Sussekind, Flora. Hagiografias

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   Flora Süssekind   | BRASIL  HAGIOGRAFIAS “Existe uma caprichosa correlação entre as io!ra as das !eraç#es e a marcha da hist$ria%& ' Roman (akoson  )  *al+e, caia uma oser+ação sore o t-tulo desteensaio& .ois se o o/eto 0undamental de re1exão a2ui 3a ora de .aulo Leminski4 em particular as di+ersas0ormas ha!io!r5 cas 2ue 0oram traalhadas por ele4tantos santos e re0er6ncias sacras podem condu,ir aomesmo tempo a uma inda!ação sore o exerc-ciocontempor7neo da cr-tica de cultura no Brasil& 8ão setrata4 por3m4 de oser+ação 2ue di!a respeitoexclusi+amente 9 cultura liter5ria& Ao contr5rio4procurando detectar essas ha!io!ra as num campomais +asto4 não 3 di0-cil4 pensando4 soretudo4 nopanorama cultural recente4 encontr5:las em di+ersasoutras 5reas& 8a cr-tica contempor7nea de m;sica popular4 porexemplo& 8o modo como tem tratado4 em especial4<hico Science4 <a,u,a4 <5ssia Eller4 Renato Russo4con+ertidos4 em !eral4 em 2uase m5rtires& =macon+ersão 2ue pode che!ar por +e,es a resultados  recon0ortantes como a ressurreição4 2uase trinta anosdepois4 de um !rupo musical com 0ormação 2uase id6n:tica 9 ori!inal& Foi o 2ue aconteceu com >s ?utantes em@4 2ue4 ressurectos4 apareceram4 como numaesp3cie de 0antasma!oria sonora4 tocando o repert$riodos seus discos do tempo da *ropic5lia& .assando aoterreno das artes +isuais4 al!uns de seus o/etos desanti cação são tam3m de 05cil detecção& <omo (or!eCuinle Filho4 ?5rcia D e Leonilson4 na !eração deartistas 2ue se a rmou nos anos G& 8a +ida teatralrasileira4 h54 i!ualmente4 um lamento persistente pelaatri, Isael Rieiro4 pelos atores <hi2uinho Brandão eFelipe .inheiro4 pelo ator4 per0ormer e pro0essor Lui, Roerto Cali,ia e pelos encenadores ?5rcio Hianna e Lui,Antnio  ?artine, <orr6a4 para car em al!uns exemplosapenas& 8ada4 por3m4 2ue alcance o !rau de miti cação2ue en+ol+e os mortos da 5rea de m;sica popular& *am3m no campo cinemato!r5 co4 h5 al!osemelhante 2uando o luto pela morte prematura deClauer Rocha4 Leon Jirs,man ou (oa2uim .edro deAndrade4 lemrando tr6s nomes de import7nciaincontest5+el4 se trans0orma em arreira anal-tica& >mesmo acontecendo4 no dom-nio das artes pl5sticas4com muito do 2ue se tem escrito sore J3lio >iticica ouLK!ia <lark& >u em tentati+as anacroni,antes derecriação tal 2ual4 0ora de contexto4 de oras4proposiç#es ou 0ormas de interação su!eridas pelotraalho dos dois& .ri+ile!iei de prop$sito exemplos de +ida re+e4 mortesprematuras4 por +e,es tr5!icas4 pois este costuma ser0ator preponderante nesses processos de canoni,ação&> 2ue se torna particularmente e+idente 2uando seoser+a a 0ortuna cr-tica de escritores como ?5rioFaustino4 *or2uato 8eto4 Ana <ristina <esar4 Antnio  <arlos de Brito <acasoM4 .aulo Leminski ou <aioFernando Areu& 8ão 3 percept-+el somente umadomin7ncia io!r5 ca na ilio!ra a re0erente a essesautores& J5 a construção 0re2üente mesmo 2uando seprodu,em ha!io!ra as malditasM de al!o pr$ximo 