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Complexo De Anteu E N S A I O S

E N S A I O S EDUARDO CAMPOS E N S A I O S Fortaleza 1978 A F. ALVES DE ANDRADE, que me estimulou. A GUIMARÃES DUQUE, CARLOS BASTOS TIGRE, ESMERINO PARENTE, M. NEGREIROS BESSA, AFRÂNIO FERNANDES, JOSÉ

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E N S A I O S EDUARDO CAMPOS E N S A I O S Fortaleza 1978 A F. ALVES DE ANDRADE, que me estimulou. A GUIMARÃES DUQUE, CARLOS BASTOS TIGRE, ESMERINO PARENTE, M. NEGREIROS BESSA, AFRÂNIO FERNANDES, JOSÉ CÂNDIDO DE MELO CARVALHO, pela inspiração que me deram. Ao Magnífico Reitor PROF. PEDRO TEIXEIRA BARROSO, por ter acreditado neste livro. A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu, indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos. EUCLIDES DA CUNHA, OS SERTÕES Com filosofia não há árvores: há idéias apenas. Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. FERNANDO PESSOA, POEMAS INCONJUNTOS SUMÁRIO Apresentação O HOMEM NA SUA MOLDURA NEM SEMPRE VERDE O homem emoldurado na paisagem Regionalismo e consciência ecológica na literatura O idílio naturalista de H. David Thoreau A estratégia de Anteu REGIONALISMO: ESTRATÉGIA E AFIRMAÇÃO O Ceará e o II Congresso Cearense de Escritores As características que nos modelam e as transformações A literatura como estratégia da cultura A participação do escritor na realidade e a valorização do espírito humanista CRIATIVIDADE LITERÁRIA E A REALIDADE DE NOSSA FITOFISIONOMIA Fitofisionomia e a realidade literária O Cenário da literatura e o zoneamento geobotânico Avaliação da consciência ecológica dos escritores FLORES DE PAPEL: IRRIGAÇÃO E A PALAVRA DE FEDRO A falta de humanização da paisagem Uma melhor participação nas equipes dos projetos Disciplina do homem e o aproveitamento da terra CORDEIRO DE ANDRADE: INFÂNCIA E SERTÃO O nosso encontro com a pessoa e os livros de Cordeiro de Andrade O culto da paisagem e dos insucessos humanos Sertão e Infância Romancista regional de amplo sentido humano... 69 AGROPECUÁRIA: CAMINHOS E DESCAMINHOS ATÉ A ECONO- MIA FORTALECIDA Os Recursos naturais e a agricultura rotineira Falta de medidas objetivas e declínio da pecuária Algumas providências recomendáveis O café e o abandono das serras O problema dos fertilizantes e outras indicações COMPLEXO DE SECA E DESAMOR AO SERTÃO Falta de uma atitude literária de melhor desempenho no Nordeste entre os mais recentes A análise das secas dentro do novo cenário O sertão violentado e o agricultor despreparado A paixão da terra e o idealismo de alguns LEGENDA ÍGNEA: DEVASTAR PARA AGRICULTAR Agricultura e devastamento. A Serra da Aratanha e as árvores O profeta de Lendas e Canções Populares, seu protesto e testemunho A legenda ígnea sua origem e os homens MODIFICAÇÕES DO COMPORTAMENTO SÓCIO-RELIGIOSO DO SERTANEJO As mutações do comportamento humano da cidade ao campo. 113 O Bem-estar humano, a terra e a educação ENERGIA EÓLIA: RETROSPECTIVA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS DE SUA UTILIZAÇÃO Os Cataventos tradicionais. O vento como gerador de energia. 121 Cataventos de carnaubeiras. A apropriação da energia eólia. 123 A importância do uso dos moinho-de-vento Contribuição da FAO OS CAÇADORES D ÁGUA A água, expressivo símbolo da existência humana Sentido premonitório de quem localiza nascentes ASSOCIAÇÃO PROPAGADORA DA ARBORICULTURA (1894) E INSTITUTO GUSTAVO BARROSO (1976) Poluição. A humanidade está adoecendo há séculos Associação Propagadora da Arboricultura. Pioneirismo em Instituto Gustavo Barroso de Estudos Sociais e Defesa do Meio Ambiente Contribuição à bibliografia de assuntos pertinentes a Problemas ecológicos publicado até o ano de 1900, de autores ligados ao Ceará PRECES POSITIVAS E NEGATIVAS Poder da oração e sua ação positiva A oração prevalece? Franklin Loehr e a influência da prece SERRAS TREMEM E ESTRONDAM DESDE 1794 A terra escalpelada pelo homem Imprevidente Inverno é também flagelo. O Ceará de João Brígido: ou oito ou oitenta A catástrofe da Serra de