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Craniopuntura

1 Tratamento de craniopuntura aplicado em pacientes com sequelas por acidente vascular cerebral (AVC): plano de tratamento e procedimentos Daniel Oliveira de Almeida Dayana Priscila Maia Mejia 2 [email protected] Pós-Graduação em Acupuntura – Faculdade Ávila 1 Resumo O acidente vascular cerebral (AVC) é considerado como de grande incidência em nível mundial, vitimando indivíduos afetados, seja pelo número de mortalidade, seja pela ocorrência de sequelas que incapacitam pacientes. A acupun

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  1 Tratamento de craniopuntura aplicado em pacientes com sequelas poracidente vascular cerebral (AVC): plano de tratamento eprocedimentos Daniel Oliveira de Almeida 1  Dayana Priscila Maia Mejia 2   [email protected]ós-Graduação em Acupuntura  –  Faculdade Ávila Resumo O acidente vascular cerebral (AVC) é considerado como de grande incidência em nívelmundial, vitimando indivíduos afetados, seja pelo número de mortalidade, seja pelaocorrência de sequelas que incapacitam pacientes. A acupuntura, conhecida técnica milenar oriental, que se apresenta como terapia para várias situações patológicas, por meio dainserção de agulhas em pontos-chaves do organismo, tem se tornado coadjuvante notratamento dessas sequelas, particularmente pela aplicação da craniopuntura  –  técnicadesenvolvida por Yamamoto  –  e que consiste no agulhamento em pontos cruciais da caixacraniana, possibilitando a estimulação de regiões que produzem bem-estar no paciente e podem reconduzi-lo à recuperação de movimentos, principalmente faciais e dos membros nolado afetado. O objetivo principal desse artigo foi de evidenciar as indicações maisconsistentes sobre aplicação dessa técnica em pacientes de AVC, com destaque para aescolha do plano de tratamento e dos procedimentos adotados para agulhamento nasdiversas áreas que podem conduzir a uma melhora do quadro geral do paciente comsequelas. A metodologia utilizada consistiu de uma revisão literária, e os resultadosconduzem à interpretação de que a craniopuntura é uma técnica que pode auxiliar significativamente no tratamento das sequelas do AVC, desde que o diagnóstico permitaescolher o plano de tratamento adequado para cada situação apresentada.  Palavras-chaves:  AVC. Acupuntura. Craniopuntura. Procedimentos. 1. Introdução Na presente pesquisa, destacam-se as indicações sobre o uso da craniopuntura aplicada empacientes pós-trauma de AVC. Apesar de sua ligação com a milenar técnica chinesa daacupuntura, a craniopuntura passou a ser desenvolvida ao final da década de 1960, e seusprincípios básicos se resumem à aplicação de agulhas sobre as áreas sensitivas e motoras quese encontram posicionadas logo abaixo do cérebro anatômico do paciente, possuindo,portanto, a finalidade de estimular a área corporal sequelada ou funcionalmentecomprometida (YAMAMOTO et al., 2007).Originalmente, já se tem a acupuntura escalpeana como um método que consiste na inserçãode agulhas de acupuntura em áreas determinadas do couro cabeludo, as quais se relacionamcom a projeção de áreas corticais específicas, com o intuito de adquirir bons efeitosterapêuticos. Em pós-traumas de AVC, de modo mais particular, essa técnica é utilizadaprincipalmente em sequelas visuais e motoras, dependendo, no entanto, da duração daevolução das sequelas e da localização da obstrução vascular (YAMAMURA, 2001). 1   Fisioterapeuta. Pós-Graduando em Acupuntura, pela Faculdade Ávila.2 Orientadora: Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direitoem Saúde.    2 No conhecimento científico, sabe-se que o AVC se srcina de problemas circulatórios, quelevam à interrupção do extravasamento dos vasos na região cerebral. A acupuntura, para essescasos, é apontada como responsável pela estimulação do sistema nervoso, prevenindo, no pós-trauma, o desenvolvimento de deformações e deficiências, em função da paralisação ou daredução radical das funções relacionadas à parte do cérebro que se manteve privada de sanguedurante o AVC.A craniopuntura, portanto, é uma variação das técnicas de acupuntura, destinadaexclusivamente à aplicação nas áreas do cérebro, e que pode, no caso de pacientes pós-traumatizados pelo AVC, diminuir a dificuldade de movimentação, chegando mesmo, emvários casos, à possibilidade de restabelecimento quase completo das funções perdidas emfunção do AVC.Possuindo mais reconhecimento na literatura oriental, a aplicação da craniopuntura remete amétodos tradicionais de tratamento de desordens, disfunções ou doenças que afetem o sistemanervoso, ao ponto de interferirem diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Nãoobstante, a busca por técnicas e procedimentos alternativos que, aliados ao avançotecnológico na medicina, possibilitem tratamentos menos sacrificantes, consideram acraniopuntura como uma técnica que pode ser associada a equipamentos de imagem  –  como aRessonância Magnética Digital, por exemplo  –  onde se pode relacionar de modo mais precisoas áreas