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Tendam, Hans - Panorama Sobre A Reencarnação Vol. 1 (1993)

Descrição: Uma das qualidades importantes deste livro é que sua leitura mostra claramente que a reencarnação não deve ser vista só como uma crença religiosa mas também como um fenômeno. Diante do grande acúmu...

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UMA 1NVESTIGAÇAO RECENTE E SUA RELAÇÃO COM A TY P Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) TenDam, Hans, 1943Panorama sobre a reencarnação, v. 1: uma investigação re­ cente e sua relação com a T. P. V. / Hans TenDam; [tradução de Leonardo Freire de Carvalho Gianella]. — São Paulo: Summus, 1993. “ Publicado por acordo com a Associação Brasileira de Te­ rapia de Vida Passada.’’ Obra em 2 vol. Bibliografia. ISBN 85-323-0439-7 1. Psicoterapia 2. Reencarnação e psicoterapia L Associa­ ção Brasileira de Terapia de Vida Passada II. Título. 93-2929 CDD-615.852 índices para catálogo sistemático: 1. Terapias de vivências passadas: Terapias psíquicas 615.852 si e a : tfg!|g|M A IN V E S IlC ^ A ^ p Illl e s u a r e í ^ c ã o c:d m a t v p VOL. í Do original em língua inglesa EXPLORING REINCARNATION Copyright © 1993 by Hans TenDam Publicado por acordo com a Associação Brasileira de Terapia de Vida Passada (ABTV) Tradução de: Leonardo Freire de Carvalho Giannella Capa de: Ettore Bottini Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, sem o prévio consentimento da Editora. Direitos para a língua portuguesa adquiridos por SUMMUS EDITORIAL LTDA. Rua Cardoso de Almeida, 1287 05013-001 — São Paulo, SP Telefone: (011) 872-3322 Caixa Postal 62.505 — CEP 01295-970 que se reserva a propriedade desta tradução Impresso no Brasil Sumário Apresentação da edição brasileira............... Prefácio da edição brasileira........................ Introdução....................................................... Prefácio; A origem e o objetivo deste livro 9 ll 13 17 Parte I: Idéias 1. A hipótese da reencarnação 25 Seis fontes modernas da crença na reencarnação; Literatura re­ cente; A hipótese da reencarnação comparada a outros concei­ tos; Explicações alternativas da recordação de vida passada; Con­ clusões provisórias; Leitura adicional. 2. A história e a distribuição geográfica da crença na reencar­ nação........................................ .................................................. 51 Culturas primitivas; Religiões orientais; As culturas clássicas; Judaísmo, cristianismo e islamismo; Movimentos gnósticos, mís­ ticos e esotéricos; História moderna ocidental; Visão geral pro­ visória; Leitura adicional . 3. Doutrinas reencarnacionistas esotéricas; as visões da teosofia e da antroposofia................................................................ 75 Teosofia; o conceito de evolução monádica; o eu superior e o eu inferior; individualidade e personalidade; da morte ao nasci­ mento; intermissão e mudança de sexo; carma; reencarnações 5 de pessoas conhecidas; recordação de vida passada; carma, reencarnação e desenvolvimento espiritual; comentários finais. Antroposofia: o conceito antroposófico da evolução da humani­ dade; entre a morte e o nascimento; intermissão e mudança de sexo; leis cármicas e relações gerais entre as vidas; exemplos de carma; recordação de vida passada: pesquisa do carma; reencamação e carma no desenvolvimento social; comentários finais: o paradoxo gnóstico; Leitura adicional. 4. Informação metapsíquica sobre vidas passadas................... 99 O relacionamento entre memórias de vida passada e habilida­ des paranormais; Pessoas com impressões paranormais de suas próprias vidas passadas; Informação paranormal sobre vidas pas­ sadas de outros; Idéias gerais entre os desencarnados sobre a reencarnação; Anúncios de reencarnações; Obsessões e reencarnação; Conclusões provisórias; Leitura adicional. Parte II: Experiências 5. Recordação espontânea de vidas passadas............................ 121 Sinais de vidas passadas; Recordação espontânea em adultos; Reconhecimento de lugares à primeira vista; Reconhecimento de pessoas à primeira vista; Recordação em sonhos; Recorda­ ção desencadeada por objetos, pinturas ou livros; Recordação desencadeada por situações similares; Recordação sob circuns­ tâncias extraordinárias; Recordação em adultos: um resumo; Re­ cordação espontânea em crianças: exemplos tirados do traba­ lho de Ian Stevenson; Casos de crianças: resumo; Leitura adi­ cional. 6. Regressão induzida a vidas passadas ................................ 143 Grau de regressão; Revivência e regressão avidas passadas; Hip­ nose e transe em regressões; Objeções à hipnose; Lembrança de vida passada induzida pela imaginação; Regressão pelo magne­ tismo; Acessos alternativos a vidas passadas; A memória de vi­ da passada; Leitura adicional. 7. Experiências antes e durante o nascimento ...................... 167 A preparação para uma encarnação; A progênie e a gravidez; O nascimento; O momento do nascimento e o mapa astral: as6 trologia cármica; Após o nascimento: primeira infância; Con­ selho a futuros pais, o estupro e o aborto; Leitura adicional. 8. A experiência da morte e além dela....................................... 193 O que acontece quando você morre? O trabalho de Crookall; Experiências de morte clínica temporária; Diferentes tipos de ex­ periência de morte durante as regressões; O papel da intermissão no ciclo reencarnatório; Leitura adicional. 9. Experiências insólitas: o passado distante, o futuro, experiên­ cias não humanas....................................................................... 215 Memórias do passado distante, civilizações mais avançadas e ou­ tros planetas; Encarnações não humanas; Identificação em vez de encarnação; Progressões ao futuro; Conclusões provisórias; Leitura adicional. Glossário........ .................................................................................. 231 Bibliografia...................................................................................... 247 7 Apresentação da edição brasileira Conheci Hans Wolfgang TenDam há alguns anos, quando já ti­ nha boa experiência em Terapia de Vida Passada (TVP). Ele estava oferecendo à Associação de Terapia de Vida Passada, da qual eu era o presidente, um curso de aperfeiçoamento sobre o assunto. Disseramme que era um psicólogo holandês que estava há cerca de um ano no Brasil, e realmente estranhei que uma pessoa de um país que tão pouco se interessava por reencarnação pudesse nos ensinar algo de novo. Como alguns colegas afirmavam que, de fato, valia a pena ouvi-lo, formamos um grupo de interessados, todos médicos ou psi­ cólogos, e o convidamos. Devo dizer que fiquei sinceramente sur­ preendido com a quantidade de idéias novas e originais que ele nos transmitiu naqueles poucos encontros. Além disso mostrava ser uma pessoa delicada, profundamente sensível e, sem dúvida, portador de poderosa cultura, tanto teórica como prática. Hoje eu o considero um dos maiores especialistas da atualidade em pesquisas reencarnatórias e terapias regressivas. Por essa razão, quando fui convidado a escrever esta apresentação aos leitores brasileiros, acedi prontamente, e senti-me honrado pelo convite. Hans é sem dúvida um escritor es­ piritualista, mas jamais se prendeu a uma filosofia ou religião que pudesse impor viseiras. Portanto, permite-se analisar, com a mesma imparcialidade, tanto pesquisas científicas como crenças místico-religiosas. Um fato que demonstra, de forma clara, é que inúmeras cren­ ças bastante arraigadas entre nós são absolutamente falsas. Por exem­ plo, que as doutrinas reencarnatórias tenham sua origem apenas na índia ou na China. Discute também o fato de as regressões em ses­ são de terapia serem sempre realizadas com o paciente em estado hip­ 9 nótico. Eu pessoalmente, como hipnólogo com longa experiência no assunto, nem sempre me permito afirmar em que momento um pa­ ciente está em hipnose, visto que desde Mesmer, o pai do hipnotis­ mo moderno, ninguém conseguiu realmente determinar o que seja esse estado de consciência alterada que permite dilatar a mente e, portanto, a Consciência em lato sensu. Lamentavelmente, ainda nos dias atuais há quem acredite que a hipnose estreita a consciência, tra­ zendo uma série de perigos. Esse fato perturbou durante muitos anos a evolução da hipnologia e da Psicoterapia. A Terapia de Vida Pas­ sada veio mostrar que a passagem do nível de consciência corriquei­ ra a um estado de transe é algo que se passa num contínuo, e que então a mente dilatada atinge memórias muito mais profundas do que aquelas que uma psicanálise em plena vigília possa alcançar. Uma das qualidades importantes deste livro é que sua leitura mos­ tra claramente que a reencarnação não deve ser vista só como uma crença religiosa mas também como um fenômeno. Diante do grande acúmulo de conhecimentos e pesquisas na atualidade não podemos mais desqualificar aquilo que não queremos ver. Também não po­ demos desprezar o fato de que a recuperação de certas memórias que não parecem pertencer à vida atual, quando bem trabalhadas em TVP, liberam pacientes de inúmeras patologias psíquicas e físicas. Enfim, mesmo que nem tudo que é recordado por pacientes em terapia possa ser atribuído à “provável reencarnação” , a descrença como parti pris empobrece, sem dúvida, a análise científica. Hans, neste livro, mostra as inúmeras teorias que procuram es­ clarecer aqueles “ conhecimentos” que parecem inexplicáveis, tanto do ponto de vista reencarnatório como de inúmeros outros, e duvi­ do que depois da leitura cuidadosa desta obra você, leitor, por mais “materialista” que se considere, voltará a ser o mesmo diante desse enorme mistério universal. Lívio Tulio Pincherle Médico, psicoterapeuta e membro didata da Associação Brasileira de Terapia de Vida Passada 10 Prefácio da edição brasileira É uma honra e um prazer ver meu livro traduzido num país e num lugar de que gosto tanto. O Brasil é um país especial no campo da reencarnação. Nenhum povo acredita tanto no assunto como os brasileiros. É o país onde as raízes do espiritismo de Kardec se fazem presentes. Valorizo o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, muito mais do que seus outros livros, O Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo. Este livro procura dar um panorama crítico, porém aberto, so­ bre reencarnação. Muitas vezes o leitor constatará que não concor­ da com o meu julgamento, mas poderá buscar as fontes, uma vez que sempre forneço as referências. Esta tradução é uma iniciativa dos meus colegas brasileiros, os terapeutas da Associação Brasileira de Terapia de Vida Passada. A gente já se conhece. Naturalmente, o trabalho maior é do tradutor, Dr. Leonardo Giannella, que considero de bom senso e feito com amor. Obrigado! Estou recolhendo novas experiências e novas pesquisas para in­ cluir futuramente em uma nova edição. Um panorama sério deve ser atualizado, quando se trata de um campo tão dinâmico. Hans TenDam Zeist, Holanda, dezembro de 1992 ll Introdução De todos os assuntos agrupados sob o título geral de “paranormal” , como a telepatia, a percepção extra-sensorial, a precognição etc., a reencarnação parece ser de longe a mais duvidosa e contrária à razão e a menos aceitável para pessoas de bom senso. Certamente essa era minha própria impressão, quando ao final dos anos 60 uma editora americana pediu-me para escrever um livro sobre “ o ocul­ to” . Para dizer a verdade, estava inclinado a achar que todo o as­ sunto era provavelmente o resultado de fantasias e anseios. Mas ao dedicar-me a um estudo sistemático dos fenômenos paranormais, essa visão rapidamente se alterou; percebi que muitas testemunhas con­ fiáveis garantiam a sua realidade. Andrew Lang assinalou que a maio­ ria das pessoas que vêem fantasmas não é histérica, mas “ segura, não imaginativa, não excitável, e têm apenas aquela experiência ex­ cêntrica” . O filósofo Leibniz foi uma das muitas pessoas que viram o Padre José de Copertino levantar-se do solo enquanto orava, flu­ tuando como uma gaivota, enquanto cientistas, poetas e filósofos testemunharam Damil Dunglas Home realizar proeza similar no sé­ culo XIX. A conclusão parece inevitável; os seres humanos possuem “ poderes” dos quais normalmente estão inconscientes mas que po­ dem ser liberados em um certo estado não habitual de consciência. A definição de “paranormal” impressionou-me tanto racional quanto compreensivamente — uma simples extensão de nosso reco­ nhecimento de que grandes artistas, em momentos de inspiração, po­ dem produzir trabalhos que têm o toque do super-humano. Contudo, no momento devido — quando aproximadamente três quartos do livro The Ocult estavam completos — confrontei-me com o problema do “reino dos espíritos’' e da vida após a morte. Quando cri­ 13 ança me interessei pelo espiritualismo — minha avó participava de uma igreja espiritualista —, mas decidi, quando tinha mais ou me­ nos dezesseis anos, que tudo aquilo era pura superstição. Agora, quan­ do me dedico ao estudo das evidências, tenho de admitir que aquela era uma visão super-simplificada e que, em alguns casos, a evidên­ cia da vida após a morte é positivamente esmagadora. Senti-me um pouco constrangido ao ter de admitir que algumas das evidências eram muito poderosas, porém num certo sentido bastante irrelevantes pa­ ra a minha tese central sobre os “poderes ocultos” do ser humano. Após escrever sobre a evidência da “ sobrevivência” , terminei o ca­ pítulo com um rápido pós-escrito sobre o assunto da reencarnação. Achei isso ainda mais constrangedor, pois parecia ir contra a nossa sensata crença de que a nossa personalidade é, em larga escala, pro­ duto de nosso corpo e de nossa herança genética. Em um estágio avan­ çado de minha pesquisa, deparei-me com um livro do professor Ian Stevenson, Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação (1966), e fiquei profundamente impressionado. A menos que Stevenson fosse um men­ tiroso ou que tivesse distorcido sua informação com total desrespei­ to à precisão, então certamente a evidência da reencarnação era tão poderosa quanto a da telepatia ou da percepção extra-sensorial. Su­ perficialmente, alguns dos casos parecem absurdos: Um menino chamado Ravi Shankar, nascido em julho de 1951, deu detalhes de seu assassinato em uma existência prévia; isso pode explicar a continuação da memória (pois ser assassinado deve ser po­ sitivamente uma experiência memorável); com seis anos de idade foi assassinado e decapitado por um parente (auxiliado por um cúmpli­ ce), que esperava herdar a propriedade do pai da criança. Ravi Shan­ kar tinha de fato uma cicatriz no pescoço, parecendo uma grande ferida de faca. Outra criança chamada Jasbir afirmava ter sido um homem que ingeriu doces envenenados e que morreu devido à queda de uma carroça, com ferimentos cranianos. E assim por diante, cada caso aparentemente mais inacreditável que o anterior. Mesmo assim, a documentação de Stevenson é per­ feita, e é apresentada com uma exatidão que lembra uma tese socio­ lógica. Desde então deparei-me com vários outros casos, virtualmente acima de qualquer crítica. Mesmo assim, embora depois tenha escri­ to livros sobre assuntos paranormais que me interessavam profun­ damente — espíritos turbulentos, psicometria, vida após a morte —, evitei o desafio de escrever um sobre a reencarnação, não só porque a quantidade da pesquisa envolvida é desencorajadora, mas porque ainda sou incapaz de enquadrar a reencarnação em meu quadro ge­ ral do paranormal. Por isso, quando um amigo em Amsterdã me disse 14 que um psicólogo holandês havia escrito o mais completo livro so­ bre a reencarnação e que possuía um capítulo traduzido em inglês, ansiosamente o solicitei. Quando o li, escrevi para Hans TenDam e insisti para que conseguisse a tradução restante, de tal modo que eu pudesse encontrar uma editora britânica interessada. Quando ele por fim me escreveu dizendo que o livro tinha sido aceito, fiquei tão feliz como se tivesse sido um de meus livros. Considero ser este o grande trabalho sobre a reencarnação; é di­ fícil imaginar que seja superado. Nos anos recentes houve muitos tra­ balhos impressionantes e ponderados sobre a reencarnação — em es­ pecial o vasto livro de Stevenson, Cases o f the Reincarnation Type (1975-83), o livro de Ruth Reyna, Reincarnation and Science (1975) e um número de notáveis estudos de “regressão hipnótica” , tais co­ mo Encounters wiíh the Past, de Peter Moss e Joe Keeton (1979). Esses livros não são vulneráveis à objeção como o são outros ante­ riores, como os de Joan Grant, que podem ser facilmente descarta­ dos como mera fantasia romântica ou auto-ilusão, mas ainda assim seus autores podem ser atacados, considerando-se que estão clara­ mente comprometidos emocionalmente com o assunto. No capítulo 9 deste volume, Hans TenDam ressalta: “ O leitor que não acredita na reencarnação, mas que conseguiu chegar até aqui na leitura, ficará feliz de observar que mesmo minha credibilidade tem limites” . Pareceme que todo o mérito do livro está em não reforçar a credibilidade. É óbvio que Hans TenDam aceita a realidade da reencarnação — sei disso por conversas com ele —, mas não escreveu como um cren­ te e sim como um desapegado observador que só deseja apresentar a mais completa visão de um vasto assunto. Alguns leitores podem achar a abordagem dos primeiros capítulos um tanto fria e desape­ gada mas, se persistirem, irão se sentir ricamente recompensados. Tanto quanto é possível tornar a reencarnação plausível, TenDam tornou-a. Colin Wilson 15 Sobre as referências de texto As referências de texto dão o nome do autor e o ano da primeira edição de cada livro, a fim de propiciar uma clara estrutura histórica para o desenvolvimento de idéias sobre a reencarnação. As indicações de página, contudo, podem referir-se a uma edição mais recente e ainda disponível do livro, que estará mencionada na bibliografia. Por exem­ plo, (Jinarajadasa 1915; 12) refere-se à página 12 da 8? edição, de 1973, do livro de Jinarajadasa, originalmente publicado em 1915. 16 Prefácio: A origem e o objetivo deste livro O assunto da reencarnação está em ascensão. Muitos livros no­ vos foram escritos sobre ela e trabalhos mais antigos estão sendo reimpressos. Isso não surpreende, considerando o crescente interesse ge­ ral em assuntos espirituais. Para alguns, é o anúncio de uma virada para uma sociedade mais espiritual, possivelmente sob a proteção de Aquário. Para outros, assinala a superstição que surge durante os períodos de transição. Nietzsche já batizou o nosso tempo de “era da superstição” , embora considerasse tais períodos de declínio cul­ tural como bases para o individualismo superior. A reencarnação é um assunto controvertido; portanto, este é um livro controvertido. Assuntos desse tipo são com freqüência ataca­ dos ou defendidos com argumentos irrelevantes e inapropriados. A confusão, a especulação, as emoções e as insinuações não atraem exa­ tamente ajuda para que se tornem menos controvertidos. Por que a reencarnação é controvertida? Talvez por pertencer a uma área de pensamento altamente sensitiva, a terra de ninguém entre a religião e a ciência. Antigamente o conhecimento pertencia à teologia, à filosofia ou ao gnosticismo intermediário. Uma pessoa reflexiva, que tentasse descobrir a verdade sobre si mesma e sobre a condição humana, voltava-se para essas três formas de especula­ ção. A tensão principal nessa abordagem clássica ficava entre o conhecimento-revelação, obtido em estados especiais a partir de um nível mais elevado da realidade, e o conhecimento-dialético, molda­ do pelo intelecto humano racional. O surgimento da ciência moder­ na criou uma nova tensão, ou seja, aquela entre a pura atividade in­ telectual e o exame sistemático de fenômenos observáveis. As ciên­ cias em expansão usaram o instrumento dialético da razão humana 17 para aprimorar sua própria metodologia e criar mecanismos mate­ máticos para analisar e testar a estrutura dos fenômenos. A ciência descobriu que muitos conceitos antigos eram obsole­ tos, irrelevantes ou simplesmente impossíveis de ser provados. Mas muitas questões humanas importantes, temporariamente ou em prin­ cípio, pareciam impossíveis de ser examinadas cientificamente. A ques­ tão sobre o significado da vida, apenas para mencionar um pequeno exemplo, foi deixada para a religião. No curso do tempo, uma divi­ são territorial definiu-se mais ou menos claramente, mas com uma grande dose de irritação de ambos os lados e sem uma clareza abso­ luta, como mostra a questão do aborto ou a tentativa de proibir o ensinamento da teoria da evolução nas escolas, pois entraria em con­ flito com o significado literal do que está na Bíblia (como se houves­ se significado literal). Mesmo assim, aconteceu no século XIX uma divisão geral de territórios. O natural coube à ciência e o espiritual, à religião e aos filósofos. Quando as pessoas se deparavam com fenômenos situa­ dos entre ambas, reagiam com alarme, irritação, indignação e repú­ dio. O primeiro desses fenômenos foi o magnetismo animal, intima­ mente relacionado ao que conhecemos hoje como hipnose. Na épo­ ca, o assunto foi eficientemente enquadrado. Considerado uma for­ ça natural semelhante à recém-descoberta eletricidade, foi colocado dentro do campo da ciência e da experimentação como um processo natural comum, e não um assunto religioso. A ciência, então, arquivou-o como sugestão, desse modo declarando-o normal, por­ tanto insignificante e ilusório. Esse ardil intelectual apenas há pou­ co tempo deu passagem a uma consideração mais séria sobre o fenô­ meno. O espiritualismo foi o segundo desmancha-prazeres. Para as men­ tes científicas ele sugeria um retorno à idade das trevas, os religiosos ficavam alarmados com o fato de os mistérios da vida e da morte tornarem-se de repente objetos de experimentação. Uma área sujei­ ta a uma pressão tão grande de ambos os lados facilmente cai vítima da confusão, o que contribui para sua própria ruína. Mesmo assim, o espiritualismo saiu-se melhor que o magnetismo. Inúmeras pessoas continuam a acreditar e a praticar o espiritualismo. Como conseqüên­ cia das guerras, muitas pessoas de ambos os lados da divisão deseja­ ram estabelecer um contato. Após a Primeira Guerra Mundial o es­ piritualismo desfrutou um enorme ressurgimento. Foi o espiritualismo que desencadeou a parapsicologia, uma dis­ ciplina que aos olhos de muitos cientistas é um tanto duvidosa. Mui­ tos a rejeitam freqüentemente com opiniões absurdas. 18 O hipnotismo recentemente ganhou maior aceitação e atenção científicas, e o magnetismo original nunca foi completamente rejeitado. A terceira onda de fenômenos que se recusou a ser engavetada foi o explosivo aumento, durante as últimas duas décadas, da recor­ dação de vida passada. Em um certo sentido, a reencarnação é um ressurgimento do magnetismo, pois inicialmente o mais importante instrumento de recordação de vidas passadas foi o magnético e o hip­ nótico. De certa maneira a reencarnação também assinala uma volta ao espiritualismo, como este livro mostrará. Destaca-se da maioria dos outros assuntos espirituais, místicos e ocultos devido ao seu crescente campo de evidências empíricas. Pro­ liferam relatos de pessoas que dizem se lembrar de vidas passadas, quando levadas a um estado adequado de consciência. Terapeutas de vida passada encontram-se pela primeira vez, e em meia hora des­ cobrem experiências e desafios comuns, comprazendo-se com o mesmo tipo de discussão (às vezes calorosa) que profissionais de outras no­ vas disciplinas perseguem. A regressão hipnótica tem sido há longo tempo o principal ins­ trumento para as recordações de vida passada, mas está sendo ra­ pidamente substituída por métodos que a evitam ou que empregam somente um leve transe indutor, propiciando às pessoas, algumas vezes em poucos minutos, uma vivida recordação de episódios de uma vida passada. Isso torna a reencarnação não mais um assunto de fé corrente (religião) ou de fé nas revelações e insights do ilumi­ nado ou iniciado (gnosticismo), mas uma área da experiência hu­ mana. Contudo, muitos livros, reeditados com freqüência, ainda usam argumentos filosóficos para tornar a reencarnação plausível. Ou eles citam pessoas famosas, ou referem-se a religiões tradicionais e auto­ ridades espirituais, ou aos iniciados mais recentes (mesmo eles pró­ prios). Embora essa literatura seja interessante, seu principal valor é apenas histórico. O material empírico impresso atualmente abran­ ge cerca de dez mil regressões de duas mil pessoas. O material não publicado, na forma de tapes ou anotações realizadas por profissio­ nais da área, chega a três vezes essa quantia. E, estando esses traba­ lhos em processo, isso significa que mesmo esses números se torna­ rão rapidamente desatualizados. Pessoas que têm memórias aparentes de suas próprias vidas pas­ sadas constituem uma área de experimentação como outra qualquer. Não devemos duvidar que essas experiências sejam o que declaram ser, assim como também não devemos acreditar que estejam além de uma sóbria análise e apreciação. Aceito facilmente as recordações 19 de vidas passadas, pois eu mesmo tive experiências desse tipo e por centenas de vezes observei outras pessoas tendo-as, mas não as to­ mo como evangelhos. Devíamos nos sentir agradecidos pela transição de um tema da esfera da revelação e fé para a esfera da experiência, embora, infe­ lizmente, não sejam atalhos para a verdade. Como outras áreas da experiência humana, os fatos são ricos, divergentes, algumas vezes confusos, algumas vezes contraditórios, geralmente incertos e super ou subestimados ou distorcidos por preconceitos. Contudo, quando um grande número de pessoas tem experiências similares, padrões podem ser descobertos. Num estágio desses, um vasto inventário e um estudo classificatório são muito mais úteis do que o minucioso estudo de casos individuais. Por exemplo, podemos olhar para as si­ milaridades e diferenças. Aparecem padrões? Como devem ser in­ terpretados? Qual a hipótese mais aceitável? Certamente existem padrões interessantes nos dados que emer­ gem das experiências de vida passada. Em meio à confusão e às in­ certezas, um número de tendências tornam-se visíveis, e são elas que este livro tenta esboçar. Com o peso das evidências aqui relatadas, concluo que se trata de uma área empírica altamente interessante, cujo valor prático e teórico é muito grande. Este estudo pretende che­ gar a uma estrutura conceituai que esteja de acordo, ou pelo menos que não entre em conflito, com os fatos empíricos até o momento coletados. Obviamente, por ser o assunto recente e imaturo, parti­ cularmente em se tratando de publicações e estudos, as conclusões autorizadas são apenas experimentais. Mas, com o peso do material existente e um pouco de reflexão, muitas idéias antigas sobre a reen­ carnação podem ser investigadas. Se ela existe, ou se existe apenas numa certa forma, pelo menos isso ficará claro após a leitura deste livro; muitas idéias sobre a reencarnação são incorretas ou absurdas. Farei muitas referências específicas tanto à literatura mais anti­ ga quanto à mais recente sobre o assunto, de modo que o leitor pos­ sa consultar as fontes por si mesmo e tirar as próprias conclusões. O livro descreve idéias existentes e as práticas, e testa outras idéias que vão contra o material empírico disponível no momento. O cres­ cente corpo de evidências refuta muito do que se pensava sobre a reencarnação e especialmente sobre o carma. Novas idéias serão de­ senvolvidas, e que parecem se ajustar melhor aos fatos conhecidos. O primeiro livro que dá um tratamento solidário, porém analí­ tico, sobre o assunto é The Problem o f Rebirth, de Ralph Shirley (1924). O segundo desse estilo é Reincarnation, Based on Facts, de Karl Müller (1970). O terceiro é Reincarnation: Ancient Beliefs and 20 Modem Evidence, de David Christie-Murray (1981). O meu livro di­ fere desses em três aspectos; 1. Na extensão e profundidade da pesquisa na literatura atual. 2. Na inclusão de experiências e experimentos recentes de regressão, e a ascensão da Terapia de Vida Passada como uma disciplina psicoterapêutica eficaz. 3. No desenvolvimento de paradigmas e teoria de acordo com o ma­ terial empírico. Na refutação de muitas idéias especulativas, reli­ giosas e esotéricas. Até o momento, Gina Germinara foi a única autora que fez ten­ tativas úteis de formular uma teoria, porém seu trabalho limitou-se efetivamente às leituras de Cayce. Este livro refere-se extensivamen­ te a estudos de casos, mas não faz narrativas extensivas de casos de regressão, terapia e recordação espontânea. Mais especificamente ele destaca; 1. Uma comparação sistemática e a avaliação racional e empírica das hipóteses sobre corpo-alma, estendendo-se do materialismo à metempsicose. 2. Um tratamento sistemático de todas as interpretações da aparen­ te recordação de vida passada. 3. Referências extensivas. 4. Argumentos racionais e empíricos, em vez de tratamentos místi­ cos e esotéricos. 5. Introdução a novos paradigmas relativos aos níveis de regressão, experiências de morte, tipos de conexões entre vidas, tipos de pa­ drões de reencarnação, planejamento de vida, ego-inflação etc. 6. Uma explanação teórica de aparentes vidas como animais. 7. Uma teoria da personalidade de acordo com o fenômeno da reen­ carnação. 8. O primeiro tratamento completo das técnicas de regressão, abran­ gendo as não hipnóticas. 9. Uma estrutura consistente para a Terapia da Vida Passada. As duas primeiras partes são um sumário da literatura existen­ te. A terceira e quarta parte dão minha própria análise e interpreta­ ção do material de vida passada. Os capítulos 6 e 7 do segundo volu­ me basearam-se amplamente em minha experiência pessoal como te­ rapeuta de vida passada e nas experiências de colegas. Os vários desenvolvimentos no campo, incluindo minha própria prática, autorizam um livro à parte sobre a metodologia da Terapia de Vida Passada. Estou trabalhando nele. 21 PARTE l Idéias L A hipótese da reencarnação Muitas pessoas acreditam na reencarnação ou consideram a idéia aceitável. Normalmente a associamos aos hindus ou aos budistas. A reencarnação é considerada uma típica idéia oriental, e supõem-se que praticamente todas as pessoas da índia acreditam nela. Essa no­ ção é tão comum quanto incorreta. Muitos habitantes das cidades indianas têm familiaridade com a idéia, mas a maioria dos campo­ neses jamais ouviu falar a respeito. Além do mais, as idéias sobre a reencarnação, na índia, são bastante contraditórias. Muitos india­ nos acreditam no carma; o comportamento na vida anterior deter­ mina esta vida. Mas o que dizer daqueles que acreditam que seus úl­ timos pensamentos determinam sua próxima vida ou, mais que isso, que sua vida presente depende de sua família contar com as pessoas certas, executando os rituais certos, com a remuneração certa na oca­ sião de sua morte? Os ocidentais que acreditam na reencarnação, dramatizando uma posição minoritária, normalmente consideram que 99% dos euro­ peus não acreditam nela e a consideram uma superstição asiática (veja, por exemplo, Desjardins 1977; 22). Mas a situação no Oci­ dente também difere daquilo que imaginamos: a crença na reencar­ nação é comum. Em 1969, Gallup colheu opiniões de católicos e pro­ testantes de dez países ocidentais, questionando-os sobre assuntos religiosos, inclusive a reencarnação (Head e Cranston 1977: 486). Na Holanda, 10% acreditam na reencarnação, 55% não acreditam e 35% não sabem, colocando a Holanda entre os países com menor número de crentes. A percentagem dos crentes na reencarnação é a seguinte; 25 Holanda Suécia Noruega Inglaterra EUA 10% 12% 14% 18% 20% Áustria Grécia França Alemanha Oc. Canadá 20% 22% 23% 25% 26% Pessoas religiosas presumivelmente são mais inclinadas a acre­ ditar na reencarnação do que outras. Mas então, novamente, a reen­ carnação não é parte da fé cristã. Muitos a consideram como algo conflitante com essa fé. Nos últimos quinze anos o número de cren­ tes na reencarnação provavelmente cresceu, devido à tendência ge­ ral que favoreceu as idéias espirituais alternativas. Uma pesquisa de opinião pública do Sunday Telegraph, em 1979, indicou que 2897o dos ingleses adultos acreditam na reencarnação. Em 1980, The Ti­ mes indicou 29% (Fisher 1985). Isso significa um aumento de 10% em dez anos, desde 1969. Em 1982, uma pesquisa de opinião pública da Gallup indicou que 67% dos norte-americanos acreditam na vida após a morte e 23% na reencarnação. Em 1978, uma pesquisa da principal emissora de televisão do Brasil indicou que 78% dos brasi­ leiros acreditam na reencarnação. Eles superam todos. Portanto, há muita gente que acredita na reencarnação. Por quê? Sem dúvida a maioria acredita porque foi educada para isso. Mas, em última análise, as crenças são baseadas em experiências, refle­ xões e argumentos que convencem as pessoas de sua plausibilidade. Limitando-me aqui às fontes dessa crença nas sociedades ocidentais, examinei a literatura publicada sobre o assunto nos últimos 150 anos e mostrarei quais as visões de mundo e as filosofias que aderem a ela. O próximo capítulo trata das ocorrências em outras culturas. O capítulo 3 descreve as filosofias da reencarnação de duas importan­ tes escolas do pensamento esotérico. Seis fontes modernas da crença na reencarnação A tradução de textos sânscritos feita por volta de 1820 levou à descoberta da cultura clássica indiana, as primeiras fontes da crença na reencarnação em nossa sociedade. Embora relativamente poucas pessoas tenham lido esses textos, sua influência foi enorme. O sânscrito provou ser a língua mais antiga do grupo indo-europeu e assim a cultura indiana forneceu a retrospectiva mais antiga de nosso pró­ prio passado cultural. Max Mueller traduziu e estudou muitos textos indianos antigos e muito fez para popularizá-los. Textos hindus clás­ sicos influenciaram inúmeros pensadores, enquanto o budismo influ­ 26 enciou muitos outros, tal como Schopenhauer, que definiu a Europa como o continente dominado pela incrível idéia limitada de que a reencarnação não existe. Contudo, a principal descoberta foi que a índia aparentemente é o berço do pensamento europeu. A segunda fonte da crença na reencarnação está no espírita fran­ cês Allan Kardec. Ele convenceu-se de que os médiuns realmente se comunicavam com os mortos, e que alguns deles davam respostas sensatas a perguntas sensatas. Questionou exaustivamente vários mé­ diuns sobre as condições do outro lado e deparou-se com o assunto da reencarnação. Seu famoso trabalho, O Livro dos Espíritos (1857), contém muitas perguntas e respostas sobre o assunto. Suas idéias foram vigorosamente desafiadas. Em primeiro lugar, muita gente não acreditava em tais métodos. Em segundo, muitos dos que acreditavam, ao fazerem perguntas sobre o assunto, recebiam diferentes respostas dos mortos. Grupos espiritualistas que aceitavam a reencarnação receberam comunicações a respeito dela, e outros que a rejeitavam receberam comunicações desprezando-a. Isso criou uma confusão tão grande entre os encarnados que provocou uma cisão no mundo espiritualista internacional. Os “ espíritas” acreditam na reencarnação e os “ espiritualistas” não. A maioria dos grupos in­ gleses e norte-americanos foi convertida ao espiritualismo, que refu­ tava a reencarnação, enquanto outros, como os brasileiros, influen­ ciados principalmente por Kardec, aceitaram-na. Alguns consideraram o espiritismo de Kardec revelador, mas ou­ tros criticaram ferozmente o método e o conteúdo de seu trabalho. A principal crítica era que sua forte personalidade influenciava os médiuns por sugestão. Mas se seus livros retratam as sessões espíri­ tas com precisão, a maioria das questões dificilmente era sugestiva. Entrevistar médiuns em transe, contudo, permanece um método dis­ cutível. Consultar médiuns e anotar suas respostas é, em si, um pro­ cedimento interessante, mas dificilmente pode ser considerado co­ mo uma pesquisa séria. Curiosamente, contudo, seu trabalho é o único livro sobre a reencarnação, antes de 1911, que se ajusta surpreen­ dentemente ao moderno material empírico de regressão. A terceira importante fonte de crença na reencarnação foi a teosofia, que provavelmente fez mais que o espiritismo de Kardec para difundir a visão da reencarnação e tornar o conceito aceitável. Pelo menos em seu apogeu, era mais cosmopolitana e socialmente ativa, e tinha mais prestígio cultural e intelectual que o espiritismo. Blavatsky proporcionou as bases para as publicações, enquanto Annie Besant e, acima de todos, Leadbeater as elaboraram. Eles serão dis­ cutidos no capítulo 3. A teosofia está ligada à filosofia indiana, como revela o título de um dos primeiros trabalhos teosóficos, Esoíeric Buddhism, de Sinnett (1883). De acordo com os líderes teosóficos, os “ Mestres” que 27 inspiraram o movimento vivem nos Himalaias. Conseqüentemente, a ascensão da teosofia renovou o interesse pela cultura e religião in­ dianas, até mesmo na própria índia. A teosofia é gnóstica, esotérica e seu conhecimento é revelado num estado mental elevado a pessoas especiais e preparadas. A dis­ ciplina espiritual leva à travessia de uma passagem conhecida como iniciação, que dá acesso direto à verdade ou àqueles que a conhe­ cem. O conceito de reencarnação dos teosofistas é mais místico e gran­ dioso que o de Kardec. A maior crítica que fazem ao trabalho de Kardec é que lhe falta uma visão esotérica e maior compreensão do carma. De acordo com Shirley, Allan Kardec teve uma influência con­ siderável no desenvolvimento do pensamento teosófico, embora os teosofistas jamais o tenham reconhecido (Shirley 1924; 173). A teosofia gerou um grande número de outras escolas gnósticas. Muitas se autodenominam teosóficas e outras trabalham sob seus próprios nomes, freqüentemente fictícios. Uma dessas escolas, pro­ vavelmente a mais séria, foi a antroposofia de Rudolf Steiner, com doutrinas próprias sobre a reencarnação e o carma. Existe uma abun­ dante literatura de propaganda gnóstica. A literatura é gnóstica se tiver sido escrita por pessoas que tiveram acesso a fontes internas de conhecimento. Um gnóstico não acredita em absorver as opiniões de uma outra pessoa (conhecimento de segunda mão), mas sim em ter acesso pessoal às fontes de conhecimento imediato (conhecimento de primeira mão). Se uma pessoa desenvolver suficientemente seu sen­ so interior, poderá alcançar a verdade por si mesma. Tecnicamente falando, isso implica um profundo desenvolvimento da intuição e uma limitação do intelecto para elaborar o que é revelado intuitiva­ mente. Um gnóstico valoriza seu insight interno acima das revela­ ções tradicionais de outros, mas também acima das evidências sensoriais e argumentações sensatas. O que os gnósticos pensam é sempre similar ao que pensam os outros gnósticos, e ainda assim sempre diferente. Eles aconselham o uso de seus conceitos e receitas gnósticas para adquirir conheci­ mento de primeira mão e descobrir por eles próprios o que o mestre gnóstico já descobriu. Como resultado desse paradoxo, toda litera­ tura gnóstica é propaganda. Os gnósticos são dirigidos pela intuição superior e não pela observação e intelecto. As visões teosóficas e especialmente a antroposófica são gnósti­ cas, como as visões de outros escritores esotéricos autodeclarados (por exemplo, Lewis Spence e Max Heindel, dos Estados Unidos). Eles desencorajam pesquisas sobre o fenômeno de vida passada, de­ senvolvendo, em vez disso, teorias reencarnacionistas baseadas no insight e nas experiências interiores dos místicos, ocultistas e inicia­ 28 dos reconhecidos. Isso forma a base para a contínua reinterpretação da literatura e dos conceitos gnósticos existentes. Albert de Rochas, em Paris, desenvolveu uma quarta aborda­ gem, baseada em pesquisas, que se tornou a mais importante fonte de conhecimento de vida passada. Em 1898, Rochas notou que su­ jeitos colocados em transe eram inteiramente capazes de recordar ex­ periências passadas. Descobriu também que poderia até mesmo instruílos a voltar para a primeira infância e o nascimento. Quando fez com que seus sujeitos regredissem ainda mais, eles tiveram experiências claramente oriundas de vidas passadas (Rochas 1911). Seu trabalho despertou grande interesse entre os teosofistas. O coronel Olcott, um dos membros fundadores do movimento teosófico, visitou Rochas e ficou impressionado com seus experimentos. Maurice Maeterlinck, famoso escritor teosófico, devotou espaço para Rochas em seu livro sobre a morte. Mesmo assim os teosofistas pouco fizeram com o tra­ balho de Rochas, provavelmente por não ser um deles e não se ma­ nifestar a favor de uma escola de iniciados, mas simplesmente con­ duzir experimentos. Além do mais, ele descobriu um intervalo entre vidas de apenas décadas, o que é fortemente contraditório à doutri­ na teosófica de intervalos de 1600, 1300 e 1200 anos. Tal como os teosofistas, os esotéricos também se opunham a ele, pois desaprovavam o uso do magnetismo ou da hipnose para colo­ car pessoas em transe. As pessoas nesses transes supostamente per­ dem seu ego e seu poder de julgamento, tornando-se passivas e sub­ missas, facilmente manipuladas pelo hipnotizador. Além do mais, elas,,precisam tornar-se menos dependentes e mais conscientes. Os espiritualistas também contestaram violentamente o trabalho de Ro­ chas, acusando-o de sugestão. Embora haja muito a ser dito acerca dessas visões, a crítica não é inteiramente justificada, em particular a noção de que um hipnoti­ zador influencia facilmente o conteúdo da regressão. Influenciar o que as pessoas vêem ou experienciam é comumente difícil, senão im­ possível. Com freqüência, uma pessoa em regressão não pode res­ ponder a perguntas simples sobre a época e a região em que vive, mesmo quando o hipnotizador ou qualquer dos presentes mentalmente grite para ela. Nas regressões, quando a consciência se torna dividi­ da ou elíptica (a consciência presente permanece intacta como observadora da vida passada revivida), mais tarde o regredido descre­ verá a ocorrência do grande conflito entre os dois estados de cons­ ciência em relação a alguma informação específica, e a inabilidade que a consciência presente tem de influenciar a parte que está recor­ dando uma vida passada. Bons exemplos são encontrados em Moss e Keeton (1979). 29 O trabalho de Rochas foi tão contraditório aos conceitos teosó­ ficos que ele nunca se firmou na teosofia. Mesmo os teosofistas que se impressionaram com ele mantiveram uma precavida distância. Van Ginkel (1917), por exemplo, achou que a regressão se tornaria um método para a recordação de vida passada no futuro. Outro esotéri­ co, Encausse, que escreveu seus trabalhos ocultos sob o nome de Papus, publicou por volta de 1920 La Réincarnation, um livro impres­ sionantemente abstrato e desconexo, onde apenas no final mencio­ na Rochas numa nota de rodapé, para dizer que seu trabalho é inte­ ressante. As descobertas de Rochas se aproximam muito mais das evidên­ cias empíricas modernas do que as de Kardec. Os sucessores de Rochas foram John Bjorkhem, da Suécia, e o psiquiatra Alexander Cannon, da Inglaterra. Cannon tinha prestí­ gio acadêmico: nove universidades européias outorgaram-lhe títulos. Cannon fez regressões em quase l 400 voluntários. Ele demorou para aceitar a reencarnação, mas admitiu, no final, que “ a reencarnação passou a perna em Freud” . O trabalho de Cannon estimulou Morey Bernstein (1956), cujo famoso caso, Bridey Murphy, despertou o in­ teresse moderno pela regressão e pela terapia da regressão. Pode ser um exagero a estimativa de Fisher de que a Terapia de Vida Passada foi responsável pela cura de centenas de milhares de pessoas (Whitton e Fisher 1986: 62), mas o número total pode estar em volta dos cem mil. A quinta fonte da crença na reencarnação foi Edgar Cayce, que operava a meio caminho entre o espiritualismo e a regressão hipnó­ tica. Por meio da auto-hipnose, Cayce punha a si mesmo em transe profundo, no qual atuava a partir de uma consciência expandida. Ele foi seu próprio inspirador e guia. Também dava informações a pessoas que buscavam conselhos para seus próprios problemas, ou de seus filhos, baseando-se nas experiências e lições de vidas passa­ das. Cayce respondia a questões gerais, inclusive reencarnação. Cen­ tenas de casos ilustram os conceitos de Cayce sobre a reencarnação. A principal razão de se levar isso a sério deve-se ao fato de as infor­ mações sobre casos individuais poderem, algumas vezes, ser checa­ das, e por suas outras declarações sobre as pessoas serem, quase sem­ pre, precisas, mesmo que ele jamais as tivesse conhecido. Em geral, ele alcançava grande sucesso ao aconselhar pessoas sobre saúde e pro­ blemas profissionais. Isso tornou-o mais convincente do que a mé­ dia dos sensitivos. Muitos livros contêm amostras de suas leituras sobre reencarnação e, particularmente, sobre carma. Os escritos de pessoas com recordações espontâneas de vidas pas­ sadas são a sexta fonte. O primeiro livro desse tipo a se tornar popu­ 30 lar foi WingedPharaoh, de Joan Grant (1937). Ela descreveu outras vidas em livros bastante acessíveis, fornecendo impressões vividas da vida em épocas primitivas. O seu aspecto espiritualista, freqüente­ mente com um trabalho terapêutico não intencional, e sua colabora­ ção com Denys Kelsey levaram também à Terapia de Vida Passada (Kelsey e Grant 1967). Joan Grant diz relativamente pouco sobre o mecanismo da reencarnação e sobre o carma, mas descreve vividamente as condições após a morte e a interação entre os encarnados e os desencarnados. Seconà Time Round, de Edward Ryall (1974), é um dos poucos livros de regressão que os investigadores do campo mais críticos le­ vam a sério. O despretensioso livro de Eis Brouwer dá uma impres­ são relaxante e agradável do que é recordar vidas passadas (Brouwer 1978). Esses livros em si não são provas convincentes de que a reen­ carnação existe, mas são ricos em fatos históricos obscuros que mais tarde foram confirmados. Estas, então, são as fontes modernas na crença ocidental da reen­ carnação; religiões indianas, espiritualismo, teosofia, seguidas por movimentos esotéricos similares, experimentos de regressão, Edgar Cayce e as recordações espontâneas de vidas passadas. Literatura recente A maioria das fontes mencionadas foi enriquecida com novas edições durante as últimas décadas. Pouca literatura espiritualista nova e importante sobre o assunto foi publicada, com exceção de Reincarnation, Based on Facts (1970), de Karl Müller e Reincarnation: Ancient beliefs and modem evidence (1981), de David ChristieMurray. Muller coletou um impressionante número de casos de re­ cordação de vida passada, incluindo os de fontes espiritualistas rela­ tivamente desconhecidas. Infelizmente, seu livro recebeu pouca atenção. Os teosofistas fizeram poucos trabalhos originais no campo da reencarnação e do carma. Sua preocupação principal foi aparente­ mente elaborar e popularizar seus livros básicos. Contudo, algumas pessoas inspiradas na teosofia escreveram livros interessantes para o público em geral. Em primeiro lugar, o famoso Reincamation: The Phoenix Fire Mystery (Head e Cranston 1977), um clássico, onde os autores compilam à exaustão praticamente todas as declarações feitas sobre a reencarnação por todo tipo de escritores, em todas as espécies de culturas, religiões e filosofias. Em segundo lugar, Ian Stevenson, talvez o único cientista autêntico a preocupar-se com o assunto, pes­ 31 quisou extensivamente casos de recordações espontâneas de vida pas­ sada em crianças. Eles foram relatados em uma série de livros im­ pressionantes (veja bibliografia). No capítulo 5 voltaremos ao seu trabalho. A maioria dos livros teosóficos, contudo, tenta tornar a reencarnação aceitável com argumentos gerais salpicados de insights teosóficos populares. As técnicas de regressão permaneceram dormentes até a publi­ cação do The Search f o r Bridey Murphy (Bernstein 1956). A histó­ ria desse livro merece outro livro. Ele foi impiedosamente revisado e, segundo a opinião do público, apropriadamente refutado. Entre­ tanto, a refutação foi, por sua vez, refutada, demonstrando clara­ mente que o livro de Bernstein foi vítima da terra-de-ninguém entre a Igreja e a ciência (veja, por exemplo, Cerminara 1967). Um cien­ tista pesou todas as evidências, contra e a favor, e concluiu que os fatos eram incontestáveis. Ele prosseguiu, explicando com a genero­ sa hipótese referente à superpercepção extra-sensorial, hipótese essa que jamais poderá ser refutada, sendo, portanto, tão inútil quanto imparcial (Ducasse 1960). Mesmo assim, o livro de Bernstein des­ pertou grande interesse pela regressão. Seu trabalho não foi inspira­ do em Albert de Rochas, mas em Alexander Cannon e, possivelmente, em Ron Hubbard, o fundador da dianética e da cientologia. Hubbard desenvolveu técnicas de regressão não hipnóticas, especialmen­ te orientadas para promover a saúde mental. A influência de Hub­ bard tem sido fundamentalmente indireta, desde que suas técnicas se aplicam dentro de uma estrutura organizacional rígida, protegi­ das pelo status da igreja, Copyright, pressões dos associados e ou­ tros procedimentos estritos. Contudo, muitos trabalhos têm sido feitos por ex-membros desse movimento. Em Cornwall, Arnall Blosham usou a hipnose para regredir pes­ soas a vidas passadas. Ele gravou as sessões e publicou Who wasAnn Ockenden? (1958), sobre as sessões de vida passada de um prolífico sujeito. Um programa de televisão da BBC examinou mais tarde um número dessas regressões que continha material historicamente veri­ ficável (Iverson 1976). Um outro inglês, Arthur Guirdham, também publicou um interessante material (veja bibliografia). Uma de suas pacientes tinha, desde a infância, recordações de fragmentos de sua vida como um catharista, em sonhos e transe espontâneo. Seu con­ tato com ela trouxe à superfície lembranças de sua própria vida pas­ sada, além de ter registrado as vidas passadas de um grande grupo de pessoas. Ele checou detalhes históricos com eruditos franceses e encontrou os nomes daqueles em questão nos registros da Inquisi­ ção, em Toulouse. A princípio, os historiadores refutaram, porém mais tarde verificaram alguns detalhes históricos. 32 A grande maioria das publicações modernas mais importantes são relatos de regressões induzidas principalmente por hipnose, mas também alcançadas apenas por meio do relaxamento e da visualiza­ ção. Alguns livros dão excelentes descrições de técnicas de indução, condutas e experiências dos sujeitos durante as regressões (Moss e Keeton 1979). Freqüentemente, os relatos são suplementados com verificação histórica dos dados das sessões (Underwood e Wilder 1975; Dethlefsen 1977; Langedijk 1980). O trabalho de Helen Wambach parece-me a ruptura mais im­ portante, mesmo que somente pela grande quantidade de casos. Ela regrediu com sucesso 90% de seus 1100 sujeitos, em cinco vidas di­ ferentes cada um, as quais ela analisa estatisticamente, produzindo sumários de aproximadamente 5000 regressões (Wambach 1978). Também regrediu pessoas a períodos imediatamente precedentes à encarnação atual. Aproximadamente 750 delas tiveram tais experiên­ cias, também classificadas estatisticamente (Wambach 1979). Mui­ tas pessoas descobriram que um relaxamento apropriado e a visuali­ zação provocam um leve transe, suficiente para recordar vidas pas­ sadas (Mareia Moore e outros). O experimento de Christos é um fa­ moso exemplo desse método (Glaskin 1974, 1978, 1979). Um interessante crescimento recente é a ascensão da Terapia de Vida Passada, uma forma de terapia regressiva em que pessoas revi­ vem experiências traumáticas de vidas passadas, a fim de resolver problemas presentes nelas originados (Netherton e Shiffrin 1978; Fiore 1978; Cladder 1983). Bastante interessante é o fato de o método de Netherton possibilitar que as pessoas recordem vidas passadas em poucos minutos, sem hipnose, relaxamento ou visualização. O capí­ tulo 6 deste volume e os capítulos 6 e 7 do segundo volume descre­ vem com mais detalhes essas técnicas e seus resultados. Outra conseqüência do renovado interesse em assuntos ocultos e espirituais é a reedição de muitos trabalhos relacionados, como, por exemplo, os de base teosófica e antroposófica. Outros livros tra­ tam da história do assunto, abordando noções religiosas do hinduísmo, budismo mahayana, jainismo, dos drusos, de várias tribos afri­ canas, indígenas etc. São baseadas em revelações dos fundadores de várias religiões, elaboradas teologicamente por seguidores importantes e inevitavelmente institucionalizadas em rituais. Além disso, há uma literatura sinóptica, que, em geral, sem desenvolver idéias próprias, tenta tornar a reencarnação aceitável ao referir-se a casos de recor­ dações de vida passada, oferecendo argumentos e citando pessoas famosas cuja crença na reencarnação não era de conhecimento pú­ blico. E, finalmente, há a literatura empírica que descreve experiên­ cias de vida passada, as quais tenta analisar e testar, quase sempre usando a estrutura conceituai da moderna literatura gnóstica. 33 Que argumentos se usam para tornar a reencarnação aceitável? Aqueles que consideram a reencarnação uma verdade só compreen­ sível aos iniciados, ou transmitida mediante a intuição de pessoas su­ periores, raramente usam argumentos intelectuais. É dito, simples e graciosamente, como as coisas funcionam, funcionaram e funcio­ narão. O leitor solidário e compreensivo é convidado a seguir os passos do escritor e descobrir a verdade dessas idéias no momento certo. Diametralmente opostos a esses argumentos gnósticos estão os em­ píricos, feitos com um caráter científico (embora, em geral, sem uma metodologia científica). Eles chamam a atenção para o fato de que muitas pessoas pensam ter recordações de vidas passadas, e que es­ sas recordações apresentam padrões e regularidades. O trabalho de Wambach (1978) é o melhor exemplo. Depois, existem os argumentos racionais. A racionalidade da hi­ pótese reencarnatória é sustentada, por exemplo, salientando-se que as pessoas começam suas vidas de uma maneira desigual, assim co­ mo desiguais são suas situações, o que dificulta conciliar com a jus­ tiça divina ou com a idéia de que apenas uma vida determinará nos­ sa bem-aventurança ou condenação eternas. Esses argumentos afe­ tam apenas as mentes religiosas. Outros, como os relacionados com crianças prodígios, são usados pelos materialistas, que pensam que tudo começa na concepção e termina na morte. Como crianças de quatro anos podem ser pianistas talentosas, ler latim ou ter outros talentos extraordinários? Uma forma indireta do argumento racio­ nal é salientar elementos irracionais nas outras interpretações. Uma forma clássica de argumentação é citar autoridades. Se tan­ tas pessoas maravilhosas, importantes, inteligentes e geralmente res­ peitadas acreditam na reencarnação, quem somos nós para rejeitála rudemente? Uma variante é demonstrar que ao longo da história a maioria das pessoas em quase todas as culturas acredita na reen­ carnação. Como você é a exceção, a obrigação de provar é sua, já que não acredita nela. O argumento favorito da literatura de propaganda gnóstica, usa­ do para preparar o não convertido para a verdade, é salientar a ra­ cionalidade inerente à reencarnação, referindo-se a autoridades e pes­ soas que ao longo da história acreditaram nela. São todas argumen­ tações de ingresso. Os que já acreditam na teosofia, antroposofia ou filosofias similares, poderão, então, ser introduzidos no lugar sagrado, onde o argumento é em termos teosóficos, antroposóficos ou outro termo esotérico. O mais sagrado dos sagrados é reservado àqueles que passaram, eles próprios, por experiências confirmatórias. Em es­ colas esotéricas, portanto, somente os iniciados ou os discípulos que estão pelo menos bem avançados no treinamento interior conseguem contemplar suas próprias vidas passadas ou as de outras pessoas. 34 A hipótese da reencarnação comparada a outros conceitos A idéia que as pessoas já viveram antes do nascimento e que po­ dem viver novamente após a morte será examinada aqui como uma hipótese, para ver aonde ela nos leva. Começamos com uma análise provisória, para descobrir quão aceitável ou fértil ela seria como hi­ pótese de trabalho. Comparemos a hipótese da reencarnação com hipóteses alternativas sobre a ligação entre o corpo e a alma e a questão da vida e da morte. Quais são as hipóteses gerais e em que medida a experiência humana as sustenta ou contradiz? A tabela 1 compara nove hipóteses gerais sobre o relacionamen­ to entre corpo e alma. A primeira é a do materialismo, que inclui todas as visões que rejeitam uma alma independente do corpo e re­ jeitam a vida e a consciência separadas do organismo físico. No ma­ terialismo, a mente é um subproduto do corpo. Pensamentos, senti­ mentos, emoções, planejamentos e consciência desenvolvem-se jun­ tamente com ele, e em todos os casos terminam na morte. Essa idéia ganhou sustentação durante o último século, embora Epicuro já ti­ vesse formulado um conceito similar e elaborado seu significado moral e suas conseqüências existenciais. Tabela 1 — Hipóteses sobre corpo-alma Materialismo Coletivismo psíquico Transferência Psíquica Espiritualismo: Criacionismo Traducionismo Geracionismo Preexistência Reencarnação Metempsicose Mente é subproduto do corpo Mente é energia vital temporariamente individualizada Mente vai do morto ao recém-nascido Nova alma criada por Deus Alma vem da cisão das almas dos pais Alma produzida pelos pais Existência prévia na alma mundial Encarnações humanas consecutivas Encarnações humanas e animais alternadas Escolhi o termo “coletivismo psíquico” para incluir todas as idéias ligadas à mente como tendo substância, sem ser uma entidade em si mesma, mas apenas uma entidade separada quando está no corpo (hu­ mano). Muitas culturas têm como certo que, na morte, a alma deixa o corpo, como um vapor ou nuvem de vitalidade, que é absorvida pela terra para dar nova energia vital às plantas, aos animais e seres humanos. Nessa visão, a alma é energia vital temporariamente indi­ 35 vidualizada no nascimento, quando se separa do campo psíquico que então a alimenta. Na morte, esse campo reabsorve a alma. Fechner oferece uma variante filosófica a essa visão (ver bibliografia). Um exemplo moderno do coletivismo psíquico é a teoria do ho­ landês que vive na França e fica perplexo ao ver que já conhece tan­ tos detalhes dos lugares onde jamais esteve. Como não deseja acre­ ditar em vidas passadas, explica o fenômeno pela idéia de que traços interconectados de experiências insuficientemente integradas com o restante da alma desprendem-se após a morte e começam a flutuar na atmosfera como fragmentos de brumas. Pessoas com uma psique similar podem captar esses fragmentos e levá-los consigo, como seu próprio conhecimento (Van Nes 1958: 111). Escolhi “transferência psíquica” como um rótulo genérico pa­ ra conceitos relacionados à doutrina Annata, do budismo, a qual pos­ tula que ao nascer as pessoas recebem padrões e características men­ tais e psíquicas deixadas por outros que morreram anteriormente. Após a morte, as características psíquicas resultantes retornam a um tipo de fundo geral para serem redistribuídas aos que estão para nas­ cer. Grosso modo, existem duas variantes: a herança psíquica é mais ou menos arbitrária, ou ela é herdada de uma pessoa específica que viveu previamente, sem que o recém-nascido tenha sido essa pessoa. Essa doutrina também tem seus seguidores hoje em dia. Ironicamente, alguns deles acusam Madame Blavatsky de propagar a hipótese er­ rônea da reencarnação por descuido e por má interpretação, quan­ do ela própria era, na verdade, crente convicta na transferência psí­ quica (Blavatsky 1886). A teosofia, contudo, como demonstram o trabalho de Arniie Besant e especialmente o de Charles Leadbeater (ver bibliografia), gradual, porém rapidamente, veio a aceitar o con­ ceito da reencarnação. A doutrina budista compara a sucessão de encarnações com uma vela acendendo outra. Elas se seguem, mas são bastante diferentes. O interessante nessa comparação é o intervalo. Afinal de contas, a reencarnação implica algum tempo entre uma vela se apagando e a outra sendo acesa. Se há uma continuidade, há uma chama entre as vidas e, por conseguinte, uma identidade provável. Rohit Mehta (1977) declara que a entidade que reencarna é um “composto psíquico-espiritual desenvolvido ao longo do tempo” que continua a existir de encarnação a encarnação. Não existe compul­ são, e portanto, no seu modo de ver, não há um fator constante que ligue uma encarnação à outra. Cada uma é nova e fresca, não con­ tém nada do passado e nada leva para o futuro. Diante disso, ele declara que a individualidade cria novas personalidades para comple­ tar a si mesma. Schopenhauer, profundamente influenciado pelo bu­ 36 dismo, declara que somente a vontade (vontade de quem? a própria?) reencarna (Head e Cranston 1977; 294). Qualquer um capaz de dar sentido a idéias tão desconexas será bem-vindo para explicá-las. Hazrat lnayat Khan, o fundador do sufismo moderno, revelou uma teoria que combina preexistência e transferência psíquica. A jor­ nada da alma até a terra e aonde vai encarnar é longa e cansativa. Por isso existem lugares para descansar ao longo do caminho. A jor­ nada ascendente do falecido também é longa e cansativa, e ele des­ cansa nos mesmos locais. As almas descendentes ouvem as histórias das almas ascendentes, e mais tarde pensam ser essas suas próprias memórias de vidas passadas (Van Nes 1958; 112). Isso parece ser ti­ rado de Platão. O capítulo 8 deste volume indica o absurdo das “jor­ nadas longas e cansativas” no estado desencarnado. O coletivismo psíquico e a transferência psíquica estão a meio caminho entre os pontos de vista do materialismo e os do espiritualismo. A abordagem espiritualista engloba todos os conceitos que consi­ deram a mente como uma entidade com existência separada, após a morte do corpo; a alma. As idéias espiritualistas podem ser classifi­ cadas segundo sua visão do destino da alma após a morte do corpo, ou o seu estado antes e durante o nascimento. A mais recente é a mais interessante. Três hipóteses espiritualistas supõem a criação da alma no nascimento: 1. O criacionismo afirma que a alma é criada por Deus (a partir de quê?) no nascimento. 2. O traducionismo afirma que durante a concepção física da crian­ ça partes das almas dos pais se separam e se unem em torno do em­ brião para formar a nova alma. 3. O geracionismo afirma que os seres humanos possuem um poder criativo especial, que de alguma forma os habilita a criar novas al­ mas durante um (bem-sucedido?) ato sexual. Aristóteles, por exemplo, apóia o criacionismo e Zeno, o tradu­ cionismo. Essas idéias, vindas da filosofia clássica, voltam a apare­ cer na teologia cristã. Se a alma não é criada na concepção ou no nascimento, ela já existia antes de a pessoa nascer. O que nos leva à idéia da preexistên­ cia: a alma existe antes do nascimento na alma mundial. Ela encar­ na em um corpo e, após a morte, retorna à alma mundial original, possivelmente aperfeiçoada ou deteriorada. Excepcionalmente é pos­ sível o retorno a um corpo. Essa idéia era amplamente aceita nos primórdios do cristianismo. A reencarnação presume almas huma­ 37 nas retornando muitas vezes a corpos humanos. O aspecto caracte­ rístico da metempsicose ou transmigração das almas é que almas hu­ manas podem também pertencer a animais. Podemos separar essas nove hipóteses gerais naquelas que são baseadas ou análogas à experiência humana, e nas que representam fabricações mentais, desconectadas de qualquer experiência. O ma­ terialismo, ao postular que a vida humana começa no nascimento e termina na morte, é nesse aspecto uma hipótese razoável. Muitas coisas na vida começam e terminam, e não ter contato com pessoas que ainda não nasceram ou que já morreram é uma das experiências mais intensas da vida. A hipótese do coletivismo psíquico, embora mais obscura, é também razoável nesse aspecto. Nosso mundo tem muitos fenômenos an logos, onde uma substância difusa (solução, vapor ou suspensão) pode ter temporariamente uma forma mais fi­ xa (num recipiente ou absorvida). À parte isso, as duas primeiras hi­ póteses variam consideravelmente quanto ao grau de aceitação. Coisas com um começo e um fim podem ser algo até mais abstrato, mas a hipótese materialista é também apoiada pela experiência humana real. São experiências reais a nossa ignorância sobre a criança em gestação e o grande impacto de se perder um amigo ou membro da família pela morte. O materialismo é por isso mais que uma analo­ gia intelectual; ele corresponde à experiência real. O coletivismo psí­ quico é mera analogia. É impossível imaginar a transferência psíquica, o criacionismo, o traducionismo e o geracionismo, pois nenhum deles é baseado em ex­ periência real. A doutrina Annaía budista tem pelo menos um embasa­ mento histórico, por ser uma reação ao rígido e mórbido carma e a dou­ trinas reencarnacionistas do bramanismo prevalecente na época de Buda. As outras três hipóteses são meras fabricações de filósofos e teólo­ gos que tentam responder a questões para as quais não têm respostas. Mais importante, contudo, é a questão de quais experiências con­ firmam ou contradizem claramente essas nove hipóteses. Cinco ti­ pos de experiências são relevantes neste caso: 1. Experiências de morte: pessoas que são ressuscitadas após algum tempo de morte clínica e contam sua experiência. 2. Pesquisa parapsicológica em exteriorização e projeção astral. 3. Evidências espiritualistas: comunicação com mortos, em geral atra­ vés de um médium e não no contexto da pesquisa parapsicológica. 4. Experiências que precedem o nascimento: pessoas em regressão que recordam seu nascimento, a vida pré-natal no útero e algumas vezes o período anterior. 5. Recordação de vida passada: recordação espontânea com ou sem encadeamento, e recordação induzida por várias técnicas de regressão. 