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Pregador Do Papa Primeira Pregação Advento 2008

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  10/25/2016 Pregador do Papa: A experiência da fé, um ato audaz (III) – ZENIT – Portugueshttps://pt.zenit.org/articles/pregador-do-papa-a-experiencia-da-fe-um-ato-audaz-iii/ 1/4 PregadordoPapa    :   Aexperiência   dafé    ,   umatoaudaz (   III   )   PrimeirapregaçãodoAdventodoPe    .  RanieroCantalamessaOFM     Cap    CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008 (ZENIT.org(http://www.zenit.org/)).- Publicamos a terceira parte da primeira pregação do Advento àCúria Romana que, em presença de Bento XVI, pronunciou o Pe. Raniero Cantalamessa,OFM Cap, pregador da Casa Pontifícia.No coração do Ano Paulino, o Pe. Cantalamessa propôs uma reflexão sobre o papel queCristo ocupa no pensamento e na vida do apóstolo Paulo, para renovar o esforço por colocar Cristo no centro da teologia da Igreja e da vida espiritual dos crentes. * * * Uma experiência vivida No documento de acordo entre a Igreja católica e a Federação mundial das Igrejasluteranas, apresentado solenemente na Basílica de São Pedro por João Paulo II e oarcebispo de Uppsala em 1999, há uma recomendação final que me parece de umaimportância vital. Diz substancialmente isto: chegou o momento de fazer desta grandeverdade uma experiência vivida pelos crentes, e não mais um objeto de disputasteológicas entre sábios, como sucedeu no passado. A celebração do Ano Paulino nos oferece uma ocasião propícia para fazer estaexperiência. Ela pode dar um respaldo a nossa vida espiritual, um descanso e umaliberdade novas. Charles Péguy contava, em terceira pessoa, a história do maior ato defé de sua vida. Um homem, diz (e se sabe que este homem era ele mesmo), tinha trêsfilhos e um dia caíram enfermos, os três juntos. Então tinha feito um ato de audácia. Aopensar nisso se admirava também um pouco, e há que dizer que havia sido  10/25/2016 Pregador do Papa: A experiência da fé, um ato audaz (III) – ZENIT – Portugueshttps://pt.zenit.org/articles/pregador-do-papa-a-experiencia-da-fe-um-ato-audaz-iii/ 2/4 verdadeiramente um ato arriscado. Como se tomam três crianças do solo e se põemuntas, quase brincando, nos braços de sua mãe ou de sua babá que ri e grita, dizendoque são muitas e não terá forças para levá-las, assim ele, audaz, como um homem, haviatomado – entende-se, com a oração – seus três filhos enfermos e tranquilamente oshavia posto nos braços d’Aquela que carrega todas as dores do mundo: «Olha – dizia –lhes dou, me viro e vou para que não me devolvas. Já não os quero, veja bem. Devesencarregar-te deles». (Sem metáforas, tinha ido em peregrinação a pé desde Paris aChartres para confiar a Nossa Senhora seus três filhos enfermos). Desde aquele dia tudofoi bem, porque era a Santa Virgem que se ocupava deles. É curioso que nem todos oscristãos façam isto. É muito simples, mas nunca se pensa no simples. A história nos serve neste momento para ilustrar a idéia de um ato de audácia, porque setrata de algo parecido. A chave de tudo, se dizia, é a fé. Mas há diversos tipos de fé: há afé-assentimento do intelecto, a fé-confiança, a fé-estabilidade, como a chama Isaías (7,9). De que fé se trata, quando se fala da justificação «mediante a fé»? Trata-se de uma fétotalmente essencial: a fé-apropriação.Escutemos, sobre este ponto, São Bernardo: «Eu – diz –. O que não posso obter por mimmesmo, o aproprio (usurpo!), com confiança no Senhor, porque é cheio de misericórdia.Meu mérito, por isso, é a misericórdia de Deus. Não me faltam méritos, enquanto ele sejarico em misericórdia. Se as misericórdias do Senhor são muitas (Sal 119, 156), eutambém abundarei em méritos. E o que dizer