9shist$rias de santos 2uando se toma 2ual2uer um delescomo o/eto de estudo& São +idas impre!nadas4 aposteriori4 de intencionalidade4 são destinos nos 2uaisse enxer!a4 nos m-  nimos detalhes4 a marca daexcepcionalidade lemre:se a li!ação tele0nicaerrada4 sempre citada4 na 2ual uma +idente teriapre+isto a morte de FaustinoM& Eleitos cu/as oras são+istas como de eleitos tam3m& 8esse sentido aperspecti+a cr-tica parece se deixar contaminar 2uasesempre por esse dado ha!iol5trico inicial& > 2ue 3 nom-nimo descon0ort5+el& E pode por +e,es su!erir areação in+ersa N a descon ança de 2ue s$ pode ha+eral!o errado a-& > 2ue 3 2ue permite a eles serem +istoscomo tão exemplaresO Ainda mais 2uando se percee2ue /5 h5 mais de uma !eração de cr-ticos ocupados naconstrução dessas ha!io!ra as precocementenost5l!icasM do tempo presente ou do passado recente&.ois se o processo de canoni,ação 0oi iniciado peloscontempor7neos imediatos desses autores4 ele seriare0orçado si!ni cati+amente por uma parcela dos 2ue+ieram depois& > altar parecendo tomar4 para os maisno+os4 o lu!ar de pro/etos pr$prios4 de “moti+os para2u6% mais de nidos& Leminski tinha o seu “an/o da+an!uarda%4 <acaso retraalha+a4 com a atenção+oltada para o cotidiano em tempos de ditadura4 olirismo de Bandeira e o humor do poema:minutomodernista4 Ana <ristina en0ormou essas tens#es entreexpressi+idade e ri!or em micro:enredos4 cç#esio!r5 cas e numa poesia:em:+o,es4 de ritmo e 0oco  intencionalmente deamulat$rios& Piante da situaçãohodierna de retorno est3tico ao poema:em:0eito4 a umuso acr-tico da m3trica lemre:se o dito oposto deLeminskiQ “> ritmo4 não o metro%M4 a uma compreensãoda poesia como demonstração de hailidade artesanal4não 3 de estranhar o recurso a esses mitos recentescomo 0orma de resist6ncia a uma atro a deperspecti+as& =ma resist6ncia 2ue4 no entanto4 nãopode deixar de perder poder de 0o!o ao assumir aspectoestritamente ha!iol5trico&  santi cação ou execração da !eração de  sesucederiam outras& E mesmo o presente mais imediatopassou a ter ha!i$!ra0os 9 disposição& 8ão h5pr3:re2uisitos un7nimes a!ora4 por3m& .odem serpri+ile!iados traços estil-sticos4 comportamentais4re!ionais4 pol-ticos& Formas di+ersas de +itimi,açãocostumam interessar& Tual2uer 2ue se/a ela4 ali5s4 oimportante 3 2ue o cr-tico se torne o !arçon dUhonneur  de certo autor ou do !rupo a 2ue este se acha+inculado& Pesde 2ue caia a este cr-tico a 0unção desumo sacerdote desse culto& Pe !uardião de oras /5reconhecidas a descoridor de talentos4 de editortodo:poderoso a deci0rador conclusi+o das re0er6ncias edos si!ni cados mais secretos do texto 2ue esti+er empauta& ?esmo 2ue para isso de+a aandonar de +e, acr-tica4 tornando:se o di+ul!ador de um autor indi+idual+i+o ou mortoM4 de uma inteira re!ião4 uma tend6ncia4um lu!ar social4 um !rupo editorial ou uma 0aixa!eracional ou mi!rat$ria espec- ca& T=ES*V> PE J>RA E L=CAR Ana <ristina <esar4 .aulo Leminski e <acaso4 com todasas suas di0erenças4 se tornariam exemplares em meio 9s