Maranguape e a lembrança do sábio Bibliografia Consultada APRESENTAÇÃO O escritor EDUARDO CAMPOS, jornalista, teatrólogo, artista também do conto e do romance, ensaísta que tece as suas letras com o fio da antropologia cultural, oferece, neste livro, empenhado nas mais vivas preocupações da terra, a sua mais que oportuna e necessária mensagem., epígrafe erudita dos que sabem a civilização helênica, é o nome de batismo do ideário contido em suas páginas. E valem estas como uma advertência enérgica da critica, que o autor empreende sobre atividades de pensamento e ação dos que laboram as coisas da natureza viva, na nesga do torrão que habitamos. Versando sobre fatos vistos e tocados na comunidade cearense, letras, pensamento, idéias e trabalho envolventes o livro tem marca da fábrica, de cunho regional, mas o seu belo ensaio logo atinge, por espírito e objetivo fático, o escopo melhor atualizado das grandes preocupações humanistas, universais. Não é apenas no Ceará, ou Nordeste, mas em todo este vasto e continental país, e em todo o mundo, que os seres humanos se enfraqueceram por desligamento das fontes naturais de vida. No duelo mitológico, Hércules sente, na luta contra Anteu, que o seu contendor fortalecia-se em contato com a Mãe-Terra. E tenta logo separá-lo do relacionamento, para vencê-lo. 13 A tragédia do mito é hoje uma realidade no mundo. Eis que a volta do homem á natureza significa o amor á preservação dos recursos naturais, esmagados, destruídos pela hercúlea cobiça do enriquecimento ilícito. BARBARA WARD, economista e escritora britânica, adverte que as espantosas descobertas científicas dos últimos cem anos nos ensinam que a energia elementar do universo tanto pode sustentar como destruir a vida, e que os mecanismos e equilíbrios pelos quais ela a sustenta são inimaginavelmente frágeis e preciosos. Um clamor mais alto se levanta com vigor profético, despertando homens de ciência, pensadores, escritores, participantes do trabalho refletido, de tal modo que, na citada expressão de BAGDIKIAN, o que competia a sacerdotes e reis decidir quanto ao que convinha ao povo, hoje cabe aos proprietários dos meios de comunicação de massa. É dever precípuo, portanto, dos que detêm as rádios ou televisões, os jornais, as tribunas, o livro, a restauração que não virá simplesmente pela técnica, que em vários quadrantes empreendeu a poluição, o envenenamento com os seus artifícios. Há que se des pender um esforço cultural, anímico, muito grande, e desenvolver uma convicção não só de economia e de utilidade, mas de espiritualidade e de beleza, sobre que deverá ser traçado o caminho que deveremos seguir. Com tal ética, integra-se num verdadeiro apostolado literário o jornalista de empresa que é EDUARDO CAMPOS, dominado, não pelo mais ter dos que se afogam na cobiça humana, mas empenhado no mais ser daqueles que se nutrem do pão da esperança. De início, no intento de ver o homem emoldurado em sua paisagem, faz o autor um ligeiro retrospecto da característica telúrica dos escritores cearenses, preocupados com o 14 EDUARDO CAMPOS relacionamento homem-terra. Evoca então como centro de interesse de suas preocupações a grandeza sentida e interpretada poeticamente por EUCLIDES DA CUNHA, em OS SERTÕES, expressa na legenda: a natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos. A influência telúrica vem marcada no corpo e na alma, quando a vida se harmoniza com a natureza. Eis que emocionalmente os homens do Ceará, com raras exceções, puderam desenlaçar-se dos atrativos da influência ecológica, tão evidente em sua criatividade espiritual e literária, ensina o autor. O interesse pelo chão que pisamos aflora na atividade literária de José de Alencar, Gustavo Barroso, Oliveira Paiva, Domingos Olímpio, que ornaram as suas mensagens com os rebentos da flora, a vitalidade da fauna, e assim alentaram o naturismo das nossas letras. Mas, é estudando com melhor amplitude os tons da criatividade do romancista COR- DEIRO DE ANDRADE que o autor nos oferece sua avaliação crítica do