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O Sonoro Na Construção Da Identidade: Musicoterapia, Saúde Mental E Outros Constructos *

O SONORO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE: MUSICOTERAPIA, SAÚDE MENTAL E OUTROS CONSTRUCTOS * Ana Sheila Tangarife Musicoterapeuta Clínica, Coordenadora do Curso de Graduação em Musicoterapia (CBM Centro Universitário),

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O SONORO NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE: MUSICOTERAPIA, SAÚDE MENTAL E OUTROS CONSTRUCTOS * Ana Sheila Tangarife Musicoterapeuta Clínica, Coordenadora do Curso de Graduação em Musicoterapia (CBM Centro Universitário), Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Musicoterapia (CBM Centro Universitário), Supervisora dos Estágios Acadêmicos na Área da Deficiência Mental (Graduação e Pós-Graduação em Musicoterapia). Coordenadora, junto com a Mt. Lia Rejane Barcellos da Clínica Social do Curso de Graduação em Musicoterapia, Mestre em Educação Musical (CBM). Musicoterapeuta Clínica do Instituto de Psicologia Clínica Educacional e Profissional (IPCEP). Rio de Janeiro. E.mail: R E S U M O Atualmente nos defrontamos com os desafios éticos dos novos serviços pós-asilares, os impasses da reforma psiquiátrica, tendo o intradisciplinar como exigência. É neste cenário de surpresas, sobressaltos e desafios que vamos buscar a inserção da Musicoterapia dentro do Modelo de Oficinas Terapêuticas. Este trabalho é uma tentativa de aprofundamento de nossa pesquisa de Mestrado 1, cuja hipótese foi o estabelecimento de uma correlação entre a representação simbólica dos instrumentos musicais, sua criação e restauração e os mecanismos psicológicos de reparação interna, no campo da Educação Especial. Através da análise de dados coletados, concluímos, entre outros aspectos, o fortalecimento de suas identidades e estruturação psíquica. Isso nos incentivou a prosseguir o assunto, calcados em diferentes abordagens teóricometodológicas, desta vez no campo da Saúde Mental, com a finalidade de validarmos ou não nossas expectativas quanto às possibilidades terapêuticas de nossos procedimentos, junto a esta população. Baseado em nossa hipótese de trabalho, partimos de um objetivo geral abrangente que seria a busca da construção ou ressignificação da identidade do poente mental, assim como tentar promover sua Inclusão Social, e possível capacitação de geração de renda. Nosso enquadre teórico será o conceito de Envelope Sonoro (Anzieu, 1989), Mecanismos de Reparação (Klein M., 1991), Núcleo Rítmico e Ato Criador (Honigsztejn, 1990), Música e Identidade (Ruud, E., 1998). Usamos uma adaptação da Metodologia de Oficina de Música (Fernandes, 1993), assim como Teorias e Técnicas Musicoterápicas adequadas ao campo de Saúde Mental. PALAVRAS-CHAVE: pesquisa, construção, sonoro, identidade 1 INTRODUÇÃO: * Apresentado no V Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia, Rio de Janeiro, Construindo sons e suas ressonâncias, dissertação de Mestrado. Conservatório Brasileiro de Música, 1997. Atualmente nos defrontamos com os desafios éticos dos novos serviços pósasilares, os impasses da reforma psiquiátrica, o intradisciplinar como exigência e principalmente a necessidade de superação do paradigma hospitalocêntrico que se torna uma porta de novas formulações, nos convidando a um esforço de busca de novas exigências nos cuidados do indivíduo em sofrimento psíquico. É neste cenário de surpresas, sobressaltos e desafios que vamos buscar a inserção da Musicoterapia e suas possibilidades dentro de modelo de Oficinas Terapêuticas, entendendo a idéia de Oficina como espaço de criação, de experimentação incessante, facilitador de comunicação e relações interpessoais, favorecendo a interação, integração e reinserção social. Em nosso trabalho tentaremos fazer uma reflexão e abordagem, e esclarecer justamente as relações entre a Musicoterapia e os diferentes caminhos na área de Saúde Mental. Ao mesmo tempo pretende-se averiguar como os diversos procedimentos em Musicoterapia se encontram ajustados a essa área. Esse projeto de pesquisa será a tentativa da criação de um espaço de produção interdisciplinar, envolvendo interesses teóricos e clínicos, focalizando a interligação entre Arte, Saúde e Clínica, trinômio que vem ganhando importância e destaque na contemporaneidade. 