38 Uma vasta e impressionante literatura cobre essas cinco áreas empíricas, desde as experiências de habitantes iletrados de regiões isoladas à pesquisa científica em universidades (regiões semi-isoladas habitadas por altos letrados). Cada uma dessas áreas revela padrões tão característicos que qualquer estudante sério achará difícil desprezar o material empírico disponível. A literatura gnóstica será excluída aqui. Mesmo tendo padrão intelectual elevado, permanece como reve­ lação sem evidência ao mesmo tempo em que as experiências que con­ tradizem a estrutura gnóstica adotada são em geral ignoradas ou pos­ tas sob suspeita. A partir de agora o criacionismo, o traducionismo e o geracionismo serão tratados em conjunto. A tabela 2 é o resultado do primeiro teste de sete pontos de vista contra esses cinco tipos de experiência. A hipótese materialista, em si mesma poderosa, contradiz os cinco tipos de experiências. O coletivismo psíquico e a transferência psí­ quica são também replicados no todo, embora a parapsicologia não ofereça um resultado definitivo. Obviamente, as experiências prénatais e as recordações de vida passada contradizem a idéia de que a alma é criada no nascimento. Os outros tipos de experiência não dão uma indicação clara a esse respeito, embora vários materiais es­ piritualistas façam referência a uma forma de preexistência. Natu­ ralmente, as experiências de morte nada dizem sobre a preexistên­ cia, a reencarnação e a metempsicose. Tabela 2 — Hipóteses sobre corpo-alma testadas contra vários tipos de evidências empíricas Experiências Pesquisa Espiritua- Memórias Memórias de morte psíquica lismo pré-natais de vida passada Materialismo Coletivismo psíquico Transferência psíquica Alma originada no nascimento Preexistência Reencarnação Metempsicose - - - - - — 0 — — — — 0 — — — 0 0 0 -/+ - /+ -/+ 0 0 -/o -/+ + /-/+ - + 0/ + 0 — — + -/+ —: contradizem + : confirmam 0 : inconclusivo 39 O material parapsicológico é escasso nesse ponto, e o material espiritualista é contraditório. Afinal, o maior conflito no mundo es­ piritualista internacional é se a reencarnação existe ou não. É irrele­ vante aqui o fato de os crentes serem a maioria. As experiências prénatais não dão informações sobre a metempsicose, mas apóiam a pos­ sibilidade da preexistência e da reencarnação. Por fim, a recordação de vida passada definitivamente ratifica a reencarnação, mas dá pouco apoio à metempsicose. As duas primeiras são hipóteses razoáveis, análogas a outros fatos empíricos, mas refutadas por um grande número de experiências es­ pecíficas nessa área. As duas hipóteses seguintes são construções men­ tais, que, se fossem concretas o suficiente para serem refutadas, se­ riam replicadas pela evidência empírica. As únicas hipóteses que po­ dem ser consideradas aceitáveis à luz das evidências empíricas são aquelas que postulam a continuidade da alma humana; preexistên­ cia, reencarnação e metempsicose, das quais a primeira tem a con­ firmação mais fraca e a reencarnação, a mais forte. A opinião que prevalece é francamente materialista (ou, na ver­ são diluída, agnóstica; nunca iremos saber o que acontece após a mor­ te, pois ninguém jamais voltou), o que torna nossa tarefa relativa­ mente fácil. Se a crença prevalecente não é uma doutrina positiva, e sim uma negação, tudo o que é preciso para refutá-la são alguns casos convincentes. Se pessoas acreditam que não existem peixes em um lago, basta que um peixe seja pescado nesse lago para refutar a hipótese. Contudo, fazer isso é bem diferente de se mudar a mentali­ dade das pessoas (afinal de contas, alguém pode ter posto o peixe lá). Como as experiências de vida passada formam o material mais específico e convincente em apoio à hipótese da reencarnação, deve­ ríamos nos limitar a fazer uma revisão desse material. Alexander Cannon coletou cerca de quinhentos casos de recordações espontâneas de vida passada (1936), Muller, cerca de setecentos (1970) e Steven­ son, cerca de dois mil (ver bibliografia). Os casos coletados por Muller são os mais interessantes, pois muitos deles são complexos e envol­ vem fenômenos extraordinários de difícil credibilidade para os não espiritualistas. Stevenson publicou os melhores casos de pesquisa. Até o momento, ele descreveu pesquisas extensivas em cerca de cinqüen­ ta casos de recordação espontânea em crianças (Stevenson 1966,1975, 1977, 1980, 1983). Além disso, existem os hipnotizadores e terapeu­ tas que induzem e conduzem regressões a vidas passadas. Essas são freqüentemente gravadas. O inglês Arnall Blosham fez cerca de qua­ trocentas gravações de regressões, em aproximadamente cinqüenta pessoas; Bjorkhem, um suíço, coletou cerca de seiscentas regressões 40 documentadas, e Helen Wambach supera a todos com suas cinco mil regressões em 1 100 pessoas. Explicações alternativas da recordação de vida passada Existem outras explicações, além da reencarnação, para as apa­ rentes recordações de vidas passadas? Stevenson, em particular, tem sido cauteloso ao permitir explicações alternativas para seus casos. Acrescentando à sua lista algumas outras possíveis explicações para a regressão, obtivemos oito alternativas; • fraude • fantasia (para compensar) • falsa recordação (criptomnésia) e déjà vu • mêmória genética • sonho acordado ou psicodrama • inconsciente coletivo • percepção extra-sensorial (telepatia ou clarividência + identificação) • obsessão ou possessão (inspiração ou possessão por almas dos mortos) As primeiras três explicações são empíricas; a fraude, a imagi­ nação e a falsa recordação são fenômenos familiares; a quarta é es­ peculação; a quinta é um fenômeno familiar; a sexta é uma teoria; e as duas últimas são também empíricas, embora muitos as conside­ rem tão controvertidas quanto a hipótese da reencarnação. Este li­ vro não se aprofunda na extensa literatura sobre as duas últimas hi­ póteses. Seus seguidores são basicamente aqueles que estão conven­ cidos da verdade dos fenômenos parapsicológicos e da existência da alma após a morte, mas ao mesmo tempo rejeitam a reencarnação; são espiritualistas no sentido estrito da palavra. A explicação da memória genética é mera especulação, na me­ dida em que as pesquisas sobre as bases físicas da memória não indi­ cam código genético ou transferência de memórias. Mesmo nos rép­ teis primitivos, a informação do cérebro transcende a informação genética. Carl Sagan ressalta isso em seu interessante livro sobre a evolução, The Dragons o f Eden; “Em algum lugar nas fumegantes selvas do período Carbonífero, emergiu um organismo que, pela pri­ meira vez na história, tinha mais informações em seu cérebro do que em seus gens” (Sagan 1977; 49). Ele estima que a biografia humana pode ser armazenada em uma memória de duzentos bilhões de bits. Nos humanos, a informação genética é de aproximadamente dez bi­ lhões de bits. Mesmo que nada disso fosse usado para a hereditarie­ dade física, seria vinte vezes menos que o necessário. Também não 41 está claro como a informação iria do cérebro para os gens. A idéia da memória genética contraria todos os fatos empíricos. Se a memó­ ria fosse transferida geneticamente, as pessoas passariam suas me­ mórias quando procriassem. A semente e o ovo podem, então, ter somente a informação sobre a vida dos pais até aquele ponto. Me­ mórias aparentes da vida anterior simplesmente continuam após a idade de reprodução. Mais ainda, as recordações espontâneas e as regressões iniciam freqüentemente com memórias e revivência de uma morte traumática numa vida anterior. A memória genética somente explica isso se as pessoas copularem ainda após a morte, uma pro­ posição ao mesmo tempo repulsiva e ridícula. Além do mais, apenas em algumas circunstâncias é possível um relacionamento familiar entre a personalidade atual e a personalidade da vida passada. Na maioria dos casos, um relacionamento familiar é impossível, por exemplo, quando alguém nasceu numa pequena aldeia belga e recorda uma encarnação como negro pobre do Sul dos Estados Unidos, quarenta anos atrás. A memória genética também não explica memórias de uma série de vidas anteriores com seus típicos períodos de intermissão. Devemos tranqüilamente descartar a memória genética como uma possível explicação para a recordação de vida passada, considerando-a puro e completo absurdo. A fraude pode ser, algumas vezes, uma tentativa válida, mas é ridícula como explicação geral para memórias de vidas passadas. Em várias ocasiões há muitas testemunhas de casos de crianças peque­ nas que aparentemente recordam vidas anteriores. Conspirações fan­ tásticas seriam necessárias para ludibriar os investigadores sérios desses casos. O trabalho de Stevenson mostra que são usados controles e demonstra como os investigadores sensitivos e cuidadosos podem tra­ balhar nesses casos. Nas regressões hipnóticas em um nível suficien­ te de transe, um hipnotizador experiente pode usar testes e instru­ ções para excluir fraudes e praticamente descartar as automistificações. Uma possibilidade é instruir o sujeito a percorrer ao acaso vá­ rios episódios de vidas anteriores. É impossível manter a fraude consistentemente durante esse movimento para a frente e para trás, sem cometer enganos, especialmente com mudanças de voz. Indicadores objetivos de profundidade de transe — resistência da pele, ondas ce­ rebrais e relaxamento muscular — também dificultam a falsificação. Somente um leigo paranóico pode manter a fraude como uma expli­ cação geral. Mas essas pessoas realmente existem. Depois, há a imaginação, as fantasias que as pessoas acreditam como realidade. Freqüentemente incluem compensação. As pessoas fantasiam vidas anteriores interessantes e importantes para compen­ sar o tédio, a frustração e a insignificância de sua vida presente. Deva42 neios de compensação são bem conhecidos em psicologia. Os defen­ sores da hipótese da compensação acreditam que as pessoas se lem­ bram de vidas especiais e interessantes que realmente aconteceram. Outras, em particular as que pertencem às vertentes espirituais que crêem na reencarnação, podem identificar-se com personagens his­ tóricos interessantes. Muitas mulheres dizem ter sido Maria Madale­ na, Joana D'Arc ou a rainha Maria, da Escócia, só para mencionar três vidas passadas bem populares. No continente europeu, a cam­ peã não é a rainha Maria da Escócia, e sim Maria Antonieta. É inte­ ressante perceber que as pessoas não apenas compensam, mas possi­ velmente projetam a autopiedade atual na vida anterior de uma pes­ soa famosa, sofrendo e sendo mal compreendida. São pessoas que têm poucas memórias concretas, mas se identificam emocionalmen­ te com eventos conhecidos ligados a essas personalidades. Os sensitivos e as pessoas com capacidade acentuada para vi­ sualizações são especialmente capazes de fantasiar vidas durante re­ laxamentos e transes leves, da mesma maneira que os autores po­ dem escrever novelas impressivas e vividas sobre pessoas que nunca existiram. Essas visualizações facilmente evoluem para um sonho acor­ dado ou um psicodrama, em que a história emergente tem realidade psicológica, problemas dramatizados, e desejos ou desafios na for­ ma de história. Quando alguém sabe a respeito de vidas passadas ou deseja revivê-las, esses sonhos acordados podem facilmente adquirir decorações históricas. Sonhos acordados são geralmente ricos em arquétipos e têm acon­ tecimentos contínuos sem que hajam situações monótonas ou repe­ titivas; falta-lhes um sentimento corporal claro, mas a diferença de memórias reais é às vezes difícil de se reconhecer. Indicações da re­ sistência da pele, tensão muscular, o ritmo cerebral dos sonhos, dos sonhos acordados e das regressões são as mesmas. Uma situação real pode desencadear uma memória de vida pas­ sada, talvez com um valor psicodramático e terapêutico, assim co­ mo o sonho acordado. As indicações de uma vida anterior repou­ sam, então, em detalhes históricos obscuros que mais tarde são veri­ ficados em experiências corporais fortes e precisas que divergem do corpo atual ou de um corpo idealizado, em experiências verdadeira­ mente singulares e em outras que contradizem preconceitos existen­ tes. Um hipnotizador experiente pode induzir um transe mais pro­ fundo para questionar a natureza da experiência e redirecionar o su­ jeito a uma regressão real. Para os casos de recordações espontâneas e para a maioria das regressões, a hipótese da imaginação é absolutamente insuficiente. O trabalho de Helen Wambach (1978) descarta notavelmente a idéia 43 da compensação. Todas as pessoas que passam pela experiência de regressão ficam impressionadas com a limitação e o tédio da maio­ ria das vidas passadas. Existem poucas vidas passadas em que as pes­ soas foram mais ricas ou viveram de modo mais interessante, mais variado ou importante. Falsa recordação ou criptomnésia significa que alguém pensa que recordou sua própria experiência mas, na verdade, ouviu ou leu a história, viu quadros, e identificou os eventos como seus próprios. A criptomnésia é um fenômeno real. A regressão hipnótica facilmente distingue a criptomnésia das recordações reais. Mesmo um ligeiro transe, não mais que um relaxamento, pode diferenciar uma recor­ dação real de uma criptomnésia. Há, contudo, uma exceção impor­ tante, que é quando a criptomnésia encobre recordações reais. Al­ guém se identifica com uma situação particular porque se esquece ou se recusa a lembrar-se de uma experiência similar real. Nesse ca­ so, as emoções reprimidas podem ser projetadas em uma memória impostora, que nem mesmo as medidas físicas, como o medidor E, identificam. A checagem espontânea ou a evocação de dados históricos de um relato é freqüentemente difícil, mas a criptomnésia torna-se uma explicação improvável nos casos em que as personalidades e os da­ dos históricos bastante obscuros tenham sido anteriormente verifi­ cados. A falsa recordação, especialmente se aflorar ao visitar lugares ou encontrar pessoas, está relacionada com o déjà vu; a súbita sen­ sação de que alguma situação exatamente igual aconteceu anterior­ mente. Em tais casos a falsa recordação é uma séria possibilidade. Em memórias espontâneas, a criptomnésia, portanto, é às vezes uma explicação realista, ao contrário do que acontece na regressão. Outros fenômenos com que nos depararemos mais tarde, como marcas de nascimento e transferência de habilidades de vidas ante­ riores, são (após excluir fraude e fantasia) fortes indicadores da fal­ sa recordação, do psicodrama e das formas mais comuns de telepa­ tia. Holzer dá alguns bons exemplos de déjà vu (1985). O inconsciente coletivo não é um fenômeno, mas uma suposi­ ção de Jung para explicar o fenômeno que ele chama de material arquetípico em nossa psique. Trazer à baila um inconsciente coletivo é uma justificativa tão obscura quanto explicar, pela “consciência matemática coletiva” , que alguns matemáticos aceitem as provas de outros matemáticos. Quando duas pessoas estão ao telefone e se en­ tendem uma à outra, não é necessário que isso seja justificado pela presença de uma consciência coletiva, e certamente não se deve colocála como algo que esteja fora dos participantes (por exemplo, na troca 44 telefônica). Há uma explicação mais simples para os arquétipos, co­ mo a semelhança da estrutura física (neurológica) e psicológica nas pessoas. A linguagem das imagens (provavelmente localizada na me­ tade direita do cérebro) foi menos explorada que a linguagem verbal e matemática, mas também tem suas próprias estruturas e sua gra­ mática comuns. Outra explicação freqüente é que as pessoas não vivem suas pró­ prias experiências, mas sim as de outros que viveram em algum tem­ po, e as recebem por telepatia ou clarividência. Isso supõe que se re­ cebam experiências dos mortos ou que elas foram extraídas de alguma fonte de dados e depois se identificaram com essas seqüências de me­ mória. O termo usual para essa explicação é “ superpercepção extrasensorial” . É interessante que essa hipótese seja seriamente proposta a pessoas que jamais demonstraram qualquer sensitividade paranormal. E é também interessante que essa superpercepção seja uma hi­ pótese impossível de ser refutada ou colocada de uma maneira cien­ tífica; ela é infalsificável. Portanto, o mais sensato é usá-la com muita moderação. É bastante comum entre os videntes identificarem-se com pes­ soas perdidas a quem estejam à procura ou de quem estão tentando obter informações sobre sua suposta morte, a pedido de parentes ou até de investigadores policiais. Por exemplo, eles sentem o que a ví­ tima de um afogamento ou de um estupro pode ter sentido. Durante a investigação, podem sentir ou mesmo demonstrar idiossincrasias físicas e psicológicas da vítima. Embora conheçam-se muitos exem­ plos de julgamentos errôneos sobre a origem das impressões paranormais, os videntes e sensitivos raramente se identificam tanto com um sujeito que não possam dizer a diferença (Tenhaeff). Pessoas sen­ sitivas, contudo, aparentemente podem entrar na experiência de ou­ tros, e no caso de vidas pretéritas, as chances de identificações errô­ neas são obviamente maiores. Alguns terapeutas de regressão trabalham com sensitivos ou mé­ diuns em transe, de modo que possam identificar rapidamente blo­ queios traumáticos de vidas passadas. Portanto, a hipótese da tele­ patia não tem como ser refutada. Alguns sensitivos podem, mesmo em transe superficial, captar memórias aparentes de vidas passadas de outros, especialmente se os conhecem ou os conheceram. Isso cer­ tamente não ocorre ao acaso. Um levantamento feito entre os presentes em minhas palestras sobre reencarnação indica de maneira acentuada que os que têm re­ cordações espontâneas de vida passada são geralmente mais sensiti­ vos que os que não as apresentam. Pessoas que têm uma sensitivida­ de maior que a média podem, seguramente, receber outras impressões. 45 A suposição de que leiam telepaticamente a memória de outra pes­ soa é uma explicação mais simples do que supor que leiam algum arquivo de memórias gerais, pois é menos provável que as impres­ sões impessoais de clarividentes levem à identificação. É mais fácil se identificar quando há alguém para se fazer isso. A explicação da telepatia é realista e deve ser aceita como uma possibilidade, espe­ cialmente em pessoas reconhecidamente sensitivas. E é melhor des­ cartar a explicação da superpercepção extra-sensorial, devido ao seu caráter especulativo e irrefutável. Faltam indicações de habilidades paranormais na maioria dos casos de crianças com memórias de vidas passadas. Além disso, as regressões não exibem uma clara diferença entre pessoas com ou sem habilidades paranormais. Sem dúvida, é um equívoco achar que al­ guém necessite, para obter recordações de vidas passadas, ter uma erudição esotérica específica, ou mais que isso, uma iniciação. Con­ tudo, a hipótese da telepatia algumas vezes deve ser seriamente con­ siderada. Pessoas sensitivas podem se identificar com outras. Um in­ teresse genuíno ou mesmo uma relação real com a pessoa envolvida facilita a identificação. Alguém pode ter vivido no ambiente de tal pessoa ou tê-la admirado. Durante uma regressão, o sujeito pode descobrir com profunda emoção e intensa satisfação que foi Beethoven. Ele experiencia a si mesmo como o surdo Beethoven conduzindo uma sinfonia. Se uma experiência dessas é rastreada e experienciada várias vezes sob uma orientação correta, ele pode, de repente, desassociar-se da pessoa de Beethoven e aparecer como sendo um aristocrata na primeira fila, que ouve e assiste absorto. Depois de várias revivências, pode ainda dissociar-se dessa pessoa e aparecer como um guarda do teatro, no fundo do auditório, que ouve e devaneia. Esse procedimento de rechecagem é algumas vezes chamado de ''busca da essência” . Schlotterbeck diz que, especialmente em regressões de grupo e em inter­ venções do eu superior (“veja tudo isso a distância, de cima”), a iden­ tificação errônea pode ocorrer. Ele dá o exemplo de alguém que, du­ rante uma regressão de grupo, se vê como um oficial alemão, que, desiludido com Hitler, rasga o seu retrato. Mais tarde, numa regres­ são individual, ele observa e aprova essa cena, como o filho ainda não nascido da mulher daquele oficial (Schlotterbeck 1987; 53). A fraude, a imaginação e a falsa recordação não podem expli­ car satisfatoriamente as memórias concretas de vidas passadas na gran­ de maioria dos casos, excluindo as pessoas que, convincentemente, mas sem argumentos ou evidências, sustentam que viveram em al­ gum lugar ou que foram outra pessoa. 46 É uma regra prática atribuir um valor somente provisório a me­ mórias episódicas. Quando elas são extensivas, especialmente com uma visão de conjunto de toda a vida, podem ser levadas mais a sé­ rio. Algumas vezes não são recordações pessoais, e sim identifica­ ção telepática. Essa explicação, contudo, só é aceitável tratando-se de pessoas que já demonstraram sensitividade metapsíquica. Duran­ te regressões, a profundidade do transe, a técnica de orientação e o equipamento de controle, como o medidor E, são instrumentos im­ portantes para discriminar casos de imaginação e identificação. Em resumo, a explicação da memória genética é absurda, e a explicação da superpercepção extra-sensorial, infundada e sem valor. A fraude pode incidentalmente acontecer e é simples de ser checada. A criptomnésia pode acontecer com fragmentos de memória aparente e surgir espontaneamente, em especial se os lugares ou as pessoas “ pareçam familiares” . A imaginação pode algumas vezes acontecer nos crentes frustrados e sem senso crítico. As regressões podem in­ cluir sonhos acordados psicodramáticos (fácil de discriminar), e receptação telepática e identificação (difícil de discriminar). A memória aparente de uma vida passada pode às vezes ser ex­ plicada de modo diferente, como uma memória de uma intermissão entre vidas. Para a maioria das pessoas, essa explicação é ainda mais fantástica que a explicação de vida passada. Ainda assim, em alguns exemplos, talvez em cerca de um por cento dos casos, isso pode ex­ plicar experiências em transes leves. As indicações disso repousam nas experiências em que as leis naturais parecem suspensas, onde as pessoas têm experiências de ficção científica ou fantasia científica, nas quais os poderes mentais desempenham grande papel e uma fraca sensação corporal, com vagas impressões sobre seu próprio aspecto ou sexo. Freqüentemente isso é semelhante ao estado do desencar­ nado, relatado por videntes e médiuns. A diferença do sonho acor­ dado repousa principalmente na ausência de material emocional psicodramático. Conclusões provisórias O coletivismo psíquico, a transferência psíquica e as idéias que afirmam que a alma é criada no nascimento podem ser refutados co­ mo especulações não apoiadas por evidências. Comparada a essas hipóteses, a materialista é a mais provável, pois está de acordo com a experiência geral. Essa hipótese, contudo, só pode ser mantida se todas as experiências específicas mencionadas — de morte, metapsíquicas e espíritas, memórias pré-natais e de vida passada — forem 47 refutadas, atribuindo-as todas à fraude, à fantasia, à falsa recorda­ ção etc. No momento, as únicas razões que vejo para isso são pre­ conceitos, ignorância e preguiça mental. Essas experiências específicas tornam provável a existência da alma, já independente do corpo antes do nascimento ou mesmo da concepção. A suposição da reencarnação é até agora a hipótese mais provável; a preexistência é apenas menos provável. A suposição de que a alma humana pode encarnar em animais ou mesmo plantas e coisas obtém fraco apoio. O capítulo 9 deste volume analisará as memórias pouco freqüentes de encarnações não humanas. Com a orientação correta, muitas pessoas podem trazer memó­ rias de vidas passadas com relativa facilidade. Em geral, é bastante simples separar a imaginação e o psicodrama da memória real. A distinção entre a experiência pessoal e a recebida telepaticamente de outros algumas vezes permanece pouco clara. Em particular nos ca­ sos de pessoas que demonstraram habilidades paranormais, as me­ mórias aparentes deveriam apenas ser atribuídas à própria pessoa, com alguma reserva. Uma visão empírica precisa ser construída essencialmente de re­ gressões coletadas e analisadas, e de memórias espontâneas, se pos­ sível ampliadas por fontes consistentes com esse material. É isso o que este livro vai fazer. Leitura adicional O parágrafo abaixo cita trabalhos gerais sobre a reencarnação. Livros sobre tópicos que pertencem a capítulos específicos podem ser encontrados no final desses capítulos. Detalhes adicionais sobre as publicações citadas podem ser encontrados na bibliografia. O primeiro livro geral sobre a reencarnação e que trata do as­ sunto de modo amplo, e com bom senso, é The Problem o f Rebirth: An Enquiry into the Basis o f the Reincarnation Hypothesis, de Ralph Shirley (1924). Uma introdução limitada sobre o assunto são: The Power o f Karma, de Alexander Cannon (1936) e Reincarnation: The Cycle o f Necessity, de Manly P. Hall (1939). Outra introdução ra­ zoável é Reincarnation: Key to Immortality, de Mareia Moore e Mark Douglas (1968). Reincarnation, Based on Facts, de Karl Müller (1970), dá uma coleção de casos mais interessante com mais sistemática. Ruth Reyna (1975),em Reincarnation and Science, une, de forma intratável, as idéias de reencarnação com a física moderna. Daniel Cohen (1975) refuta a reencarnação. James Bryce (1978) oferece um trabalho intro­ 48 dutório, grato a Moore e Douglas e um pouco a Netherton. Other Lives: The Story o f Reincamation, de Edmonds (1979), decididamente é um livro de fácil leitura, e oferece noções superficiais dos fatos por um populista informado. Outro bem mais pretensioso é Masks o f theSoul: TheFacts BehindReincamation (Walker 1981), com argu­ mentos contra e a favor da reencarnação; um livro aceitável, embo­ ra autoridades religiosas e casos empíricos sejam estranhamente postos juntos em ambos os lados da balança. Bem mais pretensioso, mas também de qualidade superior, é Mind Out o f Time? Reincamation Claims Investigated (Wilson 1981). Wilson põe de lado a reivindica­ ção da reencarnação. O leitor deve julgar por si mesmo até que pon­ to seu raciocínio é íntegro e sugestivo. De qualquer maneira, faz o que seu título indica; investiga, e isso é mais do que se possa dizer sobre muitos livros que defendem a reencarnação. Esse livro é uma necessidade para todos que planejam testes históricos do material de regressão. Ele perdeu o trabalho de Wambach, entretanto fez seu dever de casa meticulosamente. Sua conclusão é; a reencarnação não exis­ te; recordações de vidas passadas são produtos da imaginação ou da criatividade do inconsciente, similar a personalidades múltiplas. Uma visão geral recente é Reincamation: Anciení Beliefs and Modern Evidence, de David Christie-Murray (1981). John Van Auken (1984) publica um tratado curto e um tanto místico, que des­ mente seu subtítulo promissor; How reincamation occurs, why, and what it means toyo u l Tive dificuldade em encontrar até mesmo fra­ ses sobre o assunto. 49 2. A história e a distribuição geográfica da crença na reencarnação A suposição geral de que a reencarnação é uma idéia tipicamente indiana é persistente e errônea. Idéias sobre reencarnação são encon­ tradas em diversas culturas, e em todo o mundo. Alguns antropólo­ gos atribuem isso a uma crença original na reencarnação em uma cultura antiga e superior, que mais tarde se perdeu e deixou marcas por todo o mundo (pensa-se em Atlântida). Contudo, essa visão, além de ser difícil de ser verificada, é improvável, considerando-se o pa­ drão de distribuição e o caráter divergente das idéias locais. Antropologicamente, a crença na reencarnação é mais bem concebida co­ mo uma categoria original, que cresceu independentemente em cul­ turas separadas. As regiões onde as pessoas acreditam na reencarnação têm maior número de casos de recordações de vidas passadas, especialmente entre as crianças. É compreensível, pois quando as coisas estão em con­ formidade com a visão prevalecente são relatadas com mais facili­ dade do que quando são conflitantes. A ocorrência, por sua vez, re­ força a crença na reencarnação, embora seja um relacionamento mais complexo do que parece. Provavelmente a percentagem de crianças que se lembram de vidas passadas seja igual em todos os países e re­ giões geográficas, e a rejeição à reencarnação reprime a expressão dessas memórias e o seu reconhecimento, tanto quanto a posterior divulgação. O contrário não é verdadeiro. A crença prevalecente na reencarnação não estimula a recordação. A maioria dos pais não con­ versa sobre esse assunto com crianças de três ou quatro anos, e quando lhes contam essas memórias, em geral eles acham embaraçoso, em vez de interessante. Stevenson estima que cerca de uma em mil crianças lembra-se espontaneamente de uma vida passada. Somente entre os 51 drusos ele encontrou uma freqüência de uma em quinhentas. A pro­ pósito, outra estimativa é que no norte da índia uma em 450 crian­ ças lembra-se de uma vida passada. Todavia, pode-se argumentar com segurança que em nossa cultura a percentagem é bastante me­ nor que em sociedades mais tradicionais. Voltaremos a isso no capí­ tulo 5 do segundo volume. As regiões que apresentam casos de memórias espontâneas de reencarnação em crianças são claramente delineadas. Uma delas é o oeste da África, grosseiramente englobando a Nigéria, Senegal, Gana e territórios vizinhos. Outra, é onde vivem os drusos, no sudeste da Turquia, Líbano e norte de Israel. Uma terceira região é o sul e o sudeste da Ásia, englobando a índia, Sri Lanka, Burma, Tailândia, Nepal, Tibete e Vietnã. A quarta é o Japão. A quinta região é uma área ao sudeste do Alasca. Finalmente, existe a área geral do mundo ocidental, onde tanto na Europa quanto nos Estados Unidos o nú­ mero de casos provavelmente está aumentando. A natureza da crença na reencarnação em várias regiões e cultu­ ras diverge muito. Algumas culturas acreditam que as pessoas en­ tram num outro corpo imediatamente após a morte; outras acredi­ tam numa intermissão. Algumas acreditam que a pessoa sempre re­ torna como ser humano, outras, que a pessoa pode tornar-se superhumana e não necessite mais retornar, e outras ainda acreditam que uma pessoa pode retornar como animal, devido ao mau comporta­ mento em sua vida, como uma mudança não relacionada com re­ compensa ou punição pela vida anterior. Há, então, todo tipo de visões, passando gradualmente para o coletivismo psíquico. Antropologicamente, há uma relação clara entre as visões sobre a morte e sobre o sono, onde a noção de alma está geralmente ligada à de sonho. Por exemplo, a idéia que a alma sai do corpo e perambula por aí durante o sono resulta da noção de que a alma sai pelas narinas e boca em forma de vapor. Com a morte, a alma não retorna e flutua ao redor. A energia da alma pode ser absorvida pela terra, entrar no alimento que as pessoas comem e, assim, terminar no sêmen. Freqüentemente a alma é retratada como pequena e voadora. Durante o sono ela deixa o corpo, por exemplo pela boca, na forma de um homúnculo, de cobra, porco-espinho, camundongo, inseto, borboleta ou pássaro. Durante o dia, a alma habita a cabeça. Vem daí a diferença entre os caçadores de cabeça, que degolam a pessoa para tirar o poder de sua alma, e os canibais, que comem a carne. Após a morte, algumas vezes a alma associa-se aos abutres. Ela deseja possuir novamente o corpo através dos abu­ tres. Finalmente, existem idéias menos desagradáveis, como a alma ser absorvida em árvores e flores. Em especial nas culturas primitivas, 52 são vagos os limites entre os conceitos da reencarnação, metempsi­ cose e coletivismo psíquico. Acontece todo tipo de modificação e combinação. Margaret Mead comparou as culturas que acreditam na reen­ carnação com as que não acreditam. Os esquimós e os balineses, que acreditam na reencarnação, crêem que as crianças têm dons proféti­ cos. Logo cedo, ensinam suas crianças a fazer coisas complicadas, confiando em que possam realizá-las porque, na verdade, são adul­ tas. Mesmo os velhos continuam a aprender, pois confiam em que seus esforços não serão em vão. Em geral, nessas culturas há menos “conflito de gerações” . Por outro lado, uma cultura como a dos manus acredita que as crianças sejam meros produtos de seus pais. Após a morte, mesmo o mais forte dos espíritos decai lentamente para a lama e o lodo. Tipicamente, nessas culturas as pessoas são social e psicologicamente anuladas quando chegam aos quarenta anos. Essas reflexões de Margaret Mead são diametralmente opostas à visão comum de que a crença na reencarnação promove a indolên­ cia e o fatalismo. Em geral pensa-se na cultura indiana como passi­ va, comparada à atividade da cultura ocidental com sua fé cristã. Toda fé, contudo, incluindo o cristianismo, pode reforçar tanto a atividade como a passividade. A atitude pessoal do indivíduo e sua resposta a uma crença são decisivas, exceto quando a fé em questão for basicamente pessimista, como a dos manus. Com essa perspecti­ va, uma considerável força mental é necessária para conservar uma atitude ativa e responsável em relação à vida. A reencarnação pode ser vista tanto como uma sina inevitável como um triunfo do livre-arbítrio. Uma das mais importantes dis­ tinções entre as várias crenças na reencarnação é percebê-la como inevitável ou como voluntária. Os hindus geralmente acreditam que o carma de vidas passadas determina tudo em nossa vida presente. Eles não crêem que a alma que retorna escolha seus pais e não ex­ presse qualquer desejo em relação à vida seguinte. Por outro lado, os tlingites, uma tribo de esquimós do Alasca, acreditam na escolha dos pais e freqüentemente expressam desejos a respeito da próxima vida. Algumas vezes até mesmo dizem aos parentes como irão reco­ nhecê-los na próxima vida. Para eles, a reencarnação não é uma si­ na, mas a transcendência da morte, como um ser humano em desen­ volvimento e com liberdade de escolha. Após essas reflexões introdutórias, revisarei brevemente as vi­ sões sobre a reencarnação em diferentes culturas, tratando antes das culturas primitivas contemporâneas, depois das religiões orientais e, pelas culturas clássicas, abordarei o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Citarei, então, as visões místicas, gnósticas e esotéricas dessas 53 religiões. Finalmente verei as crenças na reencarnação na história oci­ dental moderna. O capítulo termina com referências à literatura so­ bre esse assunto. Culturas primitivas África A crença na reencarnação existe em quase cem tribos negras. Há 47 tribos que acreditam na metempsicose, aceitando a possibilidade da reencarnação em animais; além disso, 36 tribos acreditam na reen­ carnação propriamente dita, e doze, em que ambas são possíveis. Bas­ tante interessante é o fato de a idéia da reencarnação ser provavel­ mente a mais antiga, e a metempsicose sua variante mais recente. Os zulus elaboraram suas noções da reencarnação como um aper­ feiçoamento gradual do indivíduo, até que o retorno não seja mais necessário. Acreditam que uma tradição secreta existe em toda a Áfri­ ca, originária do antigo Egito e mantida por mestres que retornam voluntariamente. A crença na reencarnação é mais forte ão oeste da África, onde a reencarnação é vista como algo bom. As pessoas não desejam livrarse do ciclo de nascimento e morte. Encarnar é algo aceitável e bom para a alma. É lamentável não se ter filhos, e a poligamia é um bem, pois as pessoas preferem retornar à mesma família. Após o nasci­ mento, o curandeiro adivinha quem a criança foi anteriormente. São observados sinais; a criança deve selecionar entre alguns objetos aque­ les que pertenceram ao falecido, e recebem nomes como: Pai-retomou, Mãe-retornou, Ele-retornou. Em geral presume-se que avós e ances­ trais retornem à mesma família. No sul da Nigéria, acredita-se que a alma pode retornar em pessoas variadas, de sexos diferentes (Áddison 1933). Como muitas outras tribos, os yorubás deixam que os feiticeiros adivinhem quem a criança foi, para depois lhe darem um nome adequado. Durante o ritual em que ela recebe o nome, eles dão boas-vindas à criança com a exclamação; “ Você voltou!” (Addison 1933). Suas noções sobre o carma são vagas e conflitantes. Pessoas boas retornam como gente ou como animais bons. As más retornam como animais selvagens. À parte a visão cármica, acreditam que os desejos de alguém podem ter influência considerável em seu retor­ no. No Congo, as crianças bagongôs e bassongôs lembram-se de vi­ das passadas. A visão dessas tribos é que, após a morte, a alma des­ ce para o centro da terra e lá permanece de dois meses a dois anos, dependendo da extensão da saudade que sente do mundo acima. Ao 54 retornar, a alma entra na criança pouco antes do nascimento. Fre­ qüentemente o bebê apresenta marcas que indicam quem ele foi em sua vida passada. Uma gravidez dolorosa é vista como uma indica­ ção de uma morte dolorosa na vida anterior. Entre os bahumbus, do Zaire, gêmeos e trigêmeos são honrados como chefes renascidos e cercados com uma cerimônia. Os elgaios, do Quênia, acreditam que a alma entra no corpo após o nascimento, durante a cerimônia em que recebe o nome, que é o de sua família anterior. Também há essa noção em Uganda (Addison 1933). Ásia As crenças na reencarnação na Ásia não se referem à cultura tri­ bal, mas a religiões, como o hinduísmo e o budismo. A seção seguinte sobre religiões orientais retornará a esse assunto. Os birmaneses su­ põem que a ocorrência periódica de crianças que se lembram de vi­ das passadas tem o objetivo de lembrar as pessoas da verdade da reen­ carnação. É interessante o fato de eles crerem no retorno dos indiví­ duos, apesar da doutrina budista oficial, annata, que ensina que, em­ bora as pessoas assumam características de uma ou mais personali­ dades prévias, elas não são idênticas a nenhuma personalidade ante­ rior. Os balineses têm uma forte tradição reencaraacionista. Eles acre­ ditam que as pessoas renascem repetidas vezes na mesma família. Exis­ tem algumas visões reencarnacionistas entre os japoneses, que da­ tam, provavelmente, de antes do advento do budismo. Europa Os celtas acreditam que após um número de vidas podem atin­ gir o “ céu branco” , onde se tornariam conscientes de Deus. Após cada morte a alma tem um período de descanso. Pessoas de má vida retornam como a espécie de animal que corresponde ao seu caráter. Após a purificação, elas também alcançarão o céu branco. Mestres que voluntariamente retornam do céu branco inspiram o contínuo progresso da civilização, até que todos cheguem lá. Segundo alguns, essa é uma tradição da Átlântida, provavelmente vinda pela Irlanda. Os antigos teutões acreditavam que as pessoas reencarnavam na mesma família, com o mesmo nome. Crenças na reencarnação de todos os tipos foram demonstradas entre os dinamarqueses, os nórdicos, os islandeses, os bárbaros do leste, os lombardos, os letões e os saxões. Estes, por exemplo, acreditam que, por um tempo, a pessoa primeiro torna-se uma rosa ou uma pomba, e depois segue seu rumo a lugares divinos. Os finlandeses e os lapões também têm idéias reencarnacionistas. 55 Américas Os tlingites habitam o sudeste do Alasca e o noroeste do Cana­ dá. Até recentemente elaboravam visões e práticas reencarnacionistas. Eles prestam particular atenção aos estigmas — marcas no cor­ po que indicam a identidade do recém-nascido. A alma que retorna pode escolher sua futura mãe. Também dão atenção especial aos sonhos das mulheres grávidas sobre os parentes falecidos. Após a morte, a alma vai a diferentes lugares, e um deles é para onde vão os que morreram violentamente. Há indícios de crença na metemp­ sicose. Tribos indígenas e esquimós acreditam na reencarnação. Por exem­ plo, os esquimós ocidentais acreditam em cinco estágios ascendentes após a vida. Encontraram-sé entre eles reencarnações sobrepostas, em que alguém renasceu antes de a pèrsonalidade prévia ter morri­ do. No Canadá, sete tribos indígenas acreditam na reencarnação. No restante do norte da América, foi no leste que a crença na reencarnação esteve especialmente enraizada e difundida. Uma idéia comum era que as pessoas de coração puro podiam lembrar das vi­ das passadas. Os algonquins, os creeks, os dakotas, os winnebagos, os kiowas, os hopis e os mohohavis tinham essas idéias. Os chippaways acreditavam que as pessoas reviviam em sonhos situações de vidas passadas e também de vidas futuras. Os pueblos acreditavam no retorno das crianças mortas. Eles enterravam o corpo da criança sob a casa dos pais de modo que a alma pudesse encontrar facilmen­ te seu caminho de volta para a família. Muitas tribos indígenas viam os pioneiros brancos como gerações que retornavam do passado. No México e na América Central, tribos indígenas, como os maias, os caribes e as peruanas acreditavam na reencarnação. Os ín­ dios mexicanos acreditavam na metempsicose. Pessoas importantes retornariam como belos pássaros canoros e animais superiores, en­ quanto as de categoria mais baixa, como doninhas, besouros e ou­ tras espécies inferiores de animais. Os incas acreditavam que uma pessoa poderia retornar a seu cor­ po se ele fosse corretamente mumificado. A crença na reencarnação existe entre as tribos indígenas brasileiras, como a dos chiriquas. Os índios brasileiros chamam a reencarnação de lambazap. Provavel­ mente essas idéias reencarnacionistas foram introduzidas por escra­ vos do oeste da África. A crença na reencarnação também é encon­ trada entre os patagônios. 56 Austrália e Oceania É provável que, originalmente, as idéias sobre a reencarnação fossem universais entre os aborígenes australianos, e mais tarde per­ maneceram principalmente entre as tribos centrais e do norte. Após o confronto com os europeus, difundiu-se entre os aborígenes a crença que retornariam como homem branco. Por essa razão, um nativo que era executado exclamava, com alegria, em seus últimos momen­ tos; “ Muito bem! Mim pular para homem branco!” Ao norte do Pacífico, existem crenças na reencarnação em Oki­ nawa. Lá, as pessoas acreditam que a alma deixa o corpo 49 dias após a morte. Depois de uma intermissão inconstante, nunca maior que sete gerações (cerca de duzentos anos), a alma retorna num cor­ po cuja aparência lembra a encarnação prévia. Lá não se acredita que as pessoas retornem como animais. Algumas almas permanecem desencarnadas, para dar boas-vindas aos recém-falecidos. A crença na reencarnação é encontrada ainda entre as tribos de Bornéu e das ilhas Célebes, entre os papuas, os maoris e os tasmanianos, e nas ilhas Marquesas, Fiji, Salomão, Tahiti e região sul da No­ va Caledônia. Religiões orientais Hinduísmo Pessoas cultas e de castas superiores estão particularmente fa­ miliarizadas com idéias sobre a reencarnação e o carma, tais como punarjanma (renascimento), carma (a lei) e samsara (o ciclo da reen­ carnação). Nas áreas rurais, as idéias sobre a reencarnação não es­ tão exclusivamente relacionadas ao carma, mas sim vinculadas a ri­ tuais e às influências de todo o tipo de deuses e espíritos. Como se retorna, não depende de como se viveu, mas se seu filho cumpriu o ritual funerário adequado (antyeshti), para garantir um feliz nas­ cimento posterior. Entre as castas mais baixas, particularmente nas aldeias, crê-se pouco na reencarnação. Talvez seja uma repressão co­ letiva, pois a doutrina da reencarnação hinduísta é desencoraj adora para as castas inferiores. Essa crença indiana tem origens antigas. Os Vedas nunca, ou raramente, a mencionam, mas os Upanishads o fazem claramente. Partes do posterior Mahabharata e as leis (in­ crivelmente intolerantes) de Manu trouxeram à baila a reencarnação. São relatados mais casos de recordações no norte que no sul da índia. 57 O conceito geral hinduísta é que as almas humanas originaram-se do Ser Supremo e, essencialmente, permanecem idênticas a Ele. Mui­ tas encarnações sucessivas provocam uma involução gradual, fa­ zendo com que as almas se esqueçam de suas origens, confundamse e se entorpeçam. Mas, gradualmente, por meio de outras expe­ riências ao longo de sucessivas encarnações, as pessoas começam a perceber para onde devem retornar. Então, cada vida é um em­ penho para o retorno. É um pecado ficar preso aos fascínios da vida material. A pessoa deve se separar deles e tornar-se espiritual, atingindo o moksha, e, finalmente, encontrando o caminho de vol­ ta a Brahma. Uma outra visão no hinduísmo é que as almas, jivas, começam como formas mais simples de vida. Através de estágios como mine­ rais, vegetais e animais, finalmente alcançam o estágio humano e, por último, tornam-se anjos, após muitas encarnações. Cada jiva, ou alma, tem em si o atman, o eterno, a essência divina. Samsara, o ciclo de vidas sucessivas, leva mais ou menos naturalmente ao cres­ cimento e ao amadurecimento. Quando a alma alcança a autoconsciência humana, atinge a liberdade de escolha e a responsabilidade pessoal, e seu próprio esforço determinará seu carma. Visões opos­ tas consideram a consciência individual e a escolha como ilusões, e sustentam que a lei do carma continua a operar da mesma maneira. O ser humano precisa aprender a qualquer custo, mais ou menos por si mesmo e através de experiências ou escolha consciente, a livrar-se de suas imperfeições. Ele deve aprender que suas experiências po­ dem mantê-lo apegado às desilusões da vida material. As almas podem ser diferenciadas quanto ao grau em que per­ seguem os quatro desejos ou objetivos universais, a seguir; Kama, ou sensualidade. É imergir na perseguição de prazeres e evitar o sofrimento. Neste estágio, o maior pecado é a raiva. Artha, ou vantagem material. Aqui, o maior pecado é a avareza. Dharma, ou moral, virtudes religiosas e integridade; literalmente, significa cumprir as leis morais e religiosas. Moksha, ou libertação das limitações físicas e da reencarnação. Alguns consideram que esses quatro desejos têm uma ordem na­ tural; se alguém gratificou suficientemente um desejo, empenha-se em satisfazer o seguinte, que é superior. Outros consideram a transi­ ção a um desejo superior como o resultado de uma luta ativa para destruir os desejos inferiores. Essas visões opostas dizem respeito par­ ticularmente à transição entre os primeiros três desejos. A transição do dharma para o moksha é quase sempre entendida como o resul­ tado de estudos religiosos, asceticismo e consciência contemplativa. 58 Existem muitas visões sobre as relações cármicas entre as vidas. A visão mais rígida é que as conseqüências de cada ação se manifes­ tam como uma forte necessidade em alguma vida subseqüente. Não existe providência nem predestinação, mas também não há razão para fatalismos. Uma segunda visão é que os pensamentos da pessoa de­ terminam o ambiente após sua morte. Elas vão parar em várias esfe­ ras, dependendo da mentalidade que tinham na vida anterior, com intermissões variadas. Finalmente, há a visão de que os últimos mo­ mentos da vida vão indicar a próxima; ou que o estado de ânimo, os pensamentos, os sentimentos e os contatos nos últimos momen­ tos de alguém são decisivos para a próxima vida. As visões rígidas sobre a reencarnação e o carma estão intima­ mente relacionadas com o sistema de castas, especialmente na visão de carma estabelecida nas leis de Manu, onde são feitas elaboradas descrições das punições às imperfeições humanas. Pecados do corpo fazem a pessoa retornar como mineral ou planta. Linguagem peca­ minosa resulta na reencarnação como um pássaro ou animal, e pe­ cados cometidos em pensamentos levam ao retorno como uma pes­ soa de baixa categoria. Quem teve uma vida má, procura um útero mau: como o de uma cadela, uma porca ou de uma sudra. Somente os bem-comportados voltarão num útero bom. O sistema de castas é tão vicioso que não se pode escapar dele nem espiritualmente. Somente um brâmane, portador do cordão sa­ grado, pode atingir o moksha. Assim, a pessoa que não pertence à casta mais alta, por mais que contemple e viva asceticamente, ainda assim só poderá nascer como um brâmane em sua próxima vida. Uma posição intermediária é a crença de que as pessoas que não carregam o cordão sagrado podem alcançar o moksha por um asceticismo in­ tenso e pesada penitência. Há, então, alguma esperança. As castas mais baixas encontraram uma solução prática para essa doutrina opressiva: em geral não acreditam que sua presença nessas castas seja carmicamente determinad'; ou então não acreditam em carma e reencarnação; ou sim lesmente ignoram essas teorias. Uma religião com essas v‘ ões também tem dificuldades com crianças que recordam vidas passadas, desde que as punições cármi­ cas estão visivelmente ausentes nos casos de recordações. No século 6 a.C. surgiram movimentos reformistas contra a gros­ seira discriminação implícita na fé budista e na jainista. Fora da ín­ dia o budismo se difundiu, mas dentro dela virtualmente desapare­ ceu. O jainismo está limitado a cerca de dois milhões de pessoas na índia. Eles têm certo peso, pois desfrutam de boa reputação, muitas ocupando posições proeminentes e influentes. 59 Budismo Os budistas preferem falar de renascimento em vez de reencar­ nação. Tanto o hinduísmo quanto o budismo acreditam na ação do carma e em samsara — repetições infinitas de vidas com a ilusão de uma existência pessoal, até que seja alcançado o moksha, a liberta­ ção. Alguns budistas alimentam a visão de que os últimos pensamentos de uma pessoa influenciam fortemente sua próxima vida e, no míni­ mo, determinam seu ambiente após a morte, como ensina o Livro Tibetano dos Mortos. A diferença mais importante entre as visões hinduístas e budis­ tas sobre a reencarnação está provavelmente na doutrina budista de annata — embora as características do falecido sejam transmitidas para a nova vida, a entidade pessoal, em si, é descontínua. Assim, a alma não tem um eu permanente; não existe atman. Portanto, a doutrina é chamada an-atman ou an-atta. A analogia usual é a cha­ ma de uma vela acendendo uma outra vela. Existe continuidade, po­ rém não há identidade. Uma variante moderna é a analogia de uma bola de bilhar chocando-se contra a outra e transmitindo seu momentum, sem que as duas bolas sejam a mesma. A doutrina annata está relacionada com a abolição do sistema de castas no budismo. Os budistas ensinam que o próprio Buda era capaz de recordar-se de suas vidas passadas e instruir aqueles que desejavam recordar. A doutrina annata é encontrada particularmente no budismo theravada. Como já mencionamos, essa doutrina é apoiada oficialmente na Birmânia, enquanto os leigos acreditam na reencarnação propriamente dita, que é alimentada por casos recorrentes de recordações. Nos textos budistas abundam as mesmas idéias estreitas e aterrorizantes, como em outras religiões. Se alguém fizer coisas erradas, “nascerá repeti­ das vezes ou como cego, bobo, mudo ou sudra, vivendo sempre na miséria e vítima de abusos. Ele se torna um hermafrodita ou um eunuco, ou pode nascer como escravo durante toda a vida. Pode tam­ bém ser uma mulher, um cachorro, um porco, um jumento, um ca­ melo ou uma cobra venenosa, e assim ser incapaz de pôr em prática os ensinamentos de Buda” (Willson 1984:15). Pergunto o que acon­ tece a uma mulher que é vítima de abuso e, portanto, deve estar fa­ zendo coisas erradas, pois não pode colocar os ensinamentos de Bu­ da em prática. Note que a lista acima implica metempsicose. As idéias budistas são tão variadas e inconsistentes como em qualquer outra religião. Segundo alguns budistas tibetanos, o renascimento ocorre ime­ diatamente. Uma especialidade tibetana é a reencarnação dos lamas, chamada sprul-sku. Nela, a entidade é preservada, pois uma força 60 contrária é empregada contra a desintegração da personalidade. Is­ so requer força de vontade e força física. Pessoas cujas missões não foram cumpridas algumas vezes retornam dessa maneira. Desde o século XV às reencarnações de lamas importantes vêm sendo identi­ ficadas através de determinados procedimentos adivinhatórios ou oráculos. Uma das melhores exposições disponíveis das visões reencarna­ cionistas no budismo tibetano é o livro de Lati Rinbochay e Jeffrey Hopkins (1979). A introdução e o prefácio apresentam as crenças básicas. Está claro que o carma é menos importante que a atitude imediatamente anterior à morte. A exposição lúcida em linguagem simples revela quanta superstição e psicologia superficial existe na crença tibetana. Quando as pessoas menos virtuosas morrem, elas começam a perder calor a partir do topo do corpo, enquanto as mais virtuosas começam a perder calor pelos pés. Se um desejo não for assegurado, as pessoas ficam raivosas. Aparentemente ninguém fica triste e desapontado. Se alguém perde muito calor devido à doença que tem, vai desejar calor e, assim, vai para o inferno quente. Por que não para um céu quente? Porque desejou algo. Morrer de frio, pobre e infeliz em Bergen-Belsen resulta no inferno, porque a pes­ soa desejou calor. Que terrível preconceito! O clericalismo no Tibete também levou à ritualização das visões sobre a reencarnação e o carma. Não é a qualidade da vida presente que determina a vida seguinte, mas o cumprimento ou não dos ri­ tuais prescritos. Mesmo que acidentalmente esqueça-se de dar uma única vez às estátuas sagradas sua tigela de água, durante as oferen­ das diárias de água no altar da família, isso resultará em pobreza na próxima vida. Quando um animal, digamos um papagaio, repete o mantra Om Mane Padme Hum, mesmo sem entender seu signifi­ cado, vai retornar numa forma superior de vida (Rato 1977; 9-12). Budismo Mahayana Ensina a vinda dos bodhisattvas. Estes são os que atingiram o Nirvana e não são mais obrigados a retornar a um corpo, mas mesmo assim o fazem por compaixão à humanidade ainda em sofrimento. A doutrina do retorno de grandes mestres é encontrada em muitas religiões, entre os celtas, por exemplo, como anteriormente menciona­ mos. Encontraremos ainda outros exemplos. Algumas doutrinas bu­ distas elaboram essa idéia com um panteão de bodhisattvas existentes e futuros, que se tornam budas um a um, de acordo com um programa fixo. Isso, em vez de tornar a compaixão superior numa experiência humana, faz dela um veículo do maquinário super-humano. 61 Jainismo Como o budismo e o hinduísmo, o jainismo faz referências ao samsara e ao moksha. A principal diferença das outras duas religiões é a visão de que o carma depende unicamente da conseqüência dos atos e não das intenções morais. Causar a morte de alguém não in­ tencionalmente produz o mesmo carma que um assassinato a sangue frio ou passional. Naturalmente, os jainas são muito consciencio­ sos. Eles praticam ahimsa, o total pacifismo, o vegetarianismo estri­ to e o trabalho incessante. Segundo eles, antes de o moksha ser atin­ gido, a alma só pode existir em um corpo. Assim, após a morte, ela une-se imediatamente à concepção de uma criança e renasce depois de nove meses. Quando pessoas recordam de vidas passadas com uma intermissão maior que nove meses, interpreta-se isso como um es­ quecimento de uma vida intermediária como uma criança que morre prematuramente. São raras as visões sobre a reencarnação no confucionismo, taoísmo e shintoísmo. O budismo introduziu a reencarnação na China, e se tornou uma das religiões populares. As culturas clássicas Egito e Babilônia Relativamente poucas indicações históricas apontam para a crença na reencarnação no Egito. De acordo com Heródoto, os egípcios fo­ ram os primeiros a acreditar na imortalidade da alma. Para eles, os deuses tinham partido há muito tempo, e os espíritos pecadores per­ maneceram aqui, obrigados a se penitenciar pelos pecados em cor­ pos humanos. Acreditavam que, após a morte, a alma habitava du­ rante três mil anos em todo tipo de encarnação vegetal e animal, e só então retornava como humana. De preferência voltaria ao corpo original, se ele estivesse corretamente mumificado. Uma múmia in­ tacta garantia o futuro domicílio e dispensava a necessidade de en­ carnações inferiores durante o intervalo. Não há indicações de que os babilônios cressem na reencarnação. Grécia As visões gregas sobre a reencarnação originam-se dos mistérios órficos, que, novamente segundo Heródoto, vieram do Egito. A dou­ trina órfica sustentava que a pessoa é formada de um pequeno ele­ 62 mento divino e um grande e mau elemento titânico. Os humanos pre­ cisam aprender a eliminar o elemento titânico dentro de si. Isso acar­ reta necessariamente muitas encarnações, a partir das quais a liber­ tação é possível. A recompensa e a punição pela vida virão nas pró­ ximas encarnações humanas ou animais. Os mistérios órficos inspi­ raram os mistérios elísios, que por sua vez influenciaram os píndaros, entre outros. Os píndaros eram adeptos da visão de que a encar­ nação seguinte é uma recompensa ou punição para a intermissão. A reencarnação aconteceria após oito anos. Alguns consideram o mito de Perséfone como uma referência alegórica à reencarnação. É a idéia original órfica da roda do nasci' mento e da morte, em que a alma é periodicamente apanhada pelo corpo e se esforça pela libertação, está mais próxima da filosofia in­ diana clássica que do pensamento egípcio. A segunda fonte das visões gregas sobre a reencarnação foram os pitagóricos. Tal como seu mestre, Ferécides, Pitágoras ensinava a reencarnação, seguindo, além de outros, os fenícios, os caldeus e os egípcios. A habilidade de recordar vidas passadas era tida como uma dádiva de Hermes. Segundo se alega, Pitágoras recordava-se de suas vidas passadas e, portanto, era chamado Mnesarchides. Suas encarnações anteriores foram, entre outras, Aetálides e Euforbus, que lutou por Tróia. De acordo com Ovídio, Pitágoras ensinava que os bons animais podem tornar-se humanos, e os humanos podem tornar-se animais. Após uma longa série de encarnações animais, é possível retornar como humano. Isso difere da suposição metempsicótica comum que encarnações animais e humanas podem alternar-se. Heráclito ensi­ nava que um humano jamais poderia reencarnar como um animal ou uma planta, mas sempre como um humano. Empédocles, aluno de Pitágoras, ensinava que os humanos eram originalmente semideuses que pecaram. Durante trinta mil estações eles precisavam vagar por todos os tipos de encarnações masculinas e femininas. No Fédon, Platão alega que Sócrates, sob a influência de Orfeu e Pitágoras, ensinava a reencarnação. Pessoas sensuais teriam defei­ tos em suas almas e em conseqüência disso encarnavam mais rapida­ mente. Platão via a capacidade humana de conhecer a verdade co­ mo uma prova da preexistência, um novo argumento nas visões so­ bre a reencarnação. Além disso, aponta para os muitos ciclos da na­ tureza. Particularmente em Meno, Platão explica pelas vidas passa­ das o conhecimento sem aprendizado prévio. Fedro pode ser inter­ pretado como visões sobre a reencarnação e as leis cármicas. Em A República, Platão descreve os encontros entre almas que chegam e partem. As almas que chegam vêem os diversos funcionamentos da lei 63 universal. Baseadas nesses exemplos e em suas próprias experiências anteriores, elas escolhem sua vida com todas as conseqüências, “diante do trono da necessidade” . Então, recebem uma poção de perdão e encarnam. Aristóteles ensina a reencarnação apenas em seu primeiro tra­ balho, Eudemus. Posteriormente abandona a idéia. Seus escritos sobre a alma contêm apenas indicações de uma crença na preexistência. No último século antes de Cristo, a crença na reencarnação en­ tra em sua maré mais baixa. A visão estóica e epicurista predomina. Cícero, convertido do agnosticismo ao platonismo, volta a abraçar a crença na reencarnação. Ele vê a vida como uma punição para os pecados de vidas passadas. Uma consideração nova e interessante é que as pessoas importantes contribuem para a sociedade porque, inconscientemente, sabem que retornarão a ela no futuro. De acor­ do com a história mais recente, o lendário Apolônio, de Tiana, apren­ deu a doutrina da reencarnação de Iarchas, em Cashmere. Segundo consta, numa encarnação prévia, como o primeiro suboficial de um navio egípcio, ele se recusou a entregar o barco aos piratas. Plutarco considera as pessoas como seres que vagam de vida em vida. Segun­ do ele, existem espíritos superiores (Genius) que só encarnam quan­ do fazem algo errado, particularmente quando exercem má influên­ cia sobre pessoas encarnadas. Os neoplatônicos, especialmente os da escola alexandrina, no­ vamente abraçam as idéias reencarnacionistas e as elaboram. Houve uma involução; por orgulho e por um falso desejo de independên­ cia, nossas almas foram parar num mundo difícil e mau, este que agora habitamos. De acordo com Plotino, nosso mundo físico é o menos divino, mas é um bom lugar para se aprender e é essencial­ mente bom. A falta de cuidado e a obstinação faz com que fique­ mos perdidos e aprisionados nas limitações sensuais da existência fí­ sica. Tendemos a perseguir desejos inferiores e a exercer poder. Con­ tudo, com isso ganhamos experiência e damos oportunidades aos ta­ lentos que apenas conseguimos desenvolver nesta forma física de exis­ tência. Finalmente, retornamos ao nosso estado original, mas desta vez com toda a experiência e conhecimento que adquirimos enquan­ to encarnados. Ao longo de todas as encarnações, uma parte da al­ ma permanece ela mesma, intocável e divina. Nossa permanência pe­ riódica no estado material nos torna conscientes da perfeição do es­ tado espiritual. As experiências com o mal nos proporcionam insights melhorados sobre os valores do bem. Humanos podem encarnar co­ mo animais. Praticar virtudes civis (compare com o dharma) e ser humanitário (compare com artha e dharma) nos fazem retornar co­ mo humanos. Viver sensualmente nos faz retornar como animais. 64 Sendo irresponsáveis, retornaremos como animais domésticos. A de­ voção ao mal nos trará de volta como animais ferozes; a devoção à luxúria e à gula farão de nós animais sensuais e vorazes. Abusan­ do dos sentidos retornaremos como plantas. Características especí­ ficas, portanto, levam a encarnações como tipos específicos de ani­ mais. Pessoas que se devotaram excessivamente à música mas que tiveram uma vida pura, retornam como pássaros canoros. Os dés­ potas retornam como guias, e os que falam frivolamente sobre as­ suntos divinos, como aves que voam alto. Esses são verdadeiros pen­ samentos alegóricos, como em muitas visões metempsicóticas. Neoplatônicos como Proclus, da Síria, contudo, declararam que os hu­ manos sempre retornam como humanos, e animais como animais. Judaísmo, cristianismo e islamismo Judaísmo Em geral o judaísmo tem poucas e fracas indicações da crença na reencarnação, mas tem, por exemplo no Velho Testamento, for­ tes indicações da crença na preexistência da alma. A reencarnação pode estar implícita ou presumida como uma idéia comum. Na épo­ ca de Jesus, os saduceus eram estritamente materialistas, os essênios acreditavam na preexistência e os fariseus, em que as pessoas ou re­ nascem ou se autodestroem no submundo. A noção farisaica da reen­ carnação existiu até o século IX. Desde o século VIII os judeus caraítas acreditam na reencarnação. Segundo alguns pensadores judeus, o número de encarnações é geralmente limitado a três. Filon, o Judeu, misturou idéias platôni­ cas e estóicas. Ele disse que as almas, permanecendo num corpo mortal por algum tempo, adquirem inclinações terrestres, como a ânsia de aprender. Deus é necessário para a libertação humana. O lendário Simão, o Mago, viu Helena de Tróia retornar como Maria Madale­ na. Os samaritanos sustentam a doutrina de Taheb, de acordo com a qual Adão reencarnou como Set, Noé, Abraão e Moisés. Mas o princípio de que grandes líderes podem retornar não significa que pessoas comuns normalmente reencarnem. Cristianismo Várias passagens do NoVo Testamento indicam a preexistência e algumas parecem indicar a reencarnação. O exemplo mais conhe­ cido é o de João Batista, que é considerado como o retorno de Elias. 65 Essas passagens são encontradas especialmente em Marcos, mas tam­ bém em Mateus, Lucas e João. João 9; 1-3 e João 17; 24 são vistas como indicações da crença na reencarnação. Nos primórdios do cris­ tianismo parece que houve uma divisão sobre o assunto. Muitos re­ ligiosos aceitavam pelo menos a preexistência. Justino, o Mártir, acei­ tava a reencarnação, mas considerava impossível recordar vidas pas­ sadas. De acordo com ele, as pessoas demasiadamente desvaloriza­ das para receber Cristo retornariam como animais selvagens. Parece que Orígenes considerava relevantes os argumentos gnós­ ticos a favor da reencarnação, e também apontava para o conheci­ do exemplo de Elias e João. Além disso, fez a preexistência da al­ ma parecer plausível. Propagandistas posteriores da reencarnação viram essas exposições como argumentos a favor da reencarnação. Porque o Concilio de Constantinopla condenou a doutrina de Orí­ genes no ano 553, alguns gnósticos modernos apontam esse ano co­ mo a data em que a doutrina da reencarnação foi eliminada do pen­ samento cristão. Annie Besant e outros propuseram essa visão ques­ tionável. O Segundo Concilio de Constantinopla em 553 estava principal­ mente preocupado com as dificuldades levantadas no Concilio de Chalcedom, em 451, em especial com a questão de Cristo ter uma ou duas naturezas. O Concilio de Constantinopla concorreria com a política imperial de Justiniano, que tentava ganhar controle sobre o oeste, e portanto achava necessário o arbítrio sobre o assunto, pa­ ra diminuir a discórdia entre leste e oeste. Por essa razão ele pressio­ nou o Concilio. Em 5 de maio de 553, os bispos reuniram-se sob a presidência de Eutícius, patriarca de Constantinopla. O então papa Virgílio estava na oposição e procurou refúgio numa igreja. Na au­ sência do papa, o Concilio condenou a dupla natureza de Cristo (uma das doutrinas de Orígenes), estabelecida pelo Concilio de Chalcedon. O papa continuou a resistir até 8 de dezembro de 553, mas finalmen­ te rendeu-se e ratificou a resolução do Concilio em 23 de fevereiro de 554. Com isso, a unidade das duas naturezas de Cristo tornou-se a doutrina oficial da Igreja. Um assunto secundário da discussão no Concilio foi a ratificação das condenações iniciais de algumas das visões de Orígenes. É impossível dizer com certeza quais as visões que estavam em jogo, mas provavelmente a doutrina da preexistên­ cia estava entre elas. A Igreja ocidental rejeitou o Segundo Concilio de Constantino­ pla. Na África, as tropas imperiais forçaram sua aceitação. Os bis­ pos do norte da Itália se distanciaram de Roma e recusaram-se a re­ conhecer a ratificação do papa. Tiveram apoio da Espanha e da Fran­ ça. Todo o Concilio tornou-se irrelevante diante do resultado da con­ 66 quista islâmica na maioria das províncias pertencentes à Igreja monofisista. O resultado foi a proposição insustentável de que a Igreja re­ nunciava à doutrina da reencarnação, em 553. Em primeiro lugar, a condenação das visões de Orígenes foi apenas um assunto secun­ dário na discussão. Em segundo, o Concilio ratificou as condena­ ções anteriores. Em terceiro, grande parte da Igreja rejeitou o Con­ cilio. Em quarto, não ficou claro quais as doutrinas de Orígenes que estavam em discussão. Em quinto, os textos de Orígenes defendiam a preexistência e não apoiavam diretamente as idéias reencarnacionistas. Orígenes pensava, por exemplo, que as várias circunstâncias na vida das pessoas eram conseqüências de pecados por elas cometi­ dos durante as preexistências espirituais. A existência do corpo era uma purificação dos pecados cometidos na preexistência. Em tempos recentes, alguns clérigos cristãos publicaram argu­ mentos de que a crença na reencarnação está de acordo com a fé cristã. Todavia, a doutrina da reencarnação dificilmente teve um papel sig­ nificativo no desenvolvimento histórico do cristianismo. Segundo Guirdham (1970), a crença dos catares na reencarnação foi uma das causas da inimizade da Igreja por eles. Islamismo O islamismo não contém uma crença explícita na reencarnação, embora algumas seitas muçulmanas acreditem nela. Várias passagens no Alcorão poderiam assim ser interpretadas, mas também podem se referir ao renascimento espiritual. Há muçulmanos que pensam que após a morte a alma humana pode passar para um animal ou para outra pessoa, dependendo de seu estágio. Porque a alma hu­ mana poder ir para um animal após a morte, os boras, do Industão, por exemplo, são vegetarianos e costumam comprar pássaros em ca­ tiveiro para soltá-los, pois a alma de pessoas mortas poderiam estar neles (dessa prática surgiu o comércio da captura de pássaros). Somente os sufis acreditam na reencarnação, provavelmente sob a influência persa, essencialmente de Zoroastro. Segundo Zoroastro, a alma imortal entra neste mundo por um curto período, para ganhar experiência. Ela pode ter descido de esferas superiores ou es­ tar trabalhando para a sua ascensão, a partir da esfera inferior. Con­ trastando com as idéias indianas, como a tradição de que cada pes­ soa tem 840 mil encarnações, as visões persas da reencarnação su­ põem um pequeno número de vidas, pois consideram a progressão e o retrocesso da alma como um processo de autofortalecimento. Uma alma que se comporta mal numa vida cria as circunstâncias para que 67 em sua próxima vida a tendência a se comportar mal seja reforçada. Da mesma maneira, os bons comportamentos possibilitarão bons com­ portamentos na próxima vida. A aceleração do autofortalecimento leva, depois de algumas encarnações, a uma virada decisiva. O sufi Jalal-Ud-Den-Rummi pregava a conhecida doutrina da evolução, na qual a alma humana encarna originalmente em mine­ rais e desenvolve-se através das vidas em plantas, animais e seres hu­ manos, até os anjos, e mais adiante. Os drusos são uma seita parcialmente islâmica que acredita na reencarnação. Eles supõem o renascimento imediato. Os jainas acre­ ditam que, após a morte, a alma é imediatamente conectada na con­ cepção de uma nova criança e renasce nove meses depois. Os dru­ sos, contudo, acreditam que a alma retorna imediatamente em uma criança, no nascimento. Devido a essa transição imediata, dá-se grande importância aos últimos pensamentos do moribundo, pois eles te­ riam forte influência sobre o novo começo. É claro que quase todos os exemplos positivos de recordações de vida passada têm períodos de intermissão. Os drusos também explicam isso pelo esquecimento de curtas vidas intermediárias. Afirmam ser um grupo de encarna­ ção fechado, que sempre encarnam como drusos, pois são os esco­ lhidos (já ouviu isso em algum lugar?). O número de almas drusas, portanto, é estável. Quando muitas pessoas morrem, seja numa guer­ ra, por fome ou epidemia, o mesmo número não renasce imediata­ mente. A explicação para isso é haver um ponto de espera, que fica em algum lugar na China. Os drusos não desencorajam as recorda­ ções, mas julgam criticamente esses casos. Movimentos gnósticos, místicos e esotéricos O cristianismo, o judaísmo e o islamismo têm movimentos gnós­ ticos. Em geral contêm elementos das doutrinas do Zoroastro, que, através do mitraísmo e do maniqueísmo, influenciaram, entre ou­ tros, diversos grupos cristãos, como os paulicianos, os pricilianos, os bogomilos e os catares. Uma outra fonte comum são os antigos mistérios órficos, que se tornaram conhecidos através de Pitágoras, como a tradição hermética no mundo helênico, especialmente entre os neoplatônicos. Essa tradição incluía incontestavelmente a reen­ carnação. De acordo com Iraneus, a reencarnação foi a idéia central dos primeiros gnósticos. Ele faz referência, no gnosticismo, a Simão, o Mago, e às fortes tradições zoroástricas. O ponto principal de sua interpretação das visões gnósticas é que as encarnações repetidas têm 68 como objetivo oferecer experiências ricas, para compensar a culpa e purificar e aprimorar a alma. Segundo ele, os gnósticos também ensinavam que as pessoas que não atingissem a gnose voltariam co­ mo animais. Continua difícil, contudo, fazer com que essas duas no­ ções concordem entre si. Os ismaelitas são um grupo sufi bastante conhecido. Fazem dis­ tinção entre tanasukh, a reencarnação normal, rijat, o retorno de lí­ deres espirituais e hukul ou burut, o retorno sistemático e periódico daqueles que atingiram a perfeição. Um importante exemplo de hukul seria o retorno de Krishna como Buda e, mais tarde, como Maomé. A Cabala acredita na preexistência da alma. A alma escolhe o corpo. Se ela vive bem, purifica e limpa a si mesma e, após a morte, é recebida por Deus. Para a maioria, uma vida é suficiente; outros necessitarão de duas ou, talvez, três vidas. Uma idéia da Cabala é que características indesejáveis como a avareza ou a mentalidade es­ treita fazem com que a próxima vida da pessoa seja a de uma mu­ lher. Outra idéia é que quem se esquecer de apenas um dos 613 pre­ ceitos terá de reencarnar. Apesar dessa visão estreita, resta alguma esperança, pois no final todos irão ascender novamente, até mesmo as mulheres. Então, será a vez dos anjos negros procurarem a puri­ ficação e a limpeza neste mundo. A Cabala tem vários exemplos de reencarnação de líderes judeus. Adão, segundo consta, retornou como Davi, e no futuro retornará como Messias. Caim reencarnou como Jetro; Abel como Moisés; Jafé como Sansão etc. Chassidim, uma seita mística judaica, acredita essencialmente que a morte é seguida por uma vida suplementar. Existe a idéia adi­ cional de que os judeus devotos renascem algumas vezes entre os não judeus para instilar a compreensão dos judeus e auxiliá-los. História moderna ocidental A idéia da reencarnação retornou ao Ocidente com o renasci­ mento do platonismo e neoplatonismo, sucedendo a visão medieval de mundo dominada por Aristóteles. Em 1439, George Gemisthos Pletho, de Mitra, visitou Cosimo de Mediei, em Florença. Isso re­ sultou na fundação do que se tornou conhecida como Academia Pla­ tônica. O renascimento do platonismo emanou dessa academia, e com ela relacionaram-se idéias herméticas, pitagóricas e cabalísticas. As­ sociados a esse renascimento platônico e neoplatônico estão nomes como Nicolau de Cusa, Tritemius de Spondheim, Paracelso e Cornélio Agripa. Um nome importante nesse contexto é o do humanista 69 alemão Johannes Reuchlin, que exerceu grande influência sobre, entre outros, Melanchthon. Nos Países Baixos, por exemplo, uma ramificação neoplatônica no humanismo e na Reforma inspirou os discursos de Van Helmont, em 1690, em que ele argumenta que a reencarnação é uma matura­ ção e uma redenção gradual da culpa, que, em última análise, parti­ cipa da ascensão de Cristo, ao construir um corpo espiritual que li­ bera o indivíduo da reencarnação. Acrescenta alguns detalhes pun­ gentes, como o daquele que presta falso testemunho ter de renascer quarenta vezes como bastardo. Não esclarece o que é um bastardo perjuro, mas, sem dúvida, trata-se de algo extremamente desagradável. Giordano Bruno oferece uma visão abstrata e pessoal sobre a reencarnação em sua doutrina da mônada. A mônada é um elemen­ to microcósmico que avança através de todas as formas de vida, em um número infinito de mundos, em infinitos ciclos. Alguns desses mundos não são habitados, outros são mais desenvolvidos que o nos­ so. Aqui é colocada pela primeira vez a idéia da reencarnação em outros planetas. Bruno influenciou posteriormente Leibniz, para quem a alma é também como uma mônada microscópica. A morte é ape­ nas um exemplo dramático de sono, ao deixar para trás o corpo pe­ sado. Uma porção da encarnação permanece. Assim, o renascimen­ to lega apenas uma personalidade parcialmente nova. Reencarnação é mais uma metamorfose que uma transmigração. Leibniz postula a identidade através das encarnações, uma visão diametralmente opos­ ta às idéias da annata. O Iluminismo, ao lado de seu deísmo, entretém-se com muitas idéias gregas, romanas e orientais, provavelmente para facilitar a li­ bertação dos dogmas dominantes da Igreja. Benjamin Franklin acre­ ditava que nenhuma experiência humana é inútil, e que, segundo ele, novas edições vão continuar a surgir com pequenos aperfeiçoamen­ tos. Frederico, o Grande, da Prússia, estava convencido de que per­ manece vivo o que há de melhor na pessoa. Desconfiava de que não retornaria como um rei, mas estava certo de que teria uma outra vi­ da ativa (onde esperava encontrar menos ingratidão). Seguindo Bruno, Kant entretém-se com a idéia de que a reencarnação poderia aconte­ cer em outros planetas, via Sol, a planetas mais distantes e mais frios. Outros, como Johann Bode e Louis Figuier, acreditavam exatamen­ te no oposto: almas humanas começam em planetas frios e evoluem em direção aos mais quentes. Durante o iluminismo alemão, em particular, muitos homens proeminentes, tais como Lessing, Von Herder e Goethe, acreditavam na reencarnação. Goethe acreditava que já tinha vivido pelo menos mil vezes, e que provavelmente retornaria outras mil. Considerava a 70 morte como uma purgação recorrente e caracterizava o ser humano como um diálogo entre Deus e a Natureza, afirmando que, sem dú­ vida, em outros planetas poderia acontecer um diálogo superior e mais profundo. Goethe acreditava que foi casado com frau Von Stein numa vida anterior e estava convencido de que já tinha vivido como um romano, no período do imperador Adriano. Charles Fourier acreditava que a reencarnação continuaria até o fim deste planeta, e que reencarnaríamos em massa em outro. Pa­ ra Schopenhauer, era essencialmente a vontade humana que reencarnava. Durante a intermissão, a vontade adormeceria. Precisamos esquecer nossas vidas passadas para começar uma nova, limpa e re­ vigorada. Somente Buda tinha claras recordações de suas vidas pas­ sadas. Schopenhauer acreditava na visão budista do carma. Mais adiante se convenceu de que encontraremos novamente, em vidas fu­ turas, pessoas que hoje conhecemos. É difícil conciliar isso com a idéia de que os indivíduos não reencarnam e que somente a vontade continua (seja lá o que isso queira dizer). Há muitos outros nomes de crentes, como Swedenborg, William Blake, Schiller, Mazzini, Herman Melville, Leão Tolstoi, Paul Gau­ guin, Arthur Conan Doyle, Gustav Mahler etc. e um grande número de americanos, desde o começo do século XIX. São figuras mais re­ centes; David Lloyd George, Henry Ford, Rudyard Kipling, Jean Sibelius (que acreditava que há milhões de anos encarnou em cisnes e gansos selvagens) e o general Patton. Os livros que procuram tor­ nar a reencarnação plausível citam essas pessoas. Visão geral provisória Não existe nada semelhante a um sistema de crença na reencar­ nação. As idéias sobre ela são extremamente diversas e contraditó­ rias, sendo o único ponto comum a visão de que após a morte as pessoas podem, devem, ou querem retornar como humanos. Quais são as maiores diferenças entre as idéias sobre a reencarnação? Al­ guns vêem-na em termos de leis naturais, outros, como recompensa ou punição, outros ainda como desenvolvimento. O retorno pode ser uma punição por um ritual negligenciado, por obrigações religiosas e assim por diante. A crença na reencarnação pode levar ao mesmo tipo de fatalismo que a crença em que outra pessoa tènha sofrido por nossos pecados (mesmo os ainda não cometidos). As teorias so­ bre a reencarnação, como as idéias cristãs e de outras religiões, são suscetíveis à aplicação de intimidação espiritual e chantagem. 