entrosamento terra-homem e descobre a sublimação do sentimento lúdico, nitidamente infantil, expressão de ternura do modo de ver artístico. Este é mais um livro que nos mostra a vivência do escritor com os pés bem firmes na terra, cuja problemática conhece também como agricultor na Serra da Aratanha, onde amanha o solo entre plantas e animais domésticos, flores silvestres e gorjeios de pássaros, sentindo, porém, as dificuldades e sofrimentos de sua labuta. Do alto daqueles cimos verdes e espaços azulados, outrora palmilhados pelo sábio L. AGASSIZ e outros naturalistas da Comissão Científica, EDUARDO CAMPOS descerra amorosamente, no interesse da ecologia e atividades agrárias, vividas, o véu de suas preocupações ecológicas. Líder 15 de movimentos intelectuais, o ex-presidente da Academia Cearense de Letras recomenda a estratégia de Anteu, munindo-se de ciência, do amor á natureza, de senso e responsabilidade para com o mundo e a vida. Considera o regionalismo como uma opção válida. Eis que a imaginação criadora deve operar com a matéria-prima dos elementos que nos rodeiam. Adiantarei para os técnicos e cientistas que, sem preocupações de profundidade, o autor tenta abarcar a evidência que mora naquilo a que podemos chamar de ecologia cultural. Esta opção é válida, superiormente válida, nos tempos atuais, quando muitos, dolosamente, vão na insensatez de engendrar uma literatura de fuga, excêntricos da realidade, do mesmo modo como economistas, tecnocratas e políticos cometem o crime de sonegação da verdade, ocultando o subdesenvolvimento, o pauperismo, a fome, o grito de dor das populações oprimidas, considerados por esses tristes doutos como temas superados e de inspirações derrogadas. A participação do escritor genuíno neste mundo difícil, corroído, abalado pela imprevidência e arruinado pela cobiça, é necessária. E acrescenta o ensaísta em seu pronunciamento proferido em 1974, na abertura do II Congresso Cearense de Escritores: é urgente refletir sobre o comportamento do homem, seus anseios, suas emoções, seus momentos de alegria ou de tristeza, de grandeza ou de decadência, em decorrência da realidade que defrontamos, ponto de referência que se desloca, agora, com dimensões imprevisíveis. É interessante ver no livro a crítica do autor em termos de ecologia, quando esboça a sua tentativa de avaliação da consciência ecológica dos romancistas cearenses, segundo um levantamento das plantas, vegetação ou revestimento florístico descrito. Para este fim, retoma o zoneamento geobo- 16 EDUARDO CAMPOS tânico adotado na região e examina a variedade de elementos considerados. Eis um invulgar indicador para os críticos literários, porquanto, quem hoje lê, deseja instruir-se. O artista buscará igualmente o conteúdo científico. Eis que, como diz FER- NANDO AZEVEDO, citando ANA TOLE FRANCE, se é certo que as ciências separadas das letras se tornam maquinais e brutas, as letras privadas de ciência são vazias, pois, a ciência é a substância das letras. Das considerações supra, referentes á parte estética do livro, tentaremos ver agora a parte prática. Em rigor, estas palavras não constituem uma apresentação. O escritor e o livro, por seu talento e verdade se apresentam, não precisam de arauto. Todavia, convidado a opinar como agrônomo, observador da vida rural, acompanharemos as justas assertivas do conteúdo, procurando esclarecer um testemunho, assim corroborando, sem laivos de contradita. EDUARDO CAMPOS, no gosto clássico do seu estilo simples, mas erudito, alinha a sabedoria bíblica à sabedoria naturalista. E citando DAVID THOREAU, focaliza para o leitor o incisivo texto com que o sábio amoroso da fauna e da flora comenta a destruição causada pela agricultura com as suas armas instrumentos e máquinas: derrubaram árvores, desviaram córregos, desapearam as aves dos ninhos, e o próprio clima, elaborado pela inconsciência do agricultor, sofreu variações qué permitiram o advento do ventilador e do condicionador de ar. Este arrasamento da vida natural acompanha-se do esvaziamento mental com que a civilização do consumo renega o amor à fauna, à flora, e de tal modo que as novas gerações, repudiando mesmo as preocupações com a natureza viva, tornaram-se insensíveis à moldura ambiente. 