do cérebro afetadas pela doença e, com isso, promover-se a escolha de planos detratamento e procedimentos mais efetivos de craniopuntura.Por conta dessas premissas iniciais, o objetivo geral dessa pesquisa foi de apontar os planosde tratamento e procedimentos específicos mais indicados na utilização da craniopuntura empacientes pós-traumatizados por AVCs.Os procedimentos metodológicos utilizados foram todos baseados em revisões sistemáticas deobras editoradas, artigos, teses e dissertações encontradas em acervos eletrônicos edisponíveis ao domínio público.Os bancos de dados de maior alcance, em relação à temática, foram: Scielo, Medline, BVS eLilacs, sendo utilizado, como descritores, os unitermos: acidente vascular cerebral; AVC(definição; prevalência; etiologia; manifestações clínicas; diagnóstico; diagnóstico diferencial;tratamento convencional; tratamento alternativo); medicina tradicional chinesa; acupuntura;pontos energéticos; craniopuntura.A estrutura da pesquisa está assim representada: em sua parte inicial, discorre-se sobre oAVC, características, peculiaridades, sequelas. A segunda parte apresenta o histórico eaplicação da acupuntura, enquanto elemento pertencente à tradicional medicina chinesa; aterceira parte envolve a explicação sobre a craniopuntura e suas aplicações no campo dotratamento de sequelas do AVC, culminando com a discussão e a conclusão, onde se expõe oponto de vista da autoria do artigo, e recomendações para pesquisas futuras. 2. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) O AVC também recebe a denominação de acidente vascular encefálico (AVE) ou, comoconhecido popularmente, derrame cerebral ou trombose. Caracteriza-se pela perda rápida dasfunções neurológicas, que ocorrem em função do processo de isquemia ou hemorragia,respectivamente entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos que irrigam o cérebro(ZINNI, 2005).O AVC pode ainda ser classificado como acidente vascular encefálico de srcem hemorrágica(AVI) ou acidente vascular encefálico de srcem isquêmica (AVI). No primeiro caso, ocorre aruptura de um vaso sanguíneo que irriga o cérebro, resultando em aumento drástico na pressãointracraniana, bem como em uma redução na perfusão cerebral, cuja duração pode atingiralguns minutos. Basicamente, o vaso sanguíneo é o responsável pelo suprimento de sangue ao  3 encéfalo, que extravasa para as células e causa morte dos tecidos por meio dos elementosquímicos que compõem o sangue (ZINNI, 2005).No AVH, concorrem para seu acometimento: aneurismas, micro-aneurismas, má formaçãoarterial, idade avançada, hipertensão arterial, distúrbios hemorrágicos, traumatismos, e outroscomo etilismo, tabagismo e drogadição (ASSIS et al., 2010).Por sua vez, o AVI é caracterizado pela interrupção do fluxo sanguíneo a uma determinadaporção do encéfalo, srcinária da obstrução dos vasos ou diminuição do volume sanguíneoque irriga o cérebro. Divide-se ainda em relação ao local e tipo de lesão, nas seguintescategorias: AVI Trombólico; AVI Embólico e AVI Transitório. Em todos os casos, a srcemdecorre da formação de uma trombose, provocando estenose no vaso, o que impede acirculação sanguínea normal. Suas principais causas estão relacionadas a: vasculite,policitemia, dissecção, hipercoagulabilidade e doenças infecciosas, além de lesões cranianasque podem levar à isquemia ou oclusão arterial (O´SULLIVAN, 2003).Zinni (2005) também contribui, destacando que a etiologia do AVI de srcem embólica éderivada de arritmias, endocardites infecciosas e doença cardíaca reumática, sendo fatoresrecorrentes a hipertensão arterial crônica, o diabetes mellitus, a estenose do tronco da artériacerebral média e microembolias.Trata-se, no entendimento de Anderson (2004), de uma doença que apresenta início súbito,onde o paciente pode apresentar, via de regra, paralisação ou dificuldades de movimentaçãodos membros em um lado do corpo, estendendo-se à dificuldade na articulação de palavras edéficit visual.Para Zinni (2005), o AVC ainda constitui um desafio na área médica, atraindo o interessemultidisciplinar no campo da saúde, principalmente por se consolidar como a 3ª causa demorte em todo o mundo e a 1ª em número de incapacitação física e mental. Mesmo em paísesmais avançados tecnologicamente, como os Estados Unidos, dados da Organização Mundialde Saúde apontam uma estimativa de pelo menos 500.000 novos casos surgidos por ano,sendo que 50% dos acometidos são levados a óbito, e 25% ficam incapacitadospermanentemente. Apenas 5% retomam suas atividades de vida diárias.Assis et al. (2010) comentam que o AVC é considerado como a principal causa de morte porproblemas cardiovasculares no Brasil, numa proporção de 1 para cada 3 casos. No campo dasdoenças vasculares, 30% das mortes são causadas pelo AVC, epidemiologicamente emcamadas sociais mais pobres e entre idosos.Na opinião de Branco e Friedrich (2005), a evolução do AVC pode conduzir o paciente aóbito, devendo ser tratado em caráter de emergência médica. Ainda assim, na maioria dassituações, o paciente conviverá