtudes do raciocínio moral "faça você mesmo" tem seus limites. p.pudesse me dizer o que fazer!". ou para verificar a honestidade e o desempenho de funcionários do governo . Mas. como vamos distribuir os poucos rins transplantáveis que estão disponíveis. sei que ela estudou as questões que inquietam a nossa cidade mais assiduamente que . sem o que elas não aprenderiam a ler e a escrever. e você pode depositar minas terrestres. então você tomou sua decisão moral. H. todos sabemos que a vida não é.ou espionar seus vizinhos. Quando minha mulher e eu vamos ao Conselho Municipal. no entanto. já que perdê-la é perder tudo.alguém em quem eu confie . os Dez Mandamentos ou alguma outra lista curta de Faça e Não Faça absolutamente inegociáveis resolva muito bem todas as dificuldades. igualmente inviolável.não se pode atribuir um preço a ela. Você pode usar a internet para organizar o monitoramento por cidadãos de perigos ambientais. e nenhuma é mais valiosa do que outra. "Para cada problema complexo existe uma resposta simples [. contrabandear armas nucleares em malas. Até no caso de decisões políticas. que sua decisão moral é delegar outras decisões morais de sua vida a um especialista em quem confia. Você pode também arranjar um modo de ter cem dólares por mês transferidos da sua conta bancária para propiciar educação a dez meninas em um país islâmico. que são antigas. não pode ser como o xadrez. Mencken diz. cinicamente. e daí por diante). como em quem votar. O princípio da Santidade da Vida Humana parece claro e absoluto de maneira estimulante: cada vida humana é igualmente sagrada. a política da delegação pode ser defendida. Existem multidões de "jogos" interferindo ao mesmo tempo. Resolveu aproveitar a divisão de trabalho que a civilização torna possível e adotar a ajuda de especialistas conhecedores.comprar ações de companhias de cigarros que estão explorando os países empobrecidos do Terceiro Mundo. fora do "infinito". Mas talvez ele esteja errado! Talvez uma Regra de Ouro. Não seria isso moralmente inautêntico? Não somos responsáveis por tomar nossas próprias resoluções morais? Sim. ou para beneficiar centenas de pessoas subnutridas. e cada mãe que alguma vez teve alimento insuficiente para seus próprios filhos (sem falar nos filhos da vizinha) foi obrigada a se debater com a impraticabilidade de aplicar o princípio da Santidade da Vida Humana. Salomão enfrentou escolhas difíceis com sabedoria notável.

são parte do problema. De qualquer modo. e seria sacrílego até pesar se ela poderia estar errada). Você está sendo pouco razoável em adotar essa postura. Se eu disser a você que sou contra as pesquisas com células-tronco porque "meu amigo Fred diz que é errado. você confessa sua recusa voluntária de ater-se às condições mínimas para uma discussão racional. e eu não corro dela. se gastássemos tempo e energia na discussão dos pontos. mas isso depende de eu ter boas bases de confiança no julgamento dela. então eles estão de fato adotando uma postura pessoalmente imoral. é um tipo de escravo robótico de um meme que você não é capaz de avaliar. Note que esse posicionamento não envolve qualquer desrespeito e nenhum prejulgamento sobre a possibilidade de que Deus tenha falado com você. ela me convenceria de que a opinião dela é a certa. deveria ser visto como alguém que impossibilita os outros de tomar seus pontos de vista a sério. sozinhos. ao contrário. e sigo rotineiramente sua liderança.para simplificar . de boa-fé. pessoalmente. Mesmo que você esteja certo .]". debatido. mesmo que Deus realmente exista e tenha dito a você. e teremos de nos desviar de você da melhor forma possível. e não parte da solução. O fato de que sua fé seja tão forte que você não possa pensar diferente apenas mostra (se você realmente não conseguir) que você foi inabilitado para a persuasão moral. você não pode razoavelmente esperar que os outros que não compartilhem de sua fé ou experiência aceitem isso como uma razão. e eu não dei a você uma razão que.eu. mesmo que eu não saiba muito bem por quê. sikhs etc. então parte do seu problema é convencer os outros. se seus pastores. sikh etc. Talvez essa seja a implicação mais chocante da minha investigação. negociado. pelos especialistas aos quais foi delegada a autoridade). pudesse esperar que fosse avaliada por você. que se acham profundamente morais. e pronto". eximin. Suponhamos que você acredite que a pesquisa com células-tronco é errada porque foi Deus que lhe disse. sempre.do-o da conversa moral. porque . E por isso que aqueles que têm uma fé inquestionável na correção dos ensinamentos morais de sua religião são um problema: se eles próprios não pensaram conscienciosamente.ou seja. E em geral aceito ser inteiramente exemplar o fato de se adotarem os ensinamentos morais de sua própria religião sem questionamento. Esta é supostamente uma consideração de razão. E se você responder que você pode. que (na minha cuidadosamente pensada opinião) está sempre certo. pois tenho muitas evidências para a minha convicção de que. padres. mesmo que possa ofender muitos. mas não quer considerar as razões a favor e contra a sua convicção (porque é a palavra de Deus. suas declarações acerca de suas opiniões profundamente arraigadas são posturas que estão fora de lugar. em que qualquer um que declare que um ponto de convicção moral não é passível de ser discutido. A argumentação para isso é direta.é a palavra de Deus (tal como interpretada. Eu estou insistindo. ou porque a Bíblia disse. Se Deus disse a você. aos quais Deus não falou (ainda) que é nisso que temos de . inadvertidamente reconhecendo que suas próprias opiniões não são mantidas de maneira conscienciosa e não merecem continuar a ser ouvidas. Suponhamos que eu tenha um amigo. que pesquisas com células-tronco são erradas -. rabinos ou imãs são dignos dessa autoridade delegada sobre suas próprias vidas. O amor não basta. Será que isso é uma negligência quanto aos meus deveres como cidadão? Não acho. votando como ela me manda votar. simplesmente porque é a palavra de Deus.] acreditam e sou muçulmano [hindu. ou porque "é o que todos os muçulmanos [hindus. você vai olhar para mim como se eu não estivesse entendendo o tema da discussão. Fred.

fora alguns esparsos cultos desprezíveis. Se você se recusar ou for incapaz de tentar esse convencimento. com uma profunda devoção a uma tradição religiosa. coro e dançarinos com túnicas diferentes. freiras. Como várias vezes antes. É hora de os adeptos racionais de todos os credos encontrarem a coragem e a energia para reverter a tradição que honra o amor desamparado de Deus . escondendo.é seu direito -. gurus. mas então não espere que possamos atribuir ao seu ponto de vista qualquer peso particular que não possamos descobrir por outros meios . rabinos. [Caminhos para a paz. Longe de ser honorável. delegar autoridade a seus líderes religiosos. e avaliar os dilemas do mundo racionalmente. sob a forma de demonstrar seu amor impotente. Eles não terão qualquer dificuldade com essas observações . judeus e hindus moderados têm sido igualmente fracos em se contrapor às absurdas exigências e atos de seus próprios elementos radicais. outra muito diferente são esses líderes fingirem desvendar (graças à sua sapiência) as respostas certas na tradição deles por um processo que deve ser aceito de maneira cega e que é inacessível até pelo crítico mais bem-intencionado. Eis aqui um dos problemas morais mais intratáveis que confrontam o mundo de hoje. ela não é sequer desculpável. Muita gente profundamente religiosa tem ficado o tempo todo ansiosa em defender suas convicções no tribunal da inquisição e da persuasão razoáveis. apresentações e serviços de adoração. todos de mãos dadas e ouvindo respeitosamente uns aos outros .era tudo muito gratificante.e não nos culpe se não "entendermos". Uma coisa é um leigo bem-intencionado.acreditar.fora confrontar a decisão diplomática sobre se vão se unir a mim.têm uma população saudável de pessoas de mente ecumênica que estão ansiosas por estender a mão para pessoas de outros^credos. monges. de modo que todos os oradores possam ser escutados Falar e ter quem lhes fale de maneira respeitosa Desenvolver ou aprofundar a compreensão mútua Aprender sobre as perspectivas dos outros e refletir a respeito de suas próprias opiniões e Descobrir novos insights. verdadeiramente tóxicos . E mais vergonhosos são os padres. ou sem credo algum. se quiser . Os muçulmanos moderados até agora foram inteiramente incapazes de virar a maré da opinião islâmica contra os wahhabistas e outros extremistas. mas essa gente bem-inten. É vergonhosa. sessões plenárias. deveríamos admitir que é inteiramente possível que esse . ao tentar convencer seus correligionários menos razoáveis de que eles estão piorando as coisas para a religião deles com essa intransigência. Em julho de 2004. tudo para observarem os mesmos princípios: Ouvir e ser ouvido. simpósios. imãs e outros especialistas cuja reação às demandas sinceras de seu rebanho por orientação moral é esconder sua própria incapacidade de apresentar razões para suas opiniões a respeito das difíceis questões.em qualquer tradição.se por detrás de alguma interpretação "infalível" (leia-se acima de qualquer crítica) dos textos sagrados. Você pode se eximir da discussão. Todas as religiões . programa do Parlamento] Bandos coloridos de padres. Em muitos casos têm um justificado terror a esses fiéis.3 e reuniu milhares de pessoas de religiões diferentes para uma semana de oficinas. você estará de fato deixando o seu Deus mal.cionada e enérgica é singularmente ineficaz em lidar com os integrantes mais radicais de seus próprios credos. Mas os cristãos. o quarto Parlamento das Religiões do Mundo foi realizado em Barcelona.

Os defensores de religião são rápidos em dizer que os terroristas em geral têm agendas políticas. maquinaria. o . A doutrina do aborrecimento atraente é o princípio de que as pessoas que mantêm em sua propriedade uma condição perigosa. Eis o que deveríamos dizer a tal pessoa: Só há um meio de respeitar a substância de qualquer édito moral supostamente dado por Deus: avaliá-lo conscienciosamente à plena luz da razão. têm a obrigação de pôr avisos ou adotar medidas afirmativas mais fortes para proteger as crianças dos perigos daquela atração. Os proprietários são considerados responsáveis por danos causados pela posse de algum objeto que porventura atraia pessoas inocentes ao perigo. uma idéia sensata: Se algum dia for possível alcançar uma paz estável entre o islã e o Ocidente. o bombardeio de clínicas de abortos ainda é responsabilidade do cristianismo. que silenciosamente condenam a abertura de mente e a disposição de mudar. com certeza é possível que as pessoas acreditem com toda a inocência que o amor delas por Deus as absolve da responsabilidade de pensar nos motivos para esses mandamentos do seu amado Deus. Nenhum Deus que mostre agrado por exibições de amor irracional seria digno de adoração. com alta probabilidade de atrair crianças. difíceis de avaliar. a explorar a infra-estrutura organizacional e a tradição de lealdade sem questionamentos de qualquer religião que esteja à mão. Em resumo. estão sendo usados pelos fanáticos. e não religiosas. pilhas de material de construção ou outros objetos facilmente escaláveis. as atividades assassinas dos extremistas hindus ainda é responsabilidade do hinduísmo. os moderados.são inspirados ou orientados pelos mais profundos e melhores dogmas da tradição dessas religiões. em sua própria tradição.se é que alguma vez . ao mesmo tempo que colhem os benefícios das boas relações públicas que obtêm desse modo. Em outras palavras. Piscinas abertas são o exemplo mais conhecido. também foram considerados aborrecimentos atraentes. existe um "Catch-22" cruel nos esforços meritórios dos moderados e ecumênicos em todas as religiões: por meio de suas boas obras eles fornecem uma camuflagem para seus correligionários fanáticos. usando todas as provas à nossa disposição. o que pode muito bem ser verdade em muitos ou na maior parte dos casos.raciocínio evasivo diante da questão seja totalmente independente. ou até mesmo em todos os casos . Provavelmente ninguém mais poderá fazê-lo. mas deveriam adotar todas as medidas que puderem para restringir o fato. E uma exceção à regra geral que não se exija nenhum cuidado particular dos proprietários para proteger os invasores contra os perigos. mas geladeiras velhas cujas portas não foram retiradas. Como Sam Harris argumenta em seu bravo livro O fim da fé (2004). E verdade que esses fanáticos raramente . que podem ser uma atração irresistível para as crianças pequenas.mas isso não esgota a questão. em todas as religiões. mas o respeito à inocência de uma pessoa não nos obriga a respeitar sua crença. As agendas políticas dos fanáticos violentos muitas vezes os levam a adotar um disfarce religioso. Eis um enigma: qual a semelhança entre sua religião e uma piscina? E a resposta: as duas são aquilo que é conhecido na lei como um aborrecimento atraente. Aqueles que sustentam religiões e adotam truques para torná-las mais atraentes devem também ser considerados responsáveis pelos danos causados àqueles a quem elas atraem e a quem parecem fornecer um manto de respeitabilidade. e deveriam não apenas se ressentir disso. E daí? O terrorismo da Al Qaeda ainda é responsabilidade do islã. Não precisamos acusar ninguém de falta de sinceridade ou perfídia.

[2004. mas preferimos canalizar nossa caridade e boas ações para organizações seculares. parecer vir dos próprios muçulmanos. condenado à morte por suas heresias. Esse foi o caminho seguido um tanto sem sorte por alguns de nós. Em A idéia perigosa de Darwin escrevi sobre bravos muçulmanos que ousaram falar publicamente contra o tra. desse modo. rabinos. o islã. E. humanistas seculares e outros que se libertaram de fidelidades especificamente religiosas. [Harris. e não apenas as nossas: Dependemos da boa vontade e da coragem dos líderes islâmicos moderados. Qualquer pessoa religiosa que não esteja ativa e publicamente envolvida nesse esforço está fugindo de um dever e o fato de você não pertencer a uma congregação ou seita ofensiva não é desculpa: o cristianismo. deverá.islã terá de sofrer uma transformação radical. são todos eles cúmplices.não mais do que é suficiente para os cristãos moderados evitar doar dinheiro para as organizações antisemitas dentro do cristianismo.vestismo obsceno da fatwa pronunciada contra Salman Rushdie. 2004. temos de mostrar a nossa boa vontade começando a abordar de maneira séria as condições sociais e políticas que levam ao desespero. 154] Devemos considerar esses muçulmanos moderados responsáveis por remoldar sua própria religião . ou para os judeus moderados restringirem suas caridades a organizações que trabalham para garantir uma coexistência pacífica entre palestinos e israelenses. p. mas não é suficiente . os judeus e outros moderados responsáveis por todos os excessos em seus próprios preceitos. Conheço muitos cristãos que ficam particularmente enojados com muitas das palavras e obras feitas "em nome de Jesus". como "fantoches dos inimigos . damos as mãos a eles. evitar que o manto da respeitabilidade religiosa seja usado para abrigar os excessos de lunáticos? Parte da solução seria fazer da religião em geral menos uma "vaca sagrada" e mais uma "alternativa digna". os indivíduos e as congregações perigosas dentro de suas fileiras. Para ganhá-las. brights. É o trabalho desagradável e até perigoso de dessacralizar os excessos em cada tradição. Essa transformação. para ser palatável para os muçulmanos. E um começo. p. e não apenas seitas derivadas. todos.mas isso significa que devemos considerar igualmente os cristãos. pelo nome. como observou George Lakoff. precisamos provar a esses líderes islâmicos que ouvimos suas vozes morais. estamos bastante cientes de todo o bem que as religiões realizam. imãs e seus rebanhos não condenem explicitamente. mas expressões de consternação para amigos íntimos não são suficientes. exatamente porque não queremos ser cúmplices no ato de dar um bom nome à religião! Isso mantém nossas mãos limpas. Enquanto os padres. Nada indica que seja exagero dizer que o destino da civilização reside amplamente nas mãos dos muçulmanos "moderados". E incitaram: "Vamos todos distribuir o perigo dando as mãos a eles" (p. brights . mas há mais trabalho a ser feito. Qualquer seita malévola que use as imagens ou textos cristãos como camuflagem deve pesar muito na consciência de todos os que se dizem cristãos. Nós. por exemplo. nós os marcamos. pelo lado de dentro. agnósticos. Mas aí está o verdadeiramente aflitivo "Catch-22": se nós.ateus. nãomuçulmanos. 5170). 61] Como podemos. além disso. autor de Versos satânicos. livre-pensadores. o judaísmo e o hinduismo (por exemplo) são aborrecimentos atraentes.

Para ver por si próprio como é difícil dizer o que é espiritualidade. A espiritualidade é realmente im-por. Em seu sentido comum. já resumida depois de muitos embates frustrados: "A espiritualidade. 4. Durante o curso da minha pesquisa para este livro. ou do ativismo ambiental ou de futebol! O que me fascina nessa fome deliciosamente versátil pela "espiritualidade" é que as pessoas acham que sabem do que estão falando. DEUS ME PROTEJA: ESPIRITUALIDADE E EGOÍSMO Aquele que tem mais brinquedos ao morrer. você nunca vai conseguir saber".ou talvez porque . confiantes demais. sabe. e não ser apenas. que afirma que há dois tipos inteiramente diferentes de substância. a riqueza e tudo o que vem com ela. a matéria e. mesmo que . é como prestar atenção à sua alma. autocentrados. Junto com essa visão comum e pouco reflexiva da espiritualidade vai um estereótipo dos ateus: os ateus não têm "valores". e não apenas avaliar quem conseguiu as melhores roupas. [Meu bordão materialista]4 Examine os dois significados inteiramente diferentes da palavra "materialista". você pode muito bem ir atrás de tudo o que puder conseguir neste mundo material. movimentos ou hob. ou o "ectoplasma" . uma necessidade que é satisfeita por algumas das religiões organizadas tradicionais. seja lá o que supostamente constitua as mentes. nós temos uma alma. A ponte aparente que une os dois significados é bastante evidente: se você não acha que tem uma alma imortal. Isso não serve.. refere-se a alguém que se preocupa apenas com as posses "materiais". ou ter pensamentos profundos que realmente o emocionam.. o que temos para jantar e coisas desse tipo.ou Deus. diário. imagino. elas podem muito bem ficar com espiritual.como a alma cartesiana. Quando pedi às pessoas que se explicassem. [Bordão materialista bem conhecido] Sim. para outros. e para outros ainda. encontrei uma opinião expressa de modos ligeiramente diferentes por pessoas através do espectro de visões religiosas: "o homem tem uma necessidade profunda da espiritualidade". ganha. e no entanto perdem completamente o privilégio do espírito.ninguém se dá o trabalho de explicar exatamente o que querem dizer. rasos. Se perguntarmos às pessoas que termo é a negação de materialista no sentido do dia-a-dia. A negação-padrão de materialista no sentido científico é dualista.. Somente aqueles dentro da comunidade religiosa podem efetivamente começar a desmantelar essa atitude profundamente imoral. mas é feita de montes de minúsculos robôs. sabe. então. Eles acham que sabem tudo.do islã" aos olhos dos muçulmanos. da música. No sentido científico ou filosófico. Os multiculturalistas que nos incitam a ir devagar com eles estão exacerbando o problema. recitando uma das frases mais citadas de Louis Armstrong como resposta à pergunta de o que é o jazz: "Se você tem de perguntar. elas em geral recuaram.tar-se.bies Nova Era. por cultos. materialista ". tente improvisar sobre essa paródia. refere-se a uma teoria que aspira a explicar todos os fenômenos sem o recurso de qualquer coisa imaterial . Mas na verdade não é. então você não acredita que terá uma recompensa no céu. Deve ser óbvio. pela busca intensa da arte. eles são descuidados. da cerâmica. se vai comprar um carro novo.. (Você não pode ser .

é apenas um fato frustrante da vida. O que elas perceberam foi um dos melhores segredos da vida: largue o seu eu [self\..um distintivo de santidade. é o segredo da espiritualidade. você só arranhou a superfície.e só crianças más poderiam ser tão ingratas. mas amplamente aceito. as palavras certas ocorrerão quando você precisar delas. somos os caras maus.] O resultado absurdo. com uma atitude de curiosidade humilde. e aqueles que acreditam em qualquer coisa sobrenatural. de percepção extrasensorial. nada tão importante no esquema maior das coisas. Isso.realmente uma boa pessoa a não ser que tenha uma vida espiritual.. confiável da sociedade [. Você pode abordar as complexidades do mundo. (pp. conversa com amigos e parentes mortos em sessões espíritas têm uma "certa aura de hipocrisia . Nós. reconhecendo que. Esse foi convencer as pessoas de que há uma profunda conexão entre acreditar na possibilidade de forças psíquicas e ser um integrante benévolo. aprumado. não importa quão simplória e tola a crença em . Daí pode-se deduzir facilmente que o sentido de justiça e propriedade das pessoas as convença de que..) Deixe-me agora pôr palavras melhores na boca dessas pessoas. e suas próprias preocupações mundanas encolherão para o tamanho adequado. e não tem nada a ver com acreditar em uma alma imortal. se tal figura existe. vai achar as escolhas difíceis mais fáceis. mas.] Ele habilmente enuncia os princípios generalizados: Tenham ou não recebido qualquer educação religiosa explícita. Mas. ele tem outra explicação: [. um certo sentimento de não-me-toques" (1995. é natural (embora dificilmente lógico) supor que os crentes são geralmente bons. vidência. Ele observa que quase todas as histórias de paranormais. se os que não acreditam são em geral maus. você vai encontrar mundos dentro de mundos. belezas que não podia até então imaginar. vale o esforço.. um dos mais notáveis estratagemas de confiança que nossa cultura nos impôs. e do mal moral com o "materialismo". discutivelmente.] origina-se com o que é. tão profundamente enraizado em nosso esquema conceituai contemporâneo que chega a ser um vento prevalecente contra o qual a ciência materialista tem de resistir. definitivamente. Então. porque se você consegue se manter centrado e envolvido. O psicólogo Nicholas Humphrey explorou com alguma profundidade o relacionamento entre crenças nas "forças psíquicas" e o sentido comum da moralidade. eu proponho. tanto suas glórias como seus horrores.. 186-187) Passei a aceitar que esse alinhamento da bondade moral com a "espiritualidade". as pessoas foram todas expostas à idéia de que algum tipo de figura genitora sobrenatural toma conta e cuida delas. então não acreditar nela seria extremamente ingrato . não importa quão profundamente tenha visto. ou em qualquer coisa sobrenatural. ele se torna em si próprio uma medida da virtude moral [. E embora isso possa em parte dever-se ao fato de que tantas vezes as histórias tratem das áreas mais emocionalmente sensíveis da vida das pessoas. os materialistas. 186). honesto. p. acredite ou não nesse genitor sobrenatural. e você vai mesmo ser uma pessoa melhor.. tem sido que toda história paranormal que ouvimos deve ser automaticamente digna de atenção e respeito. Conservar essa visão maravilhada do mundo à mão enquanto se lida com as exigências da vida diária não é um exercício fácil.

tanto religiosos como seculares. exatamente. Afinal de contas. na Oxford Union. a arte. De que maneira. mas certamente não faz nada para sugerir que apenas cuidar de sua própria "alma" não passa de egoísmo. e alguns são mais importantes que os outros. menos comprometida com o bem-estar de todos na Terra do que alguém que acredite "no espírito". são eles moralmente superiores às pessoas que dedicam a vida a melhorar suas coleções de selos ou sua jogada no golfe? Parece-me que o melhor que pode ser dito a respeito deles é que conseguem ficar afastados dos problemas. menos moral. Há muita gente que inocente e sinceramente acredita que se forem zelosas em atender suas próprias necessidades "espirituais". De fato. mas é um erro de alinhamento. vamos tentar dar alimento e vestuário para todo mundo que precisa deles o mais rapidamente possível. sempre na defensiva contra a agora quase extinta . alegria. que. e o resto na manutenção do estilo de vida contemplativo ao qual se acostumaram.das e supinamente despreocupadas com os problemas morais do mundo. um dos efeitos colaterais realmente nauseantes da confusão comum entre bondade moral e "espiritualidade" é que permite que inúmeras pessoas relaxem em sacrifício e boas obras e se escondam por detrás de sua impronunciável (e impenetrável) máscara de piedade e profundidade moral. Já que o "espírito de equipe" é evidentemente bom. (Mas. liberdade política e. pelo amor de Deus. tão material quanto a saúde "física". já que tudo isso é benefício material. beleza. Pense. ao contrário das freiras que trabalham em escolas e hospitais. dedicam a maior parte de suas horas acordadas à purificação de suas almas. a saúde "física". que concordam comigo: essas pessoas estão se iludindo. em um discurso de Benjamin Disraeli. Um bom cientista materialista pode estar tão preocupado em saber se há bastante justiça. eu estou do lado dos anjos". Mas um materialista desses não vai se importar apenas com o bem-estar material dos outros? Se isso quer dizer apenas a casa deles. O gracejo sardônico de Auden pode sacudir a nossa fé na evidência do imperativo de ajudar outros. em 1864. embora haja muitos deles por aí. O erro de alinhamento da bondade com a negação do materialismo científico tem uma longa história.ciência cognitiva encontro irritantes ecos e sombras desse preconceito. o alimento. principalmente nas tradições cristãs e budistas.será o homem um macaco ou um anjo? Senhor. amor. o que vem a ser nada. viverão uma vida moralmente boa. Há também o conceito errado factual a corrigir: muitas pessoas "profundamente espirituais" . um bom cientista materialista acredita que a saúde mental . autocentra.saúde espiritual. por exemplo. em oposição à "mental". a música e os direitos civis e o resto parecem zombaria. Essa expressão conhecida nasceu. Conheço muitos ativistas. por exemplo. até liberdade religiosa quanto em saber se há bastante alimento e vestuário. não.é tão física. sim. nos monges contemplativos. aliás. se quiser . em resposta ao desafio do darwinismo: "Qual é a questão que se coloca diante da sociedade com uma desembaraçada segurança extremamente estarrecedora? A questão é esta . o carro.são cruéis e arrogantes.) Isso deveria corrigir a compreensível confusão lógica. como pode a negação do "espírito" ser outra coisa senão ruim? Mesmo no fundo das trincheiras da neuro. os materialistas "teimosos".e todo mundo sabe disso . Não tenho nenhuma ilusão a respeito de como vai ser difícil desfazer os séculos de presunção que tende a juntar "espírito" com "bondade". já que sem eles a justiça. nós.particular. Não são só os hipócritas. uma sociedade de debates na Universidade de Oxford.5 Não há motivo algum pelo qual uma descrença na imaterialidade ou imortalidade da alma deva fazer uma pessoa ser menos solícita. têm pelo menos isso a favor deles: estão "do lado dos anjos".

na melhor das hipóteses.espécie dos dualistas "de coração mole" que parecem (para os leigos. uma versão institucional específica do sobrenatural. a base original desta pesquisa. e aquela fome de espiritualismo que tantos dos meus informantes acham ser a mola mestra da devoção religiosa? As boas-novas são que as pessoas realmente querem ser boas. Mas hoje podemos ver que há muitas outras vias e trilhas alternativas a ser consideradas. *** Capítulo 10. Precisamos garantir nossa sociedade democrática. a idéia de que a religião. É preciso mais pesquisas. Pode ter sido verdade muita vezes no passado que. pelo menos) ocupar a mais elevada posição moral simplesmente porque ainda acreditam na imaterialidade de almas. a única rota disponível para essa satisfação envolvia um compromisso com o sobrenatural. mas por levar essa alegria aos outros. tanto na história evolutiva da religião como em seus fenômenos contemporâneos. A idéia de que a recompensa celeste é o que motiva as pessoas boas é degradante e desnecessária. mais particularmente. contra as subversões daqueles que usariam a democracia como uma escada para a teocracia. e a suposta relação entre a espiritualidade e a bondade moral é uma ilusão. a idéia de que a autoridade religiosa fundamenta nossos julgamentos morais é inútil na exploração ecumênica legítima. problemática. e depois a jogariam fora. É uma batalha morro acima. à medida que eles se apresentem a diferentes disciplinas. As questões mais prementes se referem a como deveríamos lidar com os excessos da criação religiosa e o recrutamento de terroristas. dá significado à vida vê. . mas talvez seja vantajosa para nós. e. A pesquisa descrita neste livro é apenas o início. A opinião amplamente prevalente de que a religião é o baluarte da moralidade é. em alto grau.se ameaçada pela armadilha da hipocrisia em que caímos. e precisamos espalhar o conhecimento. mas isso só poderá ser entendido contra um horizonte de teorias mais amplas sobre a convicção e a prática religiosa. *** Capítulo 11. para a maior parte das pessoas. se combatida em plena luz do dia. que é o fruto da livre investigação. Mas. Crentes e brights deploram igualmente o materialismo crasso (no sentido comum) da cultura popular e anseiam não apenas por curtir a beleza do amor legítimo.

ou. Vamos acabar conseguindo classificar todas elas. mas fatos. Ainda há muitas controvérsias na química e na geologia. bipedalidade. mais relacionadas à espécie humana. No caso da religião. mas não precisa ser boa para nós para que evolua. não um fato". 14 de janeiro de 2005). muito maior pressão social deliberada. (O fumo não é bom para nós. mais especificamente. há muito mais ensino e disciplina rigorosa. é isso o que ela diz: a religião evoluiu. Mas as pessoas podem muito bem amar a religião independentemente de quaisquer benefícios que ela lhes dê. ESCOLAS em Cobb County. Geórgia. Ninguém põe adesivos em livros de química ou geologia dizendo que as teorias explicadas dentro deles são teorias.) Nem todos nós aprendemos a linguagem porque achamos que é bom. Vocês escrevem empapel . é a da evolução. Tem sentido. ao papel da migração na especiação. a religião é muito mais parecida com a leitura do que com a fala. mas essas teorias rivais são contestadas no interior das idéias básicas firmemente estabelecidas em cada área. APENAS UMA TEORIA Vocês. sou obrigada a escrever na pele coceguenta de seres humanos.eu. pobre imperatriz. são gente de sorte. mas a teoria básica. ovulação oculta e esquizofrenia.11. já que o único motivo para dar esse tratamento à evolução é religioso. uma família de prototeorias que necessitam maior desenvolvimento. O QUE FAZEMOS? 1. e. a Diderot (que a tinha aconselhado em relação a reformas territoriais) DESDE 2002. Nesse sentido. A minha descrição da evolução de diversas características da religião nos capítulos 4 a 8 é certamente "só uma teoria" . "em violação à separação entre a Igreja e o Estado da Primeira Emenda e à proibição da Constituição da Geórgia com referência ao uso de dinheiro público para ajudar a religião" (The New York Time s. mas sobrevive muito bem. e talvez haja benefícios semelhantes ou maiores em ser religioso. teorias a respeito da evolução da linguagem. Mas um juiz recentemente mandou que fossem tirados. também. E AGORA. Em resumo. nós aprendemos a linguagem porque não temos alternativa (se tivermos sistemas nervosos normais). a Grande. Há benefícios enormes em saber ler. só para citar algumas poucas controvérsias bastante vigorosas. Catarina. Há teorias rivais quanto ao vôo de vertebrados. Há inúmeras teorias controversas na biologia. e não fatos. e que não são apenas teorias. (Estou encantado em saber que o vinho tinto em . mas fatos. filósofos. e há um aprendizado de linguagem. têm posto adesivos em alguns de seus livros de biologia dizendo: "A evolução é uma teoria. e algumas se mostrarão não apenas teorias. que não é contestada. já que podem transmitir a imagem de endosso à religião.

Hoje é possível. a possibilidade do vôo motorizado com asa fixa era apenas uma teoria.) Não é de surpreender que a religião sobreviva. de modo que há muitas características que atraem o público e muitos aspectos que preservam a identidade de suas receitas dessas mesmas características que mantêm afastados ou confunde os inimigos e concorrentes. com base no pouco que (achamos) que já sabemos.se deparam com a ambigüidade confusa da ciência real". que tipos de questões ela levantaria. os memes da religião são mais tóxicos.e as demandas do público por conselhos simples .trabalhar por justiça social. Alguns aspectos desse esboço de teoria estão muito bem estabelecidos. se assim for.um fanatismo religioso ou outro poderia produzir uma catástrofe global. revisada e editada durante milhares de anos. discutir opções. Já que a minha prototeoria ainda não está estabelecida e pode mostrar. Para outras.quantidades moderadas é bom para a minha saúde. ela ainda não deve ser usada para orientar nossas políticas. mas descer até os pontos específicos e gerar novas hipóteses testáveis é tarefa para o futuro. ação política. reforma econômica e daí por diante.para essas características. As pessoas só gradualmente chegaram a ter uma avaliação dos motivos . seja ou não bom para mim. Essas pessoas podem muito bem depender da religião para viver. Tendo insistido. eu gosto dele e quero continuar a bebê-lo. para agirmos decisivamente. no capítulo 3. hoje. do mesmo modo que todos dependem de bactérias nos intestinos que nos ajudam a digerir a comida.se errada. da moral que Taubes tirou de sua história do ativismo mal orientado que nos levou a uma cruzada de baixo teor de gordura: "E uma história que pode acontecer quando as demandas por políticas de saúde pública . Na ciência. a tática é apresentar algo que possa ser fixado ou refutado por alguma coisa melhor. Lembre-se. já que. mas eu aconselho paciência. dando-nos razões prementes para descobrir quais as hipóteses realmente verdadeiras. jogando com a culpa. A religião dá a algumas pessoas uma motivação organizada para fazer grandes coisas . . Eu quis dar aos leitores uma boa idéia do que seja uma teoria testável. que tipos de princípios explanatórios ela poderia invocar. Essas considerações sobre políticas possíveis podem ajudar a motivar novas pesquisas. agora é um fato. explorando aspectos menos atraentes de sua psicologia. Algumas décadas atrás. o anseio por auto-estima e o status. em que precisamos fazer muitas outras pesquisas para tomar decisões bem informadas. A situação atual é assustadora . as bases racionais descomprometidas . Meu esboço de teoria pode muito bem ser falso em diversos aspectos. afinal de contas -. A religião é diversas coisas para muitas pessoas. isso se provará quando alguma teoria alternativa do mesmo tipo for confirmada.daqui para diante. a solidão. Há um século. A religião poderia ser alguma coisa parecida. educação. provendo benefícios inegáveis de tipos que não podem ser encontrados em nenhum outro lugar. desde o início. mas devemos resistir aos "remédios" irrefletidos e às outras reações exageradas. Só quando conseguirmos estruturar uma visão abrangente dos diversos aspectos da religião é que poderemos formular políticas defensivas sobre como reagir às religiões no futuro. Para algumas. e pensar hipoteticamente o que poderiam ser políticas sólidas se algo como a minha explicação da religião estiver correto. mas. com milhares de variantes extintas no processo. e garantem a devoção. Tem sido podada. eu estaria me contradizendo se agora passasse a prescrever os cursos de ação com base em minha incursão inicial. os memes da religião são mutualistas. no entanto. Há pressão sobre todos nós. não passava de teoria a idéia de que a causa da Aids fosse um vírus. mas hoje a realidade do HIV não é apenas uma teoria.

A aceitação de que essas proposições são verdadeiras. se não minutos. de qualquer modo. como mais importantes. Cuidado! Deveria dizer. Mas acho que já apresentei meu argumento de que seria um descuido indefensável não fazer essa pesquisa. Mas eu insistiria para que também colássemos adesivos em quaisquer livros ou artigos que mantenham ou pressuponham que a religião é o bote salva-vidas do mundo. A proposição de que Deus existe não é sequer uma teoria.ou bilhões . terei prestado um desserviço. não um fato. que não ousamos balançar. a maior parte desqualificada como teoria. deixando de mencionar as outras histórias. mas talvez tenha deixado passar algumas contribuições que serão reconhecidas. Estou bastante preparado para enrolar as mangas e examinar as provas. de consciência limpa. como vimos nos capítulos 9 e 10. seja para a sociedade como um todo. um conjunto desorganizado de dúzias ou centenas . nada seria mais desejável do que este livro provocar um desafio . e tenho certeza de que será muitíssimo atraente para várias pessoas: vamos só fechar os olhos. eu concordaria muito alegremente.1 Posso antever que um dos desafios virá daqueles na academia que não se emocionaram com a minha discussão sobre a "cortina de fumaça acadêmica" no capítulo 9. porque sistematicamente imunes a confirmação ou refutação. A minha rede de informantes tem seus próprios desvios. aqui está a única receita que vou dar categoricamente e sem reservas: pesquisem mais. ao chamar a atenção para uma via de pesquisa. retrospectivamente.Se alguém quisesse colar um adesivo neste livro. como vimos no capítulo 8. sem maiores pesquisas. individualmente. e. O levantamento que fiz enfatizou uma pequena fração do trabalho já feito.) Mesmo a proposição secular não partidária de que a religião em geral faz mais bem que mal. confiar nos preceitos e improvisar. Pense. usando-o para contar uma das histórias possíveis de como a religião se tornou aquilo que hoje é. Contei o que acho ser a melhor versão corrente. pode levar a resultados calamitosos. na melhor das hipóteses. voltar nossas costas aos fatos relevantes disponíveis ou passíveis de ser descobertos.para a nossa salvação.veis do argumento de que Deus existe têm ciclos vitais como as efemérides. Então. nascendo e morrendo no intervalo de poucas semanas. Como posso discutir com a fé (pelo amor de Deus)? Fé cega? Por favor. ajudar a submergir no esquecimento alguma rota melhor.de teorias possíveis bem diferentes. dizendo que ele apresenta uma teoria. Vamos só adotar como verdadeiro que a religião seja a chave .ou uma das chaves .um desafio científico racional e rico em provas . à medida que as predições não se tornam verdade. dificilmente começou a ser testada da forma adequada. no entanto. Existe uma alternativa.mas silenciosamente revê sua teoria sempre que perde apesar de suas preces. (Cada atleta que reza a Deus pedindo a vitória no grande jogo e vence fica feliz em agradecer a Deus por adotar o lado dele.para pesquisadores com pontos de vista opostos. Esse é um risco que um projeto como o meu corre: se. seja para o crente. Minha tarefa foi demonstrar que há motivos suficientes para questionarmos os preceitos de fé para que possamos. As versões refutá. Essa asserção é tão prodigiosamente ambígua que expressa. e para pensar nas teorias científicas alternativas da religião. Estou muito atento a esse prospecto. de modo que mostrei rascunhos deste livro aos meus pesquisadores para que dessem sua opinião sobre como progredir na área. Foi aqui que começamos. para mim. e que acreditam firmemente que os únicos pesquisadores qualificados para fazer a pesquisa são aqueles que . e obtém algum triunfo na "prova" em favor de sua teoria de Deus .