17 O Homo faber, em sua gula industrial, expandiu, através poderosos tentáculos comerciais, a predatória exploração extrativista, num abusivo consumo da matéria-prima. LYNTON CALDWEL, da Universidade de Indiana (EUA), pondera que a dificuldade para a institucionalização de medidas de proteção ao meio ambiente é conciliar a ecologia com a economia. E acrescenta que as metas e políticas de desenvolvimento baseadas na aplicação da ciência e da tecnologia hão sido freqüentemente formuladas sem a devida atenção a suas conseqüências ecológicas. No fundo da cena, subsiste a primitiva lavoura extensiva e itinerante, praticada pelo homem pobre, desassistido e explorado em seu trabalho. Como sair em defesa dos recursos injuriados, pergunta o autor, sem primeiro enfrentar e resolver de modo corajoso o processo primitivo de que se utiliza o sertanejo? E aqui vem uma advertência pessoal, sua, que desejamos esclarecer: Sejamos práticos: formamos técnicos, incrementamos a pesquisa de campo; proclamamos a eficiência da máquina; programas de extensão rural, mas formamos, salvo honrosas exceções, engenheiros-agrônomos que ficam nas grandes cidades, esquecidos de que no campo, por deficiência de orientação, apesar dos pinçamentos esporádicos dos planos de assistência técnica, o agricultor continua insensato pela sua ignorância, carbonizando o chão de que se nutre. O ensaísta disse verdade, mas não toda a verdade. Há que arrancar o pano desse palco, os seus bastidores, e ver os escombros que ocultam os atores do drama da agricultura, os fatos, as condições em mira de uma debandada ou atitude de fuga. O certo é que não se enfrentou ainda corajosa e profundamente o problema. Nem o agricultor ignorante e desassistido, nem o agrônomo distante pode ser bode expiatório dessa desdita. O 18 EDUARDO CAMPOS problema é de natureza estrutural, há que ser revisto dentro de sistemas, pois a agricultura é um sistema. Há uma estrutura agrária e administrativa de alto abaixo contra producentes, senão impeditivas do desenvolvimento. O agrônomo não se distanciou do campo, dele excluindo-se nas cidades por império próprio. Ao contrário, foi obrigado a isso pela burocratização dos serviços assistenciais, por omissão daqueles que lhes negaram recursos e meios, desmontaram até mesmo as bases de operação, postos agropecuários, fazendas experimentais, campos de sementes, núcleos operacionais que vinham sendo cuidados com minguados e deficientes meios financeiros. Muitos, saídos das escolas sem experiência, chegaram a realizar um trabalho pioneiro digno de nota. Todavia, eram largados à própria sorte, sem uma retaguarda positiva de serviços experimentais, que depois foram esmorecendo até a extinção. Decidiram pela inoperosidade dos trabalhos, sem ler a razão precípua da decadência dos órgãos institucionais de fomento e extensão, latente no desencorajamento financeiro, na ausência de treinamento e atualização científica e técnica, ou na desordem ou nefastização política sempre imperante. Se quisermos, porém, julgar o agrônomo como elemento positivo a influir na comunidade rural, é preciso considerar a sua formação. Uma crítica se impõe ao sistema de ensino que se implantou ingenuamente, copiando modelos estrangeiros à guisa de reforma universitária. Massificouse o ensino, sem empreender o diagnóstico de situações e necessidades, notadamente as de ordem ecológica, não se atualizando em relação à problemática nacional e regional. Pior ainda, não sobra tempo para a reflexão, para os exercícios e práticas de campo. Resta-nos um corpo sem alma no modelo de formação de um profissional que deveria ter tem- 19 po e condições de aprender fazendo, trabalhando, e, sobretudo, conscientizando-se. Sua aproximação com a natureza viva já não pode se realizar satisfatoriamente face às exigências de carga-horária-aula