com sequelas.O AVC costuma trazer, como sequelas, déficits funcionais e cognitivos, além da mudança depersonalidade e comportamental e falhas na comunicação que geram níveis de incapacidadese comprometem não só a qualidade de vida do paciente, mas também de seu núcleo familiar(BOCCHI, 2004).O AVC pode limitar de modo significativo o desempenho funcional, com consequênciasnegativas nas relações pessoais, familiares, sociais e, sobretudo na qualidade de vida. Deacordo com Branco e Friedrich (2005), sua etiologia deriva de fatores também relacionadosao modo de vida dos indivíduos, como o sedentarismo, o etilismo, o tabagismo, colesterolelevado, e associação com o diabetes mellitus e hipertensão arterial.Os principais sintomas relatados na literatura correspondem a: perda súbita de força em umlado do corpo e na face, ocasionando desvio da boca para um lado; perda repentina dasensibilidade em um lado do corpo; perda de visão súbita de um olho e da fala; dor de cabeçasúbita, sem causas aparentes, e dificuldade súbita para caminhar (ANDERSON, 2004).Para Neves (2005), complicações do AVC são quase que inevitáveis, sendo recomendado, demodo extremamente precoce, o atendimento clínico e de reabilitação. Entre essas  4 complicações, são citadas: depressão, regressão intelectual, contraturas com aumento daespasticidade, síndromes álgicas, escaras, incontinência vesical, infecção urinária, disfunçãointestinal, entre outras. Em todos esses casos, o profissional de Fisioterapia possui condiçõesde atuar, visando a minimização de seus impactos.Branco e Friedrich (2005) também contribuem, apontando que o atendimento precoce, sejaclínico ou reabilitatório, é a medida mais coerente para a diminuição das complicações que seinstalam após o AVC.A escolha do plano de atuação objetivando melhorar a qualidade de vida do paciente pós-traumatizado pelo AVC, no entanto, depende do tipo de relação profissional existente entrefisioterapeuta e paciente, e que envolvem fatores relacionados ao cotidiano do paciente,possível fragilidade emocional, sem contar problemas de ordem psicossocial ou financeiros(ASSIS et al., 2010).Nessas circunstâncias, a acupuntura pode ser considerada uma alternativa de tratamento dassequelas do AVC, sendo menos traumática, com menos chances de rejeição ou de não adesãoao tratamento, e de custo relativamente baixo. 3. A acupuntura tradicional Segundo Buck (2002), a acupuntura é tida, na cultura ocidental, como um último recursoterapêutico. Basicamente seria a última instância de tratamento, onde tratamentosconvencionais não surtiram os efeitos desejados.Segundo Silva Filho e Prado (2007), a Medicina Tradicional Chinesa trata o corpo humanosob uma visão bastante peculiar, considerando o organismo como um elemento sistêmico,onde se envolvem as relações com o meio externo e consigo mesmo. Nesse âmbito, asdoenças são analisadas por suas causas, seja através de fatores externos ou internos, queimpedem o funcionamento adequado dos órgãos internos (  Zang Fu ) e da circulação sanguíneade Qi e de sangue (  Xue ) pelo corpo.Na explicação de Martinez (2010), a acupuntura é um ramo da Medicina Tradicional Chinesa,praticada há vários séculos. Trata-se de um procedimento diagnóstico e terapêutico que utilizaa introdução de agulhas metálicas em pontos de canais de energia denominados de meridianosou acupontos, e localizados em regiões específicas do corpo, podendo-se fazer uso também daestimulação calórica conhecida como moxabustão.Etimologicamente, o termo deriva do latim ( acus = agulha;  punctura = puncionar). Dessamaneira, seu significado representa a inserção de agulhas através da pele nos tecidossubjacentes em profundidades diferenciadas e pontos estratégicos do corpo, com a intenção deproduzir efeitos terapêuticos. Para o oriente, no entanto, a palavra deriva da expressão chinesa  Jin Huo (ou Tsen Tsio ), que significa metal e fogo, razão pela qual os pontos distribuídos pelocorpo podem tanto ser puncionados com agulhas quanto aquecidos, pelo processo demoxabustão (SOUZA, 2007).No Sistema de Saúde Pública chinês, a aplicação da acupuntura é praticamente obrigatória. Adisseminação da prática da acupuntura pelo campo da medicina ocidental fez com quehouvesse o reconhecimento por organismos internacionais, como a própria OrganizaçãoMundial de Saúde ( World Health Organization ), tanto assim que seus procedimentos estãocontidos em relatórios e manuais dessa instituição, em publicações que tratam dos conjuntosde técnicas relacionadas com Medicina Tradicional (KUREBAYASHI et al., 2007).O princípio básico da acupuntura refere que a energia não é um fluido homogêneo, mascomposta por duas forças iguais e opostas: Yin e Yiang, mescladas em proporções exatas,porém variáveis segundo o meridiano e a região do corpo. Se esta proporção se altera, advémas enfermidades, caso contrário, o equilíbrio (MARTINEZ, 2010).Para Scognamillo-Szabó e Bechara (2001), a acupuntura tanto serve como medida dediagnóstico de doenças, como para a promoção de curas, o que se dá em função da