71 Uma segunda diferença repousa na magnitude do número de reencarnações; serão poucas, algumas centenas ou o número indiano de 840 mil? Em que extensão as vidas passadas influenciam a vida pre­ sente, e quais as causas de tais influências? Então, novamente, o que se pode dizer sobre a intermissão? Será que a reencarnação é ime­ diata? Se for assim, acontece no nascimento ou durante a concepção? Este capítulo foi uma “viagem panorâmica à Europa em cinco dias” , com as seguintes intenções; 1. Desfazer a idéia de que a reencarnação é uma doutrina indiana. 2. Desfazer a idéia de que a reencarnação é uma doutrina bem defi­ nida (e fatalista). 3. Desfazer a idéia de que a reencarnação foi originalmente uma dou­ trina cristã eliminada por um concilio. 4. Mostrar que a reencarnação, como qualquer outra crença, é um assunto com moralismo pedante e associações incoerentes, precon­ ceitos incríveis, intolerâncias alarmantes e especulações sem funda­ mento, e mostrar que ela pode ser usada como um instrumento efi­ caz para disciplinar o rebanho. As pessoas tendem a desorientar-se e fantasiar. A reencarnação é um assunto fértil. É um fraco argumento salientar que mais da me­ tade da humanidade acreditou nela por mais da metade da existên­ cia humana registrada. De maneira semelhante, mencionar sua de­ cadência é também um fraco argumento. Afinal de contas, o que te­ mos aqui são noções diversas, contraditórias e freqüentemente fan­ tásticas. O capítulo 5 do segundo volume testará as várias idéias contrá­ rias ao material empírico disponível. Leitura adicional O livro que contém fontes de informação mais importantes e é facilmente disponível é Reincamation: The Phoenix Fire Mystery, de Head e Cranston (1977), que foi a principal fonte deste capítulo. Originalmente publicado em 1961, é excelente, extensivo e com mui­ tas citações exatas; a única objeção é que é menos completo do que sugere, negligenciando um pouco as fontes que não sejam em inglês, e superestimando o papel da teosofia. Todavia, é calorosamente re­ comendado! Um outro livro excelente, mas infelizmente difícil de ser encon­ trado é La Reincamation, de Berthotet (1949). Sua discussão dos pen­ samentos orientais e clássicos é especialmente extensiva e cuidadosa. 72 Bertholet também discute abordagens modernas, incluindo Kardec e a literatura experimental, tais como Rochas e outros trabalhos es­ píritas e parapsicológicos. Suas visões pessoais são aparentes apenas em alguns tratamentos por demais sérios de fontes relativamente sem importância. Contudo, a dimensão de sua leitura é impressiva, a dis­ cussão é vasta e meticulosa e aparenta ter mais acesso aos trabalhos franceses do que Head e Cranston. Para um estudante sério, este tra­ balho também é necessário. Outro bom livro francês é La Reincar­ nation des Ames selon les Traditions Orientales, de Des Georges (1966). Outros trabalhos são de qualidade inferior e alcance mais limi­ tado. Um dos primeiros livros nesta área é o de E. D. Walker (1888), contendo principalmente pensamentos sobre a reencarnação de lite­ ratos — atestado por uma grande coleção de poemas. O livro de Eva Martin, The Ring o f Return: an aníhology o f references to reincar­ nation and spiritual evolution: from prose and poetry o f ali ages (1927) foi reimpresso, e é um valioso predecessor de The Phoenix Fire Mystery. Martin cita muitas poesias e outras literaturas, e nesse as­ pecto está a meio caminho entre Walker e Head e Cranston. Uma extensiva pesquisa da literatura alemã é dada por Emil Bock (1932). Enquanto Walker tem inclinação teosófica, Bock é um pro­ fundo antroposofista. Ele parece dar à reencarnação uma patente ale­ mã, e todos os autores são tratados como precursores da antroposofia. Mesmo assim, é um livro informativo. No princípio deste século, alguns livros apresentavam a reencar­ nação como uma crença cristã. James Pryse (1900) é um dos que afir­ mam que o Novo Testamento ensina a reencarnação. Seu livro foi reimpresso em 1965, e em 1980 foi traduzido para o alemão, com grandes adições de Agnes Klein. Seu argumento não me convence, mas não sou treinado em teologia e filosofia. Um livreto cristão so­ bre a reencarnação, amigável e menos pretensioso, é o de Ernest Wil­ son (1936). Muitos livros mais ou menos teosóficos contêm capítulos histó­ ricos (Atkinson 1908; Van Ginkel 1917). Van Holthe tot Echten (1921), que acredita que a reencarnação é absurda, faz uma boa contesta­ ção histórica da proclamação feita por Besant e outros que inicial­ mente o cristianismo ensinava a reencarnação. Eckhart (1937) pu­ blicou um trabalho sobre as crenças na reencarnação entre os anti­ gos alemães. Idéias budistas sobre a reencarnação são discutidas por Alexandra David-Neel (1961), que escreveu coisas muito interessan­ tes, especialmente sobre o Tibete; por de Silva (1968) e a primeira parte do livro de Francis Story (1975). Alguns comentários muito in­ teressantes sobre o Tibete podem ser encontrados em Rato (1977). 73 Martin Wilson (1984) usa evidências modernas da reencarnação para corrigir algumas interpretações acadêmicas do budismo. Ele é um dos poucos autores religiosos com amplo conhecimento da literatura moderna. Contudo, parece não perceber que essas evidências podem confirmar o renascimento, mas divergem completamente das especula­ ções budistas clássicas sobre o assunto. Algumas referências históricas são encontradas em Manly P. Hall (1939) e Maria Penkala (1972). 74 3. Doutrinas reencarnacionistas esotéricas: as visões da teosofia e da antroposofia Teosofia Apesar de uma literatura coerente, é difícil definir a visão teosófica sobre a reencarnação. Muitas das idéias do movimento sobre a mesma foram gradual porém radicalmente modificadas no curso de seu desenvolvimento, e algumas permaneceram vagas e um tanto contraditórias. A essência da visão teosófica torna-se clara em sua crítica a Allan Kardec ao apontar que ele negligencia a verdadeira natureza e o caráter da intermissão que os teosofistas chamam de Devachan não prega o carma, e falta-lhe uma filosofia explicatória. Aparentemente, os teosofistas consideram a relação entre Devachan, sua doutrina do carma e o fundamento geral de sua filosofia oculta como essencial à sua visão da reencarnação. As fontes teosóficas da revisão que segue serão dadas no final deste capítulo. O conceito de evolução monádica Seguindo as visões indianas clássicas, os teosofistas acreditam nas manifestações mundiais rítmicas, manvantaras, alternadas com períodos de sono cósmico, pralayas. Quando principia uma manvaníara, os espíritos individuais elementares, chamados mônadas após Leibniz, despertam. Aparentemente, muitas mônadas estão desejo­ sas de suportar os exercícios penosos do universo físico. Elas apren­ dem a se tornarem as próprias criadoras da matéria, essencialmente transformando-se em co-criadoras do próximo universo. As môna­ das desenvolvem-se gradualmente. Começam com muitas vidas mi­ nerais e ascendem gradualmente, via vidas em plantas e animais, até 75 as vidas humanas. Esse desenvolvimento é tanto uma involução co­ mo uma evolução. A mônada começa como um ser espiritual, bas­ tante distante de sua contraparte física. Quando essa contraparte fí­ sica gradualmente evolui para um veículo de consciência, e em um ser humano, a mônada vai involuindo para habitar e dissolver-se na pessoa com seu corpo físico, e assim, finalmente, ganhar autoconsciência. Esse corpo humano originou-se dos corpos de animais supe­ riores. Aqui termina a involução natural da mônada e a evolução natural de seus veículos. O ser humano agora continua seu desen­ volvimento sob sua própria responsabilidade, retornando no final ao seu estágio espiritual original, porém agora autoconsciente e com um corpo inteiramente evoluído. Antes que a mônada desça pela primeira vez a um corpo huma­ no, encarna algumas vezes num dos animais superiores; elefante, ma­ caco (na verdade, um produto degenerado do cruzamento entre hu­ manos e animais), cachorro, gato ou cavalo. Cada grande manvantara consiste em ciclos menores de perío­ dos alternados de manifestação e repouso. No princípio de manvantaras menores, os planetas existem como estações de adestramento para a próxima etapa na evolução monádica. Nossa humanidade atual passou por condições materiais menos densas em seus estágios ante­ riores minerais, vegetais e animais da evolução monádica. A reen­ carnação é um ritmo manvantara-pralaya de vidas físicas e espiri­ tuais. No presente grau de densidade material, essas transições im­ plicam nascimento e morte reais. Contudo, as leis da reencarnação e do carma são leis gerais da evolução, aplicadas para todos os seres em desenvolvimento num universo em desenvolvimento. Com nosso grau de densidade material, o nascimento significa um começo real e requer muito esforço. Por que fazemos esse esforço? O que nos impulsiona? Os teosofistas distinguem cinco impulsos diferentes que nos levam ao renascimento; • • • • • a o o o o atração exercida pela Terra; apego aos objetos materiais e às condições físicas; carma; desejo de impressões externas para reforçar a autoconsciência; desejo da auto-expressão no mundo material (trishna). O apego aos objetos materiais e às condições físicas é um traço psicológico, e o carma, uma lei natural. Os três primeiros impulsos têm motivações materiais e os dois últimos, motivações egocêntricas. O superenvolvimento do ego em si mesmo e o superapego à matéria encobrem a natureza espiritual real do ser humano, fazendo-o esquecer 76 sua alta descendência. Mesmo assim, essas condições fazem com que a personalidade cresça, o que é a essência da evolução. Na visão teosófica, o número total de vidas é virtualmente imen­ surável. Em cada ciclo planetário temos muitos milhares de encar­ nações. De acordo com Sinnett (1883; 61), tivemos até agora, em nosso planeta, algo menos que oitocentas encarnações, mas precisamos de muitas mais para atingir a mais elevada perfeição neste mundo e nos tornarmos membros da fraternidade universal, auxiliares e mestres do resto da humanidade. Finalmente, atingimos o Nirvana como um pralaya pessoal. Mas o cordão de ouro da individualidade permane­ ce, e depois disso progrediremos ainda mais. O tema mais importan­ te desse desenvolvimento monumental dos mundos é o crescimento da consciência tetradimensional. A figura geral, então, é a de uma involução gradual das mônadas espirituais e uma evolução simultânea dos corpos físicos que as mônadas usam durante suas encarnações, até que ambas as linhas se fundam. Depois disso, a evolução continua, precariamente, sob nossa própria responsabilidade, devido ao risco sempre presente de que a mônada se envolva demais com as coisas físicas e com ela mes­ ma, caindo numa armadilha. Comparada ao hinduísmo clássico, a teosofia considera a roda do renascimento mais como um desenvolvimento planejado sob nossa própria responsabilidade, influenciado em alguma extensão pelo nosso próprio capricho, e menos como um sofrimento contínuo do qual se almeja a libertação. Mas esse capricho é um fato fundamental na evolução. As oportunidades para se desviar do plano estão essencial­ mente incluídas nele. O eu superior e o eu inferior: individualidade e personalidade A doutrina teosófica fala do eu superior, a mônada real, a cen­ telha do espírito universal, o princípio unificador de todas as vidas; e do eu inferior, a emanação ou projeção do eu superior em seu veí­ culo presente, que é diferente em cada vida. Quando a pessoa se es­ quece de sua natureza espiritual e descendência original, o cordão entre o eu superior e inferior torna-se mais fino. A iniciação fortale­ ce e assegura a relação. O eu inferior tem uma consciência quase in­ dependente, conectada ao corpo. A relação entre o eu superior e o inferior é como aquela de um ator e o papel que ele está representan­ do. Quando termina o espetáculo, permanece apenas o ator. O eu superior, a individualidade real, consiste nos três corpos superiores do microcosmo humano: Atma, Buddhi e Manas. O ego 77 real é Manas, também chamado de corpo causai em sua manifesta­ ção. A personalidade, o eu inferior, é a alma astral, que morre após cada encarnação no campo astral do Kamaloka. Os corpos mental, astral, etérico e físico contêm cada um elementos indestrutíveis, os “tomos permanentes” . Esses tomos permanecem com a individuali­ dade da pessoa. A experiência de cada vida é coletada pelos tomos permanentes e a aura. No caso de morte não natural, como um aborto, a morte na pri­ meira infância, um acidente ou assassinato, o renascimento pode ocor­ rer antes que o eu inferior se dissolva no Kamaloka. No entendimento de Blavatsky sobre a reencarnação (1886), o eu inferior também re­ torna nesses casos. Ela considerava isso como uma exceção indese­ jável. A literatura mais antiga proclama que cada personalidade se dissolve completamente. Por outro lado, as experiências da vida são coletadas nos tomos permanentes e na aura. A própria Blavatsky, contudo, estava certa de que nós, da maneira que somos aqui e ago­ ra como pessoas viventes, morreremos e jamais retornaremos. As­ sim como os iniciados fortalecem a relação entre seus eus superiores e inferiores, também podem reter suas personalidades. Da morte ao nascimento De Buddhi, a segunda parte do microcosmo humano, uma teia búdica de cordões de vida se estende no corpo etérico, e a partir daí alcança o corpo físico. Na morte esses cordões de vida se recolhem e se enrolam em volta de um núcleo no coração, formando uma cha­ ma dourada e púrpura. Então, vão para a terceira cavidade cerebral e, junto com o átomo permanente e a chama da vida, saem pelo to­ po da cabeça. Durante esse processo o moribundo experiencia uma revisão panorâmica de sua vida sensorial, o retrospecto de toda sua vida no cérebro físico. O panorama de vida se repete mais tarde no cérebro astral. A consciência do eu inferior permanece apegada ao cérebro material. Quando o corpo material se deteriora, a consciên­ cia do eu inferior também deteriora. A recordação de vidas passa­ das é, portanto, impossível. A porção astral-etérica remanescente do eu inferior vai parar no Kamaloka, o campo astral que circunda e permeia a Terra. Aqui sa­ ciamos todos os nossos desejos, sem a administração e a interrupção da consciência. Após a energia de nossos desejos ter se autoconsumido, o tomo permanente recolhe-se no campo mental. As essências dos desejos gastos permanecem como elementos astrais, os skandhas. Os skandhas são frutos da encarnação que terminou, e são, assim, sementes para a próxima. São eles os carregadores astral-etérico ou 78 etérico-físico do carma. Um alcoólatra deixa para trás um skandha feito de matéria astral correspondente. Numa próxima vida, esse skandha proporcionará a tendência de retornar ao mesmo vício. Is­ so não tornará necessariamente a pessoa uma alcoólatra, mas lhe pro­ porcionará um renovado confronto com essa tendência. Um eu as­ tral de má qualidade absolutamente não se dissolve e pode apegar-se ao corpo astral de um animal. Ao final do período Kamaloka, a alma (aparentemente o eu su­ perior) adormece e desperta em Devachan, o mundo mental dos pen­ samentos. Esse mundo também não tem causas, somente efeitos. A única ação aqui é satisfazer os próprios pensamentos. É, então, um porto de descanso, um mundo de ilusões autocriadas. Por outro la­ do, pode-se obter novos conhecimentos (e, parece, adquirir novos pensamentos). Encontrar outras pessoas permanece uma projeção do pensamento. Todos vivem sós entre idéias. Aspirações e idéias supe­ riores são aqui expressas. A riqueza dos pensamentos que se teve du­ rante a vida determina a extensão da permanência no Devachan. Al­ guém que levou sua vida de modo irrefletido, instintivo, reencarna quase que imediatamente depois que suas vibrações no Kamaloka ter­ minaram. Quando se acaba de gastar os pensamentos em Devachan, o corpo mental é descartado e a pessoa chega na área Manas, o au­ têntico lar do ser humano, onde ele está consciente do eu superior em seu corpo causai. O retorno para uma nova encarnação começa com o apareci­ mento de um fino cordão dourado de matéria búdica, com os tomos permanentes apegados a ele a partir da trindade superior do A tma, Buddhi e Manas. Os tomos permanentes são animados um por um, atraindo os skandhas deixados nos vários planos anteriores. O cor­ dão continua a ampliar-se formando a teia búdica da vida, que vai sustentar e inspirar todos os corpos. O que determina o corpo e a vida para os quais se retorna? A atração da Terra é geral e não leva a uma vida específica. O apego a objetos materiais e às condições depende do estágio dos tomos per­ manentes e dos skandhas remanescentes. Em grande parte, o carma opera via skandhas, e no restante por meio do “elemental constru­ tor” e do “duplo etérico” (veja a seguir). O desejo pela experiência e auto- expressão no mundo material também não são específicos. Depois da condição dos tomos permanentes e dos skandhas, e dos funcionamentos gerais do carma, a literatura teosófica menciona qua­ tro outros fatores que moldam uma nova vida; 1. O evolucionário potencial de aprendizagem da nova vida. 2. As relações com outras pessoas que nasceram ou que vão nascer. 3. O livre-arbítrio, a preferência pessoal e a insistência (especialmente de egos avançados). 4. Missões especiais que foram aceitas. 79 Os quatro ou sete “ Senhores do Carma” , também chamados Lipika, coordenam o processo reencarnatório. Eles são administrado­ res cósmicos superiores do carma, registram tudo no arquivo Akasha e distribuem as condições cármicas posteriores. Eles formam o “ elemental construtor” e o “ duplo etérico” de cada corpo físico. Por meio desse elemental, um ego bem desenvolvido pode procurar con­ tato com os Senhores do Carma para declarar sua vontade de assu­ mir mais carma do que o fixado. O elemental determina a qualidade da mistura das substâncias atraídas. Governa o crescimento do cor­ po e flutua ao redor da mãe. Ele parte no máximo durante o sétimo ano. Esse elemental é um ser vivo que serve à evolução humana, e assim ele mesmo evolui. As influências principais sobre o corpo físico são o elemental e a matriz etérica. Outras influências são hereditárias, além dos pen­ samentos e dos sentimentos da mãe. Algumas pessoas estão interes­ sadas na construção de seus corpos, outras apenas um pouco e ou­ tras de maneira alguma. Mestres sempre têm a mesma aparência fí­ sica. A extensão da semelhança entre várias encarnações é uma indi­ cação da habilidade evolutiva da pessoa. Egos avançados escolhem seus pais e determinam exatamente a hora do nascimento. Para pes­ soas comuns isso é determinado por um processo natural. Como se desenvolvem os talentos e as disposições de alguém de­ pende fortemente de seu ambiente. O processo da encarnação conti­ nua durante três períodos de sete anos. Uma pessoa não está com­ pletamente encarnada até a idade de vinte e um. Antes disso, o cará­ ter é uma continuação de seu caráter anterior, mas também facil­ mente influenciado. A influência dos educadores é maior do que usual­ mente é percebido. Características distintas, contudo, vêm claramente de vidas passadas. O momento da morte nem sempre é determinado antes do nascimento pelo carma, e é difícil de antever. Iníermissão e mudança de sexo As intermissões normais entre duas encarnações vão ficando tão mais curtas durante o desenvolvimento da teosofia que praticamen­ te delimitam a literatura teosófica. Em seu Esoteric Buddhism, Sinnett fala sobre uma intermissão normal de mais de 8 000 anos (1883; 143). Ele concluiu que permanecemos no corpo aproximadamente 1,2 por cento do tempo, e o restante, principalmente em Devachan. Conseqüentemente, Devachan seria mais importante. Isso é incon­ sistente com a visão de que no Devachan as pessoas apenas elabo­ ram e gastam seus pensamentos, e que a extensão da permanência lá depende da riqueza dos pensamentos durante a vida. Logo as in80 termissões mudam para 2 000 ou 3 000 anos, no mínimo. Um pouco mais tarde, são mencionadas intermissões de setecentos e 1 200 anos. Pessoas que encarnam em várias sub-raças precisam de uma intermissão de 1 200 anos, enquanto as que encarnam na mesma sub-raça têm uma intermissão de setecentos anos. Essa intermissão implica uma permanência mais curta, porém mais intensa, no Devachan. Mais tarde ainda, Leadbeater oferece sua elaborada classifica­ ção (1910; 241); • 1 500 a 2 300 anos; almas maduras e avançadas; iniciados; • 700 a 1 200 anos; aqueles que estão a caminho ou próximos da ini­ ciação; desses anos, cerca de 5 anos são em Kamaloka e até 50 no plano Manas-, • 600 a 1 000 anos: classe superior; 20 a 25 anos em Kamaloka, curta estada em Manas; • Cerca de 500 anos: classe média alta; 25 anos em Kamaloka, não permanência em Manas; • 200 a 300 anos: classe média baixa; 40 anos em Kamaloka-, • 100 a 200 anos: trabalhadores qualificados; 40 anos em Kamaloka-, • 60 a 100 anos; trabalhadores não qualificados; 40 a 50 anos em Kamaloka; • 40 a 50 anos: inúteis e bêbados; somente em Kamaloka-, • Cerca de 5 anos; classe inferior; somente na parte inferior de Kama­ loka ou fronteira da terra, em estado vegetativo. Leadbeater está provavelmente indicando apenas as divisões mais freqüentes e típicas. Pelo menos suponho que ele não esteja afirmando que, por exemplo, as classes superiores não têm inúteis ou bêbados. A riqueza da vida cultural e espiritual de alguém (determinando a extensão da permanência em Devachan), a intensidade de sua vida emocional (determinando a extensão da permanência em Kamalo­ ka) e a extensão e natureza da vida anterior (por exemplo, uma mor­ te prematura, imbecilidade ou acidente) causam desvios dessa mé­ dia. Em geral, quanto menos força mental tem uma pessoa, mais te­ rá de aprender e mais terá de passar por experiências de aprendizagem. Alguns escritores teosóficos proclamam que a regra é ter entre três ou sete encarnações no mesmo sexo. Outros escrevem que sete encarnações masculinas e sete femininas se alternam. Alcyone (a en­ tidade de Krishnamurti) tem de quatro a oito encarnações consecuti­ vas no mesmo sexo a cada vez (Besant e Leadbeater 1924). Outras passagens indicam que algumas pessoas mudam de sexo com facili­ dade e outras com dificuldade. Após uma morte prematura a pessoa freqüentemente reencarna na mesma sub-raça e, quando isso acon­ tece, muda de sexo com freqüência. 8l Um forte apego a determinadas famílias ou a pessoas pode re­ sultar num retorno repetido ao mesmo lugar. Supõem-se que os ju­ deus freqüentemente reencarnam como judeus, pois se consideram pessoas escolhidas. O mesmo pode ser dito dos drusos ou de qual­ quer outro grupo que, por alguma razão, se sente bem consigo mesmo. Carma Os teosofistas acreditam piamente que o carma é a lei universal de causa e efeito. Todos os nossos comportamentos expressam nos­ so passado, inclusive vidas passadas, e modelam o futuro, inclusive as vidas futuras. Tudo recai sobre nós, mas devido a maya, a ilusão criada às vezes por longos períodos entre causa e efeito, em geral não percebemos as situações que nos acontecem como resultado de nossos próprios atos. A visão teosófica do carma tem três níveis; • como lei natural, sem providência ou liberdade; • como recompensa ou punição; • como orientação, compensação, evolução e cura. Quando agimos naturalmente, respondendo à situação de acordo com nossa natureza, nossos atos têm conseqüências puramente natu­ rais. Esse é o primeiro tipo de carma, livre de recompensa e punição, e sem orientação. Os teosofistas também acreditam que os pensamen­ tos e sentimentos que temos numa vida continuarão naturalmente em nossos atos na próxima. Consideram esse segundo efeito — foradentro — como mais fraco do que o primeiro efeito — dentro-fora. A literatura teosófica oferece poucas ilustrações dos efeitos cármicos naturais. Um deles é que a crueldade numa vida leva à insanidade na próxima. Da mesma maneira que pensamentos e sentimentos determinam parcialmente os atos na vida seguinte, também os atos astrais po­ dem ter conseqüências cármicas no plano físico. Um exemplo de orien­ tação e compensação é que acidentes e desastres podem ser subtraí­ dos do carma negativo de alguém. Nos casos que não tenham carma negativo para ser compensado, um salvamento miraculoso aconte­ ce, ou é dada uma compensação na forma de carma positivo, ou uma •recompensa em Devachan. A condução e compensação do caráter do carma mostra-se também na idéia de que as raças podem se tor­ nar estéreis e extintas por razões cármicas. Aparentemente, o fato primordial de nossa evolução é alcançar a autoconsciência e assim liberar a escolha, e como um resultado cármico tornamo-nos apegados à matéria e ao autocentramento. Isso 82 ocorre principalmente devido à satisfação no sexo, perdendo, assim, o “terceiro olho” da clarividência. A maioria das exposições teosóficas sobre o carma refere-se à moral e ao funcionamento corretivo do carma. Em geral, as maldades são punidas e as vítimas, recompensadas. As pessoas podem ser punidas por maldades durante sete vidas futuras. A relação entre o ato e a conseqüência cármica está de acordo com a lei natural, mas isso é maleável. Um assassino não é necessariamente assassinado na próxima vida. Mas, provavelmente, terá de salvar suas vítimas ante­ riores com sua própria vida; ou ele compensa com toda uma vida de serviço e dedicação aos outros. Uma simples retribuição é exce­ ção. A má sorte de pessoas de valor é conseqüência de más ações passadas. A boa sorte de pessoas sem valor é a conseqüência de boas ações passadas. Atualmente, existem muitas conseqüências de um mau carma resultante de encarnações em Atlântida, pois (supondo intermissões de aproximadamente 1 200 a 1 500 anos) as pessoas estão agora em torno de sua sétima vida após a época de Atlântida. Maus espíritos podem nos induzir a cometer más ações, mas somente po­ dem fazer isso estimulando e aproveitando um mau carma já presente. O carma não é sempre específico. Sofrer de uma doença, por exemplo, é um carma não específico. Geralmente, o “ pequeno car­ ma” , o carma por atos não importantes, é incorporado em uma massa cármica mais vasta antes de ser liberado. Nossa massa cármica pode ser dividida em sanchita carma, prarabdha carma e kryamana car­ ma. Sanchiía carma é a massa cármica geral de vidas passadas. So­ mente uma parte dela está “madura” , ou prarabdha carma, e in­ fluenciando nosso comportamento nesta vida. A massa cármica que criamos nesta vida é a kryamana carma, que será adicionada à sanchita carma após esta vida. Contudo, uma parte é resolvida direta­ mente nesta vida. Esse é um carma de “ pequena-mudança” . A figu­ ra 1 ilustra essas formas de carma. Figura 1 — As formas de carma ►Sanchita carma (massa cármica geral) 1 Prarabdha carma (carma amadurecido) <— i Comportamento I (carma de pequena mudança) -> Kryamana Carma (novo carma)-------------- 1 83 Os átomos permanentes reanimados e o elemental que supervi­ siona a formação do corpo físico atraem os skandhas, que determi­ nam largamente o prarabdha carma. Conseqüentemente, o carma e o plano de vida correspondente são visíveis no corpo físico, como nas palmas das mãos e em outros lugares. O carma positivo, a re­ compensa por boas ações, resulta em autodesenvolvimento ou em um ambiente agradável, dependendo se foi considerada ou não a ob­ tenção de uma recompensa. Assim, ações altruístas resultam em au­ todesenvolvimento. Boas ações com uma medida de egoísmo levam apenas a ambientes agradáveis. Cada doutrina do carma leva à questão do livre-arbítrio versus a predestinação. Os teosofistas respondem que a determinação cármica da ação não impossibilita nem alguma livre escolha nem o au­ xílio dos outros. O auxílio é sempre possível e o livre-arbítrio jamais é absolutamente-arbitrário, mas sempre uma livre escolha limitada. Se tudo fosse predestinado, o carma, como conseqüência dos atos predestinados, não teria sentido. Ele é precisamente a conseqüência de escolhas relativamente livres, mais a compensação por distúrbios não merecidos na vida. Estar livre do carma é absurdo; o ponto é ficar livre pelo carma. Para evoluir, nossos atos precisam ter conse­ qüências reais. Quanto mais desenvolvido alguém for, mais sutil e precisamente o carma funcionará, por exemplo, em relação ao tem­ po e ao lugar. Finalmente, o carma exerce um papel em grupos maiores de pessoas, tais como culturas ou instituições, como as congregações. Reencarnações de pessoas conhecidas As mais conhecidas publicações teosóficas sobre a reencarnação de pessoas são Man: Whence, How and Whither e sua continuação The Lives o f Alcyone, descrevendo as encarnações de um grande nú­ mero de mestres e teosofistas proeminentes, mais tarde centrados em torno da figura de Alcyone, que recentemente encarnou como Krishnamurti (Besant e Leadbeater 1913,1924). Um outro trabalho sobre a reencarnação de outros teosofistas apareceu mais tarde em quatro volumes (Leadbeater 1941-50). Os teosofistas consideram Annie Besant como a reencarnação de Hypatia, um gnóstico alexandrino. Frederico III, o pai do Kaiser Wilhelm I, da Alemanha, foi a reencarnação de Clóvis. Recordação de vida passada As memórias de vidas passadas são extraordinárias, uma vez que o cérebro físico que as contém se esvanece e o cérebro astral da perso84 nalidade inferior se decompõe. Felizmente, cada experiência não é somente registrada no cérebro físico e no eu inferior, mas também no eu superior, de tal modo que, via Manas, o corpo causai, as vidas passadas podem ser recordadas. De acordo com Sinnett (1883), re­ cordações gerais de vidas passadas serão, portanto, somente possí­ veis em um futuro distante. Van Ginkel (1917) supõe que a regres­ são por transe hipnótico ou magnético se torne a maneira mais im­ portante de se recordar vidas passadas, mas, também, só num futu­ ro distante. Com poderes búdícos, as vidas anteriores dos outros podem ser percebidas. A presença de outra pessoa auxilia, mas não é exigida. Finalmente, registros de vidas passadas podem ser lidos nos átomos permanentes, mas este é o método mais difícil. O desenvolvimento espiritual que tornou a pessoa consciente do eu superior, e preferen­ cialmente a iniciação, são necessários para recordar vidas passadas. Em sua exposição sobre o desenvolvimento da clarividência, Leadbeater (1899) escreve que é preferível a recordação de vidas pas­ sadas no estado normal de consciência, pois isso permite que se to­ mem notas. O ambiente raramente tem importância, desde que a men­ te esteja calma, aberta e livre de preconceitos. As figuras emergentes de vidas passadas são como imagens de filmes, cuja velocidade pode ser aumentada ou diminuída, ou mesmo interrompida, para que se olhe os detalhes com mais cuidado. Pode-se também tomar uma po­ sição dentro do passado, em vez de permanecer como observador. Algumas vezes pode-se reconhecer alguém na recordação da vi­ da passada como sendo uma pessoa que se conhece atualmente, mas Leadbeater alerta contra a identificação intuitiva, a qual não merece crédito. É melhor tomar a pessoa como alguém da vida passada e examinar as encarnações seguintes, até perceber a encarnação pre­ sente. Os mestres são fáceis de se reconhecer, pois o aspecto deles dificilmente muda. Carma, reencarnação e desenvolvimento espiritual Se nos expusermos a muitas experiências e formos sinceros em nossos esforços, certamente faremos progressos. O carma pode ser um instrumento para a autoliberação, especialmente quando enten­ demos como ele funciona. Podemos alcançar essa compreensão pois os mestres revelaram as doutrinas espirituais. Podemos aprender a servi-los através da docilidade, entendimento, esforço, flexibilidade e companheirismo. Desenvolvemos essas características vida após vida. Quando começamos no caminho do desenvolvimento espiritual, atin­ gimos o objetivo supremo na sétima vida, após o primeiro passo. Po­ 85 demos quitar o débito que acumulamos durante esse processo de ini­ ciação, auxiliando outras pessoas a progredir. Somente o descaso aos insights recebidos é que cria a culpa. Podemos ficar empatados no caminho, mas nas vidas seguintes continuamos sensíveis a verdades já adquiridas. Conseqüentemente, muitas pessoas são sensíveis às dou­ trinas teosóficas. As únicas causas para a retrogressão real são a cruel­ dade deliberada e a magia negra. Comentários finais A doutrina teosófica do carma e da reencarnação tem uma am­ pla perspectiva cósmica de involução e evolução simultâneas, com visões elaboradas, porém abstratas, sobre a encarnação e a “ excarnação” . Tem algumas inconsistências, como essa revisão já pode ter demonstrado. O eu inferior, por exemplo, é colocado alternadamente entre os níveis mental, astral, etérico e físico. Qualificações como “ astral-etérico” ou “ etérico-físico” são ambivalentes. Buddhi é o segundo veículo do microcosmo, mas a teia búdica permeia o corpo etérico (sexto veículo) e ao mesmo tempo sustenta todos os sete cor­ pos. Isso cria, no mínimo, confusão lingüística. Já apontei o enco­ lhimento dos períodos de intermissão. Certos fenômenos, como o tempo despendido em Devachan, são algumas vezes definidos como leis cósmicas, válidas necessariamente para todos, e algumas vezes são dependentes de circunstâncias individuais. A teosofia demonstra o caráter inspirador, porém confuso e des­ conexo da literatura gnóstica, embora leve vantagem se comparada a produtos relacionados. Os seguidores mais independentes dos mo­ vimentos gnósticos produzem visões de mundo similares, mas com diferenças. Isso também aconteceu com a teosofia, o que levou a mui­ tas variantes individuais, algumas vezes cópias carbono do original, outras vezes “desenvolvidas” ao ponto de se tornarem irreconhecí­ veis. Um dos mais influentes e interessantes movimentos ramifica­ dos da teosofia na Europa é a antroposofia de Rudolf Steiner. Antroposofia O conceito antroposófico da evolução da humanidade Dentre as extensivas reflexões de Rudolf Steiner sobre o desen­ volvimento da humanidade, escolhi aquelas diretamente relaciona­ das com sua visão sobre carma e reencarnação. Durante a encarna­ ção prévia da Terra, chamada Lua Velha, as almas humanas atuais es­ 86 tavam no nível animal. As almas que estavam no nível humano são agora anjos. Num estágio mais inicial, algumas dessas almas, conhe­ cidas como espíritos lucíferos, intensificaram e cultivaram sua cons­ ciência pessoal, afastando-se cada vez mais da corrente principal da evolução e, conseqüentemente, ficaram para trás. Durante nosso desenvolvimento neste planeta, a inspiração des­ ses espíritos lucíferos levou à queda do ser humano, a uma involução que o desalojou do espiritual e o fez cair no material. O carma entrou com essa queda inspirada lucifericamente, durante a era da Lemúria, quando as condições da Lua Velha mais ou menos se repe­ tiram. Durante a Lemúria, a Lua se separou da Terra (depois de o Sol já ter se separado da Terra na era precedente, de Hiperbórea). Após a separação da Lua, a autoconsciência humana encarnou pela primeira vez. Com isso começa o caminhar vertical, que leva à reen­ carnação no sentido que conhecemos. O caminhar liberou nossas mãos, e depois disso veio a linguagem e o pensamento independen­ tes. O que alguém faz com suas mãos está conectado com seu carma individual, o que ele diz está conectado com o carma nacional, e seus pensamentos, com o carma da humanidade. A humanidade tem um fundo original de poder espiritual, que gradualmente vai sendo consumido no curso das encarnações. Se não fosse por Cristo, que transpôs a inspiração lucífera e deu-nos novas possibilidades, chegaríamos a um beco sem saída na conclusão desse ciclo planetário. Sem o Calvário, a reencarnação sucessiva levaria finalmente a pessoas mecânicas de almas vazias. Os seres humanos lembram-se de suas vidas passadas até a se­ gunda era posterior a Atlântida, a dos antigos persas, de 5067 a 2907 a.C. Na terceira era, o período entre 2907 a 747 a.C., quando existi­ ram as culturas egípcia, babilônica e caldéia, a recordação de vida passada gradualmente decresce. Em algum outro lugar, Steiner de­ clara que o conhecimento da reencarnação foi perdido no Kaliyuga, estendendo-se de 3101 a.C. a 1899 d.C. Na época do aparecimento de Cristo, a crença na reencarnação estava totalmente em baixa. Desde então, a humanidade esqueceu tudo sobre a reencarnação, para apren­ der a se concentrar apenas nesta vida. A recordação de vida passada foi perdida quando os sacerdotes começaram a beber vinho. A festa de casamento em Canaã é um sím­ bolo disso. O próprio Cristo proibiu o ensinamento da reencarna­ ção. As noções de reencarnação eram algumas vezes familiares às ordens monásticas mais esotéricas; o voto de silêncio dos trapistas serviu para prover bons oradores para a igreja na próxima vida. Idéias sobre a reencarnação começaram a voltar durante o Iluminismo do século XVIII, no trabalho de Lessing, entre outros, porém 87 agora numa forma nova e cristianizada. Essas idéias cristianizadas relacionam o objeto ao desenvolvimento da humanidade, enquanto a idéia budista mais antiga relacionava o sujeito ao desenvolvimento individual. Durante o curso de sua vida, Steiner dizia que há um crescente desejo de recordar encarnações passadas. Ao final do século XX, Cris­ to se tornará o novo Senhor do Carma, e unirá o carma individual da pessoa ao carma da humanidade. No futuro, as conseqüências cármicas de nossos atos serão cada vez mais diretamente visíveis. A resistência à idéia da reencarnação veio particularmente da sub-raça anglo-americana, embora sua missão seja precisamente ofe­ recer uma base científica às teorias sobre a reencarnação e o carma. Entre a morte e o nascimento Após a morte, sentimos que estamos saindo de nosso corpo e nos unindo com o mundo circundante. Segue-se, então, um retros­ pecto panorâmico de nossa vida,passada. Esse retrospecto dura tan­ to quanto formos capazes de permanecer despertos em nossa vida, no máximo uns dois dias. Depois disso nosso corpo etérico morre, de tal modo que todos os pensamentos desaparecem e permanecem somente as emoções correspondentes. Um extrato de nosso corpo fí­ sico continua idêntico em todas as encarnações. O extrato do corpo etérico, por outro lado, é diferente em cada vida. Então chegamos no mundo astral (o Kamaloka dos teosofistas). Novamente experienciamos um panorama de nossa vida, mas desta vez de frente para trás, sendo intensamente emocional. A extensão desse retrospecto de vida dependerá do tempo que dormimos durante a vida, ou cerca de um terço dela. Durante esse retrospecto, experienciamos como nos­ sos próprios sentimentos o que os outros experienciaram em relação aos nossos atos. Isso imprime em nosso corpo astral o anseio de re­ parar atos errôneos. Esse retrospecto dá-se na esfera da Lua, com o auxílio de seres lunares que dão substância a nossas experiências emocionais, em coo­ peração com os anjos que unem uma vida à outra. Na esfera de Vênus ficamos sob a influência dos arcanjos. Vamos, então, para a es­ fera de Mercúrio, onde ficamos sob a influência de Archai. Final­ mente, na esfera do Sol, encontramos o que é chamado de segunda hierarquia; os exusiais, os dinamis e os kiríotetes. Maus carmas não podem ultrapassar a esfera do Sol até a esfera de Saturno, onde so­ mos consecutivamente sujeitos a influências dos tronos, dos queru­ bins e dos serafins. Quando refletimos as energias que passaram pe­ lo domínio do Sol, é produzida nossa predisposição à saúde, e quando 88 refletimos as energias que não passaram pelo domínio do Sol, liga­ das à procriação e à Lua, é produzida nossa predisposição às doen­ ças. Por que, afinal, as pessoas reencarnam? Em primeiro lugar, pa­ ra avançar seu desenvolvimento; em segundo, para resolver seu car­ ma; e em terceiro, para contribuir no desenvolvimento da humani­ dade. Os exemplos dados por Steiner de pessoas que reencarnaram puramente para contribuir no desenvolvimento da humanidade são Aristóteles, Carlos Magno e Lutero. O carma que se origina durante outra vida física pode somente ser compensado durante a vida física. As imperfeições dessa vida pro­ curam novos sofrimentos para se tornar perfeita na nova vida. O so­ frimento tem um valor evolutivo e nos ajuda no desenvolvimento. Não podemos solucionar nosso carma em apenas uma vida, pois em cada uma delas temos um corpo físico que permite apenas certas for­ mas de carma. Em geral, o carma de uma vida pode influenciar as próximas sete vidas. Cada encarnação é uma involução. A mentalidade, os pensamen­ tos de uma vida, imprime-se no corpo astral da próxima vida, com os seus sentimentos. A astralidade, com os sentimentos, imprime-se no corpo etérico da próxima vida, com as tendências, hábitos e tem­ peramento. As tendências, hábitos e temperamento de uma vida imprimem-se no corpo físico e nos atos físicos da próxima vida. N o s ­ so s atos físicos determinam o ambiente físico da nossa próxima vi­ da. E à medida que o ambiente influencia os pensamentos com os quais crescemos, o círculo é mais ou menos fechado. Impulsos não satisfeitos e interesses de vidas anteriores, em particular, determinam o corpo e o meio em que morremos. Intermissão e mudança de sexo Rudolf Steiner, como os escritores teosóficos, começa com pe­ ríodos de intermissão longos e termina com períodos menores. Ini­ cialmente ele postula que as pessoas reencarnam uma vez a cada era zodiacal, a cada 2 600 anos. Isso parece ser um engano. O chamado ano sideral é de aproximadamente 26 000 anos ou, em sinais side­ rais, 2 160 anos em média. (Ele usou essa medida correta em seus últimos cálculos das eras posteriores à Atlântida.) Mais tarde, Steiner postula que encarnamos a cada 1 300 anos, para ter em cada período de 2 600 anos uma encarnação masculina e uma feminina. Explica suas indicações iniciais dizendo que as en­ carnações masculinas e femininas são tão diferentes que os ocultistas as consideram como uma única encarnação. Uma encarnação mas­ culina carrega dentro de si a tendência em direção a uma encarnação 89 feminina, e vice-versa. O padrão regular é alternar uma vida femini­ na a uma masculina. Excepcionalmente ocorrem encarnações conse­ cutivas no mesmo sexo. Até três vezes no mesmo sexo é normal, e sete vezes no mesmo sexo é o máximo. De acordo com Steiner, aqueles que vieram por volta do princí­ pio deste século estiveram encarnados, em regra, entre 300 e 900 d.C. Aparentemente ele dá uma margem de aproximadamente 300 anos para a volta de uma intermissão de 1 300 anos. Cinco anos mais tar­ de, aproximadamente em 1910, diz que as pessoas dessa época vive­ ram duas, três ou quatro vezes desde a Palestina, somando uma mé­ dia de intermissões de mil, setecentos ou quinhentos anos. Aparen­ temente, ele pensou em termos de um intervalo de setecentos anos, com uma margem de cerca de duzentos anos, que também era aceita nos círculos teosóficos da época. Finalmente declara ser rara a reencarnação na mesma cultura ou nação, com exceção da “ comunidade das nações da Europa Cen­ tral” . Aparentemente, essa comunidade (não definida, mas prova­ velmente equivalente à parte da Europa onde se fala o alemão) é al­ go especial. Leis cármicas e relações gerais entre as vidas As exposições de Steiner sobre o carma são muito divergentes para serem facilmente resumidas. De maneira global, durante o pri­ meiro período de seus discursos, seus conceitos aproximavam-se dos teosofistas e continuava a usar o vocabulário teosófico. A maioria de sua audiência tinha orientação teosófica e ele próprio atuava na Associação Teosófica. Nos anos 20, no final de sua vida, criou uma visão antroposófica completa própria do mundo, onde a reencarna­ ção e o carma tiveram lugares específicos. Nesse meio tempo, apro­ ximadamente entre 1912 e 1918, surgiu com idéias sobre o carma que pareciam manter pequena relação com seus pensamentos anteriores e posteriores. Steiner caracteriza o carma como uma ordem moral, espiritual e cósmica, ao lado de uma ordem natural e física. As causalidades física e cármica são opostas e complementares. Tudo que é fisica­ mente acidental é determinado pelo carma, e tudo o que é carmicamente acidental é determinado pelo físico. Assim, o carma é a lei espiritual de causa e efeito que permeia todos os atos humanos inte­ riores e exteriores. O conhecimento e o entendimento do carma não o altera; no máximo provoca uma mudança. O carma deixa o livrearbítrio intacto. Este funciona em situações carmicamente determi­ nadas. (Aparentemente, o livre-arbítrio é um terceiro princípio, que se 90 aproxima do carma e da causalidade física.) Como a teosofia, a antroposofia enfatiza que o auxílio é sempre possível. Uma outra idéia é que o carma tem a ver especificamente com as conseqüências do comportamento humano inspirado lucifericamente. Algumas vezes Steiner declara que o carma é válido princi­ palmente para os atos de uma pessoa durante sua vida, e em outras que o carma é puramente espiritual, ativo no mundo espiritual so­ mente entre as encarnações. Contudo, as leis cármicas têm um papel importante na encarnação. O carma da primeira metade de uma vi­ da tem um papel durante a segunda metade. Uma infância alegre le­ va a uma idade avançada espiritualmente rica. A reverência durante a infância leva a uma presença beneficente na idade avançada; uma indignação nobre leva a uma mansidão amorosa; e a devoção, à con­ tínua jovialidade. O egoísmo e o desenvolvimento forçado durante a infância levam ao envelhecimento precoce. Em 1912 Steiner começa vários discursos sobre o carma, como a interação entre o micro e o macrocosmo. Por essa época, conside­ ra nossos julgamentos como a fonte de nossos carmas. Os julgamentos imaginativos são irradiados para o ambiente através dos nossos os­ sos; os julgamentos inspirados, através dos nossos músculos, e os julgamentos intuitivos, através dos nossos nervos. Tudo o que esti­ ver errado em nossos julgamentos se refletirá à nossa volta. Esse é nosso carma. Tudo o que for correto nesses julgamentos será absor­ vido pelo cosmos para construir o Júpiter oculto, a próxima encar­ nação dé nossa Terra (GA 134: I). Embora seja difícil imaginar, dois anos mais tarde essa idéia torna-se ainda mais complexa. Ele diz que o sistema muscular hu­ mano é o carma cristalizado, pois os músculos envolvem o espírito e orientam a pessoa para seu lugar cármico (GA 153; I). De acordo com essa idéia, o carma funciona principalmente por nos levar a certos lugares em certas épocas. Essa é uma visão extremamente limitada do carma. Além disso, nosso sistema muscular não determina onde vamos, pois nossos músculos obedecem a nossos nervos. Mais tarde ainda, Steiner diz que o ego, durante a vida, grava os atos no éter circundante, e que serão lidos como carmas na próxi­ ma vida (GA 157; IV). Depois ele volta ao conceito de carma basea­ do na radiação espiritual dos julgamentos humanos, continuando a operar após a morte (GA 181; V, VI). Aqui, a cabeça, o tronco e os membros diferem grandemente. O carma do corpo cria o carma da vida seguinte e a cabeça vive do carma da vida anterior. (Estra­ nhamente, isso parece colocar o sistema muscular na cabeça.) Existe uma oscilação entre os opostos, além da continuidade ao longo das diferentes vidas — como talentos desenvolvidos — e a tran­ 91 sição dos pensamentos de uma vida para os sentimentos na vida se­ guinte, dos sentimentos para os hábitos, dos hábitos para o corpo e dos atos corporais para o ambiente. A alternação entre encarna­ ções masculinas e femininas é o exemplo mais óbvio. Precisamente onde alguém foi talentoso numa vida, poderá ser desajeitado na se­ guinte. O que era o sentimento mais íntimo numa vida poderá ser um comportamento público na seguinte. Membros da família numa vida poderão ser amigos numa outra, e os amigos numa vida pode­ rão voltar como parentes numa outra vida. No curso de nossas vidas alternamos entre dois grupos de pessoas com quem estamos relacio­ nados. Uma outra forma de oscilação é entre as idades. Durante a juventude encontramos, na maioria das vezes, pessoas que conhece­ mos na meia-idade em nossa vida anterior, e durante a meia-idade encontramos pessoas que conhecemos durante nossa juventude, numa vida anterior. A última parte da vida não tem carma específico ou carma nenhum. Quando uma pessoa teve uma séria atitude em relação à vida, numa vida passada, essa atitude se irradia em sua encarnação pre­ sente. Quando a vida anterior da pessoa foi superficial, ela não se irradia. Isso pode ser reconhecido, pois tais pessoas gargalham mui­ to e sorriem forçado. Uma sina comum pode ser resultado de uma morte comum, num desastre. Na ausência de um carma presente, isso pode criar um car­ ma positivo, como incitar um compromisso comum. Ao lado do carma individual, há o carma nacional e o carma da humanidade. Durante eventos históricos importantes o carma in­ dividual e o geral se interligam. Exemplos de carma Steiner dá muitos exemplos de relações específicas entre as vi­ das. O materialismo e a rejeição do espiritual (inspirado por Ahri­ man) levam à intermissão escura e a uma próxima encarnação numa inteligência egoísta. O misticismo egoísta (inspirado por Lúcifer) le­ va a uma intermissão sem orientação e à inteligência defeituosa na próxima vida. Fraude numa encarnação leva à petulância e à indife­ rença na seguinte. A reflexão leva à negligência na vida seguinte, e esta, por sua vez, leva ao nervosismo. O pensamento trivial e con­ vencional leva à avidez e à gula na próxima vida. Uma pessoa de mente débil que experimenta impiedade pode tornar-se generosa e benevo­ lente em sua próxima vida. Alguém que causou dor a outros pode ser melancólico em sua próxima vida. Facilidade em relação a lín­ guas leva à liberdade de preconceitos na vida seguinte. A moralidade 92 sem beleza desenvolve o astral sem o etérico, e leva a uma encarna­ ção fraca no geral, como a idiotice, na vida seguinte. Os exemplos mais claros são aqueles em que as condições etéricas da vida (os hábitos) induzem às realidades físicas, na seguinte. Habilidade matemática numa vida leva à boa acuidade visual, na pró­ xima; habilidade em arquitetura numa vida, à boa audição na se­ guinte. Pessoas ponderadas serão magras em sua próxima vida; aque­ les que não gostam de refletir serão gordos em sua próxima vida. Pessoas que pensam muito obtêm uma bela pele com linhas suaves na próxima vida, e aquelas que pensam pouco terão pele manchada com linhas grosseiras. Uma vida monótona resulta na necessidade de dormir muito na vida seguinte. Aqueles que são ativos e interes­ sados obterão uma fronte baixa, pronunciada e poderosa na próxi­ ma vida, terão ossos fortes e crescimento rápido, os cabelos saudá­ veis e, em geral, expressarão gênio forte. Àqueles que foram indo­ lentes e desinteressados mostrarão características físicas e psicológi­ cas opostas. Pessoas que sofrem pacientemente de doenças, dores e privações receberão beleza física na vida seguinte. Uma morte violenta criará a necessidade idealista de realizar objetivos importantes na vida se­ guinte. Doenças infecciosas levarão a um belo ambiente na próxima vida, e as doenças fatais, a órgãos internos fortalecidos. (Aparente­ mente, as doenças infecciosas fatais levarão a ambos.) As doenças têm origens cármicas específicas. O ódio do proletário explorado se expressará na próxima vida como tuberculose. Um fraco senso do eu levará, na próxima vida, à predisposição ao cólera, e um exagera­ do senso do eu, à predisposição à malária. Pessoas propensas a ex­ plosões emocionais serão vulneráveis à difteria na próxima vida. Finalmente, aqueles que pensam que ter vidas subseqüentes é to­ lice terão vidas tolas subseqüentes! (Isso explica muito do que ve­ mos à nossa volta. E quanto ao futuro, querido leitor, você já está prevenido.) Recordação de vida passada: pesquisa do carma Normalmente os efeitos das vidas passadas nos permeiam so­ mente num sono sem sonhos. Não podemos inferir causas e efeitos cármicos apenas dos atos objetivos e eventos. O carma só pode ser visto por níveis de consciência mais elevados que Steiner chama de inspiração e intuição. Não podemos recordar eventos concretos de vidas passadas, mas sim os sentimentos correspondentes. É possível identificar influências cármicas, mas isso requer uma observação sutil. Steiner chama a isso de pesquisa do carma. Ela co­ 93 meça ao se prestar atenção nas aparentes coincidências que influen­ ciam o curso de nossa vida, aprendendo a distinguir carmicamente atos predestinados dos atos livres. É importante ver nosso destino como uma realidade espiritual na qual nosso eu superior está ativo. No futuro começaremos a ver nossas vidas passadas através da relação que temos com Cristo, que nos fornece a confiança necessá­ ria para a evolução posterior. Enquanto isso, exercícios especiais po­ dem nos tornar conscientes do funcionamento cármico. Steiner in­ dica três desses métodos. O primeiro método pode ser chamado de “ exercício do alterego” . Antes de tudo você se impregna da sensação de que desejou ativamente suas limitações e sofrimentos na vida, que produziu sua própria tristeza e desventura. Dentro de você há um ser mais inteli­ gente, que sabe melhor do que sua consciência normal o que é bom para você. Inicialmente, precisa sentir intensamente que a sabedoria vem do sofrimento. Depois, sentir intensamente que cada prazer e alegria é uma graça. Você precisa saber que o mundo quer recebê-lo com esses sentimentos. Isso desenvolve sua receptividade a este mundo e a sua inclinação para entrar nele totalmente, e assim você se mos­ trará digno dessa graça. Finalmente, no caso de acidentes e inciden­ tes desagradáveis, você precisa imaginar que tem um alter-ego mais inteligente que desperta esses eventos. Permear a si mesmo com es­ ses três sentimentos, de forma contínua, aos poucos vai tornar o alterego uma realidade para você. Isso abre uma imagem de uma vida passada — quanto mais fraca, mais remota. Entre você e essa ima­ gem há um número de personagens que vão indicar quantas gera­ ções houve entre a vida anterior e a presente. Podemos chamar o segundo método de, “tornar transparente” . Você imagina alguém sem os membros, e descarta tudo o que é feito com eles. Isso vai torná-lo uma criatura flutuante e inativa, tornan­ do visível o aspecto lunar ou a vida emocional da pessoa. A seguir, imagine essa pessoa sem os sentidos, tornando visível o aspecto so­ lar, ou seu coração e temperamento reais. Finalmente, imagine-a sem pensamentos e sentimentos. Então o aspecto satúrnico mostrará sua mentalidade e atitude básicas, tornando visível o carma. Podemos chamar o terceiro método de “ exercício de três dias” . Você entra dentro de si mesmo, em algum evento que experienciou. Seu corpo astral elaborará a experiência durante a noite. No dia se­ guinte, você estará parcialmente consciente disso, e na noite poste­ rior seu corpo etérico elaborará a experiência. Ao despertar, você sentirá uma vontade forte, porém bloqueada. Na terceira noite o corpo físico terá elaborado a experiência. Quando você acordar, a vontade bloqueada se transformará numa imagem da causa cármica daquela experiência. 94 Reencarnação e carma no desenvolvimento social De acordo com Steiner, a crença na reencarnação e no carma formará a base para novos desenvolvimentos sociais e um contrape­ so para uma sociedade ainda mais complexa. A percepção de que estamos construindo nosso próprio futuro fortalece o sentimento de responsabilidade pelo futuro da nossa sociedade. Ele recomenda que se implantem as verdades da reencarnação e do carma nas mentes das crianças, de tal modo que a alma possa integrá-las. A consciên­ cia da reencarnação e do carma não leva ao escapismo, mas à aceita­ ção e ao amor pela posição que adotamos na vida. Em seu último trabalho, Steiner indicou as encarnações ante­ riores de algumas figuras históricas, principalmente de pensadores de todas as eras e figuras social, cultural e politicamente proeminen­ tes de sua época. Os oponentes da Alemanha na Primeira Guerra Mundial não são mostrados sob uma luz particularmente favorável (talvez porque não pertençam à comunidade das nações da Europa Central). Uma doutrina especificamente antroposófica está indiretamen­ te relacionada à reencarnação e ao carma: é a doutrina da “ econo­ mia espiritual” . Em essência, os corpos astral e etérico de pessoas valorosas podem ser conservados e suas cópias, transmitidas a ou­ tros. Isso leva facilmente o investigador não iniciado ao extravio. Ele pode pensar que alguém é a encarnação de uma alma importante, enquanto essa pessoa é apenas uma cópia do corpo astral e etérico de um importante professor de outras épocas. Steiner dá numerosos exemplos, como a transferência de cópias do corpo astral de Jesus a Francisco de Assis e a Elizabeth de Thüringen. Comentários finais: o paradoxo gnóstico Rudolf Steiner é um gnóstico por excelência. O problema do gnosticismo aparece claramente na antroposofia. Uma visão cósmica co­ mo a antroposofia brota do desejo de alguém de ascender ao conhe­ cimento de primeira mão nos assuntos esotéricos, tornando-o inde­ pendente das idéias já existentes. Ao apontar o caminho, um gnósti­ co como Steiner exorta os outros a adquirir também o conhecimen­ to de primeira mão. Os seguidores, contudo, devem começar acredi­ tando em suas revelações, o que dificilmente é uma atitude gnóstica. O estudante gnóstico é chamado a uma crença temporária, de modo que, no final, tenha seus próprios insights. Contudo, seu insight pes­ soal não pode nunca conflitar com os insights de seu precursor, que, afinal de contas, alcançou o conhecimento da verdade em primeira 95 mão. No máximo, a geração seguinte pode elaborar e fazer acrésci­ mos inverídicos. Um gnóstico também não argumenta. Em geral, ele retrata de modo abstrato suas intuições, mas com muito sentimen­ to. Os outros devem absorvê-las com certa dose de julgamento ra­ cional e discussão. Esse conflito básico e eterno paradoxo do gnosticismo, o incômodo casamento entre a crença e a investigação, leva irrevogavelmente a separações contínuas, pois sempre existem pes­ soas que têm interpretações e insights que “enriquecem” ou “corri­ gem” os de seus predecessores. A emancipação dos gnósticos sem­ pre é dolorosa, pois implica separar-se de seus pais e mães espiri­ tuais. A maioria deles, então, emancipa-se somente pela metade, con­ tinuando a acreditar no valor do que era anterior a eles, porém reinterpretado. A parte mais triste dessa reinterpretação é sua ingenui­ dade epistemológica; os valores voltam a ser apresentados como “ver­ dades” , pois o intelecto gnóstico está embutido de emoções veemen­ tes e liberadoras. Os seguidores de terceira categoria não estão de modo algum em busca da verdade, mas sim de alívio emocional e conforto intelectual. Freqüentemente vêem todas essas separações e idiossincrasias como muitas revelações diferentes da mesma verdade. E já que todas as estradas levam a Roma, permanecer em casa leva ao mesmo lugar. Se você desejar estudar as idéias dos gnósticos, por exemplo so­ bre o assunto da reencarnação, será confrontado com uma impres­ sionante coleção de conceitos repletos de ambiente moral, porém abs­ tratos, muitos deles incoerentes e alguns até contraditórios. A cor­ respondência (conformidade com fatos atuais e experiências) conti­ nua sendo o terceiro critério fundamental para avaliar idéias, ao la­ do da clareza (pelo menos podemos entender o que está sendo dito) e da consistência (livre de contradições sem explicação posterior). No capítulo 5 do segundo volume compararemos algumas doutrinas teosóficas e antroposóficas com o material de experiências objetivas dis­ poníveis até o presente. Leitura adicional A literatura teosófica praticamente não tem um tratamento sis­ temático das doutrinas sobre reencarnação e carma. Isis Unveiled (1877) e The SecretDoctrine (1888), de H. P. Blavatsky, fazem refe­ rências breves, encontradas pelo índice. Sinnett (1883) dedica algu­ mas passagens a isso. Um artigo de H. P. Blavatsky (1886) trata da confusão que envolve o conceito da reencarnação, e muitos fragmentos podem ser encontrados na farta literatura desde aquela data. O pri­ 96 meiro livro completamente devotado ao assunto é de E. D. Walker (1888) — informativo, porém sem material empírico. Também há os dois livros de Anderson (1894) — repletos de louvações não in­ formativas, mas com títulos que impressionam. A partir de 1895 Annie Besant publicou breves ensaios sobre o assunto (ver bibliografia). O maior autor sobre o tema é Leadbeater, embora sua discussão per­ maneça limitada a pequenas publicações e a capítulos e passagens em outros livros (ver bibliografia). Importante e interessante é o trabalho de Arthur E. Powell (1925, 1926,1927, 1928), que compilou toda a literatura teosófica a respei­ to dos vários corpos. Os capítulos sobre carma e reencarnação são informativos. Inúmeras brochuras sobre o assunto apareceram nos primeiros anos do século XX de Snowden-Ward, Irving Steiger Cooper (1917), uma introdução razoável, e Jinarajadssa (1915), entre outros. A dis­ cussão de Van Ginkel sobre o tema (1917) é excepcionalmente sólida e elaborada. Já mencionei Man: Whence, How and Whither (1913) e The Lives o f Aleyone (1924), de Besant e Leadbeater, e a publicação pós­ tuma de Leadbeater, The Soul's Growth through Reincamation (1941-50), como os mais importantes estudos teosóficos de casos. Um outro caso teosófico é o de Challoner (1935), um esboço romântico dos poderes de Atlântida e suas conseqüências, sem dúvida impres­ sionando alguns leitores. Geralmente são de baixa qualidade os trabalhos teosóficos que tentam dar introdução popular ao assunto; Christmas Humphreys (1943), Geoffrey Hodson (1951), James Perkins (1961), Leoline Wright (1975). Somente o livro de Virginia Hanson (1975), sobre carma, é aceitável. Os de Head e Cranston (1977) são informativos sobre o “ renascimento teosófico” . A respeito da literatura antroposófica, a principal fonte é o Collected Works (Gesamtausgabe), de Rudolf Steiner. Os 24 volumes que tratam da reencarnação e carma estão listados na bibliografia. Os mais informativos sobre o assunto são os volumes 17, 34 e 120 e a série de seis volumes Esoterische Betrachtungen Karmischer Zusammenhaenge (GA 235-40). Steiner também tem pequenos traba­ lhos compilados sobre esse assunto (por exemplo, 1961). Arenson (1950) oferece um catálogo de entrada para os primeiros ciclos de cinqüenta palestras de Steiner. Outros autores antroposóficos sobre o assunto são Rittelmeyer (1931), Bock (1932), Wachsmuth (1933), Husemann (1938), Kolisko (1940), Frieling (1974), Veltman (1974) e Verbrugh (1980). Thea Stanley-Hughes (1976) oferece uma intro­ dução popular aceitável a respeito da reencarnação, com uma base antroposófica moderada. Alan Howard contempla antroposoficamente sobre Sex in the Light o f Reincarnation and Freedom (1980). 97 4. Informação metapsíquica sobre vidas passadas Freqüentemente os sensitivos parecem capazes de ter impressões paranormais de vidas passadas que algumas vezes acontecem sob es­ tado de transe. Alguns deles podem também dar informações sobre as vidas de outras pessoas ou sobre a reencarnação em geral. Este capítulo começa enfocando o relacionamento entre a recordação de vida passada e as habilidades paranormais. Ser capaz de recordar-se de vidas passadas somente em parte pode ser considerado uma habi­ lidade paranormal. Muitas pessoas podem ter essas memórias, mas em geral só depois de alguma indução a um estado de transe. Os mé­ todos que não induzem ao transe, como os de Netherton, provavel­ mente funcionam com um transe auto-induzido pelo paciente, mas ocorre espontaneamente e também com pessoas sem evidências an­ teriores de dons paranormais; pelo menos a habilidade de recordarse de ocorrências traumáticas não metabolizadas de vidas passadas não pode ser considerada como paranormal. Após investigar essa relação, darei exemplos de pessoas que ob­ têm informações de uma maneira paranormal sobre as próprias vidas passadas ou de outros; primeiro, as que têm experiências de suas pró­ prias vidas anteriores, e depois casos daquelas que foram capazes de perceber algo sobre as vidas passadas de outros; por fim, darei exem­ plos de informações sobre a reencarnação provindas de desencarnados que se comunicaram através de médiuns. Faço a seguinte distinção: 1. Impressões paranormais: vagas impressões extra-sensoriais du­ rante consciência normal. 2. Percepção clara em estados alterados de consciência, como em sonhos, transes e experiências fora do corpo. 3. Clarividência: clara percepção extra-sensorial durante cons­ ciência normal. 99 Até o ponto em que o material colhido nos permitir, chegare­ mos a algumas conclusões gerais sobre essas fontes de informação. Finalmente, enfocaremos as informações gerais sobre a reencarna­ ção provindas de fontes paranormais. Encontraremos alguns no­ mes já mencionados, tais como Edgar Cayce, Allan Kardec e Ar­ thur Guirdham. Esta seção também termina com um breve comen­ tário. O relacionamento entre memórias de vida passada e habilidades paranormais Esse relacionamento é importante por duas razões; primeiro, de­ vido ao forte relacionamento existente torna-se difícil distinguir a reen­ carnação como uma explicação das aparentes memórias de vida pas­ sada das hipóteses de clarividência e telepatia; e segundo, porque um relacionamento desses dá indicações do acesso e a natureza da me­ mória de vida passada. A memória das pessoas que são paranormais sensitivas seria diferente das que não têm essas qualidades? É inte­ ressante notar que as pessoas que são capazes de entrar em transe, ou que são clarividentes e recordam vidas passadas, em geral distin­ guem com facilidade suas próprias experiências das de outras pes­ soas. Assim, a identificação (ou personação, como chama Steven­ son) não acontece automaticamente com as impressões de vidas pas­ sadas. Não existem bases seguras para se atribuir as experiências pes­ soais nítidas à clarividência. Muitas pessoas com dons paranormais têm poucas ou nenhuma recordação de vidas passadas, e com fre­ qüência essas recordações são meras imagens difusas ou episódicas. Isso também torna improvável que recordações de vidas passadas se­ jam baseadas em habilidades paranormais. Se assim fosse, muito mais pessoas com dons paranormais teriam recordações de vidas passadas. Fiz um levantamento sobre a reencarnação entre as pessoas pre­ sentes em minhas palestras. O grupo era muito pequeno para con­ clusões gerais, mas algumas relações pareceram positivamente signi­ ficativas. A Tabela 3 mostra alguns resultados desse levantamento (TenDam 1980). 