2 APRESENTAÇÃO DO TEMA: Esta pesquisa deriva-se de uma experiência realizada há alguns anos na Sociedade Pestalozzi do Brasil (RJ), instituição especializada no atendimento a Pessoas Portadoras de Necessidades Educativas Especiais. A experiência foi fruto da observação de fenômenos comportamentais apresentados durante as sessões de Musicoterapia. Nessa ocasião alguns integrantes do grupo, todos adolescentes, ao invés de participarem musicalmente, se dedicavam a manipular seus instrumentos de forma não convencional, ou seja, não os utilizavam para produzir sonoridades e sim, tentavam desmontá-los e ajustá-los segundo suas possibilidades. Num primeiro momento procuramos sinalizar essa aparente perda de tempo mas ao vermos repetir-se essa situação inúmeras vezes, refletindo melhor começamos a buscar um significado para tal ação. Através de alguma bibliografia inicial começou-se uma investigação envolvendo dois temas básicos, ou sejam: a origem e o simbolismo dos instrumentos musicais e algumas abordagens psicológicas sobre os mecanismos de reparação, buscamos uma analogia entre esses dois aspectos e os comportamentos descritos anteriormente, na tentativa de entender o significado dos fenômenos observados e buscar respostas às várias indagações surgidas. Com base na hipótese de que poderia haver uma estreita correlação entre os dois aspectos de estudo expostos anteriormente e o desempenho comportamental dos alunos, partimos para a criação de uma Oficina de Luteria (construção e restauração de instrumentos musicais), a fim de confirmar ou não as correlação anteriormente sugeridas, na expectativa de validarmos uma prática a ser utilizada em Musicoterapia. Isso nos levou posteriormente a ingressarmos num Mestrado em Educação Musical, desenvolvendo uma pesquisa clínico-musicoterápica. O título inicial do projeto foi Construindo e restaurando objetos sonoros: uma ampliação do setting musicoterápico (Uricoechea, 1997). A hipótese da pesquisa foi o estabelecimento de uma correlação entre a representação simbólica dos instrumentos musicais, sua criação e restauração e os mecanismos psicológicos de reparação interna, numa abordagem de musicoterapia no campo da Educação Especial. Através da análise dos dados coletados chegamos à conclusão de que nossa população-alvo demonstrou um visível desenvolvimento de habilidades cognitivas, materiais e musicais, assim como o fortalecimento de suas identidades e estruturação psíquica,tanto no processo de Musicoterapia como nas demais atividades. Isso nos incentivou a ampliar e aprofundar o assunto, calcados em diferentes abordagens teórico-metodológicas, desta vez no campo da Saúde Mental com a finalidade de confirmarmos ou não nossas expectativas quanto às possibilidades terapêuticas de nossos procedimentos junto a esta população. 3 JUSTIFICATIVA A busca de novos modelos em Saúde Mental trouxe vários movimentos visando a redemocratização política, entre eles, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (1978), a I Conferência Nacional de Saúde Mental (1978), a II Conferência Nacional de Saúde Mental (1992) e a III Conferência Nacional de Saúde Mental (2001) onde as discussões giraram em torno da implementação das conquistas embutidas na aprovação da lei nº /01 e nas portarias do Ministério da Saúde que regulam a assistência em Saúde Mental no Brasil. Seu Relatório Final reafirmou as conquistas das Conferências anteriores, corrigiu rumos e consolidou estratégias dos serviços comunitários (CAPS) como dispositivos prioritários de organização da atenção em Saúde Mental (Fiocruz, 2003). O panorama da saúde mental pública no Brasil está se transformando rapidamente. Com o aumento dos conhecimentos sobre o ser humano, faz-se necessário ampliarmos nosso campo de visão, no qual o homem é visto dentro de um contexto psicológico, biológico, social, econômico