para o aluno e para o professor, sem verem os organizadores a prioridade do expediente real, pedagógico e didático. A conseqüência é o esvaziamento, a desertificação mental, a falta de participação nos problemas universais e regionais da terra e do homem. Ora, é oportuno sublinhar o inteligente conceito de PAULO FREIRE, segundo o qual, o agrônomo não pode, em termos concretos, reduzir o seu que fazer a esta neutralidade inexistente: a do técnico que estivesse isolado do universo mais amplo em que se encontra como homem. A crítica permanente que se lhe faz reforça a noção de sua responsabilidade como líder e educador, um agente de mudança. Daí que, como insiste em doutrinar o autor citado, sua participação no sistema de relações camponeses-natureza-cultura, não pode ser reduzida a um estar diante, ou a um estar sobre ou a um estar para os camponeses, mas a um deve estar com eles, como sujeitos de mudança também. Todavia, por incrível que pareça, desde a sua formação na Universidade, por uma razão que a razão ignora, o agrônomo vem sendo impelido, sobretudo agora, a um estar distante. Gostaria o comentarista que os Magníficos Reitores, Pro-Reitores e responsáveis pela implantação da reforma universitária lessem o relatório da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, estabelecida pela Organização das Nações Unidas, a Ciência e a Cultura, (UNESCO), no importante livro de EDGAR FAURE, sob a epígrafe, Aprender a Ser. A leitura desta obra mostrará quão distante e desatualizado está o modelo de ensino e educação de nível superior que adotamos. 20 EDUARDO CAMPOS O fim da educação, dizem as autoridades da UNESCO, é permitir ao homem ser ele próprio, vir a ser. Há uma tendência de abolir o sistema educativo de preferência a reformá-lo, pois que se acha envelhecido e paralisado. Cresce o prestigio do ensino baseado na reflexão, alargando as funções do autodidatismo, exigindo-se um sistema de educação permanente, a transformação dos sistemas educativos fechados em sistemas abertos. Procurar-se-á conciliar a educação geral e a formação técnica e associar estreitamente educação e trabalho. Enquanto repudia todo o sistema de especialização limitada e precoce, tenderá a transformar as universidades em instituições de vocação múltipla, abertas aos adultos e aos jovens, destinadas tanto à formação contínua e à reciclagem periódica, como à especialização e investigação científica. A UNESCO recomenda dois planos fundamentais: a educação permanente e a cidade educativa como estratégias do futuro. No que tange ao ensino agronômico, por que não alargar o conceito ao campo educativo? Impõe-se associar a educação e o trabalho e ao mesmo tempo relacionar a educação do profissional de agronomia à vida, à natureza, sem o que apenas ficará a ação burocratizada e burocratizante. Uma outra observação procedente é a que regista o autor sobre os resultados do Projeto de Irrigação em Morada Nova. Não encontrou o jornalista a humanização da paisagem. No vale reverdecido pelas culturas, a habitação do homem não tem jardins, mas flores de papel. O alagamento e a salinização dos solos estão a exigir a implantação de um serviço experimental de irrigação, destinado a orientar os irrigantes com normas próprias de irrigação. O Projeto de Morada Nova é um Laboratório em potencial do ponto de vista técnico, econômico, humano. 21 Há fatores que merecem uma observação de conteúdo global, conduzida no sentido do reajustamento tendente à formação de novos hábitos. O escritor observa então que o sertão tradicional não se desprende totalmente da comunidade. E todas as benesses não conseguem modificar, para melhor, o desamor do sertanejo cearense à verticalidade da cobertura vegetal, andejo como se sente, inseguro na ancoragem, como se não valesse a pena fazer sombra ou prelibar frutos, se o reencontro com uma seca o toca para a frente. Esta observação, como muitas outras, intuitivamente feitas, mas, claras, objetivas, seguras, evidentes, indiscutivelmente merecem o olho do sociólogo, do antr