A mesma máxima deve ser aplicada ao estudo do discurso e das práticas religiosas. A chave desse sucesso mais recente é simples: faça seu dever de casa. tiveram de trabalhar duro para superar a má reputação angariada pelo setor em seus dias iniciais. as vidas no dia-a-dia e os problemas das pessoas que estão estudando. Há algumas décadas nasceu a área de "estudos da ciência". Assim. e resolveram aplicar suas técnicas..entram em uma exploração da religião com o "respeito adequado" pelo sagrado. eram ainda observadores ingênuos. insensível e intolerante. o uso da estatística etc. Algumas das tentativas iniciais. dos biólogos moleculares ou dos matemáticos. os textos e contextos. A história recente mostra que essa é uma preocupação a ser levada a sério. historiadores da religião . tem pouca chance de compreender suas interações e reações no nível humano. teólogos. Como se pode garantir isso? Os especialistas religiosos . que conseguiu de fato abrir os olhos dos cientistas para modelos e falhas em sua própria prática.merecidamente . aprimoradas na exploração de culturas tribais isoladas em selvas e arquipélagos distantes. com bases na biologia. imãs. se é que não se convertendo a elas. Deixem os especialistas elaborarem um exame de admissão tão exigente quanto queiram. e exijam que os exames sejam corrigidos às cegas. sem idéia das "tecnicalidades" da ciência que testemunhavam. eles se saíam com interpretações comicamente ruins daquilo que observavam. muitas vezes.2 . Mas o trabalho mal orientado tem sido agora equilibrado por trabalho mais bem fundamentado e abrangente. quando sociólogos e antropólogos se uniram a historiadores e filósofos da ciência. ao mesmo tempo que eliminaria os ignorantes de suas próprias fileiras e daria um atestado aos investigadores qualificados. Isso daria aos especialistas religiosos um modo de confirmar sua estima mútua. As pessoas. e dêem a eles total autoridade para dar as notas.que estejam céticos quanto às qualificações daqueles cientistas que os estudariam poderiam criar e administrar um exame de admissão! Quem não conseguisse passar no exame de admissão que eles concebessem seria apropriadamente considerado não suficientemente instruído para compreender os fenômenos sob investigação e poderiam ser-lhe negados o acesso e a cooperação. como as subculturas dos físicos de partículas.cionadas de cientistas sociais. além de seus modelos matemáticos. além de ter tido o treinamento em seu campo original. feitas por equipes bem-inten. mas exijam que alguns dos especialistas também façam o exame. Não importa quão sofisticados os pesquisadores podiam ser como antropólogos. Aplicada ao estudo da religião. de modo que os examinadores não possam identificar os candidatos. que defendi. para estudar esses fenômenos "na natureza" (do laboratório ou da sala de seminários) levaram à publicação de estudos que encontraram . Se você não conhece em algum detalhe o empreendimento das pessoas que está estudando. com um profundo compromisso com a santificação das tradições. está fadado a ser lamentavelmente superficial. e há ainda muitos cientistas que não se dão o trabalho de suprimir seu desdém por ela. à própria ciência.padres.o escárnio dos cientistas que constituíam o objeto da pesquisa. rabinos. pastores. Qualquer pessoa que tenha a esperança de fazer com que qualquer área altamente sofisticada do esforço humano ganhe sentido precisa se tornar um quase especialista naquela área. a receita é clara: cientistas que tenham a intenção de explicar fenômenos religiosos vão ter de explorar profunda e conscienciosamente o corpo de conhecimentos e práticas. Eles sustentarão que o tipo de investigação empírica. no estudo das ciências.

H. que porcentagem (aproximadamente) também acredita de fato em Deus? À primeira vista parece que poderíamos simplesmente dar às pessoas um questionário com uma questão de múltipla escolha: C r e i o e m D e u s :S i m _ _ _ N ã o _ _ _ N ã o s e i _ _ _ Ou a questão deveria ser: D e us e xi s t e : S i m_ _ _ N ã o _ _ _ N ã o s e i _ _ _ Faria diferença o modo como estruturamos as questões? . fora comida. Não te sentarás Com estatísticos. Nem concordarás em Fazer qualquer teste. predadores e o jogo do acasalamento? Será que as práticas fúnebres dos neandertalenses mostram que eles deviam ter uma linguagem plenamente articulada? Capítulo 5: Será que qualquer símio (sem linguagem) poderia elaborar a combinação contraintuitiva de uma árvore que andasse ou uma banana invisível? Por que nós. ALGUMAS VIAS A SEREM EXPLORADAS: COMO PODEMOS NOS CENTRAR NAS CONVICÇÕES RELIGIOSAS? Não responderás a questionários Ou testes a respeito dos Negócios do Mundo. ou de uma corporação? Será a religião o produto do instinto evolutivo cego ou de uma escolha racional? Ou será que existe alguma outra possibilidade? Estarão Stark e Finke certos a respeito do motivo principal para o declínio abrupto de católicos em busca de uma vocação na Igreja depois do Conselho Vaticano 11? Capítulo 8: De todas as pessoas que acreditam na crença em Deus. focalizamos tão persistentemente nossas fantasias nos nossos antepassados? Será que a hipnose improvisada funciona tão eficientemente quando o hipnotizador não é o genitor? Com que grau de perfeição as culturas que não dispunham da escrita preservaram seus rituais e credos ao longo das gerações? Como surgiram os rituais de cura? Tem de haver alguém para iniciar o processo? (Qual é o papel dos inovadores carismáticos na origem de grupos religiosos?) Capítulo 6: Durante quanto tempo a religião popular foi conduzida pelos nossos antepassados até que a reflexão começou a transformá-la? Como e por que as religiões populares se metamorfosearam em religiões organizadas? Capítulo 7: Por que as pessoas se juntam aos grupos? Será a robustez de uma religião parecida com a robustez de uma colônia de formigas. nem cometerás Uma ciência social. se é que falavam. Auden. [W. "A reactionary tract for the times"] Que pesquisa é necessária? Examine algumas das questões empíricas não respondidas já levantadas por mim neste livro: Capítulo 4: O que era a vida dos nossos antepassados antes de haver algo parecido com a religião? Éramos bandos de chimpanzés? Do que eles falavam. seres humanos.2.

Por que não? Porque ter convicções religiosas não se relaciona muito com ter ataques epiléticos ou olhos azuis. aquelas que necessitam de religião "aguda" e aquelas cujas necessidades são "crônicas" e mais suaves. mas poderosa. mas as primeiras incursões em uma pesquisa desse tipo não foram muito convincentes. que reforça a aptidão genética humana. algumas partes do seu cérebro vão ficar mais ativas que outras. 65] A idéia à espreita nessa passagem ousada é a de que a religião "faz bem" porque foi endossada pela evolução. Em lugar de um único sentido espiritual examinamos uma convergência de diversas disposições superativas diferentes. com cérebros ou genes. "Estará Deus nos nossos genes?": Os seres humanos que desenvolveram um sentido espiritual vicejaram e transmitiram esse traço aos seus descendentes. Esse é exatamente o tipo de darwinismo simplório que dá arrepios aos sutis estudiosos e teóricos da religião. sempre que você pensar em Jesus. Podemos tentar descobrir se existem mesmo diferenças orgânicas substanciais entre aqueles que são altamente religiosos e aqueles cujo entusiasmo pela religião é . No tempo certo. uma das possibilidades genéticas relativamente diretas. p. mas sempre que você pensar em qualquer coisa isso vai ser verdade. Antes de começarmos a colorir seus mapas cerebrais particulares para pensamentos sobre brincadeiras. como vimos. é claro. o uso de neuroimagens para estudar crenças religiosas é quase tão patético quanto lançar mão de um voltímetro para estudar um computador que jogue xadrez. deveríamos notar que as evidências sugerem que esses pontos quentes são tanto móveis quanto múltiplos. A hipótese de que existe um "senso espiritual" (geneticamente) passível de ser herdado. não arrumados em ordem alfabética no córtex! Na verdade. Ou poderíamos juntá-lo à velha especulação de William James. Sim. não é muito alta. 2004. É ainda possível que encontremos mecanismos neurais exclusivos para alguns aspectos da experiência e da convicção religiosa. de que há dois tipos de pessoas. compare a história que contei nos capítulos anteriores com esta versão simplificada do recente artigo de capa da revista Time. sim. nem mesmo indiretamente. quando você pensar em Jesus. jet skis e jóias (e judeus). estaremos aptos a relacionar tudo o que descobrirmos por outros meios ao que está acontecendo entre os bilhões de neurônios no nosso cérebro. [Kluger.4 Quanto aos nossos genes. altamente dependentes do contexto . Isso pode ter propiciado grandes benefícios à saúde nos tempos primitivos. e seria um modo de considerar a hipótese do "gene de Deus" de Hamer seriamente. ou até mesmo um gene da "espiritualidade". Já podemos ter bastante certeza de que não há um "gene de Deus". Aqueles que não desenvolveram se arriscaram a morrer no caos e na matança. a probabilidade de que as áreas que se acendem hoje serão as mesmas que se acenderão na semana que vem. Nós consideramos. e existem "equações" evolutivas mais poderosas.Você vai notar que praticamente nenhuma dessas questões lida.e. certamente. A equação evolutiva é simples. Na verdade. é uma das possibilidades evolutivas menos prováveis e menos interessantes.3 Até desenvolvermos teorias gerais da arquitetura cognitiva melhores para a representação do conteúdo no cérebro. sensibilidades e outras adaptações cooptadas que nada têm a ver com Deus ou religião. mas o caminho mais frutífero enfatiza os métodos da psicologia e das demais ciências sociais. e não existe um centro de catolicismo no cérebro de católicos. ou até mesmo um centro de "experiência religiosa". um gene para reforço à possibilidade de ser hipnotizado. a coisa não é assim tão simples.

seria melhor chamá-las de convicções religiosas. geneticamente transmitida.) Estas são hipóteses que definitivamente vale a pena formular em detalhe e testar se conseguirmos identificar padrões ou variações pessoais.5 Não é preciso dizer que. mas as . Será que pode existir uma "intolerância à experiência espiritual' ou uma "aversão à experiência espiritual '? Pode ser. Não precisamos ser aconselhados a evitar esses alimentos. Quais seriam as implicações . Suponhamos que achamos um filão e encontramos exatamente esse modelo. persistência e extinção. Pode ser que ainda outros anseiem por esses estímulos e sintam uma profunda necessidade de integrá-los em suas vidas. que algumas pessoas descobrem possuir por bró. Para adotar um exemplo imaginoso. e nos papéis que representam na motivação e no comportamento das pessoas? Houve uma substancial indústria de pesquisas dedicadas a realizar levantamentos sobre todos os aspectos do posicionamento religioso. a música e a arte . elas não têm dificuldade em metabolizar esses alimentos. já que não os conseguem "metabolizar" do mesmo modo que outras pessoas.se houver . mas consideramnos desagradáveis ao paladar por causa de diferenças identificáveis nos muitos genes que codificam os receptores olfati vos. deprimidos. "crença" é uma denominação imprópria aqui. (Eles se tornam maníacos. sejam ou não genéticas (elas podem ser transmitidas culturalmente. enquanto outras . principalmente a dehidrogenase alcoólica e a dehidrogenase alde.colis.ou pode transformar as pessoas em alcoólatras . confusos ou viciados.mas inteiramente incapazes de se deixar convencer pelas doutrinas. seria particularmente útil saber mais a respeito de como as crenças seculares diferem das crenças religiosas (como vimos no capítulo 8. Algumas pessoas parecem impermeáveis aos rituais religiosos e outras manifestações de religião. fora de controle.moderado ou inexistente.para as políticas? Poderíamos considerar o paralelo com as diferenças genéticas que ajudam a explicar algumas das dificuldades de alguns asiáticos e alguns nativos norte-americanos com o álcool.como eu . couve-flor e coentro. Pode ser que existam características psicológicas com bases genéticas que se manifestam em diferentes reações a estímulos religiosos por parte de algumas pessoas (entretanto achamos útil classificar esses estímulos). sem isso ser culpa delas. existe uma variação transmitida geneticamente na capacidade de metabolizar o álcool. graças à variação na presença de enzimas. é altamente aconselhável que abram mão do álcool. histéricos. afinal de contas). Por exemplo.6 Vemos regularmente os grandes momentos dos últimos resultados na mídia. poderia acontecer que as pessoas cuja língua natal fosse o finlandês (não importando sua herança genética) fossem aconselhadas a moderar sua ingestão de religião! Um "sentido espiritual" (seja ele lá o que for) pode se mostrar como uma adaptação genética no sentido mais simples. Um paralelo diferente se pode fazer com a aversão. hipóteses mais específicas a respeito de modelos das tendências humanas a reagir à religião provavelmente serão mais plausíveis. Como as convicções religiosas diferem das crenças seculares quanto às suas maneiras de aquisição. Da mesma forma que acontece com a tolerância à lactose.para pessoas dotadas desses genes. e apresentam maior probabilidade de se mostrarem úteis em desemaranhar algumas das incômodas questões políticas que temos de enfrentar. uma vez que o álcool é venenoso . mais prontamente testadas.ídica. William James oferece observações informais que nos dão alguma razão para suspeitar disso. mas seria aconselhável que se mantivessem longe deles.ficam profundamente comovidas com as cerimônias. para marcar a diferença). Contudo.

como muitos observadores informais defenderam há pouco tempo. e ninguém gasta milhares de dólares para reunir dados usando um "instrumento" projetado informalmente (questionário). no dia em que a pesquisa foi realizada? O entrevistador tinha algum sotaque? E daí por diante. Precisamos descobrir. Em 2001. eram os evangélicos/nascidos outra vez (42%).) Que controles foram usados para evitar desvio no contexto? Que outras perguntas foram feitas às pessoas? Quanto tempo para realizar a entrevista? E ainda há as perguntas fora do comum que podem ter tido respostas importantes: o que aconteceu nas notícias. discordo fortemente)} Quando o ARIS fez seu levantamento em 1990. Alan Wolfe (2003. em 1990. Esses dados sustentam a opinião de que o evangelicismo está crescendo nos Estados Unidos.ty. desde o levantamento anterior. incerto. no caso do ARIS. como Stark e Finke. mas um Deus que atende às preces.não apenas uma "essência' ' de Deus. Quanto do aumento nas respostas "sem seita" e "sem religião" pode ser atribuído à mudança na formulação? Por que foi acrescentada a expressão "se a tiver"? Durante a elaboração de How we believe: science. Aparentemente estamos polarizados. as três categorias que obtinham o maior ganho em número de integrantes. e não se deve a qualquer simples erro de amostragem (do tipo enviar questionários a conhecidos céticos!). 152). p. tendo a concordar.bases teóricas e as suposições autorizadas das metodologias precisam passar por uma análise cuidadosa. fez um ambicioso levantamento sobre convicções religiosas. 2003). e quando devemos usar uma escala Likert de cinco pontos (do tipo da conhecida concordo fortemente. Os resultados foram fascinantes. Consideremos um dos mais notáveis relatórios recentes. por exemplo. acha que os levantamentos não são confiáveis: "Os resultados são inconsistentes e enigmáticos. como é freqüentemente o caso com esse tipo de pesquisa. como acham aqueles que estão do lado da oferta. dependendo. só as religiões mais custosas conseguem competir com religião nenhuma no mercado pelo nosso tempo e os nossos recursos? Ou será que. A maior parte dos levantamentos recentes sugere que cerca de 90% dos norte-americanos acreditam em Deus . tendo a discordar. Por quê? Será porque. apenas 64% disseram acreditar em Deus .7 Os levantamentos em grande escala são caros. e não questionário escrito.8 Shermer especula que a . mais a ciência passa a idéia de que deixa alguma coisa de fora. "Levantamento norte-americano de identificação religiosa"). skepticism and the search ofGod (2a edição. em parte porque diferem de maneira impressionante dos resultados encontrados em outros levantamentos semelhantes. Mas será que Wolfe está certo? Isso não deveria ser apenas uma questão de opinião pessoal. a questão foi corrigida: "Qual a sua religião. e como foram eles reunidos? (Pesquisa telefônica. Muita pesquisa foi dedicada a identificar as fontes de desvio e artefatos em levantamentos. da formulação das questões no levantamento ou das amostras escolhidas para análise". quanto mais aprendemos sobre a natureza. a primeira pergunta era: "Qual a sua religião?". se a tiver?". 79). De acordo com O ARIS (American Religious Identification Survey. alguma coisa que só uma perspectiva anticiência consegue suprir? Ou existe alguma outra explicação? Antes de nos intrometermos para explicar os dados. em 2001. o diretor da Skeptic Socie. Michel Shermer. E uma discrepância enorme. Quando devemos usar uma simples pergunta sim/não (e não se esqueça de incluir a importante opção "não sei"). Exatamente qual é o grau de confiabilidade dos dados. deveríamos perguntar que grau de certeza temos nas suposições usadas para reuni-los. os sem seita (37%) e os sem religião (23%). Mas confirmam também a visão de que o secularismo está em ascensão.e 25% disseram que não acreditavam em Deus (p. No levantamento de Shermer.

na verdade inatacáveis . De acordo com o u. 79] Mas (como o meu aluno David Polk apontou). o efeito dos pares e praticamente qualquer outra variável que possa ser medida para os primeiros doze anos da vida de uma pessoa. O QUE DEVEMOS DIZER ÀS CRIANÇAS? Foi o garoto de escola que disse. a aprendizagem da linguagem. Não iremos fazer estudos placebos nos quais o grupo A decora um catecismo. Seu levantamento pediu às pessoas que respondessem com suas próprias palavras a uma "questão aberta". que ainda é. algumas ruins. explicando por que acreditavam em Deus: As pessoas que completaram nossa pesquisa eram significativamente mais instruídas que o norte-americano médio. Todas as barreiras cuidadosamente erigidas e protegidas em torno da pesquisa médica danosa. a nutrição.chave está na educação. Isso está claramente fora de cogitação e deve permanecer assim. (E difícil dizer por que isso aconteceu. para 1998. "Fé é acreditar naquilo que você sabe que não é assim. uma taxa de retorno relativamente baixa. deveríamos fazer a próxima pergunta: quem gastaria tempo para preencher um questionário desses? Provavelmente apenas quem tem crenças mais firmes.) [p. e o grupo C decora sílabas sem sentido. As pessoas que simplesmente não acham que religião seja importante apresentam pouca probabilidade de preencher um questionário que envolva respostas discursivas. Algumas vezes há motivos éticos muito bons . no prelo). mas uma possibilidade é a de que as pessoas instruídas têm probabilidade maior de completar um questionário moderadamente complicado. Census Bureau. evita cuidadosamente a religião." [Mark Twain] Um tema de pesquisa de urgência particular. Não vamos realizar estudos de adoção cruzada. Há um oceano de pesquisas. sobre o desenvolvimento no início da infância. Quase tudo isso . enquanto o grupo B decora outro catecismo diferente. Mas quais são os limites? A questão é importante.para isso. enquanto na nossa amostra a taxa correspondente era de quase um terço. terra ignota. com objetos de experiência humanos. quando tentamos planejar modos indiretos e não invasivos de obter a evidência que buscamos. em larga escala. contudo. um quarto dos norte-americanos acima de 25 anos completou sua graduação.pelo que eu pude determinar-. é o efeito da formação e da educação religiosa entre as crianças pequenas.s.9 3. de modo que não podemos tirar nenhuma conclusão interessante desse número de 64%. se aplicam com igual força a qualquer pesquisa que imaginemos realizar sobre variações na formação religiosa. como ele reconhece (Shermer e Sulloway. Apenas uma em dez pessoas que receberam o levantamento por correspondência o enviou de volta. uma vez reconhecida a auto-seleção como um fator sério. e maior instrução está associada à menor religiosidade. Uma pesquisa sem . vamos nos deparar com o tipo de troca que regularmente enfrentam os pesquisadores que estão atrás de curas médicas. o comportamento dos pais. algumas boas. mas também de ética particular e sensibilidade política. porque. nos quais os bebês de pais islâmicos são trocados com bebês de pais católicos.

riscos sobre esses tópicos provavelmente é impossível. O que conta como consentimento
informado, e quanto de risco será permitido, para os que consentem? Consentimento de quem?
Dos pais ou dos filhos?
Todas essas questões de política restam sem exame nas sombras projetadas pelo primeiro
encanto - o que diz que a religião está fora de limites e pronto. Não devíamos fingir que esse
descaso é benigno da nossa parte, pois sabemos muito bem que, sob os guarda-chuvas protetores
da privacidade pessoal e da liberdade de religião, há práticas amplamente disseminadas nas
quais os pais submetem seus próprios filhos a tratamentos que mandariam qualquer pesquisador,
clínico ou não, para a cadeia. Quais são os direitos dos pais nessas circunstâncias, e "onde
traçamos o limite"? Esta é uma questão política que pode ser resolvida não descobrindo "a
resposta", mas elaborando uma resposta que seja aceitável pelo maior número possível de
pessoas informadas.
Não vai agradar todo mundo, não mais que nossas leis e práticas atuais com relação ao
consumo de bebidas alcoólicas agradam todos. Tentou-se proibir o consumo de bebidas
alcoólicas e, por consenso geral - longe de unânime -, a tentativa foi um fracasso. O entendimento
atual é bastante estável; há pouca probabilidade de que voltemos à Lei Seca em algum futuro
próximo. Mas ainda há leis que proíbem a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade (a
idade varia com o país). E inúmeras áreas nebulosas: o que devemos fazer se encontrarmos pais
que dão álcool a seus filhos? No jogo de futebol os pais podem se dar mal. Mas, e na
privacidade do lar? Existe uma diferença entre uma taça de champanhe no casamento da irmã
mais velha e uma embalagem de seis latas de cerveja todas as noites, enquanto tenta fazer o dever
de casa. Quando as autoridades têm, não apenas o direito, mas a obrigação de entrar e evitar o
abuso? Essas são questões difíceis, e elas não ficam mais fáceis quando o tema é a religião, e
não o álcool. No caso do álcool, nossa sabedoria política é muito bem informada por aquilo que
aprendemos a respeito dos efeitos de sua ingestão em curto e longo prazos. No caso da religião,
ainda estamos em vôo cego.
Algumas pessoas troçam da própria idéia de que a formação religiosa possa ser danosa a
uma criança - até que refletem a respeito de alguns dos regimes religiosos mais severos do
mundo e reconhecem que, nos Estados Unidos, já proibimos práticas religiosas disseminadas em
outras partes do mundo. Richard Dawkins vai mais longe. Ele propôs que criança alguma jamais
deveria ser identificada como uma criança católica ou uma criança muçulmana (ou atéia), já que
essa identificação em si mesma prejulga decisões que ainda devem ser pesadas da forma
adequada.
Ficaríamos horrorizados ao ouvir falar de uma criança leninista, ou uma criança
neoconservadora, ou uma criança monetarista hayekiana. Então, não seria um tipo
de agressão falar de uma criança católica ou de uma criança protestante?
Especialmente na Irlanda do Norte e em Glasgow, onde esses rótulos,
transmitidos ao longo de gerações, dividiram vizinhanças durante séculos e
podem chegar a uma condenação à pena de morte? [2003b]
Ou imagine se identificássemos as crianças desde que nasceram como jovens fumantes ou
bebeâoras porque seus pais fumavam ou bebiam? Nesse aspecto (e em outros), Dawkins lembra
meu avô, um médico que estava à frente de seu tempo nos anos 1950 e escrevia cartas

apaixonadas aos editores dos jornais de Boston, denunciando com veemência o fumo de segunda
mão que estava pondo em perigo a saúde de crianças cujos pais fumavam dentro de casa - e nós
todos ríamos dele, e continuávamos a fumar. Quanto de dano poderia esse pouquinho de fumaça
fazer a qualquer pessoa? Ficamos sabendo depois.
Todo mundo cita (ou cita errado) os jesuítas: "Dêem-me uma criança até os sete anos e eu
lhes mostrarei o homem", mas ninguém - nem os jesuítas nem qualquer outra pessoa - conhece
realmente a capacidade de recuperação das crianças. Existem muitas evidências de jovens que
voltam as costas às suas tradições religiosas depois de anos de imersão, afas- tando-se com um
dar de ombros e um sorriso, sem qualquer efeito maléfico visível. Por outro lado, algumas
crianças são educadas em tal prisão ideológica que se tornam dispostas a se tornar seus próprios
carcereiros, como disse Nicholas Humphrey (1999), proibindo a si próprias qualquer contato
com as idéias liberadoras que poderiam muito bem mudar-lhes a cabeça. Em seu ensaio
profundamente reflexivo "O que devemos dizer às crianças?", Humphrey é pioneiro em abordar
as questões éticas envolvidas em decidir "quando e se ensinar um sistema de crença para
crianças é moralmente defensável" (p. 68). Ele propõe um teste geral baseado no princípio do
consentimento informado, mas aplicado - como deve ser - hipoteticamente: o que essas crianças
escolheriam se recebessem, mais tarde, de algum modo, a informação de que precisariam para
tomar a decisão informada? Contra a objeção de que não sabemos responder a essas questões
hipotéticas, ele argumenta que existe, de fato, inúmeras evidências empíricas e princípios gerais
dos quais se podem tirar conscientemente conclusões claras. As vezes consideramos que temos a
permissão, e até a obrigação, de tomar essas decisões conscientes em nome de pessoas que não
podem, por um motivo ou outro, tomar elas mesmas decisões informadas, e esse conjunto de
problemas pode ser abordado usando o conhecimento que já resolvemos na oficina de consenso
político sobre outros temas.
A resolução desses dilemas (ainda) não é óbvia, para dizer o mínimo. Compare-a com a
questão, intimamente relacionada, daquilo que nós, do lado de fora, deveríamos fazer a respeito
dos sentineleses, jarawas e outros povos que ainda vivem uma existência da Idade da Pedra, em
notável isolamento nas ilhas Andaman e Nicobar, no oceano Indico. Esses povos conseguiram
manter afastados até os exploradores e comerciantes mais intrépidos durante séculos pela feroz
defesa com arco-e-flecha dos territórios de suas ilhas. Muito pouco se sabe a respeito deles, e já
há algum tempo o governo da índia, do qual as ilhas fazem uma parte distante, proibiu qualquer
contato com eles. Agora que chamaram a atenção do mundo em conseqüência da grande tsunami
de dezembro de 2004, é difícil imaginar que esse isolamento possa se manter. Mesmo que
pudesse, deveria ser conservado? Quem tem o direito de decidir a questão? Certamente não os
antropólogos, embora eles tenham trabalhado muito para proteger esses povos do contato - até
com eles próprios - durante décadas. Quem são eles para "proteger" seres humanos? Os
antropólogos não são donos deles como se fossem espécimes de laboratório cuidadosamente
reunidos e defendidos de contaminação, e a idéia de que essas ilhas possam ser tratadas como um
jardim zoológico humano, ou área de preservação, é ofensiva - mesmo quando contemplamos a
alternativa ainda mais ofensiva de abrir as portas a missionários de todos os credos, que sem
dúvida correriam ansiosos por salvar-lhes a alma.
É tentador, mas ilusório, pensar que eles tenham resolvido o problema ético para nós, pela
decisão adulta deles de mandar embora todos os de fora sem perguntar se são protetores,

exploradores, investigadores ou salvadores de almas. Esses povos querem claramente ser
deixados em paz, de modo que os devemos deixar em paz! Há dois problemas com essa proposta
conveniente: a decisão deles é tão manifestamente mal informada que, se deixarmos que ela
prevaleça sobre todas as demais contribuições, será que não somos tão culpados quanto alguém
que deixa uma pessoa beber um coquetel envenenado "por sua livre escolha" sem se dignar a
avisá-lo? De qualquer modo, embora os adultos possam ter alcançado a idade do consentimento,
será que seus filhos não estarão sendo vítimas da ignorância dos pais? Jamais deveríamos
permitir que o filho de um vizinho se mantenha tão iludido. Então não deveríamos cruzar o
oceano e intervir para resgatar essas crianças, não importando quão doloroso seja o choque?
Você sente uma ligeira onda de adrenalina neste momento? Eu acho que a questão dos
direitos dos pais contra os direitos dos filhos não tem rivais claros para disparar reações
emocionais em lugar de reações racionais, e suspeito que esse é um aspecto no qual o fator
genético desempenha um papel bem direto. Nos mamíferos e nas aves que precisam cuidar de
seus filhotes, o instinto de proteger os filhotes de qualquer interferência externa é universal e
extremamente potente; arriscamos a vida sem hesitação - sem pensar - para afastar ameaças, reais
ou imaginárias. É como um reflexo. Neste caso, podemos "sentir no sangue" que os pais têm, sim,
o direito de criar seus filhos do jeito que acharem melhor. Nunca cometa o erro de se colocar
entre uma mãe ursa e seu filhote, e nada deve se interpor entre os pais e seus filhos. Esse é o
núcleo dos "valores de família". Ao mesmo tempo, temos de admitir que os pais não são
literalmente donos de seus filhos (como donos de escravos possuem escravos), mas são, ao
contrário, seus administradores ou guardiães, e as pessoas de fora deveriam considerá-los
responsáveis pela sua curatela, o que implica que as pessoas de fora têm o direito de interferir o que faz disparar outra vez aquele alarme de adrenalina. Quando achamos que aquilo que
sentimos no nosso sangue é difícil de defender no tribunal da razão, ficamos defensivos, irritados
e começamos a olhar em volta à procura de alguma coisa por trás da qual nos esconder. E o que
dizer de um elo sagrado e (portanto) inquestionável? Ah, é isso que vale!
Existe uma tensão óbvia (mas raramente discutida) entre os princípios supostamente
sagrados invocados com relação a este ponto. Por um lado, declaram muitos, existe o sagrado e
inviolável direito à vida: toda criança não nascida tem o direito à vida, e nenhum futuro genitor
tem o direito de interromper uma gravidez (talvez exceto se a própria vida da mãe estiver em
perigo). Por outro lado, grande parte dessas mesmas pessoas declara que, uma vez nascida, a
criança perde seu direito de não ser doutrinada, sofrer lavagem cerebral ou ser molestada
psicologicamente por aqueles genitores, que têm o direito de criar a criança do jeito que
quiserem, fora a tortura física. Vamos espalhar o valor da liberdade pelo mundo - mas não para
as crianças, aparentemente. Nenhuma criança tem direito à liberdade de doutrinação. Não
deveríamos mudar isso? O quê?, e deixar gente de fora dizer como tenho de criar os meus
filhos? (Agora você sente o surto de adrenalina?)
Enquanto nos debatemos com as questões a respeito dos habitantes da ilha Adaman, podemos
ver que estamos assentando as bases políticas para questões semelhantes a respeito da criação
religiosa em geral. Não deveríamos presumir, ao mesmo tempo que nos preocupamos com os
efeitos prováveis, que a sedução da cultura ocidental irá automaticamente afundar todos os
frágeis tesouros de outras culturas. Vale notar que muitas mulheres muçulmanas, criadas sob
condições que muitas mulheres não-muçul- manas considerariam intoleráveis, quando dadas as

oportunidades informadas para abandonar os véus e muitas de suas outras tradições, escolhem,
em vez disso, mantê-las.
Talvez as pessoas possam merecer confiança em toda parte, e, daí, talvez se deva permitir
que façam suas próprias escolhas informadas. Escolhas informadas! Que espantosa idéia
revolucionária! Talvez se possa confiar nas pessoas para fazer as escolhas, não necessariamente
aquelas que nós recomendaríamos para elas, mas as escolhas que apresentam maior
probabilidade de satisfazer as metas dessas pessoas. Mas o que ensinamos a elas até que sejam
informadas o suficiente e maduras o bastante para decidir por elas mesmas? Ensinamos a elas a
respeito de todas as religiões do mundo, de um jeito terra-a-terra, histórica e biologicamente
informado, assim como lhes ensinamos geografia, história e aritmética. Tenhamos mais instrução
sobre religião em nossas escolas, e não menos. Devíamos ensinar às nossas crianças credos,
costumes, proibições, rituais, textos, música e, quando cobrirmos a história da religião, devíamos
incluir não só o positivo - o papel das igrejas nos movimentos de direitos humanos nos anos
1960, o florescimento da ciência e da arte no início do islamismo, o papel dos Black Muslims em
trazer esperança e amor-próprio às estraçalhadas vidas de muitos internos em nossas prisões, por
exemplo -, mas também o negativo - Inquisição, anti-semitismo ao longo das eras, o papel da
Igreja católica em espalhar a Aids na África, por sua oposição ao uso de camisinha. Nenhuma
religião deveria ser favorecida, e nenhuma deixada de lado. E à medida que descobríssemos
cada vez mais a respeito das bases biológicas e psicológicas das práticas e dos posicionamentos
religiosos, essas descobertas deveriam ser acrescentadas ao currículo, da mesma forma como
atualizamos nossa educação sobre ciência, saúde e eventos correntes. Isso deveria fazer parte do
currículo obrigatório tanto para escolas públicas como para o ensino em casa.
Aqui vai uma proposta, então: desde que os pais não ensinem a seus filhos nada que lhes
feche a mente
1. Por medo ou ódio ou
2. Por desqualificá-los de investigação (por negar-lhes uma educação, por exemplo, ou
mantê-los inteiramente isolados do mundo),
poderão ensinar a seus filhos quaisquer doutrinas religiosas que queiram. É apenas uma idéia, e
talvez haja outras melhores para examinar, mas ela deveria atrair os amantes da liberdade: a
idéia de insistir em que devotos de todos os credos devam encarar o desafio de ter a certeza de
que seu credo é meritório, atraente, plausível e cheio de significado o bastante para resistir às
tentações de seus concorrentes. Se você tiver de ludibriar - ou vendar os olhos - de seus filhos
para garantir que eles confirmem sua fé quando forem adultos, sua fé deveria se extinguir.