entre outros, todos interagindo sobre seu sofrimento psíquico. O crescimento do isolamento social, a deterioração das formas de convivência, o fracasso das iniciativas de participação coletiva são um terreno fértil para a emergência de um verdadeiro paradigma da exclusão (Magalhães, R., 2001). O isolamento, a ruptura com o social e a impossibilidade de coletivizar experiências pessoais são produtores de sofrimento psíquico (Venâncio, 1997) A valorização da arte enquanto instrumento terapêutico não é recente neste contexto. Poderíamos ilustrar brevemente citando desde Winnicot até Deleuze e Guattari, destacando-se no Brasil a Dra. Nise da Silveira. A arte como ferramenta integradora, é capaz de gerar sentidos compartilháveis socialmente, possibilitando a integração do homem com o mundo (O campo da Atenção Psicossocial, 1997). Através de atividades musicais o musicoterapeuta se relaciona com seu paciente (individual ou grupalmente) possibilitando aos mesmos a atualização de seu potencial criativo através da comunicação sonora. Segundo Bruscia (1987) o processo terapêutico se dá através de experiências musicais e das relações que se desenvolvem através delas. Em Musicoterapia, que é a base ou assentamento de nossa proposta, depreendemos que a música opera, e é ao mesmo tempo resultado da interação entre cliente e terapeuta, sendo percebida como fenômeno e também reportando à percepção de si mesmo e do outro. A construção de instrumentos musicais poderá facilitar as ligações que o cliente faz do sentido musical com fatos e fenômenos subjetivos,se tornando uma espécie de convite a uma nova experiência, a perceber ritmos, formas e intensidades de existência. O que foi experimentado com música pode ser reportado a outros contextos, possibilitando novas experiências subjetivas ou formas de subjetivação. Através da música, oferecemos a nossos clientes um tempo para ser livre das fronteiras rígidas de sua doença ou patologia através da expressão de emoções. Isto significa que a música permite que as emoções possam ser claramente e especificamente expressadas, fortalecendo então o poder da relação de musicoterapeuta-paciente num processo musicoterapêutico. Retornando à apresentação do tema, nos propomos retornar à investigação do significado da construção, restauração e transformação dos objetos ou instrumentos sonoro-musicais, num contexto de oficina terapêutica na tentativa da resgate e reestruturação da identidade do portador de sofrimento psíquico. Principalmente quando pensamos no significado simbólico da construção do instrumento musical, que pode se tornar uma extensão do seu corpo e, por conseguinte, da expressão não-verbal do doente mental (Uricoechea, 1997). Para Ruud (1998), o fazer música é uma importante regra de construção de identidade, assim como é uma espécie de caminho para ancorar importantes relações interpessoais, possibilitando às pessoas se colocarem dentro de seu próprio contexto cultural, no aqui-agora. 4 OBJETIVOS Baseados no enunciado de nossa hipótese de trabalho, este projeto de pesquisa parte de um objetivo geral e abrangente que seria a busca ou tentativa da construção ou reconstrução da identidade do portador de sofrimentos psíquicos, assim como promover sua Inclusão Social e possível capacitação de geração de renda, que é a meta final dentro de um plano de atendimento atual em Saúde Mental. Além disso, como musicoterapeuta, procuramos verificar, através da análise final da coleta de dados,se a Oficina de Construção e Restauração de Instrumentos Musicais poderá ou não se constituir, per se, numa nova alternativa metodológica no campo da Musicoterapia. Produtos: Como esta pesquisa contará com a participação de alunos da Graduação e Pós- Graduação em Musicoterapia (Conservatório Brasileiro de Música Centro Universitário), serão elaborados artigos ou monografias nos diferentes níveis de formação acadêmica, assim, como o relatório final da Coordenadora da Pesquisa, para publicação em revistas especializadas de Musicoterapia e Saúde Mental. Está prevista a produção de CDS e CD-Roms e