100 Tabela 3 — Habilidades paranormais e tipos de memórias espontâneas de vida passada Inspiração Cura Clarividência Telepatia Predição Sonhos Sensação geral Reconhecimento de pessoas Sem causa clara Reconhecimento de lugares 80% 95% 98% 99% 95% 95% 90% - 80% - _ 98% 98% 80% _ _ — - - - 95% - - - - No grupo pesquisado, as pessoas que afirmaram ter habilidades paranormais tiveram uma quantidade maior de memórias de vida pas­ sada. A diferença mais gritante entre os “ normais” e os “ paranor­ mais” é que os que tinham habilidades paranormais tinham mais me­ mórias em sonhos. As habilidades paranormais relacionadas mais for­ temente com memórias de vida passada foram claros lampejos de inspiração, cura pelas mãos (magnetismo) e clarividência. A Tabela 3 dá um resumo dos resultados. As porcentagens complementam o nível de importância, indicando a probabilidade de que a correlação observada não seja atribuída ao acaso. Somente índices maiores que 80% estão incluídos. Indiretamente, esses índices dizem algo sobre a força da correlação. Pessoas com lampejos de inspiração têm mais memórias de vidas passadas, mais memórias sem causa imediata e com mais freqüência reconhecem lugares (em geral a recordação de lugares está relaciona­ da com o maior número de memórias). Aquelas com poderes de cura pelas mãos e clarividência tendem a reconhecer pessoas. É interessan­ te notar que não há relação entre impressões de premonição e recor­ dações de vidas passadas, porém há uma enfática relação entre pre­ monições e o número de memórias de vidas passadas. As habilidades de predizer podem não contribuir para se cruzar a entrada ao passa­ do, mas facilitam consideravelmente, depois que a travessia foi feita. Uma explicação mais convincente, porém surpreendente, seria que as pessoas com recordações de vidas passadas têm mais facilmente im­ pressões de premonição. A percepção do passado, nesse caso, leva a uma percepção do futuro mais fácil, mas não vice-versa. Mesmo que a recordação de vidas passadas seja possível sem as habilidades paranormais, a própria memória precisa ser parapsicológica ou, mais exatamente, parafisiológica, pois são memórias que não podem ser armazenadas no corpo físico. Clarividentes orienta­ dos esotérica ou gnosticamente indicam três fontes de memórias da lo l reencarnação; as personalidades de vidas passadas, a alma que reencarna, também chamada de eu superior, e um tipo de fundo geral de memória, algumas vezes descrito como a memória da Natureza o u o arquivo Akasha. Esse arquivo Akasha seria um banco de da­ dos que armazena as experiências de todas as pessoas que já viveram, ou onde todas as experiências de cada ser vivo são registradas, ou que armazena tudo o que acontece. A última versão é discutível, uma vez que pressupõe uma observação sem observadores ou equipamento de observação, ou algum tipo de gravador que coexiste com o Uni­ verso e registra tudo sem um ponto de observação. Pessoas com impressões paranormais de suas Vidas passadas Durante uma sessão espírita em 1869, manifestou-se o espírito vivente de uma sobrinha de um dos participantes. Ela diz que em sua vida anterior, durante o reinado de Luiz XIV, foi uma freira. Um nobre, que tentava fugir com uma das internas do convento, derrubou-a com uma pancada, o que resultou em sua morte. Deu ainda mais alguns detalhes e acrescentou que, enquanto dormia à noi­ te, costumava andar em volta da igreja do convento na forma de sua encarnação anterior. Ela assim também o fez antes de encarnar no­ vamente. Para provar sua identidade, escreveu algo pela mão do mé­ dium, algo que somente ela e o tio presente conheciam. Isso o con­ venceu, e ele perguntou-lhe durante a sessão se durante o dia, quan­ do desperta, estava consciente de sua vida passada. Ela respondeu que durante o dia tinha apenas uma vaga noção de uma morte vio­ lenta e de um sonho episódico. Mais tarde, quando o tio a encon­ trou, perguntou-lhe se já tinha sonhado que estava sendo assassina­ da. Ela respondeu negativamente, mas disse ter às vezes pesadelos com um sacerdote católico que fugia de uma igreja e era perseguido por um homem armado. Ele ditou algumas palavras a ela, e sua le­ tra era praticamente a mesma da produzida durante a sessão (Bertholet 1949; 561; Muller 1970: 172). Obras sobre o espiritualismo contêm outros exemplos de espíri­ tos de pessoas viventes que aparecem enquanto o corpo dormia e assumian a identidade de uma vida passada. Um exemplo de impressões clarividentes de sua própria vida pas­ sada é The Boy Who Saw True, editado por Neville Spearman (1953). Trata-se do diário de um rapaz inglês que data de 1885 a 1887. So­ mente mais tarde ele descobriu que o que via era chamado de aura, e que outras pessoas não as viam. Freqüentemente ele recebia im­ 102 pressões de pessoas ou o que iria acontecer a elas. Via espíritos da natureza e pessoas desencarnadas, tais como seu falecido avô, e um impressionante espírito com uma enorme aura, a quem ele inicial­ mente identificava como sendo Jesus. Ele tinha a idéia de que as pes­ soas que se apaixonam de alguma forma já se conheciam anterior­ mente. Mais tarde teve um estranho sonho, no qual se viu em épocas antigas (compare com os resultados de meu levantamento!); mais tarde seu mestre espiritual, que já havia deixado claro não ser Jesus, disse-lhe que essas impressões não eram sonhos e sim recordações de uma vi­ da passada. Isso confundiu-o, visto que seu avô parecia não acredi­ tar de modo algum na reencarnação. Seu guia, contudo, disse-lhe que algumas pessoas que deixam seus corpos mudam apenas ligeira­ mente seus pensamentos, como se tivessem tirado um casaco. Pri­ meiro, ele obteve memórias de uma vida como um indiano, que, apa­ rentemente, recebera treinamento espiritual. Seu guia também tinha sido seu mestre naquela época. Mais tarde, surgiram memórias de outras vidas, principalmente durante uma viagem ao exterior. Além desse, há o conhecido caso de Ivy Beaumont. Era uma pro­ fessora de Blackpool que morreu em 1961 e desenvolveu seus pode­ res metapsíquicos por volta de 1927. Orientada por Frederic Wood, que escreveu sobre seu caso em This Egyptian Miracle (1955), desen­ volveu o estado de transe, a escrita automática e a clarividência. Em um estado de semitranse apareceu-lhe uma entidade, que dizia chamarse Nona, pronunciando mais de quatro mil sentenças em egípcio da décima oitava dinastia. Um outro médium relatou, em 1930, que a própria Ivy Beaumont viveu naquela época como Vola, uma conhe­ cida de Nona. Mais tarde, a própria Ivy teve claras recordações. Lembrou-se de sua juventude na Síria, a tomada e o saque da cidade por tropas egípcias, sua viagem ao Egito como refém, os hábitos das pessoas de lá, alguns egípcios, situações no Nilo, o palácio do faraó onde ela vivera por um tempo sob a proteção da rainha Telita, sua ligação com o templo de Karnak e suas obrigações como sacerdotisa iniciada. Morreu num acidente de barco juntamente com sua prote­ tora real. Em transe era capaz de cantar hinos egípcios e executar danças típicas. Durante uma sessão na qual atuava como Vola, de repente gritou em egípcio; “Pare com isso!” . Quando voltou do tran­ se, reclamou que seu guia a puxou à força. Desde que os espíritos no controle nunca sentem os desconfortos físicos do médium, Vola e Ivy eram a mesma pessoa. Ivy também se lembrava de uma vida na qual morrera durante as perseguições de Nero, outra vida na Nova Inglaterra durante o século XVIl e, finalmente, outra como uma garota francesa de uma família nobre, que fugiu para a Inglaterra durante a Revolução. Con­ tudo, sua vida egípcia foi a mais nítida e convincente. Inicialmente, 103 suas recordações surgiam apenas durante transes, e mais tarde tam­ bém quando acordada. Sua pronúncia do egípcio antigo foi gravada (Wéod 1955). É interessante notar que sua memória era inicialmente acessível somente durante o transe, porém mais tarde também durante a cons­ ciência normal. Aparentemente alguma ponte se estabeleceu. Pelo método de Netherton (veja o capítulo 7 do segundo volume), emo­ ções não digeridas da vida anterior formam essa ponte. Esse é um dos muitos exemplos de personalidade anterior que volta à vida. Um akasha impessoal está fora de questionamento. O filho de um negociante brasileiro sempre foi capaz de predi­ zer corretamente quais transações de seu pai seriam bem-sucedidas. Ele previu corretamente que ele próprio morreria de reumatismo com a idade de dez anos. Quando tinha sete, encontrou a esposa do mé­ dico que cuidou de sua mãe. Ele correu para ela e a abraçou, expli­ cando que ela tinha sido sua mãe numa vida anterior, embora antes ele jamais tivesse falado de vidas passadas. Ele disse seu nome e o nome dela naquela vida. Parecia polonês. Ele percebia corretamente quando a esposa do médico ficava doente (Muller 1970; 165). Joan Grant provavelmente é o melhor exemplo de uma pessoa que se lembrou de vidas passadas em transe. Como relata em sua autobiografia, Time out ofM ind (1956), suas memórias começaram quando fazia psicometria de um escaravelho. Seu primeiro livro so­ bre uma vida passada, Winged Pharaoh (1937), é bem conhecido. Em sessões de transe ela ditava trechos que foram juntados só mais tarde. As sessões transcritas começavam no meio de uma situação particular e encaixavam-se precisamente a outras sessões transcritas numa data posterior. Assim, em transe, ditava trechos que depois foram juntados na ordem correta, formando uma biografia. Isso pode parecer que o livro foi programado de antemão e lido durante o transe. Pode ser um livro de excelente literatura, mas como exemplo de uma memória de vida passada é pouco convincente. Pessoas com recor­ dações de vidas passadas que surgem de forma lenta e fragmentada, e se interpenetram nas reações da pessoa presente, são em geral mais convincentes em sua imperfeição (Hondius 1957; Brouwer 1978). Os outros livros de Joan são menos conhecidos, porém merecem ser li­ dos (veja bibliografia). Joan Grant era capaz de receber psicometricamente informações sobre vidas passadas de outras pessoas, especialmente se houvesse alguma ligação com um problema atual (Grant 1956b; Kelsey e Grant 1967). Ela atribui suas habilidades paranormais ao treinamento que recebeu em vidas passadas, como a do Egito. Isso corresponde às informações fornecidas em regressões. Pessoas com habilidades pa104 ranormais voltam a várias, e por vezes obscuras, formas de treina­ mento em templos de todos os tipos, em diferentes períodos e luga­ res. O Egito é o mais freqüente. De acordo com alguns, o Tibete é o segundo; mas o treinamento em templos na cultura maia e inca ocorre com mais freqüência em regressões do que no Tibete, e são praticamente tão freqüentes quanto as do Egito. Memórias de vidas passadas podem aflorar durante experiências fora do corpo, embora não seja usual. Os três ambientes que Mon­ roe descreve em seu livro sobre as experiências fora do corpo não se referem de modo nenhum a vidas passadas (Monroe 1977). Oliver Fox fez experimentos sobre isso durante muitos anos, que resulta­ ram na publicação de artigos e um livro. Uma vez, quando tinha apro­ ximadamente 42 anos de idade, teve uma experiência de vida passa­ da. Ele tinha deixado seu corpo e decidiu visitar as ruínas de um tem­ plo tibetano. Concentrou-se, e esperava sentir o rápido movimento horizontal usual. Para seu horror, sentiu, em vez disso, o chão se abrir, e ele caindo em um túnel a uma grande velocidade e por um longo período. Quando parou, viu cores vagas e brilhantes, e aos poucos sua situação tornou-se visível. Ele estava nu e acorrentado a uma estrutura em forma de X, sendo torturado até a morte. O san­ gue jorrava de muitas feridas por todo seu corpo, e ferros incandes­ centes virtualmente destruíam seus olhos. A dor era mais insuportá­ vel a cada segundo que passava. Ouviu a voz de um homem dizen,.do; “ Você é Teseu!” . Ele respondeu que não era Teseu, mas Oliver Fox. Naquele momento o mundo implodiu. Ele voltou a sua cama no meio de uma luz ofuscante, de um som vigoroso e de uma tem­ pestade furiosa. Ele tinha certeza de que revivera os últimos momentos de uma encarnação anterior (Fox 1939). Informação paranormal sobre vidas passadas de outros Um homem tinha repetidamente uma forte e desagradável impres­ são de alguém estar partindo seu crânio com um machado, embora não houvesse experiência que explicasse essa impressão. Num encontro casual, um estranho lhe diz, sem ser solicitado, que ele foi assassinado com uma machadada em sua vida anterior (Walker 1888; 43). O capitão Freidrich Schwickert (1855-1930) pediu informações turísticas num porto de Esmirna e foi, então, aconselhado a fazer uma viagem a Efeso com um guia. No caminho, tudo tornou-se tão familiar que ele dispensou o guia. Muitos anos mais tarde, visitando a corte do marajá de Kapurtala, envolveu-se numa conversa com um brâmane. Este o levou a um outro estado de consciência, e ele viu 105 sua vida anterior desenrolar-se à sua frente como num filme. Era um comandante de cavalaria que morreu numa batalha em Éfeso (Mül­ ler 1970; 167). O caráter de sua experiência era chocante; ele via a si mesmo como se fosse um espectador. Demeter Georgewitz-Wietzer (1873-1949) era um engenheiro aus­ tríaco que escreveu, sob o pseudônimo de Surya, livros sobre assun­ tos parapsicológicos. Aos 23 anos de idade, um clarividente de Vie­ na disse tê-lo visto com um traje persa, branco e amarelo. Cinco anos mais tarde, um erudito persa com o qual mantinha correspondência disse-lhe que na vida anterior ele tinha sido um persa maometano, ligado a sua própria ordem. Dezessete anos mais tarde, uma sensiti­ va em Graz, que nada sabia dessas experiências, disse-lhe que na vi­ da anterior ele fora um místico persa e que estudara magia branca. Um conhecido dele, líder militar austríaco da Primeira Guerra Mun­ dial, com interesses e experiência em parapsicologia, disse-lhe que mesmo que ele achasse um pensamento estranho, ambos eram ami­ gos porque tinham vivido anteriormente na Pérsia, quando se inte­ ressavam pelos mesmos assuntos que agora também tinham (Muller 1970; 175). Augustin Lesage (1876-1954), um mineiro francês, tornou-se pin­ tor parapsíquico aos 36 anos de idade, e a partir daí produziu mais de setecentas telas. Aos 62 anos um clarividente inglês deu-lhe um escaravelho e disse-lhe que visitaria o Egito. Ao final daquele ano, pintou um grande quadro chamado Egyptian Harvest, e levou-o con­ sigo quando foi com seu amigo Alfred visitar o Egito, no ano se­ guinte. No templo de Karnak teve a forte impressão de conhecer o lugar. Visitou o túmulo de um pintor egípcio, Mena, que viveu por volta de 1500 a.C. Na parede do túmulo havia uma pintura seme­ lhante a sua. No túmulo, sentimentos de extrema felicidade toma­ ram conta dele, e foi com muita dificuldade que conseguiu sair de lá. Recebeu muitas impressões, mas muito vagas, para assegurar ter sido ele próprio, Mena. Disse a um outro amigo que tentaria desco­ brir depois que morresse. Algum tempo depois de sua morte, esse amigo recebeu a seguinte mensagem de uma médium; “Diga a Al­ fred que era verdade. Eu era Mena” . O médium jamais conhecera ou ouvira falar de Lesage. Alfred não estava presente quando a men­ sagem foi recebida (Muller 1970; 163; Victor 1980). Um livro mais antigo com informações mediúnicas sobre vidas passadas é Reincarnaüon: The írue chronicles o f rebirth o f two afflnities, recorded by one o f them, editado por Cecil Palmer (1921). Através de um de seus guias espirituais, “ Cedric, o sumo sacerdote de Heliópolis” , o autor recebeu memórias de suas vidas passadas du­ rante três meses. São histórias muitos excitantes e dramáticas, com 106 muito moralismo e ostentação; “Fui levado à presença do rei. Em­ bora nada tivesse a ver com a realeza, estava calmo e controlado. Sua Majestade olhou-me com curiosidade da cabeça aos pés e disseme ter ouvido falar sobre minhas grandes habilidades como orador e organizador, meu profundo conhecimento dos problemas sociais e políticos, minha firmeza e a estima que os oficiais do governo ti­ nham por mim bem como os líderes do povo. Ele gostaria muito de ter homens capazes como eu em seu governo, e ofereceu-me um alto posto entre seus conselheiros pessoais com uma remuneração bas­ tante liberal. Meus primeiros pensamentos foram para Annetta...'' (1921; 112). Um outro caso de lembrança de um encontro numa vida passa­ da com outra pessoa é o de Gerda Walter, conhecida parapsicóloga alemã. Em 1930, um amigo apresentou-a, durante um passeio, a um capitão aposentado. Imediatamente ela teve a sensação de já tê-lo encontrado antes, embora parecesse improvável. Ela perguntou a si mesma se não teria sido numa vida passada, e logo viu uma clara imagem. Ela era homem e cavalgava por uma sombria floresta em meio aos troncos das árvores, sabendo que em algum lugar, um cas­ telo, ou uma grande casa, queimava ou estava sendo atacado. Ela sentiu que era uma questão de vida ou morte. Viu, então, seu cavalo ser conduzido por um camponês ou um carvoeiro, que andava à sua esquerda. Imediatamente sentiu ser o capitão a quem acabara de ser apresentada. Um pouco mais tarde o capitão disse-lhe que ela poderia achar estranho e que nem valia a pena mencionar, mas ele sentia que nu­ ma vida passada prestara-lhe um grande serviço. Como, ele não sa­ bia, mas teve essa sensação desde o primeiro momento em que a viu (Muller 1970; 118). Edgar Cayce é o exemplo mais famoso e importante de alguém que dá informações sobre vidas passadas alheias, quando em transe. Joan Grant também recebia impressões de outras pessoas, mas em geral conectadas a problemas existentes. É interessante notar que ela parecia especializada em terapia para recém-falecidos, às vezes para falecidos não tão recentes, começando pelas impressões dos traumas de vidas passadas que resultaram em fixações (Grant 1937, 1956a; Kelsey e Grant 1967). Há pessoas que podem se comunicar por clarividência com de­ sencarnados sem entrar em transe. Arthur Guirdham, um médico in­ glês, envolveu-se com a reencarnação após estudar alguns sonhos e fragmentos de memórias de um de seus pacientes. Esse estudo desenvolveu-lhe a sensitividade; ele próprio passou a receber impres­ sões e, gradualmente, aprendeu a percebê-las e a comunicar-se com 107 elas. Algumas vezes davam-lhe informações sobre suas vidas passa­ das, porém com mais freqüência confirmavam, esclareciam ou cor­ rigiam suas próprias impressões e conclusões (Guirdham 1970,1974). Mais tarde pôde explorar outras vidas passadas. No livro The Lake and the Castle (1976) descreve uma vida por volta do ano 1800, e outras vidas na Inglaterra medieval e em tempos romanos. The Is­ land (1980) descreve uma vida na Grécia, por volta de 1250 a.C. De leitura agradável e em estilo inquestionavelmente próprio, as histó­ rias parecem confiáveis, embora tenham sido lapidadas, especialmente a última, resultando numa literatura partidária. Aborda sempre o dualismo, a filosofia básica que Guirdham apóia em todas as suas vidas. Outro livro recente é Heirs to Etemity: A study o f reincamation with íllustrations, de Clarice Toyne (1976). A autora tem um “mestre do além” que de vez em quando sussurrava-lhe ao ouvido quem era quem numa vida passada, com o objetivo de tornar a reen­ carnação plausível para o público em geral. Ela coleta as informa­ ções biográficas de ambas as pessoas para demonstrar os paralelos entre as duas vidas. Teilhard de Chardin foi Blaise Pascal, Danny Kaye foi Hans Christian Andersen, Bernard Shaw foi Voltaire, de Gaulle foi José II e “Le Grand Condé” (a similaridade mais gritan­ te, acredito). Vitor Hugo e Charles Baudelaire encarnaram entre seus conhecidos. No final do livro, compara o livro e a esperada crítica a ele com a publicação do The Origin o f Species, de Darwin. Idéias gerais entre os desencarnados sobre a reencarnação Com freqüência acontece de os desencarnados escreverem livros através de médiuns, estejam eles em transe ou completamente cons­ cientes. Por exemplo, Alice Bailey escreveu alguns livros dessa ma­ neira, aparentemente inspirados por um mestre teosófico conhecido como “ O Tibetano” . H. P. Blavatsky escreveu sob inspiração Isis Unveiled (1877) e The Secret Doctrine (1888). A doutora Mona Rolfe faz palestras em transe. Em conexão com a vindoura era de Aquário, elucida no livro The Spiral o f Life: Cycles o f reincamation o profundo significado do Gênese; “Nenhuma al­ ma que progrediu além do Jardim da Lembrança, que é o sétimo plano do astral, pode a qualquer momento estar sujeita à lei de causa e efei­ to” (Rolfe 1975; 31). Contudo, não estar mais sujeita à lei de causa e efeito, devido a algum progresso, é francamente uma declaração de causa e efeito. Mas ela diz que nem sequer deseja pensar sobre isso; a vida já é bastante difícil tal como é. 108 Geralmente pessoas desencarnadas dão informações pessoais em vez de informações gerais e conselhos, preferindo apontar para nos­ sa própria experiência e estimular e comentar nossos próprios pen­ samentos. Contudo, alguns desencarnados usam vigorosamente o ca­ nal de pessoas encarnadas para comunicar ao nosso mundo o fruto de sua imaginação. A literatura mediúnica e espiritualista tem mui­ tos exemplos de espíritos que, com ou sem o adorno do nome de fa­ lecidas celebridades, transmitem sermões doutrinatórios e poesia su­ blime. A identidade e o estilo dependem da moda. Na era vitoriana trouxeram muitos sentimentos. Hoje em dia apresentam-se mais co­ mo mensageiros de outros planetas, onde tudo é melhor, incitandonos a parar com as guerras, a sermos amáveis com os outros e a de­ senvolvermos a consciência superior. Como alguns encarnados, suas explanações não têm muito embasamento, senso prático ou bom gos­ to. Dessa maneira, algumas almas frustradas satisfazem-se e não fa­ zem mal a ninguém. Isso dá a muitas pessoas belos sentimentos e mantêm-nas ocupadas. Torna-se mais problemático quando os mé­ diuns (e suas platéias) são incitados ou amedrontados por profecias. Alguns exemplos recentes são deprimentes. Entidades desencarna­ das que abordam pessoas viventes para transmitir suas mensagens são usualmente de interesse e credibilidade limitados. Engolir suas tolices é estupidez. Pessoalmente, minha confiança em espíritos ven­ dedores é mínima. Pessoas civilizadas não se impõem sobre outras, sobretudo quando desencarnadas. Em vez disso, limitam-se a pes­ soas que conhecem e a assuntos que despertem interesse. Em geral, como pessoas normais, sua comunicação é pessoal, sem qualquer de­ sejo ou sugestão de que suas declarações sejam divulgadas. Mas os espíritos que desejam a divulgação aparentemente almejam evitar os problemas da encarnação, ou receiam que com um corpo as pessoas fiquem menos propensas a ouvi-las. Eles estão certos. Mesmo assim algumas informações são interessantes. Karl Muller dá muitos exemplos de comunicações pessoais e ge­ rais dos mortos sobre a reencarnação. Um espírito disse a Joaquim Winckelman (1885-1956) que tinham vivido juntos no século XVIIl. Um grupo de espíritos disse-lhe que a reencarnação acontece hoje em dia de uma forma mais rápida do que no passado, pois almas humanas podem desenvolver-se com mais rapidez nas circunstâncias presentes. Além disso, muitas almas encarnam pela primeira vez. Con­ seqüentemente, a população do mundo cresce muito depressa. Alex Sundien realizou sessões de transe na Dinamarca de 1943 a 1955. O livro que ele escreveu contém passagens sobre a reencarnação. O fan­ tasma de um homem assassinado disse que sua morte foi uma puni­ ção, pois ele próprio havia cometido assassinatos numa vida ante­ 109 rior. Em muitos casos, guias e auxiliares desenvolveram-se ao ponto de não mais necessitarem reencarnar. Algumas almas permanecem nas esferas inferiores dos mundos astrais, e só podem entrar nas es­ feras superiores depois de algumas reencarnações. Algumas vezes a homossexualidade é causada por uma recente mudança de sexo. To­ das essas declarações se ajustam ao padrão geral. Existem inúmeras publicações espiritualistas sobre a reencarna­ ção com comunicações dos mortos, o que torna inviável mencionar todas elas. Muitas podem ser encontradas em artigos e revistas espi­ ritualistas, outras em livros. Revisarei três dos livros de maior in­ fluência. Em primeiro lugar, há os informantes de Allan Kardec; em segundo, o conhecido espiritualista Arthur Ford, que deu informa­ ções após sua morte para Ruth Montgomery e outros; e em terceiro lugar, Jane Roberts, que anunciou ao mundo as visões de um espíri­ to chamado Seth. Allan Kardec fez perguntas e coletou respostas dos desencarna­ dos, através de médiuns, sobre muitas questões. De acordo com Delanne (1894:7), Kardec não acreditava na reencarnação até começar a estudar os fenômenos espirituais. O breve sumário a seguir, sobre o que O Livro dos Espíritos (Kardec 1857) diz sobre a reencarnação, deve muito à compilação de Muller (1970: 35). As almas humanas evoluíram de almas animais. Quando as al­ mas alcançam o estágio humano não retornam a corpos de animais. O objetivo da reencarnação é continuar a evoluir, cuidar das pró­ prias doenças e reparar erros. As almas humanas diferem imensa­ mente em seus estágios de desenvolvimento. A alma desencarnada é andrógena. O sexo muda nas encarnações. Muitas pessoas têm o mesmo sexo em várias vidas consecutivas. A escolha do sexo depen­ de fortemente das provações procuradas e das experiências a serem vividas. Não existem almas masculinas-femininas gêmeas. As almas não são a metade de uma entidade superior. Algumas vezes a pessoa reencama quase que imediatamente, po­ rém o intervalo pode ser de milhares de anos. Essa é uma questão de preferência pessoal. Durante a intermissão a alma pode permane­ cer por algum tempo em esferas acima de seu próprio nível. Isso es­ timula o desejo de se desenvolver mais. Vidas consecutivas são em geral apenas fracamente ligadas. As circunstâncias podem diferir mui­ to e os talentos, permanecer dormentes numa vida possibilitando que outros talentos se desenvolvam melhor. Almas humanas estão em diferentes estágios de desenvolvimen­ to. Muitas estão na terra pela primeira vez mas, individualmente, é difícil estimar. Pessoas podem encarnar em circunstâncias inferio­ res, mesmo num planeta inferior desde que isso se ajuste ao seu de­ 110 senvolvimento, ou então no cumprimento de missões. Elas retêm suas capacidades, mas possibilidades de expressão são com freqüência li­ mitadas. Em todo planeta a infância é necessária, embora em alguns seja menos restrita e desajeitada que em outros. Para seguir em frente, a alma pensa em suas vidas passadas e ouve as almas avançadas. Isso pode melhorar seu carma, mas qual­ quer progresso deve ser testado sobre a terra. A alma escolhe seu des­ tino geral e as provações a que estará sujeita na vida seguinte. Nem todas as ocorrências específicas são planejadas e determinadas de an­ temão. Uma alma sente que se acerca a hora de uma nova vida. Ela pode escolher seu corpo quando lhe é permitido. Ao preparar-se pa­ ra uma nova encarnação, a alma pode pedir auxílio a almas superio­ res. Se ela descender de uma boa esfera, seus amigos a acompanha­ rão até o nascimento. Quando a gravidez começa, um fio de ectoplasma une a alma ao feto. Esse fio aos poucos vai se encurtando. Lentamente a alma vai se sentindo mais vaga, e então perde a cons­ ciência, o conhecimento e a memória. Os gêmeos podem ter sido amigos numa vida anterior. Os laços familiares freqüentemente surgem a partir de amizades em vidas pas­ sadas. É comum que conheçamos de outras vidas os amigos, os vizi­ nhos e as pessoas com quem trabalhamos juntos, às vezes são até membros da família. A similaridade mental entre as crianças e seus pais deve-se mais à afinidade entre suas almas do que à hereditarie­ dade. A boa ou a má educação pode fazer uma grande diferença, especialmente em almas fracas. A alma fraca pode pedir pais bons. E os pais não podem atrair uma alma boa por pensamentos ou pre­ ces. A vida de um bebê que morre pouco contribuiu para o seu de­ senvolvimento. Algumas vezes uma vida tão curta completa outra vida interrompida prematuramente, mas em geral é o carma dos pais. A alma de um deficiente mental está sob punição, e quase sempre está consciente disso. Semelhanças entre encarnações, especialmente as faciais, devem-se à habilidade da alma em influenciar o crescimento do corpo. Vagas memórias e insights de vidas passadas podem levar a sentimentos e a pensamentos inatos, como a noção de orientação divina ou da vida após a morte. A mentalidade de alguém pode ter correspondência entre uma vida e a seguinte, mas também desenvolver-se por meio de mudanças interiores e ser influenciada por circunstâncias gerais e sociais. A reencarnação, apresentada no livro de Kardec, não é compul­ siva, exceto, talvez, em almas preguiçosas ou subdesenvolvidas. As almas desejam retornar porque querem se desenvolver. O livro de Kardec é o primeiro relato sobre a reencarnação de acordo com o material de nossos dias. 111 O médium americano, Arthur Ford, recebeu impressões de suas próprias vidas passadas e as de outros. Após a morte dele, Ruth Montgomery recebeu suas mensagens, através da escrita automática (nes­ te caso, datilografadas), sobre as condições após a morte, a reencar­ nação em geral e a reencarnação de algumas pessoas em particular (Montgomery 1971). O que Ford diz sobre as condições após a mor­ te coincide com muitos outros relatos. Mas, mesmo depois de mor­ to, Arthur Ford continua um entusiasta. As descrições da vida dos desencarnados estão repletas de ponderações apaixonadas e sermões. Ele e seus companheiros descrevem seu estado como o de unidade com Deus, o estado mais divino que se possa imaginar. O que Ford tem a dizer sobre a reencarnação nesse estado abençoado? Ele descreve as preparações para uma nova encarnação como uma consideração extensiva e a assimilação de vidas passadas, a fim de selecionar itens para a compensação, a melhoria, o desenvolvi­ mento, o teste e a consolidação. Quando sabemos o que queremos, buscamos as circunstâncias apropriadas. O sexo que temos freqüen­ temente é o mesmo que tivemos em nossas últimas vidas. Muitos de nós temos o sexo que preferimos. Algumas vezes o sexo muda devi­ do a propósitos educativos. Quando é possível, podemos escolher nos­ sos pais. Nessa escolha, consideramos o sexo do embrião disponí­ vel, as oportunidades oferecidas por nossos prováveis educadores, e também, às vezes, as experiências de aprendizagem relacionadas a determinados pais, ao nascer. Se houver vários candidatos para um mesmo embrião, eles são avaliados entre si, o que resultará quase que automaticamente no candidato mais apropriado, como numa es­ colha por computador. Quando nossos pais são determinados, po­ demos ficar próximos a eles por algum tempo, para nos convencer­ mos de que a escolha se adapta a nossos planos. Entramos no feto em geral durante o nascimento, mas também um pouco antes ou de­ pois. Se houver muita hesitação, a criança poderá morrer. Se alguém entrar num corpo defeituoso, sempre o fará para livrar-se logo de algum carma. Isso é especialmente válido para deficiências mentais congênitas. O carma também é superado por sérios acidentes duran­ te a infância. Em geral, desejamos inconscientemente essa oportuni­ dade. Mas nem todos os acidentes são previstos, e podem ser atri­ buídos a coincidências não cármicas. Ford dá um exemplo de uma mulher paralisada que antes, co­ mo um soldado romano, aterrorizou prisioneiros de tal forma que os fazia tremer por todo o corpo. Agora ela vivia sob esse carma, experienciando uma vida de impotência e fraqueza, além de ter mo­ vimentos convulsivos (Montgomery 1971; 148). 112 Ruth Montgomery, jornalista como sempre, pergunta ao faleci­ do Ford sobre as vicissitudes de pessoas famosas após a morte. Abra­ ham Lincoln está vivendo em Nova Orleans e trabalha junto a uni­ versidades e institutos visando encontrar soluções para o problema racial. George Washington morreu como um soldado no Vietnã de­ pois de liderar um pelotão numa missão perigosa e cair prisioneiro. Rodolfo Valentino tem um casamento feliz e mora em Paris. Napoleão foi um soldado comum em sua vida seguinte, e depois teve duas vidas curtas, em Portugal e no Brasil. O que fazer com esses boatos? Eles alimentam nossa curiosida­ de mas não a satisfazem; são mais fofocas do que se poderia esperar de alguém que vive em unidade com o divino. Ford relata que uma vez foi pai de Lázaro, foi Marta, Maria e uma terceira irmã, Ruth, uma encarnação anterior da própria Ruth Montgomery, tudo isso na Palestina. Um livro posterior descreve ela­ boradamente a fortuna dessa família na Palestina (Montgomery 1974). Segundo a informação desse mesmo livro, não se trata de ficção, por­ tanto, dá a entender que é verdadeiro. Muitos relatos foram escritos sobre pretensas vidas passadas, e é difícil dizer algo sensato sobre eles. São mais convincentes quando as vidas não são próximas, não estão em direta vizinhança com pes­ soas famosas, ou quando dão ao leitor a impressão de que pertence­ ram a uma época antiga. Os livros de Joan Grant e de Arthur Guirdham, e especialmente o livro de Edward Ryall (1974), são bons exem­ plos disso. A respeito dos eventos na Palestina, contudo, as versões são demasiadamente rivalizantes. Pelo menos a versão dos inspira­ dores de Montgomery não contradiz diretamente o Novo Testamen­ to, embora suas adições contenham sentimentos exaltados, mais apro­ priados a uma visão dos eventos de um sacerdote nobre e sentimental. Muito do que Montgomery escreveu (ou Ford disse) faz senti­ do, mas permanece vaga a distinção entre os relatos cuidadosos e os ornamentos entusiásticos dos desencarnados comunicantes. Jane Roberts publicou alguns livros relatando as informações que recebeu de uma alma desencarnada que se autodenomina Seth. Seus livros são provavelmente as melhores publicações de mensagens mediúnicas dos últimos anos. Seth é um espírito filósofo-gnóstico que deseja nos dizer a natureza real do mundo e da humanidade. Sua epistemologia e metafísica são explicadas elaboradamente em jargão científico. São exposições didáticas de alguém que dissemina a ver­ dade, sem qualquer traço dialético. O vocabulário e a exposição pa­ recem seguir a lógica, porém são incoerentes e não têm um discurso crítico. As dúvidas são contrapostas à confiança e não aos argumentos. 113 Seth diz sobre si mesmo; “Em primeiro lugar sou um professor, embora jamais tenha sido um erudito. Fundamentalmente, sou alguém que tem mensagem: Você cria o mundo que conhece” (Roberts 1972). A mensagem básica é, mais ou menos, que o meio e corpo físicos que temos originam-se em nossos próprios pensamentos e são por eles sustentados. Aparentemente, ele considera o universo físico co­ mo parte de seu ambiente atual de desencarnado. Portanto, sua filo­ sofia é mais ou menos platônica. O mundo físico é apenas um refle­ xo sem-real do mundo mental real. Remanescente da Ciência Cristã, ele nos convoca a acreditar na realidade do bem e não do mal. As experiências que parecem indicar o contrário são meras aparências. Toda a literatura edificante tende a anunciar uma redenção vin­ doura. Seth não é exceção. Por volta do ano 2075 (ainda distante, seguramente), as pessoas terão um contato íntimo com seu ser inte­ rior, um ser mediador entre o homem e o mundo. Não estou seguro do que isso significa, mas não parece encorajador. Ele continua a anunciar novos profetas e a colocar no topo de todos eles “ a tercei­ ra personalidade de Cristo” (seja o que for que isso signifique). Seth também tem algo a dizer a respeito da reencarnação. Tenta­ rei resumir seu discurso, embora seja complexo e fortemente entrela­ çado com a noção que ele tem da realidade e da alma humanas. Na sua filosofia o tempo não é linear, portanto as encarnações não ocor­ rem consecutivamente. Segundo ele, nossas encarnações são dramas representados simultaneamente, um ao lado dos outros. Os relacio­ namentos ostensivos causais entre as vidas e o corrente conceito de car­ ma são, portanto, ilusões das quais devemos nos livrar para nos tor­ narmos verdadeiramente criativos. É ridículo supor que esses dramas possam ser representados no mundo sem tempo e sem sucessão de even­ tos; permanece obscuro como isso condiz com a predição de que por volta de 2075 todos nós estaremos em contato com nosso ser real. Anúncios de reencarnações Algumas pessoas falecidas continuam a se comunicar com pes­ soas que conheciam e, dentre essas, algumas manifestam-se anun­ ciando sua própria nova encarnação. Durante uma sessão na Fran­ ça, em maio de 1924, é pronunciado o nome de um falecido empre­ gado do pai de um participante. Após algumas difíceis tentativas, a comunicação melhora e o espírito diz que nascerá novamente na família de alguns conhecidos de um dos presentes. Dá o nome desses conhecidos, dizendo onde moram e a composição da família. Diz que nascerá na manhã de 24 de setembro de 1924 e que poderá ser reco­ 114 nhecido pela sua orelha. O empregado falecido tinha a orelha direi­ ta saliente. A família em questão não foi informada. Às oito horas da manhã do dia anunciado, o médico que esteve presente à sessão foi informado que um menino nascera naquela família. Quando vi­ sitou a família com sua esposa, três dias depois, o bebê chorou dian­ te da visita, mas imediatamente se acalmou ao contato com a esposa do médico. A mãe salientou que era como se ele a conhecesse. O be­ bê tinha uma atadura à volta da cabeça, pois a orelha direita era sa­ liente, e precisava ser pressionada (Muller 1970; 192). Durante uma sessão espírita na Venezuela, em 1957, um espíri­ to que se comunicava freqüentemente manifestava-se com conside­ rável dificuldade. Disse estar para nascer como uma mulher muito bela, mas aleijada. Estava apreensivo com o nascimento, pois teria uma vida difícil. A mãe, que naquele momento estava no hospital da cidade, já fora levada à sala de parto por duas vezes. Como o parto apresentava dificuldades, os médicos estavam preparando uma cesariana. O encorajamento dos espíritas fortaleceu o espírito. De­ pois disso, o grupo recebeu uma mensagem de um outro espírito di­ zendo que o nascimento acontecera, sem cesariana, na hora exata. O grupo checou os dados e verificou sua exatidão, inclusive a perna aleijada (Muller 1970; 190). Obsessões e reencarnação Um importante campo do espiritismo relacionado à reencarna­ ção é o das obsessões. Hospitais espíritas brasileiros recebem muitos pacientes que não podem ser atendidos em outras instituições, e diag­ nosticam a obsessão em 80% dos casos; a alma desencarnada que se aloja de uma forma perturbadora na aura ou no corpo de alguém. Freqüentemente há uma relação cármica. Um fazendeiro com mais de sessenta anos sofria, há oito anos, de um agravamento de epilepsia. Evidenciou-se que uma entidade chamada Maria o perturbava. Uma médium foi capaz de contatar Maria após o paciente ter sido magnetizado. Maria disse ter sido sua esposa na vida anterior. Os guias presentes explicaram-lhe que ela foi egoísta e invejosa, e ainda se apegava a ele após a morte de am­ bos. Sentiu-se abandonada quando ele renasceu, e agora tentava apres­ sar sua morte. Ao fazerem com que Maria percebesse seu erro, o ho­ mem foi curado da epilepsia em uma semana. Como uma espécie de expiação, ela aceitou reencarnar como filha dele. Nada foi dito ao paciente sobre isso, mas a médium ofereceu-se para ser a madri­ nha, se ele tivesse uma criança. O fazendeiro disse que já era avô 115 e estava muito velho. Porém, um ano mais tarde, ele teve uma filha, uma criança doente que morreu depois de três meses. Após a morte da criança, Maria comunicou-se novamente, através de escrita auto­ mática, e disse que passara por uma experiência dolorosa, mas que aprendera com ela. A mesma terapeuta metapsíquica tratou três casos de espíritos obsessores rancorosos. O espírito de um médico que paralisou um garoto de onze anos explicou que agia por vingança. Após a cura, o obsessivo relaxou, dizendo que queria se desenvolver e esperava renascer na França. Um capitão tinha sérios problemas digestivos e varizes, e parecia que teria um ataque. Revelou-se que uma entida­ de masculina o estava obsediando. Ela conhecera o capitão e sua es­ posa numa vida anterior, quando era um oponente que cometera sui­ cídio por causa deles. Um outro homem sofria üe ataques epilépti­ cos durante a noite. O espírito de um médico descuidado, que preju­ dicou os pacientes durante sua vida, revelou-se a causa daqueles sin­ tomas. Numa vida anterior, o paciente denunciou o médico, que sub­ seqüentemente cometeu suicídio e teve maus momentos após sua mor­ te. O obsessor disse que não imagina como tinha encontrado o pa­ ciente (Muller 1970; 196). Uma mulher de sessenta anos estava mentalmente perturbada por mais de doze anos. Esteve em várias instituições; sempre melho­ rava mas, quando voltava para casa, os problemas recomeçavam. Uma médium diagnosticou obsessão do cunhado da mulher, que mor­ rera treze anos atrás. Enquanto vivos, eles conviviam com dificulda­ de, e depois que morreu, ele descobriu a razão. Numa vida anterior, ele fora filho de um nobre russo. A mulher, que havia sido sua irmã, aprisionou-o para ficar com toda a herança. Ele jurou vingar-se; de­ sejava aprisioná-la, mas agora numa instituição. Mostrou-se a ele que sua vingança bloqueava seu próprio bem-estar e desenvolvimen­ to. Numa cena emocional, irmão e irmã perdoaram-se através do mé­ dium. Daquele momento em diante, a paciente foi curada, vivendo mais doze anos com excelente saúde mental (Muller 1970: 199). Muitos médicos e médiuns brasileiros trabalham com esse tipo de terapia e diagnóstico espírita. Bezerra de Menezes e Ignácio Fer­ reira (1955) foram médicos que escreveram sobre o assunto. De acordo com Ferreira, que tratou mais de mil casos em 25 anos, a obsessão passiva é a mais comum. Nessa, o obsessor não tenciona prejudicar ninguém, ou pode até querer proteger; entra na aura da vítima sem saber, mas ainda assim a perturba. Ele descreve em seu livro trinta casos de obsessões relacionadas a vidas passadas. Existem também pseudo-obsessões, em que o obsessor é a per­ sonalidade de uma vida passada da vítima. O capítulo 4 do segundo volume retornará a isso. 116 Conclusões provisórias O que devemos concluir dessas informações mediúnicas e clarividentes a respeito de vidas passadas? Pessoas sensitivas parecem ter mais memórias de vida passada. Elas se lembram ou percebem com freqüência mais de uma vida. Tipicamente, as memórias e as infor­ mações que dão a respeito de outros e sobre a reencarnação em geral contêm mais relações cármicas e mudanças de sexo. Elas estão mais interessadas em entender as causas e os efeitos do que em reunir provas da reencarnação. Por mais variadas que sejam as fontes, as infor­ mações são similares. Pessoas paranormalmente sensitivas podem fa­ zer distinções claras entre suas próprias vidas e as de outras pessoas. Portanto, é fraca a explicação de memórias aparentes de vidas pas­ sadas pela telepatia ou percepção extra-sensorial. Um dado importante é que a personalidade passada parece ser reanimada em aparições e pseudo-obsessões. A teoria anatta é, por­ tanto, insustentável, e a própria idéia da reencarnação deve ser defi­ nida com mais precisão. As tensões que se manifestam e os proble­ mas causados por “negócios inacabados” podem vir ou de experiên­ cias dessa vida ou de experiências de outras vidas. A personalidade de uma outra vida aparentemente pode influenciar as preparações para uma vida seguinte. Leitura adicional Como se pode ver, o livro de Karl Muller, Reincamation, Based on Facts (1970), foi a fonte mais importante deste capítulo. Muller dá referências da literatura espírita nessa área. O trabalho de Edgar Cayce, que talvez merecesse um capítulo à par­ te, foi ligeiramente considerado aqui, mas será usado nos capítulos 1, 2 e 3 do segundo volume. Além de suas biografias, por exemplo as es­ critas por Sugrue (1942) e Millard (1961), há uma série do próprio Ed­ gar Cayce que consiste de pelo menos quinze livros com resumos de suas sessões. Um exemplo é Edgar Cayce (1968), de Edgar Evans Cayce (1968). Seu filho, Hugh Lynn Cayce, publicou essa série com a Warner Books, e ele próprio escreveu um livro sobre o pai (1964). Sempre estão apare­ cendo novos resumos de seus pensamentos sobre a reencarnação. O pri­ meiro e o melhor é o de Gina Cerminara (1950), que depois escreveu outros dois livros sobre o assunto (1963, 1967). Existem também livros de Langley (1967), Woodward (1972) e Sharma (1975). Usando dados das leituras de Cayce, Violet Shelley (1979) conclui que a reencarnação pode ser interrompida. “Reencarnação desnecessária! Este livro revela como o ciclo da reencarnação pode ser quebrado!” , promete a capa. 117 Numa observação cuidadosa, toda a história resume-se nas palavras de Cayce, que, em alguns casos, alguém não necessita retornar à ter­ ra. Espera-se que isso também seja verdadeiro para os autores de uma capa de livro tola como essa. Já mencionei os livros de Joan Grant (1937-1956) como também os de Guirdham (1970, 1974, 1976, 1980). Existem vários livros de Ruth Montgomery sobre o assunto, incluindo A World Beyond (1971). Aqui também há uma estúpida vangloria na capa; “A primeira tes­ temunha ocular do futuro” . Jane Roberts não parou após o primei­ ro livro; Seth continuou a falar. Não investiguei outras literaturas espíritas. Provavelmente inte­ ressantes são Nyria, de Rosa Caroline Praed (1914) e The New Nuctemeron, de Marjorie Livingstone (1930). Um livro com muitos ele­ mentos mediúnicos é Initiation, de Elisabeth Haich (1965), onde ela descreve sua vida como uma iniciada egípcia. Não tenho razão para duvidar de sua vida egípcia ou de seus dons, mas sua iniciação é mais interessante para psicólogos do que para investigadores de vidas pas­ sadas. Comparado a esse, o pequeno livro The Boy Who Saw True, editado por Neville Spearman (1953), é agradavelmente modesto e imparcial. Livros espiritualistas sobre a reencarnação foram escritos por Knight (1950), Boswell (1969) e Penkala (1972). Van Holthe tot Echten (1921) escreve negativamente sobre a reencarnação e explica tudo como sugestão, mas é inteligente e de fácil leitura, e destrói alguns argu­ mentos de falsas reencarnações. 118 PARTE ll Experiências 5. Recordação espontânea de vidas passadas. A recordação espontânea de vidas passadas não ocorre de ma­ neira arbitrária, mas de acordo com padrões razoavelmente fixos. Este capítulo discute sete tipos diferentes de recordações; • reconhecimento de lugares à primeira vista; • reconhecimento de pessoas à primeira vista; • recordação em sonhos; • recordação desencadeada por objetos, pinturas ou livros; • recordação desencadeada por situações similares; • recordação aflorada em circunstâncias físicas ou emocionais ex­ cepcionais, após acidentes ou durante enfermidades; • recordação na primeira infância. Como indica a lista, a recordação de vidas passadas é desenca­ deada por associações aparentemente em conformidade com os mes­ mos mecanismos de armazenagem e resgate da recordação normal. Independe da crença prévia na reencarnação. Dos 127 casos citados por Lenz (1979), 119 não tinham crença prévia na reencarnação, 5 não tinham opinião prévia e 3 tinham crença prévia na reencarnação. Sinais de Vidas passadas A recordação é apenas a forma mais explícita em que as vidas passadas deixam sua marca. Idiossincrasias pessoais também podem vir de vidas passadas. A lista de sinais inclui: • aparência (por exemplo, sinais de nascença, sinais na face); • comportamento (por exemplo, vestimentas singulares ou hábitos alimentares); 121 • • • • • • habilidades (por exemplo, crianças prodígios); intuição; preferências; postulados (atitudes rígidas quanto à vida); emoções; recordação. Schlotterbeck agrupa todos os sinais diante da recordação sob o rótulo correto, porém vago, de “padrões” , e continua; “Mas es­ ses padrões e impressões são apenas aperitivos quando estamos pro­ curando por nossas vidas passadas. Todos nós desejamos memórias mais claras, na forma de informação sensorial” (1987; 13). Alguém vê num filme a paisagem do sul da Espanha e é tomado por um inexplicável e intenso sentimento de melancolia. Alguém ou­ ve o nome de Júlio César pela primeira vez e é tomado por um ódio repentino e irracional. As emoções sem causa explicável na vida pre­ sente podem indicar uma vida passada. Fobias e neuroses monossintomáticas (consiste apenas em um sintoma isolado) sem experiências traumáticas nesta vida são também sinais de vidas passadas. Os ca­ pítulos 1 e 7 do segundo volume discutem os postulados, isto é, as atitudes rígidas em relação à vida. Entre as aptidões que podem vir de vidas passadas está a habili­ dade de reconhecer e avaliar imediatamente, ao que em geral dá-se o vago rótulo de “intuição” . Se recuarmos o suficiente, muito da intuição poderá ser o resultado de experiências e aprendizagens an­ teriores, ao lado de uma longa prática (Shirley 1924; 32). Em crianças, os comportamentos peculiares podem indicar di­ retamente uma vida passada. Por exemplo, os rituais para se levan­ tar, comer ou cumprimentar que são desconhecidos ou não usuais em seu ambiente, porém conhecidos em algum outro local. Um exem­ plo charmoso é o de uma menina pequena que bate a caneca de leite na mesa e lambe os lábios, como se, com grande satisfação, tivesse a sua frente uma caneca de cerveja. Quando os pais a repreendem, ela explode em lágrimas e diz que isso é uma homenagem a seus com­ panheiros, a quem não deseja esquecer. Quando a família faz mais perguntas, ela comenta uma vida passada (Muller 1970; 60; Head e Cranston 1977: 396). A menina também era notadamente diferen­ te do restante da família. Preferências peculiares e inexplicáveis estão a meio caminho en­ tre as informações mais explícitas e as mais implícitas. Pode haver preferências por uma determinada comida, uma língua ou país em particular, um estilo de arquitetura, um tipo de música, e assim por diante. Walter Pater escreveu: “ O gosto é a memória de uma cultu­ 122 ra uma vez conhecida” . É óbvio que as peculiaridades desenvolvemse nesta vida, porém muitas habilidades, emoções, preferências e idios­ sincrasias contêm sinais de vidas passadas. Uma forte indicação dis­ so é a extraordinária habilidade em crianças prodígios com talentos excepcionais para música, línguas ou matemática, ou talentos exóti­ cos como movimentar fantoches com precisão (Fielding 1898; 336). A lista dos oito tipos de sinais de vidas passadas ajuda a descre­ ver metodicamente esses sinais. A Terapia de Vida Passada usa emo­ ções e atitudes rígidas para despertar recordações e desfazer-se ou livrar-se dessas emoções e crenças. Formas aceitáveis de induzir a re­ cordação de vida passada podem usar outras peculiaridades como pontos de partida. Recordação espontânea em adultos Napoleão costumava proclamar ter sido Carlos Magno (Head e Cranston 1977; 286). Essas afirmações pouco significam, mesmo que ele próprio acreditasse nisso. Trata-se de uma associação que se intensifica até a identificação, com um exemplo histórico óbvio. Quan­ do Charles Emerson diz se lembrar de ter vivido entre os gregos diante de Tróia, é uma pretensão menos óbvia, desde que seu papel ali di­ feria de sua vida como Emerson (Head e Cranston 1977; 317). Mas, mesmo essa afirmação pouco demonstra, desde que todos os que têm educação clássica estão familiarizados com a Ilíada. Isso também pode ser uma identificação com um exemplo histórico atraente. A asso­ ciação é ainda menos óbvia quando Thoreau diz lembrar-se de ca­ minhar no obscuro passado com Hawthorne, ao longo de Scamander, na Ásia. Ele também se lembra de uma vida há 1 800 anos na Judéia (onde jamais ouviu falar de Cristo), e outra vida como pas­ tor na Assíria (Head e Cranston 1977; 317). Essas afirmações ainda não são convincentes sem confirmação posterior, embora dificilmente haja compensação ou identificação com eventos históricos. O escri­ tor francês Gustave Flaubert disse ter vivido sempre. Suas recorda­ ções vão além dos faraós, e ele tem claras impressões de todos os tipos de eras, ocupações e circunstâncias (Head e Cranston 1977; 333). É interessante notar que suas recordações aparentemente permane­ cem dentro da história conhecida. Rainer Maria Rilke estava con­ vencido de estar em Moscou numa encarnação passada (Head e Crans­ ton 1977; 371). Tais idéias são comuns e surgem freqüentemente a partir de uma forte sensação de reconhecimento quando se visita pe­ la primeira vez um lugar desconhecido. 123 Reconhecimento de lugares à primeira Vista Guilfoyle perguntava às pessoas se elas alguma vez tiveram a sen­ sação de já conhecer algum lugar antes de tê-lo visitado pela primei­ ra vez. Aproximadamente 35% jamais tiveram, 50% tiveram uma ou duas vezes, e 15% mais vezes. Seis por cento tiveram experiên­ cias intensas, aparentemente além da vida presente (Muller 1970; 109). Em sua primeira visita a Gênova, Hermann Grundei teve a for­ te sensação de já conhecer a parte velha da cidade. Em visitas poste­ riores à Itália, teve impressões similares em Verona, Bolonha e Florença, mas não em Veneza, Nápoles e Palermo. Aos poucos recordouse de uma vida no século XIV ou XV, como um monge que fazia missões diplomáticas para autoridades do clero. Recordou-se clara­ mente de seu aspecto, do nome e da morte. Em outras viagens, teve experiência similar em Constantinopla (Muller 1970; 111). Seabrook conta a história de um jovem libanês que foi a um vi­ larejo e o reconheceu. Lembrou-se de seu nome e deu provas de sua identidade. Era capaz de reconhecer sua casa e lembrar-se de ter es­ condido algum dinheiro. Seguindo instruções, o dinheiro foi encon­ trado. A pessoa que o precedeu morreu um pouco antes de ele nas­ cer. As pessoas do vilarejo o reconheceram como o aldeão reencarnado (Muller 1970; 110). O reconhecimento de lugares à primeira vista está fortemente relacionado com a experiência déjà vu. Por essa razão, as pessoas que acreditam na reencarnação rapidamente identificam essa experi­ ência déjà vu com pessoas e lugares à recordação de vidas passadas. Isso se justifica somente numa minoria de casos. O déjà vu não se refere necessariamente a vidas passadas. Mesmo porque existe também o jamais vu; quando uma situação familiar torna-se de repente estra­ nha e nova. Curtos-circuitos mentais mais fortes são, por exemplo, a despersonalização (não se sentir mais como uma pessoa, um eu) e desrealização (não experienciar mais o ambiente como real, mas como se fosse de papelão ou de massa, como no livro La Nausée, de Sartre). Parece-me que a experiência de déjà vu só pode ser interpretada como uma recordação de vida passada se houver mais indicadores, como o conhecimento de objetos, casas ou locais ainda não vistos. Falsas recordações não podem ser excluídas em casos de lugares his­ tóricos e conhecidos turisticamente. Emoções e sensações nítidas e específicas ou ver-se como uma outra pessoa são indicações impor­ tantes de recordações reais. Experiências que contêm descobertas são certamente mais do que déjà vu. 124 Alguém reconhece uma paisagem e lembra-se de um penhasco coberto de vegetação, mas que tem uma inscrição. Vai até lá e en­ contra uma inscrição gasta e mutilada atrás da vegetação exuberan­ te. Um exemplo famoso é o de um casal húngaro em lua-de-mel. A mulher reconhece a paisagem durante um passeio de barco e pede para visitar um castelo. Lá, ela pára diante de uma parede e lembrase de ter sido assassinada atrás dela. A parede é quebrada e aparece um espaço lacrado, contendo dois esqueletos (Cannon 1936; 34). Eis um exemplo de falsa memória aparente. Uma mulher está viajando com sua filha por Minnesota, pela primeira vez. Ao parar numa estação, fica surpresa pelo lugar lhe ser completamente fami­ liar. Reconhece uma fazenda em que vivera uma vez. Como a para­ da é longa, ela dá uma caminhada, visita a fazenda com a filha, e a casa e a mobília são exatamente como ela lhe descreveu. A filha relatou o incidente a seus amigos e um deles, investigando o assun­ to, descobre que a fazenda fora construída quando a mulher em ques­ tão já era adulta. Na época de seu nascimento não havia nenhuma construção naquela área (Cannon 1936; 32). Isso não é uma memória de reencarnação. A identificação com outra pessoa só pode ter acontecido através da telepatia com alguém que vivia na casa. O déjà vu parece estar fora de cogitação, pois a mulher podia descrever a casa e a mobília sem ter estado lá. Fanta­ sia e falsa memória também estão fora de cogitação. Um psicodrama é impossível, pois nada pessoal ou problemático está acontecen­ do. Uma forma de clarividência psicométrica forte seria possível, e a hipótese de uma memória coletiva não pode ser excluída. Mas am­ bas as explicações não justificam o porquê de ela sentir ter vivido na casa. A explicação mais provável é a combinação de uma experiência de déjà vu, imaginação e (auto) fraude. A mulher pode ter tido uma experiência de déjà vu, a sensação de reconhecer o lugar. Ela tenta explicar e imagina que esteve lá anteriormente. Durante a visita à fazenda (talvez ainda num humor de déjà vu) tem novas sensações de reconhecimento e diz à filha que aquilo era exatamente como se lembrava. Depois, ela diz já ter dito de antemão à sua filha (imagi­ nação ou autofraude). Talvez, ao passar o tempo de espera na esta­ ção, ela tenha elaborado sua experiência tornando-a mais impressiva, primeiro para ela mesma e depois para os outros. É a explicação mais provável, porque tem menos pressuposições paranormais e as explicações alternativas são menos prováveis. Se houvesse contato telepático com um residente atual ou do passado da fazenda, então ela se sentiria familiarizada com as pessoas e não com a mobília da casa. A hipótese de uma memória coletiva e clarividência psicomé125 trica são menos plausíveis por causa da identificação; ela sentiu que ela própria tinha vivido lá. Se essa mulher mostrasse sinais anterio­ res de habilidades telepáticas ou psicométricas, essas suposições se tornariam mais prováveis. Experiências fora do corpo durante a noite, como visitar algum lugar em sonho, podem às vezes justificar o reconhecimento de lu­ gares. Há exemplos de pessoas que reconhecem uma casa vista em sonhos; enquanto os residentes pensavam que a casa estava assom­ brada, e depois, ao ver a pessoa na vida real, eles a reconheceram como sendo o fantasma (Shirley 1924; 79). Isso também pode expli­ car o evento anterior. Em minha pesquisa, o reconhecimento de lugares estava rela­ cionado a vislumbres de inspiração. Reconhecimento de pessoas à primeira Vista O capítulo anterior deu o exemplo de Gerda Walter. Outro caso é o de Lanfranco Davito, um policial italiano. Ele estava a serviço quando um estranho abordou-o na rua. No mesmo instante o poli­ cial se lembra que esse homem o matara a pauladas numa luta tri­ bal, e fica com muito medo. Mais tarde, todos os tipos de recorda­ ções dessa vida primitiva afloraram (Muller 1970; 119). O reconhecimento de pessoas à primeira vista é comum. Muitas vezes pode ser o déjà vu, em vez de uma memória de vida passada. Faces podem nos parecer familiares porque as associamos com ou­ tras que já conhecemos; ou os atos e palavras de alguém nos pare­ cem imediatamente familiares, produzindo uma sensação de recor­ dação. Um sentimento de intimidade instantânea, simpatia ou anti­ patia, não é razão suficiente para admitir uma vida passada. Os ca­ sos mais interessantes são encontros com reconhecimento mútuo, tal como o de Gerda Walter. Amor à primeira vista, se foi real, certa­ mente vem de um relacionamento numa vida anterior. Fortes sensa­ ções de reconhecimento podem ser o ponto inicial para regressões a vidas passadas (Sutphen 1976). Cerca de um terço dos casos de Lenz foram induzidos pelo encontro com alguém, embora a recordação raramente aconteça à primeira vista. A primeira resposta foi a de familiaridade incomum. Em minha pesquisa, habilidades magnéticas, e em menos exten­ são a clarividência, estavam relacionadas ao reconhecimento de ou­ tras pessoas. 126 Recordação em sonhos Existem poucos casos de sonhos nitidamente relacionados a vi­ das passadas. É provável que isso se deva ao fato de os sonhos em geral não serem bem lembrados e, se lembrados, ainda assim serem evidências pouco convincentes. Muller dá três casos confirmados por outras evidências. Citarei um deles, Uma mulher tinha um sonho recorrente desde os cinco anos de idade. Ela encontrava um menino e, de repente, eles estavam numa velha casa no topo de uma colina. Ela podia ver detalhes da casa. Os dois brincavam num corredor no alto da escada. Ela afastou-se de seu amigo e rolou da escada abaixo. Ao cair, via o ladrilho pretoe-branco aproximando-se velozmente e então tudo pretejou. Em ge­ ral tinha esse sonho quando estava para tomar uma importante de­ cisão na vida. Quando adulta, pediram-lhe para visitar os moradores de uma casa assombrada. Para seu espanto, a casa parecia ser a mesma de seus sonhos. Disseram-lhe que, alguns séculos antes, um menino e uma menina tinham morrido numa queda enquanto brincavam. Ao ver dois pequenos quadros, exclamou; “Meu pai e minha mãe!” . Eles realmente eram os pais das duas crianças (Shirley 1924; 65; Muller 1970: 95). Lenz tinha dezenove casos, ou 15% de sua pesquisa, de memó­ rias em sonhos freqüentemente de várias encarnações. Ele anotou as seguintes diferenças dos sonhos comuns (Lenz 1979: 32): • sensações não usuais; • consciência de ver cenas de vidas passadas durante o sonho; • nitidez incomum, de modo que os detalhes podem ser descritos mes­ mo depois de anos; • mudança subseqüente de atitude em telação à morte. Essas quatro diferenças não me parecem relevantes. As três pri­ meiras indicam apenas um sonho vívido, o que é comum em sonhos que são impressivos e bem lembrados o suficiente para mais tarde serem relatados. O quarto é comum em todas as memórias de vidas passadas. Holzer declara que sonhos repetidos estão inevitavelmente liga­ dos a alguma espécie de memória de reencarnação (Holzer 1985: 26). Pode parecer uma declaração radical, mas que pode ser verdadeira. Ele também afirma que a diferença entre uma memória verdadeiramente pessoal e outra recebida por telepatia é que o sonhador do primeiro tipo sente ou vê a si mesmo na cena, enquanto, ao receber memórias de outros, só observa de fora. Sonhos repetidos são excelentes pon127 tos de partida para regressões. Schlotterbeck afirma o mesmo, po­ rém acrescenta que, como em qualquer terapia, os sonhos que pre­ cedem imediatamente a terapia regressiva também podem ser signi­ ficativos. Completar um sonho durante uma sessão é uma ferramenta poderosa e pode liberar memórias de vidas passadas. Ele dá alguns exemplos (Schlotterbeck 1987; 23). Em minha pesquisa, pessoas com dons paranormais sonham mais com vidas passadas do que outras. Recordação desencadeada por objetos, pinturas ou iiVros Quando Giuseppe Costa era criança, um pequeno quadro de Constantinopla e Bósforo desencadeou vagas memórias de navios e batalhas, com fortes emoções. Aos dez anos, foi a Veneza pela pri­ meira vez e a reconheceu. Na noite seguinte sonhou que tinha trinta anos e comandava um navio medieval. As bandeiras impressionaramno particularmente. O sonho foi longo e cronológico. Mais tarde, reconheceu outros lugares, mas só começou a acreditar numa vida passada depois de uma experiência fora do corpo. Ao visitar o cas­ telo de Verres, identificou-se como Ibleto di Challant, que viveu no século XIV (Costa 1923; Brazzini 1952; 120; Muller 1970; 87). Quando menino, Francis Lefebvre teve um sonho diurno com o mar. Aos 35 anos visitou museus em Portugal. Ao ver um grande tambor e um sino de um navio, e posteriormente um objeto doura­ do, desencadeou memórias da vida de Vasco da Gama, o descobri­ dor português. Sua esposa achou que um retrato de Vasco da Gama parecia exatamente com seu marido quando zangado. Esse é um dos poucos exemplos documentados de recordação de uma famosa per­ sonalidade passada. Lefebvre admite que sua convicção é difícil de ser provada (Lefebvre 1959; 3-11; Muller 1970; 90). As memórias de Joan Grant começaram quando ela lia psicometricamente um escaravelho, o qual parecia lhe pertencer numa vi­ da passada (Grant 1956b). Lenz tinha nove casos, em 127, que afirmavam que suas memó­ rias tinham sido desencadeadas por uma peça musical, uma pintura ou o contato com algum objeto (Lenz 1979; 29). Recordação desencadeada por situações similares Berlim, 1943, domingo. Há um ataque aéreo de surpresa. Co­ mo todos os domingos, Hermann Grundei checa os livros que guar­ 128 da num cofre velho, num escuro corredor. Lentamente tem a sensa­ ção de que já vivera aquilo anteriormente. Suas impressões tornamse mais fortes, até que, nitidamente, vê o fim de sua vida anterior. Vê-se checando os livros num feriado, tirando-os de um velho cofre que ficava num canto escuro. A inspeção mostra que ele está falido, que foi roubado por seu contador. Ele dá um tiro na têmpora direita. Grundei acreditava que o incidente ocorrera entre 1870 e 1885, provavelmente quando estava vivendo numa pequena cidade portuária e trabalhava com navios e madeira. Em 1952, começou a escrever para vários portos, e conseguiu em um deles a confirmação de sua história, além da informação de que o filho do homem em questão continuava vivo. Em 1956 visitou esse rapaz. Ambos sentiram como se fossem da mesma família e se encontravam depois de um longo período. Eles se pareciam fisicamente e falavam de maneira seme­ lhante. As pessoas supunham que fossem irmãos. Numa velha foto escolar, reconheceu seus dois filhos, mas não as duas filhas (Muller 1970: 122). É interessante salientar que Grundei nasceu 35 dias antes de sua identidade anterior se matar. Uma “intermissão negativa” desse ti­ po é rara, porém outros exemplos documentados são conhecidos. No capítulo 4 do segundo volume voltaremos a esse assunto. Recordação sob circunstâncias extraordinárias Um técnico inglês ainda estava narcotizado depois de uma ci­ rurgia, quando começou a explicar, num francês refinado, que era um nobre francês, e descrevia brevemente sua vida antes da Revolu­ ção e a morte na guilhotina. Sua re-experiência era muito vivida. Quando voltou a si, lembrava-se de tudo como se fosse um sonho. Ainda podia sentir um anel em seu dedo, porém não falava mais fran­ cês (Muller 1970; 126). Hermann Medingen, piloto de corrida alemão, sofreu um grave acidente em 1924. Após uma breve e terrível dor, saiu de seu corpo. Viu várias vidas passadas, como homem e como mulher, como se olhasse para diferentes espelhos (Muller 1970; 127). Um exemplo interessante é o de Charles Lindbergh, que ao so­ brevoar o oceano dormiu por algum tempo com os olhos abertos. Estando desassociado, sentiu-se simultaneamente no passado, no pre­ sente e no futuro. Viu pessoas, ouviu vozes e sentiu antigas relações e amizades que parecia conhecer de vidas passadas (Lindbergh 1953; Head e Cranston 1977; 390). 129 Georg Neidhart, caldeireiro alemão, perdeu a esposa e o filho quando ainda jovem. Após semanas de desespero, começou a ver ima­ gens e cenas de épocas antigas. Mais tarde, tinha virtualmente a re­ cordação completa daquela vida a ponto de localizá-la e identificála (Neidhart 1959; Muller 1970: 100). Outras experiências podem aflorar sob transe controlado, co­ mo na ioga ou meditação. Em 13% dos casos citados por Lenz, a prece e a meditação desencadearam as recordações. Ele notou que essas pessoas pareciam aceitar suas memórias mais prontamente do que em outros casos. Recordação em adultos: um resumo Nas recordações em adultos, o primeiro ponto a descartar é o déjà vu, a falsa memória e a imaginação. O valor da recordação frag­ mentária é difícil de determinar, a menos que haja detalhes verificá­ veis. O primeiro teste é controlar pela nitidez e solidez, da mesma forma que em qualquer recordação normal. Um segundo teste é se os elementos diferentes da recordação são consistentes entre si e com outras recordações. Um terceiro teste é comparar os conteúdos de nossa memória com fatos objetivos e históricos. Os exemplos de Hans Holzer indicam que apenas o teste históri­ co não é suficiente. Alguns dos melhores exemplos de pesquisa, inclu­ indo o que ele chama de “ o caso perfeito de reencarnação” (Holzer 1985: 60), não são reencarnações e sim obsessões ou mesmo apegos espirituais. Sob hipnose, as personalidades antigas declaram explici­ tamente que entraram somente mais tarde, durante a vida do sujeito. A recordação é em geral desencadeada pela associação; retorno a lugares, encontro com pessoas, objetos reconhecidos e situações similares. A recordação também aflora em disassociação gradual e aguda; sob narcose, após um profundo desespero, na ausência de sono, durante um acidente, em sonhos. Além disso, pode haver as­ sociação com algo psicológico. Por último, a recordação pode ser vista em regressões, nas quais a indução não indica o lugar onde o remigrante vai atracar. Freqüentemente a vida emergente é signifi­ cativa. Um bom exemplo disso são as primeiras regressões de Glaskin (1974; 21, 207). Algumas visões parecem começar como uma experiência fora do corpo, não distintas das experiências de morte clínica, descritas por Moody e outros. De acordo com Lenz, esse é o padrão comum (Lenz 1979; 47), porém, isso não é confirmado por qualquer outra fonte. Ele afirma que 29 entre 127 casos têm algum tipo de experiência do 130 túnel (como nas experiências fora do corpo) ao retornar, um achado também altamente incomum. Algumas vezes as memórias vêm mais facilmente depois da pri­ meira recordação com a tendência a serem menos visionárias e mais como recordações comuns. “ O restante eu simplesmente vim a sa­ ber. Foi como se eu tivesse amnésia, e após minhas visões da vida passada comecei a lembrar-me de coisas que tinha esquecido” (Lenz 1979; 41). Recebi as seguintes respostas em minha pesquisa sobre o con­ teúdo e circunstâncias das recordações aparentes de vidas passadas; Sensação geral de ter vivido antes Sensação de reconhecer pessoas Fragmentos de sonhos Sensação de reconhecer lugares Recordação sem causa aparente Ao relaxar ou visualizar Na presença de um paranormal Durante doenças, acidentes, perda de consciência etc. Nenhuma memória 30% 30% 27% 24% 21% 15% 12% 0% 44% A pesquisa foi limitada e a amostra tinha, proporcionalmente, muitas pessoas sensitivas e poucos idosos. É improvável que o últi­ mo fato tenha influenciado os resultados. A recordação dos mais ve­ lhos e dos mais jovens foi semelhante. Se as pessoas têm recorda­ ções de vidas passadas, em geral elas acontecem antes dos trinta anos. Aparentemente, aprender sobre a reencarnação através de con­ tatos é mais efetivo do que de leituras ou conversas. Aqueles que se tornaram familiarizados com o assunto através de contatos pessoais conheciam mais sobre o assunto e estavam mais convencidos a res­ peito dele. Por estranho que pareça, também tinham mais memórias próprias. Talvez pessoas com lembranças de vida passada tenham preferência mais forte por contatos pessoais, em comparação a lei­ turas, e a assistir a palestras sobre o assunto. Pessoas com dons pa­ ranormais tinham idéias menos orientadas pelas doutrinas existen­ tes. Pessoas com orientação antroposófica aprenderam mais através de contatos pessoais e menos por preleções do que as orientadas teosoficamente, porém tinham menos recordações pessoais. Alguns outros resultados da pesquisa são mostrados a seguir, na Tabela 4. A pesquisa de Wambach (1978; 36) também indica que o nome é um dos aspectos mais difíceis da recordação. 