4. MEMES TÓXICOS
Qualquer encontro criativo com o mal exige que não nos distanciemos dele simplesmente
demonizando aqueles que cometem atos maldosos. Para escrever sobre o mal, um escritor
deve tentar compreendê-lo, pelo avesso; compreender os perpetradores sem necessariamente

simpatizar com eles. Mas os norte-americanos parecem ter dificuldade em reconhecer que
existe uma distinção entre compreender e simpatizar. Acreditamos, de algum modo, que uma
tentativa de nos informar a respeito daquilo que leva ao mal é uma tentativa de atenuá-lo de
alguma maneira. Eu acredito que exatamente o contrário é verdadeiro, e que quando se trata
de lidar com o mal, a ignorância é o nosso pior inimigo.
[Kathleen Norris, "Native evil"]'°
Escrever este livro me ajudou a compreender que a religião é um tipo de tecnologia. Ê
terrivelmente sedutora em sua capacidade de consolar e explicar, mas é também perigosa.
[Jessica Stern, Terror in the name of God: why religious militants kill]
Já ouviram falar nos yahuuz, um povo que acha que aquilo que chamamos de pedofilia
pornográfica não passa de divertimento bom e limpo? Eles fumam maconha todos os dias, fazem
da defecação uma cerimônia pública (com competições hilariantes para ver quem chega ao ritual
de se limpar), e, sempre que um ancião chega aos oitenta anos, há um dia de festa especial, no
qual a pessoa cerimonialmente se mata - e depois é comida por todos. Enojado? Então você sabe
como muitos muçulmanos se sentem em relação à nossa cultura contemporânea, com o álcool, as
vestimentas provocantes e atitudes informais da autoridade familiar. Parte do meu esforço neste
livro é fazer com que você pense, e não apenas sinta. Nesse exemplo, você tem de ver que seu
nojo, não importa quão forte, não passa de um datum, um fato a seu respeito, e um fato muito
importante a seu respeito, mas não um sinal infalível de verdade moral - é exatamente como o
nojo muçulmano em relação a algumas de nossas práticas culturais. Devíamos respeitar os
muçulmanos, ter empatia por eles, considerar seriamente o nojo deles - mas então propor que se
unam a nós em uma discussão a respeito das perspectivas sobre as quais diferimos. O preço que
você deveria estar disposto a pagar por isso é sua própria disposição para examinar o modo de
vida dos (imaginários) yahuuz calmamente, e perguntar se ela é assim claramente tão
indefensável. Se eles partilham dessas tradições convictamente, sem coer- ção aparente, talvez
devamos dizer "viva e deixe viver".
E talvez não. Deve caber a nós o fardo de demonstrar para os yahuuz que o modo de vida
deles inclui preceitos dos quais deveriam ter vergonha, e deveriam abolir. Talvez, se nos
envolvêssemos conscienciosamente nesse exercício, descobríssemos que algumas de nossas
aversões aos modos deles são paroquiais e injustificáveis. Eles nos ensinariam alguma coisa. E
nós lhes ensinaríamos alguma coisa. E talvez o abismo de diferenças jamais seria transposto, mas
não deveríamos supor essa perspectiva.
Enquanto isso, o modo de nos prepararmos para essa utópica conversa global é estudar, tão
compassiva e desapaixonadamente quanto possível, os modos deles e os nossos. Pense na
corajosa observação de Raja Sheha- deh, ao escrever sobre o domínio da moderna Palestina: "A
maior parte de sua energia é gasta oferecendo observadores para detectar a percepção pública de
suas ações, porque sua sobrevivência depende de permanecer em bons termos com sua
sociedade"." Quando pudermos compartilhar observações semelhantes sobre problemas na nossa
própria sociedade estaremos num bom caminho para o entendimento mútuo. A sociedade
palestina, se Shehadeh estiver certo, é perseguida por um caso virulento do meme "punir aqueles

que não punem", para o qual há modelos (começando com Boyd e Richerson, 1992) que predizem
outras propriedades que deveríamos procurar. Pode ser que essa característica particular frustre
projetos bem-intencionados que funcionariam em sociedades que não os têm. Em particular, não
devemos presumir que as políticas que estão começando na nossa própria cultura não serão
malignas em outras. Como Jessica Stem observa:
Passei a ver o terrorismo como um tipo de vírus, que se espalha como resultado de fatores de
risco em diversos níveis: globais, interestaduais, nacionais e pessoais. Mas identificar esses
fatores com exatidão é difícil. As mesmas variáveis (políticas, religiosas, sociais ou todas
acima) que parecem ter feito uma pessoa tornar-se terrorista pode fazer com que outra se torne
um santo. [2003, p. 283]
A medida que a tecnologia de comunicações torna cada vez mais difícil para os líderes
abrigar seu povo das informações de fora, e à medida que as realidades econômicas do século
xxi tornam cada vez mais claro que a educação é o investimento mais importante que qualquer
pai pode fazer em um filho, as comportas se abrirão no mundo todo, com efeitos tumultuosos.
Todos os refugos da cultura popular, todo o lixo e escuma que se acumulam nos cantos de uma
sociedade livre irão inundar essas regiões relativamente intocadas, junto com os tesouros da
educação moderna, direitos iguais para as mulheres, melhor assistência de saúde, direitos dos
trabalhadores, ideais democráticos e abertura à cultura dos outros. Como a experiência na antiga
União Soviética mostra muito claramente, as piores feições do capitalismo e da alta tecnologia
estão entre os replicadores mais robustos nessa explosão de população dos memes, e haverá
muito chão para xenofobia, luddismo e a tentadora "higiene" do fundamentalismo saudosista. Ao
mesmo tempo, não devíamos ter pressa em nos desculpar pela cultura pop norte-americana. Ela
tem lá seus excessos, mas em muitos casos não são os excessos que ofendem tanto quanto o
igualitarismo e a tolerância. O ódio a essa exportação norte-americana muitas vezes é fruto de
racismo - por causa da forte presença afro-americana na cultura pop norte-americana - e sexismo
- por causa do status da mulher que celebramos e de nosso tratamento (relativamente) benigno à
homossexualidade. (Ver, por exemplo, Stern, 2003, p. 99.)
Como Jared Diamond mostra em Armas, germes e aço, foram germes europeus que levaram
à beira da extinção populações do hemisfério ocidental no século xvi, uma vez que aqueles povos
não tinham história na qual desenvolver a tolerância. Neste século serão nossos memes, tanto
tônicos como tóxicos, a descarregar devastação sobre o mundo despreparado. Nossa capacidade
para tolerar os excessos tóxicos da liberdade não pode ser presumida nos outros, ou
simplesmente exportada como mais uma commodity. A capacidade de educação praticamente
ilimitada dos seres humanos nos dá esperanças de sucesso, mas o planejamento e a
implementação das inoculações culturais necessárias para afastar o desastre, ao mesmo tempo
que respeita os direitos daqueles que precisam da inoculação, será uma tarefa urgente de grande
complexidade, exigindo não apenas uma ciência social melhor, mas também sensibilidade,
imaginação e coragem. A área da saúde pública expandida para incluir riqueza cultural será o
maior desafio do próximo século.12
Jessica Stern, uma intrépida pioneira nesse empreendimento, nota que observações
individuais como as dela são apenas o início:
Um estudo rigoroso, sem desvios, das causas na raiz do terrorismo no plano dos

que são a causa de todo o nosso sofrimento! São tantas as complexidades.e certamente não terroristas .é o modo como a vida fica simplificada. jovens expostos ao mesmo ambiente. incluindo psiquiatras. já que queremos que nossos pesquisadores compreendam o terrorismo islâmico de dentro. O que parece ser mais atraente em grupos religiosos militantes .'3 Mas nós também não vamos entender o terrorismo islâmico a não ser que possamos ver como ele se assemelha ou difere de outros tipos de terrorismo. conduzindo inevitavelmente a um colapso. não conseguir mais controlar. na verdade podemos. ou preferiram não expressá-los.no processo. Uma das hipóteses mais tentadoras é que essas mutações particularmente tóxicas tendem a surgir quando líderes carismáticos calculam mal suas tentativas de ser engenheiros meméticos. como o Aprendiz de Feiticeiro. inclusive os terrorismos hindu e cristão. desenvolveria um questionário e uma lista de testes médicos a serem ministrados a uma amostra aleatória de agentes e suas famílias. médicos e uma variedade de cientistas sociais. tantas variáveis . [2003. Os líderes reagiram à pressão do povo . o ecoterrorismo e o terrorismo antiglobalizante.o ato supremo de heroísmo e adoração . mencionada no início do capítulo 4. O martírio .propicia a suprema fuga dos dilemas da vida. a nova religião em Papua-Nova Guiné. aqueles que mais se sentiram atraídos por ele eram quase todos jovens que ficaram sabendo o bastante sobre o mundo para ver que seu futuro parecia sombrio e desanimador (como o futuro daqueles que eram presas de Marjoe Gortner). xxx] No capítulo 10 argumentei que os pesquisadores não precisam ser crentes para ser conhecedores. que sentiram a mesma humilhação. A vida é transformada por meio da ação. abuso dos direitos humanos e privações relativas. que sugere (para mim) que alguma coisa do tipo de uma seleção sexual desembestada assumiu o controle. em Waco. Eis aqui apenas uma: em todos os lugares nos quais o terrorismo floresceu. Eles então ficam um tanto desesperados e continuam a reinventar as mesmas rodas ruins. e era melhor que eu tivesse razão. Uma equipe de pesquisadores.indivíduos exigirá a identificação de controles. Uma vez que você convenceu o povo a matar todos os porcos em antecipação ao grande Período das Companhias. no Japão. humilhados ou .com versões cada vez mais infladas das alegações e promessas que os levaram ao poder. para arrebanhar os suspeitos usuais. sem ter de se tornar muçulmanos .prove que você tem a intenção! . Texas. p.seja lá qual for a combinação de motivos que um indivíduo possa citar para se unir a eles . e no culto Aum Shinrikyo. na Guiana. O bem e o mal são mostrados em relevo nítido. Lembra a acelerada explosão de criatividade que se vê em mentirosos patológicos quando eles sentem que o desmentido é iminente. em especial para indivíduos que se sentem profundamente alienados. você não tem mais para onde ir a não ser para baixo. que os transportam por seus excessos.será que chegaremos a fazer predições sobre as quais possamos agir? Sim. mas que escolheram meios não violentos para expressar seus ressentimentos. Ou para fora: São eles . desencadeando adaptações meméticas que eles descobrem. E não vamos entender os terrorismos hindu e cristão sem entender a dinâmica das transições que levam da seita benigna ao culto ao tipo de fenômenos desastrosos que testemunhamos em Jonestown. O antropólogo Harvey Whitehouse (1995) oferece uma explicação para a ruína que surpreendeu os líderes do Pomio Kivung.os infiéis .

pp. mas especialmente na China. 2003. [Stern. e temos de reconhecer que as pessoas precisam de um sentido para encarar vida. ou limitará a liberdade de expressão ou da imprensa. um significado é insaciável.desesperados. onde as medidas draconianas de limitar a família a um filho diminuíram a explosão populacional tão dramaticamente (e transformaram a China em uma vigorosa força econômica de magnitude inquietante) e tiveram o efeito colateral de criar um desequilíbrio brutal entre crianças dos sexos masculino e feminino. É a reação exagerada que repetidamente nos tem feito perder terreno. [Amin Maalouf. [Irshad Manji. de crescer depressa demais. Precisamos nos ajudar uns aos outros. Dê algum tempo para o crescimento. Mas não podemos manter nossa inocência infantil para sempre. PACIÊNCIA E POLÍTICA O Congresso não fará qualquer lei a respeito do estabelecimento de religião. ou o direito de as pessoas se reunirem pacificamente. Tendo a rede para tornar irrelevante a autocensura . e algumas vezes alterações importantes acontecem cedo demais. exatamente desde que elas mesmas respeitem os direitos fundamentais dos homens e mulheres. ou de proibição do livre exercício dela. uma meta. Devemos ter fé na nossa sociedade aberta. passando pela adolescência.ou seja. e de peticionar o Governo por uma correção de injustiças. com resultados lamentáveis. [Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América] As tradições só merecem ser respeitadas se forem respeitáveis . 5-6] Onde iremos encontrar uma superabundância de jovens como esses em um futuro muito próximo? Em muitos países. e se não fornecermos vias benignas. . e agora não há possibilidade de haver esposas em número suficiente para todos. encoraje-o. no conhecimento. e ele acontecerá. É hora de crescermos todos. Todo mundo queria ter um filho homem (um meme aposentado que evoluiu para vicejar em um ambiente econômico mais primitivo). The trouble with Islam]'4 O preço da liberdade é a eterna vigilância. [Ou Thomas Jefferson (data desconhecida) ou Wendell Phillips (1852)] Existe isso. In the name of identity: violence and the need to belong] Graças a Alá pela internet. A sede por uma missão. de modo que as filhas foram abortadas (ou mortas ao nascerem) em números imensos. até a fase adulta. na pressão contínua para fazer do mundo um lugar melhor para as pessoas viverem. 5.por certo alguém mais dirá aquilo que você não diria -. Nós todos temos de fazer a desajeitada transição da infância. e sermos pacientes. ela se tornou um local onde os intelectuais que se arriscam finalmente desabafaram. O que vão fazer todos esses jovens? Temos alguns anos para imaginar canais benignos para onde suas energias inundadas de hormônios possam se dirigir.

e. a cultura de creduli. Mas também podemos começar a fazer campanhas para ajustar os aspectos específicos dos panoramas nos quais se dá essa competição. não podemos deixar que as religiões declarem que "infiéis" que moram inocentemente em seu solo "sagrado" há gerações não tenham o direito de viver lá. em Long Island. O Templo constituía uma espécie de linha telefônica com Deus [resume Lerner]. "Você está ingerindo ferro suficiente?". e deixar essas escolas competirem abertamente com as madrassahs pela clientela. Esse elo foi destruído. é claro. a temas que até aqui estavam fora dos limites. Da mesma forma. acima de críticas e acima de objeções. e fazer promessas nossas. na qual fica a Estátua da Liberdade) tenha sido antes um cemitério mohawk . desde a destruição do Templo. Deixem as religiões honestas progredirem porque seus membros estão recebendo aquilo que querem. a cara-de-pau de incomodar seus bravos guerreiros com a questão. hipocrisia dolosa na política de construir deliberadamente novos assentamentos para criar . mas apenas denunciando. não pôde manter o serviço no templo. o povo judeu.talvez possamos fazer com que. ou poderíamos tentar alguma coisa mais honesta: poderíamos sugerir a eles que as alegações de qualquer religião deveriam. Um poço sem fundo nesse panorama. teremos sempre de enfrentar religiões tóxicas. Não deixamos que as religiões declarem que seus santos preceitos exijam que canhotos sejam escravizados. muitas vezes em um tom de voz normal. só um grande cemitério sagrado).digamos. E que vergonha para qualquer mohawk que tivesse a chutzpah (!). contrariamente a seus desejos.para meninos e para meninas muçulmanas'5 . 88] Balelas. p. mas também nada de Estátua da Liberdade. lentamente. que é claro que essas alegações são absurdas . que a meu ver merece ser pavimentado. vizinha. ou que as pessoas que moram na Noruega devam sempre ser mortas.ou pelo menos não malignas.dade se evapore. E suponhamos que os mohawks apresentassem uma reivindicação de que se deveria restaurar sua pureza intocada (nada de cassinos de jogo. Nós queremos reconstruí-lo. israelense e exterrorista. Durante cerca de 2 mil anos. citado por Stern: Existem 613 mandamentos na Torá. se começarmos a responsabilizar as organizações religiosas por suas alegações . [2003.não as levando ao tribunal. deveríamos criar escolas alternativas .muito menos antiga que a história do Templo . ser vistas com certa reserva. digo eu. pela seleção informada. Isso seria história antiga . Não puderam obedecer a esses mandamentos. Aqui está Yoel Lerner. que jamais poderiam ser cumpridas nesta vida ou em qualquer outro lugar. é claro. Já dominamos a tecnologia de criar dúvidas por meio da mídia de massa ("Tem certeza de que seu hálito é puro?". Há também. Bobagem. Propaganda enganosa é propaganda enganosa. da tribo matinecock. é a tradição do "solo sagrado". E como podemos esperar competir com a promessa de salvação e as glórias do martírio? Poderíamos mentir. Poderíamos começar a mudar o clima de opinião que sustenta que a religião está acima de discussões.que sirvam melhor a suas necessidades reais e prementes. e agora podemos pensar em aplicá-la.e se deveria deixar que retrocedesse graciosamente para o passado. Em vez de tentar destruir as madrassahs que fecham a cabeça de milhares de meninos muçulmanos. delicada mas firmemente. "O que a sua companhia de seguros tem feito por você ultimamente?"). Cerca de 240 deles dizem respeito ao serviço no templo. Eis um caso imaginário: suponhamos que a Liberty Island (antes Bedloe Island.

que não têm lugar nessa discussão.'6 O número deles está aumentando? Pelo jeito. Se a coisa engrossar. ou o Êxtase. ia acontecer sem ou com a nossa ajuda. e era reconfortante para eles acreditar que o sucesso estava garantido a longo prazo. Se pudéssemos ao menos desvalorizar tradições inteiras de solo sagrado. esta vai ser a maneira justa.e a verdade. fora do coração. Eles chegavam a ensinar isso a seus filhos desde a infância. E essas pessoas não têm graça nenhuma. Serão eles uma periferia lunática? Certamente estão perigosamente desligados da realidade. Mas. que permitiria a vida e um caminho melhor para a paz do que qualquer outro que possamos encontrar. Lembra do marxismo? Costumava ser uma espécie de gracejo ácido implicar com os marxistas a respeito das contradições presentes em algumas de suas idéias preferidas. Fora da vista. considerando-se tudo. sim. Isso é uma prática que já tem séculos: os espanhóis que conquistaram a maior parte do hemisfério ocidental muitas vezes tiveram o cuidado de construir suas igrejas cristãs nas fundações dos templos indígenas destruídos. Estão eles tentando ganhar posições de poder e .exatamente esses moradores "inocentes" e excluir as reivindicações dos habitantes anteriores dessa terra. mas agindo politicamente para provocar as condições que acham ser pré-requisitos para a ocasião. e se for para não se tocar nelas. Vamos discutir o tema calma e abertamente. e algum deles ainda podem ser encontrados infectando a atmosfera da ação política em círculos de esquerda. se era assim. Hoje temos um fenômeno semelhante cozinhando na direita religiosa: a inevitabilidade dos Dias Finais. poderíamos abordar as injustiças residuais com mentes mais claras. Nenhum dos lados dessas disputas está acima de críticas. precisamos ficar vigilantes na proteção das instituições e dos princípios da democracia com referência à subversão. pelos mesmos motivos que os bebês de fralda vermelha são perigosos: eles põem a fidelidade ao seu credo acima de seu compromisso com a democracia. Eram os "bebês de fraldas vermelhas". há alguns entre eles que trabalham muito para "apressar o inevitável". não apenas antecipando o Dia Final com alegria no coração. Talvez você discorde de mim a esse respeito. e tem sido outro tipo de humor negro ridiculari.zá-los no dia seguinte. porque estavam eles tão ansiosos por nos arregimentar para sua causa? Se ia acontecer de qualquer modo. será porque. acreditavam os bons marxistas. para fazer o que for necessário para trazer o que consideram ser a justiça celeste àqueles que eles consideram pecadores. e até matar. Mas é claro que a inevitabilidade na qual os marxistas acreditam dependem do crescimento do movimento e de todas as suas ações políticas. a vinda do Armagedom que irá separar os eleitos dos condenados no Dia do Julgamento Final. quando eles descobrem que seus cálculos estavam um pouco errados. Essas discussões abertas são subscritas pela segurança de uma sociedade livre. São perigosas. mas é difícil dizer quantos eles são. Se é para continuar a honrar as reivindicações de solo sagrado. Havia marxistas que trabalhavam muito para fazer a revolução acontecer. acreditavam com tanta firmeza na legitimidade de sua causa que julgavam ser permitido mentir e enganar para promovê-la. e suas ocupações. Qualquer política que não consiga passar nesse teste não merece respeito. Sábios e profetas que proclamam o iminente fim do mundo existem entre nós há muitos milênios. a paz. exatamente como acontece com os marxistas. alguns deles estão preparados para morrer. sem apelos inconformados ao sagrado. para extrema frustração e aborrecimento de socialistas honestos e outras pessoas de esquerda. os únicos que eram realmente perigosos. A revolução do proletariado era inevitável. mas. a justiça (terrena) . Alguns deles. filhos de membros da linha dura do Partido Comunista da América.

instruamos os povos do mundo. uma organização secreta cristã com influência em Washington há décadas: senadores Charles Grassley (R. Iowa)... O que podemos fazer a esse respeito? Sugiro que os líderes políticos que estão em melhor posição para pedir uma revelação completa dessa tendência perturbadora são aqueles cujas credenciais dificilmente poderiam ser impugnadas pelos que têm medo dos ateus e dos brights: os onze senadores e os congressistas que são membros da "Família" (ou da "Fellowship Foundation").). Mich. deveríamos abordar essa tarefa com o máximo de responsabilidade e exposição pública. Pode-se pensar que isso é tão óbvio que nem é preciso propor. de modo que não vou enumerar nenhuma. A maior parte das pessoas não tem culpa pela própria ignorância. As pessoas temem ser mais ignorantes do que seus filhos . Conrad Burns (R.Mex. Vamos ter de convencê-las que há poucos prazeres mais respeitáveis e alegres do que serinstruído pelos próprios filhos. Mas em muitos setores há uma resistência substancial a esse respeito. o conhecimento e a responsabilidade de ajudar a nação a se proteger daqueles que trairiam nossa democracia na busca do cumprimento de suas agendas religiosas. esses cristãos não fanáticos têm a influência. Joseph Pitts (R„ Pa. Centenas de páginas na web pretendem lidar com esse fenômeno. James Inhofe (R.). Mont. Mas é claro que isso exigirá que quebremos o tabu tradicional contra investigar afiliações e convicções religiosas tão aberta e minuciosamente.). e deputados'Jim DeMint (R.influência nos governos do mundo? Aparentemente.). Isso em si pode causar preocupação.). num espírito de bipartidarismo e à plena luz da atenção pública. Pete Domenici (R„ N. delicada e firmemente. construindo sobre as bases que gerações anteriores construíram e preservaram para eles. Zach Wamp (R. e constitui um excelente motivo para realizar uma investigação objetiva sobre o Movimento do Final dos Tempos todo. com certeza. a fim de que nos levem todos para o futuro com segurança. Como nós certamente não queremos reviver o macarthismo no século xxi..). S. Todos nós devemos saber a respeito desse fenômeno? Devemos... John Ensign (R. Tenn. Será fascinante ver que instituições e projetos seus filhos imaginarão. .'8 A ignorância não é nada vergonhosa. Va. mas terão culpa se voluntariamente passarem essa ignorância adiante.). minha recomendação política central é que.C. e particularmente a presença de adeptos fanáticos em postos do governo e entre os militares. Frank Wolf (R. parece. com os quais o mundo está contando para limpar os excessos islâmicos tóxicos. do que suas filhas.' 7 Do mesmo modo que os líderes muçulmanos não fanáticos no mundo islâmico..) e Bart Stupak (D. no final. mas não estou em condições de endossar qualquer uma delas como exata. Nev. Bill Nelson (D. de modo que eles possam fazer uma escolha informada a respeito de sua vida. Então. a imposição da ignorância é vergonhosa.. Fia.especialmente.). Okla.)..

.

pelos incontáveis desafios ambientais. p. O próprio Darwin propôs as palavras como exemplo: "A sobrevivência ou a preservação de determinadas palavras favoritas na luta pela existência é seleção natural" (A origem do homem e a seleção natural. replicação 2. 61). A replicação não é perfeita. no caso de palavras escritas). se existe "descendência [1] com modificação [2]" e "uma severa luta pela vida [3]. completamente diferentes? Os melhores candidatos são as invenções. garante as duas primeiras condições de vida na Terra. os descendentes mais bem equipados prosperarão à custa da concorrência. neste planeta. de uma espécie. o dna (com seus sistemas de expressão e desenvolvimento de genes). o Homo sa-piens. Sabemos que um único substrato material. alguns dos métodos de investigação da biologia evolutiva moderna. quaisquer outros substratos evolutivos. 1871. em princípio. aptidão diferencial (competição) Nos termos do próprio Darwin. enquanto o significado original de "incorrer em petição de princípio" é suplantado em alguns lugares por uma variante. 2002). variação (mutação) 3. inflexão ou significado (ou grafia. Além do mais. mais diretamente. sendo que certas palavras ficam obsoletas e caem fora do reservatório de palavras. As palavras competem por tempo no ar e no espaço impresso em diversas mídias. como os vírus rna e os príons. da bioinformática. planejadas ou não. veja a p. Reimpresso com permissão da The Encyclopeia of Evolution (Oxford: Oxford University Press. De fato. a terceira condição é assegurada pela finitude do planeta. . Descobrimos controvérsia sendo fixada em algumas regiões e controvérsia sendo fixada em outras. Será que surgiram. enquanto outras palavras surgem e progridem. o processo da seleção natural é neutro em substrato a evolução ocorrerá sempre e em qualquer lugar em que três condições sejam satisfeitas: 1. e sabe-se muita coisa a respeito de modelos de replicação. e quase todas elas constituem réplicas . variação e competição nos processos que renderam as diversas linguagens de hoje. Bilhões de palavras são proferidas (ou inscritas) todos os dias. e existem muitas oportunidades para variação ou mutação na pronúncia. 92. As mudanças históricas detectáveis nas línguas foram estudadas a partir de uma ou outra perspectiva darwiniana desde os dias do próprio Darwin. Mas sabemos também que o dna venceu as variações anteriores.APÊNDICE A OS NOVOS REPLICADORES [Para o contexto. podemos traçar os descendentes de uma palavra do latim para o francês e para o cajun. as palavras são mais ou menos segregadas em linhagens de cadeias de replicação. além de. por exemplo.] Há muito está claro que.em um sentido a ser discutido abaixo .de palavras mais antigas percebidas por aqueles que as proferiram. que deixaram seus traços em exemplares que permaneceram.

p. o limite entre uma demonstração abstrata e uma aplicação no mundo real é mais facilmente atravessado por esses fenômenos evolutivos do que por outros. 59). com sua capacidade prolífica de copiar. os pesquisadores no novo campo da Vida Artificial aspiram a gerar agentes virtuais (simulados. o que permite a dispersão rápida de propágulos feitos de nada mais do que bits de informação. as únicas variantes transmitidas. portanto. como as sementes. são eles mesmos descendentes de pesquisas pré-darwinia. Eles geram projetos melhorados que satisfazem às três condições da definição. auto-replicantes que possam se aproveitar de algoritmos evolutivos para explorar os panoramas adaptativos nos quais estão situados. tanto deliberadas como casuais. precisamente por causa da neutralidade em substratos dos algoritmos evolutivos subjacentes. e as provas de que as duas se desenvolveram por um processo gradual. As palavras. o computador.por exemplo. sendo relativamente estáveis ao longo do tempo. aproveitando-se especialmente da emergência de redes gigantescas de computadores ligados. Do mesmo modo que os vírus macromoleculares. que tende a garantir o seu acesso à maquinaria de replicação sempre que a encontrar. armas. além de se poder movê-los e guardá-los independentemente . culturalmente propostas. E. são mais fáceis de copiar. do mesmo modo que os hábitos de animais não humanos. sob alguns aspectos.nas conduzidas por paleógrafos e outros estudantes antigos da lingüística histórica. abrigos. finalmente. Como Darwin observou: "A formação de línguas diferentes e de espécies diferentes. Outros atos e práticas humanos que se espalham por imitação foram identificados como replicadores em potencial. não são. ao mesmo tempo que diferem de formas de vida baseadas no carbono de modos impressionantes. tangíveis. no qual estão agora brotando experiências em evolução artificial. Um artefato humano. há pouco tempo propiciou um substrato distintamente novo. não passando de pacotes de informação.sob esse aspecto. os comportamentos são muitas vezes produtos de artefatos (vias. . incluindo sons e todo tipo de modelos visíveis. ferramentas. e as línguas povoadas por elas. Os substratos físicos dessas mídias são realmente muito variados. progredindo em ambientes modelados. Os auto-replicadores artificiais podem fugir de seus ambientes originais nos computadores dos pesquisadores e ganhar “vida própria no rico novo meio da internet”. sinais ou símbolos) que podem servir como exemplares mais bem adaptáveis aos objetivos da replicação que os comportamentos que os produzem. abstratos) e reais (robótica). Esses vírus de computador são simplesmente seqüências de dígitos binários que podem ter algum efeito em sua própria replicação. incluindo um sobretudo fenotípico. Embora à primeira vista esses fenômenos possam parecer apenas modelos de entidades em evolução. Além do mais. são curiosamente as mesmas" (1871. eles viajam sem bagagem. no entanto. no comportamento dos organismos vetores.

isso não diminuiria sua reivindicação de constituir um ramo novo na árvore da vida. e a palavra pegou. e se nossos descendentes manufaturadores tiverem. desligando-se da dependência de seus criadores com bases carbônicas. de 1976. do mesmo modo. da maquinaria de replicação que for construída e mantida direta ou indiretamente pelo processo genitor da evolução biológica. de escravizar exércitos de nossos descendentes biológicos para manter seus sistemas vivos e em operação. Por hora. Do mesmo modo que em muitas taxonomias na teoria evolutiva. Onde todas as formas de vida do dna se extinguirem. O zoólogo Richard Dawkins cunhou o termo "meme" em um capítulo de seu livro O gene egoísta. Ele abriu sua discussão sobre esses "novos replicadores" com uma discussão do canto dos passarinhos. Mas outros que adotaram o termo quiseram restringir os memes à . Essa eventualidade improvável e distante não é uma exigência para a evolução. Alguns desses enigmas são substantivos.vos. e como lhes atribuir nomes. fabricação de robôs e oficinas de consertos exigem supervisão e manutenção maciças de nossa parte. há controvérsias e enigmas sobre como desenhar os ramos. seus artefatos e meta-artefatos logo morrerão com elas. nossas redes de computadores. Mas o roboticista Hans Morave sugeriu (1988) que os artefatos eletrônicos (ou fotônicos) com base em silício poderiam se tornar inteiramente autosustentáveis e auto-replicati. no entanto. Isso pode não ser uma característica permanente no planeta. Afinal de contas.Uma taxonomia simples dos novos replicadores Pode-se ver que todas essas categorias de novos replicadores dependem. como os vírus. nossa auto-replicação e autosustentação é inteiramente dependente dos bilhões de bactérias sem as quais nossos metabolismos falhariam. por falta dos meios (tanto da maquinaria como da energia para fazer a maquinaria funcionar) para se reproduzir sozinhos. todos os seus hábitos e meta-hábitos. e alguns são meras discordâncias a respeito dos termos a serem usados. ou para a vida propriamente dita.

mas os limites entre os vírus de computador e os memes humanos mais tradicionais já não são mais distintos. então. "gene". dependem do entendimento humano. que dependem diretamente de um vetor humano com entendimento (mas ludibriado) para que se repliquem na internet. em linguagem natural. Robert Boyd e Peter Richerson (1985). podemos convenientemente nos decidir por ele como o termo geral para qualquer replicador de base cultural . métodos de construir ninhos e ferramentas de chimpanzés podem também ser chamadas de memes? Pesquisadores concentrados na transmissão cultural em animais. em linguagem de máquina. Em breve poderá acontecer que uma frase habilmente torneada em um livro seja indexada por muitas máquinas de busca. termo que poucos recomendariam ser inteiramente abandonado. e são inteiramente invisíveis para o usuário do computador. portanto. embora seja um elemento do ambiente do usuário. como Luigi Luca Cavalli-Sforza e Marcus Feldman (1981). Estes. também. parece melhor incluir todos esses replicadores sob a rubrica dos memes. e que então entre para a linguagem como um novo clichê. sua manutenção e operação dependem da cultura humana. carregam a instrução copie-me. Estamos começando a ver essa fronteira porosa sendo cruzada também na outra direção: costumava ser verdadeiro que a replicação diferencial de memes clássicos tais como canções. como gritos de alarme.se eles existirem. Eytan Avital e Eva Jablonka (2000) resistiram ao termo. (Esse modelo pode mudar se os usuários lançarem mão regularmente de serviços de tradução online. deve-se esperar que haja explorações cada vez mais elaboradas dos interesses humanos. e. Estes. Do mesmo modo que as toxinas involuntariamente ingeridas por pessoas que pescam e comem peixes de água doce. Os memes incluem não apenas tradições animais. e os casos intermediários são os vírus de computadores que dependem dos usuários humanos para abrir anexos (desse modo acionando a instrução de cópia invisível) com promessas de algum conteúdo divertido ou excitante. independentemente de qualquer avaliação ou cognição humanas. Aqueles que têm escrúpulos em usar um termo cujas condições de identidade ainda estão sob discussão deveriam se lembrar de que controvérsias semelhantes continuam rondando a definição de sua contraparte. Desse modo. como John Tyler Bonner (1980). dirigida ao computador. Será que as tradições animais em evolução.cultura humana. por dois motivos: não apenas os computadores. sem que qualquer ser humano tenha lido o . discutivelmente não faz parte de seu ambiente cultural. mas agora que uma multiplicidade de máquinas de busca na web se interpôs entre os autores e sua platéia (humana). que escrevem sobre a evolução cultural humana. aparecendo na edição mais recente do Oxford English Dictionary com a definição "um elemento de cultura que pode ser considerado transmitido por meios não genéticos". notando que alguns deles só fazem uso indireto dos vetores humanos. também escolheram o uso de termos alternativos. na verdade. poemas e receitas dependiam de vencer a competição pela residência no cérebro humano. Vírus simples de computadores. e outros. estão definitivamente dentro do entendimento intencionado dos memes. Mas já que o termo "meme" garantiu uma posição segura na língua inglesa. um vírus de computador desses. são apenas indiretamente elementos da cultura humana. No entanto. um anexo escrito em alemão não vai se espalhar prontamente em computadores de monoglotas que só falem português. as diferenças de aptidões significativas entre os memes podem se acumular. mas também replicadores com base em computadores.) Na corrida armamentista entre vírus e antivírus. competindo uns com os outros pela fama como fontes de alta qualidade de itens culturais. pelo menos tão disseminados e virulentos como esses vírus de computador "verdadeiros são os avisos fictícios de vírus de computadores dirigidos aos usuários de computadores.

em nível mais baixo. Será que a palavra (em inglês) "windsurfing" deve ser vista como sendo diferente do meme "windsurfing" (neutro para a linguagem)? Será que são dois memes ou só um? Será que estilos. ou será que pelo menos alguns deles devem ser encarados como independentes daquele movimento intelectual? Nem todos os hackers de computadores são hackers de Vida Artificial.ge. mas existe também a não respondida questão tática de como caracterizar aquilo que é copiado. alternativamente.) Será que há uma cópia de memes através de espécies no mundo animal? Os ursos. PROBLEMAS DE CLASSIFICAÇÃO E INDIVIDUAÇÃO Alguns problemas de classificação são reais. linhagens inteiramente independentes? A exacerbação desses problemas são outros problemas de individua. contam como memes antes de terem nomes? Por que não? Juntar forças com um meme-nome sem dúvida é uma excelente vantagem de aptidão para quase qualquer meme. a cunhagem de um meme de nome. outros fornecem problemas táticos para os teóricos: que divisões do fenômeno se mostrarão mais claras? Será que todos os vírus de computador são adequadamente descendentes das incursões iniciais na Vida Artificial. pode de fato atrapalhar o espalhamen.to do chauvinismo masculino ao sensibilizar alguma coisa do tipo resposta imunológica em vetores em potencial. ou será que devemos considerar os gritos de alarme intra-específicos. e suas variantes. Será que essa astuta tendência na tecnologia ártica é puramente inata (agora). dependendo em parte de fatos históricos que não estão bem estabelecidos.) Provavelmente é verdade que. unindo estreitamente os dois memes . como punk ou grun. (Uma exceção poderia ser um meme que dependa de se espalhar de modo insidioso. ou. como macho chauvinista. Se um hacker adquire a idéia geral de um vírus de computador de uma outra pessoa e depois prossegue para fazer um novo tipo de vírus de computador inteiramente diferente. será que esse novo vírus é verdadeiramente um descendente com modificações do vírus que inspirou sua criação? E se o hacker adaptar elementos do projeto do vírus original no tipo novo? Quanto de pura cópia sem cuidados deverá haver. ou será que os filhotes de urso terão de copiar o exemplo de suas mães? A mesma platibanda de neve é encontrada no iglu de um inuíte. Será que os inuítes copiaram essa tradição do urso-polar. eles serão imediatamente batizados por um de seus discernidores.ção de memes. quanta inspiração com entendimento poderá haver em um caso de replicação? (Mais a este respeito adiante. assim que quaisquer memes humanos se tornarem destacados o bastante no ambiente para serem percebidos.livro original.polares constroem uma toca incluindo uma plataforma elevada de neve que permite a saída do ar frio da abertura da toca. ou será que foi uma invenção independente? Será que acontece de uma espécie começar a responder aos chamados de alarme de outra espécie e daí desenvolver sua própria tradição de grito de alarme? Será que o meme do grito de alarme se espalha de espécie para espécie.

daí por diante: o nome e o nomeado, que em geral têm um destino compartilhado, mas nem
sempre. (As características musicais identificáveis como blues incluem muitos casos robustos em
que não são chamadas de hlues por aqueles que as tocam e as escutam.) Memes não percebidos
podem também progredir. Por exemplo, mudanças na pronúncia ou no significado de uma palavra
podem passar a ser fixar em uma grande comunidade antes que qualquer lingüista de ouvido
acurado ou outro observador cultural consiga perceber. Existe um bom número de pessoas comediantes, além de antropólogos e outros cientistas sociais - que ganham a vida detectando e
comentando tendências na evolução de modelos culturais que até então tinham sido, na melhor
das hipóteses, fracamente avaliados.
Até que esses e outros problemas de orientação teórica inicial sejam resolvidos, o ceticismo
a respeito dos memes continuará a se disseminar. Muitos comentadores colocam-se
profundamente contra quaisquer propostas para reformular questões nas ciências sociais e
humanas em termos de evolução cultural, e essa oposição é muitas vezes expressada em termos
de um desafio para provar que "os memes existem":
Os genes existem [admitem esses críticos], mas o que são memes? De que são
eles feitos? Genes são feitos de DNA. Serão os memes feitos de modelos de
neurônios no cérebro de pessoas aculturadas? Qual é o substrato material dos
memes?
Existem alguns proponentes de memes que argumentam a favor de uma tentativa de
identificar memes com estruturas cerebrais específicas - um projeto ainda inteiramente não
mapeado, é claro. Mas com os conhecimentos correntes de como o cérebro poderia armazenar
informações culturais, é pouco provável que qualquer estrutura cerebral comum, identificável
independentemente, em cérebros diferentes, possa ser isolada como sendo o substrato material
de um meme em particular. Ao mesmo tempo que alguns genes para fabricar olhos se mostram
identificáveis, não importando se ocorrem no genoma de uma mosca, de um peixe ou de um
elefante, não há boas razões para prever que os memes para o uso de óculos bifocais possam ser
igualmente isoláveis nos modelos neurais do cérebro. Tende a zero a probabilidade de o cérebro
de Benjamin Franklin, que inventou os óculos bifocais, e o cérebro daquele de nós que usamos
esses óculos "formarem" a idéia de bifocais em um código cerebral comum. Além disso, esse
caminho imaginário para a respeitabilidade científica é baseado em uma analogia equivocada.
Em seu livro de 1966, Adaptation and natural selection, o teórico da evolução George Williams
ofereceu uma importante definição de um gene como "qualquer informação hereditária para a
qual existe um viés de seleção favorável ou desfavorável igual a diversas ou muitas vezes sua
taxa de mudança endógena". Como ele continuou a enfatizar em seu livro de 1992, Natural
selection: domains, leveis and challenges, "Um gene não é uma molécula de DNA; é a
informação passível de ser transcrita, codificada pela molécula" (p. n).
Genes, receitas genéticas, estão todos escritos no meio físico do DNA, usando uma única
linguagem canônica, o alfabeto dos nucleotídeos, ade- nina, citosina, guanina e timina, tripletos
dos quais se faz a codificação para aminoácidos. Suponhamos que todas as cepas do DNA da
varíola no mundo sejam destruídas; se o genoma da varíola estiver preservado (traduzido dos
nucleotídeos para as letras A, c, G e T, e guardados no disco rígido em computadores, por
exemplo), a varíola não vai estar verdadeiramente extinta; poderá algum dia ter descendentes,

porque os genes ainda existem naqueles discos rígidos, como aquilo que William chama de
"pacotes de informações" (1992, p. 13).
Memes e receitas culturais dependem, do mesmo modo, de urn meio físico ou outro para que
sua existência continue (eles não são mágicos), mas podem saltar de meio para meio, sendo
traduzidos de linguagem para linguagem, de linguagem para diagrama, de diagrama para prática
ensaiada, e daí por diante. Uma receita de bolo de chocolate, seja escrita em inglês, em tinta no
papel, ou falada em italiano em videoteipe, ou armazenada em uma estrutura de dados
diagramáticos no disco rígido de um computador, pode ser preservada, transmitida, traduzida e
copiada. Como a prova do pudim está em comê-lo, a probabilidade de uma receita ter qualquer
uma de suas cópias físicas replicadas vai depender (principalmente) do sucesso do bolo. Do
sucesso do bolo em fazer o quê? Em conseguir que um outro hospedeiro faça outro bolo? Em
geral, mas até mais importante do que isso, é conseguir que o hospedeiro faça outra cópia da
receita e a passe adiante. No final, isso é tudo o que importa. O bolo pode não fortalecer a
aptidão daqueles que o comem; pode até envenená-los; mas se primeiro conseguir, de algum
modo, que eles passem a receita adiante, o meme florescerá.
Essa talvez seja a futura inovação mais importante ao se remodelarem as investigações em
termos de memes: eles têm suas próprias aptidões como replicadores, independentemente de
qualquer contribuição que possam ou não dar para a aptidão genética de seus hospedeiros, os
vetores humanos. Dawkins (1976) diz assim: "O que não consideramos antes é que o traço
cultural pode ter evoluído do jeito que evoluiu simplesmente por ser vantajoso para ele mesmo"
(p. 200 da ed. rev.). O antropólogo F. T. Clak (1975) diz: "O valor de sobrevivência de uma
instrução cultural é o mesmo que o de sua função; é o seu valor para a sobrevivência/replicação
de si mesma ou de sua réplica".
Aqueles que questionam se "os memes existem" porque não conseguem ver que tipo de coisa
material seria um meme, deveriam se perguntar se eles estão igualmente em dúvida a respeito de
se as palavras existem. De que é feita a palavra "gato"? As palavras são produtos da atividade
humana, reconhecíveis, reidentificáveis; elas aparecem em qualquer mídia e podem pular de
substrato para substrato durante o processo de replicação. Sua posição como coisa real não é
nem um pouco impugnada pelo fato de serem abstratas. Na taxonomia proposta, as palavras não
são mais que uma espécie de meme; outras espécies de memes são o mesmo tipo de coisa que as
palavras - você simplesmente não consegue pronunciá-las ou escrevê-las. Alguns deles você
consegue dançar, outros, cantar, ou jogar, e outros você consegue elaborar a partir dos diversos
materiais de construção fornecidos pelo mundo. A palavra "gato" não é feita de um pouco da tinta
desta página, e uma receita de bolo chocolate não é feita de farinha e chocolate.
Não existe um código único patenteado, paralelo ao código de quatro elementos do DNA, que
possa ser usado para ancorar a identidade do meme, como a identidade do gene pode ser
ancorada para a maior parte dos objetivos práticos. Essa é uma diferença importante, mas
graduada. Se a tendência corrente de extinção de linguagens continuar no passo atual, em um
futuro não tão distante cada pessoa na Terra falará a mesma língua, e será então difícil resistir à
tentação (para a qual, ainda assim, deve haver resistência!) de identificar memes com seus
(agora praticamente exclusivos) rótulos verbais. Desde que haja uma multiplicidade de línguas,
para não falar da multiplicidade de mídias nas quais os itens culturais não lingüísticos possam