apresentação em Congressos, Simpósios e outros eventos de Musicoterapia e da Área de Saúde.O material produzido estará disponível para divulgação pela empresa patrocinadora da pesquisa, sendo observadas as normas éticas que norteiam a mesma. QUADRO TEÓRICO A partir de nossa pesquisa de Mestrado, pretendemos agora aprofundar o estudo do tema em questão com uma metodologia orientada na intenção de estabelecer possíveis correlações entre a ação de construir um instrumento ou objeto sonoro, assim como restaurá-lo (ou transformá-lo) e a representação simbólica dos mesmos e os mecanismos psicológicos de reparação interna envolvidos. Além disso investigaremos o que nos parece ser o ponto culminante no processo musicoterápico, ou seja: a utilização dos instrumentos construidos nas sessões de musicoterapia como objeto intermediário vincular ideal, como facilitador de um processo de organização interna e de crescimento pessoal (Benezon, 1988). Na tentativa da compreensão de nosso estudo, iremos desenvolver nosso trabalho baseados em algumas idéias básicas, ou sejam: O conceito de Envelope Sonoro (Anzieu, 1989) Os Mecanismos de Reparação (Klein, M. 1991) O Objeto Transicional (Winnicott, 1982) e o Objeto Intermediário (Bermudez, apud, Benenzon, 1988) O Núcleo Rítmico e o Ato Criador (Honigsztejn, 1990) Música e Identidade (Ruud, 1998); (Stige, 2002) O primeiro conceito abordado será o de Envelope Sonoro (Anzieu, D. 1989). Segundo o autor, nas fronteiras e limites do EU (estruturado sobre sensações táteis).... o SELF é constituído pela introjeção do Universo Sonoro como cavidade psíquica préindividual, dotada de um esboço de unidade e identidade. (Anzieu, D. 1989, p.182). Anzieu nos traz uma idéia instigante e com grande afinidade com os estudos acerca do fenômeno SOM - SER HUMANO - SOM, citados por Benenzon em seus trabalhos na área da Musicoterapia. O autor evidencia a existência mais precoce ainda de um Espelho Sonoro, ou de uma pele auditivo-fônica e sua função na aquisição da capacidade de significar e depois simbolizar (op. cit. p. 182). Depreendemos então, que antes que o olhar e o sorriso da mãe produzam impacto sobre o bebê, o Banho Melódico (a voz da mãe, suas cantigas e a música que proporciona) oferece um primeiro espelho que seria o Espelho Sonoro. Isso nos fez meditar o quanto é possível pensarmos na Música como a recuperação de algo que existe muito primitivamente no homem. O Universo Sonoro parece ser fundante e originário na paulatina constituição de um EU. Será esse universo sonoro que nos ocupará em nossa pesquisa, constituindo uma de suas linhas mestras. Continuando nossa busca de fundamentação teórica, encontramos em Melaine Klein e D. M. Winnicott contribuições que nos pareceram adequadas à nossa proposta. Ambos autores utilizaram, em suas obras, uma nova ferramenta que é a técnica do brincar (play technique) inspirada nos trabalhos de Freud (1920). Tanto Klein (1975) como Winnicott (1982) intuíram e confirmaram, com suas experiências, a existência de um rico mundo de fantasia inconsciente, assim como as relações de objeto desenvolvidas pela criança. Klein descreve também o papel da ansiedade e culpa em relação aos ataques ao corpo materno, bem como o ímpeto de fazer reparação e sua importância como fatos fundamental no impulso criativo (Segal, H. 1975, p. 17). Reforçando este conceito, Winnicott (1971) enfatiza o que chama holding (suporte), ou seja: o ambiente facilitador ou cuidado maternal que forma uma unidade com o bebê. Um dos pontos centrais do autor é a área de ilusão, ou seja, a transição do princípio do prazer para o princípio da realidade. Foi nesta área de ilusão ou espaço potencial que o autor encontrou o que chama de fenômenos transicionais que se transformaram no que denomina objeto transicional (Winnicott, 1975, p. 13). Desta forma, o lugar teórico do objeto transicional é na área da ilusão, onde se encontra o espaço potencial em que o brincar se desenrola. Introduziremos agora um conceito que nos parece vital em nossa linha de pensamento: o fazer criativo, o lidar criativamente com os sons