131 Em casos de memórias espontâneas de reencarnação, Muller cal­ culou o período médio das intermissões em cerca de setenta anos (Muller 1970). Quatro por cento dos homens lembravam-se de uma encarna­ ção feminina, e 24% das mulheres lembravam-se de uma encarnação masculina. Essas porcentagens são consistentes com as de clarividentes e médiuns que davam informação sobre vidas passadas. Recordação espontânea em crianças: exemplos tirados do trabalho de Ian Stevenson Investigar casos em crianças é dispendioso e gasta muito tempo. Algumas pessoas o fazem, e poucas o fazem bem. Os nomes mais conhecidos são os de Ian Stevenson, Hemendra Banerjee, Francis Story e Hernani Andrade. Story trabalhou com Stevenson na índia, e Andrade trabalha no Brasil, também em cooperação com Steven­ son. Banerjee trabalhou na índia nos anos 50, onde fundou o Insti­ tuto Indiano de Parapsicologia, e vive nos Estados Unidos desde 1970. Tabela 4 De quantas vidas passadas você acredita ter impressões? Uma Duas Três ou quatro Mais de quatro Não está claro 4 1 4 4 5 Suas impressões são geralmente nítidas? Usualmente muito não nítidas Usualmente mais não nítidas Usualmente um tanto não nítidas Usualmente nítidas Difícil de responder 1 7 3 0 7 Você tem impressões de lugar, tempo ou nome de sua encarnação mais nítida? Lugar ou região Período ou século Nome 132 Não 7 9 17 Vagas 2 2 0 Nítidas 8 7 Ian Stevenson, do Departamento de Parapsicologia da Univer­ sidade de Virgínia, é a autoridade internacional na área de pesquisa em casos de crianças. Reuniu cerca de dois mil casos de aparente re­ cordação de vida passada. Desses, examinou extensivamente mais de duzentos. Relatou seus achados em livros e em numerosos artigos. No norte da índia foram examinados 105 casos, no Sri Lanka, oi­ tenta, e algumas dezenas na Turquia, Líbano, Alasca, Tailândia e Burma. A pesquisa em casos de crianças pode ser comparada às investi­ gações legais. É importante ter tantas testemunhas precisas e inde­ pendentes quanto possível. Se uma criança jamais esteve próxima do local onde a pessoa anterior viveu, e se jamais encontrou alguém de lá, é possível experimentar no próprio local. Banerjee é um entusiasta que não receia a publicidade e traba­ lha com rapidez. Seu livro, The Once and Future Life (1979), tem como subtítulo An astonishing twenty-five-years study on reincarnation. Mas seu trabalho nem ao menos chega perto do trabalho de Stevenson. Ele escreve fragmentos como; “É um fato científico que uma pessoa não pode se lembrar daquilo que ela não aprendeu pre­ viamente” (Banerjee 1979; 24). Seu conceito de reencarnação é defi­ nitivamente religioso e não empírico (1979 ;24). Stevenson, que hoje tem dados de mais de dois mil casos, leva em consideração todas as explicações alternativas de aparentes re­ cordações. Ele fez um sólido estudo da psicologia da recordação e testemunho e dos métodos de avaliação de relatos de testemunhas. A introdução de seu terceiro livro (1975), particularmente, oferece uma visão geral valiosa dessa área. Seus oponentes estão menos in­ formados. Daniel Cohen (1975) faz em oito páginas dezesseis comen­ tários insinuantes sobre um caso particular, depois explica esse caso como “pensamento desejoso” da parte de Stevenson, e termina afir­ mando que os outros casos de Stevenson são menos convincentes. Essa é uma reminiscência da estúpida explicação dos fenômenos pa­ ranormais pela “ sugestão” , a qual os leigos da área do paranormal e, pior ainda, os leigos da área da sugestão tendem a usar. Mas se você sabe que algo é absurdo, não precisa tratá-lo seriamente; sim­ plesmente explique-o com algo comum que ao mesmo tempo não é real: a sugestão. Dos 105 casos que Stevenson examinou no norte da índia, ses­ senta eram de meninos e 45 de meninas. Dos oitenta casos do Sri Lanka, 38 eram meninos e 42, meninas. Usualmente a recordação aflora aos três anos de idade, quando a criança começa a falar. Fre­ qüentemente, suas recordações diminuem entre as idades de sete e nove anos. Alguns retêm suas memórias mesmo ao envelhecer, e em 133 outros a recordação torna-se mais clara à medida que o tempo pas­ sa. Holzer afirma que as memórias usualmente desaparecem na ida­ de escolar, mas que algumas vezes elas retornam na idade de dezes­ sete e dezoito anos, de modo até mais intenso e com mais detalhes (Holzer 1985; 56). A abrangência das recordações diferem grandemente. Algumas vezes as crianças lembram-se de fragmentos desconectados, outras vezes de incidentes, tais como a morte. Às vezes, depois de finalmente conseguirem contar a alguém sobre suas vidas passadas, elas as es­ quecem, aliviadas. Hubbard relata um caso desses numa menina de cinco anos. Dos muitos casos que Stevenson examinou, darei três exemplos, tirados da série Cases o fth e Reincamation Type (1975- 83). Cito-os aqui como ilustrações, mas deixo de fora os fatos, as circunstâncias e os métodos de pesquisa que caracterizaram as evidências. O capí­ tulo 8 do segundo volume voltará aos métodos de pesquisa. Quanto aos demais, reporto-os às descrições originais de Stevenson. Laxmi Narain, o filho de dezessete anos de um rico proprietário de terras e coletor de impostos, morava na cidade de Pilibhit, em Uttar Pradesh. Seu pai morreu e deixou-lhe uma considerável fortu­ na. Ele era uma criança mimada que, na época da morte do pai, não tinha ainda terminado a escola primária e gastava seu dinheiro à von­ tade em coisas supérfluas. Como também era generoso, acabou gas­ tando toda a sua fortuna. Regularmente, depois de algumas sema­ nas num estilo de vida luxuoso, retirava-se em sua casa e devotava seu tempo a pensamentos religiosos. Em uma ou duas semanas se fartava disso e voltava à “ doce vida” num ciclo repetitivo. Como muitos filhos mimados, tinha um temperamento explosi­ vo. Uma vez, ao ver um visitante sair da casa de sua prostituta favo­ rita, matou-o a tiro. Ele escondeu-se e, provavelmente por suborno, conseguiu evitar um julgamento. Após esse evento, mudou-se para outra cidade, onde morreu um ano depois, provavelmente com 32 anos de idade, em dezembro de 1918. Em 1921, um menino chamado Bishen Chand nasceu em Bareilly, também em Uttar Pradesh. Aos dez meses de idade, pronunciou a palavra “pilivit” . Quando começou a falar, contava sua vida como Laxmi Narain. Os elementos de suas recordações foram escritos an­ tes de Bishen Chand ir a Pilibhit para checar a história; Laxmi Narain viveu em Mohalla, em Pilibhit. Seu pai era um rico proprietário de terras da casta Kayashta. Seu tio foi Har Na­ rain. Sua escola ficava perto do rio. Aprendeu urdu, hindi e inglês. Seu professor de inglês no sexto ano era gordo e tinha barba. Quan­ do o pai morreu, havia muita gente no funeral. 134 Sua casa tinha dois andares com entradas separadas para ho­ mens e mulheres. Seu tio, Har Prusad, tinha uma casa verde. Ele costumava soltar pipa com seu vizinho, Sunder Lal, cuja casa tinha uma cerca verde. Sua empregada, Maikua, baixa e escura, perten­ cente à casta Kahar, era boa cozinheira. Ele venceu uma ação judi­ cial contra alguns membros da família. Atirou num homem que saía da casa de Padma, sua prostituta favorita e concubina. Ele estava bêbado naquele momento. Após o assassinato, escondeu-se em seu jardim, onde sua mãe lhe mandava comida. Mais tarde, arranjou um emprego em Shahjahanpur, onde morreu aos 28 anos de idade. Praticamente tudo isso foi provado. As únicas declarações in­ corretas foram a idade de sua morte, a vizinhança em Pilibhit e Har Narain não ser seu tio, mas seu pai. Contudo, havia alguém em Pi­ libhit que todos chamavam de tio Har Narain. Isso pode explicar a confusão. Em Pilibhit, Bishen Chand reconheceu sua casa e a casa do vizinho, Sunder Lal. Em sua casa reconheceu o quarto onde es­ condera algum dinheiro. O dinheiro foi realmente encontrado, em­ bora não exatamente no local que ele indicou. Reconheceu o lugar onde antes havia uma escada. Reconheceu a casa de um comerciante e o lugar de uma ex-relojoaria. A maioria das recordações começou a desvanecer depois que ele fez sete anos. As emoções relacionadas à vida passada foram espe­ cialmente os sentimentos que tinha por pessoas daquela vida. Ele con­ tinuava apegado à mãe anterior. Mas recusou presentes de alguns parentes anteriores. “Naquela época, vocês queriam o meu sangue, agora querem apaziguar-me com dinheiro.” Aparentemente, ele es­ tava se referindo à briga familiar e à ação judicial decorrente. Com dificuldade aceitava as circunstâncias sob as quais estava agora crescendo. Por exemplo, ficava irritado por seu pai não lhe comprar roupas de seda. Quando criança, tinha o mesmo tempera­ mento “esquentado” de Laxmi Narain. Sentia um orgulho exagera­ do pela história de como havia atirado em seu rival. Por volta dos dezessete anos de idade, suas tendências violentas desapareceram. Per­ maneceu “esquentado” até atingir a meia-idade, embora se arrepen­ desse cada vez mais quando passava seu mau humor. Aos 23 anos, voltou a encontrar sua antiga concubina, agora com cerca de 52 anos de idade. Abraçou-a e desmaiou de emoção. À noite, visitou-a com uma garrafa de vinho (embora agora fosse abstêmio) e, em vão, ten­ tou convencê-la a retomar o relacionamento do passado. Ficou amar­ gurado ao ver sua antiga casa em mau estado e reagiu com escárnio à notícia de que um negociante fora homenageado. 135 Como preferência, gostava de carne vermelha e de peixe desde a infância, e adorava álcool, embora sua família fosse vegetariana e abstêmia. Por volta de cinco anos de idade, tomava furtivamente uns goles de conhaque medicinal. Sua preferência por carne e peixe permaneceu até a meia-idade. A tendência a beber desapareceu. Quan­ do adulto, aceitou que não podia satisfazer seu desejo por roupas caras. Quando criança, já era interessado por música, e isso perma­ neceu da mesma forma que em Laxmi Narain. Quando criança, gos­ tava de empinar papagaio, mas o pai atual reprimiu-lhe essa tendên­ cia. Aos cinco anos de idade, aconselhou o pai a ter uma concubina. Quando cresceu, suas preocupações sexuais desapareceram. Bishen Chand casou-se e teve uma vida sexual tranqüila. Quanto às habili­ dades, tinha um conhecimento notável de urdu, assim como tinha habilidade para tocar tabla, um instrumento musical. Ele era exce­ lente em ambos, embora jamais tivesse aprendido ou tivesse exem­ plos em seu ambiente próximo. Aos oito anos de idade, parou de tocar tabla. Entre os três e sete anos, seu comportamento era distintamente diferente de toda a família. Diariamente fazia alguma comparação com sua vida passada. Era insolente a respeito da pobreza da casa. “Nem minha empregada comeria isso.” Ele tirava suas roupas e exigia trajes de seda. Não sabemos se Laxmi Narain e Bishen Chand se pareciam; pa­ rece que não havia semelhança notável. É interessante notar que qual­ quer problema ocular que Bishen Chand tinha quando criança era curado por um remédio mandado pela mãe de Laxmi Narain, com a informação de que aquele remédio havia ajudado seu filho (Ste­ venson 1975: 176). Um outro exemplo é o de Lalitha Abeyawardena, nascida em agosto de 1962, próximo a Colombo, no Sri Lanka (Stevenson 1977: 117). Aos dois anos e meio de idade, começou a falar, e quase ime­ diatamente contou sua vida passada. Disse ter sido uma professora em Mirigama (cerca de sessenta quilômetros ao norte). Seu marido também era professor. Ela disse o nome da escola, o caminho até sua casa e descreveu as lojas. Deu o nome de alguns membros da família e disse que morrera de uma doença intestinal, num hospital. Ficava emocionada e freqüentemente chorava quando falava de sua vida passada, preocupando-se com os alunos que deixara para trás. Contudo, não queria voltar e rever o marido. A professora chamava-se Nilanthie, nascera em 1914, casara-se em 1939 e morrera em 1953. Seu marido era um professor assistente que ensinava na escola em que seu pai, mais tarde, tornou-se diretor. Após alguns anos de casamento, o marido passou a interessar-se 136 por outras mulheres e talvez tenha começado a beber. Apaixonou-se por outra e pediu o divórcio, acusando a esposa de adultério. Ela negava, e ele ameaçou-a com uma faca. Apesar dos problemas, ela ficou com os três filhos. Finalmente, decidiu sair de casa. O marido levou-a para o cunhado, seu irmão mais velho. Segundo esse irmão, o cunhado batera nela e, embora ela estivesse doente e com febre, forçou-a a banhar-se em água fria, fora de casa. Três dias depois ela morreu de “enterite não específica” , talvez de tifo. A recordação que Lalitha tinha de sua vida como Nilanthie in­ clui cerca de sessenta afirmações. Além do próprio nome, lembravase dos nomes do marido e dos filhos. Sabia onde seus irmãos e irmãs moravam e lembrava-se de alguns incidentes, como seu irmão mais novo mordendo-lhe o dedo quando ela o alimentava, e muito mais tarde visitando-a com uma motocicleta. Ela listou as classes e esco­ las em que havia ensinado, deu informação sobre a vizinhança e as lojas locais, e deu os nomes de algumas pessoas e de algumas vilas da região. Mais tarde foi capaz de falar sobre a infidelidade do ma­ rido, a surra que levou dele, as circunstâncias que a levaram à morte e sua idade na época. Reconheceu várias pessoas do passado, mas não todas. Aos cinco anos e meio entrou na escola, e sua recordação praticamente se desfez. Algumas vezes Lalitha estava ciente que o tempo havia passa­ do, outras falava no presente e implorava por sua filha mais nova, que talvez estivesse chorando de fome. Ao falar de sua vida passa­ da, dava impressões de uma pessoa adulta. Aparentemente suas emo­ ções ainda eram fortes, pois chorava muito. O ódio e o medo que sentia pelo antigo marido eram intensos. Temia as doenças em ou­ tros e em si mesma. Sentia simpatia pelos irmãos passados. Como Nilanthie, Lalitha era devota e se interessava por religião. Gostava de livros e freqüentemente brincava de professora. Gostava de kukulala (uma raiz parecida com inhame) e adorava flores. Era radi­ calmente contra a bebida e se interessava pouco por serviços domés­ ticos. Nilanthie teve um marido que bebia e uma ajudante que cui­ dava da casa enquanto ela ensinava. Uma diferença era que Lalitha não gostava de bife, enquanto Nilanthie sim. Ela tinha dezoito meses de idade quando sentou-se na posição de lótus, e dois anos quando começou a cantar gathas religiosas. Nessa mesma idade também pegou um lápis e segurou-o corretamente. Co­ lhia flores para os templos e foi vista levando oferendas à maneira budista. As opiniões diferem sobre a semelhança física das duas mu­ lheres. Lalitha tinha marcas de nascimento, mas não eram relacio­ nadas com sua vida como Nilanthie (Stevenson 1977; 117). 137 O terceiro exemplo é o de Necati Çaylak, que nasceu em 1963 em Karaali, perto de Antakya, na Turquia (Stevenson 1980; 229). Com aproximadamente três anos de idade, relatou ter morrido num acidente de carro numa ponte perto de uma rodovia (distante cinco quilômetros), e disse o nome das pessoas com quem estava no carro. Mais tarde, ao ver pela primeira vez a ponte, começou a chorar e voltou a descrever o acidente. Disse que o carro não capotou, mas que “ subiu” contra a cerca. Disse ter perdido um sapato durante o acidente. Ele não quis atravessar a ponte. Depois disso, começou a falar de sua vida passada. Chamavase Abdülkerim, tinha esposa e quatro filhos. Com três anos de ida­ de, disse o nome do lugarejo em que tinha morado e o de quase to­ das as pessoas que se lembrava. Houve um acidente na ponte cerca de um mês antes de ele nascer. A viúva de Abdülkerim Haddoroglu (o homem que morreu nesse acidente, em fevereiro de 1963), de Bedirge, visitou Necati no outono de 1966. Necati reconheceu-a, e me­ nos claramente reconheceu seus três acompanhantes. Abdülkerim Haddoroglu nasceu em 1934 e viveu em Bedirge por quase toda a vida, outro lugarejo perto de Antakya. Teve um táxi durante dois meses, mas não pôde dirigir. Fora disso foi fazendeiro por toda a vida. Casou-se e teve três filhos. Quando morreu, sua es­ posa estava esperando o quarto. Tinha naquela época 29 anos. O acidente aconteceu um pouco depois de Ramadam, quando Abdül­ kerim e seus amigos beberam raki. Eles pediram para alguém dirigir o microônibus, pois tinham bebido demais. Ofuscados pelas luzes de um caminhão que vinha em direção contrária, o ônibus colidiu com a grade de proteção da ponte. Abdülkerim morreu imediata­ mente e realmente perdeu um sapato. Os outros passageiros e o mo­ torista ficaram feridos. Necati lembra-se corretamente de muitos detalhes sobre sua vi­ da passada e sua morte; os nomes da esposa, dos filhos, do pai, da mãe e irmã, e o do lugarejo de onde viera sua esposa. A informação sobre o acidente estava correta; o local, o microônibus, o fato de virem de Antakya depois de beberem muito num festival religioso. Outros detalhes estavam incorretos; o último nome de seu pai, o fato de ele ser o motorista e o ônibus ter “ subido” a parede. Ele confundiu parcialmente os nomes dos passageiros com os de outras pessoas envolvidas, como o proprietário do ônibus. Reconheceu sua esposa, alguns parentes e conhecidos. Contudo, as descrições desses encontros foram pouco claras e inconsistentes em alguns pontos. O medo que tinha da ponte, que permaneceu até os dez anos de idade, corresponde aos medos de outras crianças em relação à causa e à localização de suas mortes. Até os sete anos ele tinha medo de 138 carros, quando passou a interessar-se por eles. Aos dez anos queria ser motorista. Mesmo quando criança gostava de raki. Ele era a criança mais inteligente da família e tinha a tendência a dar conselhos a seus irmãos mais velhos. Sofria de dores de cabeça até os dez anos. Suas recordações permaneceram virtualmente inal­ teradas, inclusive os erros (Stevenson 1980; 299). Casos de crianças: resumo Nos casos que Stevenson examinou, a intermissão entre a morte na vida passada e o nascimento na nova vida vai de um a quatro anos. Uma intermissão de mais de doze anos dificilmente ocorre. Pude­ ram ser identificadas e verificadas de 25 a 75 por cento das vidas pas­ sadas lembradas por crianças, porque a família da personalidade fa­ lecida ainda estava viva. Ele encontrou mudanças de sexo entre 6 a 16 por cento de seus casos. Isso difere de acordo com a região. Entre os tlingits, a reencarnação sempre se dá dentro da mes­ ma família. Na Turquia, a reencarnação em geral acontece num lu­ garejo próximo. No Sri Lanka as encarnações acontecem a grandes distâncias, freqüentemente alcançando 75 a 150 quilômetros (Steven­ son 1966; 171). Na Tailândia, uma criança recordou-se de ser um piloto americano, e uma outra, um soldado japonês. Se alguém con­ segue se lembrar de sua vida passada na primeira infância, usual­ mente isso implica uma morte incompleta, seguida de um perambular e um rápido retorno (veja capítulos 8 e 9). Estigmas de nascimen­ to que apontam para uma vida anterior ocorreram em grandes va­ riações, de 5 a 50 por cento dos casos. Em 40 a 50 por cento dos casos em crianças houve morte violenta na vida passada. Stevenson concluiu que as recordações de vidas passadas diferi­ ram grandemente em precisão e detalhes, tal como as recordações normais. Particularmente problemáticas são as datas, a cronologia das ocorrências e as circunstâncias particulares dos eventos. Memó­ rias dos nomes de personalidades anteriores diferem grandemente, presume-se que seja por causa do uso diferente dos nomes em cultu­ ras diferentes. Da mesma maneira que em recordações comuns, a lem­ brança e o esquecimento dependem menos do tempo em que trans­ correu do que da intensidade da experiência original e das que se se­ guiram. Algumas vezes existem múltiplos casos numa só família. Em uma delas o pai estava tão cansado de ouvir seus filhos falarem de suas vidas passadas (o que acontecia tão logo começavam a falar) que ten­ tou, em vão, proibir o filho mais jovem de fazê-lo. 139 Karl Muller estimou que nos casos de crianças, 9% retornaram para a mesma família (Muller 1970). Ian Stevenson estimou isso em 5 a 10 por cento dos casos. O Oriente e o Ocidente pouco diferem a esse respeito. O renascimento pode ocorrer como sobrinho, sobri­ nha, neto, irmão, irmã e mesmo como um filho. Inicialmente, Ste­ venson estimou menos casos desses no norte da índia. Uma inspe­ ção mais cuidadosa revelou que renascimentos na mesma família ou mesmo na mesma casa eram geralmente mantidos em privacidade. No Sri Lanka, somente três entre oitenta casos eram da mesma fa­ mília. Talvez isso se deva ao fato de naquele país as reencarnações acontecerem a longas distâncias. Stevenson estimou que em 46% dos casos na índia a personalidade anterior sofreu morte violenta. No Sri Lanka isso ocorria em 42% e estava fortemente relacionado a não ser capaz de identificar a personalidade anterior. Talvez isso tam­ bém esteja relacionado com as longas distâncias das encarnações no Sri Lanka. Outros países têm porcentagens similares. A morte das personalidades anteriores era em média por volta dos 28 anos no Sri Lanka, enquanto a média de vida esperada da população era de 32 anos. A vida mais curta é compreensível, considerando-se que a me­ tade dos casos teve morte violenta. Usualmente a criança atual e a personalidade anterior têm mui­ tas semelhanças de hábitos, comportamentos, idiossincrasias e pre­ ferências. Como já foi mencionado, a relações cármicas, no sentido de recompensa, punição, retribuição ou compensação pela vida an­ terior, não foram encontradas. Stevenson esperava, provavelmente devido a sua formação teosófica, encontrar indicações de relações cármicas entre as diferentes vidas. Para sua surpresa encontrou ape­ nas fracas indicações de carma em apenas quatro casos entre 106. Stevenson tornou a reencarnação plausível com o seu trabalho, mas fez com que o carma, pelo menos nos casos de crianças, se tornasse implausível. Ele chega a declarar que não encontrou sustentação pa­ ra a idéia do carma. A interpretação desses casos poderia muito bem ser uma racionalização. r Muller também estimou intermissões usualmente mais curtas do que doze anos em seus casos de crianças (Muller 1970). No Oriente, a média de intermissões nos casos de crianças é um pouco menor que no Ocidente. Fora o Sri Lanka, as mortes não são mais precoces que a média. Stevenson estimou períodos de intermissão médios de de­ zoito meses no Sri Lanka, nove meses entre os alevis, na Turquia, e 48 meses entre os tlingits, no Alasca. Entre os alevis, os tlingits e em Burma, as mulheres têm mais freqüentemente sonhos anunciadores sobre as crianças que irão nascer, quem é a criança e como as pessoas poderão reconhecê-las. 140 Stevenson (1966, 1975, 1977, 1980) encontrou seis casos no Sri Lanka e seis na índia com mudança de sexo, respectivamente 7,5 e 6 por cento. Muller encontrou em seus casos 6% de meninos que se lembravam de uma vida feminina, enquanto 16% das meninas lembravam-se de uma vida passada masculina. No Sri Lanka, poucos casos tiveram memórias da intermissão. Essas recordações eram mais comuns na Tailândia e em Burma, on­ de também havia mais exemplos de recordação de encarnações em animais. No Sri Lanka houve apenas um caso; alguém que se lem­ brava de ter sido uma lebre entre duas vidas humanas. O capítulo 9 voltará a recordações de vidas animais. Leitura adicional Já foi dito que Stevenson é a autoridade internacional de casos em crianças (Stevenson 1966, 1975, 1977, 1980). Informações sobre sua abordagem e métodos de pesquisa são encontradas na introdu­ ção geral e nas introduções de seus casos na índia (1975), no Sri Lanka (1977), no Líbano e na Turquia (1980), e especialmente na discussão geral ao final desses volumes. Seu último livro é sobre os casos na Tailândia e em Burma (1983). O estudo clássico do caso de Shanti Devi merece menção (Gupta e colaboradores 1936). Francis Story, que colaborou com Steven­ son, relata vários casos na última edição de seu trabalho (1975), o qual inclui sua primeira publicação (1959). Banerjee publicou casos. Hernani Andrade publicou casos do Brasil, alguns dos quais estão disponíveis em inglês. Alguns livros sobre cultura e folclore dão exemplos de recorda­ ção em crianças, como os de Hall Fielding sobre Burma (1898) e de Lafcadio Hearn sobre o Japão (1897). Margot Klausner dá exem­ plos dos drusos (1975). Faltam compilações comparáveis aos vários tipos de recordações em adultos. A melhor coleção que temos é a de Frederick Lenz (1979). A de Holzer (1985) é interessante, seguida de casos espontâneos com regressões. Muitos casos são encontrados dispersos na literatura. Mul­ ler (1970) tem um capítulo sobre casos em crianças e outro sobre ca­ sos em adultos. O exemplo mais famoso de uma memória duradoura num adul­ to é o caso de Ryall (1974). Referências adicionais de casos excep­ cionais são encontradas no texto. 141 6. Regressão induzida a vidas passadas Se temos vidas passadas, a maioria as esquece. Podemos acredi­ tar em vidas passadas e ainda assim não nos lembrar-mos delas. A maneira de lembrar-se de vidas passadas é a mesma de lembrar-se de memórias perdidas desta vida. Isso é chamado de regressão de idade. Uma regressão completa, originalmente num estado hipnóti­ co, traz de volta memórias mais intensas, que são mais como reviver do que lembrar. Tudo o que aconteceu desde então pode ser pratica­ mente esquecido; experienciamos a situação como ela aconteceu na época. A regressão de idade foi provavelmente descoberta em 1887 por Colavida, na Espanha. Seis anos mais tarde. Albert de Rochas redescobriu a técnica quando fazia experimentos com magnetismo e hipnose, em Paris. Logo apareceram vidas passadas no trabalho de Rochas. Ele é o grande pioneiro desta área. Seu livro, Les Vies Successives (1911), é o primeiro sobre o assunto e ainda merece ser li­ do. Como mencionado anteriormente, os espiritualistas, os gnósti­ cos e os esotéricos criticaram Rochas, pois seus resultados conflitavam com os respectivos ensinamentos, e porque ele induzia a esta­ dos de transe. Os gnósticos, como os teosóficos, viam isso como um método atávico e questionável, pois colocava fora de ação a autoconsciência do sujeito. Foi argumentado que devido aos sujeitos fi­ carem tão abertos à sugestão durante o transe, suas aparentes me­ mórias de vidas passadas seriam meras respostas à presença domi­ nante e sugestiva de Rochas (Van Holthe tot Echten 1921: 109). Os teosofistas, por sua vez, viam a regressão como uma possível ma­ neira de lembrar-se de vidas passadas, somente num distante futuro (Van Ginkel 1917: 149). Esse “distante futuro” levou de quarenta 143 a sessenta anos para chegar. E os resultados de Rochas corroboram todas as pesquisas desde então. Grau de regressão Podemos experienciar o passado de diferentes maneiras e com diferentes graus de intensidade. Distingo cinco níveis, em ordem de acesso crescente ao passado e de acesso decrescente ao presente. A Figura 2, a seguir, dá uma visão geral desses níveis, os quais discuti­ rei em ordem. No primeiro nível de memória, você permanece consciente do ambiente presente, sabe onde está agora e conhece sua própria his­ tória. Você sabe que está somente trazendo de volta informação so­ bre algo que já passou. Se pensar a respeito, ou se alguém lhe per­ guntar, você pode trazer informação sobre o passado; por exemplo, onde vivia quando estava no sexto ano primário e qual o nome de seu professor. Para fazê-lo, você não precisa reexperienciar nada da­ quele passado. Fatos como nomes, datas e endereços podem aflorar sem qualquer imagem. No nível da memória você está somente en­ volvido com fatos que afloram, algumas vezes acompanhados por impressões fugazes de como costumava ser, porém são impressões que permanecem vagas no plano de fundo. A experiência e a cons­ ciência permanecem no presente. O segundo nível é a recordação. Aqui o passado volta em forma de imagens e outras impressões sensoriais. Você pode recordar-se de como era a rua em que morava. Recordar-se do rosto de um amigo de escola, do tombo que levou indo da escola para casa e da dor em seu joelho esfolado. Nas recordações, as imagens dos acontecimen­ tos que o impressionaram estão implantadas no plano de fundo de vagas imagens mescladas. Você pode lembrar-se do que ouviu, do que sentiu, o que cheirou ou provou, embora seja mais difícil para a maioria das pessoas do que a recordação visual. Você pode prati­ car a recordação da maneira mais completa e concreta possível. Al­ guém pode auxiliá-lo nisso com questões diretas e sugestões abertas, a fim de detalhar e esclarecer suas recordações. Uma sugestão aber­ ta é, por exemplo; “ Você pode ouvir novamente o zumbido de vo­ zes em sua sala de aula” , ou; “ Você sente o cheiro daquele repolho repugnante que foi posto na mesa” . 144 Figura 2 — Níveis de consciência do passado Níveis Presente Memória Recordação Revivência Regressão Identificação Conteúdos da consciência do passado Divisão da Consciência Passado 1----------------- 1---------1 Informação + 1 1— 1 1 Impressões Sensoriais + Sentimentos e pensamentos 1 1— 1 j + Esquecimento de tudo desde I H 1 então + 1 -------------------- - Transporte do presente para o 1-------L ..... . . „ _ 1 passado Uma recordação pode ser tão completa que você não somente ouve os barulhos, mas também sente o odor e o sabor do espinafre comido quando criança, ou do seu primeiro sorvete com creme de chantilly, e mesmo os sentimentos e pensamentos que voltam a aflo­ rar. Isso é reviver, o terceiro nível de lembrar-se do passado. Aqui, não somente impressões sensoriais afloram, como também os sen­ timentos, pensamentos e até seu estado de ânimo daquela época. Você sente o mesmo que sentiu, pensa o que você pensou na épo­ ca. Isso cria uma curiosa divisão da consciência. Você permanece quem é agora mas, ao mesmo tempo, experiencia a si mesmo como um menino ou menina de dez anos de idade. (Você também pode experienciar essa “consciência elíptica” com dois pontos focais, se você fixar intensamente o olhar num espelho ou numa antiga foto­ grafia sua.) Na revivência, sua consciência é dividida entre o pre­ sente e o passado. Com a regressão real, não só você experiencia novamente o pas­ sado, mas tudo o que aconteceu entre aquela época e agora é empur­ rado para o plano de fundo, ficando virtualmente inacessível à cons­ ciência. A revivência ainda tem uma conexão ininterrupta entre os dois pontos focais da consciência. Com a regressão real, essa cone­ xão desaparece. Regredir aos doze anos de idade significa que você vive, sente e pensa novamente como era na época, e que perdeu tudó o que experienciou desde então. Se sua consciência do presente ain­ 145 da assim permanecer intacta, então você experiencia isso como se es­ tivesse desconectado; de modo algum ela tem influência sobre a cons­ ciência do passado. Se você é supervisionado durante uma regressão hipnótica, pode ouvir a si mesmo responder a partir de sua consciência passada, sem que sua personalidade atual possa intervir. A perda de memória temporária aplica-se somente àquela parte da consciência que está em regressão. Normalmente, a consciência presente coexis­ te paralelamente. Alguém é levado de volta a uma encarnação na segunda meta­ de do século passado, na Inglaterra, e perguntam-lhe qual era o nome da rainha. A garota analfabeta e miserável não pode responder a essa pergunta, embora a personalidade presente tente, quase ran­ gendo os dentes, intervir e dizer que era Vitória. Mas ela não con­ segue. Todos os presentes sabem a resposta e mentalmente gritam para a pessoa, mas sem resultado. Esse fenômeno é prova suficien­ te da invalidade do argumento leigo de que alguém em transe está aberto à sugestão e reage telepaticamente aos presentes, especial­ mente ao hipnotizador. Isso pode ser feito sob hipnose com algu­ mas pessoas, mas somente se já existirem habilidades paranormais, se o transe for profundo o bastante e se forem dadas instruções es­ peciais. Sem hipnose, o acesso à personalidade presente permanece, e as questões podem ser colocadas alternadamente para a personalidade presente e a passada. A orientação inábil pode algumas vezes provo­ car uma mistura entre a personalidade passada e a presente durante a regressão. Bloqueios emocionais e intelectuais podem resultar em intervenções da personalidade presente. Algumas vezes a personali­ dade presente responde, se por qualquer razão a personalidade pas­ sada não puder responder. Em leves níveis de transe, a diferença não é clara, especialmente para terapeutas amadores. A regressão pode se aprofundar em identificação. Na identifi­ cação, qualquer consciência de um presente separado se desvanece. Durante a regressão você dificilmente percebe que está falando, dei­ tado em uma cama; esquece muito da situação do momento e reage a partir do passado. Com a identificação você inclui o presente, até onde tiver consciência dele, nessa situação. Você coloca o entrevis­ tador na situação da vida passada que está revivendo. Isso começa com a irritação diante das questões estúpidas sobre coisas que todo mundo sabe (veja, por exemplo, Moss e Keeton 1979; 34-5, onde também é dado um exemplo claro de divisão da consciên­ cia). Uma certa suspeita em relação às questões que deveriam per­ manecer em segredo pode levar à argumentação com o entrevistador 146 (Dethlefsen 1977; 225; Fiore 1978: 11). Outro exemplo curioso pode ser encontrado no epílogo de Moss e Keeton (1979: 190). A regressão de Nyria (Praed 1914) é um bom exemplo do está­ gio de identificação. Nyria é uma jovem escrava romana que está constantemente receosa de trair os cristãos ou a sua proprietária com revelações indiscretas à hipnotizadora. Ela pergunta com freqüência quem é a hipnotizadora. Por que elas se encontram nos lugares mais impróprios? Ela não tem seus próprios escravos, por que precisa per­ guntar a Nyria tantas questões? E se ela chegar numa liteira, o que acontecerá com a liteira? Nyria não deveria pegar a liteira para ela? (Shirley 1924: 37). No caso de Nyria as sessões conectam-se perfeita­ mente umas com as outras (Shirley 1924: 40), da mesma forma que as de Joan Grant; embora em Winged Pharaoh, de Joan Grant, as sessões aconteceram em ordem não cronológica e só puderam ser jun­ tadas depois. No nível da identificação é possível criar novas experiências de uma vida particular. Por exemplo, você faz alguém regredir aos on­ ze anos de idade e levanta um tópico que a pessoa jamais ouviu falar naquela época. Quando ela volta desse estado, a conversa parece ter acontecido quando ela tinha onze anos, a menos que novas instru­ ções hipnóticas a eliminem. Past Lives, Future Lives: Accounts o f regressions andprogressions through hypnosis, de Bruce Goldberg, distingue exatamente os meus níveis de lembrança. O que chamo de revivência e regressão, ele chama de pseudo-revivicação e revivicação (Goldberg 1982: 58). Goldberg dá bons exemplos do estágio de identificação (Goldberg 1982: 76, 77,103). Um outro trabalho recente também distingue cinco níveis de regressão (Williston e Johnstone 1983: 53). Esse livro. Soul Search: Spiritual growth through a knowledge o f past lifetimes, dá excelentes exemplos de regressão e testes históricos do material de regressão, embora seja demasiadamente entusiástico em alguns pon­ tos; ele oferece uma alternativa melhor ao Hypersentience (1976), de Mareia Moore. ReViVência e regressão a Vidas passadas Esquecemos muito em nossa vida. Praticamente todos nós te­ mos amnésia do período que precede nosso nascimento, do nasci­ mento e dos primeiros anos de vida. Nossas primeiras memórias po­ dem começar aproximadamente a partir do final do terceiro ano, às vezes um pouco mais cedo e quase sempre mais tarde. Técnicas de revivência e regressão podem trazer de volta memórias reprimidas 147 e perdidas, assim como dar acesso àquela primeira e nunca lembra­ da parte de nossa vida. Isso demonstra que todos nós temos uma me­ mória completa e ininterrupta de tudo o que experienciamos cons­ ciente e inconscientemente. Por exemplo, em regressão profunda as pessoas podem descrever cirurgias a que se submeteram, embora es­ tivessem insensíveis durante a operação. Pessoas que praticam a te­ rapia da regressão em geral usam a imagem de um gravador da vida. O tape pode ser retrocedido para qualquer momento da vida, embo­ ra nem todos os momentos possam ser facilmente reproduzidos. Rochas, o primeiro hipnotizador da regressão, descobriu que, se levasse as pessoas mais para trás, elas podiam experienciar o nas­ cimento, até mesmo voltar à época anterior a ele. Surpreendentemente, se elas voltavam mais para trás e fossem perguntadas sobre a pri­ meira experiência concreta que aflorava, a morte de uma vida pas­ sada usualmente emergia. Pessoas podem descrever a fase pré-natal no útero, mas isso é menos comum. Uma terceira ocorrência, um tanto incomum, é alguém relatar uma experiência desencarnada en­ tre vidas. É freqüente que os sintomas físicos (somatização) aflorem nas regressões, especialmente quando se revivem intensas experiências emocionais e corporais. Algumas vezes as somatizações são inten­ sas. Por exemplo, alguém está experienciando um espancamento e nesse momento aparecem marcas vermelhas nas costas ou na face. Isso pode ocorrer sem a hipnose, como mostra o trabalho de Netherton (1978; 79). Esses fenômenos também são encontrados em regressões à experiência do nascimento, outra fortíssima experiência emocio­ nal e somática. A respiração torna-se difícil e o sujeito assume a po­ sição fetal. Ao reviver as experiências de morte nas vidas passadas são comuns a respiração difícil, as mudanças de temperatura, e as­ sim por diante. Além dos cinco níveis de consciência do passado, po­ demos distinguir níveis de intensidade de somatização, quando o pas­ sado se manifesta no corpo presente. Quando se revivem emocional­ mente episódios traumáticos, as somatizações são usuais e, em tera­ pia, essenciais. Mudança de linguagem parece ser outra coisa. Um forte exem­ plo em regressão da característica de esquecimento de tudo o que acon­ teceu desde então é a “xenoglossia” , ou falar línguas esquecidas, ou mesmo nunca aprendidas nesta vida, e não conseguir mais falar lín­ guas faladas agora, mas que não eram faladas na época da experiên­ cia da regressão. Uma moça francesa de dezessete anos é levada a retroceder em sua vida ano a ano, e aos cinco anos fala em gascão, e não mais em francês, quando lhe pedem para falar essa língua. Uma inglesa é levada 148 a uma vida passada e não reage a qualquer instrução. Uma sueca, que por acaso estava presente, pergunta-lhe algo em sueco, e ela ime­ diatamente responde em sueco fluente, embora não soubesse falar essa língua (Moss e Keeton 1979; 169). A xenoglõssia, ou falar línguas estrangeiras que normalmente não se fala, ocorre em menos de 0,001 por cento dos casos (veja Wam­ bach 1986). Segundo Netherton, isso também pode ser conseguido com seu método, sem lançar mão de hipnose (1978; 79). Dethlefsen acredita que essa habilidade pode ser desenvolvida conscientemente. Se for verdade, isso teria grandes implicações no aprendizado de lín­ guas estrangeiras e em pesquisa lingüística. É interessante notar que a repressão seletiva é possível. Por exemplo, um hipnotizador pode instruir o remigrante de que entende a língua que é falada, e pode responder nessa língua. Isso evita impasses potenciais entre o hipno­ tizador e o sujeito, em regressões à infância, em vidas de débeis men­ tais e idiotas e naquelas em que a língua é incompreensível. Durante a revivência de experiências traumáticas na Terapia de Vida Passa­ da, o terapeuta freqüentemente instrui o paciente de que a intensi­ dade da experiência não será mais do que ele pode suportar ou que seja necessária para resultados terapêuticos. Hipnose e transe em regressões Até o momento a hipnose tem sido o método mais utilizado pa­ ra trazer de volta memórias de vidas passadas em pessoas que não têm recordações espontâneas. Um método correlato, porém aparente­ mente obsoleto, é a indução magnética do transe. Métodos que levam apenas a um leve transe, sem a hipnose clássica, espalham-se rapida­ mente. Basta encontrar os desencadeantes certos para dar acesso à memória de vidas passadas. Uma regressão que está começando pa­ rece induzir a uma forma de auto-hipnose sem instruções específicas. As muitas técnicas de indução ao transe hipnótico estão fora do objetivo deste livro. Um transe profundo se faz necessário para uma regressão real, mas para a revivência basta ser mais superficial. O transe necessário para se ter acesso à memória de vida passada dife­ re daquele que é necessário para manter em processo a experiência da regressão ou da revivência. Uma pessoa pode lembrar-se de um detalhe insignificante, porém, entregando-se a ele, a história que se revela acaba absorvendo-a. O contrário também acontece; um tran­ se profundo pode ser necessário para entrar em regressão, mas a pró­ xima sessão será mais fácil, embora agora seja apenas revivência ou só recordação. O mesmo pode acontecer quando se lê livros. Você 149 pode gradualmente ir se envolvendo com a história e ser absorvido por ela. Ou então necessitar de um grande esforço de concentração para começar a entender um livro, e aos poucos vai se tornando mais fácil, até você retomá-lo sem dificuldade após uma interrupção. As figuras 3a e c esboçam alguns exemplos de barreiras e bloqueios. É possível comparar uma barreira à aversão a leitura ou porque não se consegue ler bem ou por não se concordar com o que está sendo lido. Deparar-se com um bloqueio pode ser comparado a um capítulo difícil ou desagradável que se encontra num livro ou numa carta. Sua primeira reação é retirar-se, e só poderá retornar imergin­ do conscientemente no texto. As figuras indicam que para ultrapas­ sar uma barreira o transe precisa se tornar mais ou menos profundo para que o assunto seja digerido, ou mais intensamente ou mais a distância. Elas também indicam que os bloqueios podem ser elimi­ nados ou dissolvidos após repetidos retornos e digestão gradual. Is­ so é essencial na terapia da regressão. Figura 3 — Barreiras e bloqueios (a) Curso 1 Imersão gradual (indução ao transe, relaxamento, visualização preliminar) Primeira sessão Memória Recordação Revivência Regressão Identificação Segunda sessão /I È\ :\ /Ë (b) Curso 2 Superando barreiras (resistência à mudança de consciência) Primeira sessão =\—. Memória Recordação Revivência í77~7""7 / Regressão Identificação 150 / / y7V>----------- S Segunda sessão F E\ >~1 l l / / / IT 7 11 1 1 ///í F. 1 /V V X1 1 1 i J 11 n 1 (c) Curso 3 Defrontando bloqueios (resistência aos conteúdos das experiên­ cias) Primeira sessão Memória Recordação Revivência Regressão Identificação Segunda sessão - V É freqüente nas sessões posteriores um transe mais superficial suficiente, a menos que despontem novos materiais emocionais. Tran­ ses mais leves levam à revivência e não à regressão, ou só à recorda­ ção. O agradável efeito disso é que o participante permanece alerta, mas o efeito desagradável é que a experiência torna-se tênue e a ima­ ginação do participante, que é ativada durante a regressão, acres­ centa algo mais com facilidade. Uma vez que “participante” soa como algo formal e abstrato, e “paciente” , “ cliente” e “ sujeito” têm todos inconvenientes, cha­ marei a todos que queiram retornar ao seu próprio passado, seja qual for a razão, de remigrante. A profundidade do transe muda espontaneamente durante a re­ gressão (as figuras não indicam isso). Estar imerso num livro leva com facilidade à imersão posterior. É difícil você notar uma passa­ gem perturbadora num livro que esteja lendo apenas superficialmente, mas se estiver profundamente imerso, ela poderá incomodar muito. Netherton usa o método empírico; “ Se for fácil lembrar, será difícil reviver” . Provavelmente o nível superficial indica um bloqueio. Uma das habilidades do hipnotizador ou do terapeuta é esco­ lher a profundidade correta do transe, não indo nem muito fundo nem permanecendo muito na superfície, seguindo e se adaptando às mudanças espontâneas da profundidade do transe. A profundidade ideal dependerá da condição do remigrante, seu objetivo, sua histó­ ria passada e as circunstâncias. O nível da revivência é o nível bási­ co, porque é daí que o remigrante pode atingir facilmente, às vezes até de modo espontâneo, a regressão real, mas também pode experienciar coisas com mais facilidade e com mais liberdade a distân­ cia, como na recordação. Até agora discuti o transe apenas como uma mudança parcial da consciência para o passado, mas muito pode ser dito a respeito. Durante o transe, o barulho no plano de fundo dificilmente tem qual­ 151 quer efeito perturbador. Outro simples e importante indicador é a sensação de tempo alterado. Praticamente todos os remigrantes pos­ teriormente subestimam a duração da sessão. Quanto mais profun­ do o transe, maior a diferença entre a duração estimada e a real. Após um transe profundo de duas horas e meia, o remigrante pode ter a impressão de que esteve ocupado por vinte minutos. Em minha ex­ periência, uma diminuição com um fator de três ocorre até durante os transes razoavelmente leves. Após uma hora e meia de regressão o remigrante pensa que esteve trabalhando por meia hora. A respeito da mudança do senso de tempo durante as sessões, Goldberg relata uma extensão subjetiva do tempo, em vez do comum encurtamento. Após vinte minutos, algumas pessoas sentem como se estivessem fora por mais de uma hora (Goldberg 1982; 7). O transe e a profundidade do transe podem ser determinados mais objetivamente por uma monitorização de mudanças psicossomáticas. Em primeiro lugar, durante o transe os músculos relaxamse consideravelmente. Isso pode ser estabelecido pela medida da ati­ vidade elétrica dos músculos, especialmente dos músculos da testa, pois esses são bons indicadores da tensão mental ou do relaxamen­ to. Algumas pessoas que querem aprender a relaxar ou a meditar apli­ cam o mio-feedback, usando uma máquina que traduz a tensão mus­ cular em som. Por exemplo, a máquina emite um baixo ruído quan­ do os músculos estão mais relaxados, assim você poderá ouvir quão relaxado ou quão tenso está. Uma máquina similar e mais antiga é o E-meter, ou medidor de emoção, que mede a resistência elétrica da pele. A suposição básica é que, através das mudanças no sistema nervoso simpático, os tran­ ses profundos levam a uma diminuição da atividade das glândulas sudoríparas, resultando na maior resistência da pele. O termo E-meter vem do uso da medida dessa resistência da pele para registrar a ten­ são emocional. Por exemplo, uma palavra emocionalmente carrega­ da dita na frente de um sujeito diminui imediatamente a resistência da pele, sem qualquer impressão consciente. Uma aplicação impor­ tante da medida da resistência da pele é o detector de mentiras. Essa aplicação é controvertida, primeiro porque é politicamente sensível, e segundo porque não mede mentiras, e sim a emoção que acompa­ nha a mentira. Pessoas que sentem culpa e medo podem reagir a partir do medo de que não acreditem nelas, e caráteres mais rígidos não experienciam necessariamente qualquer emoção. Muitas pessoas têm objeções morais a essa aplicação. Próximo à diminuição da tensão muscular e à diminuição do suor há uma terceira mudança fisiológica, que é a alteração dos padrões das ondas cerebrais, como a determinada pelo eletroencefalograma 152 (EEG). Ele mostra o ritmo dominante da atividade elétrica cerebral. Por exemplo, alguém em sono profundo tem um ritmo dominante lento de duas a quatro ondas por segundo (ritmo delta). O estado de sonho tem cerca de oito ondas por segundo (ritmo teta). Uma pes­ soa acordada e alerta, especialmente se estiver intensamente envol­ vida ou concentrada em algo, terá um ritmo dominante de mais de quinze ondas por segundo (ritmo beta). Se ela relaxa, mas ao mes­ mo tempo permanece desperta, resulta num ritmo de cerca de doze ondas por segundo (ritmo alfa). Os níveis da atividade do cérebro são mostrados na Tabela 5 de forma simplificada. Positivamente, existem grandes diferenças individuais, e as correspondências com a consciência normal e o transe podem ser menos rigorosas na práti­ ca do que sugere essa visão geral. Tabela 5 — Níveis da atividade cerebral Ritmo cerebral Freqüência típica Consciência típica Estágio da remigração Transe hipnótico Beta Alfa Teta Delta Delta 16/segundo 12/segundo 8/segundo 4/segundo 1/Segundo Alerta Calmo Sonho Sono Catalepsia Memória Recordação Revivência Regressão Identificação Preparação Leve Médio Profundo Completo Há equipamentos que analisam a atividade cerebral de acordo com a porcentagem dos ritmos beta, alfa, teta e delta. Usualmente as metades direita e esquerda do cérebro são medidas separadamen­ te, pois elas podem diferir. Um “espelho-da-mente” exibe o estado do sujeito, mostrando figuras ou produzindo sons. Esses equipamen­ tos são usados para aprender a relaxar ou meditar. Para uma recordação imperturbável é necessário o ritmo alfa; para a revivência, o ritmo teta; e para uma regressão completa, o ritmo delta. Sob uma supervisão apropriada muitas pessoas podem alcançar recordações de vida passada em alfa. Para lembranças como desencarnado, pelo menos o ritmo teta é necessário. Quanto mais sensitivo e mediúnico for alguém, mais rapidamente entrará nos está­ gios mais profundos. Em caso extremo, um médium pode atingir a identificação quando ainda está bem desperto e com um ritmo beta normal. 153 A indução de uma mudança de consciência normalmente come­ ça com o relaxamento, produzindo ondas alfa. O remigrante fica cal­ mo, à vontade e equilibrado. Na hipnose clássica isso ocorre através de instruções verbais e sugestões, mas pode ser atingido mais direta­ mente com o estímulo sensorial. A maneira mais simples de se en­ trar em níveis mais profundos é aprofundar o relaxamento. Quando o sujeito está conectado ao eletroencefalograma, ele mostra como o ritmo cerebral diminui. A profundidade do transe hipnótico pode ser estimada de acor­ do com os sintomas hipnóticos durante o transe. Dessa maneira, Le Cron e Bordeaux propuseram uma escala de cinqüenta pontos, a seguir; Preparação 1-5 Estágio hipnótico leve 6-20 Estágio médio 22-30 Estágio profundo 31-49 Transe completo 50 Com as técnicas hipnóticas convencionais, cerca de 50% das pes­ soas alcançariam o transe médio, e 20% o profundo. Le Cron e Bor­ deaux colocam o grau de regressão no nível 42, cerca da metade do estágio profundo. Na hipnose, o grau de regressão significa regres­ são real, e não apenas recordação ou revivência. Durante a regressão hipnótica, a voz e a postura mudam de acordo com a idade anterior ou a personalidade anterior. Quando o terapeuta deseja apenas determinar se o remigrante está suficientemente relaxado, o mio-feedback indica o relaxamento muscular, dá a informação mais direta. Se ele deseja saber a profun­ didade do transe durante a sessão, então o E-meter, mais sensível, será útil. As informações do EEG são provavelmente as mais con­ fiáveis, mas o uso dos eletrodos na cabeça pode ser inconveniente, pois alguns sujeitos têm sensações desagradáveis. Entre seu grupo de pessoas interessadas em lembrar-se de vidas passadas, Helen Wambach inicialmente encontrou 70% que reviviam vidas passadas, e essa porcentagem aumentou para 90% quando mais tarde seus métodos foram aperfeiçoados. Numa amostra aleatória dos restantes 10%, cerca da metade podia reviver vidas passadas sob supervisão individual. Os restantes eram resistentes a qualquer for­ ma de relaxamento ou entrega. Eles permaneceram estressados e neuroticamente alertas. De acordo com Wambach, ou essa tensão está relacionada com o medo da morte ou com a perda de controle (Wam­ bach 1978). Edith Fiore descreve um caso que parece apoiar essa ex­ plicação. Um remigrante não podia ou não queria relaxar. Quando 154 Fiore finalmente conseguiu, evidenciou-se que a barreira era causa­ da por uma experiência de morte traumática na vida anterior; ele san­ grou até a morte durante uma lobotomia feita num hospital psiquiá­ trico (Fiore 1978). Suponho, contudo, que o medo da morte seja uma barreira que pode ser removida pela supervisão individual, mas os que resistem são pessoas com fortes defesas contra a perda de con­ trole. Isso pode estar relacionado com culpa e não com medo. Netherton descobriu que remigrantes parecem algumas vezes blo­ quear quando entram numa situação onde o segredo é necessário ou arrancado. Isso ilustra a diferença entre uma barreira e um bloqueio. O que parece ser uma barreira revela-se ser um bloqueio inerente à experiência (por exemplo, um bloqueio emocional). Esse bloqueio pode desaparecer simplesmente ao se perguntar; “ Há algo que deva permanecer em segredo?” . A diferença entre uma barreira e um blo­ queio pode ficar clara quando se checa se o grau necessário de rela­ xamento foi atingido, embora seja difícil avaliar isso em pacientes novos. Objeções à hipnose Existem quatro objeções comuns à hipnose. Em primeiro lugar, algumas pessoas têm medo de perder a consciência e o controle, e talvez nunca “retornar” . Esse medo é comparável ao medo das ex­ periências fora do corpo, e tem menos fundamento. Um transe hip­ nótico profundo que ainda não terminou simplesmente passa para um sono profundo, e a pessoa acordará quando estiver descansada. (Embora possa ser um tempo longo se alguém estiver precisando dor­ mir.) O que pode surgir, contudo, é uma ligação hipnótica com o hipnotizador (criada conscientemente e reforçada por alguns hipno­ tizadores), que não é totalmente rompida ao final da sessão. A pes­ soa pode ficar confusa, e em alguns casos até por algumas semanas. Uma vez que é difícil afirmar em que extensão a ligação com a voz ou com o próprio hipnotizador tenha se desenvolvido, uma boa prá­ tica é dar uma instrução ao final da sessão que dissolva qualquer la­ ço que tenha sido criado. Um segundo receio é que o hipnotizador possa tirar vantagens do sujeito. O hipnotizador pode não dar instruções ou sugestões póshipíióticas que vão contra as crenças e os valores do sujeito. Mas há o hipnotizador esperto e paciente que pode iludir um sujeito em transe profundo. Não se pode sugerir que alguém pule da janela do quinto andar, mas é possível sugerir que a janela seja a porta para um belo jardim. 155 Uma terceira objeção é que o transe hipnótico é danoso psicoló­ gica e fisicamente. Todas as indicações são contrárias a isso. A hip­ nose freqüentemente alivia ou resolve problemas psicossomáticos, mesmo sem haver qualquer sugestão nesse sentido. Uma quarta preocupação é que hipnoses freqüentes enfraque­ cem a vontade. Na hipnose normal isso está fora de questão. A in­ dependência da pessoa poderá ser enfraquecida somente se ela qui­ ser ser hipnotizada por um desejo mórbido de se abandonar e se en­ tregar ao outro, ou se o hipnotizador encorajar isso com poderosas sugestões pós-hipnóticas. A falta de confiança na hipnose quase sempre resulta dos espe­ táculos de hipnose em palcos ou das histórias aterradoras que se lêem ou se ouvem. Na hipnose de palco as pessoas estão ligadas ao hipno­ tizador por instruções explícitas. O hipnotizador usa a mudança da consciência para estreitar e dirigir a consciência em direção a uma completa dependência. Durante a hipnose de palco as pessoas per­ dem a independência. Fazem coisas que não queriam ou não pode­ riam jamais fazer em estado normal. Em parte, o sucesso da hipno­ se de palco é baseado no ridículo. Os sujeitos da hipnose de palco são normalmente fáceis de serem hipnotizados e desejam ser mani­ pulados diante da platéia. Na hipnose de palco esses dois aspectos se confundem. Ser hipnotizado facilmente nada tem a ver com a perda do poder da vontade. Ser hipnotizado facilmente está mais relacio­ nado com a habilidade de imergir profundamente num assunto. Bons leitores e bons ouvintes de música podem ser facilmente hipnotiza­ dos, da mesma maneira que os bons meditadores. Mas isso não sig­ nifica que vão responder bem a sugestões grosseiras ou que confia­ rão em alguém que lhes peça para fazer coisas bizarras. Um remi­ grante pode ser profundamente hipnotizado sem que tenha qualquer inclinação de seguir outras instruções que não estejam relacionadas à regressão. Durante a regressão hipnótica, o remigrante não precisa ter uma relação forte com o hipnotizador. Durante o transe profundo o re­ migrante permanece ligado ao presente através da voz do hipnotiza­ dor. Contudo, quando nenhuma relação especial foi evocada e o hip­ notizador sugerir coisas que o remigrante não experienciou ou não quer experienciar,' ele simplesmente resiste, e se for pressionado, aca­ bará retornando, independente de qualquer instrução. Durante uma hipnose sem instruções de dependência, não funcionam as sugestões de ver coisas não presentes, e não se pode forçar ninguém a expe­ rienciar coisas que não deseja ou a dizer o que não quer. A hipnose é uma mudança psicossomática da consciência e não perda de vontade. O transe hipnótico, em si, não é danoso e sim cura­ 156 tivo. Quanto ao resto, tudo depende da competência e da honestidade do hipnotizador. Por essa razão, encontre alguém que você confia para supervisioná-lo. Lembrança de Vida passada induzida pela imaginação Em vez de induzir um transe suficiente para a regressão, o tera­ peuta pode começar no nível da recordação, seguir na revivência e, eventualmente, alcançar a regressão real. Imagens visuais tomam seu lugar e desencadeiam memórias iniciais, facilitando a transição para uma vida passada. Esse é o método da visualização ou imaginação. Muitos terapeutas usam o relaxamento como uma mistura de indu­ ção hipnótica e imaginativa. O primeiro passo no método da imaginação é, assim como na hipnose, o relaxamento físico e mental. Contudo, o terapeuta não tenta aumentar hipnoticamente esse relaxamento. O terapeuta faz o remigrante enfocar a atenção em suas sensações corporais depois de um tempo de relaxamento. Ele foca sua atenção nos músculos para relaxá-los mais, na respiração, nos batimentos cardíacos e no pulso. Essa imersão no próprio corpo afasta a atenção do ambiente, ajuda a pessoa a relaxar e estimula os poderes imaginativos. O próximo passo é deixar o remigrante imaginar um ambiente protótipo; um jardim, um vale, uma montanha, uma campina com flores, uma praia, a entrada de uma caverna, ver-se descendo um rio, flutuando no ar etc. A transição para uma vida passada é retra­ tada na descida de uma trilha ou uma escada, ao subir uma escada, passar por um túnel, atravessar um rio, uma ponte, ou caminhar no meio da névoa. Um procedimento profissional cuidadoso e elabora­ do é o experimento de Christos, descrito por Glaskin (1974). Nesse nível de imaginação interna, as pessoas podem expressar problemas pessoais num sonho intenso e significativo. A experiên­ cia é real, pois eles não apenas visualizam o problema, mas podem resolvê-lo dentro da mesma história. Essa é a técnica do sonho acor­ dado (rêve éveüle), um psicodrama interno que é acompanhado e orientado por um terapeuta. O sonho acordado psicodramático é representado em imagens semi-simbólicas. Por exemplo, você vê um homem numa fazenda com a carroça presa na lama. Quando se aproxima, o rosto do homem torna-se o do seu pai. Essa imagem mostra como você vê seu pai ou como acha que ele se sente. O terapeuta pode perguntar-lhe, por exem­ plo, como você se sente vendo seu pai nessa situação. Pode pedir a você que converse com ele, ou que o ajude para ver o que acontece. 157 Dessa maneira, a história pode desenrolar-se como uma fantasia com intensa realidade psicológica. Os sonhos acordados podem ser trata­ dos como sonhos normais, porém são mais diretos e incomparavel­ mente mais efetivos. As técnicas de Gestalt são bem apropriadas pa­ ra elaborar os sonhos acordados. Contudo, quando alguém deseja reviver uma vida passada e fi­ ca preso a um nível imaginativo, a forte expectativa de uma expe­ riência histórica pode resultar num conto psicodramático represen­ tado aparentemente num cenário histórico. Mas esse cenário terá ape­ nas material da memória normal. Como sabemos então a diferença entre uma lembrança real de vida passada, um sonho acordado psi­ codramático e meras fantasias? A diferença entre a fantasia e as ou­ tras duas é a ausência de emoções. Psicodramas incluem tensões que deveriam finalmente levar a um alívio, a um insight e à cura. As in­ dicações de uma lembrança real é a visão de coisas novas, ter expe­ riências incomuns (como provar comidas desconhecidas) e principal­ mente ter um corpo diferente (uma mulher experienciando a ereção, ou um homem dando à luz uma criança). É também possível, embo­ ra consuma muito tempo, checar detalhes históricos. O que o terapeuta pode fazer para aumentar a probabilidade de uma lembrança real de vida passada? Em primeiro lugar, perguntar continuamente quais são os sentimentos. Com uma regressão falsa ou fantasiosa, as emoções permanecem superficiais, tênues e conven­ cionais. Num psicodrama real, tanto as emoções quanto os bloqueios manifestam-se rapidamente, pois um sonho acordado confronta im­ perfeições psicológicas e não trivialidades. Aparentemente, a alma aproveita a oportunidade para trazer à luz negócios inacabados, pa­ ra, afinal, resolvê-los. Uma segunda opção é focar as sensações e as experiências so­ máticas. Freqüentemente, depois de ser “pressionado numa sensa­ ção corporal” , afloram coisas que surpreendem o remigrante. A sen­ sação mais impressionante é sentir-se no corpo do sexo oposto. Um garoto atlético é um homem de meia-idade, ligado a sua saú­ de, que faz muitas experiências de treinamento; quando é pergunta­ do como se sente com isso, diz, para sua própria surpresa, que se sente bem. Para muitos remigrantes essas experiências — que vão contra suas próprias preferências e expectativas e que dão respostas contrárias as suas tendências naturais — são as mais convincentes. Essas experiências estão relacionadas ao que chamei de “ consciên­ cia elíptica” , um campo de consciência com dois centros. A vantagem de um transe hipnótico razoavelmente profundo so­ bre um transe leve e imaginativamente induzido é a possibilidade de checar se os detalhes históricos advêm da memória comum do remi158 grante. Com um transe suficientemente profundo, a fraude está fo­ ra de questão. Pode-se perguntar ao remigrante se ele obteve ou não alguma informação de livros, e ele responder a isso com sinais dos dedos. Também, avançar ou recuar numa vida e entre vidas é mais seguro sob hipnose. Outra ligeira vantagem do transe hipnótico é que as instruções do assistente para captar informação, tais como contar até três ou estalar os dedos, são mais fortes e seguras. Regressão pelo magnetismo O magnetizador dá passes, isto é, passa as mãos pelo corpo da pessoa. Pode também manter as mãos imóveis ou deixar uma delas imóvel e dar o passe com a outra. Ou tocar o corpo com uma ou ambas as mãos. Freqüentemente ele sustenta a atividade das mãos com os olhos e a concentração mental. O primeiro a escrever sobre magnetismo foi Paracelso. Mais tar­ de, Mesmer, que introduziu o termo “ magnetismo animal” , traba­ lhou isso e induziu a hipnose principalmente com passes. A terceira figura importante no campo do magnetismo é Karl von Reichenbach, foi o pioneiro na pesquisa da natureza desse fenômeno, em meados do século XIX (Von Reichenbach 1849). Posteriormente, foi Albert de Rochas quem usou o magnetismo para induzir a regressão de ida­ de (Rochas 1911). Rochas colocava seu sujeito numa cadeira, punha a mão direita sobre a testa dele e dava passes longitudinais, ao longo do corpo, com a mão esquerda. Quanto mais passes dava, mais o sujeito re­ gredia. Quando queria que o sujeito retornasse ao presente, fazia pas­ ses transversais, movimentos horizontais na frente com ambas as mãos, começando a partir da linha média vertical do corpo. Se ele continuava esses passes, o sujeito atravessava o presente e ia para o futuro. As opiniões divergem se os transes induzidos magnética e hipnoticamente são os mesmos. Acredito que eles estejam relacionados, e que o transe hipnótico, pelo menos num médium, pode ser alcan­ çado por um transe magnético. A hipnose usa as portas da percep­ ção e da consciência; o magnetismo usa a porta dos processos psicossomáticos inconscientes. Portanto, a hipnose é provavelmente um método mais amplo e flexível que o magnetismo. Uma indicação disso poderia ser que as escalas de medida da profundidade do transe, co­ mo as de Le Cron e Bordeaux, diferem conforme as pessoas. Apa­ rentemente a profundidade do transe magnético pode ser medida de maneira mais uniforme pelos seus sintomas. A Tabela 6 dá uma visão 159 geral dos cinco níveis do transe magnético e os sintomas característicos de cada nível. O primeiro nível de magnetização é a letargia. Além dos pró­ prios sintomas letárgicos os membros e o tronco tornam-se pesados e fracos, a percepção do ambiente obscurece, a memória diminui, a sugestionabilidade aumenta e a sensibilidade da pele diminui um pouco. Tabela 6 — Níveis do transe magnético Letar­ Recor­ Sugestiona- Sensibi­ Perce- Percepdação bilidade lidade bendo ção gia da pele emana­ ções Letargia Sonambulismo Rapport Comunhão Exteriorização + + + + + + + + ++ — — — — + — 3 cm 3 cm — — + — — — M+ M+ + livre O segundo nível de transe magnético é chamado de sonambulismo, devido à sua semelhança com o andar dormindo. Uma suges­ tionabilidade fortemente aumentada e a baixa sensibilidade da pele caracterizam esse nível. Se uma agulha é enfiada na pele, o sujeito nada sente, como um faquir que, ao final do espetáculo, prende uma medalha no peito despido com um grande alfinete de segurança. No terceiro nível, o do rapport, o sujeito assume as percepções do magnetizador. Quando é espetado no braço, com uma agulha, nada sente; mas se o magnetizador é espetado, o sujeito grita e um ponto vermelho pode aparecer em seu braço no local corresponden­ te. A memória é acessível, a sugestionabilidade desaparece, as auras tornam-se visíveis e a sensação da superfície da pele é aproximada­ mente três centímetros acima da pele. No quarto nível, o da comunhão, o sujeito se identifica com o magnetizador e pode perceber e expressar seus pensamentos e senti­ mentos, e novamente desaparece a percepção de auras. Finalmente, na exteriorização, o centro da percepção pode ser movido de acordo com a vontade, inclusive os lugares em que a pessoa magnetizada jamais esteve antes. O transe magnético, portanto, parece ser mais específico que o hipnótico. Os sintomas dos primeiros dois níveis da magnetização são 160 quase os mesmos da hipnose média e profunda, porém os sintomas dos outros níveis podem somente ser induzidos numa hipnose muito profunda e apenas em algumas pessoas. Presumivelmente, menos pes­ soas podem ser levadas ao transe pelo magnetismo do que pela hip­ nose. A comunhão, o quarto nível do transe magnético, aparente­ mente corresponde à relação natural entre a mãe e o filho enquanto este ainda está no útero. O próximo capítulo retornará a isso. O transe magnético cria uma relação íntima com o magnetizador. Nos passes magnéticos usados para a cura, isso normalmente permanece ausente. Embora a energia psicossomática do magnetizador vá ao sujeito magnetizado, isso não deve resultar em identida­ de obscurecida. A indução do transe magnético parece ser empregada raramen­ te hoje em dia, na medida em que foi sendo substituída por métodos hipnóticos e imaginativos. Alguns hipnotizadores reforçam a indu­ ção com passes magnéticos ou com passes pseudomagnéticos acom­ panhados por sugestões verbais apropriadas. Profissionais comple­ tos, como Mareia Moore, usam misturas aparentemente eficientes de hipnose, imaginação e magnetismo (Moore 1976). Acessos alternativos a vidas passadas O método de Netherton, que será discutido no capítulo 7 do se­ gundo volume, sobre a terapia da reencarnação, usa os “postulados” da pessoa, os programas arraigados, os juramentos, as promessas e as atitudes inatas fixadas verbalmente e que algumas vezes são re­ primidas, para desencadear a lembrança de vida passada. Quando um paciente descreve seus problemas ou temores, esses postulados afloram como declarações repetitivas. Deve-se captar essas fórmu­ las ritualísticas, de preferência dando-lhes um caráter expressivo. Por exemplo; “Tenho que sair disso!” , ou “Ninguém gosta de mim” , ou “Não preciso de ninguém” . Repetindo ou fazendo a pessoa repetir essas sentenças-chaves algumas vezes, as cargas emocionais reprimi­ das vêm à tona. Seguindo isso diretamente, pede-se ao remigrante que se veja numa situação em que a sentença-chave é verdadeira ou proferida em realidade, com todas as emoções correspondentes. Por exemplo; “Agora você vai voltar à situação em que experienciou tu­ do isso pela primeira vez. Enquanto eu conto até cinco você voltará àquela situação. Quando chegar ao cinco você estará lá. Você está com frio e com medo, está com muita pressa. É escuro. Você precisa sair disso! Um, dois, três, quatro, cinco. Qual a primeira coisa que você vê ou sente, a primeira coisa que lhe vem à cabeça?” . 