ser replicados, é melhor nos atermos rigorosamente ao entendimento abstrato, neutro, de códigos,
de um meme como um "pacote de informações", lembrando-nos que, para que ocorra a replicação
em alta-fidelidade, deverá sempre haver algum tipo de "código". Os códigos desempenham um
papel fundamental em todos os sistemas de replica- ção em alta-fidelidade, já que proporcionam
conjuntos finitos, práticos, de normas contra as quais a editoração ou a leitura de provas
relativamente descuidadas podem ser feitas. Mas mesmo nos casos mais claros de códigos,
existem muitas vezes inúmeros níveis de normas. Suponhamos que Tommy escreva as letras
"SePERaDo" no quadro-negro, e Billy "copie-a" escrevendo "seperado". Será que ele está
mesmo copiando? A normalização para todas as letras em minúscula mostra que Billy não está
subser- vientemente copiando as marcas de giz de Tommy, mas, ao contrário, que é acionado
para executar uma série de atos canônicos, normalizados: faça um "s", faça um "e" etc. E graças
a essas normas de letras que Billy consegue "copiar" a palavra de Tommy. Mas ele copia, sim, o
erro de grafia de Tommy, ao contrário de Molly, que "copia" Tommy escrevendo "separado",
reagindo assim a uma norma mais alta, no nível da grafia de palavras. Sally então dá um passo
ainda mais alto, "copiando" a expressão "separado mais igual - todas palavras em boa situação
no dicionário - como "separado mas igual", reagindo a uma norma reconhecida no nível da
expressão. Podemos ir mais alto? Podemos. Qualquer pessoa que, ao "copiar" a sentença na
receita "Separar três ovos e bater as gemas até que formem cones altos, firmes", substituísse
"gemas" por "claras", sabe o suficiente sobre cozinha para reconhecer o erro e corrigi-lo. Acima
das normas de grafia e de sintaxe existe também uma multiplicidade de normas semânticas.
As normas podem tanto atrapalhar como ajudar a replicação. O antropólogo Dan Sperber
(2000) diferenciou a cópia daquilo que ele chama de "produção acionada", e observou que, na
transmissão cultural, "a informação fornecida pelo estímulo é complementada com informações
já presentes no sistema". Essa complementação tende a absorver mutações, em vez de passá-las
adiante. A evolução depende da existência de mutações que possam sobreviver intactas aos
processos de leitura de prova da replicação, mas não especifica o nível em que essa
sobrevivência deverá ocorrer. Uma inovação brilhante na culinária pode de fato ser corrigida
por um chef superconhecedor no processo de passar a receita adiante, mas outros "erros podem
passar e se replicar indefinidamente. Enquanto isso, a correção de outras variedades de ruído em
outros níveis, reagindo a normas de grafia ou outras, pode continuar, com o objetivo de manter o
processo de cópia bastante fiel, de modo que exemplares múltiplos de cada inovação possam ser
testados no ambiente. Como alega Williams: "Um dado processo de informações (códice) deve
proliferar mais depressa do que se modifica, de modo a produzir uma genealogia que possa ser
reconhecida por alguns efeitos diagnósticos" (1992, p. 13). Ou seja, que possa ser reconhecida
pelo ambiente não focalizado, que varia independentemente, para que possa render veredictos
probabilísticos da seleção natural que tenha alguma possibilidade de identificar adaptações de
aptidão passíveis de serem projetadas.
Exatamente de que tamanho pode ser um meme? Um único tom musical não é um meme, mas
uma melodia memorável é. Será que uma sinfonia é um meme simples ou um sistema de memes?
Também se pode fazer uma pergunta paralela a respeito de genes, é claro. Nenhum nucleotídeo
único, ou códon, é um gene. Quantas notas ou letras ou códons são precisos? A resposta nos dois
casos tolera limites difusos: um meme, ou um gene, deve ser grande o bastante para carregar
informações que valham a pena ser copiadas. Não existe medida fixa quanto a isso, mas o

generoso sistema de causas legais sobre direitos de cópias e quebra de patentes indica que
veredictos, em casos particulares, formam um equilíbrio relativamente confiável, que é estável o
suficiente para a maior parte dos objetivos.
Outras objeções aos memes parecem exibir uma relação inversa entre popularidade e
solidez: quanto mais entusiasticamente forem defendidos, mais mal informados são. Têm sido
pacientemente refutados e repetidos pelos proponentes, mas aqueles que ficam amedrontados
pelo prospecto de uma explicação evolutiva de qualquer coisa na cultura humana não parecem
notar. Um erro comum é os críticos imaginarem que os memes devem ser mais semelhantes aos
genes que o necessário, para que as três condições se satisfaçam. Observa-se, por exemplo, que
quando um indivíduo adquire pela primeira vez algum item cultural inesperado, este em geral não
é um caso de imitar um único exemplo. (Se adoto a prática de usar meu boné de beisebol ao
contrário, ou de acrescentar uma nova palavra ao meu vocabulário de trabalho, estou copiando o
primeiro exemplo que encontrei ou o exemplo mais recente, ou estarei de algum modo fazendo
uma média de todos eles?) Essa dúvida na escolha do genitor do novo descendente realmente
complica o modelo da replicação cultural. Mas, em si mesma, não desqualifica o processo como
um processo de replicação. Por exemplo, a cópia em ultra-alta-fidelidade de arquivos de
computador depende em muitos casos de sistemas de correção de erros na leitura dos códigos
que, de fato, deixam a "regra da maioria" determinar quais, entre diversos exemplares
candidatos, devem entrar no cânon. Nesses casos, nenhum veículo de informação isolado pode
ser identificado com a fonte, mas essse continua a ser indubitavelmente um exemplo de
replicação. O trio de exigências de Darwin é neutro tanto para o substrato quanto para a
implementação, em um grau que nem sempre é avaliado.

A EVOLUÇÃO CULTURAL É DARWINIANA?

Depois de destacar esses problemas não resolvidos de nomenclatura e indi- viduação,
podemos nos voltar para a questão mais fundamental e importante: será que qualquer um desses
candidatos a replicadores darwinianos realmente satisfaz às três exigências, de modo a permitir
que a teoria evolutiva explique fenômenos não compreensíveis pelos métodos e teorias das
ciências sociais tradicionais? Ou será que essa perspectiva darwiniana dá apenas uma unificação
relativamente trivial? Seria ainda importante concluir que a evolução cultural obedece aos
princípios de Darwin no sentido modesto de que nada do que acontece nele contradiz a teoria
evolutiva, mesmo quando os fenômenos culturais são mais bem explicados em outros termos. No
A origem das espécies, o próprio Darwin identifica três processos de seleção: seleção
"metódica" pelos atos preditivos, deliberados, de agricultores e outras pessoas concentradas na
seleção artificial; seleção "inconsciente", na qual os seres humanos se envolvem em atividades
que, sem querer, contribuem para a sobrevivência diferencial; e a reprodução de espécies, na
qual as intenções humanas não desempenharam papel algum. A essa lista podemos acrescentar
um quarto fenômeno, a engenharia genética, na qual a intenção e a previsão dos projetistas

humanos desempenham um papel ainda mais proeminente. Todos esses quatro fenômenos são
darwinianos no sentido modesto. Os engenheiros genéticos não produzem contra-exemplos para a
teoria da evolução por seleção natural, não mais do que os criadores de plantas têm feito há eras;
eles produzem novas frutas das frutas das frutas da evolução por seleção natural. A idéia de
memes promete, do mesmo modo, unificar, sob um único prisma, fenômenos culturais tão
diversos quanto deliberados, invenções previstas, científicas e culturais (engenharia memética),
produções sem autores, como o folclore, e até fenômenos involuntariamente reprojetados, como a
linguagem e os próprios costumes sociais. A medida que entramos na época de interferir
deliberadamente e, supõe-se, de modo previdente em nossos próprios genomas e nos genomas de
outras espécies, estamos diante da perspectiva de fortes interações entre evolução genética e
memética, inclusive muitas que podem decolar, sem terem sido nem um pouco previstas. Cumpre
a nós investigar essas possibilidades com o mesmo vigor e atenção ao detalhe que devotamos à
investigação dos patógenos com base no carbono e ao rápido desaparecimento de barreiras
naturais que estruturaram a biosfera até muito recentemente.
Deveríamos também nos lembrar que, do mesmo modo como a genética de populações não
substitui a ecologia - que investiga as complexas interações entre fenótipos e ambientes, que em
última análise dá as diferenças em aptidão pressupostas pela genética -, ninguém poderia prever
que uma nova ciência da memética pudesse derrubar ou substituir todos os modelos e
explicações existentes a respeito dos fenômenos culturais desenvolvidos pelas ciências sociais.
Poderia, no entanto, reformá-los de modos significativos e provocar novas investigações, da
mesma forma que a genética inspirou uma inundação de investigações na ecologia. Os livros
enumerados sob "Outras leituras" exploram essas perspectivas em algum detalhe, mas ainda num
nível muito programático e especulativo. Neste momento, ainda há poucas obras que podem ser
listadas como investigações empíricas pioneiras em ramos especializados da memética: Hull
(1988), Pockling- ton e Best (1997), e Gray e Jordan (2000).

OUTRAS LEITURAS
AUNGER, Robert. (2002) The Electric Meme: A New Theory ofHow We Think and Communicate.
Nova York: Free Press.
. (org.). (2000) Darwinizing Culture: The Status of Memetics as a Science. Oxford: Oxford
University Press.
AVITAL, Eytan e E. JABLONKA. (2000) Animal Traditions: Behavioural Inheritance in Evolution.
Cambridge: Cambridge University Press.
BLACKMORE, Susan. (1999) The Meme Machine. Oxford: Oxford University Press.
BONNER, John Tyler. (1980) The Evolution of Culture in Animais. Princeton: Princeton
University Press.
BOYD, Robert e P. R ICHERSON. (1985) Culture and the Evolutionary Process. Chicago:
University of Chicago Press.
BRODIE, Richard. (1996) Virus of the Mind: The New Science of the Meme. Seattle: Integral
Press.
CAVALLI-SFORZA, Luigi Luca e M. FELDMAN. (1981) Cultural Transmission and Evolution: A
Quan- titative Approach. Princeton: Princeton University Press.
DAWKINS, Richard. (1976) The Selfish Gene. Oxford: Oxford University Press. Ed. rev. 1989.
(Ed. bras.: O gene egoísta. São Paulo: Gradiva, 1999)
DENNETT, Daniel. (1995) Darwins Dangerous Idea. Nova York: Simon & Schuster.
. (2001) "The Evolution of Culture". Monist, vol. 84, n. 3, pp. 305-324.
. (2005) "From Typo to Thinko: When Evolution Graduated to Semantic Norms". Em S.
LEVINSON e P. JAISSON (orgs.). Culture and Evolution. Cambridge, Mass.: MIT Press.
DURHAM, William. (1992) Coevolution: Genes, Culture and Human Diversity. Stanford, Calif.:
Stanford University Press.
HULL, David. (1988) Science as a Process. Chicago: University of Chicago Press.
LALAND, Kevin e Gillian BROWN. (2002) Sense and Nonsense: Evolutionary Perspectives on
Human Behaviour. Oxford: Oxford University Press.
LYNCH, Aaron. (1996) Thought Contagiou: How Belief Spreads Through Society. Nova York:
Basic Books.

POCKLINGTON, Richard. (no prelo) "Memes and Cultural Viruses". Em Encyclopedia ofthe Social
and Behavioral Sciences.
Periódico
Artificial Life
Periódico na web
Journal of Memetics. Disponível em: http://www.cpm.mmu.ac.uk/jom-emit/.
Outras referências
CLOAK, F. T. (1975) "Is a Cultural Ethology Possible?". Human Ecology, vol. 3, pp. 161-182.
GRAY, Russell D. e F. M. J ORDAN. (2000) "Language Trees Support the Express Train Sequence
of Austronesian Expansion". Nature, vol. 405 (29 de junho de 2000), pp. 1052-1055.
ORAVEC,

Hans. (1988) Mind Children: The Future of Robot and Human Intelligence. Cambrid- ge,
Mass.: Harvard University Press.

OCKLINGTON,

Richard e M. L. BEST. (1997) "Cultural Evolution and Units of Selection in Replicating Text". Journal of Theorettcal Biology, vol. 188, pp. 79-87.

PERBER,

Dan. (2000) "An Objection to the Memetic Approach to Culture". Em Robert Aunger
(org.). Darwinizing Culture. Oxford: Oxford University Press.

ILLIAMS,

George. (1966) Adaytation and Natural Selection. Princeton: Princeton University

Press.
. (1992) Natural Selection: Domains, Leveis, and Challenges. Oxford: Oxford University
Press.

.

e você é uma delas. então suas crenças. você deveria ver a finalidade de se examinar intensamente.existem pessoas. que fazem diversas admissões. aos amigos ou aos país . Sustenta-se. "Nem pensar em alternativas!" poderia ser o seu lema. E se acha que seria uma coisa boa trazer essas pessoas . pode estar curioso por saber por que todas as outras religiões são tão populares mundo afora.porém não cometeremos o erro de contar sua declaração como uma opinião dada em contribuição à nossa pesquisa. Nós consideraremos definitivamente suas crenças (aparentes) como dados . uma nobre declaração de fé. algumas vezes. ver a p. sejam elas quais forem. que tal recusa em submeter o credo ao sensor inquisitivo é um louvável ato de lealdade ao grupo religioso. Como vimos no capítulo i. só que a própria articulação desse lema seria uma autoviolação. a despeito de qual seja a sua religião . Você poderá estar entre as muitas pessoas que orgulhosamente afirmam que sua religião é mais importante para elas do que a lealdade à família. deixamos também as pessoas serem opositoras conscientes.para ver a verdade do modo como você a vê. Em uma democracia. Se você se recusar a apresentar suas crenças. que não tem qualquer utilidade para declarações unilaterais que não serão submetidas a rigoroso escrutínio e exame comparativo. essas religiões. para "perceber o que faz com que elas funcionem". mas não se sentem atraídos a submeter essas admissões à arena da investigação . Mesmo se você estiver convencido de que sua religião é um caminho exclusivo para a verdade. e depois recusar todos os convites para defender sua declaração. as pessoas têm o direito de declarar que a religião delas é a única verdadeira. uma vez que a compreensão de como as pessoas de fora reagem ao que . isso é algo que você talvez quisesse dizer ao afirmar que sua religião é sagrada para você. CONVITE PARA UMA INVESTIGAÇÃO EM UMA DEMOCRACIA com liberdade de religião. Então. Examinar como sua religião é vista por alguém de fora seria também um exercício valioso. 49] 1. como uma pessoa de fora. de fato não receberão nenhuma consideração na pesquisa em curso. mas com isso não damos nem inferimos endosso algum a suas afirmações. Quero pôr esse posicionamento em um contexto maior.ou a qualquer outra coisa.APÊNDICE B MAIS ALGUMAS QUESTÕES A RESPEITO DE CIÊNCIA [Para o contexto.que constituem a maioria das pessoas no mundo.

Quanto a isso. há cidadãos com espírito público em número suficiente para compensar essa perda. o preço que pagamos .se você está lendo este livro . . o que garante essa segurança e liberdade de que gozamos. e se tiverem de escolher entre o bem-estar de sua religião e o bem-estar da nação da qual são cidadãos. e uma questão que temos de enfrentar é: quais os botes salva. estaremos todos mergulhados em problemas.aceitando o domínio da lei secular .e não apenas um problema teórico.elas descobrem. Aqueles que têm outras fidelidades e que se recusam a adotar esse compromisso causam um problema . Para muitos de nós. dificilmente não melhoraria a eficácia em levar sua mensagem para outros. Outros acreditam que suas religiões transnacionais produzem salva-vidas melhores.nos sistemas seculares de democracia reconhecem a sabedoria do princípio da liberdade de religião. mas sabiamente se abstém e até chega a ponto de proibir algumas práticas de muçulmanos radicais como incoerentes com a liberdade religiosa para todos.vidas deveríamos manter flutuando. no rastro de uma guerra civil que foi detonada em 1990.de ajudar seus concidadãos a explorarem um problema de segurança nacional e internacional da maior urgência. você se exime . vemos Estados falidos. Na Turquia de hoje. Já que .provavelmente vive em uma nação democrática dotada de um princípio de liberdade de religião. violência étnica e injustiça grotesca surgindo de todo lado. quando ficou evidente que as eleições democráticas poriam no poder um partido islâmico que tinha a intenção de puxar o tapete da democracia e criar uma teocracia. Se esses salva-vidas virarem. e que elas propiciam as plataformas mais seguras e confiáveis . Aqueles entre nós. desde que minha tribo religiosa prospere. manifestamente. um partido islâmico governa com uma maioria que possibilitaria ao país impor a lei islâmica à nação inteira. você não é diferente dos xiitas ou sunitas que dizem em seu íntimo: deixem o Iraque perecer.como é seu direito (é como "adotar a Quinta Emenda" ao ser chamado a testemunhar em um tribunal) . e manter a nação intacta enquanto você se compraz em seu posicionamento baseado na fé "em princípio". Desse modo. Você fica numa boa. você está então em uma posição delicada: está desfrutando da segurança do bote salva-vidas da democracia ao mesmo tempo que nega a ela sua fidelidade suprema. você tem menos base para negar sua fidelidade à nação e às suas leis que os iraquianos. Para sua sorte. que põem a primeira fidelidade crítica. eles optariam sem hesitação em favor de suas religiões. mas contrasta dramaticamente com a situação na Argélia. Ao tirar proveito da liberdade concedida a você por uma nação que honra a liberdade de religião. portanto. experimental e condicionalmente . se for preciso.do planeta para melhorar o bem-estar humano e evitar o caos e o genocídio nuclear. Algumas pessoas crêem que as nações democráticas do mundo são a melhor esperança para o globo. pondo sua lealdade à religião acima de sua obrigação para com seus concidadãos.é um dos melhores negócios do planeta. Cada vez que lançamos um olhar para o mundo conturbado de hoje. A diferença principal (e é enorme) é que o instável Estado do Iraque não é (atualmente) a idéia que alguém faça a respeito de um bote salvavidas digno do mar. onde a violência e a insegurança continuam a arruinar a vida de todos. Talvez você seja um deles. quando estudam você. enquanto a sociedade livre na qual você vive é.embora dificilmente infalíveis -. E defenderemos esse princípio mesmo que ele interfira seriamente em nossos interesses particulares. O resultado é frágil e repleto de problemas.

mas ele objetou. insatisfeitas com essa resposta. mas as pessoas tinham medo de que Wilson invertesse suas prioridades. A lealdade aos princípios de uma sociedade livre e democrática. 19). tudo bem. muitos dos devotos se refugiaram em uma . durante anes.Cinqüenta anos atrás.ch rotulou de 'desonestidade sagrada" (p. e que põem os debatedores com mente científica num dilema: como devem responder? O ataque polido é reconhecer diferenças profundas de pontos de vista e cobrir as rachaduras com papel. e eu deli. Na sabatina diante do Comitê de Serviços Armados do Senado. Algumas pessoas na imprensa. Nem sempre escapou do vício que Paul Tilli."o que é bom para a General Motors é bom para o país" -. ele replicou: "Durante anos achei que o que era bom para o país era bom para a General Motors. só enquanto ela apoiar os interesses de sua religião. acreditara que o que era bom para a Igreja Metodista era bom para o país. mas caiu em descrédito. e com razão. Wilson foi obrigado a vender suas ações para garantir a nomeação. usando algumas afirmativas brandas de respeito mútuo. uma confissão de falência intelectual. então presidente da General Motors.beradamente me expressei em termos rudes para mostrar o contraste. pediram a Wilson que vendesse suas ações da General Motors. De acordo com o cardeal Avery Dulles (2004). mas você deveria reconhecer que os demais estão certos em vê-lo como parte do problema. Ao lhe perguntarem se seu empreendimento continuado na General Motors não poderia contaminar indevidamente seu julgamento. Qualquer uma dessas declarações seria uma abdicação intolerável da responsabilidade como investigador científico. Ao reconhecer esse problema. que Jesus era divino. Essa foi uma boa lição sobre a importância de ser claro a respeito das prioridades. e. Mesmo que fosse verdade que o que era bom para a General Motors era bom para o país. as pessoas queriam clareza com relação a onde a fidelidade de Wilson estaria na rara eventualidade de um conflito. ou "só os membros oficiais do meu laboratório têm a capacidade de detectar esses efeitos". e daí por diante. e vice-versa". nessas circunstâncias? Foi isso o que perturbou tanto o povo. Wilson. Um impasse semelhante muitas vezes surge durante as tentativas ecumênicas de resolver as diferentes perspectivas da ciência e da religião. se a homilia defendida por Wilson fosse verdadeira). nasceu de uma virgem. mas podemos pedir mais. como bom metodista. Se as decisões tomadas nessas circunstâncias benignas beneficiassem a General Motors (e supostamente a maior parte delas o faria. Este é um julgamento justo? Isso é controverso. Imagine o furor que teria provocado se ele dissesse que. Se for o máximo que você consegue fazer. é um início. enfatizaram apenas a segunda parte . ou "a contradição que você julga ver nos meus argumentos é simplesmente um sinal das limitações da compreensão humana. Há coisas que estão além de todo entendimento". tudo bem. Mas isso esconde e adia indefinidamente o exame de uma assimetria: nem por um momento prestaríamos atenção respeitosa a qualquer cientista que se refugiasse em "se você não entende a minha teoria. a apologética é "a defesa racional da fé". Wilson favoreceria a quem. é porque você não tem fé nela!". E uma opinião que merece ser adotada tão seriamente quanto a insistência mais tradicional e obviamente desviada de que se deve profundo respeito a todas essas isenções de escrutínio. e no passado supôs-se muitas vezes que ela provava rigorosamente que Deus existe. como seu secretário de Defesa. As pessoas queriam que a tomada real de decisão pelo secretário de Defesa fosse diretamente em prol dos interesses nacionais. em resposta ao furor desencadeado. "A apologética caiu sob a suspeita de prometer mais do que podia entregar e de manipular as provas para sustentar a conclusão desejada. o presidente Eisenhower nomeou Charles E.

Aceitá. como o cristianismo. do ponto de vista de sua perspectiva de proselitismo: "Como filósofos e historiadores. quando uma aluna minha da índia contou-me dos milagres que testemunhou seu guru executar durante sua viagem de férias para casa. 21).] A relutância dos crentes em defender sua fé produziu cristãos confusos e negligentes.' Ninguém teve de inventar a prática do testemunho. e use outros métodos quando ele não ajudar. de modo que se replica. e pior. Sem nos obrigar de modo algum a acreditar. [p. [. que envolve respeito e confiança pessoais. a situação é muito diferente. mas testadas por sondagem crítica..] O testemunho pessoal exige uma epistemologia bem diferente da científica. como ela é normalmente entendida.la é uma submissão confiante à autoridade da testemunha. é insidiosa. renunciamos à nossa autonomia e voluntariamente dependemos do julgamento de outrem. Esse método é útil para confirmar determinadas doutrinas e refutar certos erros. Os cientistas tratam os dados a serem investigados como um objeto passivo. nós tratamos dos dados como algo impessoal a ser trazido para a esfera do nosso mundo do pensamento. sugiro eu. a questão principal é como Deus vem a nós e nos abre um mundo de significado não acessível aos pode. faz alguns anos. ela simplesmente surge e funciona (funciona melhor que a concorrência. causando um impacto em nós. use o método científico quando ele ajudar. um pouco de falta de educação. Mas quando agimos por meio do testemunho. 20] O cardeal Dulles insiste em que a "apologética tem de mudar suas bases": Em uma religião revelada. Essa tática explora o desejo disseminado das pessoas de não ofenderem. que se eu contestasse o relato dela. no qual a testemunha desempenha um papel ativo. mas raramente leva à conversão" (p. Em outras palavras. é o testemunho. O cardeal Dulles recomenda a prática. embora pareça ser amável e cortês. e explica por que ela funciona. mas não é responsável por ela. e é um pecado científico. Rejeitar a mensagem é retirar a confiança na testemunha..res da investigação humana. [p. 22] Essa avaliação sincera articula a base racional descomprometida da jogada do "testemunho". A religião fica marginalizada em um grau tamanho que não ousa mais elevar sua voz em público. . E conhecida como cherry-picking (privilegiar determinados aspectos em detrimento de outros)... As interpretações dadas por outros não são aceitas como regras. indireta mas enfaticamente. Ela explicitou. em algumas circunstâncias). Eu me lembro vividamente de meu grande constrangimento. e a base do raciocínio para o testemunho não está de forma alguma restrita ao catolicismo.admissão menos agressiva de seu credo. um modo muito eficaz de desabilitar o aparato crítico da ciência. O evento é um encontro interpessoal. O cardeal Dulles observa com igual candura que o método científico realmente tem um inconveniente. A resposta. Essa retirada da controvérsia. tornando uma afronta questionar a testemunha. a ser dominado e trazido para dentro do horizonte intelectual do investigador. mas o cardeal Dulles lamenta esse desenvolvimento. que se importam muito pouco com aquilo em que devem acreditar. [. e pede renovação e uma reforma da apologética. Desde que acreditamos. que habilmente foge do escrutínio dos cientistas. a testemunha pede um assentimento livre. Existe um nome para essa prática entre os cientistas.

ou ser levada por luxúrias constrangedoras? Os benefícios práticos que dirigiram a busca científica estão muitas vezes aí. que sabem que basta um pequeno toque de "sentimentos feridos para desviar a maior parte das perguntas. no dormitório.o conhecimento a bem dele mesmo. Eu não posso fazer uma coisa dessas com uma aluna! O que fazer? Quando ela. se é que não todas. e. a que conclusões chegou. começa com o que se pode chamar de nosso impulso inato de curiosidade. diminuímos o risco de dano e fortalecemos nossas chances de encontrar aquilo de que . ela ficaria profundamente humilhada e desonrada. mas também pode funcionar algumas vezes melhor . com certeza. O QUE SE PAGA PELA CIÊNCIA? A religião que tenha medo da ciência desonra Deus e comete suicídio.prometida disso é óbvia: como locomotores. a fotografia e "provar" o mel. Embora ela prontamente concordasse em dar um jeito de eu examinar o maravilhoso objeto. Muitas vezes fiquei imaginando se ela alguma vez refletiu sobre o que acontecera. Vamos descobrir isso. [Ralph Waldo Emerson] E a ciência propriamente dita? O que acontece quando focalizamos a luz crua da teoria da evolução sobre ela mesma. e que focaliza nossa atenção sobre praticamente qualquer coisa nova ou complexa. Que anseios obscuros estará ela satisfazendo? Será que ela não pode ter sua quota de ancestrais ignóbeis. uma investigação já em andamento. mas talvez outras tantas vezes a ciência tenha agido por um excesso de curiosidade discutivelmente patológico . elevando o valor das apostas. contudo. com o estudo científico da própria ciência. 2. A resposta-padrão. os cientistas também. que qualquer pessoa razoável gostaria de ver respondidas.nas mãos de um entusiasta inocente que jamais sonharia em cometer qualquer fraude. A base racional descom. especialmente se estiver em movimento. O cardeal Dulles está interessado em adquirir conversões. Por que fazemos ciência? Nosso cérebro certamente não evoluiu para a física quântica ou até para divisões longas. e mais ou menos nos obriga a examiná-la (cuidadosamente). A religião também. se este foi o caso. contou-me sobre a fotografia que tinha no seu quarto. e perguntamos que conspiração de condições e vantagens levou à sua existência? A ciência em geral é uma atividade humana muito cara. Mas eles são restringidos pelas regras da ciência de não se envolver em práticas que tendam a desabilitar as faculdades críticas de hospedeiros em potencial para os memes que eles querem espalhar. por exemplo. que compartilhamos com quase todos os animais. E claro. eu mesmo. Eles fazem campanhas com vigor e engenho a favor de suas teorias preferidas. A polidez domina também os instintos céticos de muitos alvos de charlatões deliberados. que pode mascarar complexidades importantes. eu avidamente pedi para ver. a qualquer custo.até mesmo em particular (fora da sala de aula). Uma tática que funciona pode ser usada deliberada e maldosamente. que a boa educação mandou-me encerrar a questão. nenhum outro convite para investigar foi jamais emitido. Ainda não foram desenvolvidas regras como essas para governar a prática da religião. mostrando mel verdadeiro correndo dos olhos do guru.

enquanto os carnívoros as desconsideram amplamente. Mas passou muito tempo antes que essa acumulação de cultura popular. É extremamente improvável que uma modificação genética tão pequena pudesse ser responsável por todas as diferenças entre o cérebro de chimpanzés e o cérebro humano. mito. mostram um interesse mais católico em quase todas as coisas. Quando encontra uma pedra adequada. por fim. Os herbívoros checam as plantas da vizinhança. de modo que não é de surpreender que os animais tendam a exibir curiosidade apenas a respeito das preocupações ecológicas imediatamente prementes. crescendo em uma acumulação de cultura popular que podia ser transmitida oralmente e. orientando a locomoção. ela precisa de um sistema nervoso rudimentar. aumentando o volume competitivo. do mesmo modo que o nosso descarta o farfalhar de folhas ao vento. embora possam ser ecologicamente relevantes em suas novas circunstâncias evolutivas. que então desmonta e assimila. O intenso interesse de um recém-nascido humano pelos sons da fala pode. Sejam lá quais forem as diferenças. porque. Essa jogada reflexiva. e por economia. história. embora os dois fiquem de olho em predadores. As perguntas se tornaram itens onipresentes nos mundos per. isso é como a detenção do cargo para um docente .uma vez que você tem isso. Em um ponto. Não conhecemos nenhum órgão do corpo que preste mais homenagens que o cérebro à máxima "Use-o ou deixe-o". um exemplo vivido em apoio à hipótese de que a curiosidade é cara. na qual possa se prender pelo resto da vida (como um animal séssil que se alimenta por meio de filtros). de fato. tanto de sabedoria como de superstição. que provocaram novas perguntas. que nos forneceu a ciência da . as explicações de Darwin e da Bíblia de como nós chegamos aqui concordam: no início havia a Palavra. mas o célebre exemplo da ascídia sugere que o princípio é seguro. e daí por diante. pelo menos. como sempre. Ninguém sabe a que grau de diferença o cérebro de um chimpanzé recém-nascido poderia se desenvolver se ele simplesmente tivesse o ímpeto de dedicar-se à torrente de input verbal ouvida por acaso e que seu sistema auditivo recebe. De todo modo. os grandes símios. Ela não foi nem sistemática nem consciente a respeito de seus métodos. Como a piada. escrita. em linguagem articulada. ser uma das diferenças genéticas mais importantes entre nós e os chimpanzés. mas até os chimpanzés nascidos em cativeiro são incrivelmente pouco interessados em todo o discurso humano que ouvem em torno deles desde o dia em que nascem. pudesse desencadear grandes mudanças anatômicas no cérebro em desenvolvimento. Se descobríssemos que as árvores também são curiosas. o Verbo. para a categoria de sons da fala. Nossos parentes mais próximos. uma vez que a linguagem evoluiu. ela já não precisa de seu sistema nervoso. Como orientação para essa tarefa. Os onívoros são investigadores mais ocupados que os herbívoros.ceptivos e provocaram reações. houve tempo para que toda uma série de ajustes genéticos tornasse nosso cérebro mais amigável para a linguagem do que o cérebro dos chimpanzés. passasse a se parecer com a ciência. nos tornamos não apenas curiosos. e quando ela não consegue se pagar.precisamos olhando para onde estamos indo. eles marcam uma grande inovação na história da evolução. mas inquisitivos: nós realmente fizemos perguntas em voz alta. está livre para comer seu próprio cérebro! A curiosidade deve ser temperada com cuidado. teríamos de repensar esse senso comum. de fato. e daí por diante. é abandonada. mas descarta regularmente. fatos práticos e mentiras deslavadas. A ascídia jovem perambula pelo mar procurando um bom lugar para se estabelecer. Ainda não tinha prestado muita atenção a ela mesma. E concebível que uma mudança genética minúscula.

cada um ajudando o outro nas questões difíceis: quantos dias até que possamos ter nossos rituais do solstício de inverno? Quando estarão as estrelas na posição correta para a cerimônia de sacrifício mais eficaz e adequada? Desse modo. Uma linha realmente reta. embora a religião organizada . a filosofia da filosofia. e as chances melhoram com o tempo. que isso vá funcionar. por outro lado. Nada garante.2 Quer datemos o início da ciência à primitiva geometria egípcia (literalmente a medida da Terra). refinando o minério obtido por milênios de curiosidade informal no metal purificado da investigação. se você quiser. Espadas antes de . a história da história. Como fazemos isso? Usamos uma régua. jogando boas idéias contra melhores idéias e usando seu sentido atual do que conta como boa idéia como seu guia temporário. Se seus informantes forem um tanto confiáveis. é claro. você poderá logo descobrir alguns dos limites da confiabilidade e começar a fazer ajustes direcionados. para efetuar a melhoria. sistemas codificados de proibições e exigências . Agora temos grandes máquinas que apresentam a precisão de um milionésimo de polegada em seu comprimento. mas e daí? É muito provável que funcione mais que jogar uma moeda para o alto. Os astrônomos e matemáticos colaboraram com os sacerdotes.ciência. veículos. mal compreendidos de investigação para aprimorar esses mesmos métodos. mas prontamente concebível. quer sigamos a transformação do fascínio religioso pelos "corpos celestiais" e os ciclos do calendário na astronomia. no início. a ciência começou a adotar sua preocupação autocrítica em relação a provas e argumentação rigorosa apenas há cerca de mil anos. comparando-as umas com as outras em tentativas supervisadas e ajustes mútuos que foram elevando o limite de precisão. é como a estratégia usada quando mudamos para um país estrangeiro. Sob esse aspecto. sem a apresentação da pergunta pela religião. poderá acabar quase irremediavelmente mal informado e prejudicado. imperfeitos. um divórcio trazido a público e tornado irrevogável na aurora da ciência moderna. no século xvu.seja aproximadamente contemporânea da ciência organizada e da escrita.até aprendermos. por meio de nossa atividade criativa. É pouco provável que esta seja uma coincidência. e não enfrentamos a dificuldade de usar nosso atual ponto de observação para avaliar a norma de uma borda realmente reta praticamente impossível de ser obtida. é claro. revogável. Você consegue "se erguer puxando as tiras de suas próprias botas"? Não sem desafiar a lei da gravidade. é um dos grandes golpes de capacitação da civilização humana. escolhermos alguns informantes e confiarmos neles . sistemas de organização humana e muito mais. A evolução da guerra também desempenhou um papel significativo no desenvolvimento da ciência. Se você tiver realmente má sorte com suas escolhas iniciais. hierarquias de funcionários eclesiásticos. Descobrimos aquela norma.com credos. dispositivos de navegação. Considere o curioso problema de traçar uma linha reta. Mais recentemente. É preciso muito armazenamento de registros para sobrepujar os limites da memória do cérebro humano tema examinado em mais detalhes nos capítulos 5 e 6. A religião é muito mais velha. é claro. a eterna Forma Platônica do Reto. a ciência poderia nunca ter encontrado o financiamento de que precisava para decolar. à medida que as corridas armamentistas literais pagaram pelo P &D das novas armas. mapas. essa perspectiva dos especialistas desenvolveu-se em visões do mundo divergentes. pela lógica. e daí por diante. mas pode fazer uma coisa quase tão boa: pode usar seus métodos existentes. E de onde a tiramos? Durante séculos aprimoramos nossas técnicas para fazer as chamadas bordas retas cada vez mais retas. a lógica da lógica.

arados. da aspirina ao Zocor.cada projeto da civilização humana gerou perguntas que precisaram de respostas. Se você compra e instala uma nova bateria no seu telefone celular. Nem jamais ouvi falar de um devoto wahhabi que prefira consultar seu imã preferido a respeito das reservas de petróleo na Arábia Saudita. os seres humanos (junto com seus animais domésticos) respondiam por menos de um décimo de 1% (por peso) de toda vida vertebrada na terra e no ar. Hoje. Gross e Levitt. A agricultura. Desse modo.porém isso não significa que podemos responder a todas as perguntas ou servir a todas as necessidades. mais saudáveis. Todos nós calmamente ingerimos fármacos. tecnologia e inteligência até uma posição de poder terrível: nós agora empunhamos o pincel. a manufatura e o comércio . Vou tratar rapidamente dessa afirmação estranha por dois motivos: eu e outros já a estudamos extensivamente em outra oportunidade (Dennett. sem dúvida. incluindo gado e bichos de estimação. 1997. seres humanos (uma espécie recém-chegada não mais submetida aos exames e balanços inerentes na natureza). e não genética. inclusive de nossas próprias origens . Win. Mas e todas as controvérsias na ciência? Novas teorias são anunciadas com rumor em uma semana e desacreditadas na semana seguinte. a ciência e a tecnologia que ela criou têm sido explosivamente práticas. Subitamente nós. maravilhosa e frágil. 2003). confiantes de que há ampla evidência científica apoiando a hipótese de que são seguros e eficazes.complexa. entendidos a respeito de quase tudo. mas que transformou o planeta como nada o fizera durante os últimos 65 milhões de anos. Quando os detentores do Prêmio Nobel discordam . e ficará muito surpreso e zangado se não funcionar. e catálogos de butim antes de listas de aves e taxonomias de flores. E um fenômeno cultural muito recente. Além disso. todo mundo sabe melhor . com precisão. em uma única esfera. éramos apenas mais uma espécie de mamífero. e nem sequer pensa duas vezes. Ainda não encontrei um crítico de ciência pós-moderno que tenha medo de andar de avião porque não confia nos cálculos dos milhares de engenheiros e físicos aeronáuticos que demonstraram e exploraram os princípios do vôo. não particularmente populosa (ele estimou 80 milhões de pessoas no mundo inteiro). constituindo um amplificador dos poderes humanos em quase todas as dimensões imagináveis. e ao longo do tempo as técnicas sistemáticas e confiáveis de respostas às perguntas desenvolveram-se por evolução cultural. a ciência nasceu da religião e de outros projetos da civilização. rápidos. tornando-nos mais fortes. Naquela época.berg.3 Desse modo. seguros. Você está pronto a apostar sua vida na extraordinária confiabilidade da tecnologia que o rodeia. essa porcentagem. e alguns de seus críticos argumentaram que ela nem chega a estar à altura de sua publicidade como fonte confiável de conhecimento objetivo. A ciência não tem o monopólio da verdade. o acaso pintou uma tênue cobertura de vida . improvável. capazes de ver mais longe tanto no espaço como no tempo. 1998. está na vizinhança de 98%! Como observa MacCready (2004): Durante bilhões de anos. Elas revelam isso repetidamente em suas vidas diárias. do dinheiro recebido na bandeja de coleta. Todas as igrejas confiam na aritmética para se manter a par. você espera que ela funcione.não importa o que as pessoas possam dizer nos estertores da batalha acadêmica. comprovadas pelos cálculos dos geólogos. crescemos em população. O engenheiro visionário Paul MacCready fez um cálculo interessante: 10 mil anos atrás.