corporais, com os materiais que poderiam refletir esses sons e, finalmente, na construção do artefato produtor de sons que se converteria num objeto intermediário vincular ideal (Benenzon, 1988). A maioria dos trabalhos sobre a atividade criadora têm-se preocupado, quase que exclusivamente, com o sujeito criador, deixando a obra criada em segundo plano. O importante seria o enfoque SUJEITO-OBJETO (comprovado por autores com Stokes, Ehrenzeweig, Milner, entre outros) e que gostaríamos de aprofundar em nossa hipótese de trabalho e que sintetizaríamos com a indagação: ato criador e impulso a integração poderiam ser considerados sinônimos? (Honigsztein, 1990, p. 25). Retornando o pensamento de Winnicott, constatamos que a função do holding (suporte), em termos psicológicos, seria fornecer apoio egóico antes da integração do ego. Honigsztein (1990) nos diz que no período de não diferenciação, o bom suporte levaria a um desenvolvimento emocional dentro a normalidade. Nesse período se estabeleceria o que o autor chama de Núcleo Rítmico, ou seja: o registrador na psique de um relacionamento bebê-mãe harmônico (op. cit. p. 30). Sendo assim, o artista e o ato criativo significariam uma espécie de encontro mãe-filho, sendo que a obra de arte seria vista como a reconstituição (na fantasia), do corpo materno e nessa reconstrução o artista se recria a si próprio (op. cit. p. 30). Consideramos que o artista não recebe só estímulo do meio; ele é impulsionado a escolher por uma eleição interna prévia e, através do seu ato criativo, poderá reproduzir uma série de vivências primitivas. Acreditamos também que esse impulso básico seria uma espécie de derivado no núcleo rítmico (já citado anteriormente) e que possibilitaria às pessoas, objeto de nossa pesquisa, se expressarem de forma mais profunda e rica em significados e simbolismos. Voltamos a nos indagar: o impulso à integração, realmente íntegra? Toda criação seria uma espécie de integração? É o que nos propomos questionar em nossa práxis. Na busca de uma correlação de nossa proposta com as hipóteses teóricas apresentadas, focalizamos nosso interesse no estudo do simbolismo dos instrumentos musicais, segundo a classificação de Sachs(1946). Por um processo de simbolização o homem buscou no mundo exterior algo similar aos sons que emitia e os recriou. Logo, o som se fez representante do objeto e apto a encená-lo. Sendo assim, a música seria evocação da voz materna, seria reeditar sua relação com ela e com a natureza. Seria superar a angústia depressiva e povoar o silêncio (Aberastury, op. cit. p.65). Voltamos à nossa indagação, ou seja: qual o valor simbólico da construção, restauração e transformação dos instrumentos musicais num processo musicoterápico? A clientela-alvo de nossa pesquisa, por suas características, nos levam a pensar em uma identidade fragmentada internamente, onde o impulso à integração muitas vezes perdeu o alvo. Nossa proposta seria criar um setting musicoterápico, onde estarão presentes, e sendo oferecidos uma série de materiais tais como: argila, peles, cordas, ossos, conchas, madeiras, metais, elementos de sucata (de qualidade e resistência) e outros. Estes estarão disponíveis e prontos para serem manipulados, experimentados, construídos, destruídos (transformados), num processo cheio de possibilidades. Os instrumentos construídos poderão se tornar o objeto intermediário vincular ideal se tornando... um instrumento de comunicação capaz de atuar terapeuticamente sobre o paciente, mediante uma relação, sem desencadear estados de alarme intensos. (Bermudez, apud Benenzon, 1981 p. 69). Finalizando, chegamos à questão da identidade, numa abordagem musicoterápica que é o viés de nossa práxis. Ruud (1998) nos diz que identidade está particularmente ligada com de onde venho, o espaço geográfico ao qual me sinto associado. Também se relaciona à época que tenho vivido, e à qual me sinto ligado. Quando experimento música, isto será sempre em um certo tempo e um certo espaço. Tempo e lugar estão intimamente relacionados na experiência musical. Esta questão de identidade tem um pape