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Poemas De Maya Angelou

Maya Angelou

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  Poemas de Maya Angelou  Pseudônimo de Marguerite Ann Johnson POEMA I  AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO  Você pode me riscar da História Com mentiras lançadas ao ar. Pode me jogar contra o chão de terra, Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar. Minha presença o incomoda? Por que meu brilho o intimida? Porque eu caminho como quem possui Riquezas dignas do grego Midas. Como a lua e como o sol no céu, Com a certeza da onda no mar, Como a esperança emergindo na desgraça,  Assim eu vou me levantar.  Você não queria me ver quebrada? Cabeça curvada e olhos para o chão? Ombros caídos como as lágrimas, Minh’alma enfraquecida pela solidão?  Meu orgulho o ofende? Tenho certeza que sim Porque eu rio como quem possui Ouros escondidos em mim. Pode me atirar palavras afiadas, Dilacerar-me com seu olhar,  Você pode me matar em nome do ódio, Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar. Minha sensualidade incomoda? Será que você se pergunta Porquê eu danço como se tivesse Um diamante onde as coxas se juntam? Da favela, da humilhação imposta pela cor Eu me levanto De um passado enraizado na dor Eu me levanto Sou um oceano negro, profundo na fé, Crescendo e expandindo-se como a maré. Deixando para trás noites de terror e atrocidade Eu me levanto Em direção a um novo dia de intensa claridade Eu me levanto Trazendo comigo o dom de meus antepassados, Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado. E assim, eu me levanto Eu me levanto Eu me levanto. (Tradução de Mauro Catopodis) POEMA II NO DESPONTAR DESTE NOVO DIA  A Pedra, o Rio, a Árvore,  Anfitriões de espécies já extintas O mastodonte, o dinossauro, Que deixaram marcas várias De sua passagem por aqui No chão do nosso planeta,  A urgência do seu crepúsculo Há muito perdida na poeira do tempo. Mas hoje, a Pedra nos chama a nós, claramente,  Vem, fique de pé sobre mim E mire seu destino distante, Mas não busque abrigo em minha sombra, Que eu não o protegerei dos dias que passam.  Você, criado inferior aos anjos, Que tanto se habituou à escuridão Que por tantos anos viveu Com a cara mergulhada na ignorância Sua boca vomitando palavras Carregadas de ameaças homicidas.  A Pedra nos chama hoje,  Vem, fique de pé sobre mim, Mas não esconda a sua cara. Por detrás dos muros do mundo, Um Rio canta um canto lindo. Ele diz,  Vem, descanse ao meu lado. Cada um de vocês, um país sitiado, Sofisticado e estranhamente orgulhoso Mas movendo-se continuamente sob ameaças contínuas. Suas intrigas fabricadas pela ganância Deixaram montes de sujeira em minhas margens, Ondas de detritos no meu leito.  Ainda assim eu os chamo hoje Para que a guerra seja esquecida  Aqui ao largo do meu curso.  Vem, se aproxime em paz, E eu cantarei o canto Que o Criador me ensinou quando Eu, a Árvore e a Pedra éramos um.  Antes que o cinismo fosse essa marca indelével em sua testa E quando você ainda sabia que nada sabia. O Rio cantava então, e ainda canta hoje.  Hoje, não há como não sentir a urgência De responder ao canto do Rio e à sabedoria da Pedra.  Asiáticos, ticanos, judeus,  Africanos, índios, Católicos, muçulmanos, franceses, gregos, Irlandeses, rabinos, padres, sheiques, Gays, héteros, pregadores, Privilegiados, favelados, professores. Eles ouvem. Todos eles ouvem as palavras da Árvore. Eles escutam a primeira e última das Árvores Falando com a humanidade.  Vem para mim,  Aqui às margens do Rio. E permaneça aqui comigo, às margens deste Rio. Cada um de vocês, descendente de um viajante, já pagou sua passagem.  Você, que me deu meu primeiro nome, você, Tupi, Guarani, Yanomani, você Nação Xingu, que descansou sobre mim, Mas que então foi forçado a ganhar  A vida em empregos criados Por outrem desesperados Pelo ganho, famintos pelo ouro.  Você, turco, árabe, sueco,  Alemão, esquimó, escocês, Italiano, húngaro, polonês.  Você, ashanti, yoruba, kru, Comprou, vendeu e roubou E acordou dentro de um pesadelo Sem nunca ter deixado de sonhar.  Vem, se acomode junto a mim. Eu sou a Árvore plantada junto ao Rio, Que jamais sairá daqui. Eu, a Pedra, o Rio, a Árvore, Eu sou seu –  sua passagem já foi paga. Erga então seu rosto para o céu E encare esta manhã que nasce para você.  A História e toda a dor que Ela carrega Não pode ser desvivida, mas se encarada Com coragem, não precisa ser vivida de novo. Erga seus olhos para o céu e repare Esse dia despontando só para você. Dê asas novamente  Aos seus sonhos adormecidos. Mulher, criança, homem,  Agarre esse dia com as mãos E o molde na forma do seu Mais profundo desejo. Esculpa o dia  À sua mais própria imagem e semelhança. Erga seu espírito. Cada nova hora que chega promete Possibilidades infinitas para um novo começo. Não se deixe paralisar pelo medo Ou aprisionar eternamente Pelo ódio e a violência.  À sua frente o horizonte se expande  Agora, abrindo espaço Para que você caminhe passos jamais antes ousados.  Aqui, no despontar deste novo dia Olhe com coragem Para o alto e para além de onde estamos,  A Pedra, o Rio, a Árvore, o seu país. Não menos ao pobre do que ao rico, Não menos a você agora do que ao dinossauro então.  Aqui, no despontar deste novo dia,  Você deve olhar confiante para o alto e para além E olhar também, fundo, nos olhos da sua irmã, No rosto do seu irmão, Do seu país, E dizer simplesmente Com uma esperança que já não cabe mais em si  Aquela que seria a mais banal das frases: “Bom dia!”  (tradução de Mauro Catopodis) POEMA III Família Humana Eu noto óbvias diferenças na humana família.  Alguns somos sérios, outros atraídos pela alegria.  Alguns declaram que suas vidas são vividas, como verdadeira profundidade, e outros clamam que realmente viveram a verdadeira realidade.  A variedade de nossos tons de pele deixa confundido, admirado, aturdido, marrom e rosa e bege e púrpura moreno e azul e lívido Naveguei pelos sete mares e parei em todo lugar,  vi as maravilhas do mundo e ainda nem um homem vulgar. Conheço dez mil mulheres que Maria e Mariana são chamadas, mas não vi quaisquer duas que fossem realmente igualadas Espelhos duplos são diferentes apesar de seus traços motejados, e amantes pensamentos bem diferentes pensam enquanto deitados lado a lado.   Amamos e perdemos na China, sobre as amarras da Inglaterra choramos, e rimos e lamentamos em Guiné, e na costa de Espanha prosperamos. Buscamos sucesso na Finlândia em Maine nascemos e morremos. em coisas menores diferimos, nas maiores nos parecemos. Eu noto óbvias diferenças entre cada forma e tipo, mas somos mais iguais, meus amigos, que desiguais. Somos mais iguais, meus amigos, que desiguais. Somos mais iguais, meus amigos, que desiguais. (Traduzido por Sam)