Ou. Por trás disso. um monte de grandes egos envolvendo-se em confrontos.física. toda dentada e irregular. apenas propaganda política enfeitada de um modo ou de outro. e eles sabem disso. biologia molecular. Não se pode negar que batalhas ideológicas grassam dentro das ciências sociais exatamente sobre essas questões. em geral incapazes de esconder seu desdém pelos antropólogos culturais.) Através de um microscópio. (Ocasionalmente. sexistas. no entanto. e de acordo com todos os contendores. por exemplo. os fatos que dão à ciência a sua força. apesar de ter sido ungido príncipe ou princesa da igreja da ciência.sobre uma afirmação científica. Que chances haverá de que o trabalho que satisfaz os requisitos de um campo ou de outro seja digno da atenção respeitosa que damos aos resultados nas ciências duras? As disciplinas da antropologia. as pesquisas em imagens eidéticas . Alguns . com metas e metodologias diferentes. E os escândalos ocasionais de dados fraudulentos e supressão de resultados? Os cientistas não são infalíveis. que em geral expressam um desdém igualmente fulminante por seus colegas "reducionistas" no outro campo. impondo sistemas elaborados de auto-restrições e revisões num grau impressionante. são divididas em duas. despersonalizando suas contribuições individuais.e as ciências "moles" (junto com a história e as outras disciplinas das ciências humanas). geologia e seus parentes entre as Naturwissenschaften . são um tipo de ciência (ciência hermenêutica ou inter-preta. em geral. vista de perto. mas eles se submetem a uma disciplina notável que os mantém honestos. nem. matemática. sobretudo. embora seja verdade que houve eminentes cientistas racistas. Isso tudo é deplorável. a lâmina de corte da ciência. graças a filtros. Não é de surpreender que aqueles que querem ferir a reputação da ciência e retirar seu enorme prestígio e influência tendem a desconsiderar a perspectiva de grande angular e concentram-se nos embates entre escolas e suas agendas nem tão secretas assim. química. mas é o aço por trás da lâmina que dá força ao machado. na melhor das hipóteses. Do mesmo modo. que estão do lado dos teóricos literários e outros das ciências humanas. malgrado eles mesmos. mas. está o maciço peso da rotina de resultados acumulados. a lâmina cortante de um machado maravilhosamente afiado parece as montanhas Rochosas. um cientista ou uma escola inteira de pesquisa científica cai em desonra ou descrédito político.tiva) que joga com regras diferentes. todas as suas provas boas das falhas e dos desvios da ciência vêm dos exercícios altamente vigorosos da própria ciência em se autopoliciar e autocorrigir. parece dentada e caótica. ao contrário. Na psicologia."memória fotográfica foram atrasadas por um longo tempo porque alguma coisa do trabalho inicial foi realizada por nazistas. ironicamente. as contribuições que dão quase sempre se sustentam ou desmoronam independentemente dessas falhas pessoais. ambição e ganância. isso bloqueia uma pesquisa perfeitamente válida durante uma geração ou mais. com os antropólogos físicos emparelhados com os biólogos e outros cientistas duros. quando se propõem a criar uma causa para a denúncia (usando todos os finamente polidos instrumentos da lógica e da estatística). as Geisteswissenschaften} Acredita-se amplamente que as ciências sociais não são realmente ciências. Portanto. viciados em drogas ou simplesmente malucos. pelo menos um deles está simplesmente errado. e já que os cientistas sérios não querem citar esses párias em seus próprios trabalhos. Os críticos não têm escolha: não há melhor fonte de verdade sobre qualquer tema do que ciência bem realizada. verificação e balanços que avaliam o trabalho não confiável. com os julgamentos distorcidos por ciúme. Mas. são mais virtuosos que os leigos. E a distinção entre as ciências "duras" .

e depois mostrar que uma interpretação melhor dos resultados deriva de uma perspectiva teórica rival. mas também do que seja justo. podendo ser usados por qualquer escola de pensamento? Sim. publicou Cultural software: A theory of ideology. Para entender o que seja ideológico precisamos de uma idéia não apenas do que seja verdadeiro. e . podem ser encontradas em psicologia.mas não as interpretações dadas a eles. skinnerianos. neutro. Baldin. Cronk et al. Dunbar (2004). como é possível haver alguma coisa diferente de um discurso ideológico sobre a ideologia?" (p. chomskianos. M. será que os resultados objetivos valiosos se acumulam nos vales.Sperber (1996). estruturalistas. Divisões semelhantes.poderá haver . um livro fascinante que encara essas controvérsias de uma perspectiva biologicamente informada. Depois de revisar uma variedade de definições representativas (e é claro que altamente ideológicas!) da ideologia. não importa quão erradas e pouco lisonjeiras. Pesquisadores de uma escola rotineiramente se valem dos resultados duramente obtidos por seus oponentes. marxistas.pulando para o final do alfabeto . piagetianos. Com freudianos. ciência política e sociologia. foucaultianos. 125). ele tenta resolver o que chama de o paradoxo de Mannheim: "Se todo discurso é ideológico. e isso é muito evidente. Crenças falsas a respeito de outras pessoas. todo mundo deve aceitar os resultados . computacionalistas e funcionalistas agitando suas campanhas. Ideologia] Esta é a resposta prática. economia. como Atran (2002). Será tudo ideologia? Enquanto os terremotos da controvérsia campeiam nos picos dentados. tentam fechar o abismo entre biologia e cultura evolutivas. Em particular. Haverá . não são ideológicas até que possamos demonstrar que elas têm efeitos ideológicos no . se a ciência tiver sido feita direito. condições sociais injustas. [Terry Eagleton. mas quero examinar também um desafio mais profundo.poucos antropólogos temerários. o professor de direito na Universidade Yale J. de algum modo.é aquilo que o outro cara tem. A IDEOLOGIA POSTA EM SEU LUGAR A ideologia é como a halitose .algum ponto de partida livre de ideologia. Balkin propôs que a ideologia seja identificada com modos de pensar que ajudam a manter. Grande parte do trabalho valioso feito nesses campos consiste em confirmar os dados bem coletados (e replicar as experiências). Boyer (2001). não se pode negar que a ideologia desempenha um grande papel sobre como essas investigações supostamente científicas são levadas a efeito. embora menos extremas. e eles têm de lidar com um enxame incessante de críticos ideologicamente orientados. Durham (1992). mas de pensamento que seja patológico ou ruim para nós. (2000). a partir do qual julgar essas questões objetivamente? Não apenas qualquer pensamento errôneo. na prática. estamos tentando descobrir se é possível em princípio!") Em 1998. já que. gibsonianos. 3. desconstrucionistas. (Um filósofo é alguém que diz: "Sabemos que é possível.

a exemplo de "Como podemos interferir na replicação do HIV?" (por que desejaríamos fazer isso?) e "Como poderíamos melhorar a nutrição humana?" (que padrões usamos para medir uma boa nutrição?). Não temos de supor que não existam verdades morais para estudar outras culturas com justiça e objetividade. não importando se préou pós-industrial. É decididamente uma postura minoritária entre os éticos e outros filósofos. só devemos deixar de lado. qualquer coisa --. é alimentada pelo medo bastante justificado daquilo que chamamos de universalismo imperialista: [. e embora estes sejam como os julgamentos de valor implícitos nessas questões.. Quanto mais se aprende sobre as convicções apaixonadamente defendidas por pessoas do mundo todo. Grande parte da controvérsia.concordarão que o relativismo moral está abaixo do desprezo. cliteridectomia. mas estudam como as pessoas deveriam viver. e afirma que é nosso dever espalhar o "jeito americano para todos os povos no mundo. Ou você está certo e eles errados. observa Balkin. ao mesmo tempo que insistem que eles têm o único insight verdadeiro do que deve ser feito no mundo. aos olhos deles. Existem julgamentos morais implícitos no próprio estabelecimento dos objetivos de pesquisas nesses campos. mas não em todas. infanticídio. [p. Desse modo. escravatura. 150) Certamente muita gente nos Estados Unidos está alegremente confiante de que isso seja verdade.mundo social.poligamia. O relativismo moral está também em crescimento em outras partes da academia. se secular ou religiosa. e de que é dever das pessoas de bons princípios mudar as normas e instituições positivas de todas as sociedades de modo que obedeçam a esSas normas universais de justiça e direitos humanos universais.. ou o HIV. Chamar o pensamento de alguém de ideológico é portanto condená-lo a partir de uma perspectiva moral que o alvo pode não aceitar.por exemplo . não é de surpreender que os antropólogos culturais tendam a adotar alguma variedade de relativismo moral como uma de suas suposições qualifica. e não é de forma alguma uma pressuposição necessária para a abertura da mente científica. 105] Isso traz à luz uma grande diferença entre metas e métodos nas ciências sociais e nas ciências duras: as ciências sociais não lidam apenas com pessoas (assim é a biologia molecular. é claro. está além da crítica racional. por exemplo.] a opinião de que existem padrões universais concretos para a justiça e os direitos humanos que se aplicam a todas as sociedades. muitos muçulmanos . mais tentador se torna decidir que realmente é impossível haver um ponto de vista a partir do qual os julgamentos de valor verdadeiramente universais possam ser construídos e defendidos. o universalismo imperialista deve ser endossado. (p.doras. Eles acham que qualquer cultura que julgue nossa mensagem repugnante está simplesmente mal informada a respeito de como as coisas são e como elas devem ser. os julgamentos de valor implícitos nas ciências sociais são menos obviamente julgamentos com os quais qualquer pessoa sã concordaria. a suposição de que já sabemos o que . ou "certo" e "errado" não têm significado! Enquanto isso. e a química da nutrição humana). por ora. um relativismo moral que sustenta que não importa o que uma cultura particular aprove . A única alternativa que conseguem ver para isso é verdadeiramente chocante. Muitos hindus pensam do mesmo modo. Já que esse relativismo é intolerável.

mesmo que ninguém possa dizer o que ele é! Mas. simplesmente por estarmos vivos: os projetos de ficar vivo e de estar seguro.] podemos dizer a eles: "Se os padrões de justiça e verdade são internos a cada cultura. Balkin apresenta um diálogo imaginário que ilustra o apelo aos valores transcendentes na sua forma mais simples. isso acaba não sendo nem diplomático nem cientifico. Nada mais paroquial precisa ser assumido.é nisso que estão trabalhando. de fato. A ciência não deve ter todas as respostas morais. não deveríamos ser mais relutantes em reconhecer isso que aqueles que depositam sua fé em alguma religião. A idéia de um valor transcendente é mais como a noção de uma linha perfeitamente reta . vocês não podem ter objeções à nossa caracterização de vocês como criminosos de guerra. e podemos chamá-los de criminosos de guerra. [.na verdade. sem importar quão radicalmente diferentes sejam seus ambientes culturais. Isso significa apenas que as duas partes aceitam que esses valores são inevitavelmente pressupostos pelos projetos humanos dos quais todos nós participamos.elas são. e de saberem que compartilham.rialista (de qualquer variedade) não é um bom modo de começar.. Pense no ideal da própria racionalidade. mas isso não propicia ou estabelece os valores sobre os quais nossos julgamentos e argumentos éticos estão baseados. O sucesso depende de os participantes compartilharem. Mas a sua própria afirmação de que nós os . insistindo nesse aspecto desde o início. dizendo que a cultura deles permite que façam o que fizeram. Exatamente no mesmo espírito. Não podemos esperar. nem se deveria dizer que ela as fornece. Eles objetam. convencer outros se não deixamos espaço e oportunidade para que eles nos convençam. ao qual se apela para que uma lógica possa ser vista (por todos) como melhor que outra. Mesmo que "nós" estejamos certos. O universalismo impe. Todo mundo deveria pensar em adotar o meiotermo estável que Balkin propõe: uma posição de mente aberta ("ambivalente") que permita que um diálogo racional envolva as questões entre as pessoas. se houver algum sentido em discuti-lo. Podemos nos envolver nessa conversa com alguma esperança razoável de que a solução não seja simplesmente questão de uma cultura sobrepujar a outra pela força bruta. ideais desse tipo são aceitos e inescapáveis até mesmo nas investigações mais rigorosas e formais.tuais de nossas discussões morais. pessoas com idéias radicalmente diferentes a respeito de quais as políticas ou leis seriam melhores para a humanidade podem . Estamos tão corretos em proclamar sua perversidade em nossa cultura como vocês em proclamar sua integridade na sua. argumenta Balkin. que depositamos nossa fé na ciência.. os padrões de vocês não têm aplicação para nós. mas podemos virar essas mesmas razões contra eles outra vez. por exemplo. isso pode parecer uma evasiva dúbia . mas prontamente compreendida como um ideal que pode ser aproximado mesmo que não possa ser inteiramente articulado. Do mesmo modo que nossos padrões podem não ter aplicação para vocês.não alcançável na prática. Quando os lógicos discordam a respeito de que se deva preferir a lógica clássica à lógica intuicionista. devem . mas não precisam conseguir formular esse padrão explicitamente . eles devem ter em mente um padrão anterior de racionalidade. Um exército de saqueadores massacra o povo. e eles devem presumir que compartilham esse ideal. Nós.um ideal que todos nós de algum modo aceitamos. À primeira vista. e até os "marcianos" deveriam estar aptos a concordar com isso.pressupor algum ideal compartilhado. valores transcendentes de verdade e justiça. Podemos apelar para a ciência para esclarecer ou confirmar pressuposições fac.

se assim for. que somos de algum modo obrigados a reconhecer. Balkin insiste: "Crítica ideológica não fica acima de outras formas de criação ou aquisição de conhecimento. Assim que reconhecermos isso. mas levá-las a ver que as coisas que elas já sabem. A evolução cultural nos deu as ferramentas de pensamento para criar nossas sociedades e todas as suas estruturas e perspectivas. A idéia não é arrasar as pessoas com a ciência. . nossos modos de pensar ficam restritos. mas. torna todas as restrições temporárias e sujeitas à revisão. têm implicações sobre como elas gostariam de responder às questões em discussão. 148] Esse apelo pode cair em ouvidos moucos. anomalia ou dificuldade lógica (pp. estaremos prontos para adotar aquilo que Balkin chama de concepção ambivalente da ideologia. em deferência. Este livro tem a intenção de ser exatamente um exemplo desse esforço ecumênico. baseando-se no respeito pela verdade e pelas ferramentas para encontrar a verdade. que evita o paradoxo de Mannheim: "Um sujeito constituído por software cultural está pensando a respeito do software cultural que o constitui. Mas a reflexivi. Quando nosso cérebro passa a ser habitado por memes que evoluíram sob pressões de seleção anteriores. E importante reconhecer que essa recursividade em (e de) si mesmo não envolve qualquer contradição.entendemos mal afasta essa alegação. tão certamente como nossos modos de falar e de ouvir ficam restritos quando aprendemos nossa língua materna. E nessas bases estamos preparados para argumentar a favor da maldade de vocês.dade que evoluiu na cultura humana. e de representar nossas representações. de modo a oferecer um reservatório compartilhado de conhecimento a partir do qual possamos trabalhar juntos rumo a construir visões mutuamente compreendidas e aceitas do que é bom e do que é justo.que ele chama de software cultural . [p. e que nós não precisamos respeitar. ou que poderiam saber. tanto dão poderes como os limitam. 134). e Balkin vê que essas ferramentas de pensamento . então existem realmente bases objetivas para um veredicto de irracionalidade: eles estão cometendo um erro que eles próprios não têm fundamentos para defender para si mesmos. 127-128).são inevitavelmente libertadoras e restritivas. o estratagema de pensar a respeito de pensar. Não é uma forma dominante de saber" (p. Ela pressupõe valores comuns de verdade e justiça.

.

e que há grandes semelhanças de família. uma vez que seus modelos em geral não entram em detalhes de . p. apesar do que aprendi com eles. Atran.ções. Este é o meu próprio resumo do posicionamento deles: E evidente que os itens culturais (idéias. 2001. enquanto os antimemeticistas acreditam neles. comportamentos etc. Boyer. 237-238. Era vez disso. Minha resposta principal a essa objeção encontra-se no Apêndice A. por exemplo. (Será que a genética de populações é cega para o ambiente? É. E tentador ver a discussão como um artefato de má comunicação. mas não exatamente em todos. E verdade que existem alguns poucos memes que satisfazem as especificações de Darwin. não por coincidência. como cartas-corren. pp. métodos. e nada mal para ela. um aspecto óbvio de discordância. entre esses itens e os modelos que os inspiram ou dos quais eles são descendentes. deixe-me tentar dar uma expressão clara às suas principais obje. de modo algum: "O motivo pode ser simplesmente disparar a produção de um efeito semelhante" (Sperber. a memética não substitui ou suplanta a ecologia. Primeiro. O motivo de uma outra instância não é copiar. Mas o fenômeno de transmissão. e portanto exigem um tipo diferente de explicação darwiniana. Isso não é. "Os novos replicadores". Dan Sperber e seus colegas Scott Atran e Pascal Boyer expressaram seu ceticismo a respeito da utilidade da perspectiva do meme. em geral. ampliarei a resposta concentrando-me na expressão em itálico acima: "em vez de". de modo algum. 2002. já que Atran concorda que há proliferação diferencial de itens culturais. mas esses memes verdadeiros desempenham um papel relativamente insignificante na dinâmica da evolução cultural (Sperber. é melhor se concentrar nas restrições e desvios discerníveis nos mecanismos psicológicos que as pessoas compartilham (Atran. Como observo no final do Apêndice A. Assim produzidas. queixa-se de que a abordagem memética é "cega para a mente" (2002. 241 ss. 35-40). Quero desafiar a convicção dos sperberianos de que eles precisam voltar as costas aos memes para estudar as restrições e os desvios da psicologia.) têm explosões e extinções de população. as semelhanças entre instâncias não são como as semelhanças entre genes. 2000.). 169). mas não rigorosamente. na maior parte dos casos. ver a nota 11 do capítulo 5] DURANTE ANOS. p. antes de dizer por que não me convenceram. pp. 163). não é o tipo de cópia de alta-fidelidade que o modelo do gene exige. 2000. os (alguns) memeticistas prometem demais. pp.tes. A cultura evolui. por descendência com modificação. projetos.APÊNDICE C O MENSAGEIRO E A DAMA CHAMADA TUCK [Para o contexto. no sentido de que ela despreza o papel detalhado dos mecanismos psicológicos específicos ao moldar itens culturais que proliferam. Aqui.

esses pesquisadores investigaram o papel do asco em enfatizar a probabilidade de transmissão de uma ampla variedade de casos assustadores.e cuidadosamente os plantamos em 10 mil ouvintes diferentes.lentas de conceitos culturais" (Bering.]". sejam elas quais forem. Suponhamos que inventamos mil casos assustadores. Nós tentamos dar a esses candidatos a memes "etiquetas radioativas".embora eles possam negar isso nos estertores do partidarismo. apesar de seus desmentidos. junto com as frases: "Já ouviu aquela do chofer de táxi brasileiro que [. 126). Então. Pesquisa é cara. ele muitas vezes não consegue resistir a respaldar seus argumentos em termos de replicação diferencial.e por que eu não acho que ele seja um bom argumento contra a abordagem dos memes. que ainda não estejam circulando na World Wide Web .novos. deixando o trabalho unificador (trivial?) para os memeticistas no final do corredor? Mas há mais a ser dito. e daí por diante (outra vantagem das experiências cogitadas . apenas as convicções de seus sujeitos a respeito de qual seria a probabilidade de repetirem as histórias. "Virulenta" não é bem a palavra que Bering está buscando.. de modo que vamos imaginar uma experiência que ilustraria belamente o argumento dos sperberianos . por que não podemos simplesmente encorajar Boyer. sua teoria foi resumida por um comentador solidário como a tese de que "a religião pode em princípio ser entendida como a exploração metódica de sistemas psicológicos mundanos por cepas especialmente viru.. já que ele toma o cuidado de ser neutro diante de questões tais como saber se a religião é um bom ou mau acompanhamento da vida humana. Queremos conceber a evolução cultural em termos de memes e em termos das restrições da psicologia . grampear os telefones deles. incluindo detalhes denunciadores em cada versão plantada. à medida que migrações. Você já ouviu falar do mensageiro que foi apanhado pelas câmeras de vigilância enfiando. Para adquirir uma explicação biológica total.e das demais restrições que surgem da interação inicial entre os memes e exatamente essas restrições! Pense em uma experiência que poderíamos fazer inspirados pela pesquisa sobre "casos assustadores" de Heath. um para cada freguês. as escovas de dentes dos hóspedes do hotel? E do motorista que ouviu um baque surdo e quando parou o carro. parece que Bering incluiria Boyer entre os memeticistas. as versões mais asquerosas se davam melhor. Deixando isso de lado.) Boyer expressa a objeção sperberiana em termos parecidos.. já que suas conotações (de dicionário) são todas negativas. contratando um exército de detetives particulares para bisbilhotar nossos sujeitos iniciais.. apesar de sua declarada oposição aos memes. mas. nascimentos e mortes colhem sua parte. Na verdade. "prolífica" ou "apta" seria um resumo mais acurado da tese de Boyer. eles não mediram a transmissão de verdade. Bell e Stenberg (2001). sem dúvida. cada história se distribuindo para dez ouvintes. o que eles fazem tão bem. Eles forneceram "alelos" competitivos (relatos alternativos) de cada história e descobriram que. Bom.como e por que existem pressões seletivas no ambiente.você não tem de pedir . p. os memeticistas ainda precisam da psicologia . encontrou o corpo de um bebê fincado na grade do radiador? Ao notar que muitos dos casos mais populares envolvem histórias asquerosas. 2004. se manifestarão nas populações ao longo do tempo. Atran e Sperber a se concentrarem nas forças seletivas fornecidas pela psicologia. Mas as experiências cogitadas são baratas. eles apenas mostram como os efeitos dessas forças seletivas. muitos quilômetros mais tarde. E suponhamos que também gastamos montes de dinheiro traçando essas trajetórias.

. p. porque elas seriam as únicas que excitariam as restrições psicológicas inatas. que são compartilhados independentemente da cultura. uma nova história poderia terminar abruptamente em um beco sem saída: "Ei.) E claro que esse resultado extremamente nulo é pouco provável. você replicasse aquele do garoto que tinha um ratinho de estimação e o passasse adiante mais ou menos intacto. Eis aqui o modo de Atran expressar esse aspecto: Na evolução do gene existe apenas "seleção fraca" no sentido de que não há determinantes fortes de mudança direcional. uma centena de histórias inicialmente diferentes teriam todas acabado por convergir para uma única história. . não os memes propriamente ditos. o "atrator" mais próximo no espaço do caso assustador. e daí por diante. se você não tivesse ouvido aquele caso do anão chinês. 248] Seria quase como se cada um de nós tivesse um CD no cérebro com algumas dezenas (centenas?) de casos assustadores gravados. repetidamente. e se o tivesse ouvido. Algumas vezes uma história seria modificada aos poucos na direção do atrator favorecido. permitem a canalização cultural de crenças e práticas. na evolução cultural existe uma "seleção muito forte". Ao examinarmos as linhagens. poderíamos ver que. ou à polícia!).permissão ao comitê de revisão interna da sua universidade.você já ouviu aquela do cara que [.o melhor que puder. mas se o ouvinte já conhecesse o caso. O resultado sonhado pelos sperberianos seria que chegaríamos a.. 169]. de modo que conseguimos ter uma boa quantidade de dados sobre quais histórias se evaporam depois de um único relato e quais realmente são transmitidas e em que palavras. p.. e se algum conteúdo fosse replicado de hospedeiro para hospedeiro. Para investigar a interação entre conteúdos e restrições transmitidos culturalmente. digamos. nada! Quase todas as nossas etiquetas radioativas desapareceriam. Talvez. (Isso é sugerido pelo "exemplo teórico" de Sperber dos gravadores de som [2000. Isso me lembra . você realmente tem de traçar a replicação de memes . Ninguém disse que era um programa prático de pesquisa na maior parte dos casos. "ruídos" e "mutações" na informação transmitida socialmente. e virtualmente nenhum foi replicado fielmente a partir das histórias originais. não imitação do que ouvimos. interessante."produção acionada . apesar dos freqüentes "erros". mas não para outros. Se esse fosse o resultado. talvez você tendesse a encaixá-la em alguma coisa que acabaria surgindo.. no sentido de que expectativas modulares podem restringir poderosamente a informação transmitida para determinados canais. A canalização cultural pode ser atribuída tanto à exposição cultural anterior como aos módulos cognitivos subjacentes da pessoa. [2002. aqueles que tivessem sido infectados por ele armariam uma nova restrição para o destino de qualquer caso que ouvissem em seguida. Como resultado disso.]?". e tudo o que restaria das mil histórias diferentes seriam sete (digamos) histórias que continuariam a ser reinventadas. Em contraste. nós veríamos que qualquer conteúdo que tenha prevalecido ao longo do tempo já estava implícito na psicologia dos ouvintes e dos relatores. as mensagens tendem a ser dirigidas (jogadas para trás ou empurradas para a frente) pelas vias cognitivamente estáveis. O CD seria acionado para ir para aquela faixa e tocá-la . o efeito cumulativo de pequenas mutações (na ordem de uma em um milhão) pode levar a uma mudança direcional estável. sempre que ouvíssemos uma boa aproximação a um deles. Por conseguinte. como aquele caso da policial e do ratinho. Os módulos cognitivos.

"First and Second Samuel? [Primeiro Samuel e Segundo Samuel]" .ou até mais poderosas que . 325-329] de uma transcrição de erro semelhante em um título. para ver se havia errado sozinho. que verificar no livro e de fato o título é Rocks of Ages.950). (Ver a discussão de Dawkins [1989. no meu modo de pensar. mas então eu pulei para a web. tanto positivas como negativas. ele me disse. e discussões sobre o livro. enquanto.que foi a primeira coisa que me veio à cabeça.) Além de possuir os mecanismos ou módulos evoluídos geneticamente. graças a treinamentos em escola dominical meio século antes. amados pelos psicólogos evolutivos. Em 23 de março de 2005. Mas eu estava pensando em algo muito mais simples e mais óbvio: pessoas com mentes chinesas não vão rir. 365). 258) que estou tentando mostrar um aspecto sutil a respeito de como pessoas com línguas nativas diferentes interpretarão desenhos.as restrições exibidas pela maquinaria subjacente. de Gould. p.). pp..tific Citation Index. poderia? Eu tinha lido o livro e observado que ele brincava com as palavras (o paleontólogo estuda a idade das rochas. nosso cérebro está cheio de mecanismos transmitidos culturalmente. Ao exame superficial. e Atran supõe (2002. Por exemplo. mas tinha me passado completamente despercebido o fato de ele pôr a mutação no título. porque o título do hino havia ficado tão bem gravado na minha memória! Tive.Um exemplo notável disso ocorreu durante a preparação deste livro. havia quase tantas citações no Google para "Gould 'Rock of Ages'" (3. de 1999. podemos ter certeza de que as opiniões políticas e o conhecimento de arte (ou física quântica. Não há dúvida de que existe uma história interessante a ser contada a respeito de quão freqüentemente esse erro se insinuou por mutação e sobre quem copiou esses erros. o brilhante letrista e cantor Lyle Lovett publicou um álbum intitulado Joshua Juáges Ruth [Josué Juizes Ruth]. e uma introdução aos métodos da memética usando os recursos do Scien. ou práticas sexuais) de uma pessoa propiciariam fortes restrições ou desvios na receptividade ou avidez em transmitir diversos memes candidatos. Ele cita experiências nas quais pessoas de grupos culturais diferentes reagem de modo bastante parecido em uma variedade de circunstâncias projetadas por psicólogos para trazer à tona essas diferenças. ocorreu a ele que eu poderia não notá-lo: o livro era Rocks of Ages. Em seu capítulo contra os memes. Um dos revisores da penúltima prova notou um erro tipográfico no capítulo 2. mas eis aqui um belo projeto elementar em memética computacional para quem quiser ir mais fundo. e como o erro se repetia na bibliografia.860) quantas para "Gould 'Rocks of Ages"' (3. Achei que meu revisor estava cometendo o erro. e nenhum deles respondeu. ou lembrar das piadas contadas em inglês. eu mesmo. A minha primeira reação foi de franca descrença. e a presença ou a ausência deles estabelece imunidades e receptividades em hospedeiros tão poderosas como . neste tema.) Assim como podemos estar bastante certos de que as piadas contadas em francês são difíceis de se espalhar em vizinhanças anglofônicas. não parecia haver nenhum padrão óbvio para os erros. a primeira palavra do livro de Gould não poderia ser "Rocks". mas não entendeu o aspecto que eu estava tentando apresentar. Descobri que em geral os meus amigos não entenderam.. um dos . 1995b. Eu disse que a estrutura das mentes chinesas e coreanas é "dramaticamente diferente" da estrutura das mentes norte-americanas ou francesas (Dennett. p. Atran me cita. perguntei a eles qual seria o título do próximo álbum de Lovett. de todo tipo imaginável. mas eu tinha escrito Rock of Ages. atribuirão causas ou atribuirão culpas em cenários diferentes. nem repeti-las! (Faz alguns anos. e embora muitas das entradas iniciais tenham se mostrado com o título correto do livro de Gould como o título do hino. entre as entradas com o título errado estavam resenhas do livro.

. por exemplo. é que a evolução convergente desempenha um papel tão dominante na evolução cultural que a transmissão do projeto por descendência realmente através de linhagens culturais é um fator muito menor para a explicação de semelhanças observadas do que a moldagem do projeto por forças seletivas. mais do que ao fato de que cada uma delas se ajustou a condições semelhantes encontradas em seus adeptos humanos. Então. Quem o continuará transmitindo? Vai depender muito de que outros memes infectam o seu cérebro. o islamismo e o cristianismo podem ser atribuídas à religião abraâmica ancestral comum.poemas humorísticos mais engraçados que já ouvi é o seguinte (que você só vai achar engraçado se já ouviu muitos poemas humorísticos): There was a young lady named Tuck Who had the most terrible luck: She went out in a punt. digamos. Mas deveríamos também estar alertas para a hipótese de que muitas das semelhanças entre. e o cérebro daqueles com quem você fala. os padrões que se devem diretamente a características fixas da psicologia humana talvez não avultem tanto. Isso muitas vezes é bastante plausível. [Havia uma jovem chamada Tuck que teve uma má sorte terrível: ela saiu num bote e caiu da proa e foi mordida na perna por um pato. e pode ser investigado. Andfell over thefront.] Não pude resistir a transmiti-lo a vocês. And was bit on the leg by a duck. No mundo complexo da transmissão cultural. parece-me que aqueles que seguem Sperber em sua oposição aos memes estão apresentando aspectos que podem ser mais bem apresentados na linguagem dos memes: uma das coisas que estão dizendo.

Quine (1960): a surpreendente afirmação de que. e não haveria mais problemas. e à questão. no número da Synthese). Será que um bilíngüe bem informado. os dois observadores sabem muito bem como ele responderia a tal questionamento.) À primeira vista. (Para uma argumentação relacionada.como ela está até hoje (Quine. 1974. em princípio. em .APÊNDICE D Kim Philby como um caso real de indeterminação de interpretação radical [Para o contexto. 1991b. você não leu. ver a nota 14 do capítulo 8] O s FILÓSOFOS PASSARAM décadas sonhando com experiências hipotéticas para provar ou refutar o princípio da indeterminação da tradução radical de W. sem solução . qual é a tradução melhor? Como poderia não haver uma abundância de evidências em favor de uma das duas traduções? Se você acha que a solução é óbvia. é muitíssimo pouco provável que. ou não entendeu. pode haver duas maneiras diferentes para traduzir uma linguagem natural para outra linguagem natural. registrando cada palavra que ele profira. linguagem e tradução. usando as mesmas provas. afinal. Podemos imaginar dois observadores incansáveis. ele é um soviético leal. não. a volumosa literatura filosófica sobre esse curioso enigma. a respeito de duas traduções competidoras de uma frase. e suas teorias opostas dão razão a isso de dois modos igualmente bons. apresentar veredictos opostos. 1974a e b). Um bom lugar para começar. seria o número especial de 1974 de Synthese. "Radical interpretation". temos um torturante vislumbre de quão perto podemos chegar. no mundo real (em contraste com o mundo estranho das experiências cogitadas de muitos filósofos). por exemplo. Word and ohject (1960). dedicado a uma conferência na Universidade de Connecticut sobre intencionalidade. V. parece profundamente improvável que isso seja possível.) Sem dúvida. Não adiantaria simplesmente perguntar a Philby. não poderia sempre dizer. não haveria um modo correto. firmemente sustentados: ele é um britânico leal. No caso das supremas crenças de Philby. a um caso de indeterminação de interpretação radical (ver o ensaio de David Lewis. em uma de suas línguas. é claro. depois de ler a obra-prima de Quine. nesse caso. lendo suas anotações mais secretas. seguindo cada movimento de Philby. escutando-o falar durante o sono e até (agora estamos de volta à terra da filosofia) registrando todas as suas ondas cerebrais. e nenhuma evidência a respeito de qual é a maneira correta de traduzir a linguagem. (Quine insistiu que. na qual Quine confrontou seus mais ilustres oponentes e deixou-os. qualquer modo seria tão bom quanto o outro. podemos ver que eles poderiam. ver minha discussão sobre as crenças de "Ella" em "Real pattern". O.

e. provavelmente. Não é fácil inventar um problema de palavras cruzadas com duas soluções igualmente boas. garantida por algum fato interno especial que resolveu a questão. Mas não deveríamos cometer o erro de supor que esta seja uma certeza metafísica.um caso desses. Podemos até chegar a ver. é impossível. porque eu. de qualquer modo. deixando a outra vitoriosa. um Philby. imaginar uma categoria de fatos interiores que resolveriam qualquer caso. que o próprio Philby poderia imaginar qual das visões seria a verdadeira. Palavras Cruzadas Quinianas . mas (Quine insistiu) não é impossível. Esse era o aspecto que ele queria discutir. As duas traduções seriam igualmente boas. mas não deveríamos. por esse motivo.. Qual é a solução verdadeira? Nenhuma. mas aqui está um. por fim. poderá ajudar a consideração de um caso mais simples do mesmo fenômeno. é possível fazer um enigma de palavras cruzadas de dimensão mais elevada. Em princípio. duas interpretações tão radicalmente diferentes de toda uma história de vida se equilibrariam no fio da navalha do não veredicto durante apenas um curto espaço de tempo. insistiu Quine. deliberadamente. qualquer das duas interpretações jamais se esclareça. dessa perspectiva. não haveria mais problemas sobre qual deles fosse correto. cujas estrutura e história toda e cujo conjunto atual de propensões satisfazem igualmente a duas interpretações intencionais diferentes. minhas "Palavras Cruzadas Quinianas".e não conseguir dizer! Esse problema também seria enfrentado pelo bilíngüe imaginário a quem se perguntasse que manual de tradução está correto. Na prática. decidi fazê-lo dessa maneira. Ele poderia ficar atônito ao descobrir que ele próprio não teria recursos para dizer qual o "certo". Se o tema ainda lhe escapa. Em qualquer situação do mundo real. e é tudo o que se poderia dizer. uma das interpretações desabaria.

Ator de cinema 4. Veículo independente de H2O 2. Estado dos Estados Unidos (abr. Tornar macio 3. Uma grande necessidade humana 2. Em geral queremos isso 3.) . Coisa suja 1. Logo acima 4.Horizontais Verticais 1.