de minha justiça? Oh, Senhor, recordareisomente tua justiça. De fato ela é também minha, porque tu és para mim justiça da partede Deus». Está escrito também que «Cristo Jesus… se converteu para nós emsabedoria, justiça, santificação e redenção (1 Cor 1, 30). Para nós, não para si mesmo!São Cirilo de Jerusalém expressava, com outras palavras, a mesma idéia do ato deaudácia da fé: «Oh bondade extraordinária de Deus para com os homens! Os justos do Antigo Testamento agradaram a Deus nas fadigas de longos anos; mas o que eleschegaram a obter, após um longo e heróico serviço agradável a Deus, Jesus lhes dá nobreve espaço de uma hora. De fato, se tu crês que Jesus é o Senhor e que Deus oressuscitou dentre os mortos, te salvarás e serás introduzido no Paraíso pelo mesmo queintroduziu o bom ladrão».Imagina, escreve Cabasilas, desenvolvendo uma imagem de São João Crisóstomo, quetenha acontecido no estádio uma luta épica. Um bravo enfrentou um cruel tirano e, comgrande fadiga e sofrimento, o venceu. Tu não combateste, não esgotaste nem sofresteferidas. Mas te admiras do valente, te alegras com ele em sua vitória, provocas e agitas  10/25/2016 Pregador do Papa: A experiência da fé, um ato audaz (III) – ZENIT – Portugueshttps://pt.zenit.org/articles/pregador-do-papa-a-experiencia-da-fe-um-ato-audaz-iii/ 3/4 por ele a assembléia, te inclinas com alegria perante o triunfador, lhe beijas a cabeça elhe dás a mão, em resumo, se tanto o aclamas que consideras tua a vitória; eu te digoque terás certamente parte no prêmio do vencedor.Mas há mais: supõe que o vencedor não tenha necessidade alguma para si mesmo deprêmio que conquistou, mas que deseja, mais que nenhuma coisa, ver honrado seuautor, e considera como prêmio de seu combate a coroação do amigo, em tal caso, essehomem não obterá a coroa, ainda que não se tenha esgotado nem tenha sido ferido?Certamente a obterá! Assim sucede entre Cristo e nós. Ainda não havendo trabalhado elutado – ainda não tendo mérito algum –, contudo, por meio da fé nós aclamamos a lutade Cristo, admiramos sua vitória, honramos seu troféu que é a cruz e mostramos pelovalente um amor veemente e inefável; fazemos nossas suas feridas e sua morte. E assimse obtém a salvação. A liturgia de Natal nos falará do sacrum commercium entre nós e Deus realizado emCristo. A lei de toda troca se expressa na fórmula: o que é meu é teu e o que é teu émeu. Daí deriva que o que é meu, ou seja, o pecado, a fraqueza, passa a ser de Cristo;assim, a santidade passa a ser minha. Já que nós pertencemos a Cristo mais que a nósmesmos (cf. 1 Cor 6, 19-20), se segue, escreve Cabasilas, que, ao inverso, a santidadede Cristo nos pertence mais que nossa própria santidade. E isto é remontar na vidaespiritual. Sua descoberta não se faz, habitualmente, ao princípio, mas ao final do próprioitinerário espiritual, quando se experimetaram os demais caminhos e se viu que nãolevam muito longe. Na Igreja católica temos um meio privilegiado para ter experiência concreta e cotidianadeste sagrado intercâmbio e da justificação pela graça, mediante a fé: os sacramentos.Cada vez que eu acorro ao sacramento da reconciliação tenho experiência de ser ustificado pela graça, ex opere operato, como dizemos na teologia. Subo ao templo, digoa Deus: «Oh Deus, tem piedade de mim que sou um pecador» e, como o publicano, voltoa casa «justificado» (Lc 18, 14), perdoado, com a alma resplandecente, como nomomento em que saí da fonte batismal. Que São Paulo, neste ano dedicado a ele, nos obtenha a graça de fazer como é este atode audácia da fé.   10/25/2016 Pregador do Papa: A experiência da fé, um ato audaz (III) – ZENIT – Portugueshttps://pt.zenit.org/articles/pregador-do-papa-a-experiencia-da-fe-um-ato-audaz-iii/ 4/4 