161 Aqui, a experiência surge diretamente da emoção evocada e cristaliza-se em torno da sentença-chave repetida. Quase sempre o remi­ grante chega a uma experiência emocional específica, freqüentemente a uma vida passada. Quando ele já passou o suficiente pela expe­ riência, o terapeuta pode repetir o procedimento com a mesma sentença-chave. Normalmente uma nova situação aparece, até que o complexo postulado perca sua carga. Se o paciente retornar a uma situação já revivida, aparentemente ele terá digerido insuficientemente aquela situação. Um método mais antigo e um pouco parecido com o de Netherton é a dianética de Ron Hubbard (Hubbard 1950), mais tarde bati­ zada de cientologia. Hubbard desenvolveu uma metodologia e uma terminologia totalmente próprias. Usava a medida da resistência da pele e um procedimento rigoroso para identificar e solucionar pro­ blemas mentais e emocionais. Esse procedimento quase invariavel­ mente leva a vidas passadas. As pessoas que dedicaram algum tem­ po à cientologia contribuíram muito para o desenvolvimento da te­ rapia da regressão. A cientologia em si é um movimento rigidamen­ te organizado e requer que os participantes se comprometam, desen­ corajando os interesses onde não houver compromisso. A organiza­ ção é sistemática. Se o nome de Jesus Cristo fosse Ron Hubbard, haveria hoje dezenas de Copyrights da Bíblia. Os livros de Hubbard são interessantes, mas se você os solicitar na organização dele, acres­ cente ao preço anos de tormento com brochuras e convites pessoais. Outro método alternativo, provavelmente mais raro, é o uso de drogas. A desvantagem das drogas é que as experiências resultantes podem receber pouca orientação. Outra grande desvantagem é a pro­ babilidade de dependência e adição. Algumas pessoas desaprovam a hipnose mas não fazem objeções ao uso de drogas. O argumento é que sob hipnose você estaria dependente do hipnotizador e com as drogas não estaria dependente de ninguém (exceto do vendedor). Em minha opinião, a auto-hipnose e a hipnose, quando realizadas por um hipnotizador confiável, são saudáveis, e as drogas definiti­ vamente não o são. Círculos gnósticos e esotéricos opõem-se ao magnetismo, à hip­ nose e também às. drogas. Eles propõem seus próprios exercícios pro­ longados de meditação como o único e verdadeiro método. Os exer­ cícios antroposóficos do carma são um exemplo. Todos eles admi­ tem que as memórias de vidas passadas são acessíveis apenas aos es­ tudantes mais sérios e devotados, que precisam imergir durante me­ ses ou anos em sentimentos profundos e pensamentos elevados, com resultados superficiais. 162 Minha própria pesquisa indicou que pessoas que entraram em contato com o assunto da reencarnação através de um movimento espiritual são em média menos sensíveis e têm menos memórias pró­ prias. De qualquer maneira, filosofias espirituais que instilam gulo­ seimas de sabedoria abstrata sobre a reencarnação, mas questionam e desencorajam a experiência pessoal, são de pequeno valor. O capítulo 4 deu exemplos de entradas paranormais em vidas passadas; pelo transe mediúnico, incidentalmente pelo psicometrismo e pela clarividência. A entrada por passes magnéticos também faz fronteira com o paranormal. A categorização dos vários méto­ dos de entrada de acordo com a crescente sensibilidade paranormal requerida do remigrante ou do terapeuta dá a seguinte lista: • pela evocação de uma forte emoção, preferencialmente ancorada num postulado (como no método de Netherton); • pela imaginação; • pelo hipnotismo; • pelo magnetismo; • pelo transe psíquico; • pela clarividência. A memória de Vida passada A evidência das sessões de revivência e regressão indica que a memória, que armazena as experiências de nossas vidas passadas, não envelhece nem enfraquece. As memórias não perdem seu bri­ lho. Muitos escritores, por exemplo Kelsey e Grant (1967), aponta­ ram que a nitidez independe do tempo que passou. Foco, intensida­ de e totalidade permanecem intactos através dos tempos. Aparente­ mente nossa alma registra toda experiência, tanto consciente quanto inconsciente. Ela armazena as nossas impressões sensoriais, os nos­ sos sentimentos e pensamentos, as nossas reações semiconscientes e subconscientes. A memória parece ter capacidade ilimitada e acesso aleatório. Não precisamos voltar a fita para chegarmos à parte que desejamos, mas podemos ir direto à situação ou ao evento desejado. Seu arma­ zenamento é contínuo, datado e localizado com precisão, desde que possamos identificar o tempo e o lugar de cada evento. Além disso, a memória é estruturada em torno de associações, como é aparente, por exemplo, em cadeias de trauma. Isso se assemelha à contabilida­ de com duplo acesso: um cronológico, de registro contínuo com acesso aleatório, e uma assimilação contínua e estruturada, que resulta em padrões associativos similares à memória comum. 163 Podemos experienciar nossas memórias mais ou menos destituí­ das de sentimentos. Podemos experienciar a nós mesmos em nosso eu passado, como observadores desse eu ou do ponto de vista de ou­ tros. Podemos reviver uma situação e observar nossas reações e as de outros, mesmo que na época não as notemos. Podemos até mes­ mo nos distanciar de nosso eu passado e olharmos para as situações a distância, por exemplo do alto. Semelhante a desenhos feitos por computador, é possível olhar as situações de várias posições espa­ ciais, ângulos e perspectivas. Essas transformações são particular­ mente importantes na revivência de circunstâncias desorganizadas, confusas ou tensas. Tudo isso é válido tanto para esta vida quanto para vidas passa­ das. A revivência e a regressão são idênticas na nossa vida presente, com as mesmas possibilidades e dificuldades. Aqui também pode­ mos procurar registros subconscientes, colocar-nos fora de nós mes­ mos ou na posição de outros, usando a memória completa e indelé­ vel. Várias psicoterapias descobriram isso, dentre elas a Análise Tran­ sacional e as terapias que usam a revivência do nascimento e das con­ dições pré-natais. Assim, parece que não existe memória especial para vidas pas­ sadas. Alcançamos as vidas passadas através da memória geral. Vi­ das distantes permanecem tão nítidas quanto as recentes. Com uma mudança na consciência, usualmente chamada de transe, temos acesso a essa memória completa. Uma rota ainda mais direta é através de emoções e postulados postos onde nosso subconsciente é apenas su­ bliminar. Uma terceira entrada para essa memória é através da forte semelhança e da forte associação entre uma situação de nossa vida presente e outra de uma vida passada. Em experiências de revivência e em regressões sem um objetivo particular, as situações acidentadas afloram primeiro que as monó­ tonas, e as vidas acidentadas, antes que as vidas monótonas. Situa­ ções emocionalmente carregadas emergem mais facilmente, a carga depende da intensidade original e da subseqüente falta de assimila­ ção, em geral causadas por emoções negativas. Em condições de transe leve, sem instruções específicas, as experiências de morte traumática são freqüentemente as primeiras que afloram. As situações de vidas passadas vistas por clarividentes freqüen­ temente estão relacionadas a uma situação da vida presente. O mes­ mo é válido para situações que afloram com métodos como o do ex­ perimento de Christos, os quais não induzem ao transe explicitamente, mas vão fundo e, através de seus procedimentos, evitam experiên­ cias esmagadoras. Algumas vezes é difícil encontrar a porta da me­ mória de vidas passadas de alguém, mas essa memória raramente está 164 desativada, e se estiver, será apenas pela própria pessoa. Na ausên­ cia de fortes barreiras neuróticas ou complicações psicóticas, a cha­ ve correta usualmente dá a entrada. Já encontramos exemplos de barreiras específicas na entrada, em que a própria situação da terapia ou a condição do transe evo­ cam associações com experiências traumáticas, especialmente nas ex­ periências de morte ou naquelas cuja primeira experiência que emer­ ge está carregada de sigilo. Netherton chama a isso de “ comandos de desligamento” . Quando esses comandos de desligamento operam em circunstâncias terapêuticas, ou em relaxamento, memória ou tran­ se, eles impedem o acesso até serem identificados e removidos me­ diante intervenções especiais. Algumas vezes podem bloquear o re­ laxamento em geral, e removê-los é, em si, tão importante quanto lembrar-se de vidas passadas. Leitura adicional Os leitores deste capítulo estarão principalmente interessados em relatos concretos de revivência e regressão. O livro mais antigo é o de Rochas (1911), que trabalhava com magnetismo. Um outro clás­ sico é o livro de Bjõrkhem, provavelmente somente publicado em sueco. Algumas das experiências de Hubbard e de seus alunos, des­ de 1950, foram publicadas em Have You Lived Before This Life? (1958). Há ainda a conhecida história de Bridey Murphy (Bernstein 1956). Bloxham publicou várias de suas sessões (1959). Registros re­ centes ou partes de registros foram publicados por Glaskin (1974), Underwood e Wilder (1975), Sutphen (1976,1978), Dethlefsen (1977), Moss e Keeton (1979) e Langedijk (1980). Sob hipnose, uma pessoa experienciou uma vida completa co­ mo um sacerdote egípcio. O livro de Weden e Spindler sobre isso (1978) é agradável e interessante, menos extravagante e mais con­ creto que algumas outras biografias egípcias, e talvez até mais ver­ dadeira. Iverson (1976) e Wambach (1978) apresentam resumos. Breves descrições de casos podem ser encontradas em trabalhos gerais, tais como aqueles de Muller (1970) e Christie-Murray (1981) e Kelsey e Grant (1967). Netherton e Shiffrin (1978) e Fiore (1978) dão exem­ plos de terapias. A maioria das orientações publicadas para a indução de regres­ sões está na área dos métodos hipnóticos e imaginativos. O capítu­ lo 6 do segundo volume retornará a isso. Os “exercícios de carma” de Rudolf Steiner originaram-se em 1924 (Gesamtausgabe 236). 165 Os primeiros métodos realmente imaginativos são aqueles de Bennett (1937), e mais tarde de Brennan (1971). Glaskin descreve os pro­ cedimentos do experimento de Christos (1974); Mareia Moore, a sua técnica de hipersensibilidade (1976); e Florence McClain também ofe­ rece um procedimento cuidadosamente elaborado (1986). 166 7. Experiências antes e durante o nascimento Para as pessoas que acreditam na reencarnação, a gravidez e o parto não são apenas processos biológicos mas a chegada misteriosa de um convidado desconhecido. Que tipo de pessoa ela será? Quem ela será? Os futuros pais podem preocupar-se se atrairão “uma boa entidade” . Podem se preocupar com a atitude correta durante a con­ cepção ou a gravidez para assegurar isso. As idéias correspondentes são; se você não conceber uma criança em estado de verdadeiro amor, não receberá uma alma que realmente lhe pertença; para atrair uma entidade superior, você deverá conceber sem paixão animal; é im­ portante nutrir pensamentos e sentimentos elevados durante a gravi­ dez para que o feto prospere. Pessoas sérias e bem-intencionadas que acreditam na reencarnação muitas vezes ficam preocupadas com es­ ses pensamentos sobre a procriação. Seus sentimentos podem ser bas­ tante fortes, mesmo que não possam imaginar como tudo isso fun­ ciona. Serão esses pensamentos justificados ou não? O material de regressão publicado até o momento dá um quadro rico de como as pessoas encarnam, como experienciam a situação pré-natal e quais as conseqüências que isso pode ter. O material mais informativo é o da década passada. Morris Netherton, Helen Wam­ bach e Joel Whitton são autores importantes nesse campo. Helen Wambach levou um total de 1 500 pessoas à regressão hipnótica. Nas primeiras l 100, cerca de 90% tiveram experiências de vidas passadas. No grupo todo, 48% tiveram experiências pré-natais no estágio desen­ carnado e como criança ainda não nascida. Os restantes 52% não tiveram impressões ou dormiram durante as regressões em grupo (Wambach 1979). 167 Rochas verificou em seus experimentos que, durante a regres­ são a vidas passadas no transe magnético, a sensibilidade da superfí­ cie da pele de seus sujeitos estava localizada cerca de cinco centíme­ tros acima da pele (l'extériorisation de la sensibilité). Ao serem leva­ dos a um período entre vidas e capazes de relatar a experiência, seus “veículos de sensibilidade” estavam localizados numa esfera acima da cabeça. Aparentemente havia uma espécie de experiência fora do corpo. A partir das experiências de Rochas e as de Wambach, con­ cluo que as experiências como desencarnados são preservadas numa memória separada e menos acessível. As regressões terapêuticas de Netherton envolvem muitas expe­ riências pré-natais no útero. Wambach queria saber como as pessoas se preparavam para uma nova encarnação, como experienciavam a ligação com seus novos corpos, além do nascimento e da situação imediatamente após o nascimento. A maioria da literatura teológica e filosófica sobre esse assunto é uma exposição de convicções, e não um tratamento de experiên­ cias concretas, e fragmentariamente contradiz o material empírico disponível em muitos pontos. As informações de Allan Kardec e Joan Grant, entre outros, sobre o estágio desencarnado e o processo da encarnação coincidem com o material empírico. A preparação para uma encarnação Como as pessoas experienciam a situação de que irão novamen­ te reencarnar, de que um outro nascimento é iminente? Como em muitas outras experiências humanas a resposta é; de maneiras muito diferentes. Helen Wambach fez três perguntas sobre a preparação para a encarnação. A primeira foi se as pessoas escolheram e prepa­ raram elas mesmas suas encarnações, ou se elas se sentiram compeli­ das ou mesmo forçadas. A segunda pergunta foi por que as pessoas iam encarnar e, se foram elas próprias que escolheram, por que a razão e qual o objetivo. A terceira pergunta foi se as pessoas esco­ lheram o sexo com que nasceram. Aparentemente, muitas pessoas nada experienciam durante a pre­ paração para suas encarnações, ou simplesmente sentem que são su­ gadas em direção a um feto. Algumas comparam à descida em um escorregador ou à sucção de um aspirador de pó. Dethlefsen e ou­ tros também relatam experiências similares. Outras pessoas fazem preparações elaboradas em cooperação com conselheiros. Algumas se mostram resistentes ou temerosas, e precisam ser persuadidas. Ou­ tras, aparentemente, fazem-nas elas próprias, algumas de maneira 168 apressada ou indo contra conselhos. As respostas que Wambach (1979) recebeu proporcionam o seguinte quadro; • 8% nada sentiram; • 11% resistiram e estavam mais ou menos temerosas; • 55% mostraram pelo menos alguma hesitação; • 23% prepararam-se ativamente; • 3% foram muito apressadas e contra os conselhos. Isso significa que cerca de 20% foram obrigadas a reencarnar, e cerca de 80% mais ou menos aceitaram suas reencarnações. Existe uma transição gradual entre sentir-se empurrado para al­ go e resolver tudo por si mesmo. Algumas esperam pelo inevitável, outras consideram-na como algo a ser aguardado, “ algo que todos fazem” . Algumas comparam-na a uma viagem completamente or­ ganizada, recomendada por uma agência de viagem confiável. Al­ gumas precisam ser persuadidas a reencarnar, outras estão entusias­ madas com a perspectiva de “descer” novamente. Outras, novamente, agem por iniciativa pessoal e podem fazer grandes planos. Muitas pessoas relatam deliberações com outros, principalmente amigos e conhecidos íntimos, que também irão nascer novamente. Aparente­ mente são feitos planos comuns e encontros são marcados para mais tarde, além de compromissos para fazer coisas juntos. Das pessoas que relataram que se aconselharam com outras, mais de 6% tiveram mais de um conselheiro; algumas tiveram até um círculo de conse­ lheiros. Embora Wambach tenha verificado que o aconselhamento seja a regra, McClain afirma que “somente em circunstâncias muito ra­ ras e extremas evidencia-se que qualquer tipo de ajuda ou sugestão venha de fontes externas” (McClain 1986: 22). Ela provavelmente coletou apenas referências espontâneas, enquanto Wambach fez per­ guntas diretas. Considerando a prática comum aqui embaixo de se conselhar com profissionais (ou com não profissionais) sobre mui­ tos assuntos, suponho que Wambach esteja certa. Mas talvez McClain se comunique com uma população diferente de remigrantes. Com Wambach, 60% das pessoas com memórias pré-natais sob regressão puderam responder a sua pergunta a respeito de seus objeti­ vos na vida, a razão por que retornam. As outras 40% freqüentemente foram aquelas que não escolheram por elas próprias o retorno. Wam­ bach (1979) dividiu as respostas que recebeu da seguinte forma: • 27% vieram ajudar outras pessoas e a elas próprias a crescer espi­ ritualmente; • 26% vieram adquirir nova experiência como um suplemento ou correção; 169 • 18 % vieram se tornar mais sociáveis; • 18% vieram solucionar relacionamentos pessoais cármicos; • 12% vieram por razões variadas. Alguns exemplos de razões para encarnar foram: • “Tinha muito trabalho a realizar referente ao relacionamento com minha mãe.” • “Na verdade, não tinha nenhum carma urgente a resolver.” • “Tinha que colocar em ordem e concluir satisfatoriamente todos os desarranjos de minha vida anterior.” • “ Desejei expor-me a uma vida fraca e indulgente e a superá-la.” • “ Voltei para conseguir sentir as coisas e tocá-las.” • “Desejei voltar pois tinha acabado de morrer jovem.” • “Sabia que meus pais precisavam de mim, pois tinham perdido uma menina de quinze meses num incêndio.” Exemplos de objetivos especiais na vida foram: aprender a su­ perar o medo, aprender a liderar, aprender a ser humilde, liderar um grupo político. Podemos nos inscrever para encargos especiais e requerer mis­ sões especiais. Quando são necessárias pessoas para desenvolvimen­ tos especialmente planejados, e se formos capazes e quisermos con­ tribuir, podemos pedir aos conselheiros antes mencionados que con­ siderem nossa solicitação. Considerações cármicas serão feitas, po­ rém não são decisivas. Obviamente o sexo é importante para nosso plano de vida. Ain­ da faz diferença se você nasce como um homem ou como uma mu­ lher. De acordo com Wambach, 76% das pessoas escolheram seu se­ xo. As outras 24% não tiveram escolha ou não se importaram com isso. Outra literatura confirma a impressão de que a vida vindoura não está fixada em detalhes, mas se limita a linhas, desenvolvimen­ tos e desafios gerais (Kardec 1857: 325-31). Quando as pessoas se lembram de uma perspectiva, de uma previsão da vida futura, res­ saltam claramente apenas os momentos mais importantes, as gran­ des tarefas. Elaboramos isso com nosso esforço na vida. Atos forte­ mente imorais, como um assassinato, nunca são predestinados. No máximo é predestinado que cresceremos de tal maneira, em tal am­ biente, com tal personalidade, com uma grande probabilidade de tal coisa acontecer. Mas ninguém é forçado pelo destino a cometer as­ sassinato (Kardec 1857: 329). Ao lado da escolha do sexo, a escolha dos pais é importante pa­ ra a vida a que iremos ser conduzidos. As pessoas que planejam sua 170 vida também escolhem seus pais. Aquelas que experienciam sua en­ carnação como algo que lhes acontece, da mesma forma não sabem por que ou como obtiveram seus pais. Um bom exemplo de uma es­ colha pessoal dos pais é o do menino que diz a seus pais que ele já os escolheu “há muito tempo, quando ainda estava com Deus” . Foilhe permitido escolher quem seria seu pai. Ele procurou em volta e finalmente viu um menino tocando violino durante um concerto. Uma corda quebrou, mas o menino continuou a tocar tão bem quanto pôde. Então ele disse para si mesmo; “Este será o meu pai!” . O incidente com a corda tinha de fato acontecido, quando seu pai ainda estava na escola (Muller 1970; 66). Assim, as pessoas podem ser escolhidas com bastante antecedência como futuros pais ou mães; isso estará usualmente de acordo com ligações pessoais nas vidas anteriores. A escolha dos pais pode depender de muitas considerações. Al­ gumas vezes eles podem apresentar oportunidades especiais para a tarefa que se toma para si mesmo, ou, mais excepcionalmente, devi­ do ao material genético apropriado (Wambach 1979: 164). Uma mu­ lher diz que as ligações cármicas com sua mãe foram muito mais im­ portantes do que a probabilidade de ter uma deficiência genética (a doença de Alzheimer). Foi-lhe dito que ela deveria ser submetida à experiência de crescer sem um pai, e nasceria numa área ideal para encontrar o homem com quem estava destinada a casar (Whitton e Fisher 1986: 42). Algumas vezes as pessoas não gostam da perspecti­ va de terem pais a quem têm um relacionamento cármico. “ Oh, não, não ela novamente!” , gemeu alguém quando lhe disseram que sua evolução pessoal seria melhor servida ao renascer de uma mulher que ele havia assassinado numa vida anterior (Whitton e Fisher 1986; 42). Por estranho que pareça, há também casos de pessoas que mu­ daram de idéia no último momento e nasceram em algum outro lu­ gar, ou que simplesmente perderam a direção devido à precipitação. Alguém desejava tanto retornar a um corpo que se aproximou de um feto, muito embora os amigos e conhecidos tenham-no aconse­ lhado a esperar um pouco, pois entraria numa família muito gran­ de, ao passo que uma pequena se adaptaria melhor a ele. Um outro remigrante percebeu imediatamente depois de seu nascimento; “ Na hora errada, no lugar errado, com pais errados, no sexo errado!” . Algumas pessoas lembram-se de um forte desejo de voltar por­ que morreram jovens previamente. De acordo com uma crença lar­ gamente difundida, as pessoas que morreram muito jovens retornam rapidamente. Na vida seguinte, consomem a energia de vida rema­ nescente, de modo que mais uma vez morrem jovens. O rápido re­ torno é geralmente correto; a subseqüente morte juvenil não é. 171 Também acontece de alguém encarnar devido à tentativa de uma encarnação prévia falhar, por exemplo, alguns anos antes com os mes­ mos pais, possivelmente num corpo de outro sexo. Existem exem­ plos muito convincentes disso, e eu também me deparei com tais casos. A progênie e a gravidez Futuros pais estarão particularmente interessados neste assun­ to. A primeira questão sobre a gravidez é o momento da geração; quando a alma entra no feto? Aparentemente não existem regras fi­ xas para isso. Ela chega de surpresa; aqui estou fundamentalmente seguindo a pesquisa de Wambach, a qual propõe que muitas almas se conectam com o feto pouco antes do nascimento, algumas até mes­ mo durante ou imediatamente após o nascimento. Somente 11% dos remigrantes de Wambach se uniram ao feto em algum momento nos primeiros seis meses de gravidez, e outros na concepção. Aproxima­ damente 12% se conectaram com o feto ao final do sexto mês, e 39% durante os últimos três meses. Finalmente, 33% pouco antes do nas­ cimento, e 5% aparentemente não queriam experienciar o nascimento e conectaram-se somente logo após ele acontecer. Isso significa pro­ vavelmente que eles dificilmente influenciaram o desenvolvimento do feto (Wambach 1979). Embora o feto esteja vivo, não ficará ativo por muito tempo se a alma a encarnar não descer e se conectar com ele. Uma criança que acabou de nascer, e que já está respirando, pode ser como uma casa pronta para o ocupante, logo antes de ele entrar na mesma. Em­ bora essa seja uma idéia estranha, outros investigadores relatam ca­ sos semelhantes. Hubbard (1950) dá um exemplo de alguém entran­ do num corpo alguns minutos após o nascimento. Em alguns casos entra-se no corpo até mesmo mais tarde, mas isso pode implicar a expulsão do ocupante anterior. Um retorno ime­ diato, num corpo já nascido e habitado por outra pessoa, torna a data oficial do nascimento anterior à data da morte da vida ante­ rior, criando um período de intermissão negativo. Stevenson encon­ trou casos assim. A história de Hermann Grundei, no capítulo 5, é um desses casos. Hubbard dá um exemplo de um homem que é assassinado por dois oponentes. Ele fica furioso, e quer mostrar-lhes que não podem livrar-se dele tão facilmente. Ele corre para a maternidade mais pró­ xima “para agarrar um corpo” . É provável que ele teve de expulsar à força um outro espírito. Isso só é possível com pessoas que têm pouca força mental, pouca motivação para começar uma nova vida e 172 pouco controle sobre seu corpo. Quando a encarnação ocorre no corpo de uma criança de, por exemplo, três anos, ela acontece usualmente após uma grave enfermidade e resulta numa marcante mudança de personalidade, como no caso de Jasbir (Stevenson 1966). Langedijk também dá um exemplo (TenDam 1982). Em casos ainda mais raros, isso pode acontecer em adultos. The Boy Who Saw True (Spearman 1953) dá o exemplo de um homem que é substituído por outro após um traumatismo de guerra. De acor­ do com o escritor, tais coisas só são possíveis em conseqüência de formas negativas de mediunidade em vidas passadas. Ruth Montgo­ mery popularizou em seus últimos livros a idéia dos “entrantes” . Con­ sidero suas idéias bem mais plausíveis, mas essa área está fora do objetivo deste livro. Inquiridos sobre suas experiências pré-natais, 11% dos remigrantes de Wambach sentiram-se dentro do feto, 78% fora do feto e 11 % sentiram algumas vezes estar dentro e outras vezes, fora do feto. Aque­ les que descem cedo, freqüentemente experienciam uma consciência dentro do feto. A maioria das pessoas, contudo, flutua na proximi­ dade da mãe, enquanto estão conectados ao feto por um cordão eté­ rico, presumivelmente o mesmo “ cordão prateado” , que desempe­ nha um papel nas experiências fora do corpo e na morte (Crookall 1961, 1978). Quando o nascimento se aproxima, o cordão encurta e diminui a mobilidade. Algumas pessoas entraram no feto de vez em quando para inspecioná-lo, ver se tudo está correndo bem, e pa­ ra adaptar o feto a elas mesmas. Algumas relatam que às vezes po­ diam deixar o corpo após o nascimento. Algumas podiam até mes­ mo sair à vontade durante o primeiro ano de vida. Mais adiante, 86% dos remigrantes indicaram estar conscientes dos estados de ânimo, pensamentos e emoções de suas mães. A par­ tir do trabalho de Netherton podemos concluir que provavelmente isso seja verdadeiro para todos os que estejam proximamente conec­ tados com o feto. Os outros 14% presumivelmente chegam ao feto no último momento. É uma pena que Wambach apresente um mate­ rial estatístico tão pobre em seu segundo livro, o que torna impossí­ vel correlacionar as respostas entre as diferentes questões. Como muitos outros terapeutas da regressão, Netherton consi­ dera que reviver experiências traumáticas desta vida é freqüentemente insuficiente para remover as origens dos problemas e dos complexos. Acontecimentos desta vida muitas vezes reestimulam feridas inter­ nas causadas a nós em vidas passadas. Ele considera que a reestimulação durante a gravidez ou o nascimento sempre precede a reestimulação durante a vida. Dik Van den Heuvel, um hipnotizador holandês, concluiu que a reestimulação natal ou pré-natal é uma necessidade, 173 mas não uma condição suficiente para manifestar traumas cármicos na vida. Ele compara a reestimulação natal e pré-natal a “ dar cor­ da” (TenDam 1982). O registro do trauma somente é acionado na primeira reestimulação após o nascimento. Deve sempre haver um evento desencadeante durante a vida. Netherton considera que a reestimulação pré-natal usualmente vem da identificação do feto com a mãe. Ele dá muitos exemplos que mostram que o feto registra como próprias as experiências da mãe. Um velho exemplo é aquele de uma menina americana que, sob narcose, entra em delírio e fala espanhol, embora não conheça essa língua. A mãe, que é chamada, espanta-se ao reconhecer frases que seu guia mexicano lhe dissera quando fugia de uma situação revolu­ cionária no México, enquanto grávida dessa criança (Muller 1970; 135). O capítulo anterior comparou o relacionamento de “comunhão” entre um magnetizador e seu sujeito ao relacionamento entre a mãe e a criança ainda não nascida. Quando uma garota diz a seu namorado que está esperando um filho dele, e ele grita; “ Sai fora daqui! Não quero mais ver você!” , o feto registra essa mensagem como algo que se refere a ele. Se a criança tiver negócios inacabados em relação a ser recusado, man­ dado embora ou expulso, isso será reestimulado. De acordo com Ne­ therton, os momentos mais sensitivos são a concepção, a descoberta da gravidez, a primeira comunicação sobre a gravidez e o nascimento. Um exemplo surpreendente de registro do feto e sua “comunhão” com a mãe é o caso de uma mulher com problemas sexuais. Durante a regressão ela vê a mãe, grávida, sendo visitada pelo pai. Ela lê em voz alta para ele uma passagem, que a chocou, de um livro do Marquês de Sade. Embora a paciente não conheça o livro, durante a regressão pode citar literalmente todo o texto. Torna-se evidente que esse texto influencia sua vida como um postulado, porque seu conteúdo reestimula traumas de vidas passadas (Netherton e Shiffrin 1978; 84). Netherton dá exemplos de repercussões de experiências pré-natais e natais na vida posterior. Algumas vezes o feto interpreta o aumen­ to de peso da mãe como uma proeza. Isso, mais tarde, pode levar à obesidade. Algumas vezes a obesidade é causada por algo dito so­ bre o bebê durante ou logo após o nascimento. Qualquer experiên­ cia pré-natal ou do recém-nascido que seja interpretada como agres­ sividade do pai para com a mãe, ou fortes pensamentos da mãe, co­ mo “Tomara que ele morra logo” , podem causar impotência ou eja­ culação precoce. Uma experiência traumática no período do “banho hormonal” , quando o sexo é determinado, pode confundir a identi­ dade sexual. Pais que têm certeza do sexo da criança, mas que se enganam, podem também contribuir para a confusão sexual. 174 Baseados nas conclusões de Crookall sobre as experiências fora do corpo e as experiências de morte (1961, 1978), podemos entender que o corpo psíquico (ou astral) não entra imediatamente no feto, mas que há uma ligação de éter ou plasma vital entre eles. Ainda não está claro como esse novo “veículo de vitalidade” se origina. Provavelmente, uma parte essencial permanece conectada à alma para a qual novo plasma é atraído. Um feto ainda não adotado será en­ tão preparado pelo veículo de vitalidade da mãe. Pode haver uma fusão ou um contato temporário entre o corpo plasmático da mãe e aquele da criança encarnante. Isso pode explicar a “ comunhão” entre eles. É necessário existir uma ligação etérica em todos os fenômenos psicossomáticos, em cada ligação entre o corpo psíquico e o físico, incluindo aí marcas de nascimento e estigmas de vidas passadas. Ca­ da trauma não resolvido de uma vida passada provavelmente tem ainda uma carga etérica que é descarregada durante as catarses. Isso explica a razão de toda catarse ter concorrentes somáticos e toda in­ dução infalível incluir o uso de algo somático. De acordo com Hubbard (1950), cada registro de trauma con­ tém dor física ou alguma outra somatização. Isso explica a razão de não podermos resolver o carma depois do processo de morte estar completo; livramo-nos de alguns éteres, e o restante nos acompanha até uma nova encarnação. A reestimulação significa que as feridas ou os nós etéricos antigos estarão abertos e conectados com nosso corpo presente. Netherton afirma que o registro se dá a partir do momento da concepção. Baseado em sua experiência de hipnotizador e terapeu­ ta, Goldberg conclui que a alma está conectada com o feto durante toda a gravidez, mas livre para vir e ir. A descida definitiva (“a grande entrada”) ocorre dentro de vinte e quatro horas, antes ou depois do nascimento (Goldberg 1982; 181). De acordo com Joan Grant, um óvulo fertilizado precisa ser adotado por uma alma encarnante em poucos dias, ou ele será rejeitado e morrerá (Kelsey e Grant 1967). A pesquisa de Wambach (1979) mostra que poucas pessoas entram no feto nos primeiros seis meses. Como é possível escolher entre es­ sas visões conflitantes? Goldberg considera, como Netherton, que durante a gravidez a alma aparentemente entra e sai do feto à vontade. Por outro lado, parece haver uma mente inconsciente no embrião, logo depois de ele ser concebido, que registra tudo o que está acontecendo a ele e à mãe, e com freqüência se identificando com a mãe. Após a encarnação definitiva os dois cursos de experiência parecem se mesclar. Isso pode explicar grande parte dos achados divergentes até o momento. Whitton 175 fala de memória da alma e memória do cérebro, a última funcionan­ do a partir de mais ou menos três meses. Parece-me que Schlotterbeck, após sua primeira declaração de que há dois cursos de memó­ ria (1987; 85), resolve esse problema ao identificar três cursos de me­ mória (1987; 139). Assim, temos na análise final; 1. A memória psíquica da personalidade desencarnada que entra no corpo nos últimos meses, durante o nascimento ou logo após o nascimento. 2. A memória etérica, que está presente desde o princípio, primeiro sem se distinguir do corpo etérico da mãe; e no restante da gravidez há uma íntima ligação com a psique da mãe, criando, assim, um ca­ nal de identificação com a mesma. 3. A memória do cérebro físico a partir de mais ou menos três me­ ses. (Um sistema nervoso desenvolvido parece um pré-requisito para a encarnação real; o corpo psíquico que entra no corpo físico.) Whitton relata os mesmos achados de Wambach: a primeira cons­ ciência de estar realmente no corpo físico se estende desde vários meses antes do nascimento até logo depois dele. Whitton também encon­ tra remigrantes que experienciam estar pairando sobre a mãe. Rela­ ta que eles podem encorajar comportamentos que são bons para a mãe e para a criança e desencoraja a bebida e o fumo. Em vários casos eles comunicam um nome para a criança (Whitton e Fisher 1986: 50). Joan Grant explica a náusea durante a gravidez como o inverso da “comunhão” . A criança avisaria a mãe dessa maneira que alguns aspectos de sua dieta ou de seu comportamento estão afetando-a ne­ gativamente. Mas se Wambach verificou que somente 11% das pes­ soas descem antes do sétimo mês, então a náusea seria uma exceção nesse período. A náusea parece ser uma reação psicossomática da mãe e não um sinal da criança encarnante. Marcas de nascimento e estigmas são claros exemplos da influên­ cia da alma entrante sobre o feto. As pessoas podem nascer com mar­ cas físicas como pontos ou arranhões na pele, ou defeitos correspon­ dentes a feridas fatais da vida anterior. O capítulo 2 menciona que os tlingits, no Alasca, usavam as marcas de nascimento para identi­ ficar a vida passada da criança. Alguns deles, como em outros gru­ pos, anunciam antes de morrer com quem desejam renascer e com que estigmas podem ser reconhecidos (Stevenson 1966: 225). Estig­ mas na forma de marcas da pele são usualmente memórias auxiliares para a pessoa que retorna, conscientemente feitas após a descida no novo corpo. Defeitos de nascimento e cicatrizes reais estão rela­ cionados com experiências de morte traumática, que não foram di­ geridas, especialmente em pessoas que retornam rápido, entram rápido 176 na criança não-nascida e têm uma auto-imagem contínua com a vi­ da anterior (Stevenson 1966; 34; Fiore 1978: 175). Marcas de pele podem ser produzidas durante a gravidez e logo após o nascimento. Dedos defeituosos das mãos e dos pés desenvol­ vem-se muito mais cedo. O estigma pode indicar em que nível de de­ senvolvimento a alma entrou no corpo. Um caso extraordinário é o de Wijeratne, que tinha uma malformação de um braço direito mui­ to mais curto, com apenas a metade da grossura e dedos rudimenta­ res. Quando começou a falar, explicou que tinha matado sua esposa a punhaladas em sua vida passada. Ele não se arrependeu, e aos quinze anos de idade disse que ainda faria o mesmo (Muller 1970; 56). Aparentemente não carregamos todos os nossos traumas para uma nova vida. O que entra nesta vida depende de escolha, inclusive a escolha dos pais e a reestimulação durante a gravidez e nascimen­ to. Projetamos uma certa auto-imagem quando vamos encarnar. Em casos de crianças com defeitos de nascimento, parece ser a da perso­ nalidade da última vida. Mas muitas pessoas podem escolher a per­ sonalidade de uma vida mais anterior como determinante principal da encarnação vindoura. Podemos selecionar temas de vidas mais anteriores. Joan Grant diz que nem sempre é o “corpo supra-físico” da vida imediatamente anterior que entra e influencia a criança não nascida. O capítulo 4 do segundo volume retornará a esses assuntos. O nascimento Experiências pré-natais são menos diversas que as experiências do desencarnado. Experiências individuais de nascimento são menos diversas ainda. Uma criança que acaba de nascer está inteiramente consciente da situação da sala de parto. Ela sente, ouve e vê tudo o que acontece, e sabe o que as pessoas presentes estão dizendo, sen­ tindo ou pensando. A mãe, o pai, o médico ou a parteira e as enfer­ meiras consideram o recém-nascido inconsciente e ignorante, e não têm idéia da presença de uma consciência humana completa. A criança sente agudamente a distância entre seu próprio adulto, sua consciência telepática não perceptível pela mãe e pelos outros presentes, e seu perceptível corpo pequeno e indefeso. Essa experiência algumas ve­ zes é engraçada, mas usualmente dolorosa, especialmente se a crian­ ça for tratada de modo áspero ou inapropriado. Normalmente o nascimento em si é menos doloroso e traumático para a criança do que comumente se acredita. Um número significativo considera-o até mesmo uma experiência agradável. Um nascimento 177 normal, sem complicações, não é traumático ou mesmo problemáti­ co para a criança. É falsa a idéia que todos têm, por exemplo, do medo de constrição devido a essa experiência. É claro que existem muitos nascimentos traumáticos; crianças que começam a respirar antes de estarem totalmente fora do útero e que quase morrem sufo­ cadas, parto de nádegas etc. O nascimento em si pode reestimular traumas de vidas passadas ou reforçar traumas já reestimulados na fase pré-natal. Netherton e Fiore concluem que a experiência do pro­ cesso de nascimento é decisiva para a resistência ao estresse pelo res­ to da vida. Um bom nascimento leva a uma forte resistência, e um nascimento difícil e complicado à sensibilidade ao estresse (Nether­ ton e Shiffrin 1978; 133; Fiore 1978: 14). Algumas circunstâncias são desagradáveis para quase todas as crianças recém-nascidas. A primeira reclamação é que a luz muitas vezes é forte demais e que fere os olhos, e a segunda reclamação é que é frio demais. A terceira reclamação, já mencionada, é ser trata­ da mais como uma coisa do que como um ser humano. A quarta reclamação, razoavelmente freqüente, está relacionada com o forte desejo do recém-nascido de ter contato físico e emocional com a mãe. Muitos remigrantes descrevem seu desapontamento quando perce­ bem a mãe “ausente” , ou seja, inconsciente, em geral sob efeito da anestesia. Algumas vezes a mulher em trabalho de parto necessita de anestesia, mas, em princípio, a anestesia local é melhor do que a perda de consciência. Se a mãe dá boas-vindas à criança, é muito melhor e mais agradável para ela. Todas as regressões ao nascimento são um grande apelo por cui­ dados de parto mais modernos e naturais. Há uma exceção; em al­ guns casos as pessoas descrevem que o líquido amniótico (talvez sob a influência da atmosfera?) queima e coça a pele, e que elas choram de aflição porque demora muito para serem lavadas. A tendência é não lavar o recém-nascido, pois seria natural deixar a pele absorver essa umidade nutritiva. Mas se a criança está chorando, é melhor lavá-la imediatamente. Além disso, não há necessidade de holofo­ tes; o quarto deve ser o mais cálido possível e, especialmente, a criança deve receber boas-vindas conscientes como um ser humano maduro. Até o momento nenhuma evidência dá apoio à afirmação de Estelle Myers de que um nascimento na água é melhor e “mais espiritual” . Poderia ser interessante fazer futuras regressões de crianças nasci­ das dessa maneira. É tolice a idéia de que as crianças precisam chorar quando nas­ cem porque é bom para a respiração. Uma remigrante descreve sua indignação e fúria por ficar pendurada de cabeça para baixo no frio, e por receber um tapa na nádega, o que é supérfluo e insultante, pois 178 ela já estava respirando. Uma criança pode chorar porque o nasci­ mento foi difícil ou a recepção decepcionante, ou como alívio natu­ ral de emoção, como numa forte gargalhada, uma grande alegria ou um grande afã. Chorar é também uma expressão de impotência, o que evoca nos adultos um desejo natural de receber a criança de uma maneira atenta, amigável e prestimosa (Kardec 1857; 156). O nascimento pode ser traumático por razões não relacionadas ao processo e ao tratamento do nascimento. Durante a regressão, um paciente com problema de identidade, que tinha o sentimento constante de ter de mudar seu nome, contou que o médico durante seu nascimento insistia em trocar o nome de sua mãe pelo nome de uma enfermeira, na presença do recém-nascido (Netherton e Shiffrin 1978; 173). Certamente isso somente traumatiza alguém que já tenha um fraco ou debilitado senso de identidade. Experiências de nascimento interessantes são também encontradas no livro de Karl Muller (1970; 189-93). O momento do nascimento e o mapa astral: astrologia cármica As pessoas que acreditam em astrologia terão vontade de saber como se relacionam a preparação e o plano de vida com o mapa as­ tral. Aqui, a primeira pergunta é qual o momento astrológico do nas­ cimento. Se o momento do nascimento influencia o caráter e o pla­ no de vida de alguém, então esse momento, provavelmente, não é coincidência. Mas que exato momento é esse? Os nascimentos indu­ zidos e a cesariana interferem no destino da criança? Ou então tudo é tão bem inspirado e organizado que uma pessoa acaba nascendo de qualquer maneira no momento predestinado? Um obstetra ale­ mão, Dr. Diehl, instruiu uni assistente que medisse com um cronô­ metro, o mais precisamente possível, os vários momentos de nasci­ mento, em milhares de casos (Dean e Mather 1977; 467). Primeiro, foi anotado o momento em que o colo do útero estava suficiente­ mente dilatado; segundo, a apresentação da cabeça; terceiro, a pri­ meira respiração; quarto, o primeiro grito; e quinto, o corte do cor­ dão umbilical. Entre a apresentação da cabeça e o corte do cordão umbilical, o intervalo pode chegar a trinta minutos, mas usualmente menos que dois ou três minutos. Os últimos quatro momentos, em particular, seguem-se de perto, às vezes em menos de um minuto. O primeiro grito freqüentemente ocorre cinco segundos depois de o corpo sair. Em algumas centenas de casos, os cinco momentos esta­ vam bastante separados de tal modo que os mapas astrais dos dife­ 179 rentes momentos diferiram grandemente. Anos mais tarde Diehl com­ parou o desenvolvimento de vida das crianças com esses mapas as­ trais, a fim de determinar qual deles se enquadrava melhor. Con­ cluiu que, sem exceção, o mapa do momento da primeira respiração era o correto. Da mesma maneira que a primeira respiração é o pri­ meiro momento da existência humana independente, assim o dese­ nho de um mapa de um casamento, de um negócio ou de um país deve levar em conta que o momento de tornar-se independente é tam­ bém o momento relevante. O que acontece com nascimentos induzidos? Para essa questão, a experiência dinamarquesa é interessante, pois há muito tempo pratica-se a indução em quase todos os nascimentos. A pesquisa dos ma­ pas de milhares de nascimentos de dinamarqueses levou à conclusão de que o mapa da primeira respiração após um nascimento induzido é tão válido quanto o de nascimentos naturais (Dean e Mather 1977; 171). Contudo, Gauquelin, um pesquisador francês, comparou o mapa das crianças com o de seus pais. O mapa de crianças que nasceram de parto natural assemelham-se mais intimamente com os de seus pais, especialmente nos planetas afastados (de relevância comprovada), do que o mapa de crianças com nascimentos provocados (Dean e Ma­ ther 1977; 392). É bem provável que isso signifique que um nasci­ mento estimulado ou induzido perturba o destino de uma pessoa em algum grau. Com nascimentos induzidos as pessoas entram no mun­ do sob uma constelação astrológica menos apropriada do que no ca­ so de um nascimento natural. Nascimentos induzidos, portanto, não são aconselháveis. É cla­ ro que isso depende de uma intervenção ser necessária devido aos riscos relacionados ao nascimento, ou se é rotineira, como na Dina­ marca, por causa do horário de trabalho dos médicos e das enfer­ meiras. Novamente recebem apoio tendências recentes a favor do nas­ cimento natural, desta vez por estudos astrológicos. Se o momento certo do nascimento é importante para alguém, imagino que as pessoas envolvidas na indução possam ser influen­ ciadas a fazer com que ele ocorra nesse momento. Mas isso só pode ser verdadeiro na minoria dos casos. De qualquer maneira, não há razão para se preocupar com aquilo que não se pode controlar. Nas­ cimentos naturais são preferíveis aos artificiais, mas se um nascimento artificial for medicamente inevitável, prossiga com ele e espere pelo melhor. A astrologia cármica presume que o mapa astral mostra as con­ seqüências de vidas passadas. O livro mais antigo sobre o assunto é o livro chinês Three Lives, escrito aproximadamente em 1600 e tra­ duzido e editado por Martin Palmer et al. (1987). A partir da hora 180 do nascimento ele conclui que vida você terá, que vida teve anterior­ mente e qual será sua próxima vida. Essa é a mais estranha tolice que alguém poderia imaginar. Dou alguns exemplos. Se você nasceu no ano do Galo (uma em cada doze pessoas), em sua próxima vida você será um administrador de uma grande e rica família. Mesmo considerando uma média de uma esposa e dois filhos, isso afirma que mais de 8% de todas as pessoas serão administradoras nessas famílias, e mais de 33% de todas as pessoas viventes estarão em fa­ mílias ricas. Uma em cada doze será uma concubina na vida seguin­ te, ou seja, uma em cada seis mulheres. Uma em cada doze pessoas morrerá num dia nevoso, uma façanha surpreendente para todas as pessoas que moram em climas quentes (Palmer et al. 1987; 105-9). Ou isto; “ O trabalho mais apropriado para você é o de gerente, mas também seria um bom açougueiro” ; “ Você terá setenta e três quilos de arroz, uma jarra de vinho, três quilos de carne, seis quilos de óleo e sal e duzentas moedas” . Nada disso parece ser consumido. E o que dizer sobre a variedade de moedas, cartões de crédito ou câmeras? Uma em cada quatro pessoas será extremamente afortu­ nada, proprietária de uma fazenda e herdar uma grande fortuna (Pal­ mer et al. 1987: 171-82). Os editores dão exemplo de uma leitura; primeira linha; “ Você perderá seu lar e sua fortuna” ; segunda linha: “Você será rico e nunca terá problemas financeiros” (1987: 48). Explicação? Nenhuma. Os editores afirmam: “A fusão da crença taoísta, da ética confucionista e do ensinamento budista produziram um dos sistemas mais inte­ ressantes e flexíveis possíveis de adivinhação. Three Lives é sem dú­ vida um dos livros mais inusitados e interessantes que resultaram dis­ so” . (Palmer et al. 1987: 3). A capa promete “ Guia prático chinês da reencarnação” . Vamos prosseguir rapidamente com os trabalhos ocidentais. Desde os trabalhos dos teosóficos sobre a astrologia, muitos as­ trólogos aceitaram as interpretações cármicas dos mapas astrais. Em 1943, Joan Hodgson publicou Wisdom in the Stars, mais tarde re­ publicado como Reincamation Through the Zodiac (Hodgson 1943). Seu livro faz reflexões gerais sobre a base cármica dos doze signos zodiacais, especialmente as lições cármicas que deveriam ser apren­ didas deles. Seus argumentos são baseados na noção de carma que é tão mecânica quanto elevada, mas felizmente deixa intacto nosso livre-arbítrio. Suas noções sobre os signos zodiacais mostram que ela jamais ouviu falar do Hemisfério Sul, pois associa livremente os sig­ nos com as estações de clima temperado do Hemisfério Norte, uma estreiteza da qual outros astrólogos são também culpados (Dean e Mather 1977: 79). Além da história das estrelas da sorte, o horóscopo 181 é o ramo da astrologia mais sem sentido e refutado. Addey comenta a respeito; “Estou ainda para ver um único trabalho estatístico (e agora existem muitos)... que dê a mais leve indicação de que os doze signos, em qualquer zodíaco, sejam unidades válidas no sentido em que são normalmente considerados” (Dean e Mather 1977; 88). Es­ ses dois autores citam pesquisas que mostram que a probabilidade de os signos zodiacais serem relevantes é aproximadamente uma em dez elevado à vigésima potência. Joan Hodgson pouco nos ajudará. São bem conhecidos os livros de Martin Schulman sobre astro­ logia cármica. Schulman aponta primeiro os nós da lua como indi­ cadores astrológicos do carma. De acordo com ele, o nó do sul da lua registra a história completa das vidas passadas, e o do norte é um indicador do futuro, da perspectiva, do ainda não tentado. Per­ manece um mistério como uma intersecção geométrica abstrata, apon­ tada sem qualquer realidade física, pode registrar vidas de pessoas. Schulman refere-se ao nó do sul como o clímax de 100 000 anos de trabalho das pessoas sobre elas mesmas. Numa página posterior ele denomina esse clímax como o ponto, em cada mapa, que está incli­ nado a ser o mais fraco (Schulman 1976). Talvez o nó do sul da lua do próprio Schulman tenha algo a ver com a lógica. Os astrólogos têm diversas idéias sobre os nós da lua (como sobre praticamente tu­ do). Além da interpretação de Schulman, existem várias outras. Ade­ mais, há dois métodos de determinar os nós, a chamada média e os nós da lua reais. Schulman nem ao menos diz qual método ele usa. Em livros posteriores (1976; 1977; 1978), Schulman ocupa-se dos pla­ netas retrógrados e com os pars fortunae. Permanecem genéricos os tipos de missões cármicas relacionadas a posições particulares. Nos casos que me são familiares, não encontro nenhuma relação entre os conteúdos das regressões e essas posições. As reflexões sobre a astrologia são especulações gnósticas sobre fatores astrológicos ba­ seados em visões abstratas do carma e da reencarnação, sem relação nenhuma com processos reais de reencarnação. Schulman também não ajuda muito. Alguns astrólogos são ainda piores. Algum tempo atrás um as­ trólogo holandês calculava o lugar e a hora de nascimento de vidas passadas, usando o mapa astral da vida presente. Com esse método, em algum ponto, os graus de longitude eram convertidos em anos, de tal modo que o meridiano de Greenwich recebia um significado cósmico fantástico, e intermissões entre as encarnações variavam uni­ formemente entre zero e 360 anos. Tudo completa tolice. Um outro autor da astrologia cármica é Stephen Arroyo (1978). Ele vê todos os fenômenos psíquicos a partir de um ponto de vista cármico. Isso acrescenta maior profundidade, mas não novas infor182 inações. Arroyo parece mais versátil e mais inteligente que os outros astrólogos aqui mencionados, mas seus indicadores astrológicos do carma são um baú de surpresas; categóricos e opostos; Virgem, Pei­ xes e Escorpião; a quarta, oitava e décima segunda casa; a Lua, Sa­ turno e Plutão; os aspectos de Saturno, Urano, Netuno e Plutão; e os trânsitos. Permanece um dos enigmas do Universo o porquê de a Lua indicar o carma, mas seus aspectos não; o porquê de Urano e Netuno não indicarem o carma, mas seus aspectos sim. E em lugar algum há qualquer relação entre a compreensão empírica do carma e da reencarnação. O único terapeuta de regressão que fala sobre a astrologia cármica é Adrian Finkelstein. Ele sustenta que as vidas subseqüentes sempre têm nodos lunares no mesmo signo, e dá alguns exemplos e análises para provar sua opinião. Mais tarde, contudo, diz que é o mesmo signo porque a vida anterior não foi adequadamente com­ pletada. Isso parece ser autocontraditório. Além do mais ele não ofe­ rece dados sobre seus achados estatísticos (Finkelstein 1985: 54). Suas noções de astrologia cármica parecem copiadas dos únicos livros so­ bre astrologia cármica a que ele se refere; Joan Hodgson e o primei­ ro livro de Martin Schulman. Parece que ele extrai do material o que inicialmente pressupunha. A meu ver, como uma disciplina válida, a astrologia cármica ain­ da não teve seu início. Podem ser encontradas relações ao se corre­ lacionar os conteúdos das regressões analisadas de um grande grupo de pessoas com a análise de seus mapas astrais. Não fazem sentido as atuais associações intuitivas e interpretações mágicas. A melhor abordagem é combinar uma técnica como a de Wambach (regressão anterior ao estágio pré-natal e inquirir sobre o objetivo e plano de vida) com aspectos do mapa astral que provaram ter relevância em­ pírica: posições dos planetas e aspectos entre os planetas. Após o nascimento: primeira infância Minha discussão da pesquisa de Wambach já indicou que algu­ mas crianças ainda podem deixar o corpo durante o primeiro ano. Na maioria dos casos, essa consciência adulta das habilidades para­ normais bem rapidamente se desvanece após o nascimento, na me­ dida em que as experiências no novo corpo adaptam a auto-imagem da alma ao corpo novo, infantil. Normalmente em algum momento durante o terceiro ano, a nova autoconsciência, que na verdade per­ tence a essa encarnação, começa a lembrar de si mesma. 183 A personalidade da criança recém-nascida é especialmente níti­ da durante as primeiras horas após o nascimento. Algumas vezes ela permanece nítida por semanas e meses. Muitas vezes o rosto de um bebê lembra uma personalidade adulta. A personalidade apresenta­ da nessa época é a de uma encarnação passada, provavelmente aquela que tem uma influência dominante sobre essa vida. Joan Grant des­ creve um velho humilde que ela vê num pequeno rosto, numa clínica infantil (Kelsey e Grant 1967), Maria Penkala dá outro exemplo (1972; 135). O homem no exemplo de Hubbard, que imediatamente entrou furiosamente num novo corpo porque seus oponentes deram fim a ele, provavelmente olhava pelos olhos do bebê como uma personali­ dade energética e frustrada. Presumivelmente, as almas das crianças em geral se manifestam mais facilmente através de um médium após o nascimento, e não antes dele. Muitas pessoas que irão nascer não se podem fazer conhecer através de médiuns ou de forma mais direta, pois precisam de sua energia para influenciar o crescimento do corpo. Após o nascimen­ to, menos energia é necessária, e a alma pode mais facilmente se ma­ nifestar aos outros (Shirley 1924; 165). Isso se aplica somente a crian­ ças que facilmente deixam seu corpo, e é bastante comum no pri­ meiro ano. Algumas vezes essa possibilidade permanece por um período mais longo. Eugénie, o primeiro sujeito de Rochas, sentiu durante a re­ gressão que iria nascer novamente. Sentiu-se atraída para uma mãe que tinha acabado de engravidar. Ela pairou sobre a mãe até o mo­ mento do nascimento. Depois disso, sua consciência foi lentamente apreendida no corpo da criança. Segundo ela, só entrou definitiva e completamente no corpo aos sete anos (Shirley 1924; 140). Em todos os casos, a consciência adulta do recém-nascido se des­ vanece na primeira infância. Temos que nos esforçar durante a in­ fância para voltar à autoconsciência e à responsabilidade por esta vida. Um senso de nosso objetivo de vida, de nosso destino, da es­ sência de nosso plano de vida podem nos acompanhar pela infância, muito embora possa ser inconsciente. Na verdade, nosso plano de vida está continuamente presente do nascimento em diante. Algu­ mas crianças têm um senso de destino precoce, mas a maioria deve encontrar sua direção em meio à insegurança e à confusão. Por que temos de passar por um período tão longo de inconve­ niências em cada encarnação? A infância, idealmente, é tanto um período relaxado, de brincadeiras descuidadas, quanto um período receptivo para uma educação cuidadosa. Embora as pessoas estejam freqüentemente mais abertas à educação quando desencarnadas, é difícil incorporar os resultados quando encarnados. Quando os pais 184 são tão sábios quanto os filhos, a infância é um período de relaxa­ mento e existência despreocupada. Se os pais forem mais sábios que os filhos, a infância oferece uma oportunidade particularmente boa para o desenvolvimento posterior. Se os pais forem menos sábios que os filhos, a infância é uma luta para sair de um pântano perigoso, algumas vezes por razões cármicas, outras para ganhar força, e ou­ tras ainda como uma conseqüência inevitável do nível social e cultu­ ral da sociedade em que se nasce. A reestimulação da miséria cármica durante a infância é muito provável. Precisamos aceitar que todas as vezes estamos bastante de­ pendentes da sabedoria e boa vontade das outras pessoas. Se recusa­ mos isso, a única alternativa é nos tornarmos autistas. Algumas pes­ soas sentem grande resistência para uma nova e longa infância. He­ len Wambach considera isso como sendo uma causa do autismo (Wambach 1978), que é na maioria da vezes encontrado em crianças inteligentes, em geral nascidas de pais inteligentes. A má reação a isso pode exacerbar consideravelmente o problema, ao passo que a boa reação (uma mescla de aceitação paciente, confiança no futuro e, apesar de tudo, estímulo social) pode evitar muita infelicidade. Com exceção de mortes por condições médicas precárias, a morte nos primeiros três anos é mais freqüentemente uma questão de car­ ma dos pais do que da criança. Também pode ser uma decisão da própria criança. Alguém relata que se deu conta, imediatamente de­ pois do nascimento, de que escolheu os pais errados, e que sabia que as coisas iriam dar errado, por isso partiu. Presumivelmente, algo desse tipo é muito raro. Algumas escolas esotéricas consideram os primeiros 21 ou 28 anos (três e quatro vezes sete, respectivamente) como um processo contí­ nuo de encarnação. Essas escolas esotéricas imaginam que ao nascer a alma flutua em volta do corpo, e só entra nele lentamente durante os anos. Os achados da pesquisa de regressão de modo algum apóiam essa imagem. Podemos concluir, a partir das experiências de nasci­ mento, que o oposto é praticamente verdadeiro. A alma está pode­ rosamente presente no corpo, e sua auto-imagem em geral vai se en­ redando nele durante o primeiro ano. O ponto mais baixo da encar­ nação está no período entre a perda da identidade adulta nas primei­ ras horas, semanas ou meses após o nascimento, e a religação de uma nova identidade e autoconsciência por volta do terceiro ano. As crianças que retêm uma memória ininterrupta de suas vidas passadas, como foi discutido no capítulo 5, quase sempre se lembram da vida imediatamente precedente, que quase sempre foi há pouco tempo. É mais comum, contudo, que as memórias de vidas passadas se desvaneçam, e apenas permaneçam as idiossincrasias, como teste­ 185 munhas silenciosas de vidas passadas. Durante a adolescência, dos quinze anos em diante, muitas pessoas experienciam uma ânsia in­ consciente para voltar a se lembrar delas mesmas. Muitas das confu­ sões internas e do romantismo ostensivo da adolescência são basea­ dos na ânsia para se redescobrir. Algumas pessoas têm memórias, geralmente antes dos trinta anos de idade, mas para a maioria delas a regressão é necessária. Seria ideal se pudéssemos usar a adolescên­ cia para nos reconhecermos, para experienciar nossa identidade co­ mo uma alma, e então “ encarnar” mais extensamente na forma de participação ativa na sociedade. Contatos diretos com nossos amigos de outrora, desencarnados, podem ocorrer em sonhos, especialmente sonhos vividos, e nas ex­ periências fora do corpo. Também pode ser o inverso; amigos ante­ riores ao nosso nascimento, desencarnados, que nos auxiliam inspi­ rando nossos pensamentos e sentimentos. Discuti indiretamente esse assunto em meu livro sobre oráculos e inspirações (TenDam 1980). Alguns dos remigrantes de Wambach relataram que os consultores e guias que viam em suas regressões pré-natais eram pessoas com quem eles já haviam sonhado. Conselho a futuros pais, o estupro e o aborto Evidências vindas de regressões são importantes para os cuida­ dos com a gravidez e o nascimento. A seção acima, sobre o nasci­ mento, indicou algumas conseqüências práticas. A recepção ideal para uma criança é a aceitação de sua simultânea impotência física e ma­ turidade mental. Isso significa cuidar da criança e protegê-la, sendo doce, amável e suave com ela, e ao mesmo tempo aceitando-a como um adulto. Embora você não possa captar a consciência da criança, deixe que ela saiba que você acredita nela, conversando com ela, dando-lhe boas-vindas. Não se trata de sentimentos vigorosos, ape­ nas de aceitação e interesse pela criança. Se você queria um menino, não finja que está muito feliz por ser uma menina. Provavelmente a criança capta a verdade. É melhor aceitar o desapontamento, tal­ vez rindo de si mesmo por sua preferência e tentando compreender. Pode-se conscientemente atrair uma entidade? Por exemplo, é possível atrair uma entidade apropriada, vivendo de uma determi­ nada maneira, e preparando-se de uma forma particular? Ou, é pos­ sível atrair uma entidade melhor, tendo um tipo de vida melhor? A atração entre os futuros pais e a alma encarnante é como qualquer outra atração pessoal. As pessoas atraem-se mutuamente porque se conhecem, porque têm a ver uma com a outra, porque passaram por 186 experiências comuns ou criaram uma ligação entre elas, muitas ve­ zes de simpatia, outras de antipatia. Viver por um tempo de uma certa maneira dificilmente fortalece ou enfraquece uma atração pessoal. Pensar conscientemente em uma pessoa pode atraí-la. Mas você de­ ve ter certeza de com quem está lidando, se é um desencarnado e se gostaria de vir a você. Pessoas desencarnadas podem ter uma pers­ pectiva melhor. No máximo é possível enviar um pensamento como; “Fulano, se você quiser vir a nós, será bem-vindo. Gostaríamos de tê-lo” . Algumas vezes os pais têm uma razão para isso. Se eles tive­ ram uma criança anteriormente, mas algo não deu certo por alguma decisão errada, por falta de cuidado, por falta de autocontrole ou qualquer outra coisa, os pais podem dirigir-se consciente e amorosa­ mente àquela criança e fazer com que ela saiba que desejam fazer melhor desta vez e que ela ainda é bem-vinda. Mesmo assim, é preci­ so ficar aberto ao fato de que a criança pode desejar voltar ou não. Você ainda é o anfitrião; pode dizer a seu convidado que ele é bemvindo, mas não deve ir além do convite. O anfitrião não se impõe aos convidados; deixe que eles decidam sozinhos. É possível atrair uma entidade melhor ou mais consciente tendo um bom estilo de vida ou estando nobremente inclinado durante o ato procriador? Ao falar sobre níveis de entidades, você deve consi­ derar também seu próprio nível: você criou esse nível durante a vida (as muitas vidas). Ao viver consciente e positivamente, você está ten­ tando aprimorar esse nível, embora isso em geral aconteça a longo prazo. Para atrair uma alma apropriada, o que você fizer dificilmente será importante. Você é o que é. Acreditar que um comportamento particular antes ou durante a gravidez vá atrair almas melhores é su­ bestimar a inteligência da pessoa que você deseja para si e subesti­ mar as leis espirituais que orientam a encarnação. Sentimentos e há­ bitos nobres durante a concepção e a gravidez são meros enganos. Se você espera um convidado de respeito, limpa sua casa e compra algumas coisas extras. Dessa maneira, você pode preparar-se men­ talmente para a chegada de alguém, “ sem viver além de suas possi­ bilidades” . Seja você mesmo. O ato procriador, especialmente, tornase bizarro se você pensar que deve ter sentimentos nobres durante o intercurso e, acima de tudo, deve restringir sua sensualidade ani­ mal. Ajuda muito pouco perguntar a si mesmo, durante o intercur­ so, se você realmente ama a pessoa com quem está copulando. Se quiser ter filhos, não especule sobre sua própria escolha, mas confie na escolha de pais feita pela criança que chegará a você. Durante a gravidez, em geral você pode entrar em contacto com a entidade que irá nascer. Aqui também, a curiosidade artificial e natural diferem. Como já foi dito, as almas conectam-se ao feto em 187 estágios diferentes de gravidez, mas geralmente quando a gravidez está adiantada. Se você se concentrar na possível presença de uma alma, provavelmente aumentará a atração magnética por almas que irão encarnar, lsso torna o feto um magneto ainda mais forte, au­ mentando a probabilidade de um advento impessoal, em vez de atrair alguém com quem você tenha um relacionamento pessoal. Pessoas que oram incessantemente para ter filhos correm um risco maior de ter alguém não apropriado; uma alma errante. Ou talvez isso, afi­ nal, seja apropriado; mentes errantes atraem almas errantes. Mas se você sentir que há alguém com você, poderá fortalecer e elaborar esse sentimento. Não evoque a primeira experiência e não se inquie­ te se ela permanecer ausente. Não fique com medo de que a pessoa errada venha a você. lsso ocorre somente em casos excepcionais e determinados carmicamente. Se você tiver a forte impressão de que a criança já está com vo­ cê, então lide com os sentimentos e os pensamentos espontâneos, es­ pecialmente durante os últimos meses da gravidez. Fortaleça-os e os mantenha em aberto. Tudo bem falar sobre isso, mas de preferência só com seu companheiro ou com um amigo confiável. Geralmente a mãe tem essas impressões antes do pai. O que acontece se você engravida involuntariamente ou, pior ain­ da, como o resultado de um estupro? Isso afeta o tipo de entidade atraída? Se a mulher foi estuprada e engravidou, então será uma ca­ sa em construção, que pode, como qualquer outra, interessar a um ou a outro. Para um futuro habitante, a construção de uma casa é mais importante que o motivo de ela ser construída. Importa menos como a gravidez aconteceu do que o que acontecerá mais tarde. É mais importante como a mãe reage a uma gravidez não desejada. Se ela projeta seu aborrecimento, aversão e ódio pelo estuprador no feto (e isso acontece facilmente), será desagradável entrar nessa ca­ sa. As almas que se sentem fortemente conectadas à mãe ou a suas circunstâncias, mesmo assim entrarão. Quanto ao resto, as almas atraídas, ou têm uma afinidade com a situação baseada em obriga­ ções cármicas, ou estão tão inconscientes que aceitam tudo indiscri­ minadamente. Contudo, as reações da mãe são decisivas e não co­ mo aconteceu a fecundação. O estupro é brutal para a mulher, mas não para a alma encarnante. Mas a qualidade do corpo em crescimento não depende do ma­ terial genético do estuprador? Talvez o risco de material genético in­ ferior seja um pouco maior nesse caso, mas provavelmente poucas vezes haverá alguma relação entre os gens e o estupro. Alguém pode praticar esses atos por razões puramente psicológicas e pessoais, fre­ qüentemente com uma causa cármica, e possuir excelente material ge­ 188 nético. Nem todos os que moram numa casa pobre e desleixada são desonestos, e nem todos os que moram numa casa bonita e bemarrumada são nobres. Isso é tão verdadeiro para os habitantes de corpos como para os habitantes de casas. A entidade encarnante irá, freqüentemente assessorada por “corretores de encarnação” , olhar para o corpo, a família e as circunstâncias em que ele ou ela irá nas­ cer. Certamente serão consideradas as conseqüências do estupro. Mas isso também pode levar à compaixão pela mãe e promover um estímulo. O comportamento da mãe durante a gravidez certamente é im­ portante. Deve-se distinguir três conseqüências desse comportamen­ to; sobre o desenvolvimento biológico do feto, sobre a atração de uma alma e sobre o caráter e a vida da pessoa que irá nascer. Consi­ derando o desenvolvimento biológico do feto, é óbvio que você po­ de se comportar de modo mais ou menos sensível durante a gravi­ dez. Sobre a atração de uma alma particular, já expus minhas reser­ vas. É difícil influenciar, e tentar isso provavemente provocará mais distúrbios que auxílio. São gravados no feto o caráter e a vida futu­ ra, tanto como as experiências da mãe durante a gravidez. Se essas experiências reestimulam os problemas cármicos e os traumas da al­ ma conectada, eles serão transportados para a vida seguinte. O que tudo isso significa para a discussão corrente sobre o aborto? Um corpo é uma casa onde alguém está fixado pela vida inteira. O aborto é a destruição dessa casa quando ainda está em construção. Isso é ruim? Em primeiro lugar, depende do momento da destrui­ ção. Quanto mais perto a casa estiver do seu término, mais destruti­ va e fria será a demolição. Em segundo lugar, vai depender de al­ guém ter se inscrito para a casa. Um futuro habitante sem dúvida não gostará que a casa seja derrubada. A seriedade disso vai depen­ der de várias características pessoais e das circunstâncias; em que me­ dida as alternativas apropriadas e atraentes estarão disponíveis, em que medida alguém aguarda ansiosamente por uma casa nessa re­ dondeza, quanta pressa alguém tem, quão sensível é. Em terceiro lu­ gar, isso dependerá da extensão do envolvimento pessoal que alguém tem no projeto e na construção da casa. Se a pessoa se preocupou ativamente com a seleção genética durante a fecundação ou em tornála apropriada para alguém especialmente, então todo esse trabalho será destruído. Assistir a uma casa que você ajudou a projetar e a construir ser demolida é mais doloroso do que quando não se está pessoalmente envolvido. Em quarto lugar, e este é o ponto essen­ cial, vai depender de o futuro habitante da casa já estar ou não den­ tro dela na hora da demolição. Nesse caso não seria demolição mas homicídio, e dos mais grosseiros. 