.

ou seja. Notas como estas serão usadas para me expandir sobre certos aspectos do texto. As formas elementares da vida religiosa] (1) Um sistema de símbolos que agem para (2) estabelecer humores e motivações poderosas. pp. 1995. ver Dennett. 1998. Por que o potencial para se criar lealdade estava presente nos cães mas não nos gatos é. mas nos distanciaria muito do assunto. Uma religião antiga poderia se transformar. 1993. um interessante capítulo da biologia. 1997. QUEBRA DE QUAL ENCANTO? Discuti o exemplo do Dicrocelium dendriticum em Dennett. aos poucos. Não deve haver um jeito. 1999. para outras informações sobre seu fascinante ciclo de vida. Para saber mais sobre os limites da domesticação. 2. [Clifford Geertz. aqueles descendentes dos répteis cujos descendentes incluem todos os mamíferos. Para um caso impressionante de um parasita de peixe. 2003c. de traçar o limite entre os terapsídeos.crenças e práticas que se unem em uma única comunidade moral chamada Igreja. em princípio.NOTAS 1. será discutido em mais detalhe no capítulo 3. Não seria necessário haver um Mamífero Primevo.grama de Hugh Pyper é encontrado em Blackmore. O epi. coisas separadas e proibidas . em uma religião anterior. [. à medida que seus participantes fossem gradualmente abandonando as doutrinas e práticas que marcam o artigo genuíno. além de em Pyper. Essa descrição não implica nenhum julgamento de valor. A interpretação da cultura] Essas transformações em geral acontecem aos poucos. Toxoplasma gondii. 126-128). ver Diamond. em si mesmo. de modo que sejam de interesse apenas de especialistas. não em notas de rodapé. 2003c.] um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas. [Emile Durkheim. Aqui estão duas das mais bem conhecidas definições de religião a serem comparadas com as minhas: 3. penetrantes e duradouros nos homens por meio da (3) formulação de conceitos de uma ordem geral da existência e (4) de revestir esses conceitos em tal aura de veracidade que (5) os humores e motivações pareçam singularmente realísticos. 1998.. Todas as referências podem ser encontradas na bibliografia no final do livro e em geral estão inseridas no texto. . 1. não. ver Ridley. Um parasita de camundongos. e Sober e Wilson.. ver LoBue e Bell. os mamíferos são antigos 4. Freedom Evolves. e os mamíferos (para uma discussão desse tema perenemente enigmático. o primeiro mamífero cuja mãe não era um mamífero? Na verdade.

do tipo "Vamos ver se podemos descobrir por que você está tão hostil à psicanálise.". provavelmente a maior parte. Seguindo prática recente. Mas se eu começasse este livro com a questão deles. e tudo bem. Tenham paciência comigo. quando a psicanálise freudiana estava em alta. Reconheço que meu adiamento de considerar a questão de se Deus existe pode ser visto. Muitos. seriam necessárias centenas de páginas sulcando terreno conhecido antes de poder ao menos chegar a uma nova contribuição.tt podem progredir. apesar de todos os seus excessos. 2003c. tradicionalmente.. 5. ela pode abrir nossos olhos para outras possibilidades. POR QUE AS COISAS BOAS ACONTECEM .é um fenômeno interessante em si mesmo. por aqueles armados de argumentos. ver meu Freedom Evolves. os direitos das mulheres e a liberdade de investigação pela qual a ciência e a tecnologia 2.. Isso é admitir como verdadeiro algo que precisa ser provado (ou raciocínio circular) mesmo quando a intenção é sincera.terapsídeos e as aves são antigos dinossauros. Não esquecerei minhas obrigações de tratar desse tema! 6.tantemente gentil. mas essa é uma questão política. dos pensadores e líderes islâmicos são profundamente contra a posição islamítica. 1994. estruturada como ela é. 2. e pôr o mundo real em uma perspectiva melhor. os diversos pontos fracos e erros na teoria de Freud em geral eram postos em posição difícil por uma muralha psicanalítica irri. 3. e por que você sente essa necessidade emocional de 'refutar' os argumentos dela. ALGUMAS QUESTÕES A RESPEITO DA CIÊNCIA Para um aprofundamento do papel da ciência em evitar e a explosão de "evitabilidade" que a civilização humana alcançou. como o status moral do polvo. uso o termo “islamítica” para me referir àquelas seitas radicais ou fundamentalistas do pensamento islâmico que em geral condenam a democracia. Nossa crescente consciência a respeito de religião e religiões é uma coisa boa. e não uma questão teórica. sem princípios. E difícil imaginar temas tão delicados sendo tolerados tempos atrás. 3. Durante os anos 1950 e 1960.O senhor dos anéis e Matrix oferecem mais dois exemplos . e muitas vezes era simplesmente desonesta. A recente popularidade das sagas cinematográficas com religiões fictícias . Do mesmo modo que a ficção científica em geral.ge Lucas como satânica. como uma evasão semelhante. para os seus devotos. Por que você não começa por nos contar de suas relações com a sua mãe . E claro que as implicações legais para saber se um limite foi ou não ultrapassado deveriam ser estabelecidas. O único estudo que encontrei é de Anderson e Prentice. poç favor. Al A Danipl ( ' Dpnnp. 1. da responsabilidade intelectual. Que a força esteja contigo! Será Luke Skywalker religioso? Pense em como iríamos reagir de modo diferente se essa forma cabalística da força fosse apresentada por Geor. eu acho. os críticos que tentassem apontar.

2004. é claro. Será que os coiotes vão entender? Quanto tempo vai demorar? 2. a Encyclopedia of evolution. mas isso simplesmente não é plausível. 2004.ncseweb. 1978b). 3. God. Há também muitas páginas na web dedicadas ao Projeto Inteligente. e a sétima edição do livro texto Life: the science ofhiology. 1999. um fenômeno comum na comunicação animal.) Sugere também algumas experiências interessantes a serem conduzidas usando. para uma excelente discussão sobre as investigações teóricas e experimentais da evolução do assinalamento honesto. Science and creationism. colados em seus computadores. o volume impressionante do alarme é um sinal de veracidade difícil de fraudar. inclusive mais de uma dúzia (de qualidade variada) escrita a partir de uma perspectiva cristã ou judaica. Um levantamento inicial da volumosa literatura sobre criacionismo e Projeto Inteligente deveria incluir: Pennock. mas nenhum periódico seriamente revisado por pares. Literalmente. Young and Edis. the Devil. 144. Para um excelente exame da biologia evolutiva contemporânea. revisado por cientistas. Pagel (org. plausivelmente é mais "importante para anunciar a ocupação territorial e evitar o contato visual entre grupos de coiotes" (Lehner. Se você consegue evitar uma batalha de verdade pelo território empenhando-se. nos quais se pode encontrar refutações qualificadas e justas do trabalho dos mais eminentes críticos da evolução.). eu me encontrei com grupos pequenos de correligionários. em dois volumes. de Purves et al. recomendo enfaticamente a antologia dos trabalhos correntes editados por Moya e Font. Evolution: from molecules to ecosystems. se tivesse qualquer coisa para publicar nele. com uma ameaça de guerra. 1978a. e National Academy of Sciences. 2002. (Ver Hauser. 1. talvez chegando até a provocar mudança de vida. como William Dembski e Michael Behe. Tower of Babel: the evidence against the new creatio. de gelar o sangue. Os fãs do Projeto Inteligente insistem em que o estabelecimento científico tem um viés contra o trabalho deles que torna impossível conseguir uma entrada para os periódicos principais. 1999. Nesta hipótese. e a descoberta ocasional feita pelos meus informantes das diferenças entre eles era particularmente reveladora.org. 2004. milhares de artigos científicos . capítulo 6. Há ainda inúmeros endereços na web.se playbacks de alta qualidade de uivos de coiotes gravados para regular as densidades populacionais.Em alguns poucos casos. 2003. O pensamento atual é que os diversos gritos dos coiotes têm objetivos diferentes. O "uivoganido em grupo". isso pode ser uma forma econômica de preservar energia e saúde para mais um dia de caça. 2004. p. de modo impressionante.nism\ Perakh. O número de maio-agosto de 2004 de Reports ofthe National Centerfor Science Education resenhou diversos livros recentes sobre o assunto. Why intelligent design fails: a scientific critique of the new creationism. O Discovery Institute e outros refúgios bem financiados para pesquisa sobre o Projeto Inteligente poderiam facilmente se dar ao luxo de produzir um periódico de boa qualidade. ver também Lehner. competindo para ganhar Prêmios Nobel que certamente estariam à espera de qualquer um que conseguisse derrubar qualquer proposição significativa da biologia contemporânea. seria possível achar que jovens cientistas estariam se precipitando pelos laboratórios. em alguns casos. Por que seria isso? Se o Projeto Inteligente fosse uma idéia cujo tempo tivesse chegado. Uninteligent designs.. Shanks. Um dos melhores é o Center for Science Education. and Darwin: a critique of intelligent design theory. e eles poderiam encontrar cientistas de credibilidade para fazer as revisões. 1996. em http://www.

Mas os que apoiam o criacionismo nem sequer se dão o trabalho de oferecer a atração. 2004. 2001. é claro. e isso é mais como uma mutação genética que passa a ser transmitida para a progênie. Será que o dinheiro surge de sistemas de troca puros por uma série de mudanças graduais e mal percebidas na prática (a teoria da commodity). e. que foi realmente publicado em uma série revisada por pares pela Cambridge University Press. assim ele disse. Quando a Casa da Moeda muda o ano gravado na matriz da qual são gravadas todas as moedas que fabrica.) Mas os próprios comentários de Dembski sobre esses ensaios tornam claro que os argumentos deles são. 2001. 4. Nenhum deles apresenta realmente algum argumento a favor do Projeto Inteligente. poderiam ser postos em uso como apoio de um argumento do Projeto Inteligente. exatamente como as inovações de design que revisam os genes. apesar de serem escritos por especialistas comprovados. A diferença no sistema de reprodução faz uma diferença enorme. 6. A evolução permite que inovações no design cultural se acumulem tão gradualmente que a autoria fica distribuída por milhões de inovadores anônimos ao longo de milhares de gerações. Para uma discussão fascinante da história do debate. de outros de sua espécie. é possível que. Quando falamos aqui de "metade dos seus genes". na matriz não é consertada. Se uma falha. Ver também Burdett et ai-. de fato. mas isso é extremamente improvável e inteiramente desnecessário. Eles sabem o que fazem. Sobre o imaginado valor "intrínseco" do dinheiro. 2003. William Dembski. apenas metade desses genes aparecem na sua progênie. 7. e até ser copiada para a matriz sucessora (se uma das moedas feitas com ela é escolhida como o macho do qual a nova fêmea é feita). Claro. ela poderá marcar todas as moedas durante muitos anos. geneticamente. que ele ou ela mereça o título de autor.que passaram pela revisão de pares são publicados todos os anos. junto com alguns elegantes modelos econômicos dos processos possíveis. ver "Consciousness: how much is that in . ver Awai. elaborando e estendendo a teoria básica da evolução. (Ele também cita seu próprio livro de 1998. portanto. Na reprodução sexuada. e o distinguem. seu parceiro provê o equilíbrio dos genes idiossincráticos. de modo que é aí que eles gastam seus recursos. ou exige sempre algum tipo de fiat de alguma autoridade oficial. algum indivíduo histórico tenha feito tanto do trabalho de design inicial do dinheiro. mas essas mutações em geral não se acumulam. ou uma mancha. ou acordo consciente ou contratado (a "chartal theory")? A origem do dinheiro tem sido debatida há séculos. isso é um tipo de mutação. 5. "não darwinianos" (são conduzidos sem qualquer premissa especificamente darwiniana). Sabem que tudo o que têm a favor deles é a propaganda. na melhor das hipóteses. quaisquer genes que o tenham tornado "especial" (para melhor ou para pior) são transmitidos integralmente para seus filhos. Na clonagem. ou música. liberou uma lista de quatro (pode contar!) artigos científicos revisados por pares. ou linguagem. A maior parte dos autores desses artigos nunca ficou famosa. Por certo alguns deles alegremente abandonariam o barco e arriscariam o ridículo do estabelecimento oficial pela chance de se tornarem mundialmente famosos como "o cientista" que refutou Darwin. que apoiam temas do Projeto Inteligente. Esse modo-padrão de falar mascara uma complicação. 8. como ele apresenta. e Seabright. nos referimos à metade daqueles genes seus que são idiossincráticos.

exatamente do mesmo modo que o algoritmo de uma divisão longa pode ser feito com lápis. reimpresso em Dennett. por detrás das mutações que eles introduzem. Quando alguém declara que uma opinião que está sendo atacada é reducionista. o lendário biólogo evolucionista.real money?". mas não deveria ser adotada para marcar uma direção clara na natureza. A respeito de como é ser um urubu-de-cabeça-vermelha (turkey vulture). 2005c. e eles tinham razões para isso. só que nas duas direções . ver também Dennett. 12. Ele não está declarando que a física não oferece restrições ou princípios que os biólogos devam compreender e possam explorar. que portanto não foram todas causadas somente porque o machado escorregou. Há tipos diferentes de reducionismo. 2004). 1998a. Os organismos que são produto de engenharia genética são design ou designóides? Será que o dique do castor. é um design ou um designóide? A construção do dique de um castor exige consideravelmente mais talento cognitivo do que a armadilha cônica de areia da formiga-leão. Entre aqueles aos quais são dados os créditos desse aforismo estão o filósofo Ludwig Wittgenstein. Um dos principais temas do livro A idéia perigosa de Darwin (Dennett. 2005c e o Apêndice C deste livro. Para mais informações sobre memes. papel. 11. de modo que continuarei usando o termo geral "design" para cobrir tudo. 1995b) . 10. boa ou má. apenas alguns deles . 2001b. ou riscando o chão com um pedaço de pau. Richard Dawkins propôs chamar os designs-sem-designers de "designóides" (1996. ver Dennett. E claro que há muitos casos intermediários. Os biólogos talvez possam compreender melhor a resistência de muitos cientistas sociais à biologização de suas disciplinas refletindo sobre seu próprio desconforto com tentativas de [. Emst Mayr. publicou recentemente um livro (logo depois de seu centésimo aniversário) sobre a autonomia da biologia. 14.. uma receita de processamento de informações que pode ser executado em várias mídias diferentes. p. Serão as pernas curtas dos dachshunds design ou designóide? Os criadores humanos se dispuseram a conseguir o efeito. em Dennett.más idéias maiores são experimentadas no processo de tentativa e erro do mesmo modo que as boas idéias. O que em uma época pareceu ser uma boa idéia pode se provar sem valor em razoavelmente pouco tempo.são equívocos. 9. 2001c. nos quais os construtores de barcos têm uma idéia ou outra. 1995b) é que aquilo que Darwin descobriu é fundamentalmente um algoritmo. Eu concordo com a maior parte das alegações feitas por ele.que vou chamar de reducionismo ganancioso (Dennett.]fisicar a biologia. A cunhagem é útil para acentuar o erro que as pessoas muitas vezes fazem ao supor que qualquer coisa que pareça projetada deve ter sido produzida por uma mente consciente deliberada. Isso acelera o processo do projeto. 1995a. 13. 4). temos de examinar de perto para ver se isso é uma coisa ruim. 1995b. giz. que engenhosamente faz uso de oportunidades locais e sem precedentes para a construção de diques. mostrando por que ela não se "reduz" à física (Mayr. o artista Paul Klee e o crítico Viktor Shklovsky. O trabalho de explorar a grande unidade do Espaço de Design fica distribuído entre os lentos graus da seleção natural dos genes e as rápidas explorações por tentativa de acerto e erro de cérebros individuais (e de seus numerosos veículos de exploração manufaturados). .. burra ou brilhante.

chama esses túmulos de evidência inequívoca de religião. World Christian Encyclopedia (2a ed. Andresen.lerance. 2001).htm . 16. existem muitos milhares de religiões diferentes (independentes. 1990. Ver. Outra leitura essencial inclui Sperber. A seleção de grupo tem tido uma carreira controversa na teoria da evolução. 2001. Um levantamento útil é Astran e Norenzayan. 1994 (e todos os comentários publicados no mesmo periódico). 1991a. 1991c).ou até de seres humanos adultos como "possuidores de uma teoria da mente" é que isso em geral faz surgir uma imagem intelectual demais de um cientistazinho derivador de teoremas. e divergências técnicas fazem dela um território traiçoeiro para o não iniciado. mas. As opiniões de Wilson serão discutidas em mais detalhe em um capítulo posterior. 2002. A principal razão pela qual sou contra falar de animais . AS RAÍZES DA RELIGIÃO Não há consenso entre os levantamentos sobre como contar religiões (em contraste com cultos e outras organizações. 2. 1998.org/cat95. Não há dúvida de que os corpos eram deliberadamente posicionados com objetos cobertos de ocra vermelha. por exemplo. 4. http://home/earthlink. 31-32. ver Dawkins.htm e http://www. nas maravilhosas novidades dos séculos XVIII e xix. Barrett.como artistas mais intuitivos que teóricos sofisticados. enquanto eu vejo os que adotam a postura intencional . Alguns bons endereços são http://www. consultor de proposições. e Dennett. 2004. Whitehouse. e o desenvolvimento de modelos explícitos.. 1993. e tornados mais sistemáticos (porém discutivel. testador de hipóteses. Esse tema foi desenvolvido por muitos autores nos últimos anos. Ver Wilson e Sober.watchman. 2000.até profissionais exímios como as pessoas mais manipuladoras que você jamais encontrou . 2001. Dunbar. Existem também periódicos e outras organizações dedicadas ao estudo de novas religiões. As religiões surgem com tal freqüência que até as páginas da web têm dificuldade em manter suas listas atualizadas. Shermer. 1995b. Os "teoristas da teoria" replicarão que essa 5. 2003.15. de arte popular é uma inovação ainda mais recente . Lawson e McCauley. 1 1. facilmente encontrados na web. não comungantes). 1990.este último indexa mais de mil novos cultos e religiões. O trabalho mais ou menos de referência para todas as religiões é Barrett et al. 1975. por qualquer padrão. mas o significado do quadro é altamente duvidoso. 2004. pp. A arte está mais em evidência que a ideologia. de fato.. de curta duração).net/-ekerilaz/dolni. 2002a (e a resposta de Sober e Wilson no mesmo periódico). Para alguns dos detalhes. mas eles são de fato altamente enigmáticos. 3. conscientes de si mesmos.mente mais poderosos) pelos psicólogos e sociólogos e assemelhados no século xx (Dennett. 1996 e muitos artigos. 4.surgindo inicialmente. em geral. Os almanaques identificaram mais de 30 mil igrejas cristãs diferentes. acompanhado de suas dezenas de comentários especializados e uma resposta dos autores. Pyysièainen.religiousto. Guthrie. 2004a. 1996.htm. Minha própria contribuição a essa literatura inclui Dennett. .org/worldrel. 1995. Sober e Wilson.

Ver. mas mais em andamento. quente. que deveríamos tentar responder. presenças poderosas. ou na companhia de. eu acho. observa que a vida humana começa com um bebê chorando por alimento. 86). à medida que ela natural e persistentemente surgiu de sua interação afetiva com o provedor todo-poderoso. 6. RELIGIÃO. como bons romancistas. não uma pergunta retórica que exclui a questão. e que deveríamos tentar desenvolver um modelo computacional de neurociência para essa aptidão. "Líderes religiosos. 1997. por exemplo. Faber. dez mil vezes. Ver também Tomasello. como sabemos? Entre os diversos bons livros recentes sobre esses assuntos. consolo.maravilhosa arte ou know-how tem de ser implementada de algum modo no cérebro daqueles que têm a aptidão. recomendo Heuser. Os ninhos elaborados de pássaros talvez sejam a contrapartida mais próxima da arte humana. 2003b. 1. Milhares de vezes o bebê chora. dando conta de intencionalidade de sexta ordem. 18). outro exemplo de condicionamento fisiológico e emocional que se compare a esse. para resgatá-lo da fome e da aflição e reagir às suas necessidades emocionais e .ção mente-corpo. 2004. invisíveis. ou crenças a respeito de desejos). já que constituem artefatos não funcionais ou decorativos cujo objetivo manifesto (caso seja descomprometido) é encantar o sexo oposto. OS PRIMEIROS DIAS Será que sabemos que outras espécies não têm linguagem ou arte? Se assim for. 2004. defende a tese de que enquanto nossos parentes mais próximos. além de algum tipo de teoria? Boa pergunta. ao agirem entre seus co-específicos. "Sofreríamos uma pressão bastante grande para descobrir. dentro do reino da natureza. aquele grande que apareceu inúmeras vezes. 7. os chimpanzés. mas chamar isso de teoria ainda incomoda a imaginação do teórico de maneiras que eu acho melhor evitar. ele está lá o tempo todo. sustentadoras da vida desde que começou o processo de interioriza. o que muitas vezes supõe-se ser a mola mestra original de nossos impulsos artísticos. 5. maravilhosa. Dunbar. ou hábito. Isso prepara a criança. Que outra coisa poderia ser. argumenta Farber. ou marca impressa da interação fisiológica. 2000. conseguem administrar no máximo duas ordens de intencionalidade (crenças a respeito de crenças. por ajuda que é atendido por uma coisa grande. por assim dizer. o que é vício. Ele tem facilidade em fazer contato com o domínio do sobrenatural porque. 1999. digamos. Esse é um tema delicado e controverso na ciência cognitiva teórica nos dias de hoje: exatamente o que é prazer ou dor. 2. Tomasello e Call. 2000. Argumenta que os mais exímios entre nós conseguem ir até mais adiante. para as histórias religiosas: 3. 2003. ou força de vontade? Tenho um pouco a dizer a respeito do estado da arte atual em Dennett. são uma raça rara" (p. 1996. milhares de vezes ele chora e é atendido. Hauser. e Povinelli. proteção (por causa de medo). Tem vivido com. os seres humanos normais conseguem avaliar e reagir às complexidades de intencionalidade de quarta ou quinta ordem. Eu concordo inteiramente. tanto em profundidade como em duração" (p.

em muitos casos. embora seja -possível em -princípio que.. a romperiam e desistiriam.que. 4. O meu uso da expressão religião popular está em desacordo com o uso feito por alguns antropólogos e etnomusicólogos (por exemplo. 1988. a autoria esteja tão distribuída ao longo dos séculos que ninguém merece o crédito nem pela melodia nem pela letra das cantigas folclóricas "clássicas" que agora aparecem no cânon. Os ideogramas dos japoneses e chineses mostram que é possível. O que estou chamando de religião popular é muitas vezes designado por religião tribal ou primitiva. A pena mágica do Dumbo é discutida em Dennett.ranjadas. Woody Guthrie e Pete Seeger compuseram centenas de "cantigas folclóricas" que foram acrescentadas ao cânone. Eu não consigo imaginar como provar essa hipótese. Para falar só no passado recente. 20 e 25] Uma lista de mais de oitenta métodos diferentes pode ser encontradas em http:// en. . oferece um cenário evolutivo especulativo diferente. pp.interpessoais.ou ela se adaptou a si mesma? 8... 1974. [. ou será que ele a compôs? Ou será que ele a adaptou enquanto a anotava . Burkert. A humanidade. Por que deveria a linguagem escrita ser serial (só uma palavra de cada vez)? Porque só temos uma boca com a qual falar. Ver também o conceito relacionado de "incorreção teológica" (Slone.. se tivermos um perfeito conhecimento histórico. [pp. é também possível .e mais provável . Titon. Uma parte disso é muito difícil de observar. 16). Yoder.. mas é certamente uma possibilidade a ser considerada seriamente. para as linguagens escritas. o purismo determina: aquelas melodias e versos relativamente antigos sem autores são a música folclórica de que estou falando. essas canções são artisticamente arranjadas e rear. com novas letras e novos ritmos. e algumas vezes também com novas melodias. o de uma cascata de engarrafamentos que poderiam ter selecionado genes para a susceptibilidade à religião: "[. Será que Revensncroft apenas anotou "The three ravens" em 1611. poderemos sempre identificar um compositor e letrista.wikipedia. ao seu profundo impulso afetivo por vinculação. 1996. os artistas populares acrescentam canções de sua própria composição. com um decorrente aparecimento de homines religiosi" (p. Huddie Ledbetter.] A mente inconsciente da criança ressoa para as narrativas religiosas antes de suas faculdades racionais terem amadurecido. em seu longo passado. para dizer cruamente. 5. e junto. Em todas as eras. que a usam para descrever o contraste entre a religião organizada "oficial" e aquilo em que as pessoas daquelas seitas realmente acreditam e que praticam em suas vidas diárias (ver Titon.org/wiki/Divination. antes de ela ver e avaliar criticamente o que pede seu consentimento perceptual. mesmo que nesses casos saibamos quem é o autor. Mas para os meus objetivos. O meu argumento é que.] embora a obsessão religiosa possa ser chamada de uma forma de paranóia. possivelmente indivíduos não religiosos. 1988). 2004). terá atravessado por muitas situações desesperadoras. 7. 9. Poucos fãs de música folclórica hoje em dia são tão puristas a ponto de torcer o nariz para todas as canções folk compostas. Tendemos a excluir do cânone as igualmente cantáveis baladas de Gilbert. ela oferece a chance de sobrevivência em situações extremamente desesperadoras. 6. para uma discussão). 144 ss. quando outros. se pudermos encontrar algum meio de fazê-lo. mas o tempo poderá muito bem apagar essa distinção. Sullivan e dos Gershwin. 2003b.

12. levou essa maneira de nadar dos índios norte-americanos. mas ele não copiou direito a batida de pé. os movimentos da natação têm uma história bastante memética. Para uma introdução vivida. usando a batida de "sapo" do nado de peito. A natação é um caso intermediário interessante: ao contrário da corrida e da caminhada. 1994. 2005b. por exemplo.). em vez da batida alternada usada pelos indígenas norte-americanos. poderia evoluir geneticamente em um pendor por versões supernormais das idiossincrasias locais. 2000. . Já venho discutindo isso com eles há algum tempo. e isso criaria um ambiente seletivo novo. que fosse tridimensional (um tipo de escultura de palavras). agora um tanto ultrapassada. Mesmo assim.e o gosto por . 2003. afirmam os historiadores -ver. quanto. Saenger. no qual a inovação do comportamento alcançada por indivíduos durante seus períodos de vida (inovações descobertas ou aprendidas por eles) podem criar e focalizar pressões por seleção que eventualmente levem a tendências inatas para realizar essas inovações.desamarrar suas camisas-de-força. ou "trudgen crawl". mas controversa.).quanto mais ler movendo os lábios! . Agradeço a Dan Sperber por levantar essa lebre. Será que um sistema de símbolos que não pudesse ser "pronunciado". Alguns leitores poderão ficar incomodados com minha persistente menção aos memes neste capítulo. 197) argumenta que o "impulso memético" é possível e provável na explicação do nosso amor pelos rituais: que as pessoas reagiriam de modos variáveis a idiossincrasias em rituais transmitidos culturalmente. tanto em material impresso (Dennett. uma vez estabelecida a linguagem. um traço de pronúncias anteriores. especialmente. mas não passa de um tipo de discordância técnica que desviaria a atenção da maior parte dos leitores. cabe uma resposta à objeção deles. em que Sperber. também. é um modo nãolamarckiano pelo qual características adquiridas podem influenciar a evolução de características geneticamente determinadas (ver Dennett. 10. 2003. em homenagem a esse vetor do meme) para a Inglaterra. em conferências. ou que dependesse pesadamente do uso da cor. se não abandoná-las inteiramente. 2000). como tornam bem claro em seus livros e artigos. chamando a minha atenção para Mahadevan e Staal. 2003a. p. Outros estudos que estimulam o pensamento são Carstairs-McCarthy. um caso de co-evolução gene-cultura que foi liderado pela exploração cultural do espaço de possibilidades. e ver Sperber. 2000. em outras palavras.essas idiossincrasias seria selecionado geneticamente do mesmo modo como o talento para línguas foi selecionado geneticamente. 2001. são unidos em sua rejeição à perspectiva dos memes. Blackmore (1999. Sperber. no qual o talento para . à área. aparece. e ela é dada no Apêndice C. 2001b. 1995b. contaria como uma linguagem? A própria idéia de ler em silêncio . 2000. uma possível extensão do Efeito Baldwin. capítulo 6. e o mentor deles. já que os antropólogos cujo trabalho estou discutindo tão favoravelmente. Boyer e Atran. 1999. Esses 14. 2000). 2002b [reimpresso aqui como Apêndice A]. e Laland e Brown. Acho que eles estão cometendo um erro. 2002. A grafia arcaica é. 13. No final do século xix. O que começou como um pendor mais ou menos não diferenciado pelo ritual. e CavalliSforza. um inglês. 2001a. de onde foi citada a passagem. passando o braço por cima da cabeça (logo chamado de "trudgeon". Para um exame geral do estado atual da ciência.apareceu mais tarde no desenvolvimento da escrita (nos tempos medievais. Ver também os outros ensaios em Aunger (org. 11. ver Ruhlen. ver Christiansen e Kirby (orgs. 2oo3d). Arthur Trudgen.

1. fazer com que os rituais religiosos fiquem fáceis demais. 3. L. 2000. .erros de transmissão foram corrigidos por Richard Cavill em 1902. 16. e Lawson e McCauley. e estão disponíveis em diversos endereços da web. 2002. A Segunda Regra de Orgel é: "A evolução é mais esperta que você!" (Dennett. a adoção de filhotes por indivíduos adultos de outra espécie.mais outro exemplo de tradição animal. A EVOLUÇÃO DA INTENDENCIA O etnomusicólogo Jeff Todd Titon me apresentou à música da pregação gospel em sua análise pioneira da arte de John Sherfey (Titon. de modo que a gente simplesmente não questiona aquilo que "todo mundo sabe". 2. Powerhouse for God (Documentary Eductional Resources. E difícil se manter atualizado com relação a todas essas informações. graças à escrita e a outras mídias de armazenamento. de modo que uma religião não precisa mais desses rituais regulares em uníssono para manter o texto puro. Estudos sobre cross-fostering. você pode melhorar o crawl à vontade. 1997. o pêndulo do bronzeado está voltando. A única regra do nado livre é que você tem de tirar o rosto da água para respirar de vez em quando (e essa regra foi introduzida para evitar que nadadores experimentassem perigosas braçadas embaixo d água que poderiam afogálos caso desmaiassem). Stark e Finke. 1995b. nos quais ovos de pássaros de uma tradição lek tenham sido chocados e criados por pássaros de um lek diferente. 2000) e outros. Agora parece que a luz do sol faz tão bem para você (com moderação) quanto era exagerada a proteção recomendada por muitos dermatologistas. Mas versões do crawl provavelmente foram inventadas e reinventadas muitas vezes ao longo das eras. você mesmo pode vê-la e ouvi-la no videodocumentário dele. 6. Atran. 2002. baratos demais. 15. se conseguir. No nado livre. Não é à toa que esse Bom Estratagema é chamado de nado livre nas competições. 1988). 101 Morse Street. e Jackendoff. e hoje. indolores demais. Dezenas dos sermões de C. 74). e não pelos genes . são os trabalhos recentes mais acessíveis sobre este tópico. Deacon. E também possível que alguns elementos estáveis nos leks sejam transmitidos por imitação. isso não é um problema. o crawl frontal é o descendente dessa melhoria bastante recente. 4. E um erro de projeto sério. Pinker. já que é tão claramente superior a todos os demais métodos de se propelir pela água em alta velocidade. Note que hoje. 2000). argumentam eles. Franklin em Detroit e Memphis foram gravados e irradiados pelo país inteiro por Chess Records. 1994. e não de instinto (Avital e Jablonka. poderiam lançar alguma luz sobre isso. p. Sim. fazem críticas detalhadas das hipóteses de Whitehouse (1995. argumentam que muitas "reformas" religiosas executadas deliberada e conscientemente nos últimos tempos desfazem o sábio trabalho de projeto implícito nas práticas religiosas tradicionais. 2002. Watertown. MA 02472). Mas uma religião que torna os rituais opcionais estará em perigo de sucumbir por outros motivos. 17.

mas não forte o suficiente para me dissuadir. 7. A teoria de que toda religião é tal Priestertrug. e." afirma Burkert (1996.os deuses e outros espíritos . 5. apesar das suspeitas. mas podem ser úteis e descritas antecipadamente como se fossem egoístas e inteligentes. de modo que é melhor manter a informação em seu lugar: restrita à comunidade médica. 6.) propõe que chamemos esses estados cognitivos indeterminados de representações semiproposicio. E possível que pessoas altamente inteligentes tenham uma teoria muito útil. Eu aqui estou adotando a voz ativa da fala do "meme egoísta". portanto. Esse processo hipotético de folie-à-deux da geração da teologia é parecida com o modelo gerar-e-testar da produção de sonhos e geração de alucinações descrita em Dennett. apesar da existência incontestável de esperteza e velhacaria entre os seres humanos. Há muitos anos publiquei um artigo sobre a dor (Dennett. e que em geral acabam se transformando em representações proposicionais adequadas apenas sob a pressão da investigação sistemática. não mais que os vírus e as bactérias. para manter os multiculturalistas bem-intencionados. reimpresso em 1978) que incluía alguns fatos chocantes a respeito do uso de amnésticos por anestesistas para apagar memórias pós-cirúrgicas da dor experimentada por pacientes insuficientemente anestesiados durante a cirurgia. A INVENÇÃO DO ESPÍRITO DE EQUIPE 1. mais perigosa para eles. Mas isso é forte demais.mo. Qualquer coisa que aumente a ansiedade dos pacientes antes da cirurgia torna a indução de anestesia segura mais difícil.fia que usamos quando dizemos que o HIV "ataca" e "se esconde" e "ajusta a sua estratégia" em resposta aos nossos esforços para erradicá-lo. 49 ss. engano ou manipulação por sacerdotes para seus próprios benefícios. Elas estão enganadas.nais. Esse é o caso mais forte que conheço de um fato sobre o qual é melhor as pessoas não saberem . 8. Em uma discussão importante. 7. "No entanto. 1975. 9. pode não explicar tudo. As idéias não têm mentes. a hipótese do puro engano não explica nada. Sperber (1985. Talvez você queira se perguntar se aprovaria a política de os médicos terem conhecimentos secretos que fossem sistematicamente ocultados de seus pacientes.Eu deveria enfatizar isso. mas explica muitas características da religião pelo mundo todo. pp. tem uma história que remonta a Diderot e ao Iluminis. e não devemos fingir o contrário para mostrar respeito por elas e seus hábitos. 1991a.não existem. Uma tradição falaria aqui de cuidado "sem interesse pessoal". mas errônea. mas mal orientados. já que isso dificultaria o trabalho deles. das fraudes de cura espiritualista aos piores abusos do evangelismo. capítulo 1. mas subavaliada. tanto antigas como modernas. é a mesma taquigra. ao largo: as entidades teóricas nas quais essas pessoas tribais acreditam francamente . Diversos anestesistas que leram meu artigo na prova imploraram-me para não publicar esses detalhes em um periódico não médico. 118). mas já que isso . p. Essas são "idéias meio entendidas" que usamos todos os dias. e você sabe disso tanto quanto eu. a qualquer custo.

e depende de modo crítico da definição de seleção de grupo empregada. Nós nunca vemos quaisquer análises de dados empíricos que mostrem populações de grupos periodicamente se dissolvendo em seus constituintes e se formando outra vez em grupos com uma proporção mais alta de altruístas. Sob o pretexto de proteger a nação muçulmana no mundo inteiro da desunião (conhecida como fitna e considerada um crime). neste caso.) Manji dá um exemplo revelador: o esmagamento deliberado do ijihad. fora alegações não discutidas. ou em um dilema de prisioneiro. agentes "sem interesse pessoal" não são todos imunes aos problemas que atormentam os agentes dotados de interesses pessoais descritos pelos economistas. sobre o modo como as religiões estabelecidas dão origem a seitas. 4. tão laboriosamente desenvolvida e defendida por Sober e Wilson em Unto others. prefiro pensar nisso como a possibilidade de aplicar o domínio do interesse pessoal. Deve haver um sentido no qual os grupos competem uns com os outros na formação de novos grupos. O que foi espalhado. . 19). como esta: "Em geral. para retirar todas as mutações exploratórias antes que elas pudessem se espalhar. digamos. O livro de Wilson está transbordando de provas e análises importantes. 2001b e 2003b. não foi posta em uso aqui. ou enfrentando uma oferta coerciva ou uma tentativa de extorsão.. ou diminuirá. p. Esses estudiosos se beneficiavam de patrocínios e não estavam dispostos a cantar uma ode à abertura quando seus patrões queriam letras mais duras [. Digamos que sou um agente em uma situação de barganha. O meu problema não se resolverá.. 2.a não ser por alguns torturantes comentários informais mais para o final do livro. Não vemos qualquer replicação diferencial de grupos .. Mas esse é o único lugar em que essas complicações são tratadas no livro. ou um benfeitor.. Eis um bom motivo: supostamente. Essa proposta precisa de uma defesa mais cuidadosa. estudiosos aprovados em Bagdá formaram um consenso para congelar o debate dentro do islã. a vantagem local da ausência de interesse pessoal irá seguir seu curso dentro de cada grupo e fazer com que o altruísmo se extinga. a tradução islâmica de investigação que floresceu até o século x (e explicou as gloriosas realizações intelectuais e artísticas do início do islamismo).inevitavelmente levanta objeções a respeito da suposta incoerência da verdadeira ausência de interesse pessoal. foi a "imitação da imitação". um mecanismo de fortalecimento de fidelidade de cópias como aquele discutido no capítulo 5. mas. por exemplo.ceramento da interpretação. embora a competição não precise ser direta [. Um extorsionista. ou até significativamente se ajustará. mas uma das decepções dos teóricos da evolução é que a maquinaria da teoria de seleção de níveis múltiplos. (O material nest^ nota e o parágrafo de texto ao qual ele está coordenado é tirado de Dennett. comenta Manji. 1998. 235). que saiba do que eu gosto estará na posição de enquadrar a situação para me atingir onde é importante para mim. (2003. os mecanismos de controle sociais não alteram a conclusão básica de que as adaptações no nível do grupo exigem um processo correspondente de seleção de grupo" (p. se o "interesse pessoal" que estou protegendo for outro que não o meu próprio .se não estou tratando de salvar a minha própria pele. deliberadamente projetado por intendentes.]" (p.] A única coisa que essa estratégia imperial conseguiu foi criar a mais persistente opressão de muçulmanos por muçulmanos: o encar. seja lá o que for importante para mim. no entanto. Uma nota reconhece essas complicações: "Se os grupos permanecem permanentemente isolados uns dos outros. 59) 3.