189 Pessoas que fazem aborto, ou que desejam fazer um, em geral não sabem se já estão sendo habitadas, e portanto não sabem se, ao matar o feto, estão fazendo com que alguém passe por uma expe­ riência horrorosa. Portanto, a questão é se a alma da pessoa que vem já está conectada, e principalmente se já desceu (de acordo com Wam­ bach isso ocorre em cerca de dez por cento dos casos antes do sexto mês). Quando a alma sente uma ligação com o feto, mas em geral paira nas proximidades, o aborto seria como a demolição de uma casa cujo habitante futuro, que já começou a mobiliá-la, visse ser destruída por uma enorme máquina demolidora. É terrível, frustrante, porém mais melancólico do que traumático, exceto quando isso reestimula traumas mais antigos, e infelizmente há uma grande chance de que seja esse o caso. É uma experiência realmente horrorosa estar dentro da casa quando a máquina demolidora cai sobre ela. Qual é a implicação disso ao se decidir pelo aborto? O aborto só é assassinato quando você sabe que há alguém dentro. Esse rara­ mente é o caso. Ainda assim, destruir uma casa sem saber se há al­ guém dentro, embora não seja tanto um assassinato, certamente se­ rá brutal e bárbaro. Assim, essa decisão só pode ser tomada depois de profunda reflexão, especialmente nos tempos dos anticoncepcio­ nais confiáveis. O bom senso diz que o aborto só deveria ser possível até o sexto mês de gravidez, e depois disso só em casos excepcionais, como urgências médicas ou psiquiátricas. Alegar que a criança não é desejada só seria uma razão para o aborto quando a lista de espera para a adoção estiver lotada. Além disso, o método do aborto deveria levar em consideração que talvez o feto já seja humano. A anestesia do feto (se o sistema nervoso já está desenvolvido) deveria ser uma prática padronizada. Fundamentalmente está errado fazer uma cirurgia mecânica grossei­ ra antes de o feto estar anestesiado ou morto. Finalmente, são inde­ sejáveis as clínicas especializadas em aborto. Quando algo é feito ro­ tineiramente em larga escala, os sentimentos são anulados. E em lu­ gares onde fetos humanos são destruídos em larga escala, coisas som­ brias podem acontecer. Se você for fazer um aborto, então faça-o cedo. Dirija-se à pes­ soa que talvez já esteja presente e desculpe-se. Compense aquilo que será de qualquer maneira um ato destrutivo com uma atenção cons­ trutiva e o zelo para consigo mesmo e para com as pessoas com quem você convive. De qualquer maneira, isso jamais prejudica. O aborto pode ser uma questão mais séria do que esbocei aqui, baseado em minhas conclusões de regressões. Os informantes de Kar­ dec, que são, no todo, sóbrios e sensatos, consideram o aborto co­ mo criminoso. Somente quando a escolha for entre a vida da mãe e a 190 da criança é que eles aconselham dar preferência à vida e à saúde da mãe. Uma vida já formada é mais importante do que uma vida ainda não formada. Leitura adicional O livro mais importante sobre este assunto é Life Before Life, de Helen Wambach (1979). O trabalho de Morris Netherton também é importante (Netherton e Shiffrin 1978). Informações suplementa­ res podem ser encontradas no trabalho de Joan Grant (Kelsey e Grant 1967) e no trabalho de Allan Kardec (1857). Muller dá exemplos de experiências e proclamações pré-natais (1970). Experiências pré-natais ainda são cobertas esporadicamente na literatura da regressão, pro­ vavelmente porque seus valores terapêuticos são insuficientemente percebidos. Além de Netherton, Schlotterbeck, principalmente, cita exemplos (1987). Thomas Vemey (1981) fez um trabalho original sobre a experiência do feto. Além dos livros mencionados acima sobre astrologia cármica, há o Karmic Astrology, de Mareia Moore e Mark Douglas. Não pu­ de encontrá-lo, mas talvez seja melhor que os outros. 191 8. A experiência da morte e além dela A literatura sobre a vida após a morte é tão vasta e complexa que exige um estudo completo à parte. Por essa razão, vou me limi­ tar aqui ao material de regressões e a alguns trabalhos gerais, tais como os livros de Robert Crookall (1961-78) e Ian Currie (1978). As experiências de morte em vidas passadas desempenham um impor­ tante papel nas regressões, porém a melhor fonte conhecida de expe­ riências de morte é a das pessoas que estiveram ligeiramente num es­ tado de morte clínica aparente e tiveram vividas experiências duran­ te esse período. Em seguida há os falecidos que relatam sobre seu mundo, por meio de médiuns em transe ou clarividentes, e finalmente há os clarividentes que descreveram suas percepções do processo de morte. Este capítulo mostra que todas essas experiências têm um pa­ drão bem definido. As várias fontes encaixam-se perfeitamente. Cada relato, sem inconsistências, pode ser em si verdadeiro, mas é bastante convincente o consenso amplo entre os relatos de pessoas com experiências acidentais. Também citarei alguma informação que pelo menos não entra em conflito com esse padrão. Alguns dos exem­ plos de regressões são tirados de minha própria experiência como terapeuta. O que acontece quando Você morre? O trabalho de Crookall O trabalho de Robert Crookall (1961-78) oferece os melhores insights sobre o processo de morte. Crookall coleta e elabora cons­ cientemente um corpo substancial de material empírico sem enfeitá-lo. 193 Ele é excessivamente repetitivo, mas é perdoado por isso devido as suas coleções e comparações esmeradas. Ele coletou e analisou a li­ teratura espiritual, os relatos de experiências fora do corpo e as per­ cepções clarividentes de moribundos, e chegou a uma figura clara e consistente das experiências e eventos da morte. Resumo brevemente nos parágrafos seguintes. Quando morremos, ainda nos sentimos presentes em algum ti­ po de corpo. Crookall chama-o de corpo psíquico, grosseiramente igual ao corpo astral dos ocultistas (definido de modo vago e confli­ tante). O aspecto desse corpo psíquico segue a imagem que temos de nós mesmos. Freqüentemente é como nos parecemos em nossa vida recente, a princípio como parecemos logo antes da morte, e mais tarde como somos na idade que nos sentimos mais fortes e melho­ res. Nosso aspecto pode mudar, dependendo de como nos sentimos e com quem nos encontramos. Nosso corpo psíquico é “ideoplástico” , ou mais precisamente, “ psico-plástico” . Ele se molda de acordo com nossas idéias ou, mais amplamente, de acordo com a maneira que experienciamos a nós mesmos. Nossa consciência no cor­ po psíquico é similar àquela dos sonhos lúcidos; sonhos nos quais sabemos que estamos sonhando, nos quais podemos influenciar o cur­ so do sonho e onde freqüentemente temos percepções vividas e bri­ lhantes. Nossa consciência no corpo psíquico tem habilidades para­ normais como a telepatia e a presciência. Com as experiências fora do corpo e com a morte, o corpo psíquico desprende-se de nosso corpo físico. No corpo psíquico movemo-nos ao imaginar, tão concretamente quanto podemos, a pessoa ou o lugar a que queremos ir, ou con­ centrando os sentimentos que temos sobre eles de modo mais con­ creto possível. Também é possível criar nosso próprio meio, visitar um ambiente que existe no mundo psíquico ou ideo-plasticamente decorar esse ambiente. O mundo físico comum pode ser nosso am­ biente, porém é normal que precisemos de um esforço e de um veí­ culo extra para isso, como alguém que para descer ao fundo do mar precisa de um equipamento de mergulho com suprimento de ar. Es­ se “equipamento de mergulho” é o “veículo de vitalidade” de Croo­ kall, e corresponde ao corpo etérico dos ocultistas. O veículo de vitalidade é um intermediário entre o corpo psíqui­ co e o corpo físico, e não um veículo de consciência. Não podemos estar conscientes nele, pois tem pouca estrutura própria, porém uma estrutura que em grande parte é obtida no corpo físico e parcialmen­ te no corpo psíquico. Durante as experiências fora do corpo, o cor­ po psíquico pode levar consigo uma parte desse veículo e ser oculto por ele como um véu mais fino ou mais grosso. Isso entorpece a cons­ 194 ciência, proporcionando, assim, sonhos entorpecidos e não lúcidos. Freqüentemente entra-se em estados crepusculares que se assemelham a0s sonhos comuns e caóticos. Nesse mundo crepuscular estão prin­ cipalmente pessoas mortas que retêm uma parte de seu veículo de vitalidade. Com freqüência isso é o resultado de um forte apego ao mundo físico, às vezes até a um certo estilo de vida. Os parágrafos seguintes discutirão o adormecer, o fazer ponto, o vagar, o andar como fantasma e a existência crepuscular, pois tudo isso resulta de um processo de morte em que o corpo etérico fica insuficientemente desprendido. Se o corpo psíquico deixa o corpo enquanto leva al­ guns éteres consigo, a partida normalmente se dá através do plexo solar; quando ele abandona o corpo etérico, normalmente parte pe­ lo topo da cabeça. Quando Lenz fala do “ corpo etérico” (1979; 60), parece referir-se ao corpo psíquico. A maior parte do corpo etérico pode acompanhar a pessoa du­ rante as experiências fora do corpo. É normal que o corpo físico fi­ que frio e rígido, mais ou menos cataléptico. Isso proporciona mais chances de experiências desagradáveis e perturbadoras no mundo cre­ puscular. Muitas regiões desse mundo crepuscular são povoadas por espíritos fúteis, invejosos e de mentalidade estreita, que gostam de amedrontar os espíritos de pessoas que deixaram seus corpos semi­ conscientes, por exemplo provocando os pesadelos. Uma outra com­ plicação é que durante uma complexa experiência fora do corpo a pessoa vai parar no mundo físico em vez de no mundo crepuscular, onde ela é impedida pela impermeabilidade de materiais como o vi­ dro, ou pela eletricidade em linhas de força. E, por último, pode-se amedrontar pessoas comuns. Os chamados fantasmas, silenciosas e tristes aparições cinza, que aparentemente são vistas objetivamente e que algumas vezes podem até mesmo ser fotografadas, são proje­ ções separadas do veículo de vitalidade de alguém. Com a morte natural na velhice, o corpo psíquico parte junta­ mente com o veículo de vitalidade e em breve paira acima do corpo físico. Um cordão de plasma vital (o termo indiano é prana) perma­ nece conectado ao corpo físico, usualmente no plexo solar, torna-se mais fino e então quebra-se. Esse é o momento da morte irrevogá­ vel. E então que o corpo psíquico se desembaraça da cópia etérica Que flutua acima do corpo e ergue-se numa posição ereta. Quando o corpo psíquico livra-se do corpo etérico, a alma torna-se conscien­ te do ambiente ao redor. Antes disso, há um momento em que a cons­ ciência é perdida. Se já se está fora do corpo, mas o cordão ainda não rompeu, é possível estar simultaneamente consciente de si mes­ mo dentro e fora do corpo. Algumas vezes a alma perde energia ao Puxar o corpo psíquico para fora do invólucro etérico, e cai no sono. 195 O remanescente do corpo etérico no corpo psíquico normalmente se evapora, e depois de um a três dias a pessoa acorda. Quando o cordão prateado é rompido, o veículo de vitalidade deixou o corpo físico. Depois que o corpo psíquico o deixar, o veí­ culo de vitalidade se decompõe, num período que varia de quatro horas a mais de sessenta dias. Para muitas pessoas esse pode ser um período de sono repousante. Segundo McClain, quando instruía os remigrantes a avançar para um período de cerca de seis semanas após a morte, a maioria deles descreveu uma sensação de simples­ mente ser, ou simplesmente sentir-se seguro, protegido e satisfeito (1986; 120). Pessoas que têm sonhos lúcidos freqüentes provavelmente serão capazes de deixar seus corpos de modo rápido e sem complicações quando morrem. Quando alguém morre no auge da vida, por exem­ plo num acidente, o corpo etérico está tão fortemente apegado ao físico que somente uma pequena parte do veículo de vitalidade o acom­ panha. Nesse caso, sai imediatamente do corpo e fica inteiramente consciente; embora alguns éteres tenham ido junto, vê-se o ambien­ te material devido à carga inalterada da consciência. O corpo psí­ quico pode já estar fora do corpo físico, e talvez até já tenha partido enquanto o veículo de vitalidade ainda anima o corpo material. En­ tão, o corpo é como uma máquina abandonada ainda em funciona­ mento. Morrer pode parecer desagradável, havendo, por exemplo, uma longa sacudida, mas a alma já pode ter partido. De acordo com alguns clarividentes isso pode acontecer anos antes da morte, em ca­ sos de extrema senilidade, em estado de infestação de larvas, em au­ ra enfraquecida praticamente sem nenhuma coloração (TheBoy Who Saw True, Spearman ed. 1953; 101). Algumas vezes, no momento em que alguém morre outras pes­ soas têm, de repente, uma forte lembrança dela. Isso é conhecido como “ a chamada''. Pessoas com dons paranormais algumas vezes vêem a aparição. Esse adeus telepático em geral acontece com pes­ soas que se prepararam para a morte. A nitidez da chamada depen­ de da força espiritual da pessoa que morreu e da intensidade do rela­ cionamento. No caso de a morte repentina por uma falha cardíaca ou um acidente, só há contato telepático se a pessoa que morre pen­ sa conscientemente em alguém, por exemplo, uma criança chaman­ do por sua mãe nos últimos momentos. A experiência seguinte é o retrospecto, o panorama de vida. Apa­ rentemente temos dois retrospectos. O primeiro é como um filme em alta rotação de toda nossa vida, ou como um quadro vivo em que observamos simultaneamente todas as imagens. Essa experiência lem­ bra o que ocorria com Mozart, que algumas vezes via a peça completa 196 antes de começar a compô-la. Um paciente de Whitton dá esta vivi­ da descrição; “É como participar do filme de sua vida. Todos os mo­ mentos de todos os anos de sua vida são passados em detalhes sensoriais completos. Recordação total, total. E tudo acontece num ins­ tante” (Whitton e Fisher 1986: 39). A seguir, experienciamos sair do corpo com a impressão ou de afundamento ou de elevação, dependendo de como nossa consciên­ cia estiver distribuída no momento da transição: no corpo físico que está sendo abandonado ou no corpo psíquico que parte. Então te­ mos a sensação de passar por uma porta ou um túnel, ou sentimos que estamos nos elevando acima de nós mesmos, geralmente pela ca­ beça. No momento em que o corpo psíquico fica livre, sentimo-nos maiores e mais livres. Captamos impressões de parentes falecidos e amigos, ou então de muitas pessoas, vemos nosso próprio corpo e sentimos a ligação através do “cordão prateado” . Algumas vezes po­ demos ver dois corpos abaixo do nosso: nosso corpo físico e logo acima dele a cópia etérica. Observamos imparcialmente as possíveis cãibras da morte no corpo abaixo. Então o cordão prateado é rom­ pido, algumas vezes com a ajuda de outros. Freqüentemente ador­ mecemos com uma sensação de grande paz. Após alguns dias ou se­ manas, acordamos e continuamos a “ subir” . O segundo retrospecto, o mais emocional, dá-se passo a passo, situação após situação. Experienciamos, também, os sentimentos das pessoas que encontramos. McClain infere que o retrospecto da vida ocorrerá após o primeiro período de descanso de algumas semanas, aparentemente referindo-se a esse segundo retrospecto. Depois dele, o próximo passo pode ser o de aprendizagem. Algumas vezes, no caso de morte violenta, a pessoa perde a cons­ ciência apenas por pouco tempo e não percebe que morreu. Por exem­ plo, um soldado morto relata que continuou a lutar por cerca de quin­ ze minutos antes de perceber que seus atos não tinham efeito e que uma bala podia atravessá-lo sem o ferir. Com freqüência uma pessoa só percebe sua morte quando reconhece seu próprio corpo físico. Em mortes violentas, sente-se mais compaixão pelos parentes que ficam do que nos casos de morte natural. O finado muitas vezes tenta deses­ peradamente deixar claro que, embora esteja morto, está bem. Ele também é sensível às reações emocionais de seus parentes quando estes falam de sua morte. Especialmente no caso de morte repentina, percebe os sentimentos e pensamentos das pessoas a quem ainda es­ tá apegado na Terra. Um luto depressivo freqüentemente é um grande peso para o falecido. Algumas vezes ele tenta se manifestar através de sonhos, de barulhos e pancadas, e algumas vezes os parentes se enfileiram para que médiuns e clarividentes dêem uma mensagem. 197 Pessoas que morrem jovens acham uma pena ter de deixar para trás um corpo tão bom e saudável. Aparentemente, um corpo assim é uma vantagem valiosa que não se tem em todas as vidas. Muitos ficam chocados com a perda. Outros não têm absolutamente esse ti­ po de sentimento. Um soldado que morreu de repente durante um ataque, e que por uns tempos continuou a correr mentalmente, com­ parou isso ao arrancar um agasalho quente enquanto se corre. Ou­ tro soldado caracterizou a morte como; “A alma pula para fora do corpo como um garoto pula fora da porta da escola; de repente e com grande alegria” . O finado freqüentemente descreve um ambiente enevoado e úmido, indicando que o veículo de vitalidade ainda está presente. O corpo fí­ sico, o veículo de vitalidade e o corpo psíquico ocupam o mesmo es­ paço na pessoa vivente. Eles se interpermeiam. Mesmo assim há uma distância entre eles na quarta dimensão (talvez seja melhor chamá-la de primeira dimensão). A melhor designação para essa dimensão é “transpasse” (TheBoy WhoSaw True, Spearmaned. 1953). É enga­ noso e infrutífero considerar o tempo como a quarta dimensão, como o faz, entre outros, Ouspensky (1934), em conformidade com os físicos. Experiências de morte clínica temporária Pessoas que estiveram mortas clinicamente por um curto perío­ do de tempo têm experiências similares. Muitas vezes, ao deixarem o corpo, ouvem um crescente tilintar ou zumbir desagradável enquanto berram ao longo de um túnel, em velocidade acelerada. Então, de repente saem dele e percebem-se fora do corpo físico, flutuando num corpo volátil, com freqüência próximas ao teto. O corpo volátil (psí­ quico) é experienciado de várias maneiras, que vão desde sentir-se transparente e sem forma, através de uma presença arredondada, ova­ lada ou em forma de pêra, até o contorno vago de um corpo com cabeça, mãos e pés, ou o corpo que tinha na época da morte. Com freqüência elas vêem ou sentem a presença de outros, às vezes de parentes ou amigos falecidos, outras de alguém que reco­ nhecem como um mestre espiritual durante a vida. Então, uma luz que se torna mais forte cresce num ser que emana amor e calorosidade. Algumas vêem nela um anjo, outras vêem-na como Jesus, ou­ tras novamente como o Maitreya, o próximo Buda que aparecerá no futuro. Esse ser pergunta se elas estão prontas para morrer. O que têm elas a mostrar? O que lhes deu satisfação? Valeu a pena a vida? Ao mesmo tempo aparece o retrospecto da vida, não de frente para trás, como afirmam alguns esotéricos, mas a partir do nascimento ou 198 da primeira memoria. Esse rápido retrospecto é mais ou menos con­ tínuo e carregado de sentimentos. Algumas vezes elas percebem si­ tuações através dos olhos de outras pessoas. As imagens são claras, vividas e tridimensionais. Em seus comentários e questões sobre es­ ses retrospectos, o ser luminoso enfatiza temas de amor e conheci­ mento. “ Valeu a pena? O que você aprendeu com isso?” Presumi­ velmente elas podem elaborar esse retrospecto de vida em alguma oportunidade posterior. Em seguida, experienciam uma fronteira ou barreira, uma se­ paração definitiva, retratada como um riacho, estrada, cerca, rio, névoa ou simplesmente uma linha. À medida que se aproximam des­ sa fronteira, sentem-se mais felizes, amorosas e tranqüilas. Contu­ do, a fronteira jamais é cruzada, pelo menos não por aqueles que voltaram e fizeram esses relatos. A experiência inteira acontece en­ tre uma experiência fora do corpo e uma experiência de morte, e a maioria delas é semelhante a morrer. Diferentes tipos de experiência de morte durante as regressões Nas regressões a vidas passadas, é muitas vezes importante dei­ xar o remigrante relembrar sua vida e identificar os temas principais. Isso é feito após a morte. Devido à natureza psicoplástica desse am­ biente, as perguntas sobre a morte e os estados pós-morte nunca de­ veriam ser sugestivas. As melhores são do tipo; “ O que você está experienciando agora? O que está acontecendo agora? O que você sente?” . Se alguém vê uma luz, o terapeuta pode perguntar o que ela significa, se ela muda, e se o remigrante reconhece algo nela. Ele pode perguntar ao remigrante o que pensa de sua vida anterior ao relembrá-la. Freqüentemente pergunta o que causou a maior impres­ são, o que foi mais importante e qual foi o propósito principal. Ge­ ralmente as respostas são diretas e globais: aparentemente o tema dominante dessa vida se manifesta. As pessoas podem rever a vida inteira bastante bem nessas regressões à morte. Os objetivos de vida são fantasticamente divergentes. Por exem­ plo, um remigrante diz que o propósito principal de sua vida foi apren­ der a rir, pois foi sério demais em vidas passadas. Um outro remigran­ te foi muito rico, mas morreu pobre como um rato de igreja. Ele sim­ plesmente declarou que tinha que aprender que a riqueza ou a pobreza não determinam a humanidade. Os remigrantes raramente mencionam um extenso panorama de vida, como fazem os clinicamente mortos. Existem muitas exceções no padrão normal de ter uma perspecti­ va e de relembrar a vida anterior. A alternativa mais comum é alguém 199 dar-se conta de que está fora do corpo mas permanece na vizinhan­ ça. Outros não vêem o corpo e demoram-se nele ou flutuam semiconcientes em volta do mesmo. Quando esse remigrante é questio­ nado sobre sua vida passada, geralmente repete os sentimentos e opi­ niões de seus últimos anos. Se o terapeuta perguntar sobre o signifi­ cado desta vida, pode receber uma resposta como: “Nenhum. Não importava de modo algum. (Pausa) Por sinal, por muito tempo te­ nho esse sentimento de que nada importa” . Então o remigrante po­ de ser regredido para a idade imediatamente anterior a esse senti­ mento, a fim de passar pelo evento específico que o imprimiu. Um funcionário de um escritório que fica grudado a sua escri­ vaninha por mais de 35 anos recusa-se a aceitar uma promoção por­ que prefere se agarrar ao trabalho corrente. No retrospecto de vida ele vê sua linha de vida a sua frente como um fio fino e brilhante que se rompe em algum ponto e torna-se cinza-escuro. Quando o te­ rapeuta pergunta-lhe que situação isso causa, o remigrante imedia­ tamente vê a recusa da promoção. Ele renunciou à chance de desen­ volver-se, e assim renunciou a si mesmo. Como todas as experiências humanas, as experiências de morte são diversas. A Figura 4 distingue sete estados diferentes do pós-morte, diferindo de acordo com a consciência e o desprendimento. Carac­ terizarei e ilustrarei esses sete estados com exemplos de regressões, a maioria retirados de minha experiência como terapeuta. A primeira forma de morte é o “desaparecimento” . A pessoa nada se lembra, nada sente, não está consciente de nenhum ambien­ te, no máximo sente um indiferenciado “estar por aí” . Esse estado torna-se aparente a partir do simples comentário do remigrante de que não pode ver coisa alguma. Toda pergunta é respondida negati­ vamente, exceto quando se pergunta se ele tem a sensação de que existe. Essa resposta pode ser confundida com a de alguém que experienciou sua morte, mas que não pode revivê-la por algum blo­ queio. Nesse caso, o remigrante fica irritado porque não pode ver nada, ou porque as perguntas do terapeuta o incomodam. Num au­ têntico caso de desaparecimento, o remigrante insiste em dizer, cal­ ma e relaxadamente, que nada experimenta. A primeira descrição desse estado durante a regressão é a de Eugénie, uma paciente de Ro­ chas. Durante a regressão, ela experienciou que não estava mais no nível material, mas sim flutuando na semi-escuridão, sem pensamentos ou desejos, e aparentemente num estado subjetivo (Shirley 1924: 140). O próximo tipo de experiência de morte é “fazer ponto” no lugar onde se morreu. A pessoa capta vagamente o ambiente físico comum. Ela pode ficar apegada a lugares ou mesmo a objetos, ou pode sentir-se flutuando no ar. Alguns identificam-se com um animal que se apro­ xima. Geralmente há pouco senso de eu. Quando o hipnotizador in­ cita, emerge somente uma presença vaga e enevoada. 200 Uma remigrante revive uma vida de uma serva que é mandada para a floresta por ser considerada inútil. Após um perambular solitá­ rio, encontra uma cabana abandonada de um carvoeiro, e por algumas décadas vive ali uma vida terrivelmente monótona e infeliz. Quando morre, fica feliz por estar livre daquilo, mas pouco lhe acontece. Du­ rante o dia sente-se pairando sobre a floresta, e quando a noite chega, desce gradativamente por entre os ramos. Quando a luz retorna nova­ mente e aquece, ela se eleva um pouco. Aparentemente, ela mantém este padrão por um bom número de anos, até voltar a encarnar depois de um indefinido período de sono. Um interrogatório posterior mos­ trou que, enquanto ela pairava, perdeu toda a auto-imagem. Inquirida sobre essa auto-imagem enquanto viva, a resposta deu a entender que em todos esses anos nunca olhara e nem pensara nela mesma. Afinal de contas ela sabia que era feia e inútil. Então por que se preocupar em ter auto-imagem? Outros terapeutas também relatam essa expe­ riência de elevar-se durante o dia e descer à noite (Langedijk 1980; 116). Permanece consciente? não JT 1 desaparecimento sim mo :r 2 Fazer ponto sim ------------- 1 1 3 Vagar (sonho acordado) mo Consciente de estar morto? r slm 4 Existência crepuscular (pesadelo) (sãi do mundo material? ial?) 5 Obsedante sim ▼ Cria seu próprio ambiente Forte 1r dificilmente Existência ilusória v 7 “ Sobe” Figura 4 — Visão geral dos tipos de experiências de morte 201 Depois de um longo aprendizado numa comunidade do tipo dos maias, os sacerdotes levam um grupo selecionado de garotos de do­ ze anos para o alto de uma montanha, por uma grande escada. Os meninos estão tensos, pois ouviram rumores de que algumas vezes os garotos não voltam desse ritual. Eles têm que ficar sentados em círculo numa caverna e cantar canções ritualísticas. São chamados um a um, e então ouvem terríveis gritos abafados. Contudo, não de­ vem demonstrar medo ou perturbar o ritual. Suas reações são obser­ vadas de perto. Quando é a vez do remigrante, ele é levado para um espaço ad­ jacente. O sumo sacerdote está sentado num enorme trono, irreco­ nhecível atrás de uma grande máscara que representa um Deus. Dois sacerdotes agarram o garoto e seguram-no pelos pés acima de uma cova imperscrutável. O sumo sacerdote dará o sinal se devem soltálo ou não. Os meninos que provaram ser bons alunos, que ao mes­ mo tempo foram severos e obedientes, são poupados. Os tipos ino­ portunos e não merecedores de confiança são jogados. (Esse é um daqueles rituais que originalmente eram apenas um teste de força de vontade e de fé dos sacerdotes, mas que se degenerou em poder polí­ tico e terror.) O remigrante sente-se suspenso acima da cova com um medo mortal (foi muito difícil para o terapeuta levá-lo a essa expe­ riência), e é solto. Ele cai numa escuridão que parece imperscrutá­ vel, e violentamente bate no fundo, provavelmente em cima de ou­ tros, quebrando vários ossos. Os outros meninos estão mortos, ex­ ceto um ou dois que gemem terrivelmente (ou ele próprio está ge­ mendo?). Ele fica vivo por alguns dias num mundo escuro como breu, com uma dor insuportável e com um desarranjo mental. Após a morte, permanece envolto pela escuridão. Depois de um tempo aparente­ mente infindável (cerca de setecentos anos), chega à superfície da mon­ tanha e fica chocado com a bela e ofuscante opulência do mundo exterior. A literatura (por exemplo, Hubbard 1958) dá exemplos de pes­ soas que ficam presas no alto de um portão ou em um objeto ritualístico após a morte. Na regressão revela-se que essas pessoas foram torturadas até morrer e uma forte sugestão pós-hipnótica foi implan­ tada na mente confusa e entorpecida, prendendo a alma a esses ob­ jetos ou construções. Aparentemente isso é feito para tornar o lugar mais impressionante ou sinistro, ou como um sinal de aviso. Todos os sacerdotes que executaram esses atos hediondos podem estar mortos há muito tempo, o culto, extinto, enquanto a alma deles permanece ligada até que o objeto se quebre, o portão ou as paredes desmoronem. Um romano morre durante a erupção de um vulcão. Ele assas­ sina alguém no salão de jantar, corre para a rua, e morre sob um pilar 202 que tomba. Ele vê o lento fluxo da lava cobrir seu corpo morto. Atri­ bui a erupção vulcânica e o pilar que tomba a uma punição por seu crime, e permanece ligado ao local. Após 1 426 anos (os cientologistas são precisos em datas) chegam ladrões à procura de tesouros. O cadáver petrificou, e eles o atiram aos pedaços numa cova. Depois de mais de cem anos, grama e flores crescem no local, e mais tarde ainda uma pequena lagoa é formada. Um pássaro vem e redesperta sua percepção de natureza viva. A apatia vai desaparecendo e o lu­ gar começa a entediá-lo. Contudo, continua a manter-se ligado ao redor por algum tempo, pois sente-se terrivelmente culpado e pensa que ninguém jamais o desejará (Hubbard 1958). O último exemplo de fazer ponto é o de uma mulher que experi­ menta uma encarnação como homem, em algum local na vizinhança do lago Arai, numa época próxima ao império de Alexandre. Ele é um caçador solitário, que ficou só após a partida de outros mem­ bros de sua tribo que sucumbiram às promessas da civilização. Suas experiências mais importantes são andar numa planície deserta che­ cando suas armadilhas, e à noite olhar para o exuberante céu estre­ lado. Após a morte, perambula na mesma área sem qualquer conta­ to com os humanos, mais ou menos dormindo durante o dia e du­ rante a noite olhando para o céu estrelado. Isso dá-lhe uma sensa­ ção majestosa, porém impessoal e estéril. Essa experiência de morte é tão fortemente marcante que depois de cada encarnação seguinte a alma permanece fazendo ponto sem contato com outras pessoas. O próximo tipo de experiência de morte é o de “vagar” ; acon­ tece quando as pessoas não se dão conta que morreram. Elas dei­ xam o corpo rapidamente, ignoram-no e eliminam toda evidência pos­ terior de seu estado real. Elas visitam os lugares e as pessoas de sua vida passada e sonham que continuam vivas. Essa é uma forma de Psicopatologia inocente e bastante comum especialmente em crian­ ças que morreram em acidentes, por exemplo, e que vagam até en­ contrarem pessoas que as aceitem. Uma garotinha está brincando numa área em construção, fazendo alguma travessura. O dono do local, um dos dois sócios, que está em dificuldades porque os negócios vão mal, sente um rancor parti­ cular contra a garota. Ele afugenta a menina. Na vez seguinte, ele se aproxima dela em silêncio e lhe dá um firme empurrão, ferindolhe a cabeça que bate contra uma máquina, causando-lhe morte ins­ tantânea. Ele fica chocado e arrasta a criança para um pequeno bar­ ranco de lama nas proximidades, enterra-a e cobre a sepultura com relva. A garota é procurada, mas o corpo jamais é encontrado. A remigrante que está revivendo isso relata inicialmente que um homem a arrasta para um barranco de lama e a deixa lá. Ela sente-se 203 estranhamente letárgica e entorpecida e não sabe o que fazer. Não se dá conta de que está morta. Isso é esclarecido mais tarde na re­ gressão. Por que ninguém vem apanhá-la? Ela sente-se cada vez mais solitária e triste. Não pode responder à pergunta de por que não se levanta e vai para a casa. Afinal de contas, ela não está machucada e pode se mover à vontade. Mas ela se sente estranhamente entorpe­ cida. Apenas continua repetindo que ninguém vem para pegá-la. Fi­ ca lá pelo resto do dia e da noite, até que pessoas chegam à área em construção na manhã de segunda-feira. Fracamente ela tenta atrair a atenção delas, mas sem sucesso. Sente-se mais fraca e mais triste. Por que todo mundo a deixou? Desde que ninguém se importa mais com ela, passa a vagar insensatamente na orla dos campos e das flo­ restas, e em determinado momento encontra uma fazenda. Discre­ tamente entra na casa da fazenda e sonha que faz parte da família. Essa condição continua por muitos anos, até que sua mãe morre e começa a procurar pela filha. A filha não envelheceu nesse meio tem­ po; tinha a exata aparência de quando morreu, apenas um pouco mais entorpecida. Na regressão, ela descreve a alegria do reencon­ tro. Sua mãe leva-a consigo para o que parecia ser um lar. Somente mais tarde a mãe lhe diz que ambas estavam mortas. Uma menina de aproximadamente três anos de idade, filha mais nova de uma família que vivia num barco, cai do convés numa forte correnteza sem que seus pais notem. Eles só percebem a sua ausên­ cia uma hora mais tarde. Ela própria não tem a mínima idéia do que está acontecendo. Flutua na água e vai parar num parque de uma cidade, onde alguns meninos estão brincando. Um deles, que mais tarde revelou ter dons paranormais, atrai a menina por causa de sua aura aberta, e ela se movimenta com ele. Quarenta anos mais tarde ela ainda é uma menina de três anos de idade que abraça com força sua boneca e chupa o polegar. Só quando outros a vêem, ela aban­ dona o menino que agora já é um homem, e, sentindo-se afagada, adormece. A menina tampouco se recusou a perceber que estava morta, po­ rém era incapaz de compreender o fato. Provavelmente isso também seja resultado da aparente inabilidade dos pais de dirigir pensamen­ tos concretos para os filhos e atraí-los. Essas crianças são órfãs ao avesso. Langedijk dá o exemplo de alguém que morre de pneumonia. Ele deixa esposa e três filhos. Perambula pela casa e tenta confortar a esposa. Seus filhos crescem e têm filhos. A esposa fica velha e senil. Somente então ele tem a sensação de que nada tem a fazer ali. Logo depois, tem a sensação de entrar num quarto de uma mulher grávida e sente que lentamente vai se apegando a ela (Langedijk 1980; 116). 204 Fazer ponto pode se transformar num vagar. Katsoguro, um me­ nino japonês, lembrou-se de que costumava ser chamado de Tozo e ter morrido de varíola. Ele foi posto dentro de um grande pote de barro e enterrado numa cova ao pé de uma montanha. Ouviu o som da terra caindo sobre o pote. Um velho acompanhou-o de volta a sua casa, voando pelo ar. Depois disso ele se viu vagamente “ dando cambalhotas no ar, como se tivesse asas” . Ele não via seu ambiente, não era nem dia nem noite. Não tinha uma nítida noção de tempo. Apenas ouvia as vagas vozes de seus parentes viventes, especialmen­ te quando rezavam por ele em frente ao altar da família. Quando sua mãe fez um arroz-doce para oferecer a ele, foi capaz de respirar o vapor quente e sentir-se satisfeito. Então flutuou no ar e foi a uma vila, chegando à soleira da porta de uma casa. Uma sensação irresis­ tível o fez entrar pela janela aberta. Ficou sentado junto ao fogo por três dias, e de repente sentiu o calor do fogo transformar-se num amo­ roso calor humano. Era o “sangue honorável” de sua mãe. Depois disso, ele mais nada sabia (Muller 1970; 41; Penkala 1972; 59). O que é interessante aqui é a relação entre o ritual que os mem­ bros de sua família executaram e seu apego ao lugar. Talvez um ri­ tual assim prenda e talvez alimente o falecido que faz ponto. O ve­ lho que o acompanhou parece indicar que permanecer perto da casa dos pais tem uma influência positiva sobre pessoas como ele. Uma outra categoria de vagar é o das pessoas que se recusam a perceber que morreram. Isso acontece com aquelas que estão cer­ tas de que a morte significa o fim de tudo, ou que morrem intensa­ mente insatisfeitas por não aceitarem ter de parar o que estavam fa­ zendo. Inicialmente elas permanecem no corpo, talvez compareçam a seu funeral, depois livram-se da experiência, considerando-a como um sonho estranho, e alegremente ficam de novo cindidas. Elas vol­ tam a se sentar em seus escritórios, continuam a escrever um livro, participam de reuniões de negócio. Suas experiências são uma mis­ tura bizarra do ambiente físico que percebem entrelaçado às fanta­ sias que produzem. Por exemplo, elas estarão invisíveis numa reu­ nião real; imaginarão que de vez em quando alguém se dirige a elas, que todos a escutam e que sua participação é importante no desen­ rolar dos acontecimentos. Essa condição é patológica mas não per­ turba ninguém, e geralmente é inofensiva para o próprio falecido. Só se torna séria quando a pessoa fica demasiadamente envolvida, compensando além da medida sua existência insatisfeita e fazendo-a perdurar. Seu ambiente pode gradualmente tornar-se o mesmo dos sonhos sem qualquer relação com o ambiente real e os eventos físicos. Então sua condição se desenvolve num tipo de existência crepuscular. 205 Muitos exemplos de “existência crepuscular” podem ser encon­ trados na literatura sobre o espiritismo e em experiências fora do cor­ po. As pessoas vão parar num mundo limitado e sombrio, com ele­ mentos caprichosos e algumas vezes horripilantes. Elas podem per­ guntar-se se esse é o mundo real, e apenas vagamente perceber que morreram. Elas simplesmente ficam sonhando, semiconscientes de­ las mesmas e do ambiente. Os outros que elas encontram nessa con­ dição são algumas vezes projeções subjetivas e outras vezes pessoas que vivem no mesmo estado semiconsciente. Geralmente elas estão muito fracas para procurar um ambiente mais luminoso e permane­ cem nesse ambiente sombrio, semi-isolado e semi-habitado. Essa con­ dição pode ser comparada a um sonho longo e razoavelmente estru­ turado. Joan Grant dá exemplos desagradáveis (1937). O “mundo vital” que Lenz descreve claramente corresponde à existência crepus­ cular; escuro, sujo, feio e perigoso, “ como uma cidade poluída e em ruínas” (Lenz 1979; 106). Os outros mundos que Lenz descreve tam­ bém são reconhecíveis, mas parecem muito padronizados por con­ ceitos religiosos. Alguém pode estar consciente de que está morto, mas ainda as­ sim querer permanecer no mundo físico. Essa é a condição do “ obsedante” . A pessoa tenta se comunicar com encarnados, manifestar-se através deles e ter experiências tão terrenas quanto possíveis. Isso pode resultar em contatos espirituais, manifestações físicas e outros fenô­ menos mediúnicos, e algumas vezes a pessoa se aproveita da acessi­ bilidade mediúnica dos que estão dormindo, dos drogados, dos doen­ tes ou algo assim. Uma subcategoria importante desse estado de morte é descrito mais comumente na literatura esotérica; são as pessoas tão apegadas aos prazeres e vícios que assediam ou estimulam outras que ainda desfrutam desses prazeres físicos. Exemplos típicos são os alcoó­ latras, os glutões e os demasiadamente sexuais, e as pessoas que repre­ sentam o demônio, ou seja, os brutos e sádicos. Essas experiências são incomuns em regressões. Provavelmente pessoas assim não têm interesse em regressões e teriam bloqueios razoavelmente grandes para reviver tais experiências. Resultam dessas histórias somente métodos rígidos, como por exemplo o de Hubbard, que força os pacientes a confrontarem suas experiências e sentirem-se responsáveis por elas. Uma remigrante descreve-se como uma desencarnada que aparen­ temente tenta repetir seus prazeres anteriores, ao levar um casal a perversidades cada vez maiores. A mulher engravida, mas ela continua a incitar o casal, e o feto é lesado. Ela quer matar a criança. Mas ela própria entra no corpo, vive por catorze anos e depois morre numa cavalgada selvagem. Mesmo depois disso seu furor continua (Hub­ bard 1958). 206 Pessoas francamente autoconscientes e capazes de desprenderse bem, mas que captaram fortes visões dogmáticas sobre a vida após a morte, podem terminar na condição que esperavam. Entram nu­ ma “ existência de sonho” , um estado mais semelhante a um sonho lúcido do que um sonho comum. Como muitas condições após a morte são determinadas pela própria consciência humana, o autismo ou mes­ mo o solipsismo são os perigos supremos. “ Alguns espíritos ficam presos aos pensamentos como os pássaros se prendem aos ovos” (The Boy Who Saw True, Spearman ed. 1953; 105). Os devotos, as pes­ soas de mente estreita e os fanáticos chegam assim a seu próprio pe­ queno paraíso, na melhor das hipóteses com alguns companheiros crentes (se suas imagens corresponderem suficientemente e seus re­ lacionamentos forem bastante fortes). De vez em quando os senti­ mentos de culpa e de medo levam alguém a um inferno cristão tradi­ cional, de breu e enxofre. Wambach dá outro exemplo de uma existência de sonho. Após ter morrido numa encarnação pré-histórica na América do Sul, al­ guém experiencia-se voando sobre uma floresta. Ele vivera numa cul­ tura em que se acreditava que a alma se transformava em pássaro após a morte. Outras duas pessoas relataram sua morte no Peru an­ tigo, onde o sol espiritual era adorado como um deus. Ambas experienciaram ficar num facho de luz dourada depois de morrer (Wam­ bach 1978; 149-50). Nossa condição após a morte, portanto, pode conter muitos ele­ mentos oníricos. O que experimentamos depende muito mais do que queremos e podemos ver do que de nossa vida aqui. A percepção do ambiente e de nós mesmos depende predominantemente do que criamos. A mistura do objetivo e do subjetivo nesse ambiente “psicoplástico” é um aspecto essencial de nossa condição de desencarnado. O “despertar completo” é uma experiência calma e liberadora. Você se sente feliz de deixar o corpo, talvez até dê uma rápida olha­ da nele, mas seu coração vai para as pessoas que conheceu no passa­ do e que morreram anteriormente. Com um sentimento de reconhe­ cimento e profunda felicidade, e com a sensação de estar voltando ao lar, você une-se a eles num ambiente brilhante e muitas vezes se­ melhante a um parque, e deixa este mundo físico. Uma remigrante experiencia-se como a esposa de um magistra­ do de uma cidade de província, no começo da Revolução Francesa. Uma multidão excitada arrasta-os para fora de casa, mata o marido e leva os dois filhos, um menino e uma menina, para trabalharem como escravos. Ela é deixada na rua sem coisa alguma, perde os sen­ tidos e é incapaz de fazer qualquer coisa; acaba vagando pela estra­ da. Depois disso ela se torna uma mendiga, bebe muito e é violentada. 207 até ficar esgotada e acabada. Seus únicos momentos humanos são quando pensa no marido e nos filhos, e sente uma dor cruciante no coração. Mais tarde ela morre à beira de uma estrada. Um homem mexe nela para ver se ainda está viva, mas ela não responde mais. Então, de repente, começa a sentir incrivelmente aliviada e se des­ prende. Vê a brilhante figura do marido, e eles abraçam-se por um longo e silencioso período; ela se sente consolada e curada. Durante sua vida presente, sem perceber, tinha trabalhado numa bem-sucedida síntese de grande dama com uma pessoa simples e trabalhadora. O trabalho de Crookall oferece uma estrutura para interpretar as diferenças entre as experiências de morte. Com o completo des­ pertar, o corpo psíquico deixa a concha etérica praticamente no mesmo instante. Na passagem, o corpo psíquico está demasiado fraco ou subdesenvolvido para desapegar-se do veículo de vitalidade mais forte. A auto-sugestão pode amplificar isso: você sabe que está morto e não experiencia mais nada. Todas as experiências de morte em que alguém permanece mais ou menos apegado ao lugar ou à Terra, co­ mo fazer ponto, vagar e obsedar, indicam que o veículo de vitalida­ de não foi abandonado ou foi apenas em parte. O mesmo é verda­ deiro para o falecido que termina numa existência crepuscular. Se as pessoas vagam e não percebem que morreram, o corpo etérico pode, todavia, ser grandemente desintegrado. Resta apenas um mínimo de “equipamento de mergulho” para manter contato com o mundo ma­ terial. No despertar consciente, o corpo psíquico é liberado; na pas­ sagem, ele permanece imerso no veículo de vitalidade; e em todas as situações semelhantes aos sonhos, o corpo psíquico percebe seu ambiente através dos filtros do veículo de vitalidade. O papel da intermissão no ciclo reencarnatório As diferentes experiências pós-morte e pré-natais estão relacio­ nadas entre si. Pessoas que despertam completamente fazem conta­ to real com outros mortos. As experiências discutidas no capítulo anterior, tais como deliberar com outros e receber conselhos, pres­ supõem um despertar completo. Pessoas que sonharam experimen­ tam o nascimento como um processo natural involuntário; elas são sugadas, carregadas ou sentem algo como um vento. Aquelas que simplesmente faleceram e dormiram não se lembram de qualquer exis­ tência pré-natal. Pessoas que obsediam podem ter consciência de en­ trar num corpo. Aquelas que vagueiam terão antes que se tornar cons­ cientes de sua condição ou ficarão cada vez mais sonolentas e obser­ varão, com certa surpresa, que estão dentro de uma nova criança. 208 Muitas vezes as almas vagantes instintivamente procuram um corpo vivente, devido à sensação de extravio que sentem. Que implicações têm essas diferentes experiências de morte pa­ ra o processo da reencarnação? A principal função do despertar com­ pleto é que a vida passada pode ser avaliada e a vida vindoura, pre­ parada, ao conferenciar com outros, receber conselhos, orientação e algumas vezes apoio. De acordo com Whitton (1986), uma “junta de julgamento” , geralmente composta de três, quatro ou até sete jui­ zes, auxilia as pessoas a avaliarem sua vida passada e faz recomen­ dações para a próxima vida. Quando alguém está consciente de si mesmo entre as vidas, con­ tinua a viver, aprender e encontrar os outros. Edgar Cayce dá o exem­ plo de um casal que reencarnou repetidas vezes como marido e mu­ lher (Cerminara 1950). O homem era dominador e a mulher, servil e submissa. Em sua mais recente intermissão, a mulher finalmente desenvolveu sua independência e foi capaz de romper o círculo vi­ cioso. A aprendizagem desencarnada é baseada nas experiências en­ carnadas, e leva a motivos e planos para a encarnação vindoura. Por outro lado, a passagem é uma conseqüência natural da autoconsciência ainda demasiadamente fraca para-manter-se fora de um corpo. Muitas pessoas só podem experienciar a si mesmas por­ que elas se sentem, vêem-se no espelho, ouvem-se falar, são aborda­ das por outros. Você percebe que existe porque topa com objetos, sente dor em algum lugar, fica cansado, é beijado ou tem de pagar um imposto. Tudo isso desaparece quando se morre. Uma função positiva da passagem é levar ao esquecimento, capacitando a pessoa a começar outra vez. As condições entre a passagem e o despertar são mais comple­ xas e geralmente patológicas. A conseqüência principal de ficar fa­ zendo ponto é que nada é descarregado, nada é preparado, e a vida seguinte ocorre razoavelmente perto do local da última morte. A vi­ da de sonho, ou vagar, pode em alguma medida digerir a vida passa­ da, mas não proporciona a preparação, e leva a uma nova encarna­ ção próxima ao local da anterior, com grande chance de nascer nu­ ma família de amigos ou de parentes da vida anterior. O mesmo é válido para a condição que eu, desrespeitosamente, chamei de obsedante, mas que pode ser pacífica e confortável. Nesse caso, a esco­ lha dos pais é consciente. Nas condições psicodramáticas da existência crepuscular e da pseudo-existência, peculiaridades psíquicas determinam a área da ex­ periência. Isso significa que elas estão perto de ser solipsistas e, para quem vê de fora, autistas. A pseudo-existência é em grande parte uma compensação. As pessoas experimentam o que querem experimentar. 209 como uma gratificação. O lado bom disso é que ajuda a cura. Al­ guém que tinha frio sente-se maravilhosamente aquecido. Alguém que era pobre cerca-se de conforto e luxúria. Alguém que estava preso caminha livremente num cenário belo e natural, em cidades exóticas e interessantes. Alguém que estava doente e fraco sente-se heroica­ mente forte e saudável. O outro lado disso é evitar o desenvolvimen­ to e o desafio que se seguem. Tirar férias é bom, mas se forem muito longas, pode ser cada vez mais difícil retornar ao trabalho. Algumas vezes a existência crepuscular pode ser corretiva, es­ pontânea ou planejada. Joan Grant dá alguns exemplos chocantes (Grant 1937). Se alguém torturou pessoas em muitas vidas, e após a morte continua insensível à infelicidade que causou, uma reabili­ tação forçada será exigida. A experiência é a melhor professora. Ex­ perimentar a tortura ou ver seus entes queridos serem torturados tor­ nará mais difícil, posteriormente, permanecer indiferente ao sofri­ mento alheio e a esquecer que são todos companheiros humanos. Is­ so significa que todo torturador terá de ser torturado na próxima vida? Não causaria um círculo infindável? Uma alternativa, portan­ to, é confinar alguém na ilusão de que está sendo torturado durante uma existência crepuscular, até que a lição seja aprendida. Com pes­ soas teimosas e rígidas isso pode levar muito tempo. A longa dura­ ção é porque as experiências vividas sem um corpo causam impres­ são mais superficial e menos duradoura do que as experiências físi­ cas. É como se trabalhar com uma lixa fina e alisar com plaina fina. Essas situações me fazem lembrar da história de Roald Dahl (uma das poucas verdadeiras) sobre um homem que encontrou o famoso tesouro de Mildenhall. Ele não quer comunicar às autoridades sobre seu achado e prefere comprar uma caixa de polidor de prata para começar a limpar a oxidação acumulada em dezesseis séculos. De­ pois de mais de dezesseis semanas polindo um prato, aparece o pri­ meiro sinal da prata. Durante dois anos poliu todas as noites, mas enfim chegou lá (Dahl 1977). Um exemplo de uma longa e repetitiva “experiência sepulcral” é o de um homem que parece ter praticado vivissecção em bebês e crianças, algumas vezes na presença da mãe. Após sua morte, ele se encontra numa paisagem cinza e vulcânica como uma criança que chora e grita, que está desidratada e faminta, jogada numa mesa de pedra dura e áspera, ouvindo seu próprio choro. Vê um homem mons­ truoso inclinado sobre ele com garras afiadas e sorriso sádico. Sente um fogo saindo de seu rosto e cortes profundos, como se uma garra fria como um punhal o cortasse em fatias. Quando perde a consciên­ cia, vê-Se novamente nos braços de sua mãe, chorando de sede e fo­ me; é então retirado dali e a cena recomeça. Aparentemente esse ci­ rurgião fazia “pesquisas” sobre as conseqüências da fome e da de­ 210 sidratação nos tecidos de crianças. Após muitos anos, a situação mu­ da. Agora ele experiencia-se como a mãe. A mesma cena acontece, mas numa caverna quente, seca e sem saída. A mãe está esgotada, enfraquecida física e psicologicamente, e é obrigada a ver seu filho ser levado e ser rasgado. Repetidamente. Essas duas situações jun­ tas duraram mais de quinze anos, com pequenas interrupções nos curtos períodos de inconsciência. Então ele volta a se ver como um homem. Uma longa extensão de urzes forma uma trilha estreita que passa no meio de uma floresta escura. O céu é sombrio e opressivo, e uma luz fraca e descorada imprime um brilho surrealista à cena. Uma mulher pobremente vestida caminha pela trilha com um xale cobrindo-lhe a cabeça. Apavorada e lamurienta, anda inclinada para a frente, apertando uma pequena criança contra o peito. Ele caminha atrás dela, nu e de mãos vazias. A horrível opressão torna-se cada vez mais intensa, até que um mons­ tro ataca a mulher e a criança. A única coisa que ele pode fazer é tentar salvar a mulher, atirando-se entre ela e o monstro. Sua tentativa é inútil, e ele é despedaçado com uma terrível dor. Ele percebe sua impotência e incapacidade, até que, por fim, perde a consciência. No mesmo instante, sente-se novamente atrás da mulher e a terrível opressão aumenta outra vez. Isso se repete várias vezes. Depois de uma eternidade, como uma graça incompreensível, alguém que está atrás dele, e que não pode ser visto, põe um manto leve em volta de seus ombros e dá-lhe um bastão branco de madeira. Ele tem a vaga impressão de que à medida que o tempo passa, o bastão vai ficando mais firme e suas roupas vão se tornando mais protetoras; depois de outra eternidade, ele chega ao fim dessa estrada com a mu­ lher e a criança. A duração dos pesadelos não é proporcional à punição, mas re­ sulta da relação entre a rigidez e a espessura da capa que cobre o corpo etérico e do efeito purificador da experiência (puramente psí­ quica). Felizmente a existência crepuscular raramente é tão extrema quanto essa, mas também os atos precedentes dificilmente são tão extremos. Dei esse exemplo exatamente por ser tão extremo, e o me­ canismo de reabilitação, tão explícito. Ao final da estrada, o homem tem a impressão que pôs o braço em volta da mulher. Parece, então, que ele se torna um com ela e com a criança, e percebe a si mesmo seguro e aquecido num novo útero. O que acontece com as vítimas de tortura? A dor, e mais o in­ tenso desespero, ódio ou culpa (por exemplo, se você traiu alguém), e uma mente perturbada podem dificultar que uma pessoa volte pa­ ra si mesma após sua morte. Contudo, alguém que morre com uma mente intocada, imediatamente se desapega do destino do corpo que ficou para trás. 211 Uma remigrante experimenta ser capturada num grupo de ou­ tros suspeitos de heresia e bruxaria. O guarda dos prisioneiros os ater­ roriza com seu comportamento e temível aparência. Ela, contudo, não sente o menor medo ou espanto, principalmente porque ouviu de uma fonte segura que sob aquela aparência ele é um homem im­ potente. Diante dos outros prisioneiros, ela ri e zomba da impotên­ cia dele. Furioso, ele a arrasta para uma cela separada e a visita à noite. Ela o menospreza novamente, e ele a derruba, batendo sua cabeça no chão, e depois corta-lhe os braços e pernas com um ma­ chado; um horrível, porém ainda infrutífero substituto para a ere­ ção. A remigrante diz que estando próxima do corpo, continua rin­ do da estupidez daquele homem. Por outro lado, há vezes em que alguém fica retido numa morte tranqüila e normal. Revelou-se que uma paciente claustrofóbica foi enterrada em sua vida passada, mas estava tão identificada com o corpo que tinha (embora estivesse fora dele) que a sensação era de estar sendo enterrada viva. Isso também pode acontecer nas crema­ ções. Edith Fiore encontrou uma experiência de cremação como sendo a causa das reclamações de uma paciente que sempre se sentia quen­ te e nervosa. Outra paciente, que tinha horror a rosas, vê e sente o cheiro de seu próprio corpo e o de outros decompondo-se num cam­ po de concentração, o que produzia um odor doce semelhante ao de rosas (Fiore 1978; 230). O que isso significa para a velha questão; sepultamento ou cremação? Para as pessoas que despertam comple­ tamente não é importante o que acontece com os seus corpos. No sepultamento, algumas sobras do veículo de vitalidade pairam aci­ ma da sepultura por algum tempo e lentamente se desintegram. Na cremação, a conexão entre o etérico e o material é queimada e talvez um remanescente da concha etérica vague mais livremente. Raramente têm importância os pólipos em decomposição ainda apegados a algo ou flutuando. Contudo, quando uma pessoa continua a identificarse com o corpo e se projeta nele espacialmente, as experiências são desagradáveis. Todavia, isso é válido para bem menos que um por cento dos casos. Pessoas que tiveram morte traumática são às vezes levadas por outros a uma pseudo-existência curativa. Numa renovação dessas é possível uma mudança gradual até o completo despertar. Sem dúvi­ da, depois disso elas entram para a nova vida cujo fardo é menor. Joan Grant dá alguns exemplos disso em seus livros. Um terapeuta pode incluir essa renovação durante a sessão. Pessoas que estão apri­ sionadas, ou que se aprisionaram num pesadelo ou num sonho ne­ gativo, vivem no mundo ilusório de sua própria consciência. Um am­ biente verdadeiramente curativo é no máximo semi-ilusório, pois a 212 crescente presença de outras pessoas e o contato com elas são essen­ ciais para a recuperação. Muitas das outras condições de sonho, como a existência cre­ puscular, fazer ponto ou vagar, são simplesmente negativas. São for­ mas de “ degradação da consciência” , um desperdício de tempo e de energia. É um quadro deprimente e vil a heterogênea coleção de es­ píritos em volta de pessoas físicas, objetos ou situações, que espan­ tam ou se arrastam desanimadamente. De acordo com Netherton, uma parte do medo da morte pode ser explicada devido a ela trazer de volta as associações de todas as experiências anteriores de morte; “Ela desencadeia a repetição” , ls­ so é particularmente desagradável com mortes traumáticas e inespe­ radas. Contudo, muitas experiências de morte são tão tranqüilas e liberadoras (geralmente morrer é mais agradável do que nascer) que a explicação de Netherton pode ter validade apenas parcial. Talvez ele tenha essa impressão porque a maioria de seus pacientes teve ex­ periências de morte traumáticas. Além do mais, elas podem se repe­ tir, talvez, pela reestimulação. Um dos pacientes de Netherton sem­ pre ficava em torno do lugar de sua morte, até que o corpo se de­ compusesse (Netherton e Shiffrin 1978; 59). Também encontrei es­ sas repetições. Uma morte fácil ou difícil pode estar relacionada a um nasci­ mento fácil ou difícil. Afinal de contas, como alguém nasce é um indicador importante para a sensibilidade subseqüente ao estresse. Como a morte pode causar muito estresse, um nascimento difícil e doloroso pode aumentar a chance de uma morte similar. Como foi mencionado no capítulo 4, muitos dos falecidos não acreditam na reencarnação. Se eles têm alguma visão de perspecti­ va, vêem um mundo brilhante acima do mundo crepuscular. Esse mundo tem várias gradações de realidade e de entendimento huma­ no. Eles podem ver os estágios subseqüentes, mas não o retorno. O escritor do diário The Boy Who Saw True (Spearman ed. 1953) dis­ cute isso com seu avô falecido. Leitura adicional O autor mais importante sobre este assunto é o já freqüentemente mencionado Robert Crookall (1961, 1965, 1966, 1967, 1978). Nos últimos anos muito tem sido publicado sobre a morte clínica tempo­ rária. Dos livros com que estou familiarizado, prefiro o de Raymond Moody (1975, 1977) e o de Dave Wheeler (1977). São virtualmente ilimitadas as testemunhas espiritualistas sobre o assunto. Informações 213 razoavelmente vastas podem ser encontradas em Tenhaeff (1936). Ou­ tros livros foram mencionados nas referências do capítulo 4. As experiências de morte durante a regressão podem ser encon­ tradas de forma dispersa na literatura de regressão. Joan Grant dá muitos exemplos de condições patológicas dos falecidos e de inter­ venções terapêuticas dos viventes (Grant 1937; Kelsey e Grant 1967). Ela também dá um bom exemplo de uma existência de sonho, na qual a pessoa envolvida só se torna consciente de sua verdadeira condi­ ção depois de um longo período (Grant 1947). 214 9. Experiências insólitas: o passado distante, o futuro, experiências não humanas Este capítulo revê as experiências que são menos comuns, que têm conteúdos excepcionais e que, se forem reais, têm grandes con­ seqüências nas visões que temos da humanidade. São experiências de baixa credibilidade, mas de muito interesse. Se elas tivessem sido reveladas como não sendo memórias reais de encarnações passadas, também poderiam levar a explicações alternativas para as memórias aparentes de vidas normais. Historicamente, as regressões são mais interessantes quando de­ talham eventos e condições de vida em épocas importantes sobre as quais pouco sabemos. Como mostra a pesquisa de Wambach (1978), quanto mais os remigrantes recuam no tempo, mais primitivas são as circunstâncias. Mas há exceções. Alguns de seus sujeitos volta­ ram a vidas na América do Sul, por volta de 2.000 a.C., e descreve­ ram uma civilização bastante avançada. Há exemplos de regressões a vidas numa civilização superior, muito anterior, associadas à Atlântida. Edgar Cayce também menciona a Atlântida, em geral como o primeiro ambiente numa série de vidas. Suas afirmações estão cole­ tadas no Edgar Cayce on Atlantis (Cayce 1968). Ainda mais interes­ sante é a descrição que os remigrantes fazem de vidas em outros pla­ netas. Ao lado das vidas num passado distante, ou em outros plane­ tas, estão as experiências de pessoas que se descrevem como animal e mesmo como planta. Na mesma categoria enquadram-se as expe­ riências de “vidas” como pedras ou objetos. Na cientologia ocor­ rem ainda regressões como robôs. Depois há as experiências quasehumanas como um humanóide desencarnado, por exemplo, um de­ va ou espírito da natureza. Finalmente, há uma categoria à parte de 215 impressões do futuro. Aparentemente é possível não só a regressão, mas também a progressão. Mesmo aceitando essas experiências excepcionais, cheguei à con­ clusão experimental de que um grande número delas não é o que apa­ renta ser. O leitor que não acredita na reencarnação, mas que conse­ guiu chegar até aqui, ficará feliz de notar que até minha credibilida­ de tem limites. A rejeição que tenho por algumas experiências como evidências de vidas passadas pode ser tão preconceituosa quanto minha aceita­ ção de outras experiências. Contudo, a interpretação que faço de re­ gressões é baseada em analogias com outras experiências parapsicológicas, e meu tratamento crítico é, espero, baseado em considera­ ções empíricas e racionais. Memórias do passado distante, ciVilizações mais avançadas e outros planetas Quando os remigrantes regridem para vidas bem antigas, onde vão parar? A teoria da evolução aceita nos faz esperar vidas primiti­ vas, talvez como macacos ou mesmo como animais menos evoluí­ dos. Uma teoria comum nos círculos espirituais sustenta que as pes­ soas descenderam de civilizações superiores, como a de Atlântida, a qual, de acordo com alguns, pode ter sido colônia de outros plane­ tas. O material publicado até o momento e as regressões a vidas pas­ sadas com que estou familiarizado não têm uma resposta definitiva. Encontramos encarnações primitivas e indicações de encarnações ani­ mais prévias, tanto quanto indicações de civilizações superiores, via­ gem espacial e outros planetas. O conceito teosófico é que as almas humanas desceram de um mundo espiritual para corpos de primatas e se enredaram neles. As experiências de Pieter Barten são interessantes nesse contexto (TenDam 1982). Remigrantes que revivem suas primeiras vidas vêem gran­ des e peludos homens-macacos andando de quatro. Então, uma al­ ma humana etérica desce neles e por um curto período eles passam a andar na vertical. Quando a energia se esgota para a posição verti­ cal, a alma deixa o corpo, sobe e tem uma gloriosa visão de uma bela paisagem. E sabe que essa visão vem de algum plano superior. A alma ainda mantém contato com essa origem, mas não pode re­ tomar, “como se houvesse no meio uma matéria plástica dura e trans­ parente” . Ao recarregar, a alma retorna ao corpo do primata, que volta a andar na vertical por algum tempo. Numa reencarnação se­ guinte, talvez muitos milhares de anos mais tarde, a alma humana 216 ainda precisa partir para recarregar. Nesse período em que ela está fora do corpo não vai mais acima que as copas das árvores; nesse meio tempo o homem-macaco dorme sob uma árvore ou numa ca­ verna, esperando o retorno da alma recarregada. A conexão entre a alma humana e o corpo animal, então, já se tornou mais íntima. Essas imagens dão a impressão de que a evolução natural resulta em corpos que estão prontos para receber almas humanas. Antes disso, aparentemente habitamos de modo permanente num mundo espiritual. Quando os remigrantes recuam muito no tempo, parece que vão parar em corpos humanos sucessivamente mais primitivos, e depois disso parecem emergir de um estado desencarnado cujo princípio é desconhecido ou de vidas animais, especialmente quando se perse­ gue a origem dos traumas. Talvez esses sejam dois diferentes desen­ volvimentos precedentes para que as almas se tornem humanas; um que se origina do reino espiritual e o outro, do reino animal, lsso pressupõe a reencarnação pelo menos nos animais superiores. A idéia contradiz a hipótese da alma grupal defendida por algumas escolas esotéricas, mas é consistente com médiuns e clarividentes que obser­ vam com freqüência animais de estimação já mortos próximos a seus antigos donos. Aparentemente os mamíferos sonham tanto como os humanos. Desde que os sonhos estão fortemente ligados às experiên­ cias de regressão e à relação entre a alma e o corpo, isso indica, indi­ retamente, que os mamíferos podem ter almas individuais. Os pás­ saros têm sonhos com a duração de cerca de um segundo (Sagan 1977). A individualização pode começar aí. Charles Fourier (1772-1837) acreditava que reencarnamos neste planeta até irmos todos para um outro planeta (Head e Cranston 1977; 291). Os informantes de Allan Kardec dizem que vivemos anterior­ mente em outros planetas e mais tarde poderemos viver em mais ou­ tros. Pessoas de planetas avançados podem descer ao nosso planeta para experimentar desafios mais simples ou para estimular nosso de­ senvolvimento. Quanto a nós, podemos atingir condições mais avan­ çadas depois que evoluirmos o suficiente aqui. Edgar Cayce tinha uma concepção semelhante. Violet Shelley coletou declarações de de­ zoito leituras que a levaram à conclusão de que a reencarnação não é necessária. Contudo, a maioria dessas leituras apenas indica que alguém não precisa retornar a “ esta terra” . Um exemplo; “ Na vida presente, as habilidades existentes podem apenas ser ampliadas. Não é necessário retornar a esta terra para ganhar experiência, a não ser que a pessoa em questão o deseje” . Portanto, o título do livro de Shelley, Reincarnation Unnecessary, é enganoso (Shelley 1979). Muitos remigrantes relatam experiências em civilizações préhistóricas avançadas. São experiências geralmente identificadas com 217 a Atlântida e, ao menos em alguns lugares e em algumas épocas, a civilização da Atlântida é vista como em contato com extraterres­ tres. Por outro lado, as instruções para retornar à Atlântida levam a situações diversas. Nosso subconsciente também parece interpre­ tar a palavra “planeta” não apenas como um planeta astronômico, mas também como um estado desencarnado ou qualquer outra rea­ lidade paralela. Alguns remigrantes podem ir para planetas como Mar­ te, Vênus ou Urano, mas suas descrições tornam absolutamente cla­ ro que eles não são os astronômicos. Essas experiências podem ter algum significado, mas deveríamos ser cautelosos ao usar nomes co­ mo “Atlântida” ou “Urano” em induções regressivas, ou a interpretálos como ambientes físicos de vidas passadas. Pieter Langedijk encontrou experiências de civilizações superiores em outros planetas ao mandar as pessoas de volta a sua primeira en­ carnação (Langedijk 1980). Essas experiências muitas vezes asseme­ lham-se ao estado desencarnado. Um mundo chamado Urano, de­ pois de um questionamento posterior, revela-se como sendo um am­ biente não-físico. Segundo alguns remigrantes, os humanos encar­ naram pela primeira vez na era da Atlântida. Outros lembram-se de vidas em colônias de origem extraterrestre que estimulavam as pes­ soas primitivas deste mundo em seu desenvolvimento, em geral uma tarefa difícil. Barten conta de alguém que pertence a uma sociedade espacial numa encarnação em Atlântida, e deixa seu corpo ao inspe­ cionar o desenvolvimento dos lemurianos primitivos locais (TenDam 1982). Netherton supõe que a maioria das pessoas que se lembram de outros planetas, lembram-se na verdade da Atlântida. Os remigrantes de Hubbard e os de outros que trabalham com métodos semelhantes deparam-se com freqüência com vidas em so­ ciedades tecnologicamente avançadas, algumas vezes em outros pla­ netas, quase como numa ficção científica. A cientologia é, provavel­ mente, a mais nova fonte de regressão a vidas em outros planetas, em geral há milhões e até bilhões de anos. Até o momento, a ciento­ logia é a única “escola” familiarizada com esses casos. Isso se deve à prática de datar com rigor o princípio e o fim de cada experiência traumática. O remigrante tem que dar datas em “respostas relâmpa­ gos” , e o terapeuta checa-as com o E-meter. As experiências que parecem ser da Atlântida, extraterrestres, uma ficção científica ou fase desencarnada são freqüentes em regres­ sões a vidas de mais de dez mil anos atrás. Reviver vidas em corpos humanos primitivos é menos comum, mas alguns remigrantes regri­ dem a condições primitivas que datam até da época dos dinossau­ ros, com um corpo aparentemente atual. O húngaro Mockry-Meszaros pintou suas memórias pré-históricas e cenários que lembram o prin­ 218 cípio da terra, na Era Glacial. Antes disso, teve memórias do sub­ mundo de um outro planeta. Suas pinturas foram compradas por, entre outros, Maxim Gorki (New York Times, 9 de fevereiro de 1930). Goldberg sugere que entre 100.000 e 50.000 anos atrás, muitas al­ mas de outros planetas começaram a encarnar aqui (Goldberg 1982; 45). Outro com uma história parecida com a de Von Daeniken é al­ guém que experiencia a si mesmo durante a regressão como um tra­ balhador de construção de pirâmide. Descreve os supervisores como pessoas de mais de dois metros de altura, com cabeças grandes e de­ dos longos. Eles não falam, mas dão ordens telepáticas (Goldberg 1982; 90). As regressões à época das pirâmides parecem diferir qua­ se tanto quanto as do tempo de Jesus. A sensação parece, na verda­ de, tornar a recordação inconfiável. Monroe encontrou três ambientes diferentes depois que deixou seu corpo. O primeiro ambiente foi nosso mundo físico, mas visto e explorado sem um corpo. O segundo foi como um mundo de so­ nho e correspondia ao mundo astral dos ocultistas. Houve vezes em que Monroe foi parar num terceiro mundo, o paralelo. Depois de atravessar algumas telas verticais, ele segue em velocidade, por longo período, através de um espaço negro, e todas as vezes ia parar na mesma pessoa que parecia ser uma outra vida num planeta bas­ tante semelhante ao nosso. Todas as vezes ele ficava desorientado, pois não tinha idéia do que ocorria pouco antes de sua chegada. Ao retornar periodicamente, percebia que o homem em quem entrou pas­ sava dificuldades na vida pessoal e nos negócios, devido a esses es­ tranhos períodos de desorientação. O outro mundo de seu “ ambien­ te 111” era real, físico e consistente. Praticamente dá a impressão de uma encarnação paralela num outro planeta (Monroe 1977). Vidas antigas nos primórdios do desenvolvimento humano, “ quando o mundo ainda era jovem” , são lembradas como memó­ rias da infância. As regressões tornam-se cada vez mais abertas e am­ plas, cada vez menos detalhadas, até atingirmos condições nas quais dificilmente podemos entrar, como se tivéssemos esquecido nossa pri­ meira infância como alma humana, como se tivéssemos um primei­ ro momento em nossa evolução e também como se pudéssemos nos agarrar às memórias reais como um ego. Atrás dessa fronteira estão somente vagas impressões e detalhes fugazes que só emergem devido às reestimulações posteriores. As encarnações humanas mais anti­ gas são grandiosas e amplas, mas também ardentes e infantis. Quando as pessoas vão ao futuro, algumas vezes param em con­ dições vagas, indefiníveis e raramente físicas. De acordo com os in­ formantes de Kardec, nossas últimas encarnações aos poucos foram se transformando num estado desencarnado permanente. É gradual a 219 transição de nossas últimas vidas e as intermissões, “como a escuri­ dão da noite mudando para o raiar da aurora” . Helen Wambach, Leo Sprinkle e Chet Snow fizeram progressões para os próximos sé­ culos em centenas de sujeitos. Até o momento os resultados foram publicados apenas em parte (Snow 1986b). Encarnações não humanas Historicamente, uma das maiores disputas entre os que crêem na reencarnação gira em torno de as pessoas retornarem ou não a corpos animais. Em outras palavras, há reencarnação ou metempsi­ cose? As regressões a vidas animais não são comuns, comparadas àquelas de vidas humanas, porém há exemplos de memórias espon­ tâneas e de regressões. Ian Stevenson encontrou alguns exemplos (1977; 7; 1983: 6, 167). Ron Hubbard dá alguns exemplos de encar­ nações animais (Hubbard 1958). Uma garota psicótica lembrou-se de ser um leão que comeu um funcionário do zoológico. Após o tra­ tamento costumeiro para essas experiências, ela estava curada. Ou­ tro exemplo é o de um remigrante que descreve ser atirado de uma espaçonave que sobrevoava o oceano. Uma enorme arraia come seu corpo. Ele, então, se experiencia como aquela arraia. Morris Nether­ ton, ao capturar cadeias traumáticas, normalmente encontra o pro­ blema básico como sendo o ferimento traumático ou a morte de um animal. Contudo, não encontra ninguém recaindo a vidas animais durante as cadeias traumáticas (Netherton e Shiffrin 1978; 183). De acordo com Joe Fisher (1985; 136), muitos dos sujeitos de Joe Keeton regridem a vidas animais, e Helen Wambach (1978) também tem alguns sujeitos que se vêem sobre quatro pernas. Penkala dá o exemplo de um escravo chinês que se aproxima da mãe do governador e pergunta se, quando ela era uma garotinha, tinha uma raposa selvagem como animal de estimação, e se usava uma anágua amarela sob sua vestimenta listrada de vermelho e branco. Diante da confirmação, ele disse ter sido essa raposa. Tinha conse­ guido escapar e vivido numa velha sepultura, até que um caçador o matou. Depois disso, encontrou o “Senhor do Outro Mundo” , que lhe disse que ele não era um pecador e que deveria ter um corpo hu­ mano. Ele renasceu como um mendigo e morreu de fome e miséria aos vinte anos de idade. Depois disso, apareceu em frente do mesmo senhor, que disse que ele seria um escravo na casa de uma pessoa proeminente e notável; ser escravo não era bom, mas ao menos ele não seria miserável e faminto (Penkala 1972: 49). 220 Langedijk encontrou um menino norte-americano que pensava ter sido um hipopótamo numa vida passada. Ele aparentava ter tido muitas vidas como humano, e simplesmente quis ser esse animal por uma vez para experienciá-lo (Langedijk 1980; 114). Mareia Moore deparou-se com duas memórias de animais entre centenas de pessoas. Uma mulher pensava ter sido um gato num templo, e um homem pensava ter vivido como uma coruja (Moore 1976; 235). Lenz en­ controu seis pessoas, ou 5% de seus casos, com encarnações animais anteriores a encarnações humanas. Seus exemplos são uma coruja, um outro pássaro, uma tartaruga e uma baleia. De acordo com Seth, a alma humana encarna simultaneamente num corpo humano e em um ou mais corpos animais de espécies diferentes. Tais encarnações paralelas nunca surgiram em regressões (embora os que acreditam em Seth possam ter essas impressões) (Roberts 1972). Margot Klausner descreve sua memória mais antiga, de talvez cem mil anos atrás, como sendo um tipo de flor que cresce sobre uma rocha. Ela ainda não era uma flor real, mas uma planta sem caule mais primitiva. No lugar de folhas, tinha um tipo de limo, e as péta­ las eram ásperas e espinhosas. O miolo da flor era amarelo-dourado e as pétalas, de cor violeta. Ela descreve a si mesma cercada de mui­ tas dessas flores, no topo de uma alta montanha. Mais tarde, perce­ be ser tudo isso em algum lugar da Atlântida, e descreve brevemente o desenvolvimento da humanidade nesse continente. Aparentemen­ te ela teve vidas humanas no lugar onde primeiro foi uma flor (Klaus­ ner 1975). Experiências como plantas são raras. Há quem se lembre de uma vida como uma árvore (Pisani 1978). Por estranho que pareça, são mais comuns “encarnações” co­ mo pedras ou objetos. Alguém sente que é uma estátua de pedra na base de uma escada, esculpida a partir de uma rocha. Mais tarde, revela que foi morto por sacerdotes numa cerimônia hipnótica. Ele se sente sendo aprisionado dentro da pedra, perto dessa escada. Só é libertado quando terremotos e erosões arrebentam e desmoronam a escada. Um remigrante descreve uma vida como um egípcio proe­ minente e robusto que dominava muitas pessoas e que liquidava seus oponentes. Os sacerdotes pareciam interessados nessa poderosa per­ sonalidade e manipularam-no com rituais hipnóticos. Durante um outro ritual eles o mataram e colocaram sua alma numa lamparina cerimonial, com a instrução de “iluminar para sempre os portões do Senhor da Escuridão” . Sua consciência recolheu-se dentro da lam­ parina. A próxima coisa que ele sabe é que a lamparina estilhaçou-se em algum lugar da França no século XVI. Aparentemente, seu esta­ do de inconsciência durou 4 800 anos (Hubbard 1958). A cientolo­ gia também fala de pessoas arrancadas de seus corpos por máquinas 221 de hipnose tipo ficção científica, e que, em seguida, foram coloca­ das numa garrafa ou vaso, ou implantadas num robô. Algumas pessoas originalmente podem ter sido devas, espíritos da natureza semelhantes aos anjos, que aparentemente se desenvol­ vem de uma maneira paralela à nossa evolução. Eles vêem pessoas, porém dificilmente as notam. Presumivelmente alguns devas assu­ mem a forma humana, talvez por interesse ou simpatia, talvez até por uma relação pessoal com alguém. Essas idéias, popularizadas pela teosofia, parecem especulativas, porém um razoável número de re­ gressões parece indicar a preexistência como um deva. As pessoas que podem originalmente ter sido devas tendem a sentir a vida e a morte de maneira diferente. Elas são menos apegadas à vida aqui e têm menos medo da morte. São idealistas, sensíveis à natureza e à beleza e com tendência à clarividência, sem afinidades com políti­ ca e negócios. São o tipo de pessoa que os alemães chamam Schoengeister. O autor do livro The Boy Who Saw True (Spearman ed. 1953) descreve ter visto um deva na aura de alguém, e mais tarde seu guia lhe diz que ele próprio uma vez foi um deva. Embora estranha, mui­ tas regressões sustentam essa teoria. É possível que haja também mais espíritos primitivos da natureza que podem ligar-se à nossa evolu­ ção. Há evidências esporádicas disso. Finalmente, há os interessantes exemplos de “ pessoas de luz” , que experienciam a elas mesmas antfes de sua primeira vida sobre a Terra como seres abstratos e de energias geométricas. Sofrem pres­ são para encarnarem na Terra (Goldberg 1982; 81). Eu me referiria a essas coisas como sendo contos fictícios, caso não soubesse de ex­ periências similares na prática de colegas e em minha própria práti­ ca. Wambach teve achados semelhantes nessa direção (Wambach 1979; 50, 58). Goldberg diz algumas coisas sobre o assunto, mas que dificilmente parecem plausíveis. Parece-me que nesses casos estamos nas fronteiras de nossa imaginação. Identificação em Vez de encarnação Quando uma alma se torna humana, pode ainda ter vidas ani­ mais? Essa degradação evolucionária parece improvável, porém ex­ periências como animais são incidentalmente relatadas. Contudo, pode haver uma explicação mais provável para isso do que reencarnações animais. O capítulo 8 deu muitos exemplos de pessoas que permane­ cem fixadas no ambiente material por ligações etéricas ou mentais. Elas despertam de modo incompleto, o que impede a liberação e o encontro com outras pessoas. Essas pessoas muitas vezes fazem ponto 222 ou vagam, e percebem indistintamente o mundo físico. Aparentemente elas podem entrar, pelo menos espacialmente, em pessoas viventes que permanecem inconscientes disso. Colocam-se no mesmo lugar, no espaço tridimensional, porém uma distância permanece na quar­ ta dimensão, o que vem a ser o “transpasse” . Não há contato recí­ proco, como na obsessão. Aparentemente as pessoas também podem se sentir em objetos, algumas vezes identificando-se hipnoticamente com o objeto até que ele se quebre. O exemplo do homem que é atormentado por senti­ mentos de culpa e rejeição indica que alguém pode ficar retido sem uma contraparte material específica. Nada disso é reencarnação, onde se nasce num organismo físico com sentidos, nervos e tudo mais; um organismo no qual se é autoconsciente e ativo. Uma alma retida numa lamparina ou numa está­ tua é psicótica. Freqüentemente ela fica ali devido a alguma “ magia negra” , para causar medo e espanto nas pessoas. Os animais tam­ bém reagem a esses objetos assombrados. De uma maneira semelhan­ te, alguém que flutua sem destino pode ser atraído para qualquer entidade física que ofereça abrigo. Ele pode apegar-se a uma rapo­ sa, um pássaro ou qualquer animal com que sinta afinidade, mas tam­ bém a uma pessoa viva. Pode ficar seguindo o animal ou a pessoa, identificando-se e mesmo fazendo algum contato (“rastejando-se para dentro da aura”). Com animais isso é apenas parcialmente possível, e com freqüência patológico, a menos que seja uma escolha cons­ ciente como uma experiência educacional ou algumas vezes terapêu­ tica (uma estranha forma de férias). A história do homem que cai no mar e é comido por uma arraia prova quão patológico isso pode ser. Subseqüentemente, ele é uma arraia, lsso não é encarnação, mas identificação. Por estranho que pareça, as pessoas que se lembram de uma “vi­ da” como animal, a qual claramente foi uma identificação psicóti­ ca, são curadas dos problemas psicológicos presentes quando essa experiência é trabalhada e “ apagada” . Já dei o exemplo de uma me­ nina psicótica que se lembrou de uma vida como leão que comeu um funcionário do zoológico. Devemos ficar alertas para não encarar isso como a primeira causa da psicose. Provavelmente ela não erä' o leão, mas o funcionário, que psicoticamente tentava conciliar-se com a experiência, assim como o homem com a arraia. Ela devia ter uma auto-imagem preexistente agressiva e animal. Por meio des­ sa auto-imagem ela poderia ter sido puxada em direção a uma ocor­ rência emocional similar e posteriormente ter se identificado com ela. Ou ela odiava o funcionário do zoológico, ficando ao redor dele e inspirando-o a agir descuidadamente, e através da emoção e responsa223 bilidade identificar-se ela própria com o leão; ou ela sentiu a tensão de seus próprios sentimentos mais gerais de ódio-culpa e identificou-se com eles. Isso pode ser mais específico; talvez ela tenha sido despe­ daçada por um leão algum tempo atrás, por exemplo numa arena, e fica com tanto ódio que deseja fazer com que o mesmo aconteça com outros. E assim por diante. De qualquer maneira, alguma psi­ cose foi a causa dessa identificação. A experiência de Margot Klausner como uma planta semelhan­ te a uma flor pode também ser mais bem explicada, mais do que uma encarnação real, como a identificação de uma pessoa desencarnada que permaneceu apegada ao mundo físico. Trata-se de uma autohipnose aparentemente difícil de retificar. Ambientes autocriados ocorrem com grande freqüência entre os falecidos. A única coisa ex­ traordinária sobre os casos aqui relatados é que eles próprios não criam o ambiente, mas percebem o ambiente material e imaginam-se como parte dele, como um objeto, planta, animal ou pessoa. Progressões ao futuro Albert de Rochas, que foi o primeiro a alcançar vidas passadas por meio da regressão, descobriu mais ou menos por acaso a pro­ gressão. Ele punha o remigrante sentado na sua frente, dava passes magnéticos com a mão esquerda, indo da cabeça para baixo, enquanto mantinha a mão direita sobre a testa. Isso causava um transe mag­ nético e, com silêncio ou sugestões orais, um retorno no tempo, uma regressão de idade. Para trazer o remigrante de volta ao presente. Rochas dava passes magnéticos transversais, enquanto movia am­ bas as mãos horizontalmente, do meio para os lados do corpo. Se ele continuava com isso por muito tempo, as pessoas iam parar no futuro. Eugénie, um sujeito de Rochas, foi a primeira a ser levada à pro­ gressão. Ela avançou dois anos no futuro e mostrou sinais de gravi­ dez, e logo em seguida de afogamento. Rochas rapidamente levou-a dois anos para a frente, e novamente ela estava grávida. Quando per­ guntada onde estava, respondeu: “ Sobre as águas” . Rochas pensou que ela estivesse “viajando” , e trouxe-a de volta. Dois anos mais tarde ela teve um filho de seu amante, e logo em seguida atirou-se desesperadamente no Yser. Contudo, foi salva a tempo. Em janeiro de 1909 teve um segundo filho sobre a ponte do Yser, onde de re­ pente entrou em trabalho de parto. Ela realmente estava “ sobre as águas” (Shirley 1924: 140). 224 Na Alemanha, nos anos 50, Franz Turni hipnotizou pessoas co­ mo parte de um experimento com repórteres. Ele as colocou num transe profundo e deixou-as prever o que fariam nos próximos dias. Essas previsões revelaram-se corretas, mesmo quando eram pouco prováveis ou inesperadas (Muller 1970; 146). É claro, esse procedi­ mento somente é válido quando os sujeitos se esquecem do que acon­ teceu durante a hipnose e quando as sugestões pós-hipnóticas são excluídas. Glaskin dá o exemplo de alguém que usou o procedimento de Christos e foi parar em sua própria vida vários anos à frente, em vez de numa vida passada (Glaskin 1974; 76). Sua vestimenta era uma mistura de coisas que havia e que não havia no presente. Era verão, ao passo que durante a regressão era inverno. Ele disse que poderia ver cada folha de grama como se cada uma delas tivesse sido aumen­ tada. Ele não reconheceu o campo, mas pensou ser em algum lugar no oeste da Austrália, onde aconteceu o experimento. Ele tinha 21 anos de idade, mas na regressão tinha dezessete. Ele não podia subir a cerca em volta do campo, e aparentemente estava infeliz. O conse­ lheiro fez com que ele se visualizasse novamente subindo ao céu e que aterrissasse mais uma vez. Dessa vez ele pousou numa praia, e estava andando descalço. Disse ter agora 27 anos e que seu nome era John, embora na verdade se chamasse Stephen. Sentia-se cada vez mais triste, assim o terapeuta deixou-o subir no ar e retornar pe­ la terceira vez. Na terceira vez ele pousou no cemitério da vizinhan­ ça, em sua própria cidade. Junto com outras cinqüenta pessoas, par­ ticipava do funeral de sua mãe. Reconheceu seu irmão e irmãs, seu pai e seu padrasto. O funeral “ aconteceu, mas não ainda” . Disse ter 24 anos e estava usando um casaco preto que comprara na Ingla­ terra. Stephen nunca foi para a Inglaterra, mas estava planejando ir no ano seguinte. Ele não estava nada feliz com a perspectiva do fu­ neral. Na verdade, acabou indo para a Inglaterra, e depois de dezoi­ to meses teve de retornar de repente porque sua mãe contraíra uma perigosa doença na espinha. Intencionalmente, não comprou um ca­ saco preto. Após seu retorno, a mãe melhorou. Ela recuperou-se, e eles tiveram um maravilhoso relacionamento. Pieter Barten, um terapeuta holandês, fez algumas progressões até o ano 4040, mas adverte para a grande incerteza em datar-se ima­ gens futuras (TenDam 1982). Goldberg parece trabalhar regularmente com progressões (Goldberg 1982; 152ff.). Segundo ele, as imagens em progressões para vidas futuras mudam repentinamente. No boletim da “Association for Past-Live Research and Therapy” (maio/junho 1982), Dion Dolphin escreve que durante seus anos 225 como terapeuta pediu a muitas pessoas que fossem ao século XXl e vissem como estavam indo as coisas. Elas o fazem no que Dolphin chama de “ consciência ligeiramente alterada” . Conclui que as pes­ soas podem ver seu futuro tão facilmente quanto seu passado, e que as imagens do futuro correspondem umas às outras. Baseada nisso, ela sabe como será o século XXI. Darei uma imagem. Segure-se pa­ ra não cair. As pessoas aprenderão a parar de lutar. Não existe dinheiro co­ mo o conhecemos atualmente. Não haverá mais nações separadas, embora ainda haja um grande número de culturas separadas. A maio­ ria das cidades são muito menores. As pessoas movem-se em microô­ nibus anfíbios, talvez no ar. Grupos de adultos e crianças viajam pe­ lo planeta e ficam por um tempo em culturas específicas para apren­ der com elas. Quando esses grupos param de viajar por um tempo, pousam numa fazenda e tomam conta dela, enquanto os que cuida­ vam até então poderão viajar. É claro, há viagem espacial em trans­ portes espaciais para cidades espaciais, mas o mais importante con­ tinua sendo que se cultiva a terra, os jardins e se restaura nossa Ter­ ra para o seu propósito original. Pode haver épocas difíceis por vol­ ta do fim do século XX, mas imediatamente depois principia uma era dourada de amor, paz, alegria e harmonia. A autora de toda essa bela prosa faz isso como parte de um pro­ grama de pesquisa no contexto de seus estudos acadêmicos! Além disso, e isso explica mais, ela é uma sacerdotisa iniciada na “ Ordem de Melchizedek” . Os experimentos de Rochas e Glaskin são interessantes porque indicam que as progressões podem ser significativas sem ser figuras acuradas de ocorrências futuras. Em Winged Pharaoh, Joan Grant escreve uma analogia consistente com essa noção; O passado é fixo, aquilo que aconteceu não pode ser mudado. Porém toda ação muda um futuro, que é fluido e pode ser modifica­ do num passado que é estável. Seu próximo dia, ou a próxima vida que você tiver, será como sua imagem refletida num tanque. A qual­ quer momento você poderá checar como é o tanque de seu futuro, mas pelo livre-arbítrio você provocará terríveis tempestades sobre ele ou ondas em sua tranqüila superfície. É por isso que tão poucas pre­ visões se confirmam. Olhe para o jardineiro com seu regador. Posso predizer que ele vai atravessar o quintal sem derramar nada, pois esse é o futuro que seus atos presentes estão fazendo. Mas se ele tropeçar ou jogar por 226 sua própria vontade o regador, então seu futuro presente terá mu­ dado, pois com seu ato ele ocasionará um efeito diferente, e assim minha previsão não será confirmada. Mas essa é uma imagem que somente algumas pessoas têm permissão para ver, pois se poderia então influenciar os atos de alguém (Grant 1937; 130). Ora, assim como o jardineiro, que caminha pelo jardim com seu regador, pode haver padrões no desenvolvimento da humanidade que foram projetados e que serão testados com mais detalhes no desen­ rolar das coisas. Por essa razão, há pessoas que podem ter impres­ sões do futuro da sociedade. Talvez até mesmo planejem nele seu futuro pessoal. Contudo, a pesquisa de Wambach torna claro que muitas pessoas nem ao menos planejam sua vida vindoura, muito menos já fizeram preparações para vidas de um futuro distante. É questionável se elas de fato são capazes de captar imagens desse fu­ turo. O doce século XXI de Dolphin é excepcionalmente ridículo. Os detalhes do seu quadro mostram que as pessoas envolvidas per­ tenciam à subcultura da Nova Era, após os anos 60, e que provavel­ mente moravam na Califórnia. O quadro diz mais sobre a “ Ordem de Melchizedek” do que sobre o século XXI. Quando se pode olhar tanto para a frente quanto para trás, en­ tão pode-se olhar para trás num momento em que se olhou para a frente para um momento em que se olhou para trás, ou olhar para a frente, num momento que se olhou para trás, para esse momento em que se está olhando para a frente. Então, o tempo revela-se co­ mo uma dimensão entrelaçada. Não encontrei isso na literatura, em­ bora alguma coisa tenha chegado perto. Edward Ryall é uma das pou­ cas pessoas que têm uma memória completa de uma vida passada (Ryall 1974). Ele se lembra que no litoral uma cigana previu que mais tarde ele voltaria por um tempo e ficaria surpreso com as muitas mu­ danças que o tempo proporcionou. Após 301 anos ele volta a esse mesmo lugar, e realmente espanta-se com a diferença. Conclusões proVisórias Este capítulo discutiu materiais empíricos extremamente interes­ santes, porém são insuficientes em qualidade e quantidade para jus­ tificar conseqüências teóricas importantes. São mais ou menos as se­ guintes as conclusões preliminares, levando em consideração outras experiências além das memórias de reencarnação; 1. Se alguém recua muito no tempo, vai parar em condições pri­ mitivas, em culturas mais civilizadas ou em estados menos físicos. 227 Alguns terapeutas acham que o ferimento ou morte de um animal é o trauma inicial de uma série de traumas. Obviamente isso aconte­ ce com pessoas que, recuando muito, vão parar em condições mais primitivas. Talvez haja linhas múltiplas de evolução nos humanos. Se hou­ ver apenas uma linha, então a hipótese mais provável é que houve evolução tanto quanto involução, e que almas desencarnadas encar­ naram em corpos semelhantes aos de macacos. A segunda hipótese mais provável é que almas humanas são metamorfoses de almas que passaram por um grande número de encarnações animais. 2. Os terapeutas deveriam evitar instruções para ir a Atlântida ou à Lemúria, ou a outros planetas, desde que essas indicações estão provavelmente abertas a múltiplas interpretações no subconsciente. É arriscado todo rótulo que não corresponda à experiência concreta dos remigrantes. Por exemplo, quando se pede para alguém ir para o “ século XXI” , o subconsciente poderia interpretar isso como o século XXI a partir de agora, ou o século XXI segundo um calendá­ rio diferente. Embora os estados especiais de consciência gerem informações valiosas e altamente interessantes, e nos dêem confiança no aparen­ temente ilimitado potencial humano, permanece um campo que não é nem transparente nem familiar. As experiências do subconsciente humano (e consciente) nos ensinam que é preciso instruí-lo tão cui­ dadosamente quanto a um computador, do contrário obstáculos não desejados podem ocorrer. 3. É difícil usar a literatura disponível para formar uma opinião sobre o valor e a confiabilidade de experiências tipo ficção científi­ ca. Elas ocorrem com muita freqüência para que sejam descartadas como imaginação, porém ocorrem muito freqüentemente em tran­ ses leves via imaginação e visualização, e muito raramente em tran­ ses profundos, via hipnose, de tal modo que fica difícil convencer-se de imediato. Provavelmente muitas pessoas têm memórias incons­ cientes de uma civilização com viagens espaciais. Contudo, as decla­ rações publicadas até o momento são ainda muito fracas para consi­ derar como confirmada uma conclusão tão importante. 4. Parece que encarnações não humanas podem simplesmente ser identificações de pessoas que morreram incompletamente. Fre­ qüentemente há valor terapêutico quando se trabalham e se apagam tais experiências, portanto tais identificações provavelmente sejam indesejáveis e muitas vezes patológicas. 5. Impressões do futuro parecem possíveis, porém aparentemente essas impressões são baseadas numa total extrapolação do passado, considerando as tendências das pessoas, resoluções e planos. Mais do 228 que uma observação real do futuro de uma casa, essas impressões são como aquelas de um arquiteto que sabe como deve ser a cons­ trução da mesma. Provavelmente o futuro está somente fixado na medida em que o passado o determina e nossos planos o designam. Ao lado dos planos individuais de vida, provavelmente há um plano global para o desenvolvimento humano. Leitura adicional O livro de Hubbard (1958) é intrigante, com experiências extraor­ dinárias: no passado distante, em outros planetas, em puras condi­ ções de ficção científica, em vidas animais, em apegos a objetos. Tal­ vez isso resulte de sua seleção (embora os exemplos dados variem consideravelmente em qualidade e sejam sumarizados sem muito cui­ dado, dificilmente implicando uma seleção), talvez resulte do méto­ do, talvez também das expectativas dentro da cientologia. Finalmente, pessoas com essas experiências podem ser atraídas para a cientologia. Outros exemplos estão dispersos na literatura, embora Mareia Moore (1976) e Pieter Langedijk (1980) mencionem um número re­ lativamente grande de casos. Talvez essas histórias sejam menos co­ muns sob hipnose profunda, ou outros autores sejam mais críticos ou temam mais a crítica. Por fim, há os livros de Edgar Cayce (espe­ cialmente 1968), citado anteriormente. 229 Glossário Aconselhamento — Conduzir a regressão de outras pessoas e levá-las a expe­ riências de regressão com perguntas e instruções fora do contexto terapêutico. Isso pode ser feito por várias razões e usando vários métodos. O aconselhamen­ to começa com a indução. Sua técnica básica é uma mistura de aconselhamento não diretivo e orientação diretiva (porém aberta), e usa questões abertas, ques­ tões aprofundadas, repetições, resumos e sugestões abertas e específicas. O aprofundamento é atingido pela ancoragem no corpo, nas percepções sensoriais e nos sentimentos e pela elaboração da identidade, da orientação, das relações e dos significados. Os episódios na regressão são escolhidos usando téc­ nicas de desenrolamento. São ferramentas comuns as instruções de contagem, respostas relâmpago e sinais dos dedos. Algumas vezes as experiências se inter­ rompem (bloqueios), tornam-se superficiais (saindo da regressão), vão dema­ siadamente rápido (rush) ou causam tensão (estresse). Quando uma experiência se torna confusa, são requeridas técnicas de desemaranhamento tais como datar e rastrear. É chamada *‘procurando pelo cer­ ne” a elaboração das medidas corretas para um episódio confuso ou contradi­ tório. São necessárias técnicas especiais para pessoas paranormais, pois elas po­ dem deixar seus corpos. Também é importante no aconselhamento edificar medidas de segurança para evitar a necessidade de intervenções terapêuticas. A terapia usa as técnicas de aconselhamento, porém também exige um repertório psicoterapêutico. Alma — A entidade continuamente reencarnante, tornando-se consciente e autoconsciente através de suas encarnações. Ela é a pessoa real, o indivíduo real. Anatta — (an-atta; literalmente, não-eu) Uma doutrina budista, comum no Bu­ dismo Theravada. Existe a reencarnação, mas não do eu. Somente “padrões psí­ quicos* *são impressos na nova pessoa. A identidade do ser não precisa coexistir com a identidade da consciência. Um atual sendo de eu da pessoa não é idêntico à alma reencarnante. Historicamente, a idéia é uma reação às grosseiras idéias anteriores sobre o eu reencarnante. 231 Arquivo Akasha — Uma idéia teosófica também usada por outras escolas de pensamento. Tudo o que ocorre neste mundo fica registrado na “memória da natureza” . Essa memória está num campo etérico supersensorial que abrange tudo: akasha (significado original, radiante; posteriormente, céu). Não está claro como isso acontece. A habilidade para perceber impressões do passado é considerada como uma forma de clarividência, chamada “leitura do arquivo akasha” . Impressões de situações ocorridas previamente a esta vida podem ser expli­ cadas como impressões dos arquivos akasha, e não como memórias pessoais. Isso não explica o caráter pessoal das memórias. A idéia dos arquivos akasha é vaga e não detalhada. Tem pouco valor co­ mo explicação alternativa da recordação de vida passada, sendo uma explicação mais especulativa e complexa. Arte de viver — A partir da perspectiva da reencarnação isso significa: desen­ volvimento da sensibilidade à nossa linha de vida ou planejamento de vida; tra­ tar os outros humanamente; manter emoções negativas sob controle; aceitar nosso destino sem perder a iniciativa; tomar o tempo necessário para a maturação do julgamento ou da vontade; nem ambições demasiadas nem muito restritas; nun­ ca induzir propositadamente emoções negativas nos outros. Astrologia cármica — Ler uma vida passada de uma pessoa, múltiplas vidas passadas ou o carma de vidas passadas a partir do mapa astral do nascimento. Os indícios disso variam de autor para autor: signos solares; nodos lunares; sig­ nos interceptados; planetas retrógrados, planetas ocultos, Saturno, o Sol, a Lua; quadratura e oposição; Virgem, Peixes e Escorpião; a quarta, a oitava e a déci­ ma segunda casas. Todas essas considerações são especulativas. Não conheço material empírico algum. Barreira — Resistência a relaxar e a centrar-se; mais especificamente, resistên­ cia a entrar em regressão. Sem barreiras a indução é muito fácil. Barreiras são bloqueios que se estendem além do conteúdo até a própria indução. Em outras palavras, a própria indução reestimula os bloqueios, muitas vezes devido a pos­ tulados auto-referentes. Experiências disfarçadas de regressão também podem ser ameaçadoras e levar às barreiras. Uma experiência de morte logo abaixo da superfície pode evocar o medo da morte. Uma experiência de regressão pode conter comandos de desligamento. As barreiras podem ser dissolvidas ao reconhecer-se os comandos de desli­ gamento específicos e outros bloqueios; ao aprofundar-se no transe; ao praticar em casa o relaxamento; ou algumas vezes ao aumentar a confiança entre remi­ grante e conselheiro. Bloqueios — Resistência a certas experiências durante a regressão. As expe­ riências são suprimidas e resistem a serem trazidas de volta e lembradas. Geral­ mente a regressão pára. A experiência algumas vezes é encoberta por uma me­ mória falsa ou é lembrada numa forma superficial — movendo-se da regressão para a revivência, memória ou mesmo recordação. O conselheiro deve contornar os bloqueios, porém precisa respeitá-los. Com freqüência eles são as melhores entradas na terapia, especialmente se aparecem 232 cedo. Quando o transe é suficientemente profundo, os sinais dos dedos podem ser usados para que se pergunte o que poderia ser feito com os bloqueios. Bodhisattva — O budismo vê o estado encarnado como imperfeito e insatisfa­ tório. A menos que uma pessoa siga um caminho específico, cada vida inevita­ velmente tem conseqüências para a encarnação seguinte. A Roda da Vida e da Morte gira incessantemente. Uma pessoa pode empenhar-se pela libertação, se­ guindo o caminho óctuplo, e atingir a liberdade da Roda da Vida e da Morte e não mais precisar reencarnar. Ela então atingiu o Nirvana. Ela continua a existir, mas perde sua autoconsciência. Em vez de entrar no Nirvana, a pessoa pode continuar a reencarnar devido à sua misericórdia e ao amor pelos seus irmãos não-libertos. Tal pessoa é um Bodhisattva. Mesmo após atingir o Nirvana e atingir o estado búdico, ela pode escolher permanecer lá como um Buda Pratyeka, ou retornar como um Buda da Compaixão. Moksha é o nome dado pelos hindus ao estado de liberação. Eles pensam mais em termos de uma ascensão gradual durante muitas encarnações. Antes que alguém tente alcançar a paz espiritual, ele pode crescer, progredir e atingir a sabedoria através de muitas encarnações. A visão budista da reencarnação co­ mo uma roda é mais pessimista. O ‘‘retorno periódico do perfeito” , encontrado entre os ismaelitas, é um pensamento semelhante àquele dos budistas Bodhisattvas e dos hindus avatares. O retorno de Elias como João Batista pode ser visto nesses termos. Tais pensamentos são encontrados em culturas que não acreditam na reencarnação de pessoas comuns. Contudo, as regressões mostram que é relativamente comum a encarnação voluntária com uma missão. Veja também “ Livre-arbítrio” . Carma — Originalmente, ação; posteriormente, as conseqüências da ação ao longo das vidas. As repercussões ou “responsabilidades” assumidas em vidas passadas, consistindo em efeitos somáticos diretos e indiretos, em intervenções reparadoras, em reações psicológicas negativas e incompletas, em dificuldades e débitos aceitos voluntariamente. Carma de grupo — A idéia de que somos não somente afetados pelas conse­ qüências de nossos próprios atos, mas também por aqueles do coletivo a que pertencíamos ou pertencemos: fértil campo para generalizações e especulações. Até o momento, as regressões não apresentaram evidências para apoiar a idéia. Pelo contrário, o carma aparece como sendo pessoal. Um grupo de pessoas com uma ligação particularmente forte pode reencarnar junto e desenvolver um des­ tino comum, mas isso é um darma de grupo e não um carma de grupo. A idéia de um carma de grupo muitas vezes coincide com as idéias de almas nacionais, horóscopos coletivos e assim por diante. Catarse (purificação) — Uma experiência liberadora resolvendo a ignorância e as emoções negativas (por exemplo, medo, ódio, inveja, raiva, impotência, culpa, vergonha, indiferença) e substituindo-as com compreensão, aceitação e paz, muitas vezes com alegria e senso de liberdade. Todo episódio terapêutico numa terapia da regressão empenha-se em atingir a catarse. Catarse é um mini-retrospecto em paz e radiância. O retrospecto curativo, como se relata na morte clínica temporária, é um tipo de “ grande catarse” . 233 Possivelmente a catarse sempre contém dissociação (geralmente inconsciente) e mesmo a experiência fora do corpo. Catarse é purificação, tanto uma morte co­ mo um renascimento. Compensação — Pessoas que acreditam que se lembram de uma vida passada assim pensam pois precisam compensar suas limitações e dificuldades da vida presente. Essa teoria somente é relevante quando o remigrante afirma que sua vida passada foi mais agradável e importante. É pequeno o número de remi­ grantes que acreditam terem sido importantes ou mesmo famosos. A teoria não explica detalhes verificados da vida passada que não poderiam ter sido conheci­ dos a partir de estudos ou comunicação. Consciência — Um traço psicológico que, pelo menos para a maioria das al­ mas, está aparentemente desenvolvido no estado encarnado. Uma vez que a pessoa tenha atingido a autoconsciência, ela pode levá-la consigo para o estado desen­ carnado. O estado encarnado pode promover a autoconsciência, mas também bloqueá-la. A autoconsciência é o resultado em constante mudança dos processos de identificação. O transe muda a atenção para dentro. A pessoa se torna autoabsorta e o senso do tempo diminui. Durante uma regressão essa mudança movese caracteristicamente para o passado. Durante a dissociação a consciência po­ de separar-se ao mesmo tempo em dois pontos focais, resultando numa cons­ ciência “ elíptica” . Corpo etérico — Uma boa caracterização é o termo de Crookall “veículo de vitalidade” , a ligação entre a alma e o corpo, não um veículo de consciência. A pessoa está autoconsciente, ou na sua alma ou no seu corpo. Quando a alma e o corpo se separam na morte, uma parte do éter permanece dentro e com o corpo. Uma outra parte é abandonada pela alma após a morte e lentamente se desintegra. Uma terceira parte provavelmente permanece com a alma e contém pelo menos os chacras e todo o carma e o darma. Darma — (1) Significado grosseiro: lei interna. Obrigações que voluntária e cons­ cientemente assumimos para nós mesmos, talvez porque temos o dever de fazer alguma coisa para nós mesmos: Noblesse oblige. É a “nobreza” que uma pes­ soa adquiriu, como a força e a habilidade de agir não arbitrariamente ou cega pelo impulso imediato, mas em harmonia com a situação e consigo mesma. Darma é o reverso do carma, que implica ações involuntárias impostas por circunstân­ cias externas e pelo passado. O darma afeta esta encarnação e outras encarna­ ções, tanto como a preparação de uma encarnação. (2) Os trunfos: talentos e forças transpostos de vidas passadas. É o oposto do carma, que inclui as responsabilidades de vidas passadas. Algumas vezes o darma é transposto involuntariamente, e outras vezes a alma encarnante esco­ lhe transportá-lo em conformidade com o planejamento de vida e as encarna­ ções nutridoras selecionadas para a vida vindoura. O darma, como o carma, provavelmente pode ser encontrado no veículo de vitalidade, nos chacras e na aura. Descida — A mudança da consciência de fora para dentro do feto. Algumas vezes o cordão etérico conecta o corpo psíquico com o feto enquanto a cons­ 234 ciência permanece fora. Quando o nascimento se aproxima, o cordão encurta. Muitas vezes a alma está alternadamente no corpo e fora dele. Parece que o cé­ rebro precisa estar suficientemente desenvolvido para que se esteja no corpo. A descida principal geralmente ocorre nos últimos dois meses da gravidez, du­ rante ou logo após o nascimento. Depois da descida a alma ainda pode partir, porém isso se torna cada vez mais difícil. Determinismo — Cada evento está predeterminado por eventos passados. As­ sim, eventos atuais determinam eventos futuros. A coincidência e o livre-arbítrio são ilusões. Um conhecimento completo do passado capacitaria previsões per­ feitas do futuro. A predestinação é uma forma religiosa de determinismo. Na reencarnação o determinismo algumas vezes faz parte da doutrina do carma. Embora as regressões mostrem que o carma não é fixo por leis naturais, mas funciona psicologicamente, a idéia do determinismo não é refutada. Os deter­ ministas argumentariam que cada reação psicológica parece apenas arbitrária; essencialmente, ela pode ser computada de antemão. Mas se cada manifestação resulta de uma constelação psicológica específica, como determinamos essa cons­ telação? Pelas suas conseqüências. Jack derrota John porque Jack é melhor. Como sabemos que ele é melhor? Porque ele venceu. Isso é correr em círculos. Uma confirmação empírica do determinismo seria predizer corretamente gran­ de número de eventos. Isso não foi feito até o momento. Por outro lado, é im­ possível a refutação empírica do determinismo. Isso o transforma num jogo in­ telectual ou numa ideologia, não num conceito científico ou prático. Deva — Ser desencarnado do tipo angelical que habita e possivelmente influen­ cia a natureza. Assemelha-se à personificação dos poderes naturais, mas um bom número de remigrantes tem experiências como deva em suas memórias mais an­ tigas. Aparentemente alguns sensitivos os percebem. Benfeitores mundiais con­ fusos e estéticos podem estar obsedados pelos devas. No que se refere à reencar­ nação, esta é ainda uma área marginal. Dissociação — Afrouxamento ou separação, o oposto da associação. 1. Libertação da identificação com uma experiência passada. “Aquilo aconte­ ceu então. Não preciso temê-lo mais. Agora não preciso mais fazer aquilo.” 2. Separação entre uma parte da personalidade e uma experiência. Ser simulta­ neamente um ator e um observador. 3. Introdução do eu presente na experiência passada para promover cura e aceitação. A dissociação é um auxílio temporário para se atingir uma consciência elíp­ tica e facilitar a catarse, ou para romper uma ligação ou identificação indesejá­ vel com o passado, e como tal é essencial para a catarse. Drogas — Relacionada de três maneiras à reencarnação e à regressão: 1. Freqüentemente o vício às drogas continua de uma vida para a cutra. 2. As drogas podem ser usadas para induzir memórias de vidas passadas. Em geral são pouco adequadas, pois as experiências são praticamente impossíveis de se conduzir ou elaborar; mas elas poderiam levar a achados interessantes. 3. O vício das drogas complica as regressões e a terapia da regressão. Aparente­ mente, as drogas confundem o sistema de recuperação. As memórias ficam mis­ 235 turadas. Elas podem ser desenroladas somente depois de uma análise do efeito de cada droga sobre as cadeias de reestimulação emocional. Encarnação — O processo de criar uma ligação com o feto, a descida para o feto ou para o infante, a influência recíproca entre a alma e o feto ou infante e a crescente identificação com a criança. O processo da encarnação principia em alguma época entre o sexto mês de gravidez e logo após o nascimento, e ter­ mina algum tempo após o nascimento. Encarnações sobrepostas — A maioria dos exemplos de encarnações sobre­ postas é de pessoas que entram numa criança em vez de em um feto. Geralmen­ te isso acontece quando a alma que até então estava na criança abandona o cor­ po ou tem somente uma fraca possessão do mesmo, por exemplo, Jasbir. O ca­ so de Hermann Grundei pode ser uma exceção, pois sua aparência na nova vida era muito similar à antiga. Uma encarnação sobreposta real é uma forma de encarnação paralela. São escassas as evidências disso. Engrama — O registro de um episódio vivamente definido e não digerido com todas as conseqüências físicas, emocionais e intelectuais. Os engramas estão co­ nectados com outros engramas pela associação e reestimulação. Escolha do sexo — O sexo de uma encarnação pode ser determinado por um padrão fixo, escolhido arbitrariamente, ou acontecer por acidente. A primeira opção geralmente significa que o sexo permanece o mesmo ou se alterna de acordo com regras fixas — por exemplo, um sexo diferente para cada encarnação. Mui­ tas pessoas acreditam nessas alternações reguläres. Os casos publicados mostram que a mudança de sexo é comum, mas não universal. Aparentemente, o sexo é com freqüência escolhido, porém em geral é determinado sem a intervenção da pessoa encarnante, sistemática ou arbitra­ riamente, e pode algumas vezes ser assumido de modo precipitado e errôneo. Escolha parental — As muitas diferentes considerações caem nas seguintes categorias: • disponibilidade de um feto nas proximidades (encarnações não planejadas da população I: veja padrões de reencarnação) • envolvimentos cármicos com um ou ambos os pais • um bom relacionamento de uma vida passada com um ou ambos os pais • uma oportunidade para o desenvolvimento ajustar-se ao planejamento de vida • material genético adequado. Estigma — Marcas de nascimento, geralmente na forma de manchas ou arra­ nhões na pele. O estigma de nascimento mais conhecido é uma mancha na pele onde a encarnação prévia foi fatalmente ferida; por exemplo, uma linha verme­ lha no pescoço, se alguém já foi decapitado, ou um ponto vermelho nas costas onde entrou uma lança. Provavelmente os estigmas são mais comuns quando o falecido experienciou intensamente a ferida logo antes ou logo depois da mor­ te, integrando-a em sua auto-imagem, e subseqüentemente entrou cedo no feto em desenvolvimento sem antes abandonar a vida passada. Um claro exemplo desse efeito psicossomático é a pessoa cujos dedos são grudados, e que se lem­ 236 bra de uma longa luta de Sua morte, em que Suas mãos sangravam tanto que os dedos ficaram grudados. Outros estigmas são como auxílios à memória: algo que facilita a memória de uma vida passada, ou que indica aos outros a identidade prévia. Esses auxí­ lios são especialmente comuns em tribos que acreditam no renascimento próxi­ mo de onde aconteceu a última encarnação, e aceitam como naturais os desejos para a vida seguinte e os sonhos proféticos. Um terceiro tipo de estigma é puramente cármico, por exemplo, Wijeratne tinha um braço atrofiado, e via isso como o resultado de ter matado a esposa com aquele braço na vida passada. Em regressões com fortes somatizações, podem aparecer estigmas tempo­ rários, por exemplo, uma pessoa que de repente tem listras vermelhas nas costas quando reexperiencia uma surra. Evolução — (1) As experiências, as lições e a emancipação acumulam-se nas vidas subseqüentes. Com freqüência dois estágios se distinguem: o estágio da involução, em que a humanidade é desenvolvida por outros poderes ou seres até o ponto em que as pessoas são capazes de experienciar suas encarnações de modo independente e de assumirem a responsabilidade pelo seu desenvolvimen­ to; e a evolução real, onde a humanidade precisa encontrar seu próprio destino. A involução normalmente é vista como um processo de encarnações mais mate­ riais e cada vez mais profundas, e a evolução como encarnações cada vez menos densas, mais imateriais e espirituais (se tudo correr bem). Existem três modelos de evolução, cada um confirmado pelo material de regressão: 1. Almas animais evoluem para almas humanas. A idéia de que as almas evo­ luem via minerais, plantas e animais para as humanas é mais especificamente chamada de “transmigração” . 2. Almas desencarnadas descem em corpos humanos ou humanóides. 3. Pessoas de outros planetas pousam aqui na forma desencarnada ou encarnada. (2) Mais especificamente, a evolução é o desenvolvimento natural que re­ sulta de experiências em constante mudança durante a encarnação, em circuns­ tâncias desafiadoras, com as aplicações, escolhas e riscos envolvidos nas mes­ mas; sempre aprendendo, apesar de si mesmo. Ela precede a educação e o autodesenvolvimento e nunca termina. Experiência fora do corpo — A saída temporária do corpo pela alma, tamT bém chamada de “projeção astral” . Com experiências “ simples” fora do cor­ po, somente o corpo psíquico sai do corpo físico. Com uma experiência “ com­ plexa” fora do corpo, parte do veículo de vitalidade também sai. Muitas técni­ cas de indução fazem uso de experiências virtuais fora do corpo: o remigrante visualiza-se saindo do corpo. Geralmente isso ocorre sem percepção objetiva do ambiente físico. Durante essa experiência mental fora do corpo, o conselheiro continua a comunicar-se com o remigrante, que permanece consciente de seu próprio corpo, numa consciência elíptica. Com uma experiência fora do corpo simples a pessoa parece estar dormindo e fica incomunicável. Depois ela é capaz de descrever suas experiências. Uma experiência fora do corpo complexa induz a um grau de catalepsia: o corpo se torna mais frio e rígido, e a respiração e a circulação diminuem mais do que durante o sono normal, provavelmente se­ melhante à hibernação. 237 Experimento de Christos — Esse é o método de indução mais cuidadoso e elaborado para regressões a vidas passadas não terapêuticas. Ele tem procedi­ mentos passo a passo característicos com medidas de segurança incorporadas, e é descrito por Glaskin (1974). Gnosticismo — Todos, pelo desenvolvimento mental adequado, podem encon­ trar uma verdade interna direta a qual irá iluminá-lo, liberá-lo ou transformálo. O melhor método é estudar os trabalhos daqueles que já estão iluminados. Quanto mais ênfase é dada à experiência, mais o gnosticismo tende para o mis­ ticismo. Quando é enfatizada a aprendizagem formal dentro de uma escola ou igreja, a iluminação geralmente é denominada “iniciação” e as idéias provavel­ mente serão esotéricas. Quando é enfatizado o desenvolvimento de talentos pa­ ranormais, a tendência é em direção ao ocultismo. Essas três variedades são en­ contradas em qualquer combinação. A idéia fundamental é que a pessoa precisa se elevar acima das limitações materiais e do senso comum. Em outras palavras, a pessoa deveria elevar-se acima das limitações intelectuais do estado encarnado. Guias — (1) Durante uma indução com visualização, o conselheiro pode pedir ao remigrante para imaginar um guia como um companheiro e conselheiro de viagem interior. Esse guia pode ter realidade psicológica ou objetiva. (2) Alguns conselheiros acreditam que em regressões a vidas passadas seres desencarnados funcionam como guias. Eles podem ser invocados como prote­ tores ou consultados através de médiuns ou do próprio paciente. Guias de encarnação — Muitos remigrantes experienciam terem sido orienta­ dos por conselheiros antes do nascimento, variando de um conselheiro até todo um círculo deles, e de um bom amigo que confere apenas uma nota de conselho até profissionais que esboçam todo um planejamento de vida. “ Hangover” — Uma vida passada não digerida como o resultado de indispo­ sição emocional geral: solidão, tédio, peso, falta de esperança, falta de significado. Hereditariedade — Geralmente de implicação limitada. O corpo deveria ser adequado à pessoa encarnante. A composição feita pelo material genético dos pais freqüentemente está sujeita à escolha. Muitos encarnantes auxiliam a moldagem do embrião, dando ao infante muitas características da pessoa encarnan­ te. Talentos notáveis não são herdados, mas introduzidos. A psique adequada a esses talentos, como a musicalidade, é baseada no material genético. Os gens são de importância secundária na escolha parental. Hipersensibilidade — O método de indução desenvolvido por Mareia Moore: uma mistura de relaxamento e visualização, suplementados por alguma magnetização e leve transe hipnótico. São características deste método as visualizações exaltadas e os objetivos de regressão exaltados. Hipnose — Usada aqui para significar a indução de um transe, utilizando su­ gestões verbais e de outros sentidos. Como a magnetização, a hipnose muitas vezes leva à regressão real (nível 4), enquanto o relaxamento e as pontes emo­ cional, somática e de postulado muitas vezes resultam em revivência (nível 3). 238 Identificação — Adotando ou determinando uma identidade. L Absorvendo experiências, sentimentos, pensamentos e exemplos em nossa autoimagem. Mudando as idéias sobre nós mesmos, de tal modo que somos capazes de dizer “ Não sou um artista de segunda” , ou “ Posso fazer as coisas tão bem quanto meu pai” . 2. Profunda absorção numa experiência, esquecendo o que aconteceu desde en­ tão e incluindo as ocorrências presentes na situação passada (nível 5). 3. Identificação com uma outra pessoa: a impressão de que somos outra pessoa ou fomos outra pessoa no passado. Na Inglaterra, muitas vezes as mulheres se identificam com Maria Stuart, e no continente com Maria Antonieta. 4. A descoberta de qual infante é a nova encarnação de uma pessoa notável fa­ lecida, ou qual foi a encarnação anterior do infante. Um exemplo disso é a iden­ tificação do novo Dalai Lama. Indução — Em geral induzir um transe. Aqui, mais especificamente, obter en­ trada a experiências de vidas passadas. São usados os seguintes métodos de indução: L Magnetismo: usando passes magnéticos. Muito pouco empregado atualmente. 2. Hipnotismo: geralmente através de sugestões e pseudo-sugestões, e então com instruções diretas para retroceder a uma vida passada. 3. Relaxamento e visualização: relaxamento físico e mental, concentrando-se no corpo, evocando imagens, muitas vezes coincidindo com um sentimento osci­ lante ou flutuante ou com uma experiência fora do corpo imaginada. Após uma fronteira simbólica ou o pouso após flutuar, o remigrante entra numa experiên­ cia de vida passada. 4. Evocando recordações e intensificando-as para a revivência. Recuando mais até os primeiros anos, ao nascimento, logo antes do nascimento e ainda mais para trás. 5. Através de uma ponte emocional: evocando uma emoção e aprofundando-a, depois instruindo o remigrante para retroceder a uma situação que causou e im­ primiu essa emoção. 6. Através de uma ponte somática: ampliando uma sensação corporal bem defi­ nida e localizada, e depois instruindo o remigrante a retroceder à situação que causou e imprimiu essa sensação. Isso também funciona bem após o relaxamen­ to como uma alternativa para a visualização. 7. Através de uma ponte de imagem: tomando uma imagem recorrente ou um sonho ou uma imagem vinda espontaneamente no começo, da sessão. 8. Através de uma ponte de postulado: tendo uma provável sentença de postula­ do repetida com concentração firme e crescente, depois instruindo o remigrante para retroceder à situação que gravou esse postulado. Involução — A habitação progressiva do corpo pela alma, a partir de um pri­ meiro estágio de obscurecimento do corpo até uma consciência completa no cor­ po, muitas vezes levando à perda da recordação do estado desencarnado. Nessa linha de pensamento, a evolução é o desenvolvimento de corpos materiais até que estejam prontos para serem habitados por almas humanas que podem de­ senvolver a autoconsciência e a humanidade (inteligência, empatia e indepen­ dência), talvez também recobrando a consciência de desencarnado no estágio encarnado. 239 Livre-arbítrio — Em reencarnação o livre-arbítrio principia quando uma pes­ soa está suficientemente consciente durante a intermissão para fazer escolhas sobre sua encarnação vindoura. A forma mais simples de livre-arbítrio é a acei­ tação ou a recusa de um planejamento de vida proposto por uma outra pessoa. O livre-arbítrio aumenta quando somos capazes de delinear nossos próprios planos de vida. Naturalmente, a liberdade aumenta quando diminuem nossas relações e obrigações cármicas. Durante a encarnação, o livre-arbítrio consiste em esco­ lhas que fazemos em nossas ações, nossas interpretações e avaliações. Por exem­ plo, podemos ceder a nossos estados de ânimo ou vencê-los, podemos olhar as coisas de uma maneira pessimista ou otimista. Memória genética — Uma das hipóteses usadas para explicar ostensivas re­ cordações de vida passada. As memórias pessoais das pessoas que viveram no passado são geneticamente armazenadas e herdadas. Essa hipótese é especulati­ va: primeiro porque a memória herdada não foi demonstrada (embora aparen­ temente alguma aprendizagem possa ser transmitida); segundo, porque ela é ge­ ralmente improvável e em muitos casos impossível; terceiro, porque sua capaci­ dade é demasiadamente pequena; e quarto, porque somente memórias até o mo­ mento da concepção podem ser transmitidas. Mas quase todas as memórias de vida passada incluem recordações da morte. Moksha — Libertação das limitações do estado encarnado: consciência limita­ da, cegueira e inatividade no mundo espiritual e pobreza de talentos paranor­ mais. Muitas vezes é interpretada como a libertação da existência pessoal, como a reunião com a divindade da qual nos originamos e o fim de nossa necessidade de reencarnar. Objetivo de vida — Quando as pessoas regridem à preparação da encarnação ou a experiências pós-morte geralmente encontram um objetivo principal para a vida futura ou da que acabou. É quase certo que existam vários objetivos. Parecem ser objetivos genéricos de vida: crescimento da compreensão, solida­ riedade, competência e independência. Obsessão — Usada aqui no significado original: estar obsedado por uma per­ sonalidade estranha desencarnada. Alguns obsessores têm relações cármicas com a pessoa obsedada. O obsessor pode ser um distúrbio intencional ou acidental: obsessão ativa ou passiva. Um obsessor pode estar na aura, apego, ou no organismo, obsessão verda­ deira. O obsessor pode até mesmo tomar conta do “ assento do motorista” , possessão. Padrões de reencarnação — Vários tipos de processos de encarnação. 1. População I: Fora do corpo, inconsciente ou vagamente consciente; não pla­ nejada; baseada na disponibilidade de fetos nas proximidades; intermissão de alguns anos. 2. População II: Reencarnação seguindo um planejamento de vida geralmente recomendado e com fortes preocupações educacionais. A intermissão normal­ mente é de algumas décadas. 240 3. População III: Reencarnação de acordo com um planejamento de vida autoesboçado, muitas vezes com alguma auto-escolha ou missão aceita. Planejamento de vida — Os objetivos da vida vindoura, encontros importan­ tes, carma a ser elaborado e talentos a serem desenvolvidos; tudo é considerado como reações pré-programadas e tendências. Precipitação — O depósito no corpo de cargas psíquicas (e etéricas) oriundas de uma vida passada (carma e darma). São de várias formas: 1. Queixas psicossomáticas resultantes de práticas suspeitas ou perversas numa vida passada (terrorismo, tortura, fraude, abuso de poder, abuso sexual); isso inclui vinganças. 2. Queixas psicossomáticas resultantes de repercussões de experiências traumá­ ticas (vitimização severa, experiências de morte não digeridas etc). 3. Carinho, atenção, harmonia e um senso de beleza, que podem levar à saúde, ao equilíbrio e à beleza corporal. 4. Queixas psicossomáticas resultantes de postulados. Preparação para a encarnação — Geralmente começa com a consideração ou a alusão de que é hora de retornar para a frente, continuar com o planeja­ mento de vida, muitas vezes aconselhado e discutido com outros, e termina com a escolha dos pais, contato com o feto e algumas vezes com uma prévia da vida vindoura. Progressão — Pré-experienciando o futuro desta vida ou de uma vida futura. Existem exemplos de progressões plausíveis nesta vida. Progressões a vidas fu­ turas parecem ser sensíveis às expectativas inconscientes do conselheiro e do “promigrante” . Pseudo-obsessão — A obsessão pela personalidade de uma vida passada. Se uma vida particular não foi elaborada devido à morte incompleta, essa persona­ lidade fica incapaz de integrar-se numa personalidade maior ou no eu superior. Numa nova encarnação essa personalidade passada pode ser levada como ela é, não digerida, e assediar a aura ou o corpo. Como na obsessão real, isso causa queixas psicossomáticas. Um tratamento desta personalidade leva à harmoniza­ ção (ela torna-se uma personalidade nutridora regular) e à integração. Algumas vezes é completamente depurada e parte para a “luz” do eu superior. São quei­ xas psíquicas e psicossomáticas típicas da pseudo-obsessão, por exemplo, o au­ tismo e a anorexia. Psicodrama — A visualização de alguma tensão psicológica na forma de uma história, espontânea ou consciente. Muitos sonhos são psicodramáticos. Um psi­ codrama pode ser induzido num sonho acordado. Ele pode levar a um transe espontâneo com uma intensidade e clareza que são tão distintas de uma fantasia regular quanto a revivência o é de uma memória regular. Psicoplástico — Uma característica do mundo psíquico (ou astral). Os ambientes correspondem a nosso estado mental. Isso pode ser subjetivo: criamos 241 nosso ambiente para harmonizar-se com nossos próprios pensamentos, senti­ mentos, desejos e receios. E também objetivo: chegamos a um lugar ou visita­ mos uma pessoa ao pensarmos intensamente neles. A experiência corporal tam­ bém é psico-plástica: nossa auto-imagem e aparência dependem de como e o que pensamos e sentimos. Psicossomátíco — Somatização influenciada grandemente pela psicologia. Uma pessoa que é alérgica a rosas pode espirrar quando vê rosas de plástico. Place­ bos algumas vezes são tão bons quanto, ou mesmo melhores, do que remédios reais, especialmente se forem caros e prescritos por alguém em quem o paciente confia. Doenças como o câncer e as cardiovasculares têm um aspecto psicossomático: certos traços de personalidade aumentam a probabilidade de que certas doen­ ças se manifestem. Com as doenças infecciosas a suscetibilidade provavelmente é um fator psicossomático. Num transe profundo, bolhas podem aparecer, sangramentos podem co­ meçar, verrugas podem desaparecer etc. Recordação de vida passada — Esse tipo de lembrança é agraciado com mui­ tos nomes para distingui-lo da lembrança comum: pré-memória, memória dis­ tante, retrocognição, memória paranormal, memória extra-cerebral. A memó­ ria pode ser vaga, um mero sentimento de ter vivido antes com vagas lembran­ ças de alguma situação acontecida há muito tempo. Ela pode consistir de ima­ gens, que podem ser estáticas como fotografias, ou móveis, desde fragmentos a toda uma memóriá de filme. As visões algumas vezes estão acompanhadas de som ou toque e, menos freqüentemente, cheiro e sabor. Os sentimentos e pensa­ mentos daquela época muitas vezes também reemergem. Memórias de conver­ sações podem ser sem sons, como que telepaticamente comunicadas. Algumas vezes há memórias acompanhadas de nomes, lugares ou datas. Em outras oca­ siões há algum tipo de comentário, e em raros casos pode-se até mesmo comunicar-se com o comentador. A recordação pode intensificar-se até a revivência de uma experiência, co­ mo se você estivesse de volta na situação. Você pode permanecer um observa­ dor externo ou ser um participante, ou ambos simultaneamente: permanecendo fora e olhando o que está acontecendo, estando na situação. Isso algumas vezes também acontece em sonhos. É chamado de ‘‘personificação” o senso de estar dentro da memória, percebendo-a como sua própria memória, que é uma carac­ terística importante de quase todas as recordações de vida passada. A presença ou ausência da personificação forma a principal diferença entre memórias reais e impressões telepáticas. Em alguns casos, vêem-se imagens simultaneamente, como paralelas. Isso é chamado de memória panorâmica. O fenômeno de panoramas de vida tomou-se conhecido por meio de pessoas que estiveram perto de acidentes fatais ou que estiveram por um curto período clinicamente mortas. Uma memória panorâmi­ ca de uma vida passada pode ser uma reprodução de um retrospecto de vida. Memórias de vidas passadas podem surgir espontaneamente, sem causa ime­ diata, ou serem desencadeadas por circunstâncias particulares. Elas freqüente­ mente surgem seguindo sentimentos de reconhecimento e familiaridade numa nova cidade ou região, ou com uma pessoa desconhecida. As memórias podem 242 emergir em sonhos, durante enfermidades ou em acidentes, e com a perda da consciência (experiências fora do corpo). Reencarnação — Retornar muitas vezes a um corpo humano. Pode ser uma doutrina religiosa, uma convicção revelada ou uma experiência: memórias es­ pontâneas ou regressão induzida. São designações alternativas: metamorfose, palingênese, transanimação, transcorporação, transmigração. Coloquialmente os termos mais comuns são: • reencarnação: contínuo renascimento como uma pessoa • metempsicose: renascimento como uma pessoa ou como um animal • transmigração: desenvolvimento de mineral para planta, de planta para ani­ mal, de animal para humano e de humano para formas de encarnação superiores. Reestimulação — A estimulação renovada de um postulado existente ou de um trauma numa situação associada com a situação original causadora do trau­ ma ou desencadeadora do postulado. Em geral a reestimulação fortifica o trau­ ma ou o postulado existente. A reestimulação resulta em “ correntes” : uma sé­ rie de experiências compartilhando o mesmo trauma ou postulado. Presumivel­ mente a reestimulação durante a vida é facilitada pela reestimulação precedente durante a gravidez e o nascimento. A própria situação de terapia pode reestimular traumas e postulados, especialmente aqueles conectados com a passividade, a dependência e a manipulação, criando então os bloqueios. Regressão — Em geral, retroceder no tempo; mais especificamente, uma for­ ma de reviver enquanto se esquece tudo o que aconteceu após a situação revivi­ da. A revivência e a regressão real geralmente são feitas com um conselheiro. Podem ocorrer durante a regressão reações corporais pertencentes à situação revivida. As regressões podem ter propósitos diferentes e serem feitas de dife­ rentes maneiras. Retenção — Continuidade ao longo das vidas. Tudo que levamos conosco di­ retamente de vidas passadas. Pode ter mais ou menos influência, mas permane­ ce imutável. Isso pode aplicar-se a talentos, idiossincrasias, tendências, aparên­ cia e relações. Retrospecto de vida — Após a morte. Primeiro, uma rápida visão geral cro­ nológica da vida passada, com questões como: O que você aprendeu disso? Vo­ cê está satisfeito com ela? Você se sente relacionado com certas pessoas? O se­ gundo retrospecto acontece por situação, o falecido empatizando com as pes­ soas que encontrou. Essa é uma revivência e uma avaliação mais profundas e pessoais. O primeiro retrospecto pode ser tão rápido que as imagens são prati­ camente paralelas, dando um grande panorama de vida. Excepcionalmente a pessoa vê um número de vidas anteriores como se estivesse olhando simultanea­ mente em espelhos múltiplos. Singularização — Uma personalidade existente se dividindo numa outra per­ sonalidade ou subpersonalidade. 243 Superpercepção extra-sensorial — Uma forma proposta de clarividência pa­ ra explicar a aparente recordação de vida passada e aparentes mensagens de fa­ lecidos. Tal clarividência claramente excede os talentos do paragnóstico usual, daí o “ super” . Esta explicação normalmente é usada por parapsicólogos que não acreditam numa existência desencarnada antes ou após a morte, ou que pen­ sam que a aceitação disso põe em perigo o precário status científico da parapsicologia. Como as muitas construções mentais, a superpercepção extra-sensorial dificilmente pode ser refutada, desde que todas as contra-indicações podem ser explicadas como parte do caráter da superpercepção extra-sensorial. Isso inclui a identificação pessoal de falecidos ou a experiência de memórias pessoais de uma vida passada. A idéia teosófica da possibilidade de leitura do arquivo akasha virtualmente é idêntica a essa idéia. Treinamento de templo — Engloba todas as formas de treinamento no de­ senvolvimento de habilidades paranormais. As regressões de pessoas que têm habilidades paranormais naturais nesta vida indicam treinamento paranormal em vidas anteriores. Desde que a maioria desses treinamentos necessariamente acarreta uma mudança de consciência, habilidades paranormais têm uma ten­ dência a permanecer com a pessoa através da morte e do nascimento. Muitos dos treinamentos de templo que afloram tiveram lugar no Egito, em culturas indígenas da América Central e do Sul e em culturas da Atlântida. São áreas menos comuns a índia, o Extremo Oriente e a Grécia antiga ou pré-histórica. Outros treinamentos de templo são difíceis de serem localizados histórica ou geo­ graficamente. Alguns dos treinamentos ocorreram fora das instituições oficiais. Portanto, o conceito de “treinamento de templo” deve ser tomado num sentido amplo. Terapia da regressão — Reexperienciar e digerir situações que foram traumá­ ticas e/ou resultaram na formação de postulados, e atingir catarse. Terapia de Vida Passada — Terapia de regressão aceitando e freqüentemen­ te procurando regressões a aparentes vidas passadas e a experiências após a morte e antes do nascimento. Transe — Originalmente um estado que se assemelha ao sono profundo, atin­ gido por um médium ou sujeito por meio de hipnose ou magnetização profun­ da; mais amplamente, qualquer estado de consciência alterada no qual uma pessoa tem menos atenção para seu ambiente imediato. Dentro da estrutura das regres­ sões, transe é uma consciência que mudou do mundo exterior para o interior, e do presente para o passado, e inclui mudanças físicas na tensão muscular, na resistência da pele e nos ritmos das ondas cerebrais, tanto como mudanças men­ tais, tais como relaxamento, senso alterado do tempo, reduzido poder de obser­ vação e um poder ampliado da imaginação. A profundidade do transe pode variar. Um médium que entra em transe é uma pessoa que pode levar a si mesma a um transe que possibilita a comunicação com entidades desencarnadas; mais genericamente, uma pessoa cujas habilidades paranormais afloram no transe. 244 Transpasse — A quarta (ou primeira) dimensão. O falecido sente-se capaz de atravessar objetos e pessoas. Percebidos tridimensionalmente eles estão no mes­ mo lugar, porém não na quarta dimensão. O contato na quarta dimensão resul­ ta em interação: pessoas tornam-se conscientes do falecido. Isso é o que aconte­ ce com a telepatia, com a obsessão e assim por diante. Clarividentes vêem secções tridimensionais da aura tetradimensional. Isso explica por que sensitivos diferentes percebem coisas diferentes, além das razões comuns de imprecisão, imaginação e interpretação inconsciente. Veículo de vitalidade — Um termo cunhado por Crookall para designar o in­ termediário entre o corpo psíquico e o físico. Muitas vezes é chamado de corpo etérico. Crookall preferia “veículo” , pois aparentemente não podemos estar autoconscientes nesse corpo, ao passo que somos autoconscientes no corpo físico e no psíquico (ou astral). Aparentemente o veículo de vitalidade não tem sua própria organização independente. Muitas observações indicam que o “ cordão prateado” não tem uma estrutura orgânica, mas parece com qualquer cordão resultante do estiramento de uma substância elástica. 245 Bibliografia Todo esforço foi realizado para oferecer referências completas dos traba­ lhos listados na bibliografia, a qual pretende ser a mais completa possível. O autor se desculpa por qualquer omissão, e se interessa em receber qualquer de­ talhe adicional que os leitores possam fornecer. Trabalhos em inglês sobre a reencarnação ANDERSON, Jerome A. (1894) Karma: A study of the law of cause and effect in relation to re-birth or reincarnation, post-mortem states of consciousness, cycles, vicarious atonement, fate, predestination, free mil, forgiveness, animais, suicides, etc., San Francisco: Lotus. ---------------(1894) Reincarnation: A study o f the human soul in its relation to re-birth, evolution, post-mortem states, the compound nature o f man; hypnotism, etc., San Francisco: Lotus. 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Desde 1970 é consultor administrativo autô­ nomo, envolvido em gerenciamento e desenvolvimento organizacio­ nal, resolução de conflitos, reorganizações e estratégia de planeja­ mento e administração, e publicou vários artigos sobre pensamento estratégico e metodologia. Trabalhou com e sem fins lucrativos e em agências governamentais nos Países Baixos, Mercado Comum Eu­ ropeu, Turquia, Nova Zelândia e Brasil. Hans TenDam publicou li­ vros sobre a diferença entre ocultismo e misticismo, sobre a maneira como os oráculos funcionam (ou não funcionam), tarô e reencarna­ ção. Treina psicoterapeutas na Terapia de Vida Passada e é um crente fervoroso na intuição, bem como um fiel defensor do bom senso, da análise metódica e da dedicação ao trabalho. 255 Uma das qualidades importantes deste li­ vro é que sua leitura mostra claramente que a reencarnação não deve ser vista só como uma crença religiosa mas também como um fenômeno. Diante do grande acúmulo de conhecimentos e pesquisas na atualidade, não podemos mais desqualificar aquilo que não queremos ver. Também não podemos desprezar o fato de que a recuperação de certas memórias que não parecem perten­ cer à vida atual, quando bem trabalhadas em Terapia de Vidas Passadas, libera pa­ cientes de inúmeras patologias psíquicas e físicas. Hans mostra as teorias que procuram es­ clarecer, com seriedade, aqueles “ conheci­ mentos” que parecem inexplicáveis, tanto do ponto de vista reencarnatório como de inúmeros outros, e duvido que, depois da leitura cuidadosa desta obra, você leitor, por mais “ materialista” que se considere, voltará a ser o mesmo, diante desse enor­ me mistério universal. Lívio Tulio Pincherle Médico, psicoterapeuta e membro didata da Associação Brasileira de Terapia de Vida Passada ,9 788532 30439