] é importante lembrar que comunidades morais maiores do que algumas poucas centenas de indivíduos são "não naturais" do ponto de vista da evolução genética porque. como as demais condições invariáveis (o que pode não ser o caso). Isso significa que mecanismos evoluídos culturalmente são absolutamente necessários para que a sociedade humana permaneça unida acima do nível de grupos face a face. 10. 2003c. Na minha terminologia.. Os modelos de Bowles e Gintes tratam da evolução de memes dentro de comunidades. ele já está comprometido a traçar a facilidade de troca de hospedeiros por inovações bastantes independentes de qualquer transmissão "vertical" das características para os grupos descendentes.. ele define a teoria dos memes como "1. 347). 8. esse foi o meme a cuja difusão ele dedicou sua carreira. Eles prosseguem chamando a atenção para. e dos quais promessas podem ser solicitadas. barganhar. Mas. não relacionada.] adotamos a visão evolutiva de que a chave para a compreensão de comportamentos nos tipos de interações sociais que estamos estudando é replicação diferencial: aspectos duráveis de comportamento. 1999. comenta Wilson. Wilson apresenta diversos pontos interessantes que realmente não podem ser entendidos a não ser como uma reversão tática à "visão do olho-domeme". embora eu espere que Wilson continue carregando a tocha da seleção de grupo. enquanto outros traços.Em sua lista de teorias. não" (p. 1979. [. Uma discussão introdutória dessa literatura recente é feita em Dennett. 5. elas nunca existiram antes do advento da agricultura. na p. O fato de que a teoria pelo lado da oferta os ofenda não é em si mesmo um argumento contra ele.. pelo que sabemos. Afinal de contas. as características excelentes de uma religião muitas vezes são copiadas por outra religião. como coisas conscientes. embora eles prefiram não usar o termo: "[. p. são sistemas intencionais de ordem mais elevada. argüir. 45. para uma crítica detalhada das teorias sobre escolhas racionais da religião. 119] E como. E difícil imaginar o objetivo de se fazer uma promessa à Base de Todos os Seres. Citado em Armostrong. Tampouco o é a alegação (que muitos fazem) de que eles não acham que estão fazendo escolhas racionais de mercado a respeito de suas religiões.3 Religião como um parasita 'cultural' que muitas vezes evolui às custas de indivíduos e grupos humanos". Ver Bruce. devem ser explicados pelo fato de que foram copiados. agentes racionais com os quais se pode conversar. "The evolution of moral agency". . Eles podem estar se iludindo a respeito de seus reais processos de pensamento. capítulo 7. os deuses.. Muitos dos pontos que Wilson apresenta como sustentação de sua teoria de seleção de grupos podem ser imediatamente traduzidos para a fala de memes e usado para sustentar a teoria da seleção de memes. 7. inclusive normas. retidos. pelo fato de que as pessoas reajam com descrença e ultraje ao considerarem a teoria do lado da oferta é alguma prova de que a razoabilidade dessas teorias não é tão óbvia quanto Stark e seus colegas gostam de alegar.o fato de que esses 11. 9. 249. [p. difundidos. é claro. E Wilson reconhece que sua teoria de seleção de grupo depende da existência da evolução cultural: 6. de modo que se pode ver minha "suave alternativa memética" como uma emenda amigável. a quem promessas podem ser feitas. e daí replicados.

ver meu A idéia perigosa de Darwin (1995b). sob todas as formas personificadas pelas quais os seres humanos o conhecem. Há diferenças significativas em cânceres de mama (Li e Daling. Newbert. CRENÇA NA CRENÇA 1. Em outras palavras. 164). D Aquili e Rause intitularam seu livro de 2001 de Why God wont go away: brain science and the hiology of belief. o registro fóssil e. tolerância ao álcool e muitas outras doenças bem estudadas. p. a descendência de uma única célula ancestral de todas as plantas e animais. as "garantias mais profundas. Em um pólo há criacionistas "Terra Jovem". e dizem mostrar. mas motivo de grande exulta. Para um levantamento. endossadas pela neurobiologia. não há nada na neurociência de que um ateu tenha de discordar. 16. em A estrutura das revoluções científicas. 15. 39).vel que eu próprio não sei se acredito nele. que negam que nosso planeta tenha mais de bilhões de anos de idade e defendem hipóteses hilariantes para explicar os fósseis e todas as demais provas.efeitos não são o resultado de mecanismos de seleção de grupo (p. Pense nisso. A revelação de que o paradoxal crânio fóssil do Homem de Piltdown era. esses 17. 171). e alimenta o anti-racionalismo ideológico. mesmo que expliquem as adaptações semelhantes a organismos que as comunidades exibem. E há os defensores. 349). mas mesmo assim podem provar que há trabalho para um Projetista Inteligente fazer. foi um grande alívio para paleontólogos perplexos. um pouco mais razoáveis. realmente. (Acredito que alguma coisa exista . na verdade. por "ciência convencional cuidadosa" (p. que tornam Deus real" (p. Thomas Kuhn. tão indefiní. A mesma relutância envenena os debates a respeito do criacionismo e do Projeto Inteligente. existe um personagem que escreveu um livro religioso.ção nos tabernáculos do Texas" (2004. Ê um livro maravilhoso. que reconhecem prontamente a idade do planeta. Para uma discussão sobre Nietzsche e sua resposta filosófica à teoria da evolução por seleção natural de Darwin. 14. é o padrinho de todas as discussões subseqüentes. 1962. só pode ser uma metáfora" (p. mas cada uma dessas exposições públicas produz cinismo a respeito da pureza e do desinteresse da instituição. hipertensão. 8. Como Richard Lewontin observou recentemente: "Para sobreviver. 141). um embuste.será isso o Ser Unitário Absoluto?) O autor reconhece: "Se o Ser Unitário Absoluto for real. 2003. então Deus. Mas o Deus que eles afirmam revelar ao estudar a "neurologia da transcendência" é alguma coisa que chamam de Ser Unitário Absoluto. ver Health Sciences Policy (HSP ) Board. No encantador romance de Lee Siegel. do Projeto Inteligente. Quando pressionados em particular. um best-seller que ele intitulou de He's not called God for nothing. 13. . 12. Love and other games of chance (2003). a ciência tem de expor a desonestidade. 2003). e deve-se notar que o livro de Kuhn talvez seja o campeão de todos os tempos na categoria de Clássico Entusiasticamente Mal-Entendido. apesar do mal uso que dele se tem feito. diabetes.

Não.tadter e eu tínhamos organizado. Os filósofos passaram décadas sonhando com supostas experiências projetadas para provar ou refutar o princípio de W. porque estava "claro demais que se tornaria um livro cult". 1996. Professor Fé é o sucessor de Otto em Consciousness explained (1991a) e de Conrad em Freedom Evolves (2003c). as objeções que muitas vezes ouvi. John Searle uma vez me contou a respeito de uma conversa que tivera com Michel Foucault: "Michel. e no curso de um ou dois dias ela sucumbe" (p. . Ele conclui que de jeito algum é impossível induzir a morte de alguém amedrontando-o de modo fatal. Dei uma breve olhada. 21. Ver também Palmer e Steadman. sobre a tática adaptativa da interpretação literal de metáforas. um fato que muitos observadores notaram e que. que são (aproximadamente) sentenças que se apostaria serem verdadeiras (mesmo que não inteiramente compreendidas). A vítima 'definha'. da melhor maneira que posso. fez uma divisão parecida entre crenças intuitivas e reflexivas. 2001a). 23. A minha introdução a essa idéia um tanto deprimente veio em 1982. não nos façam reconhecer a falsidade das versões mais bobas da nossa postura!". para ser levado a sério pelos filósofos franceses. como veremos mais tarde. em honra à sinceridade de Foucault: eumer. sem haver qualquer prova a respeito de qual 24. Cannon. e expandiu e revisou essa análise em Sperber. e conclui que o esforço de intervenção de um quarto de século não produziu qualquer coisa que mudasse substancialmente minhas opiniões de 1982. 1982. mas expressando. mas é claro que muitos filósofos discordariam veementemente disso. é altamente significativo para uma possível compreensão do vagaroso estabelecimento da fraqueza. Não se vocês quiserem jogar nos grandes times. recentemente.pensadores mais sofisticados algumas vezes reconhecem que a bobagem da Terra Jovem é uma mistura de fantasia e fraude. a não ser identificado com nenhum interlocutor verdadeiro meu. por que seu trabalho escrito é tão obscuro?". ver Dennett. Quine da indeterminação da tradução radical (1960): a surpreendente alegação de que em princípio poderia haver dois modos diferentes de traduzir uma linguagem natural para outra linguagem natural. Eu cunhei um termo para essa tática. O. "mas. 19. na literatura que se acumulou sobre esse tema desde então. 20. Em Dennett.dificação (Dennett. mas não dirão isso em público. quando a editora de compras de uma grande editora me contou que sua companhia não iria concorrer pelos direitos de The minds 1. "Em seu terror [a vítima] recusa alimentação e água. Para um levantamento sobre o estado da arte por volta de 1980 (junto com algumas de minhas próprias propostas contenciosas). 1957. insistem. 22. 1975. 18. a antologia de filosofia e ficção científica que Doutlas Hofs. você é tão claro quando conversa. Ao que Foucault replicou: "Isso é porque. é uma exploração básica do amplamente disseminado saber que alega que sortilégios malévolos realmente mataram gente. E aí se queixam amargamente de que a comunidade científica não lhes dá atenção: "Somos sérios a este respeito!". para parafrasear palavras já citadas de um relato gráfico. 186). 1978. V. 20% daquilo que você escreve têm de ser bobagem impenetrável". suas forças desaparecem como água. Sperberr. 2004. eu propus uma distinção entre crenças e "opiniões". reimpresso em 1987. Eu entendi o que ela estava querendo dizer: nós de fato explicamos as coisas com o máximo de cuidado que pudemos. por favor.

html. para fazê-lo ter qualquer aplicação no mundo real (por exemplo. e não haveria mais problemas.edu/fscf/library/platinga/dennett. muitas doutrinas cristãs cultivadas estarão em perigo. apenas para filósofos). já que falsidades e verdades podem ser provadas a partir de axiomas inconsistentes) ou incompleto . Os filósofos reconhecerão isso como uma aplicação da teoria do significado de Quine (1960).www.haverá pelo menos uma verdade da aritmética. que está disponível (junto com outros ensaios sobre o mesmo tema) em sua página da web http://id. embora ele não consiga resistir a interpretar de modo errado alguns de meus argumentos.seria a forma correta de traduzir a linguagem. em Dennett. E claro que posso estar errado. verdadeiras). e uma extensão de sua observação de que na grande "teia da crença". se você tentar axiomatizar a aritmética (do jeito que a geometria plana é axiomatizada por Euclides . sendo tão eternas quanto qualquer coisa poderia ser. mas. ele não tem ilusões a respeito das duas magisteria de Stephen Jay Gould discutidas no capítulo 2. por exemplo. 1995b. Ver "The abilities of men and machines". The miracle oftheism. recomendo um livro mais velho. que nunca poderá ser provada a partir dos seus axiomas. O teorema de Gõdel pode ser provado a priori. e é aí que surgem problemas de interpretação para confundir o futuro dualista. de John Mackie (1982). incluindo tentativas de refutar o contra-argumento favorito dos ateus. 27. cada jeito seria tão bom quanto o outro. A resenha negativa do metafísico cristão Alvin Plantinga (1996). e não filósofo da ciência . Se o darwinismo estiver certo. 28.mas também rigoroso e incansável . seu sistema de axiomas será inconsistente (o que você certamente não quer. Descartes levantou a questão de se Deus criou as verdades da matemática. tem sido um defensor infatigável e engenhoso dos argumentos a priori da teologia. você tem de adicionar uma ou duas premissas empíricas. Plantinga. O teorema de Gõdel declara que. razão pela qual ele . em muitos de seus livros e artigos. Por exemplo. 26. já que. arguments for and against the existence ofGod. 9.como metafísico. e o capítulo sobre Roger Penrose em Dennett. (Quine insistiu que nesse caso não haveria um modo certo. é boa para começar. Para equilibrar Planatinga.quanto já encontrei. declarações teóricas longe da periferia da confirmação e refutação empíricas muito prontamente exibem a inescrutabilidade da referência. Seu seguidor Nicolas de Malebranche (1638-1715) expressou firmemente a opinião de que elas não precisavam de início.lembra da geometria do ginásio?). como um tratamento tão paciente e solícito . a sentença de Gõdel do sistema. Há diversos críticos meritórios do meu livro (e muitos deturpadores desesperados). e o Apêndice D apresenta uma breve discussão desse ponto (provavelmente. 1978.) O caso Philby pode nos ajudar a ver que essa alegação não é tão incrível como parece à primeira vista. para descrever limitações em máquinas de Turing implementadas. que recebeu recentemente uma outra boa audiência no rastro do tsunami no oceano Indico. 25.ucsb. o Argumento do Mal. POR UM GUIA DO CONSUMIDOR DE RELIGIÕES .se encarrega de endossar alguns dos maus argumentos da comunidade do Projeto Inteligente. ele explica muito claramente o poder do desafio darwiniano ao seu cristianismo.

Eu teria preferido não dar atenção a ele. pedido para resenhá-lo.. como recomendo. uma série de sinais muito valiosos. 1997. indicando o que é específico do ser humano. publicou um ensaio na página de editoriais de opiniões (ap-ed) do The Neu> York Times (7 de julho de 2005). mas. Para um exemplo recente. não planejado de variação aleatória e seleção natural" . Stark e Finke. 2. Tampouco são elas capazes de fundamentar a dignidade da pessoa [. 2004). que no entanto pode revelar. o cardeal arcebispo católico de Viena. que abriga os grandes deuses que eram famosos por salvarem as pessoas dos perigos no mar. resolvi usar a ocasião para uma reprimenda (Dennett. "Haveria muito mais votivos". ver Dupré.rwiniana da evolução por seleção natural. deplorando a interpretação errônea de sua carta de endosso da evolução e enfatizando que a posição oficial da Igreja católica é. foi dito a Diágoras. argumentam que os sacrifícios caros são na verdade uma atração importante da religião. no santuário de Samotrácia. Sloan e Bagiella. 2004. De acordo com o arcebispo Schõnborn. conclusão firmemente refutada por milhares de observações. e parte daquilo que você obtém pode ser saúde e prosperidade. Desse modo. Christoph Schõnborn. eles perceberam com consternação que o papa prosseguiu. de acordo com as filosofias que as inspiram. Em 1996. Conseqüentemente. 3. O momento da transição para o espiritual não pode ser objeto desse tipo de observação. "se todos aqueles que de fato se afogaram no mar tivessem a chance de erigir monumentos. teorias da evolução nas quais. são incompatíveis com a verdade a respeito do homem. o grande ateu.. 141] Como foi discutido no capítulo 7.. na verdade. [João Paulo n. mas apenas porque "você adquire aquilo que pagou". Alguns dos melhores exames são de Ellison e Levin. 2000. o papa João Paulo 11 declarou que "os novos conhecimentos nos levam a reconhecer na teoria da evolução mais que uma hipótese". insistindo que a transição do macaco para o ser humano envolveu uma "transição para o espiritual" que não podia ser explicada pela biologia: 5. 2001. 1998. experiências e cálculos feitos por especialistas em biologia." [1996. Diágoras apresentou a mesma reflexão milênios antes: "Olhem para todos esses presentes votivos". retorquiu sem piscar o ateu. e embora muitos biólogos tenham se animado com esse reconhecimento da teoria científica fundamental que unifica toda a biologia. quando eles usam suas próprias luzes da razão. 1996] Mais recentemente. os católicos podem usar "a luz da razão" para chegar à conclusão de que a "evolução no sentido neodarwiniano . e Daaleman et al. De acordo com Burkert. no nível experimental.] As ciências da observação descrevem e medem as múltiplas manifestações da vida com precisão cada vez maior e as correlacionam com a linha do tempo. Sobre os lamentáveis excessos do pós-modernismo.um processo não orientado. Tem havido uma quantidade enorme de pesquisas sobre esse tema. 2002. O espetáculo de bispos e cardeais católicos instruindo os fiéis sobre as falsidades da biologia neodarwiniana poderia ser cômico se não fosse um lembrete tão claro da triste história dessa Igreja quanto à perseguição de cientistas cujas teorias eram doutrinariamente inconvenientes. ver também Dennett. p. 2000. Chatters. apesar de algumas .1. 4. oposta à teoria neoda. consideram o espírito como surgido das forças da matéria viva ou como um mero epifenômeno dessa matéria.não é possível.

mas outras interpretações do trabalho deles não foram descartadas. de uma entrevista que dei a Giulio Giorelli. 5. Livros como Armas. 1. Essa foi a manchete. O QUE FAZEMOS? Em A idéia perigosa de Darwin. 3. ver Johnson. também em Chicago. 11. na Cidade do Cabo. em 1997. publicada no Corriere delia Serra. "Ele é uma dessas pessoas que . como se demonstrasse um elo entre a crença no céu e inferno e uma ética forte.e um pedido de desculpas oficial a Galileu. Vamos jogar o tênis intelectual: este livro é o meu saque. na Exposição de Colombo. tal como descrito no Boston Globe por Christopher Shea (2005): 2. e eu acolho bem rebates sérios . e em 1999. bem literalmente. eu a adotei como meu slogan. 4. Essa passagem enfureceu Plantinga (1996) e outros. com pouca esperança de impedir a reação costumeira: escárnio defensivo. e não foram traduzidas de forma errada. em 1993. ao mesmo tempo que a rejeitam categoricamente quando elas contradizem seus preceitos.562 no Sunan al-Tirmidhi). A econometria é um campo no qual rearranjos permitidos dos dados muitas vezes dão "resultados" assombrosamente diferentes. Estudiosos muçulmanos discordam sobre a interpretação de passagens relevantes do Corão (e hadith 2. 2003. em 1893. 10. mas as passagens das escrituras definitivamente existem. Parlamentos anteriores foram reunidos em Chicago. 154). e mostrei por que uma apelação à fé está fora dos limites. que considera o trabalho de Diamond "superficial". Para uma tentativa recente de explorá-lo. em Milão. 1996. de modo que ninguém deve se surpreender quando teóricos de seitas diferentes encontram leituras diferentes. 1. Estou propondo isso com antecedência. em italiano. diz ele.não quero parecer maldoso. MORALIDADE E RELIGIÃO Algumas pessoas citaram o levantamento de McCleary. porque ele é um escritor elegante não são levadas a sério pela maior parte dos historiadores".concessões importantes ao longo dos anos . germes e aço. a Igreja católica ainda está na posição canhestra e indefensável de tentar se apoiar na autoridade científica quando os católicos gostam de suas conclusões. p. são menos importantes por seus argumentos que por . mas eu a sustento. diz Anthony Grafton. no jogo sério da pesquisa empírica. 2003. Aprecie algumas das reações ao novo livro de Jared Diamond. 2. Desde então.com a rede da razão sempre montada. E AGORA. e Mccleary e Barro. séculos depois do fato -. me uni a Ronald de Sousa em desacreditar a teologia filosófica como "um tênis intelectual sem rede" (1995b. iniciando com ela o meu livro Freedom Evolves (2003c). um professor de história européia antiga em Princeton. Collapse (2005).

and 8. 2003. Shermer projetou o estudo em colaboração com Frank Sulloway. capítulo 7.chandran e Blakeslee. Há outros trabalhando em tópicos como esse. order.. 5. Wall et al. As novas do dia realmente têm importância em algumas condições (Iyen. mas não são. para uma avaliação ponderada das armadilhas a serem evitadas ao se estudarem os fatores genéticos nas doenças humanas. mas biologicamen. 2003) está fazendo progresso tanto por causa dos avanços no pensamento econômico como por causa da nova tecnologia de neuroimagens. 2001). "Waves of passion: the neuropsychology of religion"). porque alguns dos nossos já fizeram isso bem. e o tempo está ensolarado. ele parece complacente. se não tiverem se convencido. Para outros exemplos. 1999. Em um estudo sobre felicidade pessoal (ou bem-estar subjetivo). Para uma outra resposta à resposta a Diamond. 2003. 3. um ex-estatístico do MIT.história grandiosa. Gill et al. para boas resenhas sobre religião e o cérebro. que revisa centenas de diferentes levantamentos e instrumentos. Nós. não temos todos de levar os criacionistas a sério. então. como o tempo está não tem importância. 1999. para o relato popular de Ramachandran. 2005. Como se diz. . é um trabalho sujo.lo. A pesquisa tem mostrado efeitos impressionantes de diferenças aparentemente triviais. O livro mais recente de Dean Hamer (2004) foi discutido no capítulo 5. (orgs. Para uma discussão. Não saberemos até que eles os considerem seriamente o suficiente para os descartarem apropriadamente. 2005c). se o pesquisador por telefone não faz essa pergunta inócua. Vilayanur Ramachandran et al. extensa. que une os pontos criados por milhares de monografias. Essas questões podem parecer demasiadamente fantasiosas para serem levadas a sério. o enciclopédico Measures of religiosity.te segura. O novo campo da neuroeconomia (por exemplo. por exemplo. 4. 2002. eles podem continuar não prestando atenção aos seus argumentos. (1997. estudioso de Darwin e autor de Bom to be rebel: birth.gar. pode ser encontrada em Ewing et al. 1998). As perspectivas e imperfeições conectadas ao trabalho dele são discutidas com justiça por Atran (2002. ver o capítulo 8 de Ross."mostrar aquilo de que os historiadores abriram mão" .. 1974. evolucionistas. e Andrew Newberg e Eugene D Aquili (Newbert et al. 2000. family dynamics. 6. ver Kahnemann et al. Ver Duster. por telefone.. 1987). 2005. 2002.. Uma vez que os historiadores tenham refutado devidamente as teses de Diamond com o mesmo cuidado. Os pesquisadores que chegaram às manchetes foram Michael Persinger (1987). se o pesquisador. Ver. e o que há de melhor em trabalho recente é discutido por Atran. de Hill e Hood. Montague e Berns. as pessoas dizem que estão significativamente mais felizes! Chamar a atenção para o tempo local diminui a probabilidade de que as respostas sejam veladamente influenciadas por ele nas perguntas sobre outros temas (Schwarz e Clore. 1983). pergunta ao seu sujeito "Como está o tempo aí onde você está?".). 7. ver a resenha de Gregg Easterbrook (2005) e a minha resposta (Dennett. o professor Grafton não parece maldoso. e Shermer. mas alguém tem de fazê. Uma abertura inicial para essa pesquisa politicamente delicada. e nós verificamos e os aprovamos (ver a nota 3 do capítulo 3). Talvez ele e seus colegas historiadores estejam subestimando a força dos argumentos "superficiais" de Diamond. Para mim. Blimcher. Ver também Churchland. ver Rama.

14. o início do que Manji chama de Operação Ijtihad. Este parágrafo e o anterior são tirados. Se isso estiver perto da realidade. 90. 2003. p. com algumas alterações. The New York Times. se faz diferença se a questão diz "Deus existe" ou "Eu acredito que Deus exista" (concorda fortemente. 18 de dezembro de 2004. Citado em Stern. compartilhados e discutidos. concorda um pouco etc. 9. A minha incursão no projeto de questionários vem explorando outras fontes possíveis de distorção. para alguns dos detalhes. e receberam mais de mil respostas. isso fica a cargo da imaginação de cada um. é a apresentação formal dos resultados. tentamos responder à questão levantada no capítulo 8 e revisada acima. os quinhentos anos que se iniciaram em torno do ano 750 (Manji. 12.). 30 de março de 2005). e 17% acreditam que o mundo vai acabar durante seu período de vida. abertos ou ocultos. Depois de pré-testes e aprimoramentos extensivos de seu questionário. Shermer e Sulloway. Irshad Manji relata ter visto um cartaz em uma nova escola para meninas no Afeganistão: "Instrua um menino e você instruirá apenas aquele menino. Uma pesquisa de opinião recente na Newsweek (24 de maio de 2004) alegou que 55% dos norte-americanos acreditam que os fiéis serão levados aos céus durante o Êxtase. de modo que estamos projetando estudos que dêem segui. Há. 10. para apressar o imaginado Armagedom. Nossos resultados preliminares sugerem que essa pequena diferença na formulação não faz diferença quando. e floresceu como tradição durante o mais importante período do islã. 16. "Hamas may give peace a chance". . Ijtihad significa "pensamento independente". por exemplo. como.mento. 2003. instrua uma menina e você instruirá sua família toda" (discurso na Universidade de Tufts. eles primeiro o enviaram para os 5 mil membros da Skeptic Society. 13. não os céticos. definitivamente. Mas que porcentagem desses adeptos está preparada para adotar quaisquer passos. mas elas não são o que nós esperávamos inicialmente. 15. Scott Atran começou estudando futuros líderes do Hamas na Palestina e em Gaza. de Dennett. e são ambíguas entre diversas interpretações diferentes. sugere que os que acreditam no Final dos Tempos na primeira década do século xxi superam em número os marxistas dos anos 1930 até os dos 1950 por uma grande margem. 1999b. e ainda não submetemos nenhum de nossos resultados a um periódico com revisão dos pares. Citado em Manji. 2003. p. na web. xiii. para serem lidos. e receberam mais de 1700 respostas. por exemplo. diferenças significativas. p. no prelo. Jovens muçulmanos por todo o mundo árabe podem baixá-lo em discretos arquivos PDF. Nenhum editor de língua árabe ousaria publicar uma tradução do livro de Manji. 51). Mas outros estudos podem descobrir um contexto que dê resultado diferente. As estatísticas acima são para a amostra aleatória. 2003. 11. de graça. Ver seu importante editorial. mas uma tradução árabe está disponível.creativelives (1996). a mesma questão em dois diferentes contextos (desafiador e apoiador) recebe respostas diferentes. Aliás. e depois enviaram o mesmo levantamento para uma amostra aleatória de 10 mil pessoas por todo o país. os itens do teste são "Jesus andou sobre as águas" versus "Eu acredito que Jesus andou sobre as águas". Ver Shermer.

p. que ele (e eu) será submetido a deturpações impiedosas quando aqueles que não conseguem enfrentar honestamente seu conteúdo procurarem envenenar a mente dos leitores em relação ao livro ou desviar a atenção dele. mas prevejo. afirmando. você não vai querer saber). já que ela pode estar buscando políticas que são antiéticas para aqueles da democracia da qual esses congressistas são representantes eleitos. Coe visitou quase todas as capitais do mundo. Precisamos também nos manter informados.porque quero tirar a carta "Estou mortalmente ofendido" do jogo. 20030). não sendo assim tão desonestos e desesperados. Essa não é a primeira vez que faço isso. o fundador e presidente da Digital Equip. uma mansão (vizinha de Ivanwald) que a Família comprou em 1978 com us$ 1. apresenta uma introdução fascinante e inquietadora a essa organização pouco conhecida. eu sou implicante com as oportunidades iguais e me recuso a andar na ponta dos pés por medo de ofender alguém . pronta para ser publicada. e não deu outra. nos últimos anos. Assim. serão brandidas para demonstrar minha "intolerância" e o meu "desrespeito". como "o Persuasor Furtivo". sabem muito bem. meu "desvio" anticristão. é descrito pela revista Time (7 de fevereiro de 2005. George H. bastante inócuas no contexto. fiz uma lista das passagens neste livro que têm a maior probabilidade de ser retiradas do contexto e usadas deliberadamente para deturpar minha posição. que as técnicas de informações errôneas e as más orientações se tornaram tão refinadas que. sim. 407n). que inclui os National Prayer Breakfasts (cafés-da-manhã de oração nacional). mesmo que a verdade esteja lá. como um "embaixador da fé". Por exemplo. Baseando-me nessa experiência. a qual inclui uma lista de parlamentares (inclusive alguns poucos que não estão mais no Congresso). Em Consciousness explained. Bush elogiou Doug Coe por acjuilo que ele descreveu como "diplomacia silenciosa. Douglas Coe. "fazendo amigos" e convidando-os para a sede não oficial da Família. 55] Acho que precisamos saber mais das atividades dessa diplomacia silenciosa. antimuçulmano? (Como vocês. por estranho que pareça. são necessárias medidas mais fortes.ment Corporation.) Será interessante ver quem vai cair na minha . 2003.5 milhão doados por. até mesmo alguns acadêmicos respeitáveis não conseguiram resistir à tentação de fazer isso (Dennett. qual das minhas piadinhas. p. muitas vezes com congressistas a seu lado. a minha lista de deturpações deliberadas previstas está guardada e selada. leitores cuidadosos. "Seria um ato de desonestidade intelectual desesperada citar essa afirmação fora do contexto!" (1991a. e também descreve pontos altos da história de suas atividades pelo mundo todo. um fluxo de desinformações inteligentemente dirigido pode sobrepujar a verdade. podia-se confiar que as pessoas iriam tomar decisões informadas que preservassem nossa sociedade livre. mesmo em uma sociedade aberta. na época o CEO da fabricante de armas Raytheon. fiz uma nota de rodapé premonitória para uma passagem sobre os zumbis (não pergunte. Seu líder atual. não governamental. sem ser censurada. Sharlet comenta: 17. Neste caso. e isso está ficando cada vez mais difícil. W. bem disponível para qualquer pessoa que a possa encontrar. mas também o apoio velado de líderes e movimentos políticos. 41). Mas aprendemos. No National Prayer Breakfast. Achávamos que o sigilo talvez fosse o pior inimigo da democracia.Sharlet.mas pelo menos tiveram de citar a nota de rodapé também. entre outros. Diversos autores não puderam resistir à tentação de citá-la fora do contexto . Por exemplo. Tom Phillips. já que estão em jogo apostas mais altas. [p. eu não diria diplomacia secreta". eu não tenho medo de que este livro vá ser censurado ou proibido. Em minha experiência recente. anti-semita. e já que não havia repressão ou censura. e Ken Olsen.

armadilha. Eles não serão assíduos leitores de notas. serão? .

1.lecb. autor de numerosos livros e artigos que atacam a teoria da evolução.ncifcrf. . 2003c. A maior parte desse enorme aumento na massa com relação à natureza "selvagem" deve-se ao nosso gado e aos bichos de estimação. Como co-editor do Unapologetic apologetics: meeting the challenges of theological studies (2001). 3. p. 303. no total. Para uma crítica detalhada dos métodos de Dembski. ele pode encontrar motivos para isso em sua própria prática. que agora pesam mais que nós. E difícil calcular a proporção de plantas domesticadas com relação às plantas silvestres. 2.gov/~toms/paper/ev/.APÊNDICE B MAIS ALGUMAS QUESTÕES A RESPEITO DE CIÊNCIA William Dembski. mas é claro que ela também mudou drasticamente. em uma proporção de mais de três para um. Este parágrafo foi tirado de Dennett. ver a página da web de Thomas Schneider. muitas vezes se queixa em voz alta de que seu trabalho "científico" não é tratado com respeito pelos biólogos em atividade. http://www.

.

Phi Beta Kappa. Riadh. (2000) Darwinizing Culture: The Status of Memetics as a Science. (1993) A History of God: The 4000 Year Quest for fudaism. Prentice. (1946) "A Reactionary Tract for the Times". e N. Ainslie. The New York Times. vol. Compassion. Anderson. Ashbrook. Carl J. (no prelo) "Précis of Breakdown ofwill". pp. Cleveland. (2000) Animal Traditions: Behavioural Inheritance in Evolution. Balaschak. Scott. M. Blocker. British Journal of Medicai Psychology. Nova York: Free Press. and Experience. Cambridge: Cambridge University Press. (2001) Religion in Mind: Cognitwe Perspectives on Religious Belief: Ritual. T. George. 67-84. pp. Ohio: Pilgrim Press. 38-45. (org. e C. (2004) "Religions Evolutionary Landscape: Counterintuition. Ben. Jablonka. (1972) "The influence of race and expressed experience of the hypnotist on hypnotic susceptibility". 4. S. Londres: Routledge. n. Em Antonio Nicita e Ugo Pagano (orgs. The Evolution of Economic Diversity. Nova York: Thomas Nelson.). Katsuhito. Child Psychiatry & Human Development. (2001) Breahdown ofwill. 525-547. n. Atran. . H. 18 de dezembro. James B. 17. Commitment. . Nova York: Ballantine Books. Armstrong. vol. (1979) The Electric Church. Cambridge: Cambridge University Press. R.). (1994) "Encounter with Reality: Childrens Reactions on Discovering the Santa Claus Myth". Artigo para Behavioral and Brain Sciences. Cambridge: Cambridge University Press. (1998) "The Sexual Competition Hypothesis for Eating Disorders". Avital. International Journal of Clinicai & Experimental Hypnosis. 396-431. Harvard. n. Jensine. Eytan e E.BIBLIOGRAFIA Abed. (2001) "The Evolution of Money". K. B. Rossiter e C. e A. pp. Behavioral and Brain Sciences. Awai. T. Armstrong. Oxford: Oxford University Press. 713-770. vol. Christianity and Islam. Andresen. Norenzayan. pp. 20. W. (2002) The Electric Meme: A New Theory of How We Think and Communicate. (2004) "Hamas May Give Peace a Chance". Atran. Robert. . 27. Albright. Auden. (1997) The Humanizing Brain. Oxford: Oxford University Press. 2. 1. Aunger.. pp. Perin. (2002) In Gods We Trust: The Evolutionary Landscape of Religion. vol. Karen. Communion". 25.

29-34. (1911) The Devils Dictionary. Pascal. Robert e P. pp. David. Boyer. Boyer. pp. 4. Richerson. Mass. 13. 289-290. pp. . Bonner. Bierce. Bowles. Em Antonio Nicita e Ugo Pagano (orgs.). (2004) "Natural Selection Is Non-denominational: Why Evolutionary Models of Religion Should Be More Concerned with Behavior Than Concepts". Samuel e H. The Evolutionary Origins of Religious Thought. . Barrett. (2000) "Exploring the Natural Foundations of Religion". pp. pp. J. (1995) Mindblindness and the Language of the Eyes: An Essay in Evolutionary Psychology.: MIT Press. Susan. Baron-Cohen. Justin. Philosophy.tion. Cambridge. Barrett. Gintis. George. Kurian e T. (2003) "The Jesus War". Blackmore. vol. Evolution and Human Behavior. (1985) Culture and the Evolutionary Process. Barna Research Group. Bering. John Tyler. Barth. The New Yorker. (2001) "Community Governance". G. Oxford: Oxford University Press. vol. Barna. (1998) Cultural Software: A Theory ofldeology.org/cgi-bin/. vol. Nova York: Oxford University Press. (1980) "Editorial: Subject and Epithet". (1999) The Meme Machine. Disponível em http://www. 15 de setembro. The Evolution of Economic Diversity. Evolution and Cogni. Boyd. Simon. . disponível em http:// www. Bambrough. 10. (2001) Religion Explained. 2" ed. pp. 3-25.barna. Richard. (1998) "The Moral Economy of Community: Structured Populations and the Evolution of Prosocial Norms". Nova York: Basic Books. 2 vols. 19. Renford. 171-195. (1975) Ritual and Knowledge Among the Baktaman of New Guinea.alcyone. Brodie. (1999) "Christians Are More Likely to Experience Divorce Than Are Non-Christians". 1999-DEC-21. 55. Johnson. M. Direitos autorais expirados. M. vol. Chicago: University of Chicago Press. Ambrose. (1980) The Evolution of Culture in Animais.com/max/lit/devils/. Peter J. Fredrik. New Haven: Yale University Press. (1992) "Punishment Allows the Evolution of Cooperation (or Anything Else) in Sizable Groups". 344-367. (1996) Virus of the Mind: The New Science of the Meme. J. Princeton: Princeton University Press. (2001) World Christian Encyclopedia. Trends in Cognitive Science. New Haven: Yale University Press. vol. Ethology and Sociobiology. Londres: Routledge. 126-137. Seattle: Integral Press.Balkin.

Brown, Dan. (2003) The Da Vinci Code. Nova York: Doubleday. (Ed. bras.: O código Da Vinci.
Rio de Janeiro: Sextante, 2004)
Brown, David. (2004) "Wildlife Tracking on AVIS Lands". Andover, Mass., 9 de março.
Bruce, Steve. (1999) Choice and Religion: A Critique of Rational Choice Theory. Oxford:
Oxford University Press.
Bulbulia, Joseph. (2004) "Religious Costs as Adaptations That Signal Altruistic Intention".
Evolution and Cognition, vol. 19, pp. 19-42.
Burdett, Kenneth, A. Trejos e R. Wright (2001) "Cigarette Money". Journal of Economic Theory,
vol. 99, pp. 19-42.
Burkert, Walter. (1996) Creation of the Sacred: Tracks of Biology in Early Religions.
Cambridge, Mass.: Harvard University Press.
Cannon, Walter B. (1957) "Voodoo' Death". Psychosomatic Medicine, vol. 19, pp. 182-190.
Carey, Benedict. (2004) "Can Prayers Heal? Critics Say Studies Go Past Sciences Reach". The
New York Times, 10 de outubro.
Carstairs-McCarthy, Andrew. (1999) The Origins of Complex Language: An Inquiry into the
Evo- lutionary Beginning os Sentences, Syllabes, and Truth. Oxford: Oxford University Press.
Cavalli-Sforza, Luigi Luca. (2001) Genes, Peoples, and Languages. Berkeley: University of
Califórnia Press.
Cavalli-Sforza, Luigi Luca e M. Feldman. (1981) Cultural Transmission and Evolution: A
Quanti- tative Approach. Princeton: Princeton University Press.
Chatters, Linda M. (2000) "Religion and Health: Public Health Research and Practice". Annual
Review of Public Health, vol. 21, pp. 335-367.
Christiansen, Morten H. e S. Kirby (orgs.). (2003) Language Evolution (Studies in the Evolution
of Language). Oxford: Oxford University Press.
Churchland, Patrícia. (2002) Brain-Wise: Studies in Neurophilosophy. Cambridge, Mass.: MIT
Press.
Cloak, F. T. (1975) "Is a Cultural Ethology Possible?". Human Ecology, vol. 3, pp. 161-182.
Coe, William C„ J. R. Bailey, J. C. Hall, M. L. Howard, R. L. Janda, K. Kobayashi e M. D.
Parker. (1970) "Hypnotism as Role Enactment: The Role-Location Variable". Proceedings:
y8thAnnual Convention, American Psychological Association, pp. 839-840.
Coe, William et al. (2001) "Hypnosis as Role Enactment: The Role-Location Variable".
Proceedings of the Annual Convention of the American Psychological Association.
Colvin, J. Randall e ]. Block. (1994) "Do Positive Illusions Foster Mental Health? An
Examination of the Taylor and Brown Formulation". Psychological Bulletin, vol. 116, n. 1, pp.
3-20.

Crick, Francis H. (1968) "The Origin of the Genetic Code". Journal of Molecular Biology, vol.
38, p. 367.
Cronin, Helena (1991) The Ant and the Peacock. Cambridge: Cambridge University Press.
Cronk, Lee, N. Chagnon e W. Irons (2000) Adaptation and Human Behavior: An
Anthropological Perspective. Hawthorne, NY: De Gruyter.
Cupitt, Don. (1997) After God: The Future of Religion. Nova York: Basic Books.
Daaleman, Timothy P., S. Perera e S. A. Studenski. (2004) "Religion, Spirituality, and Health
Sta- tus in Geriatric Outpatients". Annals of Family Medicine, vol. 2, pp. 49-53.
Darwin, Charles. (1859) On the Origin ofSpecies by Means of Natural Selection. Londres:
Murray. (Ed. bras.: A origem das espécies. São Paulo: Madras, 2004)
. (1886) The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex. Princeton: Princeton University
Press, 1981 (publicação original em 1871).
Davies, Paul. (2004) "Undermining Free Will". Foreign Policy, set.-out., p. 36.
Dawkins, Richard. (1976) The Selfish Gene. Oxford: Oxford University Press. Ed. rev. 1989.
(Ed. bras.: O gene egoísta. São Paulo: Gradiva, 1999)
. (1982) The Extended Phenotype. Oxford: Oxford University Press, 1999.
. (1989) (Ed. rev. em Dawkins, 1976). Oxford: Oxford University Press.
. (1993) "Viruses of the Mind". Em Bo Dahlbom (org.). Dennett and His Critics. Oxford:
Blackwell, pp. 13-27. Reimpresso em Dawkins, 2003a.
(1996) Climbing Mount Improbable. Londres: Viking Penguin.
. (2003a) A Devils Chaplain: Reflections on Hope, Lies, Science, and Love. Boston: Houghton Mifflin.
• (2003b) "The Future Looks Bright". The Guardian, 21 de junho.
. (2004a) The Ancestors Tale: A Pilgrimage to the Dawn of Life. Londres: Weidenfeld &
Nicolson.
. (2004b) "What Use Is Religion? Part 1". Free ínquiry, jun.-jul., pp. 13 ss. (páginas não
consecutivas).
Deacon, Terry. (1997) The Symbolic Species. Nova York: Norton.
Debray, Régis. (2004) God: An Itinerary. Trad. Jeffrey Mehlman. Londres: Verso.
Dembski, William. (1998) The Design Inference: Eliminating Chance Through Stnall
Probabilitics. Cambridge: Cambridge University Press.
. (2003) "Three Frequently Asked Questions About Intelligent Design". Disponível em

http://www.designinference.com.
Dembski, William ej. W. Richards (orgs.). (2001) UnapologeticApologetics: Meeting the
Challen- ges of Theological Studies. Downers Grove, 111.: InterVarsity.
Dennett, Daniel 0.(1971) "lntentional Systems". Journal of Philosophy, vol. 68, pp. 87-106.
. (1978) Brainstorms. Cambridge, Mass.: MIT Press/A Bradford Book.
. (1981) "Three Kinds of lntentional Psychology". Em R. Healey (org.). Reduction, Time and
Reality. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 37-61.
. (1982) "Beyond Belief". Em A. Woodfield (org.). Thought and Object: Essays on
Intentionality. Oxford: Oxford University Press. Reimpresso em 1987.
. (1983) "lntentional Systems in Cognitive Ethology: The 'Panglossian Paradigm'
Defended". Behavioral and Brain Sciences, vol. 6, pp. 343-390.
. (1986) "Information, Technology, and the Virtues of Ignorance". Daedalus: Proceedings of
the American Academy ofArts and Sciences, vol. 115, pp. 135-153.
. (1987) The lntentional Stance. Cambridge, Mass.: MIT Press.
. (1988) "The Moral First Aid Manual". Em S. M. McMurrin (org.). Tanner Lectures on
Human Values. vol. 8. Salt Lake City: University of Utah Press; e Cambridge: Cambridge
University Press, pp. 119-147. Reimpresso e revisado em Dennett, 1995b.
. (1990) "Abstracting from Mechanism" (resposta a Gelder). Behavioral and Brain Sciences,
vol. 13, pp. 583-584.
. (1991a) Consciousness Explained. Boston: Little Brown.
. (1991b) "Real Pattems". Journal of Philosophy, vol. 87, pp. 27-51.
. (1991c) "Two Contrasts: Folk Craft Versus Folk Science, and Belief Versus Opinion". Em
J. D. Greenwood (org.). The Future ofFolk Psychology: Intentionality and Cognitive Science.
Cambridge: Cambridge University Press.
. (1995a) "Animal Consciousness: What Matters and Why". Social Research, vol'62, n. 3,
outono (1), pp. 691-710. Reimpresso em 1998a.
. (1995b) Darwins Dangerous Idea. Nova York: Simon & Schuster. (Ed. bras.: A idéia perigosa
de DaruHn. Rio de Janeiro: Rocco, 1998)
(1996) Kinds of Minds: Towards an Understanding of Consciousness. Nova York: Basic
Books.
• (1997) "Appraising Grace: What Evolutionary Good is God?" (resenha de Walter Burkert
- Creation ofthe Sacred: Tracks of Biology in Early Religions). Sciences, jan.-fev., pp. 39-44.

• (1998a) Brainchildren: Essays on Designing Minds. Cambridge, Mass.: MIT Press.
• (1998b) "The Evolution of Religious Memes: Who-or What-Benefits?". Method & Theory
in the Study of Religion, vol. 10, pp. 115-128.
. (1999a) "Faith in the Truth". Em W. Williams (org.). The Values of Science (The Amnesty
Lectures, Oxford, 1997). Nova York: Basic Books, pp. 95-109. Também em Free Inquiry,
primavera de 2000.
. (1999b) "Protecting Public Health". Em Predictions: 30 Great Minds on the Future, publicado
por Times Higher Education Supplement, pp. 74-75.
. (2000) "Making Tools for Thinking". Em D. Sperber (org.). Metarepresentations: A Multidisciplinary Perspective. Nova York: Oxford University Press, pp. 17-29.
. (2001a) "Collision, Detection, Muselot, and Scribble: Some Reflections on Creativity".
Em David Cope, Virtual Music: Computer Synthesis of Musical Style. Cambridge, Mass.:
Press, pp. 283-291.

MIT

. (2001b) "The Evolution of Culture". Monist, vol. 84, n. 3, pp. 305-324.
. (2001c) "The Evolution of Evaluators". Em Antonio Nicita e Ugo Pagano (orgs.). The Evolution
of Economic Diversity. Londres: Routledge, pp. 66-81.
. (2002a) "Altruists, Chumps, and Inconstant Pluralists" (comentário sobre Sober e Wilson,
Unto Others: The Evolution and Psychology of Unselfish Behavior). Philosophy and Phenomenological Research, vol. 65, n. 3 (novembro), pp. 692-696.
. (2002b) "The New Replicators". Em Mark Pagel (org.). Encyclopedia of Evolution, vol. I.
Oxford: Oxford University Press, pp. E83-E92.
. (2003a) "The Baldwin Effect: A Crane, Not a Skyhook". Em B. H. Weber e D. J. Depew
(orgs.). Evolution and Learning: The Baldwin Effect Reconsidered. Cambridge, Mass.: MIT
Press/A Bradford Book, pp. 60-79.
. (2003b) "The Bright Stuff'. Nova York, Times, 12 de julho.
. (2003c) Freedom Evolves. Nova York: Viking Penguin.
. (2003d) "Postscript on the Baldwin Effect and Niche Construction". Em B. H. Weber e
D. J. Depew (orgs.). Evolution and Learning: The Baldwin Effect Reconsidered. Cambridge,
Mass.: MIT Press/A Bradford Book, pp. 108-109.
. (2003c) "Shame on Rea". Disponível em http://ase.tufts.edu/cogstud/papers/rearesponse.
htm.
. (2004) "Holding a Mirror Up to Dupré" (comentário sobre John Dupré, Human Nature
and the Limits of Science). Philosophy and Phenomenological Research, vol. 69, n. 2 (setembro),

pp. 473-483. (2005a) "From Typo to Thinko: When Evolution Graduated to Semantic Norms". Em S.
Levinson e P. Jaisson (orgs.). Culture and Evolution. Cambridge, Mass.: MIT Press.
. (2005b) "Geography Lessons". New York Times Book Review, 20 de fevereiro, p. 6.
. (2005c) Sweet Dreams: Philosophical Ohstacles to a Science of Consciousness. Cambridge,
Mass.: MIT Press.
De Vries, Peter. (1958) The Mackerel Plaza. Boston: Little Brown.
Diamond, Jared. (1997) Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies. Nova York:
Norton. (Ed. bras.: Armas, germes e aço. Rio de Janeiro: Record, 2001)
. (2005) Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed. Nova York: Viking Penguin.
Dulles, cardeal Avery. (2004) "The Rebirth of Apologetics". First Things, vol. 143 (maio), pp.
18-23.
Dunbar, Robin. (2004) The Human Story: A New History of Mankinds Evolution. Londres:
Faber & Faber.
Dupré. John. (2001) Human Nature and the Limits of Science. Oxford: Clarendon Press.
Durham, William. (1992) Coevolution: Genes, Culture and Human Diversity. Stanford, Calif.:
Stanford University Press.
Durkheim, Émile. (1915) The Elementary Forms ofthe Religious Life. Nova York: Free Press.
Dusek, J. A., J. B. Sherwood, R. Friedman, P. Myers, C. F. Bethea, S. Levitsky, P. C. Hill, M. K.
Jain, S. L. Kopecky, P. S. Mueller, P. Lam, H. Benson e P. L. Hibberd. (2002) "Study of the
Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP ): Study Design and Research Methods".
American Heart Journal, vol. 143, n. 4, pp. 577-584. Duster, Troy. (2005) "Race and Reification
in Science". Science, vol. 307, pp. 1050-1051. Eagleton, Terry. (1991) Ideology: An
Introduction. Londres: Verso.
Easterbrook, Gregg. (2005) "There Goes the Neighborhood" (resenha de Diamond, 2004). Nova
York: The Times Book Review, 30 de janeiro. Eliade, Mircea. (1963) Myth and Reality. Trad.
W. R. Trask. Nova York: Harper and Row. Ellis, Fiona. (2004) What Is Good? The
Searchforthe Best Way to Live (resenha de A. C. Grayling).
Times Literary Supplement, 26 de março, p. 29. Ellison, C. G. e J. S. Levin. (1998) "The
Religion-Health Connection: Evidence, Theory, and
Future Directions". Health Education and Behavior, vol. 25, n. 6, pp. 700-720. Evans-Pritchard,
Edward. (1937) Witchcrafi, Oracles and Magic Among the Azande. Oxford: Clarendon Press; 2"ed. abreviada, 1976. Ewing, J. A., B. A. Rouse e E. D. Pellizzari. (1974)'
Alcohol Sensitivity and Ethnic Background".
American Journal of Psychiatry, vol. 131, pp. 206-210. Faber, M. D. (2004) The Psychological

Roots of Religious Belief. Amherst, NY: Prometheus Books. Feibleman, James. (1973)
Understanding Philosophy. Nova York: Horizon. Feynman, Richard P. (1985) QED: The
Strange Theory of Light and Matter. Princeton:
Princeton University Press. Flamm, Bruce. (2004) "The Columbia University 'Miracle' Study:
Flawed and Fraud". Skeptical
Inquirer, setembro-outubro, pp. 25-31. Frank, Robert. (1988) Passions Within Reason: The
Strategic Role of the Emotions. Nova York: Norton.
. (2001) "Cooperation Through Emotional Commitment". Em R. Nesse (org.), pp. 57-76.
Freud, Sigmund. (1927) The Future of an lllusion. Nova York: Norton, 1989. (Ed. bras.: O
futuro
de uma ilusão. Rio de Janeiro: Imago, 1997) Fry, Christopher. (1950) The Ladys Notfor
Burning. Nova York: Oxford University Press (a peça
foi produzida pela primeira vez em 1948). Gauchet, Mareei. (1997) The Disenchantment ofthe
World: A Political History of Religion. Trad.
Oscar Burge. Princeton: Princeton University Press. Geertz, Clifford. (1973) The Interpretation
of Cultures. Nova York: Basic Books. '
Glimcher, Paul. (2003) Decisions, Uncertainty and the Brain. Cambridge, Mass.: MIT Press.
Gopnik, Alison e A. Meltzoff (1997) Words, Thoughts and Theories. Cambridge, Mass.: MIT
Press.
Gould, Stephen Jay. (1980) The Pandas Thumh: More Reflections in Natural History. Nova York:
Norton.
. (1999) Rocks of Ages: Science and Religion in the Fullness of Life. Nova York: Ballantine.
(Ed. bras.: Pilares do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 2002). Grandin, Temple. (1996) Thinking
in Pictures: And Other Reportsfrom My Life withAutism. Nova York: Vintage.
Grandin, Temple e M. M. Scariano. (1996) Emergence: Labeled Autistic. Nova York: Warner
Books.
Gray, Russell D. e Fiona M. Jordan. (2000) "Language Trees Support the Express Train
Sequence of Austronesian Expansion". Nature, vol. 405 (29 de junho), pp. 1052-1055.
Grice, H. P. (1957) "Meaning". Philosophical Review, vol. 66, pp. 377-388.
. (1969) "Utterers Meaning and Intentions". Philosophical Review, vol. 78, pp. 147-177.
Gross, Paul R. e N. Levitt. (1998) Higher Superstition: The Academic Left and Its Quarrels
with Science. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
Guthrie, Stuart. (1993) Faces in the Clouds. Oxford: Oxford University Press.
Hamer, Dean. (2004) The God Gene: How Faith Is Hardwired into Our Genes. Nova York: Doubleday.

(2002) "Great Expectations: The Evolutionary Psychology of Faith Healing and the Placebo Effect". pp. David. The Values of Scien ce: Oxford Amnesty Lectures. New Scientist.: Westview Press. Hopson. FalkeJ. Nova York: Norton. Hauser. People. C. J. 1997. (1777) The Natural History of Religion. Sam. (Publicado nos Estados Unidos com o título Leaps of Faith: Science. Washington. Robert A. São Paulo: Unesp. DC: National Academies Press. Horner.A Scientific Approach to Religion. . Hinde. 429-448. (2004) The End of Faith: Religion. Journal of Personality and Social Psycholog. Hill. Peter C.: Religious Education Press. Scientific American. n. Lora V. Boulder. L. n. 336-343. (1984) "The Nesting Behavior of Dinosaurs". (1996) The Evolution of Communication. (1995) Soul Searching: Human Nature and Supernatural Belief. (Ed. Marvin. Marc. (1999) Why Gods Persist. Annual Review of Ecology and Systematics.: MIT Press.Harris. Chip. vol. 29 (junho). 1957 (originalmente composto em 1757. Gordon. bras. 900904. Hume.: História natural da religião. Nova York: Henry Holt. Londres: Chatto and Windus. (1950) Dianetics: The Modem Science of Mental Health. Harris. Bry. (1988) Science as a Process. Mass. Hood Jr. 250. 255-285..: Stanford University Press. e R. (1999) "What Shall We Tell the Children?". pp. Ala. Bell e E. G. A. . pp. vol. E. Health Sciences Policy (HSP) Board. Stemberg. W. (1978) "Nature s Psychologists". pp. 81. Hull. Em Wes Williams (org. Heath. Nova York: HarperCollins. Colo. Chicago: University of Chicago Press. J. Londres: Routledge. (1993) Culture.). Root (org. (1998) "Host-Microbial Symbiosis in the Mammalian Intestine: Exploring an Internai Ecosystem". 8. 4. pp. Em H. R. Bio-Essays. . Miracles. vol. vol. Cambridge. Nature: An Introduction to General Anthropology. Tenorism and the Future of Reason. I. 1028-1041.). Los Angeles: American Saint Hill Organization. Calif. . Em The Mind Made Flesh: Essays from the Frontiers of Evolution and Psychology. vol. (1977) "Relative Brain Size and Behavior in Archosaurian Reptiles". pp. 4. (2001) "Emotional Selection in Memes: The Case of Urban Legends". David. and the Searchfor Supernatural Consolation [Nova York: Copernicus. Oxford: Oxford University Press. (2000) Wild Minds: What Animais Really Think. 1999] ) . Nicholas. Lafayette Ronald. com publicação póstuma em 1777). Hooper. 30_I37Hubbard. 2005) Humphrey. (1999) Measures of Religiosity. Stanford. (2003) Unequal Treatment: Confronting Racial and Ethnic Disparities in Health Gare. P. 20.

Ray.. S.newcriterion. Kahnemann. Koestler.com/archive/14/oct95/dennett. Evolution. (1948) Sexual Behavior in the Human Male. (2004) Contribuição para o World Question Center (Annual Edge Question de 2004: "Qual é a sua lei?"). Johannes J. 22 de outubro.org/q2004/qo4_printr. Jeffrey. http://www.edge. pp. L. Klaus K. Londres: Granta Books. Daniel. William. Iyengar. Koenig. 25 de outubro. Em R. Alfred C. Iannacone. (1994) "Why Strict Churches Are Strong". (1996) "Daniel Dennett s Dangerous Idea". NY: SUNY Press. 815-831. (2004) "Is God in Our Genes?". Kinsey. Time. Journal of Political Economy.). João Paulo 11. B. (1959) The Sleepwalhers. Klostermaier. NY: Cornell University Press. Filadélfia: W. Discurso do papa para a Academia Pontifícia de Ciências.htm. Ithaca. vol. (1953) Sexual Behavior in the Human Female. 2 (outubro). Jackendoff. Nova York: Oxford University Press. (Ed. . Julian. Saunders. vol. (1992) "Sacrifice and Stigma: Reducing Free-Riding in Cults. (1976) The Origins of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind. 271-291. Communes. 62-72. Albany. Grammar. E. (2000) Handbook of Religion and Health. (2001) "Religion as a Hard-to-Fake Sign of Commitment". Kluger. Meaning. 81. pp. and Other Collectives". (1996) "A verdade não pode contradizer a verdade". Marek. São Paulo: Ibrasa. Em Martin Marty (org. pp. E. G. vol. pp. vol. Saunders. McCuIlough e D. Philip. 1982. Harold. James. Nova York: Russell Sage Foundation/MIT Press. 100. (1902) The Varieties of Religious Experience. Jansen. Irons. (1999) As We Knou> It: Coming to Terms with an Evolved Mind. B. (2002) Foundations of Language: Brain.).: Os sonâmhulos. Johnson. (1997) The Dual Nature of Islamic Fundamentalism. Larson. Oxford: Oxford University Press. 1180-1211. (2000) Well-Being: The Foundations of Hedonic Psychology. (1994) A Survey of Hinduism. n. Disponível em http://www. bras. New Criterion. 1961) Kohn.). B. 2'ed. . . pp. American Political Science Revieu'. M. Nova York: Penguin. 99.html. 292-309. American Journal of Sociology. Filadélfia: W. 15. Nesse (org. Schwarz (orgs. (1987) "Television News and Citizens' Explanations of National Affairs". Jaynes. William. Arthur. Boston: Houghton Mifflin. Diener e N. Londres: Hutchinson.

pp. (1978b) "Coyote Vocalizations: A Lexicon and Comparisons with Other Canids". Z. 163. Lehner. (2003) "Differences in Breast Câncer Stage. New York Review of Books. Leslie. .back". 2003) Lakoff. Brown. 13. S. Daling.com/prayin.-C..). (1996) Thought Contagion: How Belief Spreads Through Society. (1974) "Radical Interpretation". bras. (1962) The Structure of Scientific Revolutions. (1950) "The Comparative Method in Studying Innate Behavior Patterns".tocephalus Solidus of Its Intermediate Host.: A estrutura das revoluções científicas. (2004) Don t Think of an Elephant! Know Your Values and Frame the Debate. M. Alan. Oxford: Oxford University Press. LoBue. C. 194. K. vol. Li. Robert. (1979) Gaia.viour. Thomas. 412-426. J. Brown (orgs. Em J. Prayer". Psychological Review.). Philip N. the Threespine Stickle. Lawson.-C. Richard. (Ed. São Paulo: Perspectiva. Animal Behavior. Synthese. George.-C. and Management.: Chelsea Green Publishing. G. 331-344. Lynch. C. Em Marc Bekoff (org. N. Disponível em Lorenz. Bell (1993) "Phenotypic Manipulation by the Cestode Parasite Schis. Longman. American Naturalist. . 49-56. Nova York: .. Coyotes: Biology. e Michael A. Thomas e R. Lewis. vol. Physiological Mechanisms in Animal Behavior. p.Kuhn. Gasterosteus aculeatus. Malone e J. (1987) "Pretense and Representation: The Origins of Theory of Mind". Kao e S. 38-40. Archives of Internai Medicine. Lewontin. Treatment.spiritome.tr. David. 725-735. and Survival by Race and Ethnicity". 142. (2003) "Contribution of Incense Burning to Indoor PM10 and Particle-Bound Polycyclic Aromatic Hydrocarbons Under Two Ventilation Conditions". Cambridge: Cambridge University Press. K. 18 de novembro. pp. Lovelock. São Francisco: HarperCollins. Lung. Cambridge: Cambridge University Press. pp. Chicago: University of Chicago Press.html. vol. (2002) Bringing Ritual to Mind: Psychological Foundations of Cultural Forms. Hu. Cambridge: Cambridge University Press. (2004) "Dishonesty in Science". vol. Oxford: Oxford University Press. vol. 2001. pp. Carl P. McCauley (1990) Rethinking Religion: Connecting Cognition and Culture. Vt. (1978a) "Coyote Communication". (2000) "Intercessory http://www. 94. 26. Kevin e G. Lewis. 712-722. Behavior. Danielli e R. Indoor Air. Nova York: Academic Press. pp. S. E. (2002) Sense and Nonsense: Evolutionary Perspectives on Human Beha. Laland. pp. 27. (1952) Mere Christianity. E. vol. White River Junction. C. Aaron.

(2000) The Mating Mind: How Sexual Choice Shaped the Evolution of Human Nature. 6" ed. São Paulo: Roca. R. Laurence. L. Ernst. bras. McCleary. William H. Religion and Science.Basic Books. The Hydrogen Energy Transition. primushot. Disponível em http:// users. Mayr. Mahadevan. e F. Amin. 265-284. Maalouf. Melton. Projeto sobre religião. e V. John. Miller. Nova York: Doubleday. disponível em http://econ. DeKalb: Northern Illinois University Press. and Economic Incentives". Nova York: St. 1984) Maynard Smith.kr/bk21/notice/ uploads/Religion_and_Economic_Growth.). Gordon.pdf. (2004) What Makes Biology Unique? Considerations on theAutonomy of a Scientific Discipline. Moore. (1978) The Evolution of Sex. (1966) Human Sexual Response. Mithen. Mass. (2003) The Trouble with Islam. 25. (2002) "Neural Economics and the Biological substrates of Valuation". Damnation. (1982) The Growth of Biological Thought. Johnson. vol. Montague. R. vol. . Nova York: Arca. pp.: Weatherhead Center. 39. 227-233. Mass. Oxford: Oxford University Press. Harvard University. McCleary. (1977) "Parental Investment: A Prospective Analysis". artigo do trabalho n. Steven. (2002) Wondrous Healing: Shamanism. (2003) "Salvation. . Berns. Animal Behaviour. J. J.ms 8c Wilkins.de Publishing. Geoffrey. McClenon. MacCready. Rachel M.: A resposta sexual humana. Martins. (2004) "The Case for Battery Electric Vehicles". Rachel M. Masters. Manji. 10. Paul. Cambridge: Cambridge University Press.korea. Cambridge: Cambridge University Press. (1996) The Prehistory of the Mind: The Cognitive Origins of Art. James. Human Evolution and the Origin of Religion. Neuron. 1-9. Harvard University.: Harvard University Press. economia política e sociedade. pp. artigo. pp. 36. Cambridge. J. (Ed. e G. P. com/ india/ ejvs. (1982) The Miracle of Theism: Argumenta For and Against the Existence of God. e R. P. Em Daniel Sperling e James Cannon (orgs. vol. . Mackie. (2001) In the Name of Identity: Violence and the Need to Belong. Electronic Journal of Vedic Studies. (1994) Selling Cod: American Religion in the Marhetplace of Culture. Detroit: Gale Group. Cambridge.ac. Staal (2003) "The Turning-Point in a Living Tradition". Nova York: Lippincott/Willia. Barro (2003) "Religion and Economic growth". (1998) Encyclopedia of American Religions. Irshad. Nova York: Academic Press. Londres: Thames and Hudson.

2006) Palmer. e L. (1999) Tawer of Babel: The Evidence Against the New Creationism. DC. Mass. Nietzsche.Nova York: Oxford University Press. Nova York: Random House. National Academy of Sciences. 2 vols. inverno. bras. (2004) "Cargo Cults". (Ed. Friedrich. Panikkar. (2000) "Native Evil". Cambridge. (2004) Evolution: From Molecules to Ecosystems. Delhi: Three Essays Press. Disponível em http://www.bbc. Maryknoll. B.co. Boston College Magazine. DC: Needham. conforme reportagem no Evening Star. . Andrés e E. Robert. (2003) Prophets Facing Backwards: Postmodem Critiques of Science and Hindu Nationalism in índia. Evolution and Cognition. Trad. (1972) Belief. p. Meera. Rodney. Raimundo. Rause. (1999) Science and Creationism. . Oliver. CraigT. Chicago: University of Chicago Press. Andrew. Hans. Nova York: Ballantine. National Academy Press. NJ: Rutgers University Press. (1989) The Silence of God: The Answer of the Buddha. Oxford: Oxford University Press. Thomas. Mark (org. Nova York: Vintage. Washington. Newberg. (2001) Why God Won't Go Away: Brain Science and the Biology of Belief. Nova York: Russell Sage Foundation. Language and Experience.: Harvard University Press. Nanda. Font. Moya. Moravec. (2003) Faith Seeking (resenha de Denys Turner). Pagel. Daniel Patrick. Elaine.). Moynihan. Washington. Oxford: Oxford University Press. A5. Rio de Janeiro: Objetiva.). 1967. p. (1970) Memorando ao presidente Nixon sobre a situação dos negros. 2* ed. vol. MotDoc. Steadman. Times Literary Supplement. pp. Kathleen. Walter Kauflnann. Nagel. New Brunswick. Simon.. Randolph (org. Norris. 138-145. 14 de novembro. (2002) Breaking the Spell of Dharma and Other Essays: A Case for Indian Enlightenment. (2004) "With or Without Belief: A New Approach to the Defi.nition and Explanation of Religion".uk/dna/h2g2/ A2267426. E. (2001) Evolution and the Capacity for Commitment. (1988) Mind Children: The Future ofRohot and Human Intelligence. DAquili e V. NY: Orbis Books. Oxford: Oxford University Press.: Os evangelhos gnósticos. 2 de março. (1979) The Gnostic Gospels. Pennock. 32. 10. Nesse. Pagels. (1997) The Last Word. (2002) Encyclopedia of Evolution. (1887) On the Genealogy of Morais.

Blakeslee. pp. São Paulo: Companhia das Letras. Orians e H. (1992) Sex and Reason. Meaning and Religion. Mass. Posner. 515-526. (1996) "Darwin. Mark. 79-87. Michael. Pyysieainen. 23. S. Alvin. Daniel. Synthese. (2003) Unintelligent Design. Armei. pp. Pyper.Journal of Theoretical Biology. Mind and Meaning". O. Rappaport. Vilayanur.ral Basis of Religious Experience".Cambridge. Quine. Steven. Cambridge: Cambridge University . 188. Arnherst. (1960) Word and Object. 1.: Harvard University Press. Iragui. . Pocklington. (1997) "The Neu.: North Atlantic Books. 413-417. 7" ed. 1997. Behavioral and Brain Sciences. C. Exum e S. Purves. Sheffield: Sheffield Academic Press. Ilkka. (1998) Phantoms in the Brain: Probing the Mysteries of the Human Mind. Bíblica Studies and Cultural Studies. (2003) The Folk Physics of Apes: The Chimpanzees Theory of How the World Works. (no prelo) "Memes and Cultural Viruses". (2001) How Religion Works: Towards a New Cognitive Science of Religion. G. Cambridge. pp. Hirstein. vol. C. (1979) Ecology. vol. Perakh. W. (Ed. (1994) The Language Instinct. e S.: MIT Press. Cambridge. Moore (orgs. Richmond. bras. vol. 27. Mass. H. October. Nova York: Morrow. Pinker. D. pp. Nova York: Morrow. (1974a) "Comment on Donald Davidson". Sunderland. Synthese. William K. H.. . Best (1997) "Cultural Evolution and Units of Selection in Replicating Text ". Richard. NY: Prometheus Books. DC: Society of Neuroscience.). E. K. 1998) Plantinga. n. Washington. maio-jun. Sadava. Hugh (1998) "The Selfish Text: The Bible and Memetics". Premack. Oxford: Oxford University Press. Heller (2004) Life: The Science of Biology. V. Richard. Ramachandran. Nova York: Norton. Roy A. Leiden: Brill. L. Books and Culture. (1974b) "Comment on Michael Dummett". E. Mass. Persinger. Richard e M. 325-330. D.: MIT Press. 27. 519. Tecornka e V. Em J. (1997) How the Mind Works. (1999) Ritual and Religion in the Making of Humanitry. Mass. David e G. W. Nova York: Praeger. Freeman. Em Encyclopedia of the Social and Behavioral Sciences. (1987) Neurophysiological Bases ofGod Belief. Calif. Artigo apresentado na Annual Conference of the Society of Neuroscience.: Como a mente funciona. Ramachandran. pp. Woodruff (1978) "Does the Chimpanzee Have a Theory of Mind?". . vol. Pocklington.: Sinauer and W. 70-90. . V.1. Povinelli. vol.

vol. 1956. Schwarz. Seabright.vatican. L. D. Clore. (2000) Space Between Words: The Origin ofSilent Reading (Figurae Reading Medieval). (2005) Religion is NotAbout God. São Paulo: Companhia das Letras. (1993) The Red Queen: Sex and the Evolution of Human Nature. and Psychopathology. C. Nova York: Knopf. Disponível em http://www.: Um antropólogo em Marte.nytimes. 2000) . (1994) The Origin of Language. (1995) An Anthropologist on Mars. (2004) "Pray and Grow Rich". and Judgments of Well-Being: Informative and Directive Functions of Affective States". cardeal.ton: Princeton University Press. http://www. Oliver. Amherst. Stanford. Andy Rooney. Rougement. pp. Mass. Rubin.: Desenvolvimento como liberdade. Chicago: Aldine. 2" ed. Nova York: Knopf. Sen. Sacks. Ross. Paul. bras. Sablins. The NewYorher. (1995) Animal Behaviour. NJ: Rutgers University Press. (2004) The Company of Strangers: A Natural History of Economic Life. (1990) The Corruption ofReality: A Unified Theory of Religion. Misattribution. Prince. (Ed. Kelefa. Mark. Ridley.: Stanford University Press. Ruhlen. Marshal. Loyal. Rue. Ratzinger. 11 de outubro. Matt. Merrit. (1983) "Mood. (1944) Le Part du Diable. bras. (1972) Stone Age Economics. Hypnosis. 7 de julho de 2005. Denis de. (1999) Development as Freedom. 45. Schumaker. (Ed. Nova York: John Wuey & Sons. (1995) Memory in Oral Traditions. Christoph. e G. Cambridge. Nova York: Public Affairs. Andy.va/ romafLcuria/congregations/cfaith/ documents/. 2006) Saenger. Nova York: Macmillan. Haakon Chevalier com o título The Devils Share. Nova York: Meridian Books. (1999) Sincerely. Amartya. Rooney.Press.c0m/2005/07/ 07/opinion/o7Schonborn. 48-57. Trad. Calif. Don. Declaração ratificada pelo papa João Paulo 11 em sessão plenária de 16 de junho de 2000. Ridiey. NY: Prometheus Books.: MIT Press. N. (2000) "Dominus Iesus: sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja". Boston: Blackwell Scientific Publications. html. (2005) Economic Theory and Cognitive Science: Microexplanation. pp. Sanneh. Paul. 513-523. Schõnborn. São Paulo: Companhia das Letras. New Brunswick. (2005) "Finding Design in Nature: The Catholic Churchs Official Stance on Evolution". John F. Nova York: Oxford University Press. Journal of Personality and Social Psychology.

Sulloway. Kramer (1969) "Hypnotic Susceptibility as a Function of the Prestige of the Hypnotist". i. março. Dan. Sperber. Niall. (2004) Theological Incorrectness. Journal of Experimental Psychology. Oxford: Oxford University Press. (2004) God. Em Aunger (org. Nova York: A. Slone. 401-403. Manuscrito' janeiro de 2005. pp. Mitchell. Annals of Behavioral Medicine. pp. 127. 251256. 24. Vt. Christopher.: Steerforth Press. . (1991) Net of Magic: Wonders and Deceptions in índia. Shanks. Wilson (1998) Unto Others: The Evolution and Psychology of Unselfish Beha. NovaYork: Viking Penguin. Cambridge: Cambridge University Press. Sloan. Raja. Shriver. Oxford: Blackwell. the Devil. Skepticism and the Search for God. 28-35. ( no prelo) An Optional God: Secular Reflections on New Jewish Theology. Sharlet. Michael e F.: Harvard University Press. pp. Shehadeh. 168-172. (2003) Love and Other Games of Chance. 53-58. Cambridge: Cambridge University Press. and Darwin: A Critique of Intelligent Design Theory. 6 de outubro. vol. Mass. pp. p. . Shermer. F. Annals of Internai Medicine. (1985) On Anthropological Knowledge. S. Sober. . pp. 16 de janeiro. New Republic. Silver. Bagiella. (1996) Explaining Culture: A Naturalistic Approach. pp. 38. 14-21. Freeman/Owl Book. Shermer. Maurice M. . International Journal of Clinicai and Experimental Hypnosis. 17. B. Richard P. Elliott e D. (1975) Rethinking Symholism.). Michael. (2000) "An Objection to the Memetic Approach to Culture". (1997) "Ethnic Variation as a Key to the Biology of Human Disease". Siegel. ci. Chicago: University of Chicago Press. (1948) "'Superstition' in the pigeon". n. vol.. Darwinizing Culture. Lee. Jeffrey. pp. Jason. (no prelo) "Religion and Belief in God". . vol.vior. (2003) How We Believe: Science. Shea. (2003) "Democracy and Its Global Roots". 163-173. W. (2003) "Jesus Plus Nothing". Oxford: Oxford University Press. Skinner. South Royalston. Harpers Magazine. Small. Mark D. e E. 2' ed. e E. (2005) "Big Picture Guy: Does Megaselling Scientist-Historian Jared Diamond Get the Whole World Right?". (2002) Strangers in the House: Coming ofAge in Occupied Palestine. vol. Nova York: Fordham University Press. The Boston Globe. (2002) "Claims About Religious Involvement and Health Outcomes". Cambridge.

E. Jeff Todd. NJ: Erlbaum. Em N. Finke. Wilson Bulletin. 193-210. (2004) "Proscribed Forms of Social Cognition: Taboo Trade-Offs. Bainbridge. Bainbridge e D. Tetlock. and Heretical Counterfactuals". Sociological Analysis. 60. Taubes. Relational Models Theory: A Contemporary Overview. vol. (1988) "Illusion and well-being: A Social Psychological Perspective on Mental Health". .. pp. Mass. P. Berkeley: University of Califórnia Press. Berkeley: University of Califórnia Press. 15. vol. 142-161. pp. (1948) "Social Releasers and the Experimental Method Required for Their Study". (1996) Born to Rehel: Birth Order. pp.: Harvard University Press. (1959) "Comparative Studies of the Behaviour of Gulls (Laridai): A Progress Report". Trends in Cog nitive Science. Jessica. Stark. and Creative Lives. S. Oxford: Blackwell. 2536. A.) Political Reasoning and Choice. D. 347-459. vol. (2003) "Thinking the Unthinkable: Sacred Values and Taboo Cognitions". Mahwah. and Song in an Appalachian . Princeton: Prince. (1988) Powerhouse for Cod: Speech. (1986) Relevance: A Theory of Communication. vol. Nova York: HarperCollins. Stem. Spong. 103. (1998) Why Christianity Must Change or Die. Psychological Bulletin. Gary. McGraw e O. 40. Sulloway. Berkeley: University of Califórnia Press.Sperber. Behaviour. Rodney e R. Forbidden Base Rates. Frank J. vol. Kim. (1979) "Cults of America: A Reconnaissance in Space and Time". W. 7.2545Taylor. Stark. Wilson. Chant. Science. pp. Stark. Family Dynamics. Brown. (1985) The Future of Religion: Secularization. S. Niko. Rodney e W. Titon. Sterelny. Kristel. Haslam (org. M. 291 (30 de março). Popkin (orgs. Philip. (1987) A Theory of Religion. Em S. . (2001) One True God: Historical Consequences of Monotheism. Dan e D. Rodney. pp.ton University Press. 320-324. Lupia. pp. Revival and Cult Formation. (2003) Thought in a Hostile World: The Evolution of Human Cognition. pp. S. Tinbergen. Cambridge. John Shelby. 1-70. (1999) "Coping with Trade-Offs: Psychological Constraints and Political Implications". . (2000) Acts ofFaith: Explaining the Human Side of Religion. McCubbins e S. Nova York: Pantheon. (2001) "The Soft Science of Dietary Fat". vol. Stark. 6-52. Nova York: HarperCollins. Doyie. R. P. (2003) Terror in the Name of God: Why Religious Militants Kill. Tetlock. e J. Philip. Nova York: David Lang.).

. Carr e C.Baptist Church. Wilson. 17. (2003) "Protective Association of Genetic Variation in Alco. pp. Oxford: Oxford University Press. Elie. T. S. American Journal of Psychiatry. Mass. Alan. Western Folklore. L. vol.: Gerecor. . Wall. L. Don. 4. Michael. pp. 33. n. n. (1992) Natural Selection: Domains. and the Nature of Society. (2003) The Transformation of American Religion: How We Actually Live Our Faith. Tomasello. Thomas.: Harvard University Press. Nova York: Random House. (1988) Machiavellian Intelligence. Religion. Wilson. Wolfe. Sober. Edis (2004) Why Intelligent Design Fails: A Scientific Critique of the New . 215. 10-23. Nova York: Free Press. Separata. David Sloan e E. vol. (1999) The Cultural Origins of Human Cognition. Call. Tomasello. Steven. G. (1966) The Gates ofthe Forest. vol. David Sloan. Williams. Wiesel.I. Cambridge. Oxford: Blackwell. Harvey. Ehlers. Ludwig. George. (1997) Machiavellian Intelligence.. (2000) Arguments and Icons. Oxford: Oxford University Press. L. Wittgenstein. (2002) Darwins Cathedral: Evolution. Leveis. (1972) Souls on Fire: Portraits and Legends ofHasidic Masters. 1 (i°. II: Extensions and Evaluations. (1997) Primate Cognition. Andrew e R. (2003) Facing Up: Science and Its Cultural Adversaries. . Cambridge: Cambridge University Press. (1995) "Handaxe Enigmas". 1982. Oxford: Oxford University Press. Byrne (orgs. 41-46. (1953) Philosophical Investigations. Oxford: Clarendon Press. Young. Behavioral and Brain Sciences. pp. Cambridge. pp. 160. Chicago: University of Chicago Press. Rinehart 8c Winston. Austin: University of Texas Press. Oxford: Oxford University Press. vol. . Michael e J. 27. (1966) Adaptation and Natural Selection.hol Dehydrogenase with Alcohol Dependence in Native American Mission Indians". Mass.: Harvard University Press. World Archeology. Whiten.). 585-654. de janeiro). Whitehouse. Wynne. Yoder. Ltd. Matt e T. (1995) Inside the Cult: Religious Innovation and Transmission in Papua New Guinea. (1994) "Re-Introducing Group Selection to the Human Behavior Sciences". and Challenges. Nova York: Holt. Weinberg. Princeton: Princeton University Press. (1974) "Toward a Definition of Folk Religion".

P. 28 de julho. International Symposium on Biological Evolution. NJ: Rutgers University Press. g-i4April 1985. Zahavi. Bari: Adriatici Editrici. Science. pp. Carl. New Brunswick. Delfino (org. 305-327.).tionism. Em V. 525526. pp. (1987) "The Theory of Signal Selection and Some of Its Implications". (2000) "Parasites Make Scaredy-Rats Foolhardy". . A.Crea. Zimmer. Bari.

.

nascido em 1942. Mora em North Andover. em Medford. Massachusetts. nos Estados Unidos. entre outros livros. DENNET.AUTOR DANIEL C. . É autor. de A PERIGOSA IDÉIA DE DARWITI e TIPOS DE MENTES (Rocco). é professor universitário de filosofia e co-diretor do Center for Cognitive Studies at Tufts University.